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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Fitzpatrick, Elyse M.
Ídolos do coração: aprendendo a
desejar somente Deus / Elyse M.
Fitzpatrick; tradução de Susana Klassen.
— São Paulo: Vida Nova, 2017.
256 p.
ISBN 978-85-275-0958-9
Título original: Idols of the heart: learning
to long for God alone
1. Cristianismo 2. Vida Cristã 3.
Idolatria na bíblia. I. Título
II. Klassen, Susana
Índices para catálogo sistemático:
1. Vida cristã: Idolatria
©2001, 2016, de Elyse Fitzpatrick
Título do original: Idols of the heart: learning to long for God alone,
edição publicada pela P R P (Phillipsburg, New Jersey,
Estados Unidos).
Publicado originalmente pela ABCB sob o título
Ídolos do coração: aprendendo a desejar somente Deus (São Paulo, 2009).
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
S R E V N
Rua Antônio Carlos Tacconi, 75, São Paulo, SP, 04810-020
vidanova.com.br | vidanova@vidanova.com.br
1.a edição revisada e atualizada: 2017
Proibida a reprodução por quaisquer meios,
salvo em citações breves, com indicação da fonte.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Todas as citações bíblicas sem indicação in loco foram extraídas da Almeida século 21. As citações com
indicação da versão in loco foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI). Todas as demais
citações ou foram traduzidas diretamente da New American Standard Bible (NASB), da e Living
Bible (TLB) e da New International Version (NIV).
D
Kenneth Lee Davis
G
Fabiano Silveira Medeiros
E
Lucília Marques
Marcia Medeiros
P
Tatiane Souza
R
Mauro Nogueira
G
Sérgio Siqueira Moura
D
Sandra Oliveira
C
Edvânio Silva (Blessed Produção Grá ca)
C P
SCALT Soluções Editoriais
Para Phil,
por seu amor e sua paciência inabaláveis:
só pude realizar este projeto
porque, dia após dia, você entregou sua vida.
SUMÁRIO
Nota da segunda edição
Agradecimentos
Lista de ilustrações
Introdução: Observando os deuses do mundo
1. Os deuses de Raquel e você
2. Adoração não dividida
3. De suma importância
4. Aquele que transforma o coração
5. Melhor que a vida
6. Conhecendo seu coração
7. Pensando sobre seu Deus
8. Ansiando por Deus
9. Dispondo-se a obedecer
10. Resistindo a seus ídolos
11. Destruindo seus falsos deuses
12. Tendo prazer em Deus
Apêndice A: Como identi car padrões pecaminosos e falsos deuses
Apêndice B: O que signi ca ser legalista
Apêndice C: Como saber se você é cristão
NOTA DA
SEGUNDA EDIÇÃO
Ao longo dos anos desde que escrevi o manuscrito deste livro, tornei-me
cada vez mais consciente do imenso amor de Deus por mim em Cristo. Vim
a entender que, por causa de sua compaixão e misericórdia, ele me ama
quer eu esteja lutando contra meus ídolos com diligência, quer eu esteja
apenas tentando chegar ao m do dia. Ele conhece minha fraqueza: a
fraqueza de meu amor, a fraqueza de minha mente e a fraqueza de minha
determinação de amá-lo mais que todas as coisas. E, no entanto, ele me
ama por causa da obra realizada por seu Filho ao me justi car e chamar-me
de bela... embora eu esteja tão aquém de seu paradigma perfeito, resumido
em sua lei expressa nos Dez Mandamentos.
Portanto, embora eu ainda deseje desenvolver adoração sincera, “ansiar
somente por Deus” e ajudar você a fazer o mesmo, minha perspectiva de
como fazê-lo e do que isso signi ca mudou. O foco principal foi transferido
de mim mesma para a obra de Jesus em meu favor no evangelho. Essa
mudança de foco também mudou meu modo de falar sobre a idolatria e de
pensar a respeito de como, em última análise, nosso coração é transformado.
Por isso, neste livro, você me verá falar mais sobre amor e mais sobre o
amor de Deus por pecadores, tudo para a glória de seu Filho. Não deixei de
me importar com a obediência ao primeiro mandamento, mas estou
trilhando um caminho diferente rumo a esse alvo e sou impelida por uma
motivação diferente.
AGRADECIMENTOS
Nada de valor pode ser realizado sem o auxílio e o apoio de muitas pessoas.
Se o Senhor, em sua graça, usar este livro para ajudar alguém, é porque ele
me concedeu familiares e amigos piedosos, que sabem o que signi ca amá-
lo com fervor. Estou ciente de que nunca tive uma ideia sequer
verdadeiramente original, portanto sou grata a George Scipione por minha
instrução (e agora, pela esposa de meu lho); a David Powlison que, com
abnegação, separou dez minutos de seu tempo em um congresso no início
da década de 1990 para recon gurar meu modo de pensar a respeito da
idolatria; ao pastor Dave Eby da igreja North City Presbyterian Church
(anotações de sermões dele foram incorporadas a diversas partes deste
texto); a meus irmãos e a minhas irmãs em Cristo que oraram por mim, me
encorajaram e perguntaram: “Como está indo o livro? Como posso orar por
você?”. Sou grata pelo ministério de John e Sandra Cully, Linda Quails e
John Hickernell, na livraria Evangelical Bible Bookstore, que me
mantiveram abastecida com livros dos puritanos e zeram excelentes
sugestões. Agradecimentos especiais a Anita Manata, Donna Turner e
Barbara Duguid, amigas queridas que me ouviram e trocaram ideias,
ajudando imensamente em minha re exão; a minha mãe por suas sugestões
gentis e pela revisão gramatical; e a Barbara Lerch, da editora P&R, por
acreditar que era hora de uma mulher da linha reformada ser ouvida a
respeito desse assunto.
É impossível agradecer devidamente a todos que me amaram e apoiaram
durante os muitos anos desde que a primeira edição deste livro foi publicada
em 2001. Tenho sido abençoada com muitos amigos relacionados acima,
inclusive o pessoal da Editora P&R, especialmente Ian ompson, que
considerou relevante atualizar este livro e voltar a oferecê-lo a meu público
leitor.
Sou particularmente grata a minha família querida: Phil, James e
Michelle, Jessica e Cody, Joel e Ruth e todos os seus lhotes lindos: Wesley,
Hayden, Eowyn, Allie, Gabe e Colin. Como sou abençoada!
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
6.1 Um retrato bíblico do coração
8.1 Os desejos de Adão antes da Queda e os desejos
do ser humano caído
8.2 Os desejos de Adão antes da Queda e os desejos
perfeitos de Jesus
10.1 Quando o coração deseja agradar o ego
10.2 Quando o coração deseja agradar à Plateia de Um Só
11.1 Como identi car padrões pecaminosos e falsos deuses
11.2 Exemplos das Escrituras do princípio de
despir-se de.../revestir-se de...
11.3 Exemplos especí cos do princípio de despir-se de.../
revestir-se de...
11.4 Folha de exercício pessoal para despir-se de.../
revestir-se de...
INTRODUÇÃO
OBSERVANDO OS
DEUSES DO MUNDO
No segundo trimestre de 1998, meu marido, eu e nossos primos tivemos o
privilégio de visitar o leste da Ásia e passamos uns doze dias na China,
Coreia do Sul e Japão. Como estávamos em grupos de excursão, visitamos
vários templos budistas. Vimos o Buda mais antigo, o maior Buda, o Buda
mais venerado. Vimos um Buda que havia sido roubado durante uma
batalha e um Buda que tinha sofrido danos em um incêndio e sido
reconstruído. Fomos convidados a fazer uma doação para que certo Buda
fosse revestido novamente de ouro. Vimos o Buda que pertencia ao
imperador e o Buda que pertencia ao povo comum. Observamos adoradores
acenderem velas, queimarem incenso, oferecerem preces e colocarem tigelas
de alimento e ores diante de seus deuses. Quando a excursão terminou,
meu marido e eu tínhamos visto ídolos su cientes para o resto da vida. Ou
será que não?
Ficamos felizes por voltar aos Estados Unidos, um país edi cado sobre
alicerces cristãos. Ao contrário dos países asiáticos que visitamos, os Estados
Unidos não têm ídolos em todas as esquinas, nem dias especí cos para
acender incenso ou luzes para seus deuses. Não temos templos imensos em
que oferecemos tigelas de arroz... ou, em nosso modo de dizer, tigelas de
batatas fritas. Aliás, de acordo com uma pesquisa, 76% dos americanos
entrevistados “consideram-se inteiramente éis ao primeiro mandamento”,1
a saber, “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3). Portanto, ao
falarmos do primeiro mandamento, estamos nos saindo bem, certo?
Imagino que, se você é como eu, costuma pensar sobre os ídolos da forma
que acabei de descrevê-los. São algo externo a nós, algo estranho que
fotografamos em templos de terras distantes e que nos causa espanto.
OS DEUSES EM NOSSO CORAÇÃO
Para mim, uma das ordens mais intimidantes das Escrituras se encontra em
Mateus 22. Um escriba dirigiu-se a Jesus com a intenção de encontrar um
modo de acusá-lo de heresia: “... qual é o maior mandamento na Lei?”, ele
perguntou. E Jesus respondeu:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o
entendimento.” Este é o maior e o primeiro mandamento (Mt 22.36-38).
Talvez você seja como eu e tenha lido esse mandamento tantas vezes que
ele perdeu a força. Volte, releia-o e medite comigo por um momento. O que
nosso Senhor está ordenando aqui? Nada menos que amor e adoração não
divididos, perfeitos e completos. Assim que paro e re ito sobre esse
mandamento principal, sinto um incômodo. Preciso me perguntar:
• Amo o Senhor com todo o meu ser, ou ainda há outros amores em meu
coração que exigem minha atenção?
• Adoro outros deuses ou Deus é sempre, em todas as circunstâncias, o
Governante supremo ao qual dedico inteiramente minha paixão e
devoção?
Quando penso dessa forma, começo a entender que a idolatria talvez vá
além de templos budistas, incenso e arroz. A idolatria está ligada ao amor
— meu amor por Deus, por outros e pelo mundo. Quando encaro a
idolatria assim, percebo que não sou tão diferente das pessoas que vi
naqueles templos em lugares tão distantes.
UMA VIDA LIVRE DE ÍDOLOS
Este livro foi escrito para quem deseja ter uma vida piedosa, mas se vê
numa luta frustrante e recorrente contra o pecado habitual e contra a falta
de amor plenamente dedicado. Foi escrito para você que está sempre
tropeçando no mesmo hábito nocivo, na mesma fraqueza constrangedora,
na mesma escravidão pecaminosa da qual esperava estar livre anos atrás.
Nele, você descobrirá que a idolatria — o amor distorcido — ocupa o cerne
de todo pecado persistente contra o qual lutamos.
Quando paramos para re etir, vemos que a Bíblia está repleta de histórias
sobre indivíduos e até mesmo sobre nações que caíram em idolatria. Aliás, é
o pecado discutido com mais frequência nas Escrituras. De acordo com
1Coríntios 10.11, as narrativas do Antigo Testamento servem de exemplo
para nós e “foram escritas para nossa instrução” (NASB).
Uma das primeiras narrativas sobre a idolatria é a de Raquel, esposa de
Jacó. Tendo em vista que o problema de Raquel com a idolatria é tão
proeminente em seu relato, voltaremos à vida dela em várias ocasiões ao
longo do livro e descobriremos o que podemos aprender com seus erros.
Também veremos como as histórias de outros nas Escrituras, tanto homens
como mulheres, nos trazem, hoje, esclarecimento e instrução a respeito de
nossos falsos deuses. Você observará que alguns dos capítulos seguintes
começam com ilustrações. Essas histórias não são extraídas diretamente das
Escrituras, mas são minha interpretação do que talvez tenha acontecido.
Não devem ser consideradas estritamente bíblicas, mas apenas ilustrativas.
Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus para seus lhos, os quais conhece
inteiramente, deve haver um motivo pelo qual ele inseriu nela tantos
ensinamentos a respeito desse assunto, embora a idolatria talvez não pareça
ser um problema tão sério para nós. (Lembre-se de que 76% de todos os
americanos entrevistados se consideraram irrepreensíveis nessa área!) Ao
prosseguir com a leitura, você descobrirá que a idolatria é um problema tão
sério para nós hoje quanto era para os israelitas no passado. Aliás, talvez
seja ainda mais sério, pois, de modo muito conveniente, categorizamos a
idolatria como algo externo a nós (pequenas estátuas de pedra), e não como
algo que habita em nosso coração. Embora em alguns meios seja comum o
diálogo sobre a idolatria e até sua con ssão, pergunto-me se não estamos
apenas tocando a superfície do caráter disseminado desse pecado.
Nos capítulos adiante, você verá de que maneiras o foco de seu amor e o
foco de sua adoração são semelhantes. Quem você ama? E quem você adora?
Essas são perguntas cruciais e interligadas. Você aprenderá a identi car os
falsos deuses que habitam em seu coração, isto é, em seus pensamentos e
em suas afeições. Em seguida, descobrirá o método de Deus para libertá-lo
dos ídolos, dos “amores distorcidos”, por meio de seu poder santi cador.
Saiba que minha luta contra o pecado e a idolatria é igual à sua — igual à
de Raquel. Como ela, todos nós lutamos com a propensão de depositar
nossa esperança e con ança em algo, em alguém, em qualquer coisa além
do Deus verdadeiro. Descobrimo-nos fracos, temerosos e inquietos, ou
irados, amargurados e queixosos. Em meio a essa luta, creio que a voz de
Deus nos chama de forma clara e amorosa, trazendo esclarecimento e
libertação, lembrando-nos de seu amor incomparável por nós e de como,
em sua graça, ele recebe idólatras.
Embora nossa guerra contra o pecado só termine quando chegarmos ao
céu, Deus comprometeu-se a elmente capacitar-nos a crescer em
santidade. Ele nos convida a nos juntarmos a ele na batalha, e nos deu
armas para usarmos nesse combate. Uma delas é o conhecimento. Não o
conhecimento que consiste apenas de fatos áridos, mas a percepção
dinâmica das realidades de nossa luta pessoal contra os amores rebeldes e da
delidade de Deus em nos livrar tanto nesta vida quanto por toda a
eternidade.
SANTIDADE DE MICRO-ONDAS
Os fornos de micro-ondas são uma tremenda comodidade, não é mesmo?
Coloque uma refeição congelada lá dentro e pronto. O jantar está servido.
A vida em nossa casa melhorou depois da invenção do micro-ondas. Posso
descongelar o jantar em dez minutos, o que é uma verdadeira bênção em
meio a tantas atividades! Gosto de todas as comodidades modernas e
imagino que você também. No entanto, no meio dessa cultura instantânea,
“Quero tudo rápido! E é melhor que seja prático!”, temos a tendência de
imaginar que Deus deve trabalhar em nossa vida da mesma forma. “Aperte
o botão de ligar e torne-me santo, e faça-o logo, Senhor, se não for pedir
demais.”
Na maioria das vezes, porém, a obra de Deus em nós é incrivelmente
lenta. Embora seja fato que todos os cristãos passem por mudanças (ainda
que minúsculas), a obra de Deus — nossa santi cação — é um processo.
Esse processo inclui aprender (o que espero que aconteça com você aqui),
crescer, errar, mudar, ser convencido novamente da verdade, errar outra vez
e desenvolver completude ao longo da vida. Com isso em mente, não
espere que este livro o transforme de forma instantânea ou cure seu coração
dos amores rebeldes. Somente Deus, por meio do Espírito Santo, pode
transformar seus desejos, e o cronograma dele é diferente do nosso. Ele
sabe quais lutas precisamos continuar a enfrentar, e sabe como, sob a
in uência de seu Espírito, até mesmo nossos fracassos nessas lutas nos
levarão a ter amor ainda maior por ele e por suas boas-novas.
ESPERANÇA SOMENTE EM CRISTO
Ao iniciarmos juntos esta jornada, desejo lembrar-lhe de um fato que
certamente não é novidade para você. Deus transforma corações. Nosso
amoroso Pai celeste comprometeu-se a nos transformar primeiro das trevas
para a luz; depois, dos amores de nossa vida antiga para o amor sob o
estandarte de sua declaração: “Está consumado”. Ele nos deu tudo de que
precisamos para crescer na vida e na piedade que ele ordenou. Deu-nos
todas as armas para lutar contra nossos ídolos e para crescer em graça; além
disso, dedicou todos os recursos do céu a seu propósito:
• Ele nos deu Jesus Cristo, que amou e adorou perfeitamente a seu Pai.
Sua vida perfeita de obediência (tanto exterior como interior) agora é
nosso registro: embora ainda lutemos com amores distorcidos, Jesus
nunca o fez, e quando o Pai olha para nós, vê apenas o registro perfeito
do Filho. Já somos considerados completamente éis, completamente
amorosos e completamente santos.
• Além de Jesus viver uma vida perfeita por nós, também pagou por
todos os nossos amores desviados e todas as nossas idolatrias em sua
morte excruciante no Calvário, onde o Pai tomou-o como o pior
idólatra de todos os tempos. Toda a idolatria que já praticamos ou à
qual ainda nos entregaremos já foi expiada pela morte vergonhosa de
Cristo na cruz. Em Cristo, não resta mais ira alguma do Pai por nós.
Acaso o Pai dará as costas para nós por causa de nossa idolatria? Não,
jamais. Pois ele já abandonou seu Filho em nosso lugar.
• Como ele cumpriu inteiramente a lei, agora estamos livres da
escravidão do pecado. Não somos mais rebeldes que reagem aos
decretos da lei como escravos; agora, consideramos a lei um guia para
nos ajudar a entender como devemos amar, e não uma forma de obter a
aprovação de Deus ou evitar o castigo. A lei nos mostra como ser
agradecidos pelo fato de que ela não tem mais poder para nos condenar,
pois Jesus a cumpriu de modo pleno.
• Também podemos nos alegrar porque sabemos que Jesus Cristo, nosso
Advogado, ora e intercede por nós, embora sejamos fortemente
tentados e provados. Graças a sua oração, podemos ter a certeza de que
nossa fé jamais falhará. Podemos descansar nele con antemente.
• Ele nos concedeu seu Espírito Santo, que habita em nós e nos conduz à
verdade. A obra do Espírito Santo consiste em nos lembrar de todas as
dádivas que recebemos em Cristo. Ele derrama sua graça sobre nós e
nos garante que somos seus lhos amados (embora lutemos com
frequência). É essa graça que nos capacita a desejar sua vontade e a
responder ao seu amor em amor.
• Ele proveu para nós sua Palavra da Verdade: que ilumina nosso coração
para toda sabedoria necessária a m de mudarmos de forma que o
agrade. Ele faz isso em razão do objetivo supremo de nos transformar
— e tudo isso para sua glória!
Em 1998, passei doze dias visitando os ídolos do leste da Ásia. Você
também embarcou numa jornada, mas é provável que leve mais que doze
dias... portanto, tome assento e alegre-se em saber que Deus usará sua
Palavra e seu Espírito para revelar seus ídolos, seu amor distorcido e para
desenvolver amor e devoção plenos em você — tudo para a glória e louvor
dele!
1George Barna, E e Barna report 1992-1993, an annual survey of lifestyles, values, and religious views
(Carol Stream: Christianity Today, 1995), p. 113, citado em R. Kent Hughes, Disciplines of grace
(Wheaton: Crossway, 1993), p. 29.
1
OS DEUSES DE
RAQUEL E VOCÊ
Fil hinhos, guardai-vos dos ídolos (1Jo 5.21).
— Peguem suas coisas.1 Você e Lia reúnam as crianças e preparem-se para partir —, o
marido ordenou. — Vamos embora hoje à noite.
— Hoje à noite? Já? Mas não estou pronta!
Raquel amava o marido, mas também gostava da bênção de morar perto dos pais.
Embora ela desfrutasse dessa proximidade com seus familiares, nem sempre o
relacionamento com eles era pacífico. Parecia haver conflito incessante entre seu marido e
seu pai. E agora, o acontecimento que a apavorava estava se desenrolando.
— Não se esqueça de sua capa —, ela lembrou José. — Pare de brigar com as outras
crianças e pegue suas coisas.
Da mesma forma que você e eu faríamos, Raquel juntou todos os objetos da casa
importantes para ela. Então, em meio à correria, a ficha caiu e ela sentiu um frio no
estômago. “Agora é para valer. Estou saindo de casa... deixando para trás a única realidade
que conheço. Será que alguém vai cuidar de mim? Será que estarei segura? Como vou viver
sem a proteção de meu pai... sem os deuses dele?”
E assim, depois que seu pai saiu para trabalhar nos campos, ela entrou na tenda dele e
roubou seus ídolos do lar. Embora ela não tenha se dado conta naquele momento, suas
ações não tardariam em colocar sua família em risco e gerariam outro ato de dissimulação.
Em vez de lhe dar segurança, esses ídolos trariam perigo para seus familiares. Em vez de
abençoá-la, seriam maldição.
UMA HISTÓRIA CONHECIDA
Embora a história do furto cometido por Raquel em Gênesis 31 seja a
primeira referência a ídolos na Bíblia, é fácil passar direto por ela e não
perceber a imensidade desse ato e de suas consequências: Raquel furtou de
seu pai. Levou embora os deuses dele. Enganou o marido e colocou a
família em perigo. Mais adiante, quando seu pai, Labão, lhe perguntou
sobre o sumiço dos ídolos, ela o enganou novamente.
Perguntei-me várias vezes por que Raquel considerou necessário levar
consigo esses ídolos. O que signi cavam para ela? Por que se dispôs a agir
desse modo? Por que exerciam tanto poder sobre sua vida?
Para responder a essas perguntas, observemos mais de perto a vida de
Raquel. A Bíblia diz que “Raquel era bonita de porte e de rosto” (Gn
29.17). Em linguajar atual, Raquel era uma mulher deslumbrante. Sem
dúvida ela sabia que, quanto a seus charmes femininos, dava de dez a zero
em sua irmã, Lia. É bem provável que se deliciasse em ser a favorita. Havia
aprendido que podia con ar em sua beleza; aliás, considerava-se justi cada
por ela. Apoiava-se nela e acreditava que a tornava aceitável aos olhos de
outros e a seus próprios olhos. Era sua fonte de poder sobre os outros, sua
proteção das decepções. Raquel era tão linda que, logo da primeira vez que
Jacó a viu, teve certeza de que aquela era a mulher para ele. Ela conquistou
o coração dele no primeiro encontro dos dois, e ele serviu Labão durante
catorze anos para se casar com ela.2 Aliás, ele a amava tanto que os anos de
trabalho para obtê-la “lhe pareceram poucos dias” (Gn 29.20). Isso sim é
devoção! Com um começo desses, seria de esperar que a vida de Raquel
fosse um mar de rosas. Era linda e tinha o amor do marido... o que mais
poderia querer?
“DÁ-ME FILHOS!”
Com o passar do tempo, a resposta a essa pergunta se tornou clara. O que
mais ela poderia querer? Filhos! Raquel só podia contemplar Lia, sua irmã
mais velha (e feia), dar à luz seis lhos... e ela continuava estéril. Toda vez
que um dos meninos de Lia chorava, ou que Jacó brincava com um deles, os
ciúmes, muito provavelmente, iam crescendo. É bem possível que tenha
cado cheia de dúvida, raiva e autocomiseração ao ver sua posição de
favorita ser solapada. Sua beleza, o deus que ela havia adorado, não tinha
poder para salvá-la, e ela estava desesperada por obter a aprovação e a
posição que considerava suas por direito. Seus lindos olhos não podiam
fazer coisa alguma para preencher seu útero vazio.
Por m, em desalento, clamou: “... Dá-me lhos, senão morrerei”. E Jacó
respondeu com ira: “... Por acaso estou eu no lugar de Deus?” (Gn 30.1,2).
O desejo de Raquel de ter lhos era tão forte que havia distorcido o modo
de ela pensar. Ela começou a imaginar que Jacó, e não Deus, controlava sua
fertilidade, sua posição e sua vida. Sentia-se despida e sem valor; não
suportava olhar para a feiura de sua esterilidade.
No devido tempo, Deus bondosamente concedeu um lho a Raquel. Não
deixe de notar a bondade desse ato da graça divina. Ele não atendeu a
Raquel por causa de seu coração puro ou de seus desejos santos. Ele a
abençoou apesar de sua incredulidade. Então, embora temporariamente
repleta de alegria com esse nascimento, ela ainda se mostrou insatisfeita.
Revelou seu coração ao dar nome ao menino e dizer: “... Acrescente-me o
S ainda outro lho” (Gn 30.24). Raquel não se contentou com a
bênção que Deus havia lhe concedido em José. Queria mais. E esse, meus
amigos queridos, é o resultado inevitável da idolatria: ela sempre termina
em insatisfação.
Passado algum tempo, Raquel concebeu novamente e, pouco antes de
morrer no parto, chamou seu lho Benôni, que signi ca “ lho de minha
tristeza”. Aquilo que ela havia adorado e imaginado trazer-lhe bênção
acabou por lhe causar a morte. O que ela havia esperado trazer-lhe alegria
acabou por lhe causar tristeza. Não é irônico que a mulher que clamou “Dá-
me lhos, senão morrerei” tenha morrido em trabalho de parto? Sua
história mostra que não há vida na idolatria. Ela só traz morte.
