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COMUNICAÇÃO DIGITAL
                               VISÕES, CONTEXTOS E PROPOSTAS

                                           ANDRE DEAK

                       documento do eixo fórum de cultura digital brasileira

                              Fórum da CulturaDigital Brasileira

                                        CulturaDigital.br




                “a tecnologia é a sociedade e a sociedade não pode ser entendida
                       ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”
                                            (Castells)


 The fundamental elements of the difference between the networked information economy and the
 mass media are network architecture and the cost of becoming a speaker. The first element is the
   shift from a hub-and-spoke architecture with unidirectional links to the end points in the mass
     media, to distributed architecture with multidirectional connections among all nodes in the
  networked information environment. The second is the practical elimination of communications
costs as a barrier to speaking across associational boundaries. Together, these characteristics have
     fundamentally altered the capacity of individuals, acting alone or with others, to be active
    participants in the public sphere as opposed to its passive readers, listeners, or viewers. For
 authoritarian countries, this means that it is harder and more costly, though not perhaps entirely
           impossible, to both be networked and maintain control over their public spheres

                                         (Yochai Benkler)




                                          janeiro de 2010

                                                                                                   1
SUMÁRIO



1. Prefácio.................................................................................................................. 03
2. Breve introdução à delimitação do campo da comunicação digital...................... 04
3. Dados preliminares sobre a comunicação digital no Brasil...................................12
4. Recorte do campo.................................................................................................. 14
5. Diagnósticos.......................................................................................................... 15
6. Indicações e propostas preliminares...................................................................... 20
7. Propostas da Conferência Livre de Comunicação e Cultura................................. 24
8. Pré-plenária do eixo de comunicação realizada na ABCiber 2009........................29
9. Relato da Plenária de Comunicação...................................................................... 32



ANEXOS


Digital versus Analógico - Definições básicas.......................................................... 34


Breves entrevistas sobre campo da comunicação digital,
atores, diagnósticos e propostas
                          Beth Saad........................................................................................ 35
                          Sabrina Nudeliman......................................................................... 37
                          Eugênio Bucci................................................................................ 37
                          Eduardo Tessler.............................................................................. 38
                          Daniela Osvald Ramos................................................................... 39
                          Renato Rovai.................................................................................. 40
                          Ana Brambilla................................................................................ 41

Mapeamento das discussões de comunicação digital na plataforma.......................... 42
Extratos da rede.......................................................................................................... 49
Debate sobre a Carta de Princípios sobre Liberdade na Rede................................... 50
Petição online em defesa da liberdade e do progresso do
conhecimento na internet brasileira (com mais de 150 mil assinaturas).................... 54




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1. Prefácio

O texto a seguir é resultado dos diversos debates e pesquisas realizados no âmbito do eixo de
Comunicação Digital, do Fórum de Cultura Digital Brasileira. Foi contruído com base nas
discussões realizadas na plataforma do Fórum (www.culturadigital.br), além de entrevistas,
pesquisa bibliográfica e reuniões presenciais.

Uma prévia deste trabalho foi apresentada durante as plenárias do Fórum de Cultura Digital
Brasileira, entre os dias 18 e 21 de novembro de 2009. O resultado das conversas foi reprocessado
com base na plenária de Comunicação e na mesa que discutiu o tema, e depois ainda publicado na
plataforma online para receber contribuições diversas.

O resultado de todas essas conversas está apresentado abaixo. A ideia, no entanto, é que este
documento seja parte de uma discussão constante, em construção permanente.


Organizamos o documento em três partes principais:

   – Introdução ao campo e recorte da abordagem
   – Diagnósticos
   – Propostas para públicas públicas


A metodologia é resultado de reuniões entre os coordenadores dos eixos, organizadores do Fórum,
integrantes do Ministério da Cultura e da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).


Boa leitura.




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2. Breve introdução à delimitação do campo da comunicação digital

A comunicação como campo de estudos é recente, e mais ainda a inserção destas discussões em um
ambiente de redes digitais de alta velocidade. Difrente de outros campos, como a matemática, ou a
biologia, os estudos comunicacionais ainda estão em fase de desenvolvimento e bebem, de muitas
maneiras, nas metodologias e nos resultados desenvolvidos em outras áreas.

Se a comunicação é uma área “jovem”, o recorte da comunicação digital é ainda mais recente.
Mesmo entre acadêmicos, não há consenso e nenhuma definição foi, ainda, adotada largamente.
Comunicação digital, portanto, ainda é e pode ser entendida de várias maneiras. A primeira delas,
mais convencional, e talvez mais básica, é a de que a comunicação digital é aquela oposta à
analógica. Este é o entendimento da digitalização da comunicação como um processo técnico de
transformação dos átomos em bits. Tudo o que circula em bits, portanto, faz parte do digital.

Muitos afirmam, entretanto, que não se trata disso – ou pelo menos não apenas isso.

A transformação causada pela digitalização da comunicação em seus vários níveis – especialmente
pela comunicação feita com computadores e redes de alta velocidade – aponta para uma
transformação em várias áreas do conhecimento. Um dos modelos pelo qual a comunicação era
entendida em larga escala era o modelo de broadcasting – a comunicação feita de um para muitos.
O novo modelo que se configura a partir das redes digitais é o de um para um, em coexistência com
o modelo de um para muitos, mas também o de muitos para muitos (Crosbie, V. 2002. What is New
Media?).

Os mais entusiatas chamam este processo de revolução, entendendo que essas mudanças serão
capazes de resignificar relações sociais, alterar relações de poder e, até mesmo, provocar o
surgimento de uma nova sociedade. As próprias teorias da comunicação são questionadas em vista
da digitalização – teorias que surgiram antes da internet e que não poderiam, hoje, explicar um
mundo de computação ubíqua e convergente. Mas tudo isso ainda é uma discussão em aberto, um
campo em disputa.