Vemos, portanto, que Raquel já era idólatra mesmo antes de roubar os
ídolos de seu pai. Seu desejo de ter lhos, como sua irmã Lia tinha, era a
coisa mais importante de sua vida. Para ela, era algo absolutamente
essencial e, portanto, era seu deus. Raquel acreditava na justi cação por
meio da maternidade; imaginava que precisava conquistar a aceitação diante
de Deus, dos outros e de si mesma. Ela não havia tido a experiência de ser
incapaz de aprovar a si mesma. E agora, estava se afogando em vergonha e
tristeza.
OS DEUSES DE RAQUEL
Não é difícil imaginar que Raquel tivesse sido sempre o centro das atenções,
que as coisas tivessem sempre acontecido da forma que ela desejava. É
provável que não estivesse acostumada a ver Lia em posição superior à dela.
A esterilidade, e tudo o que isso representava para Raquel, a haviam levado
a deparar com um problema insuperável — algo que talvez jamais tivesse
experimentado. Ela temia que precisasse tomar providências a m de
proteger sua posição. Acreditava que, de algum modo, os deuses de seu pai a
abençoariam e, por isso, os furtou. Talvez cresse na existência de um Deus
que governava a terra, mas o considerasse distante ou indomável demais.
Não con ava que ele encaminharia a vida do modo que ela desejava.
Precisava de um deus mais domável, mais dócil, que ela pudesse controlar.
Queria um deus que lhe desse aquilo de que ela precisava. Queria um deus
que ela pudesse furtar e esconder!3 Queria um deus que ela pudesse guardar
na bolsa.
MEUS ÍDOLOS DO LAR
Ao re etir sobre a história de Raquel, pergunto-me se também tenho
divindades domésticas — ídolos do lar nos quais procuro felicidade,
segurança e justi cação própria. Pelo que anseio a tal ponto de meu coração
clamar: “Dá-me isto, senão morrerei!”? De que preciso para que a vida
tenha sentido ou felicidade? O que me permite deitar à noite e saber, no
mais profundo de meu ser, que estou verdadeiramente bem? Se minha
resposta a essa pergunta for qualquer outra coisa além de Deus, então é isso
que serve de deus para mim.
Embora não nos curvemos diante de estátuas de pedra nem preparemos
tigelas de comida para oferecer a nossos deuses, adoramos ídolos de outras
maneiras. João Calvino comentou a esse respeito ao escrever: “Quando
[Moisés] diz que Raquel furtou os ídolos de seu pai, fala de um erro
comum. Podemos concluir com isso que a natureza do homem [...] é uma
perpétua fábrica de ídolos” (grifo da autora).4
Os ídolos não são apenas estátuas de pedra. São amores, pensamentos,
desejos, anseios e expectativas que adoramos em lugar do Deus verdadeiro.
São as coisas nas quais investimos nossa identidade; são aquilo em que
con amos. Os ídolos nos levam a desconsiderar nosso Pai celestial em busca
daquilo que imaginamos precisar. Nossos ídolos são nossos amores
distorcidos: tudo o que amamos mais do que amamos a Deus, as coisas em
que con amos para nossa justi cação, para nos tornarmos aceitáveis.
DEUSES DA ALIANÇA
Em certos aspectos, nosso relacionamento com esses falsos deuses é
semelhante ao nosso relacionamento com o Deus verdadeiro. Buscamos a
bênção desses deuses. Fazemos alianças com eles; conferimos-lhes o poder
de nos abençoar se trabalharmos para eles com a nco su ciente. Raquel,
por exemplo, diria: “Se eu tiver lhos, como minha irmã Lia, serei feliz!”.
Ou talvez nós digamos: “Se eu tiver um cônjuge piedoso” ou “Se meus lhos
se destacarem na escola, serei feliz”. Claro que ter relacionamentos piedosos
é uma bênção e uma fonte de felicidade, e não é pecado desejá-los; se,
porém, eles são a fonte de nossa alegria, se têm prioridade absoluta em
nossa vida, então são deuses para nós.
Jesus disse: “... buscai primeiro o seu reino [o reino de Deus] e a sua
justiça...” (Mt 6.33). Se edi car o reino de Deus (e não o nosso próprio) for
a maior prioridade de nossa vida, descansaremos na certeza de que
receberemos todas as coisas verdadeiramente necessárias por causa de seu
grande amor, e com isso diminuirão as exigências que esses ídolos fazem de
nós. O ídolo de lhos obedientes, por exemplo, que nos leva a pegar no pé
deles ou criticá-los, perderá força se não estivermos tentando construir o
reino de nossa família. Ademais, se buscarmos a justiça que vem somente de
Deus (Rm 10.3,4), em lugar de nossa própria justiça, não pressionaremos
nossa família a ter um bom desempenho para que nos sintamos bem
conosco mesmos ou tentemos nos justi car por meio de nossa reputação
como “bons pais”.
Vejamos em mais detalhes as formas que a adoração a falsos deuses
assumem em nossa vida.
“DÁ-ME UM MARIDO PIEDOSO,
SENÃO MORREREI!”
Jenny estava convencida de que a única maneira de ser feliz seria ter um
marido piedoso. Ela era casada com um homem cristão que frequentava a
igreja com ela, mas queria que orassem juntos com frequência e que ele
conduzisse as devoções em família. Eu concordava com ela que teria sido
uma bênção para seu marido ser um líder mais piedoso e procurei incentivá-
lo a encontrar outros homens que o ajudassem a crescer nesse aspecto.
À medida que conheci Jenny melhor, porém, observei que seu desejo por
ter um marido piedoso desempenhava o papel de um deus em sua vida. Ela
era governada pela ideia “Preciso de um marido piedoso, senão morrerei”.
Por vezes, imaginava que, se fosse extraordinariamente gentil e preparasse
os pratos favoritos dele para o jantar, ele teria a obrigação de satisfazer seus
desejos. Em outras ocasiões, ela desistia, frustrada e com raiva, afastando-se
dele e cando emburrada. Como Raquel, estava convencida de que só
encontraria a felicidade quando suas expectativas fossem preenchidas. Sua
identidade e aprovação própria dependiam do crescimento do marido como
líder. Não causou grande surpresa, portanto, quando ela me disse certo dia
que planejava separar-se dele. Ela deixou o marido e a igreja e, pela última
notícia que tive dela, não estava mais seguindo a Cristo. Como Raquel, seu
desejo acabou por destruí-la.
BÊNÇÃOS VENERADAS
Uma parte fundamental da falsa adoração consiste em conquistar mérito a
m de levar os falsos deuses a nos darem aquilo que desejamos. Em
essência, fazemos alianças com eles e esperamos que nos abençoem se
agirmos de determinadas maneiras.
Por exemplo, se a boa saúde é um deus em sua vida, talvez você pense:
“Se eu me exercitar todos os dias e tiver uma dieta balanceada, nunca carei
doente”. Se ter uma ocupação realizadora é um deus em sua vida, talvez
você pense: “Se eu for sempre o primeiro a chegar ao escritório e produzir
além do esperado, meu patrão será obrigado a me notar e a proteger meu
emprego”. Por favor, não me entenda mal. Não estou dizendo que é errado
o exercício apropriado ou o trabalho diligente; não apenas devemos
valorizar a boa dádiva do corpo que Deus nos concedeu, como também
somos instruídos a não cometer assassinato, inclusive contra nós mesmos
por meio do consumo imprudente de alimentos ou pela falta de atividades
físicas. Quando motivadas por amor a Deus e a outros, essas ações podem
ser boas. No entanto, tornam-se pecaminosas quando as praticamos
principalmente por medo pecaminoso, a m de obter mérito, ou de
manipular resultados, em vez de agirmos livremente, como fruto de um
coração repleto de gratidão a Deus. O único motivo santo para fazer
qualquer coisa boa é o amor pelo Senhor e por nosso próximo. Se um bom
currículo ou um corpo esbelto for sua maneira de buscar justi cação própria,
você descobrirá que, por mais que se esforce, jamais será capaz de satisfazer
as exigências da academia ou do patrão. Não há descanso na idolatria.
Imagino que talvez você esteja perguntando: “Tudo bem, Elyse, mas
como identi car se estou adorando as bênçãos que desejo ou Deus?”.
Trataremos desse assunto em maior profundidade nos capítulos adiante,
mas vou resumi-lo aqui da seguinte forma: se você está disposto a pecar a
m de alcançar seu alvo, ou se peca quando não consegue o que quer, então
seu desejo tomou o lugar de Deus e você está agindo como idólatra.
Lembra-se de como Raquel pecou? Ela se irou de forma pecaminhosa
com seu o marido; furtou os ídolos do pai e enganou a família. Mais tarde,
não se contentou com o nascimento de José e quis mais lhos. O desejo de
Raquel por lhos não era idolatria. Não, ela era idólatra porque seu desejo
de ter lhos ocupava o primeiro lugar em seu coração. “Dá-me lhos, senão
morrerei” é o clamor de uma idólatra.
Re ita comigo a respeito do mandamento que Jesus disse ser mais
importante. Ele disse que o amor mais importante em seu coração deve ser
centrado em Deus. Qualquer coisa aquém disso é idolatria. Se você se
dedicar com a nco em seu trabalho, mas ainda assim não for promovido,
sua reação revelará se você está servindo a Deus ou adorando um ídolo.
Deus e seu amor por ele são mais importantes que seu emprego? Ou se,
quando faz um belo jantar para seu marido, em vez de lhe dar atenção, ele
vai assistir televisão e depois dormir, você car irada, emburrada, se chorar
ou pensar em formas de castigá-lo, você vai saber que seu amor por Deus
não ocupa o primeiro lugar em sua vida.
MALDIÇÕES GARANTIDAS
Faz parte da natureza de aliança da adoração crer que seu deus pode
abençoá-lo ou amaldiçoá-lo. Para Raquel, a esterilidade era maldição
intolerável. Sabemos disso porque ela estava disposta a abrir mão de
qualquer coisa para evitá-la. Os ídolos sempre operam desse modo em
nosso coração. Vendemo-nos para eles e imaginamos que perdê-los será
uma a ição insuportável — uma maldição. Por isso exercem tamanho poder
sobre nossa vida.
Há uma maldição envolvendo a idolatria, mas não se deve ao fato de não
conseguirmos o que desejamos. A maldição consiste em buscarmos
satisfação em algo que não Deus. Veja o que diz Jeremias 17.5,6:
Assim diz o S :
Maldito o homem que con a no homem,
que faz daquilo que é mortal a sua força
e afasta do S o coração.
Ele é como um arbusto no deserto,
não perceberá quando vier bem algum;
pelo contrário, morará nos lugares secos do deserto,
em terra salgada e desabitada.
O que você observa no homem que con a em algo que não Deus? Ele
nunca está satisfeito. É como um arbusto sedento no deserto, um espinheiro
em terra desabitada. O que poderia dar menos satisfação?
Lembro-me de um passeio de jipe no deserto de Sonora. Embora fosse
primavera e tivesse chovido há pouco tempo, o deserto estava desolado.
Nosso guia comentou várias vezes que devíamos tomar cuidado, pois todas
as plantas e animais ali eram hostis. De fato, era perigoso aproximar-se de
qualquer coisa que crescia naquela região. Certo cacto tinha espinhos com
farpas microscópicas invertidas, capazes de xar-se até a quem resvalasse
nelas. Outro cacto tinha espinhos de mais de oito centímetros de
comprimento, tão resistentes que penetrariam facilmente quatro camadas de
jeans. Era uma terra deserta e desabitada. Embora eu tenha gostado do
passeio, devo admitir que quei feliz de voltar para dentro do jipe e rumar
para a civilização. Com certeza eu não gostaria de morar ali. A Bíblia
ensina que quando coloco a mim mesma, meus desejos, minha capacidade
de me salvar, ou qualquer outra coisa que não Deus no centro de minha
con ança e de meu amor, é exatamente neste lugar que vivo: no deserto.
Seria uma maldição ter de viver num deserto, não é? A pessoa que con a
em algo ou ama algo mais que a Deus é amaldiçoada porque se concentra
de tal modo naquilo que deseja a ponto de nem sequer perceber quando
coisas boas acontecem. Só consegue ver o que está faltando em sua vida.
Isso porque o coração deixou de amar o Senhor, e ela tem mais amor por
alguma outra coisa. Ama a justiça própria, a autossu ciência e aprovação
própria. Por essa razão Raquel era deslumbrante, tinha todo o amor de seu
marido, deu à luz um lindo bebê saudável e ainda assim declarou: “Quero
mais”. Raquel vivia no deserto em mais de um sentido. Vivia na aridez
criada por seus desejos. Sua vida era infeliz, triste, inútil e sem esperança,
pois ela havia descoberto que não era a mulher perfeita. A adoração a ídolos
é o motivo de nosso descontentamento e de nossa desobediência a Deus. E
Calvino diz que nosso coração os fabrica.
ENTERRE SEUS ÍDOLOS
No m das contas, o que Raquel fez com seus ídolos? Felizmente, é
provável que eles tenham sido enterrados debaixo de uma árvore. Jacó
ordenou que sua família voltasse para Deus. “Lançai fora os deuses
estrangeiros que há no meio de vós”, disse a seus familiares. “E entregaram
a Jacó todos os deuses estrangeiros que possuíam [...] e Jacó os escondeu
debaixo do carvalho que está junto a Siquém” (Gn 35.2,4). Esperamos que
Raquel tenha entregado seus deuses falsos conforme seu marido ordenou.
Embora ela tenha morrido pouco depois, não há motivo para concluir que
tenha guardado consigo os ídolos apesar da instrução de Jacó. Talvez Deus
tenha libertado Raquel da crença de que precisava de algo além dele —
talvez tenha trabalhado no coração dela para que con asse somente nele.
Você também pode encontrar descanso hoje na certeza de que, pela graça
de Deus, ao obedecer à ordem de seu Marido celestial para entregar seus
ídolos, ele os colocará debaixo de outra árvore. Deus tem poder para
enterrar todos os nossos falsos deuses debaixo do madeiro mais
impressionante e glorioso de todos... o madeiro do Gólgota. Você pode lhe
entregar todos os seus medos, todos os seus desejos, todos os seus pecados,
pois ele disse: “... Está consumado...” ( Jo 19.30).
A história de Raquel é relevante para você e para mim? Sim, pois a
idolatria não terminou ali. O problema persiste na igreja de hoje.
Precisamos nos lembrar das palavras nais de João: “Filhinhos, guardai-vos
dos ídolos” (1Jo 5.21). Sua advertência para “ter cuidado” ou “proteger-se”
da adoração falsa não faz sentido se não entendemos como nosso coração
fabrica ídolos.
Deus nos chama a enterrar nossos falsos deuses aos pés da cruz. Na união
com Jesus Cristo, cruci cado no madeiro do Gólgota, temos o desejo e o
poder de conquistar toda nossa idolatria e enterrar nossos deuses no solo
encharcado de sangue debaixo de sua cruz.
Somente Deus, o Conhecedor do coração, é também o Transformador do
coração. O Deus que nos conhece e nos ama plenamente, mais do que
somos capazes de entender, também conhece todos os nossos desejos e o
lugar que ocupam em nossos afetos. Ele é o Transformador do coração. Nas
palavras do autor de Hebreus,
não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão
descobertas e expostas aos olhos daquele a quem deveremos prestar
contas [...] Porque não temos um sacerdote que não possa compadecer-se
das nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado
em todas as coisas, porém sem pecado. Portanto, aproximemo-nos com
con ança do trono da graça, para que recebamos misericórdia e
encontremos graça, a m de sermos socorridos no momento oportuno
(Hb 4.13,15-16).
Todos os desejos de nosso coração, quer idólatras em essência ou idólatras
em função de nosso amor desordenado por eles, são conhecidos por nosso
Pai. Todas as coisas estão “descobertas e expostas” diante dele, e ele nos
conhece inteiramente. Ele sabe de cada ocasião em que colocamos algo
acima dele, em que amamos algo mais do que a ele. Se esse fosse o m da
história, cairíamos em desespero, não é mesmo? Louvado seja Deus porque
a passagem diz, na sequência, que nosso querido Salvador e Sumo
Sacerdote se compadece de nossas fraquezas. Ele entende nossa adoração
diluída e implora para que nos aproximemos dele, “para que recebamos
misericórdia e encontremos graça [...] no momento oportuno”. Precisamos
encarecidamente de sua misericórdia e de seu socorro em nosso con ito
com a idolatria... e ele prometeu concedê-los. Portanto, deposite nele toda
sua esperança e con ança. Sei que ele se mostrará um Sumo Sacerdote el
e lhe concederá a ajuda de que você precisa para desenvolver um coração e
uma vida inteiramente dedicados a amá-lo e adorá-lo.
Quando você se vir preocupado, irado ou temeroso como Raquel,
descanse no fato de que não precisa pegar um ídolo na estante nem
encontrar algum outro modo de cuidar de si mesmo. A misericórdia e a
graça de Deus estão ao seu alcance a cada momento — e a ajuda que ele
promete é tão certa quanto o caráter dele. Você pode dar um passo em
direção ao Senhor... Ele o conhece e sabe o que você adora, e é mais que
capaz de sustê-lo em seu momento de necessidade. Portanto, vá em frente e
aproxime-se dele com con ança. Você descobrirá que ele é repleto de
compaixão e mais que capaz de ampará-lo e transformá-lo. A nal, ele já o
considera justo em Cristo. De que mais você precisa?
PARA REFLETIR
1. Pense na história de Raquel e Lia. Se você não a conhece, leia a partir de
Gênesis 29. Você se identi ca mais com Raquel ou com Lia? De que
maneira as interações de Deus com ambas são consolo e ânimo para
você?
2. Pense nas áreas de sua vida em que você luta contra o pecado. Vê alguma
ligação entre seu pecado habitual e uma possível idolatria? Em caso
a rmativo, anote-a. Em caso negativo, não desanime; o Senhor o ajudará
a identi car se há ídolos em
seu coração.
3. Existe algo em sua vida que lhe parece absolutamente essencial ter?
4. Como você completaria a frase; “Dá-me ________, senão morrerei”?
Você espera que algum Jacó humano lhe proveja satisfação absoluta? Que
palavras usa para se consolar diante de fracassos e decepções?
5. Escreva uma oração de compromisso, declarando seu desejo de entender
como seu coração pode fabricar ídolos.
1Se você ainda não conhece a história de Jacó, Raquel, Lia e Labão, separe um tempo para lê-la,
começando em Gênesis 29.
2Em um exemplo perfeito de ceifar aquilo que se semeia, Jacó, que enganou seu pai, foi enganado por
seu sogro.
3“Raquel havia pegado os ídolos e posto na sela do camelo, sentando-se em seguida sobre eles. Labão
apalpou toda a tenda, mas não os achou. Ela disse a seu pai: Que a ira nos olhos de meu senhor não
se acenda, por não poder me levantar na tua presença, pois estou com o incômodo das mulheres.
Assim ele procurou, mas não achou os ídolos” (Gn 31.34,35).
4John Calvin, Institutes of the Christian religion, edição de John T. McNeill, Library of Christian
Classics (Philadelphia: Westminster,1960), 2 vols., 1:108 [edições em português: João Calvino, As
institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols. e A instituição
da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São Paulo: Unesp,
2008)], grifo da autora.
2
ADORAÇÃO NÃO
DIVIDIDA
... tu me amas mais do que estes? (Jo 21.15).
“T
enho a impressão de que não faço outra coisa senão trabalhar. Minha irmã nem parece
perceber que eu também gostaria de me sentar e ouvir as palavras do Mestre. Por que ela
não enxerga que preciso de ajuda? Às vezes ela é tão egoísta! T
enho tanta coisa para fazer
com os preparativos do jantar e a recepção dos convidados. Acho que vou dizer a ela o que
penso.”
Quando Marta saiu da cozinha e entrou na sala de estar, irritou-se novamente ao ver a
irmã sentada aos pés de Jesus. “Por que Jesus não diz para ela me ajudar? Por que deixa que
fique acomodada? Ele não se importa comigo?”
“Senhor”, Marta demandou, “não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha
com todo o serviço? Dize-lhe que me ajude”.
O Senhor voltou os olhos cheios de amor para o rosto de sua serva
inquieta e disse: “Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas
coisas; mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada” (Lc 10.41,42).
Creio que não conheço nenhuma mulher cristã para a qual essas palavras
de Cristo não falem ao mais fundo de seu coração. Por algum motivo, servir
de forma prática parece ser mais fácil e mais grati cante que sentar-se aos
pés do Senhor para ouvi-lo. Por que será? Essa tendência indica um
problema em nossa adoração? Em nosso amor? E o que é a “boa parte” que
Maria havia escolhido e que Marta e muitos de nós talvez deixemos passar?
AMOR EXCESSIVO POR DEUS?
Você conhece alguém excessivamente dedicado ao Senhor, todo voltado a
amá-lo? Eu não conheço. Aliás, não creio que isso seja possível. Como
Richard Baxter diz, “não é possível amar demais a bondade in nita”.1 Não
estou falando sobre alguma devoção mística que impede um modo de vida
responsável. Estou falando da di culdade que sentimos quando tentamos
dedicar nossa vida diária, a cada momento, a amar, adorar e servir ao
Senhor — a assentar-nos a seus pés.
Apesar de meu envolvimento constante com o ministério cristão, tenho
de me perguntar com frequência: “Quanto tempo tenho passado aos pés do
Mestre? Quanto tempo dedico à única coisa necessária?”. Não estou falando
de tempo gasto me preparando para oportunidades de ministério, mas sim
de tempo assentada aos pés de Jesus, adorando-o. Verdade seja dita... sou
como Marta. Tenho fortes amores concorrentes em meu coração. Sim, amo
o Senhor, mas no momento estou um tanto ocupada trabalhando para ele;
mais tarde passo um tempo com ele.
Até mesmo em minhas responsabilidades no ministério cristão é possível
adorar deuses que eu mesma crio.... as divindades de minha reputação, de
meus planos para o dia, de minhas ideias. É fácil car tão frustrada e
envolvida com o “serviço” ao Senhor que me esqueço de amá-lo e adorá-lo.
Nessas horas, de modo semelhante a Marta, começa a imaginar que Deus
não se importa comigo. A verdade acerca de seu amor e cuidado sacri cial
ca anuviada por meus planos e desejos. Também é fato que, muitas vezes,
grande parte do trabalho que realizamos “para” o Senhor é, na realidade,
uma forma de tentarmos salvar a nós mesmos, merecer bênçãos ou justi car
nossa existência.
Esse não é um problema apenas de Marta. Por isso ouvimos as palavras
do Senhor a ela ressoarem em seus ensinamentos a outros: “Trabalhai não
pela comida que se acaba, mas pela comida que permanece para a vida
eterna, a qual o Filho do homem vos dará” ( Jo 6.27). “Cuidai de vós
mesmos; não aconteça que o vosso coração se encha de [...] preocupações
da vida” (Lc 21.34). Por que é tão fácil nos enchermos de preocupações e
nos vermos presos? Porque, como João Calvino disse, nosso coração fabrica
outros deuses, e supomos que eles nos salvarão e proverão para nós.
Às vezes lhe parece que a Bíblia é repleta de declarações
Ê
assustadoramente simples? Êxodo 20.3 diz: “Não terás outros deuses além
de mim”. Com essa asserção elementar, o Senhor Deus, Criador dos céus e
da terra, dirige todo nosso foco e destino. Nossa atitude em relação a essas
sete palavras curtas, que parecem tão triviais, in uencia todas as facetas de
nossa vida, agora e eternamente. Será que a única coisa necessária que
Marta encontrou e Maria deixou passar está resumida nesse mandamento
sucinto? Marta havia colocado outro deus acima de Jeová?
INSIGHTS DOS PURITANOS
Ao procurarmos entender a devoção plena que Deus exige no primeiro
mandamento, um recurso útil é o e larger catechism.
Ele propõe a pergunta: “Quais são os deveres exigidos no primeiro
mandamento?”. A resposta que os autores fornecem é tão proveitosa para
tratarmos do pleno propósito do mandamento que a citarei por inteiro
(embora seja um tanto extensa):
Os deveres exigidos no primeiro mandamento são: conhecer e reconhecer
Deus como único Deus verdadeiro e nosso Deus, e adorá-lo e glori cá-lo
como tal; pensar e meditar nele, lembrar-nos dele, tê-lo na mais alta
consideração, honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e temê-lo;
crer nele, con ando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nele;
ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe todo louvor e gratidão, prestando-
lhe toda a obediência e submissão de nosso ser; ter cuidado de agradá-lo
em tudo, e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa; e andar
humildemente com ele.2
Que tal voltar e reler a resposta? Notou como cada um dos verbos é
relevante e rico em signi cado? Ao lê-los, vejo claramente como falho em
conhecer, reconhecer, adorar e glori car a Deus como meu único Deus
verdadeiro. Re ita comigo enquanto repasso alguns itens da lista:
• Pensar em Deus. Penso em Deus continuamente ou só de vez em
quando, nos momentos em que desejo algo ou preciso de algo?
• Meditar em Deus. Medito em seu caráter, em sua santidade, em sua
bondade, em seu amor?
• Lembrar-se de Deus. Lembro-me dele em tudo o que faço e digo ou
raramente penso nele?
• Con ar em Deus. Con o nele de fato ou con o em outras coisas, como
meu currículo ou meu trabalho?
Percebe a perspectiva prática dos puritanos? Embora haja quem considere
de modo equívoco o primeiro mandamento como uma instrução ambígua,
os puritanos o compreenderam em termos práticos e cotidianos.
Dediquemos agora algum tempo ao estudo mais detalhado de dois termos
que eles usam: honrar e con ar.
O SACERDOTE QUE NÃO
HONRAVA A DEUS
Antes do tempo dos reis de Israel, um sacerdote chamado Eli atuou como
governante nomeado por Deus. Eli tinha um problema sério: não honrava
a Deus. Embora servisse a Jeová e ocupasse o cargo mais elevado de
autoridade religiosa, estava mais preocupado em agradar seus dois lhos
rebeldes do que em agradar a Deus. Esse fato é evidente, pois, quando seus
lhos agiram com impiedade, ele não os disciplinou.3 Deus confrontou Eli
por seu pecado: “... Por que honras teus lhos mais do que a mim...?” (1Sm
2.29). Visto que Eli honrava seus lhos mais que a Deus, era inevitável que
seu sacerdócio chegasse ao m.
Embora Eli servisse ao Senhor, considerava mais importante agradar seus
lhos que honrar a Deus. É provável que Eli nunca tenha dito isso, mas
suas ações falavam mais alto que quaisquer palavras. Ele preocupava-se
mais em ter paz em seu lar do que em ter paz com Deus, por isso não
cumpriu seu dever e desonrou ao Senhor. O prazer de ter um
relacionamento tranquilo com seus lhos funcionava como seu deus. Ele
serviu a esse ideal que lhe era tão importante e desconsiderou as ordens de
Deus para disciplinar seus lhos. Apesar de Eli ser sacerdote, era idólatra.
Não se curvava para imagens de pedra, mas se curvava para as exigências
de seus lhos — mesmo quando eram con itantes com as exigências de
Deus.
Como adoradores de Deus, nossa preocupação com sua honra deve ser
tão grande que, em comparação, o amor natural por outros deve parecer
ódio. Como Jesus disse: “Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e
lhos, irmãos e irmãs, e até a própria vida mais do que a mim, não pode ser
meu discípulo” (Lc 14.26).
Ao fazer uma retrospectiva de minha vida como mãe, vejo diversas
maneiras pelas quais me curvei para as exigências de meus lhos em vez de
honrar a Deus. Vejo como consenti com seus desejos e os atendi porque
queria mimá-los ou deixá-los felizes. Por vezes, quis tanto ser amiga deles
que não me preocupei com a amizade com Deus. Em outras ocasiões,
cheguei a me opor à liderança de meu marido para evitar o desprazer deles.
Em meu coração, sou como Eli. Houve ocasiões em que transformei em
ídolo a opinião favorável de meus lhos... e, como Marta, deixei passar a
única coisa necessária: a adoração a Deus.
Honrar a Deus signi ca colocar em primeiro lugar o prazer e a glória do
Senhor. Signi ca ter respeito e deferência por ele e estimá-lo acima das
opiniões daqueles a quem amamos. Signi ca ter a disposição de sofrer
desrespeito e até perseguição a m de respeitá-lo. Podemos identi car a
adoração a falsos deuses em nosso coração quando honramos alguma coisa
mais que a Deus.
O PAI QUE CONFIAVA EM DEUS
Outra faceta da adoração a Deus é a con ança. Con ar em Deus signi ca
crer nele e obedecer a suas ordens a qualquer custo. Signi ca acreditar que
tudo de que preciso para ser amado e cuidado eternamente já me foi
concedido em Cristo.
A con ança é uma daquelas questões fundamentais nas quais preciso
trabalhar continuamente. Embora con e em Cristo para minha salvação
eterna, com frequência encontro outras áreas de minha vida em que não
con o em Deus. Por exemplo, co apreensiva quando imagino que não
haverá dinheiro su ciente para pagar as contas. Em vez de con ar na
provisão de Deus, sou tentada a importunar meu marido e car preocupada
e com raiva, ou a car frustrada, desistir e gastar dinheiro na tentativa de
satisfazer e acalmar meu coração. Na verdade, essas ações revelam falta de
con ança na capacidade de Deus de prover. São pensamentos e ações de
um idólatra.
Abraão havia esperado anos pelo presente prometido por Deus — um
lho que Deus usaria para trazer ao mundo seu Libertador. Depois do
nascimento de Isaque, Deus pediu de Abraão uma obediência inimaginável:
“... Toma agora teu lho, o teu único lho, Isaque, a quem amas; vai à terra
de Moriá e oferece-o ali em holocausto...” (Gn 22.2). O fato de Abraão ter
se sujeitado à ordem de Deus é um exemplo extraordinário de como Deus,
por sua graça, nos sustenta e nos capacita para obedecer.
Abraão amava Isaque, e Deus sabia disso. Em sua ordem para que
Abraão realizasse esse sacrifício, Deus ressaltou o fato de que Isaque era o
lho amado de Abraão. O Senhor queria deixar claro para Abraão que ele
sabia o que sua ordem implicava. Não se tratava do sacrifício de Ismael,4
mas de Isaque, o lho preferido, o lho da promessa por meio do qual o
Messias viria. Teria sido fácil para Abraão imaginar que a vinda do Messias
dependia inteiramente de sua capacidade de proteger Isaque. A nal, a m
de que a promessa de Deus se cumprisse, parecia necessário que Isaque
chegasse à idade adulta. Teria sido fácil para Abraão con ar em si mesmo e
em sua aptidão como pai. Da mesma forma que você e eu, no passado
Abraão havia lidado com o desejo de resolver as coisas (inclusive as
promessas de Deus) à sua maneira, con ando em si mesmo.5 Ele poderia
ter pensado consigo mesmo: “Deus não me pediria para matar Isaque. Não,
tenho de protegê-lo para que Deus cumpra seu plano em relação ao
Messias. Preciso fazer o que me parece correto”.
Pela graça divina, Abraão foi capaz de con ar no poder e no plano do
Senhor. Podemos acompanhar o raciocínio de Abraão em Hebreus 11: “Ele
considerou que Deus era poderoso até para o ressuscitar dos mortos...” (Hb
11.19). Abraão não tinha garantia alguma de que Deus proveria um
carneiro para o sacrifício, apenas a garantia da promessa de Deus: “... todas
as famílias da terra serão abençoadas por meio de ti” (Gn 12.3). Deus
poderia ter lhe dado outro lho, poderia ter ressuscitado Isaque, ou poderia
ter cumprido sua promessa de alguma outra maneira. De qualquer modo,
Abraão havia aprendido a con ar nele, portanto levantou-se cedo, pegou a
lenha, o fogo e uma faca, e partiu para o encontro com o Deus em quem ele
con ava. O que o sustentou durante a jornada de três dias até o monte
Moriá? Talvez ele simplesmente tenha con ado que Deus não havia
mentido. Creu na sabedoria, no poder e na veracidade de Deus. Talvez
tenha se recordado das promessas de Deus:
... farei de ti uma grande nação... (Gn 12.2).
... farei a tua descendência como o pó da terra... (Gn 13.16).
... conta as estrelas [...] Assim será a tua descendência (Gn 15.5).
... Eu sou o Deus todo-poderoso [...] te farei crescer muito em número
(Gn 17.1,2).
... eu te farei fruti car imensamente; de ti farei nações, e reis procederão
de ti (Gn 17.6).
Pela graça e pelo poder de Deus, Abraão creu em suas promessas e
obedeceu de bom grado.
Re ita sobre as diferenças entre o relacionamento de Abraão e de Eli
com Deus. Abraão amava seu lho, mas amava Deus ainda mais. Ele
adorava a Deus a ponto de estar disposto a entregar a pessoa mais querida
de seu coração. Sim, Abraão amava seu lho, mas seu amor por ele parecia
ódio em comparação com o amor por seus Deus. Eli teria dito que amava a
Deus e a seus lhos. Na hora da verdade, porém, suas ações mostraram que
seus lhos governavam seu coração.
CONFIANÇA NO DEUS QUE VOCÊ ADORA
Diante da adversidade, quando parece que tudo pelo que você trabalhou
está prestes a se transformar em fumaça — quando os lhos estão doentes,
a empresa vai por água abaixo ou há con ito na igreja — as perguntas
fundamentais devem ser: Você con a em Deus? Crê que ele é sábio, bom e
poderoso o su ciente para realizar sua vontade e conduzir você e sua família
em segurança até ele? Consegue ouvi-lo dizer a você: “Eu sou o Deus todo-
poderoso”?
Gostaria de dizer que sempre con o em Deus desse modo, mas não é o
caso. Muitas vezes me pego vacilando e questionando a bondade e a
veracidade de Deus. Creio que Deus é bom e que posso con ar em sua
palavra, mas essa convicção sempre compete com outras crenças e com
medos em meu coração:
• Posso con ar em Deus para a salvação e outras coisas do âmbito
religioso, mas quanto a meu casamento, devo agir como me parecer
melhor.
• Não preciso me esforçar para ter uma vida de obediência grata pelo
amor e pela aceitação de Deus. Minha desobediência não é idolatria;
minhas circunstâncias são peculiares.
Dessas formas não muito sutis, eu me vejo faltar com a obediência ao
primeiro mandamento e erigir outros deuses — os deuses da minha razão,
os deuses da exaltação, da salvação e do amor próprios — em vez de
desenvolver con ança e devoção absolutas. Permita-me dar-lhe mais um
exemplo que talvez o ajude a perceber como é fácil nos confundirmos em
relação ao foco de nosso amor.
“... TU ME AMAS MAIS DO QUE ESTES?...”
Antes de negar a Cristo na noite da cruci cação, Pedro achava que adorava
plenamente a seu Senhor. Ele teria se encaixado bem entre os 76 por cento
dos americanos que se consideram obedientes ao primeiro mandamento.
Pedro supôs equivocadamente que seu amor pelo Senhor fosse mais forte
que qualquer outro amor. Declarou: “... Ainda que seja necessário morrer
contigo, de modo nenhum te negarei” (Mc 14.31). Jesus, porém, lhe disse:
“... nesta noite [...] tu me negarás três vezes” (Mc 14.30).
Que impacto essas palavras devem ter causado a Pedro, tão orgulhoso e
seguro de si! É provável, contudo, que o impacto maior, que abalou até os
alicerces de sua alma, tenha vindo com o olhar de amor e compreensão de
Jesus por seu discípulo depois que ele o negou (Lc 22.61). Quando o olhar
de Pedro cruzou com o olhar do Senhor, ele entendeu as incoerências de
seu coração, a fragilidade de seu afeto e o verdadeiro foco de seu amor. Ele
tinha outros deuses. Pedro havia se imaginado forte o su ciente para ser seu
próprio salvador: “... saindo dali, chorou amargamente” (Lc 22.62).
Ele tinha visto o Senhor duas vezes depois da ressurreição,6 mas ainda
lutava com seu pecado e com os amores concorrentes em seu coração. Jesus,
em sua misericórdia, o ajudou a entender sua fraqueza. Na praia, enquanto
Jesus preparava o café da manhã para seus discípulos, confrontou Pedro
ternamente. Três vezes lhe perguntou: “Simão, lho de João, tu me amas
mais do que estes?” ( Jo 21.15). Em grego, Jesus lhe perguntou: “Você me
ama com devoção ardente, que exclui todos os outros amores?”. Duas vezes
Pedro se esquivou e declarou que tinha forte afeição pelo Senhor. Na
terceira vez, Jesus mudou a pergunta: “Você tem forte afeição por mim?”.
A ito e triste, Pedro foi obrigado a reconhecer: “... Senhor, tu sabes todas as
coisas e sabes que te amo...” ( Jo 21.17). Foi como se Pedro tivesse dito,
nalmente: “Senhor, tu conheces meu coração. Sabes dos amores que
competem por minha atenção dentro dele. Eu te amo, mas tu sabes que
falhei em amar-te, pois amei outras coisas, especialmente as pessoas e a
opinião delas a meu respeito. Será que eu te amo mais do que estes? Meu
amor é mais forte que o deles? Senhor, somente tu o sabes”. Em essência, a
resposta do Senhor foi: “Sim, Pedro, eu sei. E agora, você também sabe.
Sirva-me ao cuidar de meu povo, mas, ao fazê-lo, tenha em mente a quem
você está servindo. Tenha em mente a quem você deve adorar. Lembre-se
de que eu sou o Único forte o su ciente para salvar. E lembre-se de que
você não é melhor que aqueles a quem serve”.
O Senhor sabia que Pedro seria fraco, que falharia... como acontece com
todos nós. Muitas vezes, não permanecemos éis ao Senhor como
deveríamos, pois temos em nosso coração os mesmos amores concorrentes
que Pedro. Temos medo de que outros nos critiquem, zombem de nós ou
nos persigam. Temos vergonha de nossa incapacidade de salvar a qualquer
pessoa. Somos iguais a Pedro, não é mesmo?
Em meio a essa triste realidade se encontra uma alegre verdade: como
Pedro pertencia a Cristo, no m das contas ele prevaleceria, e sua fé não
fracassaria completamente. A vitória não seria resultado da força ou fé
inerente de Pedro. Evidente, não? Sua fé sobreviveria e se desenvolveria por
meio de seu fracasso porque o Senhor havia orado por ele (Lc 22.32). Você
pode consolar seu coração com o fato de que o Senhor também ora por
você.
Portanto, também pode salvar perfeitamente os que por meio dele se
chegam a Deus, pois vive sempre para interceder por eles (Hb 7.25).
Nas palavras de certo puritano, “se ouvisses Cristo orar por ti, não seria
um incentivo para orares e te persuadires de que Deus não te rejeitaria?”.7
Embora falhemos, embora adoremos outros deuses, podemos descansar no
fato de que Deus verdadeiramente nos salva para sempre. Isso porque o
Senhor Jesus está orando por nós, e sabemos que suas orações sempre são
conforme a vontade de Deus e sempre são ouvidas ( Jo 11.41,42). Sim,
podemos falhar em permanecer éis como deveríamos, em adorar somente
Deus, mas como ele está orando por nós, jamais cairemos de suas mãos de
amor.
Em nossa luta contra a idolatria, aprendamos a descansar no poder da
oração dele. Ao continuarmos a examinar a in uência de falsos deuses, será
importante lembrar que, embora você se sinta fraco e vulnerável, se
pertence a Deus, ele o fortalecerá e o guardará. O fato de você lutar contra
amores concorrentes não é surpresa maior para o Senhor que as negações
de Pedro. No entanto, Deus amparou Pedro quando ele caiu, e amparará
você também. E o simples fato de você estar nessa batalha é prova de que,
verdadeiramente, pertence ao Senhor.
QUEM VOCÊ ADORA?
Neste capítulo, procurei ajudá-lo a observar um pouco mais de perto as
implicações das palavras “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3).
À primeira vista, talvez parecesse que você estava se saindo bem na tarefa
de obedecer a esse mandamento. Quem sabe agora, depois de olhar para a
vida de Marta, Eli, Abraão e Pedro, tenha percebido áreas de sua própria
vida em que outros deuses governam seu coração. Consegue discernir em
que áreas você adora, honra, ama algo ou con a nisso mais que em Deus?
Em caso a rmativo, não se desespere. Lembre-se de que Jesus sabia que
Pedro o negaria, mas por causa das orações de Jesus, a fé no coração de
Pedro sobreviveu, se desenvolveu e foi bênção para outros. A negação de
Pedro é fonte de grande consolo para mim, pois sei que em todos os
aspectos nos quais neguei o Senhor, ele está orando por mim, desa ando-
me a dedicar-lhe todo o meu amor.
No capítulo seguinte, trataremos em maior profundidade do primeiro
mandamento e analisaremos o lugar da lei em nossa vida como crentes. Por
ora, porém, peço que o Espírito Santo desperte seu entendimento para os
amores concorrentes e os deuses em seu coração.
PARA REFLETIR
1. Volte à resposta do e larger catechism (p. 39-40) e anote os verbos
usados para ilustrar a adoração não dividida. Sublinhe
os verbos mais expressivos para você.
2. Ao re etir sobre Marta, Eli, Abraão e Pedro, que verdades eles ensinam
sobre adorar de todo o coração?
3. Com qual dessas pessoas você se parece mais? Em que aspectos você
falha?
4. Qual é o signi cado do fato de que Jesus está orando por você?
5. No livro No god but God [Nenhum deus além de Deus], Os Guinness e
John Steel a rmam: “Para os seguidores de Jesus Cristo, quebrar os ídolos
e viver na verdade não é uma prova de ortodoxia, mas de amor”.8 O que
você acha que eles querem dizer com isso?
6. Quem ou o que compete mais intensamente por seu amor? Pense em
seus relacionamentos com pais, cônjuge, lhos, empregadores e amigos.
1Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 123.
2e larger catechism, p. 104 (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1998) [edição em português: O
catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)].
3“Os lhos de Eli eram ímpios; não se importavam com o S [...]. O pecado desses jovens era
muito grave à vista do S, pois eles desprezavam a oferta do S” (1Sm 2.12,17). Veja tb.
1Sm 2.22-25,29. “Porque já lhe disse que julgarei sua família para sempre, pois ele sabia do pecado de
seus lhos, que blasfemavam contra Deus, mas não os repreendeu” (1Sm 3.13).
4Veja em Gênesis 16, 17 e 21 a história completa de Abraão, Hagar (serva de Sara) e seu lho Ismael.
5Embora Abraão tenha sido aprovado nesse teste com louvor, não foi sempre assim em outras
ocasiões de sua vida. Em Gênesis 12.13 e 20.2, ele colocou em perigo duas vezes sua esposa Sara, que
seria a mãe do lho prometido, ao dizer a reis da terra que ela era apenas sua irmã. Foi sinal da graça
providencial de Deus ter guardado Sara de relações sexuais na corte do rei, protegendo assim a
linhagem eleita. Em Gênesis 16, Abraão cedeu às maquinações de Sara e teve relações sexuais com
Hagar, gerando um lho por seu próprio poder e questionando, mais uma vez, a capacidade de Deus
de cumprir sua palavra.
6O Senhor também conversou com Pedro em particular em pelo menos mais uma ocasião antes de os
demais discípulos o verem. Embora não tenhamos informações a respeito do teor dessa conversa, é
natural supor que tenham falado sobre a negação de Pedro e sua restauração (veja Lc 24.34; 1Co
15.5).
7Baxter, A Christian directory, p. 68.
8Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 216.
3
DE SUMA IMPORTÂNCIA
De modo que a lei é santa, e o mandamento,
santo, justo e bom (Rm 7.12).
— Vocês têm de partir agora mesmo! Não levem coisa alguma. Fujam da cidade antes que o
furor de Deus caia sobre ela!
“Quem eram esses desconhecidos que seu marido havia protegido durante a noite? Do
que estavam falando?”, perguntou-se a esposa de Ló. “Por que devemos dar ouvidos a eles?
Quem pensam que são para ordenar que abandonemos nosso lar? Talvez seja mais uma
das brincadeiras de Ló.”
— Não podemos ficar mais um pouco, Ló? —, suplicou ao marido. — Os noivos de nossas
filhas não têm certeza de que precisamos partir. Por que não esperar e ver o que acontece?
Quem sabe não será necessário irmos embora. Sei que essa cidade tem seus problemas,
mas que cidade não tem? Além do mais, você exerce autoridade considerável aqui e talvez
possa convencer o povo a mudar. Não vamos nos precipitar.
Então, enquanto o sol nascia, algo ainda mais assustador aconteceu. Os dois
desconhecidos obrigaram a família a sair pelas portas da cidade e ordenaram que fugisse.
— Corram se quiserem salvar a vida! —, advertiram. — Não olhem para trás! Afastem-se da
cidade! O castigo de Deus está prestes a cair sobre este lugar, mas Deus os protegerá.
Corram! E lembrem-se: não olhem para trás em hipótese alguma!
Enquanto Ló, sua esposa e suas filhas fugiam de sua casa, a esposa de Ló sentiu algo
fisgar seu coração.
“Como posso deixar para trás uma casa confortável, amigos queridos, um lugar cheio de
atrativos, meu âmbito de influência? Não tive tempo nem de pegar minhas belas peças de
cerâmica. E quanto aos noivos de minhas filhas? Não quero sair da cidade. Eu a amo e vou
sentir saudades demais. É tão difícil pensar em partir. Além disso, Deus sabe que preciso de
meu lar querido. Será que Deus poupará nossa casa? O que será que está acontecendo com
ela? Ló está correndo à frente, não vai saber se eu olhar só de relance. Preciso apenas de
uma última lembrança para levar comigo... apenas uma memória preciosa.”
Quando a esposa de Ló se voltou para trás, é possível que tenha ficado paralisada com a
cena assustadora de fogo descendo do céu sobre sua cidade, seu lar. Naquele instante, antes
que se desse conta, foi envolta em gases sulfurosos e coberta de sal. A última imagem que
viu de seu mundo querido foi do julgamento divino sobre ele.
Por vezes, uma ação simples revela muita coisa a respeito do caráter.
Neste caso, um olhar de relance revelou o coração. Sodoma era o lugar em
que a esposa de Ló vivia sicamente, mas também era onde seu coração
habitava. Ela o amava, e seu coração idólatra se apegou a ele, pois ali estava
seu tesouro. Lembra-se das palavras de Jesus, “onde estiver teu tesouro, aí
estará também teu coração” (Mt 6.21)? Havia algo em Sodoma que ela
valorizava, estimava, apreciava e amava mais que a Deus.
Moro na região norte de San Diego e, quando olho para meu lindo
quintal, posso dizer com sinceridade: “Amo o lugar onde moro”. Deus
abençoou nossa família com uma boa casa em uma parte agradável do
mundo. Não há pecado algum em desfrutar o que Deus proveu e ser grato
por essas dádivas. Aliás, seria pecado não ter prazer em suas bênçãos. O
problema, contudo, é quando amo minha casa mais do que a Deus. Se
estimo minha agradável residência mais do que a Deus, tornei-me idólatra.
Não é errado agradecer a Deus por suas bênçãos, mas quando as bênçãos se
tornam nosso deus, caímos em idolatria. Esse foi o problema da esposa de
Ló: ela deu maior valor a Sodoma que a Deus. Jesus adverte: “Lembrai-vos
da mulher de Ló” (Lc 17.32).
Você está começando a perceber como suas ações, de modo semelhante às
ações das pessoas da Bíblia, re etem o foco de seu amor e de sua adoração?
É fácil perceber que a esposa de Ló tinha outros deuses, não? É evidente
que ela amava sua cidade, por mais perversa que fosse. Sabemos disso
porque ela se mostrou disposta a desobedecer à ordem de Deus a m de
olhar para Sodoma só mais uma vez.
Precisamos crescer em nosso entendimento do ensino das Escrituras
acerca da idolatria; para isso, consideraremos as proibições explícitas de
Deus a esse respeito. Ao fazê-lo, espero que você consiga enxergar com
mais clareza outros deuses que talvez estejam presentes em sua vida. Ao
longo do caminho, descobrirá que a desobediência nasce da adoração a
outros deuses.
O MAIOR MANDAMENTO
Quando Moisés voltou de seu encontro com Deus, trouxe consigo
instruções divinas para a vida e a adoração na forma dos Dez
Mandamentos. Deus tinha dado leis a seus lhos: “... temas o S , [...]
andes em todos os seus caminhos...”. Ordenou:
“... ames e sirvas o S , teu Deus, de todo o coração e de toda a alma,
guardes os mandamentos do S e os seus estatutos [...] para o teu bem
(Dt 10.12,13).
Obedecer aos mandamentos de Deus é bom. Acima de tudo, é bom
porque honra e glori ca a Deus. De acordo com Tiago, o homem que
perseverar na lei perfeita “será abençoado no que zer” (Tg 1.25). Deus nos
deu mandamentos acerca da idolatria para nosso bem, para que o
glori quemos e tenhamos uma vida caracterizada por sua aprovação.
Vejamos agora a passagem das Escrituras que contém o primeiro
mandamento, lembrando que a obediência é para nosso bem.
EU SOU O SENHOR DEUS
Eu sou o S teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da
escravidão. Não terás outros deuses além de mim (Êx 20.2,3).
Como você pode observar, o primeiro mandamento inclui a ordem: “Não
terás outros deuses além de mim”, e dois motivos pelos quais devemos
obedecer-lhe. O primeiro motivo que Deus dá é: “Eu sou o S teu
Deus...”. Ele ordena que o adoremos porque ele é Deus. Em última análise,
não precisamos de nenhum outro motivo. Ele merece nossa adoração
porque ele é Deus. Ponto nal. É justo adorá-lo como Deus simplesmente
porque ele é Deus e não há outro semelhante a ele. “Assim diz o S
[...]: Eu sou o primeiro, e sou o último, e além de mim não há Deus” (Is
44.6,7).