Uma das interpretações mais comuns entre acadêmicos (ver entrevistas anexas) é que o campo da
comunicação vai sendo, gradativamente, transformado no campo da comunicação digital. Mesmo
produtos físicos, como o jornal, ou a música, passam, durante algum processo, por meios digitais. E
mesmo comunicações que, aparentemente, estão totalmente fora de um processo digital – como
uma conversa, por exemplo –, começam, terminam, ou continuam, através de processos digitais,
como um celular ou um email, ou tratam de assuntos e informações que só vieram à tona por conta
de algum processo digital.

Sendo assim, tudo o que diga respeito à comunicação diz respeito também à comunicação digital
em última instância. Seja porque já é afetada por ela, seja porque é um espaço de crescimento
potencial para o digital, um mercado onde ele quer chegar, uma estrutura de poder que pode ser
transformada. O campo da comunicação digital, se ainda não é, será o campo de toda a
comunicação humana.

Comunicação como direito
Outro pressuposto deste documento, também, é o de que a garantia da liberdade de expressão, do
direito à comunicação e à informação é, também, a garantia das liberdades criativas. A produção
cultural é afetada quando a comunicação é prejudicada de qualquer forma, ou quando a formação e
a informação são sonegadas.


                                                                                                    4
A garantia dessas liberdades e desses direitos depende de iniciativas transversais. Assim, este
documento traz alguns dos debates que estão presentes também em outros eixos, e até mesmo
relacionados a outras áreas do governo que não apenas o Ministério da Cultura (mas Educação,
Comunicações e Ciência e Tecnologia). Todas estas discussões são transversais ao eixo de
comunicação digital.

2.1 Jornalistas e jornalismo: um breve panorama da situação
Um dos enfoques dos debates sobre comunicação digital foi o jornalismo e as alterações sofridas na
profissão nos últimos anos. Abaixo, recuperamos algumas das discussões atuais sobre o assunto.

O que define atualmente alguém como sendo um jornalista? A pergunta talvez não fizesse sentido
há alguns anos: jornalista é quem faz jornalismo, e jornalismo era feito em redações de jornal, de
rádio, de televisão e de revistas. Mas até mesmo o formato do livro foi utilizado para grandes
reportagens, especialmente depois do que veio a ser chamado de new journalism - hoje não mais tão
new assim.

No Brasil, especificamente, a questão sobre quem é jornalista estava mais ou menos esclarecida até
junho de 2009, quando ainda podia ser respondida de maneira simples: jornalista é aquele que tem
diploma de jornalista, após ter estudado durante quatro anos numa faculdade e passado nos exames.
Ainda assim, as redações brasileiras sempre empregaram jornalistas que nunca tiveram diploma,
especialmente aqueles que praticavam jornalismo antes mesmo da existência das faculdades (a
primeira do país foi a Cásper Líbero, de 1947). Estudantes de jornalismo - sem diploma ainda,
portanto - também, como norma, trabalham nas redações realizando as mesmas funções dos
jornalistas, recebendo salários de estagiários, mas sendo cobrados como repórteres. Mas o diploma
deixou de ser definitivo para a questão quando o o Supremo Tribunal Federal decretou que ele não é
mais necessário para executar a função. O Brasil, assim, soma-se aos EUA, ou Argentina, e a
dezenas de outros países onde o diploma não é necessário. Portugal, por exemplo, em seu Estatuto
do Jornalista, determina:


Artigo 1º – Definição de jornalista
São considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada,
exercem funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões,
através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência
noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica.


Definir que aqueles que trabalham com fatos, notícias e opiniões, portanto, são jornalistas, é uma
das maneiras de encontrar um padrão e uma definição para esta categoria profissional. Mas como
determinar quais fatos, notícias e opiniões estão dentro do campo (Bourdieu) do jornalismo? O que
é a notícia, afinal? O que é, aliás, o próprio jornalismo? A literatura especializada tem uma série de
respostas a esta questão. Alexandre Freire, em artigo no Observatório da Imprensa, resume:

"tomando por base a referida literatura, é possível afirmar que as definições de jornalismo se
articulam em torno da idéia de verdade. Jornalismo seria então uma prática social mediadora
entre os eventos que ocorrem no nosso dia-a-dia, no mundo, e o público, que tem deles uma leitura,
um entendimento, a partir dos fatos divulgados pela imprensa. Tais fatos representariam a verdade,
na medida em que estabeleceriam um nexo entre as palavras e as coisas. Fato, convém lembrar, é o


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produto, de natureza simbólica, que surge a partir da intervenção do jornalista no mundo. É o
recorte que é apresentado pela consciência do sujeito cognoscente no seu diálogo com o objeto em
foco.
Livros e manuais de jornalismo, contudo, estão distantes de um consenso sobre a relação desse
com o conceito de verdade. Ideologia, narrativa, discurso, interpretação, representação,
manipulação, produto - são, todas, expressões interpostas entre os fenômenos que se desenrolam à
nossa volta e o relato proposto pela prática jornalística. Todas são expressões que modulam o
sentido da idéia de verdade, aludindo desde à parcialidade do texto jornalístico, como
manifestação ideológica, até a sua completa negação, como manipulação."

A idéia de jornalismo sempre esteve conectada com a de imprensa. Jornalismo sempre foi praticado
e apresentado ao público pela imprensa - seja ela TV, rádio ou impressos. No momento em que os
meios de produção da informação eram escassos, poucas pessoas ou empresas podiam distribuir
fatos. Quando o custo para distribuir informação passa a ser praticamente zero, o jornalismo pode
finalmente desvincular-se da imprensa. Ou melhor: todos podem ser, de alguma forma, a imprensa.
John Carlin, em reportagem do El País, publica uma entrevista que descreve a situação atual a partir
do viés de Spencer Reiss, "que abandonó Newsweek a mitad de los noventa para incorporarse a la
primera gran revista de la ciberépoca, Wired". Reiss é um dos entusiastas, parte do grupo que
qualifica o momento atual como "revolução digital" – e a defende:

"El plan A es publicar un diario por el método tradicional, por ejemplo en Madrid, lo cual implica
cortar árboles en Escandinavia, procesar la madera para convertirla en papel, transportar el papel
en barco a un puerto y después en camión a la capital. Ahí tienes un caro inmueble en el que
trabaja tu extensa y costosa redacción y operan tus máquinas de impresión, con sus costosos
operarios. Y todavía te queda la fase final de transportar el producto impreso a los extensos y
dispersos punto de venta. El plan B es un tipo con un ordenador que aprieta unas teclas y envía el
mismo producto a las pantallas de un número ilimitado de consumidores. ¿Quién gana?".