Aqui está a parte mais sensacional! Ele não é apenas um Deus, nem
mesmo o Deus; ele é nosso Deus. Além de estar inteiramente acima de nós e
de ser eterno e imutável, Rei todo-poderoso e soberano, ele também está
perto de nós e é nosso Deus. Condescendeu em ter comunhão conosco e
entrar em um relacionamento de aliança conosco. Não é apenas Rei.
Também é Pai, como Isaías declarou: “Por que assim diz o Alto e o Sublime
[...] cujo nome é santo: Habito num lugar alto e santo, e também com o
contrito e humilde de espírito” (Is 57.15).
ELE NOS TIROU DA TERRA DO EGITO
Como se o motivo anterior não bastasse, Deus nos dá outro motivo pelo
qual devemos dirigir nosso coração a adorar somente a ele. O Rei cheio de
graça e perfeitamente santo nos trouxe para junto dele. Teria sido
apropriado ele exigir nossa adoração porque ele é Deus. Mas não foi o que
fez. Ele nos “tirou da terra do Egito, da casa da escravidão”. Antes de exigir
a adoração que lhe era de direito, ele demonstra seu amor e sua bondade
por nós. Aqueles que são seus lhos foram libertos da terrível escravidão do
pecado, de Satanás e da morte. Ele fez isso por nós! E agora, devemos nos
lembrar de como nos amou, nos libertou e tomou a iniciativa de se
relacionar conosco. Foi o que disse o pai de João Batista, quando a rmou
que Deus agiu desse modo para que nós, “libertados da mão de nossos
inimigos, o cultuássemos sem medo” (Lc 1.74).
Fomos resgatados da mão de nossos inimigos para que pudéssemos servir
a Deus. Fomos resgatados de uma terra de ídolos para que pudéssemos
adorar a Deus. Toda vez que Moisés suplicou ao faraó para que deixasse ir
os israelitas, foi para que pudessem servir a Deus. O Senhor não libertou os
israelitas da escravidão para que se tornassem sócios do Club Med, embora
muitos tenham agido como se fosse o caso. Ele os libertou para que
pudessem celebrá-lo, servi-lo e adorá-lo. A obra de sua graça ao libertá-los
tinha como propósito dar-lhes a segurança de que ele era digno de
con ança e repleto de amor por eles. Com base nessa verdade — em suas
ações anteriores em favor deles enquanto eram, em sua maior parte,
incrédulos e cheios de queixas — ele lhes concederia fé para crer que
verdadeiramente os amava e era digno de sua con ança.
Nós também fomos libertos do Egito espiritual para que possamos
celebrar, amar e adorar a Deus. Quando você pensa no primeiro
mandamento, lembra-se do amor de Deus por você? Lembra-se de que,
mesmo quando você era inimigo de Deus, ele enviou o Filho dele para
morrer em seu lugar e libertá-lo da escravidão? Diante dessas verdades, a
obediência faz mais sentido, não?
O PRIMEIRO MANDAMENTO
O primeiro e maior mandamento é: “Não terás outros deuses além de mim”
(Êx 20.3). Que espantoso! Com esse mandamento, Deus exige nossa
devoção absoluta, inequívoca e exclusiva. Somente “o Alto e o Sublime, que
habita na eternidade e cujo nome é santo” (Is 57.15) tem o direito de exigir
tamanha delidade.
Esse mandamento é preeminente porque, se não lhe obedecemos, é
impossível obedecermos a qualquer um dos outros nove. Todos os
elementos de nossa devoção, todos os atos de obediência ou desobediência,
todo os pensamentos, palavras e ações dependem de nossa delidade a esse
mandamento. Talvez você esteja pensando: “Puxa, essa é uma declaração
bem radical”, mas re ita comigo enquanto recapitulamos alguns dos outros
mandamentos:
• “Honra teu pai e tua mãe...” (Êx 20.12). Não é verdade que os lhos
deixam de honrar os pais porque têm outros deuses, como os amigos ou
o amor ao mundo?
• “Não matarás” (v. 13). Sempre que alguém tira a vida de outra pessoa,
não está dizendo, em essência, “Eu sou Deus. Decido quem vive e
quem morre”?
• “Não adulterarás” (v. 14). Tomar o cônjuge de outra pessoa não é o
mesmo que adorar outro deus, como o romance, a emoção, o poder ou
o prazer?
• “Não cobiçarás...” (v. 17). Desejar intensamente algo que pertence a
outra pessoa é idolatria, pois corresponde a valorizar algo mais que a
Deus e sua vontade.
Vemos, portanto, que não ter “outros deuses” é o eixo no qual gira toda
nossa obediência. Isso porque o mandamento contra a idolatria é, na
realidade, um mandamento para amar, para dedicar todo nosso afeto
somente a Deus.1
“Dizer que existe somente um Deus, e nenhum deus além dele não é
É
simplesmente um artigo em um credo. É uma verdade avassaladora, que
não cabe em nossa mente e que faz o coração parar, uma ordem para
amarmos o único que é digno de nossa total lealdade.”2 A essência desse
mandamento é que devemos separar Deus de todo o restante em nosso
coração e lhe dar prioridade absoluta. Signi ca que, pela fé, devemos
procurar crer que ele é bom e amoroso, como diz ser, e que ele será para nós
a fonte de todo o bem, de todas as nossas alegrias.
Talvez agora você tenha algumas perguntas gerais a respeito do lugar da
lei do Antigo Testamento em nossa vida.
OS DEZ O QUÊ ?3
Durante boa parte de minha vida cristã, o papel da lei do Antigo
Testamento me causou perplexidade. Os Dez Mandamentos, em particular,
faziam parte de meu conhecimento bíblico de modo semelhante às histórias
do Antigo Testamento. Sim, estavam presentes. Parecia que deviam ser
pertinentes. E sim, supostamente eu devia obedecer-lhes. Mas, para ser
sincera, creio que nunca havia re etido a respeito deles com mais
profundidade. A nal, não eram assim tão importantes, certo? Como cristã,
eu havia aprendido que não estava mais “debaixo da lei” (qualquer que seja
o signi cado dessa expressão), então por que me preocupar? Eu sabia que
minha salvação era somente pela graça — eu não precisava obedecer aos
mandamentos para garantir minha posição de aceitação diante de Deus e,
de algum modo ambíguo, eu os a rmava da boca para fora e esperava que
continuassem onde estavam: lá nos tempos antigos.
A utilidade da lei moral para o cristão
De lá para cá, porém, Deus, em sua graça, me ajudou a aprender que a lei,
resumida nos Dez Mandamentos, exerce uma função importante na vida
dos cristãos. A lei nos ensina a verdade a respeito de nossa suposta bondade
e a respeito do único caminho para o céu. Contemplar os padrões imutáveis
de Deus nos Dez Mandamentos nos ajuda a entender que nenhum mero
ser humano jamais guardou a lei perfeitamente. Romanos 3.23 diz: “Todos
É
pecaram e cam aquém” (NASB). É importante compreender esse fato,
pois alguns con am que irão para o céu porque são relativamente bons. De
modo não muito diferente do personagem de Patrick Swayze no lme de
sucesso Ghost: do outro lado da vida, o homem moderno criou um conjunto
de normas nestas linhas: Sou razoavelmente bom. Não estou fazendo mal a
ninguém. Cumpro meu dever, amo minha namorada. Com certeza um
sujeito bacana como eu merece ir para o céu.
Os verdadeiros cristãos discordam da versão hollywoodiana da salvação.
Cremos em algo bem diferente acerca de como obtê-la. Cremos que as
pessoas são incapazes de ter uma vida em total conformidade com os
padrões perfeitos de Deus. Isso porque Deus é tão santo e perfeito que a
desobediência em uma só área é su ciente para nos condenar como
transgressores da lei. Era a isso que Tiago estava se referindo quando
escreveu: “Pois qualquer um que guarda toda a lei, mas tropeça em um só
ponto, torna-se culpado de todos” (Tg 2.10). Somente uma pessoa guardou
a lei: o Senhor Jesus Cristo. Recebemos a salvação somente pela fé no
cumprimento perfeito da lei por Jesus Cristo em nosso lugar.4
A lei me ajuda ao servir de guia5 — uma professora pessoal que habita na
sala de aula no meu coração e me ajuda a entender que não possuo
nenhuma bondade inata. É fácil desconsiderar a lei de Deus e me comparar
com outros, como z na Ásia! Quando sigo esse caminho, sempre chego à
conclusão de que sou razoavelmente boa. Se, contudo, me examino no
espelho de Deus (a lei perfeita),6 descubro que tenho falhado de todas as
formas imagináveis.
A lei me torna humilde e acaba com minha justiça própria. Como Paulo
escreve, “eu não conheceria o pecado se não fosse pela lei” (Rm 7.7). Ela
me mostra de modo convincente que não mereço a salvação, pois não
obedeço aos Dez Mandamentos. Claro que, desde que Phil e eu nos
casamos, jamais cheguei a cometer adultério externamente, mas a Lei não
diz respeito apenas à obediência externa. Como Jesus ensinou no Sermão
do Monte, a Lei também precisa ser obedecida internamente... e, se essa é a
exigência, quebrei cada um dos mandamentos um sem número de vezes.
Não tenho mérito algum diante de um Deus inteiramente santo. Embora
pareça contraintuitivo, essa é uma situação boa para minha alma, pois me
leva a lançar-me inteiramente na misericórdia de Deus em Cristo. Remove
todas as minhas ilusões de bondade e me ajuda a entender o quanto preciso
do perdão de Deus.7 A lei mostra o quão encarecidamente necessito que o
registro perfeito de Cristo seja aplicado ao meu. Essa transferência de seu
registro de obediência total a mim, essa retidão imputada, chamada
justi cação, é minha única esperança, mas é toda esperança de que preciso.
A lei me ensina o quanto devo ser grata a Cristo por tê-la cumprido
perfeitamente.8 Tenho uma dívida com Cristo, pois ele cumpriu a lei
perfeitamente, e depois tomou sobre seu corpo o castigo por minha
transgressão. Diante disso, meu coração é impelido a transbordar de amor e
obediência. Ao comparar minha vida contrária à lei com as perfeições dele,
sou tomada de gratidão. E agora, por causa da obra de Cristo, reconheço
que a exigência da lei se cumpriu em mim9 porque tenho sua retidão
perfeita. Não é incrível? A exigência da lei se cumpriu em nós, cristãos!
A lei se torna a norma de retidão à qual procuro obedecer por gratidão. Como um
lho agradecido procura agradar a mãe ou o pai querido, tenho um desejo
de santidade que nasce de um coração repleto de ação de graças. A lei não
mais me condena, pois recebi o registro perfeito de Cristo. Antes, quando
entendo a verdade de minha absoluta dependência de sua misericórdia, a lei
me faz ver meu pecado e ansiar pelo caráter de Cristo em minha vida.
Desejo ser santa porque o amo e quero ser semelhante a ele. Minha retidão
está garantida na obediência perfeita de Cristo por mim e, por sua graça,
estou me tornando “[consagrada] às boas obras” (Tt 2.14).
O primeiro mandamento diz respeito, principalmente, a minha devoção
interior: a ordem é para “temer e amar a Deus e con ar nele acima de
tudo”.10 Todo pecado, toda idolatria em meu coração, nasce da falta de amor
e de gratidão e na con ança depositada em coisas indevidas. Toda vez que
adoro algo ou alguém senão Deus, esqueço-me de que ele é o bom Pai e o
grande Rei que me tirou do Egito. De modo contrastante, todo ato
verdadeiramente piedoso, inclusive o desejo interior de ser piedoso, nasce do
amor11 e da adoração que ele colocou em meu coração. Sua graça me leva a
ter prazer na lei, pois a vejo como o modelo para que eu cresça e me torne
semelhante a ele. Foi nesse contexto que Paulo disse: “Porque, no que diz
respeito ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus...” (Rm 7.22).
Visto que a lei não pode mais me condenar, não temo mais suas acusações
nem ressinto sua intromissão.
Sim, a lei moral resumida nos Dez Mandamentos é uma dádiva
maravilhosa.12 Devemos considerá-la como “dez amigos para guardar
nossos caminhos”.13 Ela nos conduz à humildade e nos convence do
pecado, enche-nos de gratidão pela mansa obediência de nosso Salvador e
nos leva a viver de modo agradável a ele:
Assim, oramos para que possais viver de maneira digna do Senhor,
agradando-lhe em tudo, fruti cando em toda boa obra e crescendo no
conhecimento de Deus [...] dando graças ao Pai, que vos capacitou a
participar da herança dos santos na luz. Ele nos tirou do domínio das
trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado, em quem
temos a redenção, isto é, o perdão dos pecados (Cl 1.10-14).
O dedo de Deus
Recorde-se comigo das palavras surpreendentes que descrevem a entrega
inicial da Lei: “... deu-lhe [a Moisés] as duas tábuas do testemunho, tábuas
de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êx 31.18).14 O Senhor Deus de toda
a criação, o Rei dos céus e da terra, escreveu a Lei com sua própria mão!15
Não é incrível? Por mais espantoso que seja esse fato, porém, a in ndável
compaixão divina não para por aí. Ezequiel e Jeremias prenunciam
misericórdias ainda maiores.
Também vos darei um coração novo e porei um espírito dentro de vós;
tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne (Ez
36.26).
... Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração... ( Jr
31.33).16
Amor maravilhoso! Enquanto a lei de Deus havia sido escrita apenas em
tábuas de pedra — fora de nós, com incitações exteriores à santidade e com
poder para condenar — agora sua lei, escrita por sua mão, reside em nosso
coração! Agora, somos impelidos por um desejo interior de lhe obedecer,
sem medo de sermos condenados por fracassar.
Deus, por seu poder transformador, nos faz ter prazer em sua vontade. A
mudança em nosso coração nasce da alegre obediência do Senhor Jesus, que
tinha prazer em fazer a vontade de Deus porque a lei de Deus estava em
seu coração. E agora, em Cristo, a lei de Deus está escrita em nosso coração,
e podemos, igualmente, começar a ter prazer nela (veja tb. Hb 10.5-10).
É por causa dessas grandes misericórdias que devemos procurar obedecer
aos mandamentos, lembrando-nos de que Deus nos amou e nos
transformou enquanto ainda éramos seus inimigos.17 Aliás, o desejo de
obedecer é a única prova indubitável de que o amamos; como João 14.15
diz: “Se me amardes, obedecereis aos meus mandamentos” (veja tb. Jo
14.21,23,24; 1Jo 5.2,3).18
Essa demonstração de obediência em amor é muito diferente da apatia
letárgica e dos sentimentos egocêntricos e piegas que se fazem passar por
amor a Deus e que vejo com tanta frequência em minha própria vida.
Sempre lutaremos contra nossa natureza pecaminosa, e nossa obediência só
será completa no céu, mas o foco de nossa vida deve se evidenciar numa
crescente alegria em obediência e submissão. Por vezes, a obediência e a
submissão assumem a forma de mudanças exteriores; em outras ocasiões,
dizem respeito principalmente a questões do coração: Con o em mim
mesma, em minha própria bondade e em meu poder de salvar ou con o
somente no Senhor? Sei por experiência própria que é muito mais fácil
assumir a forma de obediência exterior, de deixar de fazer algo que não
devo. É extremamente difícil, porém, atrelar todos os desejos, todas as
esperanças e expectativas de meu coração à promessa de Deus de me amar,
e crer que ele quer somente o meu bem.
MANDAMENTOS A RESPEITO
DA IDOLATRIA
Os mandamentos que proíbem a idolatria são um tema tão preponderante
nas Escrituras que seria quase impossível destacar todas as suas ocorrências.
Permita-me compartilhar, portanto, apenas alguns deles para reforçar em
sua mente que, embora esse assunto pareça obscuro, não é.
Mandamentos no Antigo Testamento
Não vos volteis para ídolos, nem façais deuses de metal para vós. Eu sou o
S vosso Deus (Lv 19.4).
Não seguirás [...] os deuses dos povos que habitarem ao teu redor... (Dt
6.14).
Não haja no meio de ti deus estranho, nem te prostres perante um deus
estrangeiro (Sl 81.9).
Todos os que adoram imagens, que se gloriam de ídolos, cam
envergonhados; prostrai-vos diante dele, todos os deuses (Sl 97.7).
Eu, porém, sou o S , teu Deus, desde a terra do Egito; portanto,
não conhecerás outro deus além de mim, porque não há salvador senão
eu (Os 13.4).
Mandamentos no Novo Testamento
Então Jesus lhe ordenou: Vai-te, Satanás; pois está escrito: Ao Senhor,
teu Deus adorarás, e só a ele prestarás culto (Mt 4.10).
Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se
irmão, for [...] idólatra... (1Co 5.11).
... Não vos enganeis: nem imorais, nem idólatras [...] herdarão o reino de
Deus (1Co 6.9,10).
Não vos torneis idólatras, como alguns deles... (1Co 10.7).
Portanto, meus amados, fugi da idolatria (1Co 10.14).
As obras da carne são evidentes, a saber: [...] idolatria... (Gl 5.19,20).
Portanto, eliminai vossas inclinações carnais: [...] avareza, que é idolatria
(Cl 3.5).
Filhinhos, guardai-vos dos ídolos (1Jo 5.21).
Está começando a perceber como o tema da idolatria é predominante na
Bíblia? Diante disso, é interessante que no âmbito evangélico mais amplo
raramente ouçamos falar dele. Claro que, em alguns círculos, especialmente
entre os reformados, a idolatria é um assunto comum. Ainda assim, tendo
em vista que é a forma de pecado mencionada com mais frequência na
Bíblia, não deveria receber mais atenção? Peçamos a Deus que abra nossos
olhos para a importância de nossa adoração e nos ensine a voltar nosso
amor e nossa devoção inteiramente para ele.
Edificando sobre os alicerces dos mandamentos
Agora que consideramos a lei, lembremo-nos de três fatos a seu respeito:
ela nos conduz à humildade e nos obriga a correr para Jesus; ela nos torna
gratos porque Cristo a cumpriu perfeitamente; e ela nos mostra como é a
verdadeira gratidão. Deus nos tratou com graça indizível ao nos conceder
um coração novo e sensível no qual escreveu sua verdade viva. Sabemos de
nossa incapacidade de guardar a lei como meio de salvação, mas também
entendemos que o desejo de crescer em obediência faz parte das implicações
de sermos lhos que amam a Deus.
A esposa de Ló era idólatra, mas sua idolatria não começou quando ela se
voltou para olhar para a cidade que amava. Sua idolatria começou quando
ela deu mais valor a Sodoma que a Deus, quando seu coração se apegou à
vida antiga que ela conhecia e amava. A idolatria provocou sua ruína. A
Bíblia nos adverte clara e repetidamente para dedicarmos todo nosso amor e
toda nossa devoção a Deus — para nosso bem. Ao prosseguirmos com
nosso estudo, podemos ter a certeza de que o Espírito Santo está operando
em nós, transformando-nos e levando-nos a ter o desejo de nos tornarmos
lhos mais amorosos e obedientes. Peçamos a Deus que ele nos ajude a
amá-lo e a acolher sua lei como uma amiga querida e bem-vinda.
PARA REFLETIR
1. Escreva os Dez Mandamentos.
2. Qual era sua atitude em relação aos Dez Mandamentos no passado?
Qual é sua atitude agora?
3. Recapitule as passagens sobre idolatria nas páginas 63-4. Quais delas
falam de modo especí co ao seu coração? O que você aprendeu com a
leitura desses versículos? Em que aspectos
pode crescer?
4. Em Romanos 8.4, Paulo escreveu: “... para que a justa exigência da lei se
cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
Espírito”. De que maneira a exigência da lei se cumpriu em você como
crente? Em que sentido esse versículo dá serenidade ou con ança a seu
coração?
5. Ao re etir sobre a morte da esposa de Ló, você observa alguma
semelhança entre o pecado dela e seu amor pelo mundo? A seu ver, o
pecado dela foi idolatria? Por quê?
6. Peça a Deus que o ajude a dar mais valor a seus mandamentos e a
entendê-los melhor, especialmente o primeiro.
1Albrecht Peters, Ten Commandments: commentary on Luther’s catechisms (St. Louis: Concordia,
2009), p. 106.
2Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 206.
3Para uma abordagem do legalismo, veja o Apêndice B.
4Se você não tem certeza se é cristão, consulte agora o Apêndice C: “Como saber se você é cristão”.
5“Desse modo, a lei se tornou nosso guia para nos conduzir a Cristo, a m de que pela fé fôssemos
justi cados” (Gl 3.24).
6“Pois, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, é semelhante a um homem que contempla o
próprio rosto no espelho; porque ele se contempla, vai embora e logo se esquece de como era.
Entretanto, aquele que atenta para a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera, não sendo
ouvinte esquecido, mas praticante zeloso, será abençoado no que zer” (Tg 1.23-25).
7Embora a lei me ajude a enxergar minha pecaminosidade, pela misericórdia de Deus nunca vejo
inteiramente o que ele vê. Sou incapaz de entender profundamente o quão pecaminoso é meu coração,
embora o vislumbre que a lei me dá de meu coração seja su ciente para realizar o propósito divino.
“Porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro, mas depois veremos face a face. Agora
conheço em parte, mas depois conhecerei plenamente, assim como também sou plenamente
conhecido” (1Co 13.12). Devemos ser gratos a Deus porque não vemos face a face de imediato.
Devemos ser gratos porque não enxergamos agora a imagem completa de nossa pecaminosidade,
pois, se o zéssemos, é possível que nosso coração se desesperasse.
8Westminster larger catechism , P. 97: De que utilidade especial é a lei moral aos regenerados? R:
Embora aqueles regenerados e crentes em Cristo sejam libertos da lei moral, como aliança de obras,
[1] de modo que nem são justi cados, [2] nem condenados por ela, [3] além da utilidade geral desta
lei comum a eles e a todos os homens é ela de utilidade especial para lhes mostrar quanto devem a
Cristo por cumpri-la e sofrer a maldição dela, em lugar e para bem deles, [4] e assim incentivá-los a
ter maior gratidão [5] e a manifestar essa gratidão por meio de maior cuidado da sua parte em
conformarem-se a esta lei, como regra de obediência. [6] 1) Rm 6.14; 7.4,6; Gl 4.4,5; 2) Rm 3.20; 3) Gl
5.23; Rm 8.1; 4) Rm 7.24-25; 8.3,4; Gl 3.13,14; 5) Lc 1.68,69,74,75; Cl 1.12-14; 6) Rm 7.22; 12.2; Tt 2.11-14
[edição em português: O catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)].
9“Pois o que para a lei era impossível, visto que se achava fraca por causa da carne, Deus o fez na
carne, condenando o pecado e enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado e
como sacrifício pelo pecado, para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos
segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.3,4).
10Martin Luther, “e small Catechism”, in: e book of concord: e confessions of the Lutheran
Church, acesso em: 15 set. 2015, disponível em: http://bookofconcord.org/smallcatechism.php.
11“...o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5).
12Considero importante fazer distinção entre a lei moral (contida nos Dez Mandamentos), a lei
cerimonial (usada no culto no templo) e a lei civil (redigida para a nação de Israel).
13Ernest C. Reisinger, Whatever happened to the Ten Commandments? (Carlisle: Banner of Truth
Trust, 1993), p. 13.
14Em seu relato sobre a lei, Moisés escreveu novamente: “O S me deu as duas tábuas de pedra,
escritas com o dedo de Deus, e nelas estavam escritas todas as palavras que o S havia falado
convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia” (Dt 9.10).
15O fato de Deus ter escrito a lei com sua própria mão não é incentivo su ciente para que a
guardemos?
16É interessante observar que o ato divino de escrever a lei em nosso coração de carne resultará em
adoração sincera: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o
S: Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão
o meu povo” (Jr 31.33). “Então aspergirei água pura sobre vós, e careis puri cados; eu vos
puri carei de todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos. Também vos farei um coração
novo e porei um espírito novo dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos farei um coração
de carne” (Ez 36.25,26).
17“Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10).
18Observe como a expressão “os que o amam e obedecem aos seus mandamentos” é reiterada em Dt
7.9 e em Daniel 9.4 (veja tb. Deuteronômio 10.12,13 e 2Jo 1.6). O Senhor declarou que os verdadeiros
membros de sua família eram aqueles que faziam a vontade de seu Pai: “Pois quem zer a vontade de
meu Pai que está no céu, este é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12.50). E também: “Vós sois meus amigos,
se zerdes o que vos mando” (Jo 15.14).
4
AQUELE QUE TRANSFORMA
O CORAÇÃO
Se Deus não me desse um coração para amá-lo,
eu preferia jamais ter coração.1
A vida nas ruas de Naim era difícil. Como prostituta, o estilo de vida que outrora ela havia
adotado com raiva, desespero e rebeldia, tinha se tornado servidão e amargura. Sua vida era
vazia e inútil, e o futuro parecia reservar apenas vergonha e ódio cético. Embora ela
conhecesse atos de “amor”, seu coração nunca havia experimentado amor verdadeiro, amor
que a cativasse com sua pureza.