Carlin, autor da reportagem que entrevista diversos pesquisadores e editores, dividiu em três grupos
de opiniões os ânimos sobre essa questão:

En líneas generales hay tres corrientes de opinión: los blogueros (por así llamarlos), convencidos
de que el periódico como lo hemos conocido durante 200 años y el ancien régime del periodismo
empresarial están condenados a la extinción; los viejos rockeros, defensores del antiguo orden, que
creen que tras una época de inevitables ajustes y transformación, los grandes buques insignia no
sólo sobrevivirán, sino que emergerán fortalecidos; y los de mentes abiertas (o confusas) que
observan el espectáculo con honesta perplejidad y (...) no saben muy bien qué conclusiones sacar.

Clay Shirky, autor de Here Comes Everybody, sobre as mudanças culturais que chegam junto com
as novas tecnologias, é outro dos grandes entusiastas do mundo digital: para ele, os jornalistas
podem inclusive deixar de existir, uma vez que todos, agora, são capazes de realizar o que antes era
exclusivo destes profissionais. Ele compara os jornalistas com os escribas, que eram indispensáveis
no início do século 1400, mas tornaram-se obsoletos com a prensa de Gutemberg, ao final do século
– quando ficou muito mais simples gravar o conhecimento humano em papel. "If everyone can do
something, it is no longer rare enough to pay for, even if its vital".

"a professional class implies a specialized function, minimun tests for competence and a minority of
members. None of those exist with political weblogs, photo-sharing or a host of other self-
publication tools".


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Existem também alguns que repudiam totalmente a produção dos cidadãos-repórteres (termo
difundido pela experiência do jornal sul-coreano OhMyNews). Exemplo desta vertente é Andrew
Keen, que escreveu O Culto do Amador - Como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão
destruindo nossa economia, cultura e valores. Para ele, é um terror o fato de que “A Wikipedia de
Jimmy Wales, com seus milhões de editores amadores e conteúdo não confiável, é o 17º site mais
acessado da internet; Britannica.com, com seus 100 ganhadores do Prêmio Nobel e 4 mil
colaboradores especialistas, está em 5.128º lugar”.


“A responsabilidade de um jornalista é informar, não conversar conosco. […] Na Blogosfera,
publicar nosso próprio “jornalismo” é grátis, não exige esforço e está a salvo de restrições éticas
irritantes e conselhos editoriais importunos”.
[N.A. acrescentar parágrafos: Uma análise mais detalhada sobre os argumentos de Keen, no
entanto, mostra o quanto está equivocado. Ele mesmo, mais tarde, afirmou que teria exagerado em
muitas coisas]


Manuel Carlos Chaparro, professor e membro do comitê do Ministério da Educação que investigou
novas diretrizes para o currículo dos cursos de jornalismo, participou de várias discussões públicas
sobre o assunto. Para ele, ao contrário do que muitos pensam, a profissão sai fortalecida.


"Associamos jornalismo a jornal, a redações organizadas, mas cada vez mais o jornalismo é um
fenômeno abstrato. É algo espalhado pela sociedade. Isso elimina o jornalismo? Não, claro que
não. Ele ganha força. Porque é quando a informação passa pelo jornalismo, por seus critérios, é
que ganha credibilidade. Na faculdade se aprende a construir uma linguagem da credibilidade.
Mas muita gente usa a linguagem do jornalismo hoje. A linguagem precisa ser preservada, mas os
jornalistas também. Nada do que ocorre hoje vai contra a profissão ou contra a atividade, pelo
contrário. Antigamente os políticos iam até a praça pública – lá era o espaço público. Agora ainda
vão, mas apenas como palco para o jornalismo. O jornalismo tornou-se o grande espaço público –
não a mídia, mas o jornalismo. Porque ninguém se importa em aparecer na Ana Maria Braga, mas
querem aparecer no jornal das oito. Porque lá está a credibilidade."


O fim do jornalista e mesmo do próprio jornalismo, entretanto, não estão em discussão aqui. Estes
são apenas alguns exemplos dos discursos mais contundentes sobre o assunto, que situam a
amplitude do debate desencadeado desde o surgimento da internet e das mais recentes evoluções da
web. Independente do que irá ocorrer, fato é que algumas transformações já ocorrem. Os
pesquisadores espanhóis Javier Díaz Noci e Ramón Salaverría resumem:


“La incorporación de la tecnologia digital está modificando los procesos tradicionales de
investigación, elaboración y difusión de los mensajes periodísticos y, de hecho, hasta la propia
barrera entre periodista y publico, entre emisor y receptor, se difumina. La tecnología digital, en
fin, há llegado para transfigurar aspectos esenciales de la profesión periodística.”


Os exemplos dessas modificações são muitos. Muitos autores – como Clay Shirky, mas também
Henry Jenkins (Cultura da Convergência) e Steven Johnson (Cultura da Interface), relatam como as

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pessoas passaram a usar a rede digital para organizar as mais diversas ações, como grupos que
investigam onde ocorrerá o próximo Survivor e quem será o vencedor (Jenkins) ou mesmo
desvendam crimes reais, como o roubo de um celular (Shirky).

Em muitos casos, essa produção informativa, inclusive no método de apuração utilizado, é
exatamente a mesma da investigação utilizada pelo jornalismo na construção da reportagem. Às
vezes, inclusive melhor. Por exemplo, quando não se trata de uma investigação extensa, mas da
avaliação crítica de produtos ou serviços, quando um blogueiro avalia produtos ou serviços, mas
não se identifica como tal (ao contrário do que fazem jornalistas que viajam a convite para avaliar
serviços hoteleiros, por exemplo – o que aumenta, sem dúvida, o grau de dúvida sobre a isenção da
avaliação). E até nos casos de reportagens investigativas há quem diga que o leitor sempre poderá
fazer um trabalho melhor do que o do jornalista. “Parto do pressuposto que meus leitores sabem
mais do que eu: eles são em maior número – eu sou um só”, diz a frase já célebre de Dan Gillmor
em We the Media.


A participação do público na produção de notícias e de outros conteúdos informativos cresce. A
imprensa não é mais a única capaz de publicar; os jornalistas não são mais os únicos capazes de
realizar jornalismo. Se a participação do público apenas modifica ou extingue a função do
jornalista, o tempo dirá – e, como já vimos, há defesas das duas teorias. Os produtos jornalísticos,
como o jornal, também sofrem modificações. O editor da revista Amanhã, Eugenio Esber, fala num
processo de “arrevistamento”, ou seja, jornais tratando a informação mais como revistas,
especialmente as semanais. O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e o New York Times já
lançaram assinaturas exclusivas para quem quer ler apenas os jornais do final de semana.


Será que precisamos imprimir jornais todos os dias? Sábado e domingo, por exemplo? Se o jornal
vai ser mais analítico, precisa ter ênfase na reportagem. Matérias curtas, com uma fonte só,
geralmente oficial, ou releases, isso tudo está na internet. No jornal de 2011 não vejo nenhum
release.


Ele não é o único. No livro O Destino do Jornal, de Lourival Sant'Anna, vários depoimentos de
editores de jornais brasileiros seguem na mesma linha. Sandro Vaia, diretor de redação de O Estado
de S. Paulo, diz a ele:


“O jornal de hardnews desaparece, e passa a ser um jornal de análise, de comentário, para quem
quer saber mais, para quem quer se aprofundar na informação. […] Os jornais têm de se
conscientizar de que não podem ficar repetindo, no dia seguinte, aquilo que todo mundo já sabe.”


Não há, ainda, nenhum estudo ou pesquisa - ou mesmo experiência de mercado - que garanta a
existência e o sucesso comercial dos jornais como ocorreu nos últimos 100 anos (o império
midiático de William Randolph Hearst foi fundado em 1887). Os números, inclusive, mostram uma
decadência generalizada, sendo o mercado brasileiro uma das poucas excessões (Sant'Anna). Os
profissionais e pesquisadores apontam algumas probabilidades, como sugere o doutorando e
professor de jornalismo Marcelo Träsel, em comentário sobre a reportagem do El País:

As redações serão enxutas e formadas por editores, cuja principal tarefa será gerenciar o fluxo de
informações vindas dos quatro cantos do mundo, organizar a edição impressa e as capas da edição

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digital do jornal.


O ex-editor chefe do Estadão Online, Marco Chiaretti, também avalia que isso deverá ocorrer. Em
palestra ministrada para a Revista Cult, disse que o jornalismo online começa com um pensamento
simples dos donos dos veículos: "se estamos ganhando 1 distribuindo as notícias em mídias
tradicionais, talvez possamos ganhar 1.2 distribuindo também online, mas sem gastar mais 0.2 para
isso. Bastaria “otimizar” e “integrar”. Tempos depois, o custo de operação do online aumentou
(agora todos precisam ter vídeos, áudios, infografias, etc.), enquanto a publicidade não transferiu
ainda para a rede os investimentos que faz nos meios tradicionais. Estaríamos, segundo ele, num
momento de transição em que, finalmente, teremos o jornal funcionando prioritariamente no online.
Citou o Die Zeit alemão, jornal semanal, como exemplo do que poderá se tornar o jornal impresso.
E prevê ainda que a reportagem - item mais caro do jornalismo - deve diminuir cada vez mais
dentro das redações, o que já ocorre, aliás.


O jornalista passaria a ter como função, portanto, a edição do fluxo de informações, muito mais do
que a própria produção delas. Uma das funções passa a ser a de arquiteto da informação. Segundo a
pesquisadora Elizabeth Saad:


Richard Saul Wurman, um arquiteto americano que ao longo de sua carreira passou da concepção
de formas para a concepção de conteúdos formatados, propõe esse novo verbete: Arquiteto da
Informação. sm. 1) O indivíduo que organiza padrões inerentes a dados, esclarecendo
complexidades. 2) Uma pessoa que cria estruturas ou mapeia informações que possibilitam a
busca de caminhos individuais de conhecimento. 3) o profissional emergente do século 21, voltado
para as necessidades de sua era, buscando clareza, conhecimento humano e a ciência da
organização de informações.


Esta ampla definição passou a ser utilizada por aqueles que trabalham nas intersecções entre
tecnologia, design e jornalismo (Agner). No caso dos jornalistas, mesmo aqueles que realizam
justamente a arquitetura de páginas de notícias ou desenham a arquitetura das reportagens
interativas publicadas em sites ainda não se autodenominam arquitetos da informação. Mas as
tarefas realizadas por eles se encaixariam perfeitamente na definição. Conforme Beth Saad:


A era da informação eletrônica nos coloca diante de um meio que possibilita (e quase que nos
obriga) a disponibilização de uma informação que, para ser adequadamente compreendida e
absorvida, vem configurada com dimensão, profundidade e amplitude. Essa informação não é
apenas, mas também é texto (ou hipertexto), são gráficos (ou infográficos), são ícones (ou links),
imagens (animações), sons (real audio), ou tudo isso junto. O que se procura demonstrar que o
produto informativo, desde a sua concepção, tem forma, conteúdo e contexto, destinados a
satisfazer um determinado conjuntode expectativas, expressas em papel, numa interface eletrônica
ou numa exposição de arte. Esse processo é fruto de uma atividade típica desse novoprofissional do
século 21, seja ele o próprio arquiteto, ou um designer, um jornalista ou um editor, um webmaster,
um artista gráfico, um produtor de CD-ROM, um engenheiro, um educador, pesquisadores em
geral, ou quem se queira.