Juntamente com o desespero, crescia dentro dela a consciência incômoda da inutilidade
de sua vida. Começava a entender que suas escolhas nunca traziam liberdade nem prazer;
em vez disso, era oprimida por uma sensação de culpa e de tragédia iminente. Ninguém
precisava lhe dizer que estava condenada... Satanás não lhe deixava esquecer por um
momento sequer. Coisas que antes haviam sido fonte de prazer — o poder sobre os homens,
o orgulho de ser diferente de outras mulheres e a segurança de ouvir moedas tinindo no
bolso — agora lhe pareciam tolas, sem sentindo, fúteis. No mais recôndito de seu ser, ela
percebia uma mudança misteriosa. Começava a brotar a ideia de que havia esperança até
mesmo para ela. Talvez existisse um Deus que a perdoaria. Gradativamente, notou um
anseio por amar e conhecer o Deus a respeito do qual tinha ouvido falar a vida toda, o Deus
de Israel.
Ao olhar para a planície do Carmelo e ver à distância os montes de Nazaré, ela se
lembrou das histórias que tinha ouvido a respeito de certo nazareno chamado Jesus. Ele
havia ressuscitado o filho da viúva aflita e dito: “... Não chores” (Lc 7
.13). Não chores. Será que
ele diria essas mesmas palavras para ela? Ele poderia mudar sua vida também? Ou será que
ela estava tão perdida que não havia mais esperança de perdão?
Das sombras, ela o observou interagir com pessoas comuns e notou que ele as acolhia e
as ensinava com terna sabedoria. E quando o viu com os líderes religiosos, entendeu que ele
não era igual a eles. Sem dúvida, ele amava a lei e lhe obedecia, mas era humilde e manso.
Ele parecia tão diferente de todos os outros homens que ela já havia visto. O desejo de
conhecê-lo começou a tomar conta dela. Alguns diziam que ele era o Messias. Ela o viu
fazer amizade com pecadores e comer com eles... O Messias faria uma coisa dessas? Será
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Desvendando os ídolos internos

  • 1.
  • 2.
  • 3. 16-1245 CDD 248.8 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Fitzpatrick, Elyse M. Ídolos do coração: aprendendo a desejar somente Deus / Elyse M. Fitzpatrick; tradução de Susana Klassen. — São Paulo: Vida Nova, 2017. 256 p. ISBN 978-85-275-0958-9 Título original: Idols of the heart: learning to long for God alone 1. Cristianismo 2. Vida Cristã 3. Idolatria na bíblia. I. Título II. Klassen, Susana Índices para catálogo sistemático: 1. Vida cristã: Idolatria
  • 4.
  • 5. ©2001, 2016, de Elyse Fitzpatrick Título do original: Idols of the heart: learning to long for God alone, edição publicada pela P R P (Phillipsburg, New Jersey, Estados Unidos). Publicado originalmente pela ABCB sob o título Ídolos do coração: aprendendo a desejar somente Deus (São Paulo, 2009). Todos os direitos em língua portuguesa reservados por S R E V N Rua Antônio Carlos Tacconi, 75, São Paulo, SP, 04810-020 vidanova.com.br | vidanova@vidanova.com.br 1.a edição revisada e atualizada: 2017 Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em citações breves, com indicação da fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil Todas as citações bíblicas sem indicação in loco foram extraídas da Almeida século 21. As citações com indicação da versão in loco foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI). Todas as demais citações ou foram traduzidas diretamente da New American Standard Bible (NASB), da e Living Bible (TLB) e da New International Version (NIV). D Kenneth Lee Davis G Fabiano Silveira Medeiros E Lucília Marques Marcia Medeiros P Tatiane Souza R Mauro Nogueira G Sérgio Siqueira Moura D
  • 6. Sandra Oliveira C Edvânio Silva (Blessed Produção Grá ca) C P SCALT Soluções Editoriais
  • 7. Para Phil, por seu amor e sua paciência inabaláveis: só pude realizar este projeto porque, dia após dia, você entregou sua vida.
  • 8. SUMÁRIO Nota da segunda edição Agradecimentos Lista de ilustrações Introdução: Observando os deuses do mundo 1. Os deuses de Raquel e você 2. Adoração não dividida 3. De suma importância 4. Aquele que transforma o coração 5. Melhor que a vida 6. Conhecendo seu coração 7. Pensando sobre seu Deus 8. Ansiando por Deus 9. Dispondo-se a obedecer 10. Resistindo a seus ídolos 11. Destruindo seus falsos deuses 12. Tendo prazer em Deus Apêndice A: Como identi car padrões pecaminosos e falsos deuses Apêndice B: O que signi ca ser legalista Apêndice C: Como saber se você é cristão
  • 9. NOTA DA SEGUNDA EDIÇÃO Ao longo dos anos desde que escrevi o manuscrito deste livro, tornei-me cada vez mais consciente do imenso amor de Deus por mim em Cristo. Vim a entender que, por causa de sua compaixão e misericórdia, ele me ama quer eu esteja lutando contra meus ídolos com diligência, quer eu esteja apenas tentando chegar ao m do dia. Ele conhece minha fraqueza: a fraqueza de meu amor, a fraqueza de minha mente e a fraqueza de minha determinação de amá-lo mais que todas as coisas. E, no entanto, ele me ama por causa da obra realizada por seu Filho ao me justi car e chamar-me de bela... embora eu esteja tão aquém de seu paradigma perfeito, resumido em sua lei expressa nos Dez Mandamentos. Portanto, embora eu ainda deseje desenvolver adoração sincera, “ansiar somente por Deus” e ajudar você a fazer o mesmo, minha perspectiva de como fazê-lo e do que isso signi ca mudou. O foco principal foi transferido de mim mesma para a obra de Jesus em meu favor no evangelho. Essa mudança de foco também mudou meu modo de falar sobre a idolatria e de pensar a respeito de como, em última análise, nosso coração é transformado. Por isso, neste livro, você me verá falar mais sobre amor e mais sobre o amor de Deus por pecadores, tudo para a glória de seu Filho. Não deixei de me importar com a obediência ao primeiro mandamento, mas estou trilhando um caminho diferente rumo a esse alvo e sou impelida por uma motivação diferente.
  • 10. AGRADECIMENTOS Nada de valor pode ser realizado sem o auxílio e o apoio de muitas pessoas. Se o Senhor, em sua graça, usar este livro para ajudar alguém, é porque ele me concedeu familiares e amigos piedosos, que sabem o que signi ca amá- lo com fervor. Estou ciente de que nunca tive uma ideia sequer verdadeiramente original, portanto sou grata a George Scipione por minha instrução (e agora, pela esposa de meu lho); a David Powlison que, com abnegação, separou dez minutos de seu tempo em um congresso no início da década de 1990 para recon gurar meu modo de pensar a respeito da idolatria; ao pastor Dave Eby da igreja North City Presbyterian Church (anotações de sermões dele foram incorporadas a diversas partes deste texto); a meus irmãos e a minhas irmãs em Cristo que oraram por mim, me encorajaram e perguntaram: “Como está indo o livro? Como posso orar por você?”. Sou grata pelo ministério de John e Sandra Cully, Linda Quails e John Hickernell, na livraria Evangelical Bible Bookstore, que me mantiveram abastecida com livros dos puritanos e zeram excelentes sugestões. Agradecimentos especiais a Anita Manata, Donna Turner e Barbara Duguid, amigas queridas que me ouviram e trocaram ideias, ajudando imensamente em minha re exão; a minha mãe por suas sugestões gentis e pela revisão gramatical; e a Barbara Lerch, da editora P&R, por acreditar que era hora de uma mulher da linha reformada ser ouvida a respeito desse assunto. É impossível agradecer devidamente a todos que me amaram e apoiaram durante os muitos anos desde que a primeira edição deste livro foi publicada em 2001. Tenho sido abençoada com muitos amigos relacionados acima, inclusive o pessoal da Editora P&R, especialmente Ian ompson, que considerou relevante atualizar este livro e voltar a oferecê-lo a meu público leitor.
  • 11. Sou particularmente grata a minha família querida: Phil, James e Michelle, Jessica e Cody, Joel e Ruth e todos os seus lhotes lindos: Wesley, Hayden, Eowyn, Allie, Gabe e Colin. Como sou abençoada!
  • 12. LISTA DE ILUSTRAÇÕES 6.1 Um retrato bíblico do coração 8.1 Os desejos de Adão antes da Queda e os desejos do ser humano caído 8.2 Os desejos de Adão antes da Queda e os desejos perfeitos de Jesus 10.1 Quando o coração deseja agradar o ego 10.2 Quando o coração deseja agradar à Plateia de Um Só 11.1 Como identi car padrões pecaminosos e falsos deuses 11.2 Exemplos das Escrituras do princípio de despir-se de.../revestir-se de... 11.3 Exemplos especí cos do princípio de despir-se de.../ revestir-se de... 11.4 Folha de exercício pessoal para despir-se de.../ revestir-se de...
  • 13. INTRODUÇÃO OBSERVANDO OS DEUSES DO MUNDO No segundo trimestre de 1998, meu marido, eu e nossos primos tivemos o privilégio de visitar o leste da Ásia e passamos uns doze dias na China, Coreia do Sul e Japão. Como estávamos em grupos de excursão, visitamos vários templos budistas. Vimos o Buda mais antigo, o maior Buda, o Buda mais venerado. Vimos um Buda que havia sido roubado durante uma batalha e um Buda que tinha sofrido danos em um incêndio e sido reconstruído. Fomos convidados a fazer uma doação para que certo Buda fosse revestido novamente de ouro. Vimos o Buda que pertencia ao imperador e o Buda que pertencia ao povo comum. Observamos adoradores acenderem velas, queimarem incenso, oferecerem preces e colocarem tigelas de alimento e ores diante de seus deuses. Quando a excursão terminou, meu marido e eu tínhamos visto ídolos su cientes para o resto da vida. Ou será que não? Ficamos felizes por voltar aos Estados Unidos, um país edi cado sobre alicerces cristãos. Ao contrário dos países asiáticos que visitamos, os Estados Unidos não têm ídolos em todas as esquinas, nem dias especí cos para acender incenso ou luzes para seus deuses. Não temos templos imensos em que oferecemos tigelas de arroz... ou, em nosso modo de dizer, tigelas de batatas fritas. Aliás, de acordo com uma pesquisa, 76% dos americanos entrevistados “consideram-se inteiramente éis ao primeiro mandamento”,1 a saber, “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3). Portanto, ao falarmos do primeiro mandamento, estamos nos saindo bem, certo? Imagino que, se você é como eu, costuma pensar sobre os ídolos da forma
  • 14. que acabei de descrevê-los. São algo externo a nós, algo estranho que fotografamos em templos de terras distantes e que nos causa espanto. OS DEUSES EM NOSSO CORAÇÃO Para mim, uma das ordens mais intimidantes das Escrituras se encontra em Mateus 22. Um escriba dirigiu-se a Jesus com a intenção de encontrar um modo de acusá-lo de heresia: “... qual é o maior mandamento na Lei?”, ele perguntou. E Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento.” Este é o maior e o primeiro mandamento (Mt 22.36-38). Talvez você seja como eu e tenha lido esse mandamento tantas vezes que ele perdeu a força. Volte, releia-o e medite comigo por um momento. O que nosso Senhor está ordenando aqui? Nada menos que amor e adoração não divididos, perfeitos e completos. Assim que paro e re ito sobre esse mandamento principal, sinto um incômodo. Preciso me perguntar: • Amo o Senhor com todo o meu ser, ou ainda há outros amores em meu coração que exigem minha atenção? • Adoro outros deuses ou Deus é sempre, em todas as circunstâncias, o Governante supremo ao qual dedico inteiramente minha paixão e devoção? Quando penso dessa forma, começo a entender que a idolatria talvez vá além de templos budistas, incenso e arroz. A idolatria está ligada ao amor — meu amor por Deus, por outros e pelo mundo. Quando encaro a idolatria assim, percebo que não sou tão diferente das pessoas que vi naqueles templos em lugares tão distantes. UMA VIDA LIVRE DE ÍDOLOS Este livro foi escrito para quem deseja ter uma vida piedosa, mas se vê numa luta frustrante e recorrente contra o pecado habitual e contra a falta de amor plenamente dedicado. Foi escrito para você que está sempre tropeçando no mesmo hábito nocivo, na mesma fraqueza constrangedora,
  • 15. na mesma escravidão pecaminosa da qual esperava estar livre anos atrás. Nele, você descobrirá que a idolatria — o amor distorcido — ocupa o cerne de todo pecado persistente contra o qual lutamos. Quando paramos para re etir, vemos que a Bíblia está repleta de histórias sobre indivíduos e até mesmo sobre nações que caíram em idolatria. Aliás, é o pecado discutido com mais frequência nas Escrituras. De acordo com 1Coríntios 10.11, as narrativas do Antigo Testamento servem de exemplo para nós e “foram escritas para nossa instrução” (NASB). Uma das primeiras narrativas sobre a idolatria é a de Raquel, esposa de Jacó. Tendo em vista que o problema de Raquel com a idolatria é tão proeminente em seu relato, voltaremos à vida dela em várias ocasiões ao longo do livro e descobriremos o que podemos aprender com seus erros. Também veremos como as histórias de outros nas Escrituras, tanto homens como mulheres, nos trazem, hoje, esclarecimento e instrução a respeito de nossos falsos deuses. Você observará que alguns dos capítulos seguintes começam com ilustrações. Essas histórias não são extraídas diretamente das Escrituras, mas são minha interpretação do que talvez tenha acontecido. Não devem ser consideradas estritamente bíblicas, mas apenas ilustrativas. Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus para seus lhos, os quais conhece inteiramente, deve haver um motivo pelo qual ele inseriu nela tantos ensinamentos a respeito desse assunto, embora a idolatria talvez não pareça ser um problema tão sério para nós. (Lembre-se de que 76% de todos os americanos entrevistados se consideraram irrepreensíveis nessa área!) Ao prosseguir com a leitura, você descobrirá que a idolatria é um problema tão sério para nós hoje quanto era para os israelitas no passado. Aliás, talvez seja ainda mais sério, pois, de modo muito conveniente, categorizamos a idolatria como algo externo a nós (pequenas estátuas de pedra), e não como algo que habita em nosso coração. Embora em alguns meios seja comum o diálogo sobre a idolatria e até sua con ssão, pergunto-me se não estamos apenas tocando a superfície do caráter disseminado desse pecado. Nos capítulos adiante, você verá de que maneiras o foco de seu amor e o foco de sua adoração são semelhantes. Quem você ama? E quem você adora? Essas são perguntas cruciais e interligadas. Você aprenderá a identi car os
  • 16. falsos deuses que habitam em seu coração, isto é, em seus pensamentos e em suas afeições. Em seguida, descobrirá o método de Deus para libertá-lo dos ídolos, dos “amores distorcidos”, por meio de seu poder santi cador. Saiba que minha luta contra o pecado e a idolatria é igual à sua — igual à de Raquel. Como ela, todos nós lutamos com a propensão de depositar nossa esperança e con ança em algo, em alguém, em qualquer coisa além do Deus verdadeiro. Descobrimo-nos fracos, temerosos e inquietos, ou irados, amargurados e queixosos. Em meio a essa luta, creio que a voz de Deus nos chama de forma clara e amorosa, trazendo esclarecimento e libertação, lembrando-nos de seu amor incomparável por nós e de como, em sua graça, ele recebe idólatras. Embora nossa guerra contra o pecado só termine quando chegarmos ao céu, Deus comprometeu-se a elmente capacitar-nos a crescer em santidade. Ele nos convida a nos juntarmos a ele na batalha, e nos deu armas para usarmos nesse combate. Uma delas é o conhecimento. Não o conhecimento que consiste apenas de fatos áridos, mas a percepção dinâmica das realidades de nossa luta pessoal contra os amores rebeldes e da delidade de Deus em nos livrar tanto nesta vida quanto por toda a eternidade. SANTIDADE DE MICRO-ONDAS Os fornos de micro-ondas são uma tremenda comodidade, não é mesmo? Coloque uma refeição congelada lá dentro e pronto. O jantar está servido. A vida em nossa casa melhorou depois da invenção do micro-ondas. Posso descongelar o jantar em dez minutos, o que é uma verdadeira bênção em meio a tantas atividades! Gosto de todas as comodidades modernas e imagino que você também. No entanto, no meio dessa cultura instantânea, “Quero tudo rápido! E é melhor que seja prático!”, temos a tendência de imaginar que Deus deve trabalhar em nossa vida da mesma forma. “Aperte o botão de ligar e torne-me santo, e faça-o logo, Senhor, se não for pedir demais.” Na maioria das vezes, porém, a obra de Deus em nós é incrivelmente lenta. Embora seja fato que todos os cristãos passem por mudanças (ainda
  • 17. que minúsculas), a obra de Deus — nossa santi cação — é um processo. Esse processo inclui aprender (o que espero que aconteça com você aqui), crescer, errar, mudar, ser convencido novamente da verdade, errar outra vez e desenvolver completude ao longo da vida. Com isso em mente, não espere que este livro o transforme de forma instantânea ou cure seu coração dos amores rebeldes. Somente Deus, por meio do Espírito Santo, pode transformar seus desejos, e o cronograma dele é diferente do nosso. Ele sabe quais lutas precisamos continuar a enfrentar, e sabe como, sob a in uência de seu Espírito, até mesmo nossos fracassos nessas lutas nos levarão a ter amor ainda maior por ele e por suas boas-novas. ESPERANÇA SOMENTE EM CRISTO Ao iniciarmos juntos esta jornada, desejo lembrar-lhe de um fato que certamente não é novidade para você. Deus transforma corações. Nosso amoroso Pai celeste comprometeu-se a nos transformar primeiro das trevas para a luz; depois, dos amores de nossa vida antiga para o amor sob o estandarte de sua declaração: “Está consumado”. Ele nos deu tudo de que precisamos para crescer na vida e na piedade que ele ordenou. Deu-nos todas as armas para lutar contra nossos ídolos e para crescer em graça; além disso, dedicou todos os recursos do céu a seu propósito: • Ele nos deu Jesus Cristo, que amou e adorou perfeitamente a seu Pai. Sua vida perfeita de obediência (tanto exterior como interior) agora é nosso registro: embora ainda lutemos com amores distorcidos, Jesus nunca o fez, e quando o Pai olha para nós, vê apenas o registro perfeito do Filho. Já somos considerados completamente éis, completamente amorosos e completamente santos. • Além de Jesus viver uma vida perfeita por nós, também pagou por todos os nossos amores desviados e todas as nossas idolatrias em sua morte excruciante no Calvário, onde o Pai tomou-o como o pior idólatra de todos os tempos. Toda a idolatria que já praticamos ou à qual ainda nos entregaremos já foi expiada pela morte vergonhosa de Cristo na cruz. Em Cristo, não resta mais ira alguma do Pai por nós.
  • 18. Acaso o Pai dará as costas para nós por causa de nossa idolatria? Não, jamais. Pois ele já abandonou seu Filho em nosso lugar. • Como ele cumpriu inteiramente a lei, agora estamos livres da escravidão do pecado. Não somos mais rebeldes que reagem aos decretos da lei como escravos; agora, consideramos a lei um guia para nos ajudar a entender como devemos amar, e não uma forma de obter a aprovação de Deus ou evitar o castigo. A lei nos mostra como ser agradecidos pelo fato de que ela não tem mais poder para nos condenar, pois Jesus a cumpriu de modo pleno. • Também podemos nos alegrar porque sabemos que Jesus Cristo, nosso Advogado, ora e intercede por nós, embora sejamos fortemente tentados e provados. Graças a sua oração, podemos ter a certeza de que nossa fé jamais falhará. Podemos descansar nele con antemente. • Ele nos concedeu seu Espírito Santo, que habita em nós e nos conduz à verdade. A obra do Espírito Santo consiste em nos lembrar de todas as dádivas que recebemos em Cristo. Ele derrama sua graça sobre nós e nos garante que somos seus lhos amados (embora lutemos com frequência). É essa graça que nos capacita a desejar sua vontade e a responder ao seu amor em amor. • Ele proveu para nós sua Palavra da Verdade: que ilumina nosso coração para toda sabedoria necessária a m de mudarmos de forma que o agrade. Ele faz isso em razão do objetivo supremo de nos transformar — e tudo isso para sua glória! Em 1998, passei doze dias visitando os ídolos do leste da Ásia. Você também embarcou numa jornada, mas é provável que leve mais que doze dias... portanto, tome assento e alegre-se em saber que Deus usará sua Palavra e seu Espírito para revelar seus ídolos, seu amor distorcido e para desenvolver amor e devoção plenos em você — tudo para a glória e louvor dele!
  • 19. 1George Barna, E e Barna report 1992-1993, an annual survey of lifestyles, values, and religious views (Carol Stream: Christianity Today, 1995), p. 113, citado em R. Kent Hughes, Disciplines of grace (Wheaton: Crossway, 1993), p. 29.
  • 20. 1 OS DEUSES DE RAQUEL E VOCÊ Fil hinhos, guardai-vos dos ídolos (1Jo 5.21). — Peguem suas coisas.1 Você e Lia reúnam as crianças e preparem-se para partir —, o marido ordenou. — Vamos embora hoje à noite. — Hoje à noite? Já? Mas não estou pronta! Raquel amava o marido, mas também gostava da bênção de morar perto dos pais. Embora ela desfrutasse dessa proximidade com seus familiares, nem sempre o relacionamento com eles era pacífico. Parecia haver conflito incessante entre seu marido e seu pai. E agora, o acontecimento que a apavorava estava se desenrolando. — Não se esqueça de sua capa —, ela lembrou José. — Pare de brigar com as outras crianças e pegue suas coisas. Da mesma forma que você e eu faríamos, Raquel juntou todos os objetos da casa importantes para ela. Então, em meio à correria, a ficha caiu e ela sentiu um frio no estômago. “Agora é para valer. Estou saindo de casa... deixando para trás a única realidade que conheço. Será que alguém vai cuidar de mim? Será que estarei segura? Como vou viver sem a proteção de meu pai... sem os deuses dele?” E assim, depois que seu pai saiu para trabalhar nos campos, ela entrou na tenda dele e roubou seus ídolos do lar. Embora ela não tenha se dado conta naquele momento, suas ações não tardariam em colocar sua família em risco e gerariam outro ato de dissimulação. Em vez de lhe dar segurança, esses ídolos trariam perigo para seus familiares. Em vez de abençoá-la, seriam maldição. UMA HISTÓRIA CONHECIDA Embora a história do furto cometido por Raquel em Gênesis 31 seja a primeira referência a ídolos na Bíblia, é fácil passar direto por ela e não perceber a imensidade desse ato e de suas consequências: Raquel furtou de seu pai. Levou embora os deuses dele. Enganou o marido e colocou a
  • 21. família em perigo. Mais adiante, quando seu pai, Labão, lhe perguntou sobre o sumiço dos ídolos, ela o enganou novamente. Perguntei-me várias vezes por que Raquel considerou necessário levar consigo esses ídolos. O que signi cavam para ela? Por que se dispôs a agir desse modo? Por que exerciam tanto poder sobre sua vida? Para responder a essas perguntas, observemos mais de perto a vida de Raquel. A Bíblia diz que “Raquel era bonita de porte e de rosto” (Gn 29.17). Em linguajar atual, Raquel era uma mulher deslumbrante. Sem dúvida ela sabia que, quanto a seus charmes femininos, dava de dez a zero em sua irmã, Lia. É bem provável que se deliciasse em ser a favorita. Havia aprendido que podia con ar em sua beleza; aliás, considerava-se justi cada por ela. Apoiava-se nela e acreditava que a tornava aceitável aos olhos de outros e a seus próprios olhos. Era sua fonte de poder sobre os outros, sua proteção das decepções. Raquel era tão linda que, logo da primeira vez que Jacó a viu, teve certeza de que aquela era a mulher para ele. Ela conquistou o coração dele no primeiro encontro dos dois, e ele serviu Labão durante catorze anos para se casar com ela.2 Aliás, ele a amava tanto que os anos de trabalho para obtê-la “lhe pareceram poucos dias” (Gn 29.20). Isso sim é devoção! Com um começo desses, seria de esperar que a vida de Raquel fosse um mar de rosas. Era linda e tinha o amor do marido... o que mais poderia querer? “DÁ-ME FILHOS!” Com o passar do tempo, a resposta a essa pergunta se tornou clara. O que mais ela poderia querer? Filhos! Raquel só podia contemplar Lia, sua irmã mais velha (e feia), dar à luz seis lhos... e ela continuava estéril. Toda vez que um dos meninos de Lia chorava, ou que Jacó brincava com um deles, os ciúmes, muito provavelmente, iam crescendo. É bem possível que tenha cado cheia de dúvida, raiva e autocomiseração ao ver sua posição de favorita ser solapada. Sua beleza, o deus que ela havia adorado, não tinha poder para salvá-la, e ela estava desesperada por obter a aprovação e a posição que considerava suas por direito. Seus lindos olhos não podiam fazer coisa alguma para preencher seu útero vazio.