O texto, de 1999 - escrito há mais de uma década, portanto - fala ainda em CD-ROM, na época o
expoente de algumas experiências multimídia interativas. Atualmente, todas as possibilidades do

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CD-ROM estão online, e ampliadas, inclusive. Alguns jornalistas, hoje, realizam a apuração,
produzem material em texto, foto, áudio e vídeo, além de infográficos, desenham a plataforma onde
a reportagem será apresentada e, por fim, constroem a própria plataforma, utilizando linguagens de
programação. A depender do modelo de reportagem, se possibilitar interações do usuário (desde
comentários até colaboração, nos mais diversos níveis), o jornalista ainda terá que mediar a relação
com o público. Beth Saad também fala sobre esta função: "Pensando na evolução do tema
transformação do papel do jornalista, podemos ampliar sua atuação na sociedade digital para
algo mais fundamental, que é funcionar como elo entre opiniões, pessoas, grupos, comunidades,
etc."

O trabalho de muitos jornalistas não é mais, portanto, o que foi um dia. Os editores, que contratam
repórteres, são quase unânimes na opinião de que o profissional que oferecer mais técnicas
multimídia terá mais chance de trabalho. Uma boa síntese é o que apresentou o professor e
blogueiro José Luis Orihuela, da Universidade de Navarra, no III Congreso Internacional de
Periodismo en La Red, que aconteceu na Universidad Complutense de Madri em 2008: uma lista de
competências que o jornalista – de qualquer meio – deveria ter na era digital:
Buscar, selecionar e misturar, otimizar e produzir informações novas, em áudio, vídeo, foto e texto,
e de forma integrada;
Desenhar: saber explicar visualmente a organização da informação, bem como a arquitetura de
um meio digital para distintas audiências e plataformas;
Expor e argumentar em público sobre suas idéias;
Refinar a informação, e aqui está um diferencial, pois este ponto determinará o valor da
informação, e se as pessoas vão pagar por ela ou não;
Representar a informação de forma visual, pois é a forma mais eficaz de comunicação de nossas
idéias com outras áreas de conhecimento, como programação e design;
Mudar sempre, redefinir e repensar nossa identidade profissional muitas vezes na vida;
Empreender, pois o horizonte do estudante era conseguir um emprego, e agora há muito mais
empreendedorismo do que antes; levar a sério a formação empresarial da nossa profissão;
Inovar, e passar sempre do discurso para a ação.
Competências essenciais
Ler, no sentido amplo. Aprender a decodificar a informação a partir de ligações e links;
Pensar de forma nova os novos paradigmas;
Escrever, no sentido amplo também, em várias plataformas, texto, áudio, vídeo, textos flutuantes,
hipertextos, escrita em cooperação;
Comunicar, a base da profissão, de forma eficaz e em diversas plataformas;
Aprender a aprender, de forma autônoma e independente, durante toda a vida. A formação do
jornalista será sempre permanente.

Alberto Cairo, um dos maiores especialistas em infografias, também aponta que, hoje, um jornalista
precisa "conhecer as tecnologias e softwares que compõem o processo noticioso digital, não no
nível de especialista, mas sim o necessário para saber quais as possibilidade e limitações de cada
tecnologia. (...) O mundo hoje é informatizado, portanto, o jornalista precisa entender de tecnologia
para compreender o mundo ao seu redor. Afinal, é desse mesmo mundo que ele tira a substância


                                                                                                    10
para o seu trabalho diário”.

Fernanda Abras e Pedro Penido, em paper apresentado para o Intercom, destacam o papel do
jornalista não mais como porteiro (gatekeeping), mas como vigia (gatewatching) da produção de
conteúdo gerado pela rede.

Na terceira geração do jornalismo na Internet (fase hipermidiática), o pensamento massivo é
abandonado, dando lugar ao pensamento interacional. Por isso, os conceitos clássicos começam a
ser questionados. Primo & Träsel usam o neologismo gatewatching, criado por Bruns, em oposição
à noção de gatekeeping presente nos meios de comunicação de massa: Devido à quantidade de
informação circulando nas redes telemáticas, cria-se a necessidade de avaliá-la, mais do que
descartá-la. Não é mais preciso rejeitar notícias devido à falta de espaço, porque pode-se publicá-
las todas. Nota-se um deslocamento da coleta de informação para a seleção da mesma. Assume-se
um papel semelhante ao de um bibliotecário. É claro que alguém ainda precisa entrevistar as
fontes e analisar dados, e a maioria dos profissionais que lidam com o webjornalismo acabam por
assumir ambos os papéis. Este novo jornalista, que combina repórter e bibliotecário, é o
gatewatcher. Do porteiro, passa-se ao vigia 2.0

A tecnologia sempre transforma, minimamente que seja, qualquer profissão. Algumas são mais
radicalmente afetadas, outras alteram apenas a técnica. O jornalismo vê a tecnologia operar
transformações em todos os níveis da profissão, com alguns temendo – e outros comemorando –
inclusive a chance de sua própria extinção. Gay Talese, em entrevista em vídeo ao jornal O Estado
de S. Paulo, disse que os jornais ainda são instituições onde, talvez, existam menos mentirosos por
metro quadrado. Ele estava, assim como o professor Chaparro, defendendo que a credibilidade dos
jornalistas ainda é necessária, e ainda é maior do que a da maioria dos outros agentes que propagam
informações. Enquanto a balança da credibilidade pender para o lado dos jornalistas – sejam eles
quem forem –, o jornalismo ainda será visto como uma necessidade pela sociedade. Seja lá como, e
por quem, ele seja realizado.




                                                                                                 11
3. Dados preliminares sobre a comunicação digital no Brasil*

O país tem 64,8 milhões de internautas segundo o Ibope Nielsen Online em julho de 2009[1], um
aumento de 2,5 milhões de pessoas em relação ao mês anterior[2]. Em junho de 2008, o
Ibope/NetRatings contabilizava 41,5 milhões[3], mas não contabilizava os acessos públicos (LAN
houses, bibliotecas, escolas e telecentros), que agora passou a somar aos acessos do trabalho e de
casa. O Brasil é o 5º país com o maior número de conexões à Internet[4].
Nas áreas urbanas, 44% da população está conectada à internet[5]. 97% das empresas[6] e 23,8%
dos domicílios brasileiros estão conectados à internet[7].

3.1 Internautas ativos
27,5 milhões acessam regularmente a Internet de casa, número que sobe para 36,4 milhões se
considerados também os acesso do trabalho (jul/2009)[8]. 38% das pessoas acessam à web
diariamente; 10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana; 18%
uma vez por semana. Somando, 87% dos internautas brasileiros entram na internet
semanalmente[2].
Segundo Alexandre Sanches Magalhães, gerente de análise do Ibope//NetRatings, o ritmo de
crescimento da internet brasileira é intenso. A entrada da classe C para o clube dos internautas deve
continuar a manter esse mesmo compasso forte de aumento no número de usuários residenciais.[9].




3.2 Tempo de navegação

Desde que esta métrica foi criada, o Brasil sempre obteve excelentes marcas, estando
constantemente na liderança mundial. Em julho de 2009, o tempo foi de 48 horas e 26 minutos,
considerando apenas a navegação em sites. O tempo sobe para 71h30m se considerar o uso de
aplicativos on-line (MSN, Emule, Torrent, Skype etc)[10].

3.3 Tempo em comunidades online**
Em geral, no mundo, as pessoas passam 10% do tempo que estão online em comunidades sociais.
No Brasil, elas passam quase 25% do tempo em comunidades – quase 1/4 do tempo em que estão
online, estão no Orkut, no Twitter ou Facebook.



                                                                                                   12
3.4 Comércio eletrônico
No primeiro semestre de 2008, as compras on-line somaram R$ 3,8 bilhões (45% mais do que igual
período de 2007)[11]. O ano fechou em R$ 8,2 bilhões (crescimento de 30% na comparação com
2007). A previsão para o primeiro semestre de 2009 era de R$ 4,5 bilhões[12], mas, mesmo com
crise, o faturamento foi de R$ 4,8 bilhões, 27% a mais em relação ao mesmo período de 2008. O
valor médio das compras é de 323 reais[13]. A previsão é que o ano feche em R$ 10,6 bilhões.

3.5 Publicidade on-line
A internet se tornou o terceiro veículo de maior alcance no Brasil, atrás apenas de rádio e TV[14].
87% dos internautas utilizam a rede para pesquisar produtos e serviços[15]. Antes de comprar, 90%
dos consumidores ouvem sugestões de pessoas conhecidas, enquanto 70% confiam em opiniões
expressas online[16].

3.6 Venda de Computadores
São 60 milhões de computadores em uso, segundo a FGV, devendo chegar a 100 milhões em
2012[17]. 95% das empresas brasileiras possuem computador[18].

3.7 Banda larga
Atingimos 10,04 milhões de conexões em junho de 2008: um ano e meio antes do previsto, já que
essa era a projeção para 2010[19]. O último dado, do primeiro semetre de 2009, aponta quase 11
milhões de conexões. Somando as conexões móveis (3G), chega-se a 13 milhões. A previsão é de
15 milhões em 2010[***]. Quanto ao volume de dados, o incremento foi de 56 vezes de 2002 até
2007. E a projeção é de um aumento de 8 vezes até 2012[20]; o número de conexões móveis
cresceu de 233 mil para 1,31 milhão em um ano[21]; Sistemas gratuitos de banda larga sem fio
(Wi-Fi) funcionam nas orlas de Copacabana, Leme, Ipanema e Leblon, nos Morros Santa Marta[22]
e Cidade de Deus[23] e na Praça Roberto Silveira, em Duque de Caxias[24]. Estão nos planos: São
João de Meriti, Belford Roxo, Mesquita, Nova Iguaçu, Nilópolis, Rocinha, Pavão-Pavãozinho,
Cantagalo e 58 km da Avenida Brasil[25], todos no Rio de Janeiro.


3.8 No Mundo
O número de usuários de computador vai dobrar até 2012, chegando a 2 bilhões. A cada dia, 500
mil pessoas entram pela primeira vez na Internet[26], a cada minuto são disponibilizadas 20
horas de vídeo no YouTube[27] e cada segundo um novo blog é criado[28]. Em 1982 havia 315
sites na Internet[29]. Hoje existem 174 milhões[30].



*Dados retirados do site Estatísticas sobre a internet no Brasil (atualizado em 23 de outubro de
2009); todos os dados tem links de referência para as notícias que serviram de fonte.

**Dados de apresentação feita por Jonathan Carson, presidente do International Ibope/Nielsen
Online

***Apresentação Barômetro Cisco



                                                                                                   13
4. Recorte do campo

A proposta inicial do Ministério da Cultura para as discussões sobre comunicação digital passa
pelos seguintes eixos:

- a linguagem (códigos, sejam eles de programação ou línguas)

Preservação da língua portuguesa e o incentivo à produção de conteúdos no ambiente da
cibercultura;

- Processos midiáticos e as implicações comunicacionais e culturais da convergência;
Há muito mais espaço para concorrência; novos “players”, surgidos no mundo digital, disputam
tanta verba publicitária quanto os antigos sistemas de broadcast;
(como fomentar este processo de diluição do poder comunicacional dos velhos atores?)

- Transformações nos processos educacionais e o impacto das novas tecnologias de informação e
comunicação nos espaços formais e informais de ensino;

- Acesso ao conhecimento científico;

- Padrões de disponibilização de bases de dados públicas, para permitir a sua apropriação e
recombinação pela cidadania

Pretende-se também debater a emergência de novas formas de cultura, como games, softwares, a
produção para aparelhos móveis, fanfics, entre tantas outras expressões da cultura contemporânea
que emergem com o processo de digitalização.


4.1 Outros recortes
As discussões levantadas no ambiente digital do Fórum e nas discussões presenciais não ficaram
restritas a estes eixos. Tendo em vista a amplitude do campo da comunicação digital – ou da própria
comunição –, o recorte foi feito com uma abertura maior e discussões não necessariamente
relacionadas com estas acima foram também incluídas no documento.

Um dos pontos transversais apontados em muitas discussões foi a necessidade de uma infra-
estrutura compartilhada (servidores públicos) para possibilitar incontáveis iniciativas de
comunicação digital.

Também foi feita a defesa da neutralidade da rede, em muitos debates, assim como da liberdade da
rede – uma discussão vinculada ao marco civil da internet.