  • 22. Por m, em desalento, clamou: “... Dá-me lhos, senão morrerei”. E Jacó respondeu com ira: “... Por acaso estou eu no lugar de Deus?” (Gn 30.1,2). O desejo de Raquel de ter lhos era tão forte que havia distorcido o modo de ela pensar. Ela começou a imaginar que Jacó, e não Deus, controlava sua fertilidade, sua posição e sua vida. Sentia-se despida e sem valor; não suportava olhar para a feiura de sua esterilidade. No devido tempo, Deus bondosamente concedeu um lho a Raquel. Não deixe de notar a bondade desse ato da graça divina. Ele não atendeu a Raquel por causa de seu coração puro ou de seus desejos santos. Ele a abençoou apesar de sua incredulidade. Então, embora temporariamente repleta de alegria com esse nascimento, ela ainda se mostrou insatisfeita. Revelou seu coração ao dar nome ao menino e dizer: “... Acrescente-me o S ainda outro lho” (Gn 30.24). Raquel não se contentou com a bênção que Deus havia lhe concedido em José. Queria mais. E esse, meus amigos queridos, é o resultado inevitável da idolatria: ela sempre termina em insatisfação. Passado algum tempo, Raquel concebeu novamente e, pouco antes de morrer no parto, chamou seu lho Benôni, que signi ca “ lho de minha tristeza”. Aquilo que ela havia adorado e imaginado trazer-lhe bênção acabou por lhe causar a morte. O que ela havia esperado trazer-lhe alegria acabou por lhe causar tristeza. Não é irônico que a mulher que clamou “Dá- me lhos, senão morrerei” tenha morrido em trabalho de parto? Sua história mostra que não há vida na idolatria. Ela só traz morte. Vemos, portanto, que Raquel já era idólatra mesmo antes de roubar os ídolos de seu pai. Seu desejo de ter lhos, como sua irmã Lia tinha, era a coisa mais importante de sua vida. Para ela, era algo absolutamente essencial e, portanto, era seu deus. Raquel acreditava na justi cação por meio da maternidade; imaginava que precisava conquistar a aceitação diante de Deus, dos outros e de si mesma. Ela não havia tido a experiência de ser incapaz de aprovar a si mesma. E agora, estava se afogando em vergonha e tristeza. OS DEUSES DE RAQUEL
  • 23. Não é difícil imaginar que Raquel tivesse sido sempre o centro das atenções, que as coisas tivessem sempre acontecido da forma que ela desejava. É provável que não estivesse acostumada a ver Lia em posição superior à dela. A esterilidade, e tudo o que isso representava para Raquel, a haviam levado a deparar com um problema insuperável — algo que talvez jamais tivesse experimentado. Ela temia que precisasse tomar providências a m de proteger sua posição. Acreditava que, de algum modo, os deuses de seu pai a abençoariam e, por isso, os furtou. Talvez cresse na existência de um Deus que governava a terra, mas o considerasse distante ou indomável demais. Não con ava que ele encaminharia a vida do modo que ela desejava. Precisava de um deus mais domável, mais dócil, que ela pudesse controlar. Queria um deus que lhe desse aquilo de que ela precisava. Queria um deus que ela pudesse furtar e esconder!3 Queria um deus que ela pudesse guardar na bolsa. MEUS ÍDOLOS DO LAR Ao re etir sobre a história de Raquel, pergunto-me se também tenho divindades domésticas — ídolos do lar nos quais procuro felicidade, segurança e justi cação própria. Pelo que anseio a tal ponto de meu coração clamar: “Dá-me isto, senão morrerei!”? De que preciso para que a vida tenha sentido ou felicidade? O que me permite deitar à noite e saber, no mais profundo de meu ser, que estou verdadeiramente bem? Se minha resposta a essa pergunta for qualquer outra coisa além de Deus, então é isso que serve de deus para mim. Embora não nos curvemos diante de estátuas de pedra nem preparemos tigelas de comida para oferecer a nossos deuses, adoramos ídolos de outras maneiras. João Calvino comentou a esse respeito ao escrever: “Quando [Moisés] diz que Raquel furtou os ídolos de seu pai, fala de um erro comum. Podemos concluir com isso que a natureza do homem [...] é uma perpétua fábrica de ídolos” (grifo da autora).4 Os ídolos não são apenas estátuas de pedra. São amores, pensamentos, desejos, anseios e expectativas que adoramos em lugar do Deus verdadeiro. São as coisas nas quais investimos nossa identidade; são aquilo em que
  • 24. con amos. Os ídolos nos levam a desconsiderar nosso Pai celestial em busca daquilo que imaginamos precisar. Nossos ídolos são nossos amores distorcidos: tudo o que amamos mais do que amamos a Deus, as coisas em que con amos para nossa justi cação, para nos tornarmos aceitáveis. DEUSES DA ALIANÇA Em certos aspectos, nosso relacionamento com esses falsos deuses é semelhante ao nosso relacionamento com o Deus verdadeiro. Buscamos a bênção desses deuses. Fazemos alianças com eles; conferimos-lhes o poder de nos abençoar se trabalharmos para eles com a nco su ciente. Raquel, por exemplo, diria: “Se eu tiver lhos, como minha irmã Lia, serei feliz!”. Ou talvez nós digamos: “Se eu tiver um cônjuge piedoso” ou “Se meus lhos se destacarem na escola, serei feliz”. Claro que ter relacionamentos piedosos é uma bênção e uma fonte de felicidade, e não é pecado desejá-los; se, porém, eles são a fonte de nossa alegria, se têm prioridade absoluta em nossa vida, então são deuses para nós. Jesus disse: “... buscai primeiro o seu reino [o reino de Deus] e a sua justiça...” (Mt 6.33). Se edi car o reino de Deus (e não o nosso próprio) for a maior prioridade de nossa vida, descansaremos na certeza de que receberemos todas as coisas verdadeiramente necessárias por causa de seu grande amor, e com isso diminuirão as exigências que esses ídolos fazem de nós. O ídolo de lhos obedientes, por exemplo, que nos leva a pegar no pé deles ou criticá-los, perderá força se não estivermos tentando construir o reino de nossa família. Ademais, se buscarmos a justiça que vem somente de Deus (Rm 10.3,4), em lugar de nossa própria justiça, não pressionaremos nossa família a ter um bom desempenho para que nos sintamos bem conosco mesmos ou tentemos nos justi car por meio de nossa reputação como “bons pais”. Vejamos em mais detalhes as formas que a adoração a falsos deuses assumem em nossa vida. “DÁ-ME UM MARIDO PIEDOSO, SENÃO MORREREI!”
  • 25. Jenny estava convencida de que a única maneira de ser feliz seria ter um marido piedoso. Ela era casada com um homem cristão que frequentava a igreja com ela, mas queria que orassem juntos com frequência e que ele conduzisse as devoções em família. Eu concordava com ela que teria sido uma bênção para seu marido ser um líder mais piedoso e procurei incentivá- lo a encontrar outros homens que o ajudassem a crescer nesse aspecto. À medida que conheci Jenny melhor, porém, observei que seu desejo por ter um marido piedoso desempenhava o papel de um deus em sua vida. Ela era governada pela ideia “Preciso de um marido piedoso, senão morrerei”. Por vezes, imaginava que, se fosse extraordinariamente gentil e preparasse os pratos favoritos dele para o jantar, ele teria a obrigação de satisfazer seus desejos. Em outras ocasiões, ela desistia, frustrada e com raiva, afastando-se dele e cando emburrada. Como Raquel, estava convencida de que só encontraria a felicidade quando suas expectativas fossem preenchidas. Sua identidade e aprovação própria dependiam do crescimento do marido como líder. Não causou grande surpresa, portanto, quando ela me disse certo dia que planejava separar-se dele. Ela deixou o marido e a igreja e, pela última notícia que tive dela, não estava mais seguindo a Cristo. Como Raquel, seu desejo acabou por destruí-la. BÊNÇÃOS VENERADAS Uma parte fundamental da falsa adoração consiste em conquistar mérito a m de levar os falsos deuses a nos darem aquilo que desejamos. Em essência, fazemos alianças com eles e esperamos que nos abençoem se agirmos de determinadas maneiras. Por exemplo, se a boa saúde é um deus em sua vida, talvez você pense: “Se eu me exercitar todos os dias e tiver uma dieta balanceada, nunca carei doente”. Se ter uma ocupação realizadora é um deus em sua vida, talvez você pense: “Se eu for sempre o primeiro a chegar ao escritório e produzir além do esperado, meu patrão será obrigado a me notar e a proteger meu emprego”. Por favor, não me entenda mal. Não estou dizendo que é errado o exercício apropriado ou o trabalho diligente; não apenas devemos valorizar a boa dádiva do corpo que Deus nos concedeu, como também
  • 26. somos instruídos a não cometer assassinato, inclusive contra nós mesmos por meio do consumo imprudente de alimentos ou pela falta de atividades físicas. Quando motivadas por amor a Deus e a outros, essas ações podem ser boas. No entanto, tornam-se pecaminosas quando as praticamos principalmente por medo pecaminoso, a m de obter mérito, ou de manipular resultados, em vez de agirmos livremente, como fruto de um coração repleto de gratidão a Deus. O único motivo santo para fazer qualquer coisa boa é o amor pelo Senhor e por nosso próximo. Se um bom currículo ou um corpo esbelto for sua maneira de buscar justi cação própria, você descobrirá que, por mais que se esforce, jamais será capaz de satisfazer as exigências da academia ou do patrão. Não há descanso na idolatria. Imagino que talvez você esteja perguntando: “Tudo bem, Elyse, mas como identi car se estou adorando as bênçãos que desejo ou Deus?”. Trataremos desse assunto em maior profundidade nos capítulos adiante, mas vou resumi-lo aqui da seguinte forma: se você está disposto a pecar a m de alcançar seu alvo, ou se peca quando não consegue o que quer, então seu desejo tomou o lugar de Deus e você está agindo como idólatra. Lembra-se de como Raquel pecou? Ela se irou de forma pecaminhosa com seu o marido; furtou os ídolos do pai e enganou a família. Mais tarde, não se contentou com o nascimento de José e quis mais lhos. O desejo de Raquel por lhos não era idolatria. Não, ela era idólatra porque seu desejo de ter lhos ocupava o primeiro lugar em seu coração. “Dá-me lhos, senão morrerei” é o clamor de uma idólatra. Re ita comigo a respeito do mandamento que Jesus disse ser mais importante. Ele disse que o amor mais importante em seu coração deve ser centrado em Deus. Qualquer coisa aquém disso é idolatria. Se você se dedicar com a nco em seu trabalho, mas ainda assim não for promovido, sua reação revelará se você está servindo a Deus ou adorando um ídolo. Deus e seu amor por ele são mais importantes que seu emprego? Ou se, quando faz um belo jantar para seu marido, em vez de lhe dar atenção, ele vai assistir televisão e depois dormir, você car irada, emburrada, se chorar ou pensar em formas de castigá-lo, você vai saber que seu amor por Deus não ocupa o primeiro lugar em sua vida.
  • 27. MALDIÇÕES GARANTIDAS Faz parte da natureza de aliança da adoração crer que seu deus pode abençoá-lo ou amaldiçoá-lo. Para Raquel, a esterilidade era maldição intolerável. Sabemos disso porque ela estava disposta a abrir mão de qualquer coisa para evitá-la. Os ídolos sempre operam desse modo em nosso coração. Vendemo-nos para eles e imaginamos que perdê-los será uma a ição insuportável — uma maldição. Por isso exercem tamanho poder sobre nossa vida. Há uma maldição envolvendo a idolatria, mas não se deve ao fato de não conseguirmos o que desejamos. A maldição consiste em buscarmos satisfação em algo que não Deus. Veja o que diz Jeremias 17.5,6: Assim diz o S : Maldito o homem que con a no homem, que faz daquilo que é mortal a sua força e afasta do S o coração. Ele é como um arbusto no deserto, não perceberá quando vier bem algum; pelo contrário, morará nos lugares secos do deserto, em terra salgada e desabitada. O que você observa no homem que con a em algo que não Deus? Ele nunca está satisfeito. É como um arbusto sedento no deserto, um espinheiro em terra desabitada. O que poderia dar menos satisfação? Lembro-me de um passeio de jipe no deserto de Sonora. Embora fosse primavera e tivesse chovido há pouco tempo, o deserto estava desolado. Nosso guia comentou várias vezes que devíamos tomar cuidado, pois todas as plantas e animais ali eram hostis. De fato, era perigoso aproximar-se de qualquer coisa que crescia naquela região. Certo cacto tinha espinhos com farpas microscópicas invertidas, capazes de xar-se até a quem resvalasse nelas. Outro cacto tinha espinhos de mais de oito centímetros de comprimento, tão resistentes que penetrariam facilmente quatro camadas de jeans. Era uma terra deserta e desabitada. Embora eu tenha gostado do passeio, devo admitir que quei feliz de voltar para dentro do jipe e rumar
  • 28. para a civilização. Com certeza eu não gostaria de morar ali. A Bíblia ensina que quando coloco a mim mesma, meus desejos, minha capacidade de me salvar, ou qualquer outra coisa que não Deus no centro de minha con ança e de meu amor, é exatamente neste lugar que vivo: no deserto. Seria uma maldição ter de viver num deserto, não é? A pessoa que con a em algo ou ama algo mais que a Deus é amaldiçoada porque se concentra de tal modo naquilo que deseja a ponto de nem sequer perceber quando coisas boas acontecem. Só consegue ver o que está faltando em sua vida. Isso porque o coração deixou de amar o Senhor, e ela tem mais amor por alguma outra coisa. Ama a justiça própria, a autossu ciência e aprovação própria. Por essa razão Raquel era deslumbrante, tinha todo o amor de seu marido, deu à luz um lindo bebê saudável e ainda assim declarou: “Quero mais”. Raquel vivia no deserto em mais de um sentido. Vivia na aridez criada por seus desejos. Sua vida era infeliz, triste, inútil e sem esperança, pois ela havia descoberto que não era a mulher perfeita. A adoração a ídolos é o motivo de nosso descontentamento e de nossa desobediência a Deus. E Calvino diz que nosso coração os fabrica. ENTERRE SEUS ÍDOLOS No m das contas, o que Raquel fez com seus ídolos? Felizmente, é provável que eles tenham sido enterrados debaixo de uma árvore. Jacó ordenou que sua família voltasse para Deus. “Lançai fora os deuses estrangeiros que há no meio de vós”, disse a seus familiares. “E entregaram a Jacó todos os deuses estrangeiros que possuíam [...] e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém” (Gn 35.2,4). Esperamos que Raquel tenha entregado seus deuses falsos conforme seu marido ordenou. Embora ela tenha morrido pouco depois, não há motivo para concluir que tenha guardado consigo os ídolos apesar da instrução de Jacó. Talvez Deus tenha libertado Raquel da crença de que precisava de algo além dele — talvez tenha trabalhado no coração dela para que con asse somente nele. Você também pode encontrar descanso hoje na certeza de que, pela graça de Deus, ao obedecer à ordem de seu Marido celestial para entregar seus ídolos, ele os colocará debaixo de outra árvore. Deus tem poder para
  • 29. enterrar todos os nossos falsos deuses debaixo do madeiro mais impressionante e glorioso de todos... o madeiro do Gólgota. Você pode lhe entregar todos os seus medos, todos os seus desejos, todos os seus pecados, pois ele disse: “... Está consumado...” ( Jo 19.30). A história de Raquel é relevante para você e para mim? Sim, pois a idolatria não terminou ali. O problema persiste na igreja de hoje. Precisamos nos lembrar das palavras nais de João: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21). Sua advertência para “ter cuidado” ou “proteger-se” da adoração falsa não faz sentido se não entendemos como nosso coração fabrica ídolos. Deus nos chama a enterrar nossos falsos deuses aos pés da cruz. Na união com Jesus Cristo, cruci cado no madeiro do Gólgota, temos o desejo e o poder de conquistar toda nossa idolatria e enterrar nossos deuses no solo encharcado de sangue debaixo de sua cruz. Somente Deus, o Conhecedor do coração, é também o Transformador do coração. O Deus que nos conhece e nos ama plenamente, mais do que somos capazes de entender, também conhece todos os nossos desejos e o lugar que ocupam em nossos afetos. Ele é o Transformador do coração. Nas palavras do autor de Hebreus, não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão descobertas e expostas aos olhos daquele a quem deveremos prestar contas [...] Porque não temos um sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado em todas as coisas, porém sem pecado. Portanto, aproximemo-nos com con ança do trono da graça, para que recebamos misericórdia e encontremos graça, a m de sermos socorridos no momento oportuno (Hb 4.13,15-16). Todos os desejos de nosso coração, quer idólatras em essência ou idólatras em função de nosso amor desordenado por eles, são conhecidos por nosso Pai. Todas as coisas estão “descobertas e expostas” diante dele, e ele nos conhece inteiramente. Ele sabe de cada ocasião em que colocamos algo acima dele, em que amamos algo mais do que a ele. Se esse fosse o m da história, cairíamos em desespero, não é mesmo? Louvado seja Deus porque
  • 30. a passagem diz, na sequência, que nosso querido Salvador e Sumo Sacerdote se compadece de nossas fraquezas. Ele entende nossa adoração diluída e implora para que nos aproximemos dele, “para que recebamos misericórdia e encontremos graça [...] no momento oportuno”. Precisamos encarecidamente de sua misericórdia e de seu socorro em nosso con ito com a idolatria... e ele prometeu concedê-los. Portanto, deposite nele toda sua esperança e con ança. Sei que ele se mostrará um Sumo Sacerdote el e lhe concederá a ajuda de que você precisa para desenvolver um coração e uma vida inteiramente dedicados a amá-lo e adorá-lo. Quando você se vir preocupado, irado ou temeroso como Raquel, descanse no fato de que não precisa pegar um ídolo na estante nem encontrar algum outro modo de cuidar de si mesmo. A misericórdia e a graça de Deus estão ao seu alcance a cada momento — e a ajuda que ele promete é tão certa quanto o caráter dele. Você pode dar um passo em direção ao Senhor... Ele o conhece e sabe o que você adora, e é mais que capaz de sustê-lo em seu momento de necessidade. Portanto, vá em frente e aproxime-se dele com con ança. Você descobrirá que ele é repleto de compaixão e mais que capaz de ampará-lo e transformá-lo. A nal, ele já o considera justo em Cristo. De que mais você precisa? PARA REFLETIR 1. Pense na história de Raquel e Lia. Se você não a conhece, leia a partir de Gênesis 29. Você se identi ca mais com Raquel ou com Lia? De que maneira as interações de Deus com ambas são consolo e ânimo para você? 2. Pense nas áreas de sua vida em que você luta contra o pecado. Vê alguma ligação entre seu pecado habitual e uma possível idolatria? Em caso a rmativo, anote-a. Em caso negativo, não desanime; o Senhor o ajudará a identi car se há ídolos em seu coração. 3. Existe algo em sua vida que lhe parece absolutamente essencial ter? 4. Como você completaria a frase; “Dá-me ________, senão morrerei”? Você espera que algum Jacó humano lhe proveja satisfação absoluta? Que
  • 31. palavras usa para se consolar diante de fracassos e decepções? 5. Escreva uma oração de compromisso, declarando seu desejo de entender como seu coração pode fabricar ídolos. 1Se você ainda não conhece a história de Jacó, Raquel, Lia e Labão, separe um tempo para lê-la, começando em Gênesis 29. 2Em um exemplo perfeito de ceifar aquilo que se semeia, Jacó, que enganou seu pai, foi enganado por seu sogro. 3“Raquel havia pegado os ídolos e posto na sela do camelo, sentando-se em seguida sobre eles. Labão apalpou toda a tenda, mas não os achou. Ela disse a seu pai: Que a ira nos olhos de meu senhor não se acenda, por não poder me levantar na tua presença, pois estou com o incômodo das mulheres. Assim ele procurou, mas não achou os ídolos” (Gn 31.34,35). 4John Calvin, Institutes of the Christian religion, edição de John T. McNeill, Library of Christian Classics (Philadelphia: Westminster,1960), 2 vols., 1:108 [edições em português: João Calvino, As institutas, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 4 vols. e A instituição da religião cristã, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São Paulo: Unesp, 2008)], grifo da autora.
  • 32. 2 ADORAÇÃO NÃO DIVIDIDA ... tu me amas mais do que estes? (Jo 21.15). “T enho a impressão de que não faço outra coisa senão trabalhar. Minha irmã nem parece perceber que eu também gostaria de me sentar e ouvir as palavras do Mestre. Por que ela não enxerga que preciso de ajuda? Às vezes ela é tão egoísta! T enho tanta coisa para fazer com os preparativos do jantar e a recepção dos convidados. Acho que vou dizer a ela o que penso.” Quando Marta saiu da cozinha e entrou na sala de estar, irritou-se novamente ao ver a irmã sentada aos pés de Jesus. “Por que Jesus não diz para ela me ajudar? Por que deixa que fique acomodada? Ele não se importa comigo?” “Senhor”, Marta demandou, “não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com todo o serviço? Dize-lhe que me ajude”. O Senhor voltou os olhos cheios de amor para o rosto de sua serva inquieta e disse: “Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas coisas; mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10.41,42). Creio que não conheço nenhuma mulher cristã para a qual essas palavras de Cristo não falem ao mais fundo de seu coração. Por algum motivo, servir de forma prática parece ser mais fácil e mais grati cante que sentar-se aos pés do Senhor para ouvi-lo. Por que será? Essa tendência indica um problema em nossa adoração? Em nosso amor? E o que é a “boa parte” que Maria havia escolhido e que Marta e muitos de nós talvez deixemos passar? AMOR EXCESSIVO POR DEUS? Você conhece alguém excessivamente dedicado ao Senhor, todo voltado a
  • 33. amá-lo? Eu não conheço. Aliás, não creio que isso seja possível. Como Richard Baxter diz, “não é possível amar demais a bondade in nita”.1 Não estou falando sobre alguma devoção mística que impede um modo de vida responsável. Estou falando da di culdade que sentimos quando tentamos dedicar nossa vida diária, a cada momento, a amar, adorar e servir ao Senhor — a assentar-nos a seus pés. Apesar de meu envolvimento constante com o ministério cristão, tenho de me perguntar com frequência: “Quanto tempo tenho passado aos pés do Mestre? Quanto tempo dedico à única coisa necessária?”. Não estou falando de tempo gasto me preparando para oportunidades de ministério, mas sim de tempo assentada aos pés de Jesus, adorando-o. Verdade seja dita... sou como Marta. Tenho fortes amores concorrentes em meu coração. Sim, amo o Senhor, mas no momento estou um tanto ocupada trabalhando para ele; mais tarde passo um tempo com ele. Até mesmo em minhas responsabilidades no ministério cristão é possível adorar deuses que eu mesma crio.... as divindades de minha reputação, de meus planos para o dia, de minhas ideias. É fácil car tão frustrada e envolvida com o “serviço” ao Senhor que me esqueço de amá-lo e adorá-lo. Nessas horas, de modo semelhante a Marta, começa a imaginar que Deus não se importa comigo. A verdade acerca de seu amor e cuidado sacri cial ca anuviada por meus planos e desejos. Também é fato que, muitas vezes, grande parte do trabalho que realizamos “para” o Senhor é, na realidade, uma forma de tentarmos salvar a nós mesmos, merecer bênçãos ou justi car nossa existência. Esse não é um problema apenas de Marta. Por isso ouvimos as palavras do Senhor a ela ressoarem em seus ensinamentos a outros: “Trabalhai não pela comida que se acaba, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará” ( Jo 6.27). “Cuidai de vós mesmos; não aconteça que o vosso coração se encha de [...] preocupações da vida” (Lc 21.34). Por que é tão fácil nos enchermos de preocupações e nos vermos presos? Porque, como João Calvino disse, nosso coração fabrica outros deuses, e supomos que eles nos salvarão e proverão para nós. Às vezes lhe parece que a Bíblia é repleta de declarações Ê
  • 34. assustadoramente simples? Êxodo 20.3 diz: “Não terás outros deuses além de mim”. Com essa asserção elementar, o Senhor Deus, Criador dos céus e da terra, dirige todo nosso foco e destino. Nossa atitude em relação a essas sete palavras curtas, que parecem tão triviais, in uencia todas as facetas de nossa vida, agora e eternamente. Será que a única coisa necessária que Marta encontrou e Maria deixou passar está resumida nesse mandamento sucinto? Marta havia colocado outro deus acima de Jeová? INSIGHTS DOS PURITANOS Ao procurarmos entender a devoção plena que Deus exige no primeiro mandamento, um recurso útil é o e larger catechism. Ele propõe a pergunta: “Quais são os deveres exigidos no primeiro mandamento?”. A resposta que os autores fornecem é tão proveitosa para tratarmos do pleno propósito do mandamento que a citarei por inteiro (embora seja um tanto extensa): Os deveres exigidos no primeiro mandamento são: conhecer e reconhecer Deus como único Deus verdadeiro e nosso Deus, e adorá-lo e glori cá-lo como tal; pensar e meditar nele, lembrar-nos dele, tê-lo na mais alta consideração, honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e temê-lo; crer nele, con ando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nele; ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe todo louvor e gratidão, prestando- lhe toda a obediência e submissão de nosso ser; ter cuidado de agradá-lo em tudo, e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa; e andar humildemente com ele.2 Que tal voltar e reler a resposta? Notou como cada um dos verbos é relevante e rico em signi cado? Ao lê-los, vejo claramente como falho em conhecer, reconhecer, adorar e glori car a Deus como meu único Deus verdadeiro. Re ita comigo enquanto repasso alguns itens da lista: • Pensar em Deus. Penso em Deus continuamente ou só de vez em quando, nos momentos em que desejo algo ou preciso de algo? • Meditar em Deus. Medito em seu caráter, em sua santidade, em sua bondade, em seu amor?
  • 35. • Lembrar-se de Deus. Lembro-me dele em tudo o que faço e digo ou raramente penso nele? • Con ar em Deus. Con o nele de fato ou con o em outras coisas, como meu currículo ou meu trabalho? Percebe a perspectiva prática dos puritanos? Embora haja quem considere de modo equívoco o primeiro mandamento como uma instrução ambígua, os puritanos o compreenderam em termos práticos e cotidianos. Dediquemos agora algum tempo ao estudo mais detalhado de dois termos que eles usam: honrar e con ar. O SACERDOTE QUE NÃO HONRAVA A DEUS Antes do tempo dos reis de Israel, um sacerdote chamado Eli atuou como governante nomeado por Deus. Eli tinha um problema sério: não honrava a Deus. Embora servisse a Jeová e ocupasse o cargo mais elevado de autoridade religiosa, estava mais preocupado em agradar seus dois lhos rebeldes do que em agradar a Deus. Esse fato é evidente, pois, quando seus lhos agiram com impiedade, ele não os disciplinou.3 Deus confrontou Eli por seu pecado: “... Por que honras teus lhos mais do que a mim...?” (1Sm 2.29). Visto que Eli honrava seus lhos mais que a Deus, era inevitável que seu sacerdócio chegasse ao m. Embora Eli servisse ao Senhor, considerava mais importante agradar seus lhos que honrar a Deus. É provável que Eli nunca tenha dito isso, mas suas ações falavam mais alto que quaisquer palavras. Ele preocupava-se mais em ter paz em seu lar do que em ter paz com Deus, por isso não cumpriu seu dever e desonrou ao Senhor. O prazer de ter um relacionamento tranquilo com seus lhos funcionava como seu deus. Ele serviu a esse ideal que lhe era tão importante e desconsiderou as ordens de Deus para disciplinar seus lhos. Apesar de Eli ser sacerdote, era idólatra. Não se curvava para imagens de pedra, mas se curvava para as exigências de seus lhos — mesmo quando eram con itantes com as exigências de
  • 36. Deus. Como adoradores de Deus, nossa preocupação com sua honra deve ser tão grande que, em comparação, o amor natural por outros deve parecer ódio. Como Jesus disse: “Se alguém vier a mim, e amar pai e mãe, mulher e lhos, irmãos e irmãs, e até a própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26). Ao fazer uma retrospectiva de minha vida como mãe, vejo diversas maneiras pelas quais me curvei para as exigências de meus lhos em vez de honrar a Deus. Vejo como consenti com seus desejos e os atendi porque queria mimá-los ou deixá-los felizes. Por vezes, quis tanto ser amiga deles que não me preocupei com a amizade com Deus. Em outras ocasiões, cheguei a me opor à liderança de meu marido para evitar o desprazer deles. Em meu coração, sou como Eli. Houve ocasiões em que transformei em ídolo a opinião favorável de meus lhos... e, como Marta, deixei passar a única coisa necessária: a adoração a Deus. Honrar a Deus signi ca colocar em primeiro lugar o prazer e a glória do Senhor. Signi ca ter respeito e deferência por ele e estimá-lo acima das opiniões daqueles a quem amamos. Signi ca ter a disposição de sofrer desrespeito e até perseguição a m de respeitá-lo. Podemos identi car a adoração a falsos deuses em nosso coração quando honramos alguma coisa mais que a Deus. O PAI QUE CONFIAVA EM DEUS Outra faceta da adoração a Deus é a con ança. Con ar em Deus signi ca crer nele e obedecer a suas ordens a qualquer custo. Signi ca acreditar que tudo de que preciso para ser amado e cuidado eternamente já me foi concedido em Cristo. A con ança é uma daquelas questões fundamentais nas quais preciso trabalhar continuamente. Embora con e em Cristo para minha salvação eterna, com frequência encontro outras áreas de minha vida em que não con o em Deus. Por exemplo, co apreensiva quando imagino que não haverá dinheiro su ciente para pagar as contas. Em vez de con ar na provisão de Deus, sou tentada a importunar meu marido e car preocupada
  • 37. e com raiva, ou a car frustrada, desistir e gastar dinheiro na tentativa de satisfazer e acalmar meu coração. Na verdade, essas ações revelam falta de con ança na capacidade de Deus de prover. São pensamentos e ações de um idólatra. Abraão havia esperado anos pelo presente prometido por Deus — um lho que Deus usaria para trazer ao mundo seu Libertador. Depois do nascimento de Isaque, Deus pediu de Abraão uma obediência inimaginável: “... Toma agora teu lho, o teu único lho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá e oferece-o ali em holocausto...” (Gn 22.2). O fato de Abraão ter se sujeitado à ordem de Deus é um exemplo extraordinário de como Deus, por sua graça, nos sustenta e nos capacita para obedecer. Abraão amava Isaque, e Deus sabia disso. Em sua ordem para que Abraão realizasse esse sacrifício, Deus ressaltou o fato de que Isaque era o lho amado de Abraão. O Senhor queria deixar claro para Abraão que ele sabia o que sua ordem implicava. Não se tratava do sacrifício de Ismael,4 mas de Isaque, o lho preferido, o lho da promessa por meio do qual o Messias viria. Teria sido fácil para Abraão imaginar que a vinda do Messias dependia inteiramente de sua capacidade de proteger Isaque. A nal, a m de que a promessa de Deus se cumprisse, parecia necessário que Isaque chegasse à idade adulta. Teria sido fácil para Abraão con ar em si mesmo e em sua aptidão como pai. Da mesma forma que você e eu, no passado Abraão havia lidado com o desejo de resolver as coisas (inclusive as promessas de Deus) à sua maneira, con ando em si mesmo.5 Ele poderia ter pensado consigo mesmo: “Deus não me pediria para matar Isaque. Não, tenho de protegê-lo para que Deus cumpra seu plano em relação ao Messias. Preciso fazer o que me parece correto”. Pela graça divina, Abraão foi capaz de con ar no poder e no plano do Senhor. Podemos acompanhar o raciocínio de Abraão em Hebreus 11: “Ele considerou que Deus era poderoso até para o ressuscitar dos mortos...” (Hb 11.19). Abraão não tinha garantia alguma de que Deus proveria um carneiro para o sacrifício, apenas a garantia da promessa de Deus: “... todas as famílias da terra serão abençoadas por meio de ti” (Gn 12.3). Deus poderia ter lhe dado outro lho, poderia ter ressuscitado Isaque, ou poderia
  • 38. ter cumprido sua promessa de alguma outra maneira. De qualquer modo, Abraão havia aprendido a con ar nele, portanto levantou-se cedo, pegou a lenha, o fogo e uma faca, e partiu para o encontro com o Deus em quem ele con ava. O que o sustentou durante a jornada de três dias até o monte Moriá? Talvez ele simplesmente tenha con ado que Deus não havia mentido. Creu na sabedoria, no poder e na veracidade de Deus. Talvez tenha se recordado das promessas de Deus: ... farei de ti uma grande nação... (Gn 12.2). ... farei a tua descendência como o pó da terra... (Gn 13.16). ... conta as estrelas [...] Assim será a tua descendência (Gn 15.5). ... Eu sou o Deus todo-poderoso [...] te farei crescer muito em número (Gn 17.1,2). ... eu te farei fruti car imensamente; de ti farei nações, e reis procederão de ti (Gn 17.6). Pela graça e pelo poder de Deus, Abraão creu em suas promessas e obedeceu de bom grado. Re ita sobre as diferenças entre o relacionamento de Abraão e de Eli com Deus. Abraão amava seu lho, mas amava Deus ainda mais. Ele adorava a Deus a ponto de estar disposto a entregar a pessoa mais querida de seu coração. Sim, Abraão amava seu lho, mas seu amor por ele parecia ódio em comparação com o amor por seus Deus. Eli teria dito que amava a Deus e a seus lhos. Na hora da verdade, porém, suas ações mostraram que seus lhos governavam seu coração. CONFIANÇA NO DEUS QUE VOCÊ ADORA Diante da adversidade, quando parece que tudo pelo que você trabalhou está prestes a se transformar em fumaça — quando os lhos estão doentes, a empresa vai por água abaixo ou há con ito na igreja — as perguntas fundamentais devem ser: Você con a em Deus? Crê que ele é sábio, bom e poderoso o su ciente para realizar sua vontade e conduzir você e sua família em segurança até ele? Consegue ouvi-lo dizer a você: “Eu sou o Deus todo- poderoso”?
  • 39. Gostaria de dizer que sempre con o em Deus desse modo, mas não é o caso. Muitas vezes me pego vacilando e questionando a bondade e a veracidade de Deus. Creio que Deus é bom e que posso con ar em sua palavra, mas essa convicção sempre compete com outras crenças e com medos em meu coração: • Posso con ar em Deus para a salvação e outras coisas do âmbito religioso, mas quanto a meu casamento, devo agir como me parecer melhor. • Não preciso me esforçar para ter uma vida de obediência grata pelo amor e pela aceitação de Deus. Minha desobediência não é idolatria; minhas circunstâncias são peculiares. Dessas formas não muito sutis, eu me vejo faltar com a obediência ao primeiro mandamento e erigir outros deuses — os deuses da minha razão, os deuses da exaltação, da salvação e do amor próprios — em vez de desenvolver con ança e devoção absolutas. Permita-me dar-lhe mais um exemplo que talvez o ajude a perceber como é fácil nos confundirmos em relação ao foco de nosso amor. “... TU ME AMAS MAIS DO QUE ESTES?...” Antes de negar a Cristo na noite da cruci cação, Pedro achava que adorava plenamente a seu Senhor. Ele teria se encaixado bem entre os 76 por cento dos americanos que se consideram obedientes ao primeiro mandamento. Pedro supôs equivocadamente que seu amor pelo Senhor fosse mais forte que qualquer outro amor. Declarou: “... Ainda que seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei” (Mc 14.31). Jesus, porém, lhe disse: “... nesta noite [...] tu me negarás três vezes” (Mc 14.30). Que impacto essas palavras devem ter causado a Pedro, tão orgulhoso e seguro de si! É provável, contudo, que o impacto maior, que abalou até os alicerces de sua alma, tenha vindo com o olhar de amor e compreensão de Jesus por seu discípulo depois que ele o negou (Lc 22.61). Quando o olhar de Pedro cruzou com o olhar do Senhor, ele entendeu as incoerências de
  • 40. seu coração, a fragilidade de seu afeto e o verdadeiro foco de seu amor. Ele tinha outros deuses. Pedro havia se imaginado forte o su ciente para ser seu próprio salvador: “... saindo dali, chorou amargamente” (Lc 22.62). Ele tinha visto o Senhor duas vezes depois da ressurreição,6 mas ainda lutava com seu pecado e com os amores concorrentes em seu coração. Jesus, em sua misericórdia, o ajudou a entender sua fraqueza. Na praia, enquanto Jesus preparava o café da manhã para seus discípulos, confrontou Pedro ternamente. Três vezes lhe perguntou: “Simão, lho de João, tu me amas mais do que estes?” ( Jo 21.15). Em grego, Jesus lhe perguntou: “Você me ama com devoção ardente, que exclui todos os outros amores?”. Duas vezes Pedro se esquivou e declarou que tinha forte afeição pelo Senhor. Na terceira vez, Jesus mudou a pergunta: “Você tem forte afeição por mim?”. A ito e triste, Pedro foi obrigado a reconhecer: “... Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo...” ( Jo 21.17). Foi como se Pedro tivesse dito, nalmente: “Senhor, tu conheces meu coração. Sabes dos amores que competem por minha atenção dentro dele. Eu te amo, mas tu sabes que falhei em amar-te, pois amei outras coisas, especialmente as pessoas e a opinião delas a meu respeito. Será que eu te amo mais do que estes? Meu amor é mais forte que o deles? Senhor, somente tu o sabes”. Em essência, a resposta do Senhor foi: “Sim, Pedro, eu sei. E agora, você também sabe. Sirva-me ao cuidar de meu povo, mas, ao fazê-lo, tenha em mente a quem você está servindo. Tenha em mente a quem você deve adorar. Lembre-se de que eu sou o Único forte o su ciente para salvar. E lembre-se de que você não é melhor que aqueles a quem serve”. O Senhor sabia que Pedro seria fraco, que falharia... como acontece com todos nós. Muitas vezes, não permanecemos éis ao Senhor como deveríamos, pois temos em nosso coração os mesmos amores concorrentes que Pedro. Temos medo de que outros nos critiquem, zombem de nós ou nos persigam. Temos vergonha de nossa incapacidade de salvar a qualquer pessoa. Somos iguais a Pedro, não é mesmo? Em meio a essa triste realidade se encontra uma alegre verdade: como Pedro pertencia a Cristo, no m das contas ele prevaleceria, e sua fé não fracassaria completamente. A vitória não seria resultado da força ou fé
  • 41. inerente de Pedro. Evidente, não? Sua fé sobreviveria e se desenvolveria por meio de seu fracasso porque o Senhor havia orado por ele (Lc 22.32). Você pode consolar seu coração com o fato de que o Senhor também ora por você. Portanto, também pode salvar perfeitamente os que por meio dele se chegam a Deus, pois vive sempre para interceder por eles (Hb 7.25). Nas palavras de certo puritano, “se ouvisses Cristo orar por ti, não seria um incentivo para orares e te persuadires de que Deus não te rejeitaria?”.7 Embora falhemos, embora adoremos outros deuses, podemos descansar no fato de que Deus verdadeiramente nos salva para sempre. Isso porque o Senhor Jesus está orando por nós, e sabemos que suas orações sempre são conforme a vontade de Deus e sempre são ouvidas ( Jo 11.41,42). Sim, podemos falhar em permanecer éis como deveríamos, em adorar somente Deus, mas como ele está orando por nós, jamais cairemos de suas mãos de amor. Em nossa luta contra a idolatria, aprendamos a descansar no poder da oração dele. Ao continuarmos a examinar a in uência de falsos deuses, será importante lembrar que, embora você se sinta fraco e vulnerável, se pertence a Deus, ele o fortalecerá e o guardará. O fato de você lutar contra amores concorrentes não é surpresa maior para o Senhor que as negações de Pedro. No entanto, Deus amparou Pedro quando ele caiu, e amparará você também. E o simples fato de você estar nessa batalha é prova de que, verdadeiramente, pertence ao Senhor. QUEM VOCÊ ADORA? Neste capítulo, procurei ajudá-lo a observar um pouco mais de perto as implicações das palavras “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3). À primeira vista, talvez parecesse que você estava se saindo bem na tarefa de obedecer a esse mandamento. Quem sabe agora, depois de olhar para a vida de Marta, Eli, Abraão e Pedro, tenha percebido áreas de sua própria vida em que outros deuses governam seu coração. Consegue discernir em que áreas você adora, honra, ama algo ou con a nisso mais que em Deus? Em caso a rmativo, não se desespere. Lembre-se de que Jesus sabia que
  • 42. Pedro o negaria, mas por causa das orações de Jesus, a fé no coração de Pedro sobreviveu, se desenvolveu e foi bênção para outros. A negação de Pedro é fonte de grande consolo para mim, pois sei que em todos os aspectos nos quais neguei o Senhor, ele está orando por mim, desa ando- me a dedicar-lhe todo o meu amor. No capítulo seguinte, trataremos em maior profundidade do primeiro mandamento e analisaremos o lugar da lei em nossa vida como crentes. Por ora, porém, peço que o Espírito Santo desperte seu entendimento para os amores concorrentes e os deuses em seu coração. PARA REFLETIR 1. Volte à resposta do e larger catechism (p. 39-40) e anote os verbos usados para ilustrar a adoração não dividida. Sublinhe os verbos mais expressivos para você. 2. Ao re etir sobre Marta, Eli, Abraão e Pedro, que verdades eles ensinam sobre adorar de todo o coração? 3. Com qual dessas pessoas você se parece mais? Em que aspectos você falha? 4. Qual é o signi cado do fato de que Jesus está orando por você? 5. No livro No god but God [Nenhum deus além de Deus], Os Guinness e John Steel a rmam: “Para os seguidores de Jesus Cristo, quebrar os ídolos e viver na verdade não é uma prova de ortodoxia, mas de amor”.8 O que você acha que eles querem dizer com isso? 6. Quem ou o que compete mais intensamente por seu amor? Pense em seus relacionamentos com pais, cônjuge, lhos, empregadores e amigos. 1Richard Baxter, A Christian directory (Morgan: Soli Deo Gloria, 1996), p. 123. 2e larger catechism, p. 104 (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1998) [edição em português: O catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)]. 3“Os lhos de Eli eram ímpios; não se importavam com o S [...]. O pecado desses jovens era muito grave à vista do S, pois eles desprezavam a oferta do S” (1Sm 2.12,17). Veja tb. 1Sm 2.22-25,29. “Porque já lhe disse que julgarei sua família para sempre, pois ele sabia do pecado de seus lhos, que blasfemavam contra Deus, mas não os repreendeu” (1Sm 3.13). 4Veja em Gênesis 16, 17 e 21 a história completa de Abraão, Hagar (serva de Sara) e seu lho Ismael.
  • 43. 5Embora Abraão tenha sido aprovado nesse teste com louvor, não foi sempre assim em outras ocasiões de sua vida. Em Gênesis 12.13 e 20.2, ele colocou em perigo duas vezes sua esposa Sara, que seria a mãe do lho prometido, ao dizer a reis da terra que ela era apenas sua irmã. Foi sinal da graça providencial de Deus ter guardado Sara de relações sexuais na corte do rei, protegendo assim a linhagem eleita. Em Gênesis 16, Abraão cedeu às maquinações de Sara e teve relações sexuais com Hagar, gerando um lho por seu próprio poder e questionando, mais uma vez, a capacidade de Deus de cumprir sua palavra. 6O Senhor também conversou com Pedro em particular em pelo menos mais uma ocasião antes de os demais discípulos o verem. Embora não tenhamos informações a respeito do teor dessa conversa, é natural supor que tenham falado sobre a negação de Pedro e sua restauração (veja Lc 24.34; 1Co 15.5). 7Baxter, A Christian directory, p. 68. 8Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 216.
  • 44. 3 DE SUMA IMPORTÂNCIA De modo que a lei é santa, e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7.12). — Vocês têm de partir agora mesmo! Não levem coisa alguma. Fujam da cidade antes que o furor de Deus caia sobre ela! “Quem eram esses desconhecidos que seu marido havia protegido durante a noite? Do que estavam falando?”, perguntou-se a esposa de Ló. “Por que devemos dar ouvidos a eles? Quem pensam que são para ordenar que abandonemos nosso lar? Talvez seja mais uma das brincadeiras de Ló.” — Não podemos ficar mais um pouco, Ló? —, suplicou ao marido. — Os noivos de nossas filhas não têm certeza de que precisamos partir. Por que não esperar e ver o que acontece? Quem sabe não será necessário irmos embora. Sei que essa cidade tem seus problemas, mas que cidade não tem? Além do mais, você exerce autoridade considerável aqui e talvez possa convencer o povo a mudar. Não vamos nos precipitar. Então, enquanto o sol nascia, algo ainda mais assustador aconteceu. Os dois desconhecidos obrigaram a família a sair pelas portas da cidade e ordenaram que fugisse. — Corram se quiserem salvar a vida! —, advertiram. — Não olhem para trás! Afastem-se da cidade! O castigo de Deus está prestes a cair sobre este lugar, mas Deus os protegerá. Corram! E lembrem-se: não olhem para trás em hipótese alguma! Enquanto Ló, sua esposa e suas filhas fugiam de sua casa, a esposa de Ló sentiu algo fisgar seu coração. “Como posso deixar para trás uma casa confortável, amigos queridos, um lugar cheio de atrativos, meu âmbito de influência? Não tive tempo nem de pegar minhas belas peças de cerâmica. E quanto aos noivos de minhas filhas? Não quero sair da cidade. Eu a amo e vou sentir saudades demais. É tão difícil pensar em partir. Além disso, Deus sabe que preciso de meu lar querido. Será que Deus poupará nossa casa? O que será que está acontecendo com ela? Ló está correndo à frente, não vai saber se eu olhar só de relance. Preciso apenas de uma última lembrança para levar comigo... apenas uma memória preciosa.” Quando a esposa de Ló se voltou para trás, é possível que tenha ficado paralisada com a cena assustadora de fogo descendo do céu sobre sua cidade, seu lar. Naquele instante, antes que se desse conta, foi envolta em gases sulfurosos e coberta de sal. A última imagem que viu de seu mundo querido foi do julgamento divino sobre ele.
  • 45. Por vezes, uma ação simples revela muita coisa a respeito do caráter. Neste caso, um olhar de relance revelou o coração. Sodoma era o lugar em que a esposa de Ló vivia sicamente, mas também era onde seu coração habitava. Ela o amava, e seu coração idólatra se apegou a ele, pois ali estava seu tesouro. Lembra-se das palavras de Jesus, “onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração” (Mt 6.21)? Havia algo em Sodoma que ela valorizava, estimava, apreciava e amava mais que a Deus. Moro na região norte de San Diego e, quando olho para meu lindo quintal, posso dizer com sinceridade: “Amo o lugar onde moro”. Deus abençoou nossa família com uma boa casa em uma parte agradável do mundo. Não há pecado algum em desfrutar o que Deus proveu e ser grato por essas dádivas. Aliás, seria pecado não ter prazer em suas bênçãos. O problema, contudo, é quando amo minha casa mais do que a Deus. Se estimo minha agradável residência mais do que a Deus, tornei-me idólatra. Não é errado agradecer a Deus por suas bênçãos, mas quando as bênçãos se tornam nosso deus, caímos em idolatria. Esse foi o problema da esposa de Ló: ela deu maior valor a Sodoma que a Deus. Jesus adverte: “Lembrai-vos da mulher de Ló” (Lc 17.32). Você está começando a perceber como suas ações, de modo semelhante às ações das pessoas da Bíblia, re etem o foco de seu amor e de sua adoração? É fácil perceber que a esposa de Ló tinha outros deuses, não? É evidente que ela amava sua cidade, por mais perversa que fosse. Sabemos disso porque ela se mostrou disposta a desobedecer à ordem de Deus a m de olhar para Sodoma só mais uma vez. Precisamos crescer em nosso entendimento do ensino das Escrituras acerca da idolatria; para isso, consideraremos as proibições explícitas de Deus a esse respeito. Ao fazê-lo, espero que você consiga enxergar com mais clareza outros deuses que talvez estejam presentes em sua vida. Ao longo do caminho, descobrirá que a desobediência nasce da adoração a outros deuses. O MAIOR MANDAMENTO Quando Moisés voltou de seu encontro com Deus, trouxe consigo
  • 46. instruções divinas para a vida e a adoração na forma dos Dez Mandamentos. Deus tinha dado leis a seus lhos: “... temas o S , [...] andes em todos os seus caminhos...”. Ordenou: “... ames e sirvas o S , teu Deus, de todo o coração e de toda a alma, guardes os mandamentos do S e os seus estatutos [...] para o teu bem (Dt 10.12,13). Obedecer aos mandamentos de Deus é bom. Acima de tudo, é bom porque honra e glori ca a Deus. De acordo com Tiago, o homem que perseverar na lei perfeita “será abençoado no que zer” (Tg 1.25). Deus nos deu mandamentos acerca da idolatria para nosso bem, para que o glori quemos e tenhamos uma vida caracterizada por sua aprovação. Vejamos agora a passagem das Escrituras que contém o primeiro mandamento, lembrando que a obediência é para nosso bem. EU SOU O SENHOR DEUS Eu sou o S teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses além de mim (Êx 20.2,3). Como você pode observar, o primeiro mandamento inclui a ordem: “Não terás outros deuses além de mim”, e dois motivos pelos quais devemos obedecer-lhe. O primeiro motivo que Deus dá é: “Eu sou o S teu Deus...”. Ele ordena que o adoremos porque ele é Deus. Em última análise, não precisamos de nenhum outro motivo. Ele merece nossa adoração porque ele é Deus. Ponto nal. É justo adorá-lo como Deus simplesmente porque ele é Deus e não há outro semelhante a ele. “Assim diz o S [...]: Eu sou o primeiro, e sou o último, e além de mim não há Deus” (Is 44.6,7). Aqui está a parte mais sensacional! Ele não é apenas um Deus, nem mesmo o Deus; ele é nosso Deus. Além de estar inteiramente acima de nós e de ser eterno e imutável, Rei todo-poderoso e soberano, ele também está perto de nós e é nosso Deus. Condescendeu em ter comunhão conosco e entrar em um relacionamento de aliança conosco. Não é apenas Rei. Também é Pai, como Isaías declarou: “Por que assim diz o Alto e o Sublime [...] cujo nome é santo: Habito num lugar alto e santo, e também com o
  • 47. contrito e humilde de espírito” (Is 57.15). ELE NOS TIROU DA TERRA DO EGITO Como se o motivo anterior não bastasse, Deus nos dá outro motivo pelo qual devemos dirigir nosso coração a adorar somente a ele. O Rei cheio de graça e perfeitamente santo nos trouxe para junto dele. Teria sido apropriado ele exigir nossa adoração porque ele é Deus. Mas não foi o que fez. Ele nos “tirou da terra do Egito, da casa da escravidão”. Antes de exigir a adoração que lhe era de direito, ele demonstra seu amor e sua bondade por nós. Aqueles que são seus lhos foram libertos da terrível escravidão do pecado, de Satanás e da morte. Ele fez isso por nós! E agora, devemos nos lembrar de como nos amou, nos libertou e tomou a iniciativa de se relacionar conosco. Foi o que disse o pai de João Batista, quando a rmou que Deus agiu desse modo para que nós, “libertados da mão de nossos inimigos, o cultuássemos sem medo” (Lc 1.74). Fomos resgatados da mão de nossos inimigos para que pudéssemos servir a Deus. Fomos resgatados de uma terra de ídolos para que pudéssemos adorar a Deus. Toda vez que Moisés suplicou ao faraó para que deixasse ir os israelitas, foi para que pudessem servir a Deus. O Senhor não libertou os israelitas da escravidão para que se tornassem sócios do Club Med, embora muitos tenham agido como se fosse o caso. Ele os libertou para que pudessem celebrá-lo, servi-lo e adorá-lo. A obra de sua graça ao libertá-los tinha como propósito dar-lhes a segurança de que ele era digno de con ança e repleto de amor por eles. Com base nessa verdade — em suas ações anteriores em favor deles enquanto eram, em sua maior parte, incrédulos e cheios de queixas — ele lhes concederia fé para crer que verdadeiramente os amava e era digno de sua con ança. Nós também fomos libertos do Egito espiritual para que possamos celebrar, amar e adorar a Deus. Quando você pensa no primeiro mandamento, lembra-se do amor de Deus por você? Lembra-se de que, mesmo quando você era inimigo de Deus, ele enviou o Filho dele para morrer em seu lugar e libertá-lo da escravidão? Diante dessas verdades, a obediência faz mais sentido, não?