                                                                                                   14
5. Diagnósticos

O Brasil se coloca como um dos principais países em que a comunicação digital germina de
maneira criativa. Para que possa se desenvolver, entretanto, precisa ser incentivada e protegida
de interesses mercadológicos monopolistas que poderiam prejudicar a diversidade criativa
brasileira. Esta pode ser considerada uma das principais leituras que podem ser feitas a partir das
avaliações do Fórum.

A inventividade particular ao Brasil e a capacidade para criar redes e utilizá-las de maneira eficiente
parece ser um terreno ideal para o desenvolvimento e uso das tecnologias de comunicação que
surgem no século 21. A desenvoltura do Brasil em redes como o Orkut (comunidade brasileira é
uma das maiores, junto com Índia), ou a descoberta do Facebook (quintuplicou o número de
brasileiros na rede em 3 meses) é um pequeno exemplo disso. O Orkut tem mais de 22 milhões de
usuários só no Brasil (conforme divulgado pelo site e no artigo publicado em MediaPost, com
números fornecidos pela comScore), enquanto o Facebook tem pouco mais de 1 milhão. Outras
fontes falam que a base de usuários do Orkut no Brasil chega a 37 milhões. Na Índia, o Facebook
tem 3,2 milhões de usuários e o Orkut, 14,5 milhões. [1]

Mercadologicamente, inclusive, o país tem grande potencial para se tornar um dos principais
consumidores mundiais. Para Microsoft, o Brasil será o terceiro mercado mais importante em
alguns anos, atrás apenas de EUA e China (atualmente é o 5º), segundo dados do caderno Link
(Estadão).

Um dos principais impeditivos para o crescimento e desenvolvimento desta comunicação é o
acesso. Tanto os problemas de infra-estrutura, onde a internet ainda não chega, (e o problema da
“última milha” inclusive), e mesmo problemas do sistema de telefonia: onde o telefone celular
ainda funciona mal (basta lembrar que na Amazônia o rádio de ondas curtas ainda é um meio eficaz
de comunicação, pela falta de outros suportes), sem falar no sistema 3G, bastante precário ainda. E
mesmo onde há possibilidade de acesso, o custo dele ainda é impeditivo para muitas pessoas (o
Brasil tem uma das internet mais caras do mundo, e mesmo o que se conhece aqui como banda
larga – 1 Mb – não possibilita a troca ágil de conteúdos audiovisuais).


Diagnósticos por áreas

5.1 Língua portuguesa
O português é hoje a sexta língua mais falada na rede (segundo o World Stats, set. 2009).

Inglês segue em primeiro (478 milhões), com chinês em segundo (384), seguidos por espanhol
(137), japonês (96), francês (79), português (73), alemão (65), árabe (50), russo (45) e coreano (37).

Há uma discussão acadêmica forte sobre o uso do “internetês” e sobre como ele pode alterar /
prejudicar o uso da linguagem formal. Vários estudos foram e ainda são produzidos sobre o assunto.

Também faz parte da discussão sobre linguagem a indexação de conteúdos online – em quais
línguas e com quais palavras-chave, categorias, etc. A internet semântica, que seria capaz de cruzar
todos os dados, precisaria antes de tudo ter acesso a dados indexados de maneira semelhante – ou
encontrar uma forma de traduzir / compreender as bases diferentes e interpretá-las.

Abaixo, a tabela do World Stats:


                                                                                                    15
5.2 Linguagem livre
O Brasil se destaca como um dos países onde há uma das maiores comunidades ativas de
desenvolvedores de software livre. Realizado anualmente, o Fisl (Forum Internacional de Software
Livre) é o maior evento a reunir o movimento software livre brasileiro e, mundialmente, rivaliza em
tamanho apenas com a LinuxWorld San Francisco. O Ginga, um SL, é o middleware da TV digital
brasileira, software que permitirá a interatividade entre telespectador e a televisão. Lula esteve no
Fisl mais recente (2009), quando defendeu o uso do SL contra a tecnologia paga da Microsoft.
Comercialmente, o SL também parece, cada vez mais, uma opção melhor. Mas o sistema ainda não
é tão user-friendly quanto deveria, apesar de avançar lentamente neste sentido.

O vídeo online ainda não encontrou uma linguagem livre capaz de rivalizar com o Flash, da Adobe.
O Firefox 3.5 promete, através do HTML5, ter uma plataforma de vídeos que seja tão interativa
quanto o Flash, mas ainda é incipiente.


5.3 Poder público / universidades / bases públicas
Simplesmente há pouca transparência da máquina pública. Poucos dados estão disponíveis, e os que
estão não conseguem ser lidos de maneira clara – tabelas, planilhas, códigos.

Há uma presença grande do poder público naquilo que pode ser chamado de serviços: BO online,
pagamento do IR, consultas e agendamentos para INSS, voto eletrônico, etc. No entanto, no que diz

                                                                                                  16
respeito à conversação, o contato é praticamente zero.

Os governos não apenas não estão abertos às redes, como não participam delas. Alguns poucos
políticos, após o advento Obama, utilizam a rede como tentativa de se aproximar do eleitorado, mas
pouco ou nada está sendo feito efetivamente para utilizar as novas tecnologia para promover a
democracia.

A plataforma CulturaDigital.Br entra aí como experiência pioneira, juntando-se a poucas outras
experiências mundo afora.

Mesmo as bases de dados públicas contendo documentos de pesquisa não estão interligadas e/ou
completas. Espera-se que as discussões sobre open data gerem a introdução de APIs abertas para
toda e qualquer base pública – permitindo, assim, que desenvolvedores possam se apoderar do
conteúdo da base de dados para criar interfaces criativas que permitam sua visualização de maneira
simplificada.

5.4 Produção e distribuição
Na produção audiovisual, o Brasil está ao lado dos grandes produtores mundiais, seja na televisão
ou no cinema, com produtos de qualidade. Também ocorre o mesmo com portais online, agências
de publicidade e empresas telecons.

Ocorre que toda esta produção não alcança o grande público – tirando, talvez, a produção da TV
Globo. Levando em consideração que a internet já tem uma penetração muito maior do que o
cinema (municípios com salas de cinema [8,7% de cidades] versus população com acesso à internet
[mais de 60 milhões de pessoas]), a distribuição poderia privilegiar o online sobre o cinema e
mesmo a televisão.