  • 48. O PRIMEIRO MANDAMENTO O primeiro e maior mandamento é: “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3). Que espantoso! Com esse mandamento, Deus exige nossa devoção absoluta, inequívoca e exclusiva. Somente “o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é santo” (Is 57.15) tem o direito de exigir tamanha delidade. Esse mandamento é preeminente porque, se não lhe obedecemos, é impossível obedecermos a qualquer um dos outros nove. Todos os elementos de nossa devoção, todos os atos de obediência ou desobediência, todo os pensamentos, palavras e ações dependem de nossa delidade a esse mandamento. Talvez você esteja pensando: “Puxa, essa é uma declaração bem radical”, mas re ita comigo enquanto recapitulamos alguns dos outros mandamentos: • “Honra teu pai e tua mãe...” (Êx 20.12). Não é verdade que os lhos deixam de honrar os pais porque têm outros deuses, como os amigos ou o amor ao mundo? • “Não matarás” (v. 13). Sempre que alguém tira a vida de outra pessoa, não está dizendo, em essência, “Eu sou Deus. Decido quem vive e quem morre”? • “Não adulterarás” (v. 14). Tomar o cônjuge de outra pessoa não é o mesmo que adorar outro deus, como o romance, a emoção, o poder ou o prazer? • “Não cobiçarás...” (v. 17). Desejar intensamente algo que pertence a outra pessoa é idolatria, pois corresponde a valorizar algo mais que a Deus e sua vontade. Vemos, portanto, que não ter “outros deuses” é o eixo no qual gira toda nossa obediência. Isso porque o mandamento contra a idolatria é, na realidade, um mandamento para amar, para dedicar todo nosso afeto somente a Deus.1 “Dizer que existe somente um Deus, e nenhum deus além dele não é É
  • 49. simplesmente um artigo em um credo. É uma verdade avassaladora, que não cabe em nossa mente e que faz o coração parar, uma ordem para amarmos o único que é digno de nossa total lealdade.”2 A essência desse mandamento é que devemos separar Deus de todo o restante em nosso coração e lhe dar prioridade absoluta. Signi ca que, pela fé, devemos procurar crer que ele é bom e amoroso, como diz ser, e que ele será para nós a fonte de todo o bem, de todas as nossas alegrias. Talvez agora você tenha algumas perguntas gerais a respeito do lugar da lei do Antigo Testamento em nossa vida. OS DEZ O QUÊ ?3 Durante boa parte de minha vida cristã, o papel da lei do Antigo Testamento me causou perplexidade. Os Dez Mandamentos, em particular, faziam parte de meu conhecimento bíblico de modo semelhante às histórias do Antigo Testamento. Sim, estavam presentes. Parecia que deviam ser pertinentes. E sim, supostamente eu devia obedecer-lhes. Mas, para ser sincera, creio que nunca havia re etido a respeito deles com mais profundidade. A nal, não eram assim tão importantes, certo? Como cristã, eu havia aprendido que não estava mais “debaixo da lei” (qualquer que seja o signi cado dessa expressão), então por que me preocupar? Eu sabia que minha salvação era somente pela graça — eu não precisava obedecer aos mandamentos para garantir minha posição de aceitação diante de Deus e, de algum modo ambíguo, eu os a rmava da boca para fora e esperava que continuassem onde estavam: lá nos tempos antigos. A utilidade da lei moral para o cristão De lá para cá, porém, Deus, em sua graça, me ajudou a aprender que a lei, resumida nos Dez Mandamentos, exerce uma função importante na vida dos cristãos. A lei nos ensina a verdade a respeito de nossa suposta bondade e a respeito do único caminho para o céu. Contemplar os padrões imutáveis de Deus nos Dez Mandamentos nos ajuda a entender que nenhum mero ser humano jamais guardou a lei perfeitamente. Romanos 3.23 diz: “Todos É
  • 50. pecaram e cam aquém” (NASB). É importante compreender esse fato, pois alguns con am que irão para o céu porque são relativamente bons. De modo não muito diferente do personagem de Patrick Swayze no lme de sucesso Ghost: do outro lado da vida, o homem moderno criou um conjunto de normas nestas linhas: Sou razoavelmente bom. Não estou fazendo mal a ninguém. Cumpro meu dever, amo minha namorada. Com certeza um sujeito bacana como eu merece ir para o céu. Os verdadeiros cristãos discordam da versão hollywoodiana da salvação. Cremos em algo bem diferente acerca de como obtê-la. Cremos que as pessoas são incapazes de ter uma vida em total conformidade com os padrões perfeitos de Deus. Isso porque Deus é tão santo e perfeito que a desobediência em uma só área é su ciente para nos condenar como transgressores da lei. Era a isso que Tiago estava se referindo quando escreveu: “Pois qualquer um que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, torna-se culpado de todos” (Tg 2.10). Somente uma pessoa guardou a lei: o Senhor Jesus Cristo. Recebemos a salvação somente pela fé no cumprimento perfeito da lei por Jesus Cristo em nosso lugar.4 A lei me ajuda ao servir de guia5 — uma professora pessoal que habita na sala de aula no meu coração e me ajuda a entender que não possuo nenhuma bondade inata. É fácil desconsiderar a lei de Deus e me comparar com outros, como z na Ásia! Quando sigo esse caminho, sempre chego à conclusão de que sou razoavelmente boa. Se, contudo, me examino no espelho de Deus (a lei perfeita),6 descubro que tenho falhado de todas as formas imagináveis. A lei me torna humilde e acaba com minha justiça própria. Como Paulo escreve, “eu não conheceria o pecado se não fosse pela lei” (Rm 7.7). Ela me mostra de modo convincente que não mereço a salvação, pois não obedeço aos Dez Mandamentos. Claro que, desde que Phil e eu nos casamos, jamais cheguei a cometer adultério externamente, mas a Lei não diz respeito apenas à obediência externa. Como Jesus ensinou no Sermão do Monte, a Lei também precisa ser obedecida internamente... e, se essa é a exigência, quebrei cada um dos mandamentos um sem número de vezes.
  • 51. Não tenho mérito algum diante de um Deus inteiramente santo. Embora pareça contraintuitivo, essa é uma situação boa para minha alma, pois me leva a lançar-me inteiramente na misericórdia de Deus em Cristo. Remove todas as minhas ilusões de bondade e me ajuda a entender o quanto preciso do perdão de Deus.7 A lei mostra o quão encarecidamente necessito que o registro perfeito de Cristo seja aplicado ao meu. Essa transferência de seu registro de obediência total a mim, essa retidão imputada, chamada justi cação, é minha única esperança, mas é toda esperança de que preciso. A lei me ensina o quanto devo ser grata a Cristo por tê-la cumprido perfeitamente.8 Tenho uma dívida com Cristo, pois ele cumpriu a lei perfeitamente, e depois tomou sobre seu corpo o castigo por minha transgressão. Diante disso, meu coração é impelido a transbordar de amor e obediência. Ao comparar minha vida contrária à lei com as perfeições dele, sou tomada de gratidão. E agora, por causa da obra de Cristo, reconheço que a exigência da lei se cumpriu em mim9 porque tenho sua retidão perfeita. Não é incrível? A exigência da lei se cumpriu em nós, cristãos! A lei se torna a norma de retidão à qual procuro obedecer por gratidão. Como um lho agradecido procura agradar a mãe ou o pai querido, tenho um desejo de santidade que nasce de um coração repleto de ação de graças. A lei não mais me condena, pois recebi o registro perfeito de Cristo. Antes, quando entendo a verdade de minha absoluta dependência de sua misericórdia, a lei me faz ver meu pecado e ansiar pelo caráter de Cristo em minha vida. Desejo ser santa porque o amo e quero ser semelhante a ele. Minha retidão está garantida na obediência perfeita de Cristo por mim e, por sua graça, estou me tornando “[consagrada] às boas obras” (Tt 2.14). O primeiro mandamento diz respeito, principalmente, a minha devoção interior: a ordem é para “temer e amar a Deus e con ar nele acima de tudo”.10 Todo pecado, toda idolatria em meu coração, nasce da falta de amor e de gratidão e na con ança depositada em coisas indevidas. Toda vez que adoro algo ou alguém senão Deus, esqueço-me de que ele é o bom Pai e o grande Rei que me tirou do Egito. De modo contrastante, todo ato verdadeiramente piedoso, inclusive o desejo interior de ser piedoso, nasce do
  • 52. amor11 e da adoração que ele colocou em meu coração. Sua graça me leva a ter prazer na lei, pois a vejo como o modelo para que eu cresça e me torne semelhante a ele. Foi nesse contexto que Paulo disse: “Porque, no que diz respeito ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus...” (Rm 7.22). Visto que a lei não pode mais me condenar, não temo mais suas acusações nem ressinto sua intromissão. Sim, a lei moral resumida nos Dez Mandamentos é uma dádiva maravilhosa.12 Devemos considerá-la como “dez amigos para guardar nossos caminhos”.13 Ela nos conduz à humildade e nos convence do pecado, enche-nos de gratidão pela mansa obediência de nosso Salvador e nos leva a viver de modo agradável a ele: Assim, oramos para que possais viver de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, fruti cando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus [...] dando graças ao Pai, que vos capacitou a participar da herança dos santos na luz. Ele nos tirou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, isto é, o perdão dos pecados (Cl 1.10-14). O dedo de Deus Recorde-se comigo das palavras surpreendentes que descrevem a entrega inicial da Lei: “... deu-lhe [a Moisés] as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êx 31.18).14 O Senhor Deus de toda a criação, o Rei dos céus e da terra, escreveu a Lei com sua própria mão!15 Não é incrível? Por mais espantoso que seja esse fato, porém, a in ndável compaixão divina não para por aí. Ezequiel e Jeremias prenunciam misericórdias ainda maiores. Também vos darei um coração novo e porei um espírito dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne (Ez 36.26). ... Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração... ( Jr 31.33).16
  • 53. Amor maravilhoso! Enquanto a lei de Deus havia sido escrita apenas em tábuas de pedra — fora de nós, com incitações exteriores à santidade e com poder para condenar — agora sua lei, escrita por sua mão, reside em nosso coração! Agora, somos impelidos por um desejo interior de lhe obedecer, sem medo de sermos condenados por fracassar. Deus, por seu poder transformador, nos faz ter prazer em sua vontade. A mudança em nosso coração nasce da alegre obediência do Senhor Jesus, que tinha prazer em fazer a vontade de Deus porque a lei de Deus estava em seu coração. E agora, em Cristo, a lei de Deus está escrita em nosso coração, e podemos, igualmente, começar a ter prazer nela (veja tb. Hb 10.5-10). É por causa dessas grandes misericórdias que devemos procurar obedecer aos mandamentos, lembrando-nos de que Deus nos amou e nos transformou enquanto ainda éramos seus inimigos.17 Aliás, o desejo de obedecer é a única prova indubitável de que o amamos; como João 14.15 diz: “Se me amardes, obedecereis aos meus mandamentos” (veja tb. Jo 14.21,23,24; 1Jo 5.2,3).18 Essa demonstração de obediência em amor é muito diferente da apatia letárgica e dos sentimentos egocêntricos e piegas que se fazem passar por amor a Deus e que vejo com tanta frequência em minha própria vida. Sempre lutaremos contra nossa natureza pecaminosa, e nossa obediência só será completa no céu, mas o foco de nossa vida deve se evidenciar numa crescente alegria em obediência e submissão. Por vezes, a obediência e a submissão assumem a forma de mudanças exteriores; em outras ocasiões, dizem respeito principalmente a questões do coração: Con o em mim mesma, em minha própria bondade e em meu poder de salvar ou con o somente no Senhor? Sei por experiência própria que é muito mais fácil assumir a forma de obediência exterior, de deixar de fazer algo que não devo. É extremamente difícil, porém, atrelar todos os desejos, todas as esperanças e expectativas de meu coração à promessa de Deus de me amar, e crer que ele quer somente o meu bem. MANDAMENTOS A RESPEITO DA IDOLATRIA
  • 54. Os mandamentos que proíbem a idolatria são um tema tão preponderante nas Escrituras que seria quase impossível destacar todas as suas ocorrências. Permita-me compartilhar, portanto, apenas alguns deles para reforçar em sua mente que, embora esse assunto pareça obscuro, não é. Mandamentos no Antigo Testamento Não vos volteis para ídolos, nem façais deuses de metal para vós. Eu sou o S vosso Deus (Lv 19.4). Não seguirás [...] os deuses dos povos que habitarem ao teu redor... (Dt 6.14). Não haja no meio de ti deus estranho, nem te prostres perante um deus estrangeiro (Sl 81.9). Todos os que adoram imagens, que se gloriam de ídolos, cam envergonhados; prostrai-vos diante dele, todos os deuses (Sl 97.7). Eu, porém, sou o S , teu Deus, desde a terra do Egito; portanto, não conhecerás outro deus além de mim, porque não há salvador senão eu (Os 13.4). Mandamentos no Novo Testamento Então Jesus lhe ordenou: Vai-te, Satanás; pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus adorarás, e só a ele prestarás culto (Mt 4.10). Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for [...] idólatra... (1Co 5.11). ... Não vos enganeis: nem imorais, nem idólatras [...] herdarão o reino de Deus (1Co 6.9,10). Não vos torneis idólatras, como alguns deles... (1Co 10.7). Portanto, meus amados, fugi da idolatria (1Co 10.14). As obras da carne são evidentes, a saber: [...] idolatria... (Gl 5.19,20). Portanto, eliminai vossas inclinações carnais: [...] avareza, que é idolatria (Cl 3.5). Filhinhos, guardai-vos dos ídolos (1Jo 5.21). Está começando a perceber como o tema da idolatria é predominante na Bíblia? Diante disso, é interessante que no âmbito evangélico mais amplo
  • 55. raramente ouçamos falar dele. Claro que, em alguns círculos, especialmente entre os reformados, a idolatria é um assunto comum. Ainda assim, tendo em vista que é a forma de pecado mencionada com mais frequência na Bíblia, não deveria receber mais atenção? Peçamos a Deus que abra nossos olhos para a importância de nossa adoração e nos ensine a voltar nosso amor e nossa devoção inteiramente para ele. Edificando sobre os alicerces dos mandamentos Agora que consideramos a lei, lembremo-nos de três fatos a seu respeito: ela nos conduz à humildade e nos obriga a correr para Jesus; ela nos torna gratos porque Cristo a cumpriu perfeitamente; e ela nos mostra como é a verdadeira gratidão. Deus nos tratou com graça indizível ao nos conceder um coração novo e sensível no qual escreveu sua verdade viva. Sabemos de nossa incapacidade de guardar a lei como meio de salvação, mas também entendemos que o desejo de crescer em obediência faz parte das implicações de sermos lhos que amam a Deus. A esposa de Ló era idólatra, mas sua idolatria não começou quando ela se voltou para olhar para a cidade que amava. Sua idolatria começou quando ela deu mais valor a Sodoma que a Deus, quando seu coração se apegou à vida antiga que ela conhecia e amava. A idolatria provocou sua ruína. A Bíblia nos adverte clara e repetidamente para dedicarmos todo nosso amor e toda nossa devoção a Deus — para nosso bem. Ao prosseguirmos com nosso estudo, podemos ter a certeza de que o Espírito Santo está operando em nós, transformando-nos e levando-nos a ter o desejo de nos tornarmos lhos mais amorosos e obedientes. Peçamos a Deus que ele nos ajude a amá-lo e a acolher sua lei como uma amiga querida e bem-vinda. PARA REFLETIR 1. Escreva os Dez Mandamentos. 2. Qual era sua atitude em relação aos Dez Mandamentos no passado? Qual é sua atitude agora? 3. Recapitule as passagens sobre idolatria nas páginas 63-4. Quais delas
  • 56. falam de modo especí co ao seu coração? O que você aprendeu com a leitura desses versículos? Em que aspectos pode crescer? 4. Em Romanos 8.4, Paulo escreveu: “... para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. De que maneira a exigência da lei se cumpriu em você como crente? Em que sentido esse versículo dá serenidade ou con ança a seu coração? 5. Ao re etir sobre a morte da esposa de Ló, você observa alguma semelhança entre o pecado dela e seu amor pelo mundo? A seu ver, o pecado dela foi idolatria? Por quê? 6. Peça a Deus que o ajude a dar mais valor a seus mandamentos e a entendê-los melhor, especialmente o primeiro. 1Albrecht Peters, Ten Commandments: commentary on Luther’s catechisms (St. Louis: Concordia, 2009), p. 106. 2Os Guinness; John Seel, orgs., No god but God (Chicago: Moody, 1992), p. 206. 3Para uma abordagem do legalismo, veja o Apêndice B. 4Se você não tem certeza se é cristão, consulte agora o Apêndice C: “Como saber se você é cristão”. 5“Desse modo, a lei se tornou nosso guia para nos conduzir a Cristo, a m de que pela fé fôssemos justi cados” (Gl 3.24). 6“Pois, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, é semelhante a um homem que contempla o próprio rosto no espelho; porque ele se contempla, vai embora e logo se esquece de como era. Entretanto, aquele que atenta para a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas praticante zeloso, será abençoado no que zer” (Tg 1.23-25). 7Embora a lei me ajude a enxergar minha pecaminosidade, pela misericórdia de Deus nunca vejo inteiramente o que ele vê. Sou incapaz de entender profundamente o quão pecaminoso é meu coração, embora o vislumbre que a lei me dá de meu coração seja su ciente para realizar o propósito divino. “Porque agora vemos como por um espelho, de modo obscuro, mas depois veremos face a face. Agora conheço em parte, mas depois conhecerei plenamente, assim como também sou plenamente conhecido” (1Co 13.12). Devemos ser gratos a Deus porque não vemos face a face de imediato. Devemos ser gratos porque não enxergamos agora a imagem completa de nossa pecaminosidade, pois, se o zéssemos, é possível que nosso coração se desesperasse. 8Westminster larger catechism , P. 97: De que utilidade especial é a lei moral aos regenerados? R: Embora aqueles regenerados e crentes em Cristo sejam libertos da lei moral, como aliança de obras, [1] de modo que nem são justi cados, [2] nem condenados por ela, [3] além da utilidade geral desta lei comum a eles e a todos os homens é ela de utilidade especial para lhes mostrar quanto devem a Cristo por cumpri-la e sofrer a maldição dela, em lugar e para bem deles, [4] e assim incentivá-los a
  • 57. ter maior gratidão [5] e a manifestar essa gratidão por meio de maior cuidado da sua parte em conformarem-se a esta lei, como regra de obediência. [6] 1) Rm 6.14; 7.4,6; Gl 4.4,5; 2) Rm 3.20; 3) Gl 5.23; Rm 8.1; 4) Rm 7.24-25; 8.3,4; Gl 3.13,14; 5) Lc 1.68,69,74,75; Cl 1.12-14; 6) Rm 7.22; 12.2; Tt 2.11-14 [edição em português: O catecismo maior de Westminster (São Paulo: Cultura Cristã, 2003)]. 9“Pois o que para a lei era impossível, visto que se achava fraca por causa da carne, Deus o fez na carne, condenando o pecado e enviando o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado e como sacrifício pelo pecado, para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.3,4). 10Martin Luther, “e small Catechism”, in: e book of concord: e confessions of the Lutheran Church, acesso em: 15 set. 2015, disponível em: http://bookofconcord.org/smallcatechism.php. 11“...o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). 12Considero importante fazer distinção entre a lei moral (contida nos Dez Mandamentos), a lei cerimonial (usada no culto no templo) e a lei civil (redigida para a nação de Israel). 13Ernest C. Reisinger, Whatever happened to the Ten Commandments? (Carlisle: Banner of Truth Trust, 1993), p. 13. 14Em seu relato sobre a lei, Moisés escreveu novamente: “O S me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus, e nelas estavam escritas todas as palavras que o S havia falado convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia” (Dt 9.10). 15O fato de Deus ter escrito a lei com sua própria mão não é incentivo su ciente para que a guardemos? 16É interessante observar que o ato divino de escrever a lei em nosso coração de carne resultará em adoração sincera: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o S: Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jr 31.33). “Então aspergirei água pura sobre vós, e careis puri cados; eu vos puri carei de todas as vossas impurezas e de todos os vossos ídolos. Também vos farei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós; tirarei de vós o coração de pedra e vos farei um coração de carne” (Ez 36.25,26). 17“Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10). 18Observe como a expressão “os que o amam e obedecem aos seus mandamentos” é reiterada em Dt 7.9 e em Daniel 9.4 (veja tb. Deuteronômio 10.12,13 e 2Jo 1.6). O Senhor declarou que os verdadeiros membros de sua família eram aqueles que faziam a vontade de seu Pai: “Pois quem zer a vontade de meu Pai que está no céu, este é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12.50). E também: “Vós sois meus amigos, se zerdes o que vos mando” (Jo 15.14).
  • 58. 4 AQUELE QUE TRANSFORMA O CORAÇÃO Se Deus não me desse um coração para amá-lo, eu preferia jamais ter coração.1 A vida nas ruas de Naim era difícil. Como prostituta, o estilo de vida que outrora ela havia adotado com raiva, desespero e rebeldia, tinha se tornado servidão e amargura. Sua vida era vazia e inútil, e o futuro parecia reservar apenas vergonha e ódio cético. Embora ela conhecesse atos de “amor”, seu coração nunca havia experimentado amor verdadeiro, amor que a cativasse com sua pureza. Juntamente com o desespero, crescia dentro dela a consciência incômoda da inutilidade de sua vida. Começava a entender que suas escolhas nunca traziam liberdade nem prazer; em vez disso, era oprimida por uma sensação de culpa e de tragédia iminente. Ninguém precisava lhe dizer que estava condenada... Satanás não lhe deixava esquecer por um momento sequer. Coisas que antes haviam sido fonte de prazer — o poder sobre os homens, o orgulho de ser diferente de outras mulheres e a segurança de ouvir moedas tinindo no bolso — agora lhe pareciam tolas, sem sentindo, fúteis. No mais recôndito de seu ser, ela percebia uma mudança misteriosa. Começava a brotar a ideia de que havia esperança até mesmo para ela. Talvez existisse um Deus que a perdoaria. Gradativamente, notou um anseio por amar e conhecer o Deus a respeito do qual tinha ouvido falar a vida toda, o Deus de Israel. Ao olhar para a planície do Carmelo e ver à distância os montes de Nazaré, ela se lembrou das histórias que tinha ouvido a respeito de certo nazareno chamado Jesus. Ele havia ressuscitado o filho da viúva aflita e dito: “... Não chores” (Lc 7 .13). Não chores. Será que ele diria essas mesmas palavras para ela? Ele poderia mudar sua vida também? Ou será que ela estava tão perdida que não havia mais esperança de perdão? Das sombras, ela o observou interagir com pessoas comuns e notou que ele as acolhia e as ensinava com terna sabedoria. E quando o viu com os líderes religiosos, entendeu que ele não era igual a eles. Sem dúvida, ele amava a lei e lhe obedecia, mas era humilde e manso. Ele parecia tão diferente de todos os outros homens que ela já havia visto. O desejo de conhecê-lo começou a tomar conta dela. Alguns diziam que ele era o Messias. Ela o viu fazer amizade com pecadores e comer com eles... O Messias faria uma coisa dessas? Será