5.5 Controle e descontrole
Surgem novas formas de uso malicioso da comunicação, onde conglomerados do mundo
empresarial se disfarçam de blogs domésticos para difundir suas propagandas e seus lobbies. Há as
ações das claques partidárias sabotando, mesmo, o livre fluxo das idéias. temos percebido que
várias claques organizadas (as pardiárias em destaque) não acreditam na democracia, no debate
objetivo, na verificação da verdade; têm apenas uma visão instrumental da comunicação e procuram
instrumentalizar a esfera digital.

Além disso, ainda há pouco entendimento do que seja a comunicação digital, havendo espaço para
“baixaria generalizada”. As pessoas estão pouco acostumadas a conversar, e utilizam a rede para
emitir opiniões, preconceitos, provocando ações até mesmo criminosas.

Ainda há pouco entendimento sobre como operar num ambiente digital. Não há uma linha divisória
clara entre esfera pública e esfera privada, o que leva as pessoas a misturarem canais, opiniões e
posturas. Preconceitos que antes ficavam restritos à esfera privada vão para a rede, transformando-
se em crimes de calúnia ou difamação.

O anonimato na rede é uma questão em debate, ligado também às iniciativas de controle que
surgem a partir da discussão sobre “cibercrimes” (abaixo).

5.6 Liberdade na rede
Tema que percorre a discussão em vários grupos, em diversas falas. Iniciativas como a Lei Azeredo
e a lei francesa conhecida como Hadopi premeditaram debates acalorados na sociedade.


                                                                                                    17
O debate fica entre a busca de uma solução contra cibercrimes em geral e o direito dos “cidadãos
digitais”.

5.7 Jornalismo e informação
Pesquisa encomendada pelo Grupo Máquina ao Vox Populi que ouviu 2,5 mil pessoas e teve seu
resultado publicado no Meio Mensagem mostra que a principal fonte de informação do brasileiro
ainda é a TV com 55,9% da preferência dos entrevistados, mas o segundo já são os sites de notícias
e blogues, com 20,4%.

É o dobro do público que se informa por jornais impressos, preferidos de 10,5%. E quase três vezes
mais do que o rádio, com 7,8%.

As redes sociais já contam 2,7% da preferência dos pesquisados como fonte primeira de
informação, estando à frente dass versões online dos jornais, 1,8%, e das revistas impressas, com
0,8%.

Em relação à credibilidade, o rádio está em primeiro lugar com nota média de 8,21 e os sites e
blogues jornalísticos estão um centésimo atrás com 8,20. Só depois aparecem TV, 8,12, jornais
online, 8,03, jornais impressos, 7,99, revistas impressas, 7,79, redes sociais, 7,74, e revistas online,
7,67.

Recentemente, Rupert Murdoch – dono de boa parte dos jornais do mundo, inclusive o Wall Street
Journal – anunciou que não apenas pretende cobrar pelo jornalismo online (na contramão do que
vem sendo feito até agora), mas também gostaria de retirar todo o conteúdo de seus jornais da
indexação do Google.

Outros jornais debatem iniciativas que, se não tão radicais, também apontam caminhos pela via
paga. A Declaração de Hamburgo propõe que as ferramentas de busca devem pagar para levar
leitores aos jornais, porque lucram veiculando anúncios junto aos resultados de buscas (o
pesquisador Marcelo Träsel opina que isso seria o suicído dos jornais).

A Associação Nacional dos Jornais (ANJ), representante de 90% dos jornais do país, anunciou que
vai estimular todos os 145 periódicos associados a aderirem à Declaração de Hamburgo. O Grupo
Estado aderiu à Declaração no dia 9 de novembro. Os jornais Folha de S. Paulo e O Globo já
anunciaram a decisão de aderir.

Links relacionados:
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,editores-debatem-conteudo-de-jornais-produzido-na-
internet,464214,0.htm

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,editores-debatem-conteudo-de-jornais-produzido-na-
internet,464214,0.htm

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091110/not_imp463848,0.php

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,grupo-estado-apoia-acao-por-propriedade-intelectual-
na-internet,463696,0.htm
De qualquer maneira, fora do Brasil buscam-se formas para viabilizar o caro modelo do jornalismo,
especialmente para bancar reportagens, num cenário em que as pessoas deixaram de comprar o


                                                                                                       18
produto físico e ainda não se dispõem a pagar pelo digital.

O Brasil, sendo um mercado que segue na contramão do mundo – vendendo mais jornais impressos
a cada ano, sem nenhuma indicação de queda – ainda não discute novos modelos para a web.




                                                                                         19
6. Indicações e propostas preliminares

6.1 Infra-estrutura compartilhada (servidores públicos) para possibilitar incontáveis
iniciativas de comunicação digital
Boa parte do conteúdo cultural brasileiro está sendo “uploadado” em sites e servidores estrangeiros.
Não há um repositório nacional para cultura digital. Tampouco um espaço virtual livre, que possa
ser utilizado para criação de experiências de comunicação e cultura. Uma espécie de Local Web
pública, nacional, para usos diversos.

6.1.1 Grupos de produtores de conteúdo multimídia organizados precisam de pontos de presença
online, linhas de financiamento ou espaço virtual e infra-estrutura para alavancar a produção
multimídia. Também a necessidade de integrar as bases de dados acadêmicas e todos estes acervos,
e facilitar a busca e download de teses, dissertações, livros, etc.

6.2 Espectro aberto e livre
Forma de ocupação das ondas de rádio e TV é analógica. É a forma que interessa aos grandes
difusores. O Fórum deveria reaçar a defesa do open spectrum, espectro livre, porque é possível não
criar ruído. Nos EUA, abriram um white space: entre os canais de TV, se você usar aparelhos
homologados, você pode ocupar livremente.

6.3 Incentivos a projetos de comunicação colaborativa e participativa
Produção de conteúdos de maneira colaborativa / realização de políticas públicas a partir de ações
de crowdsourcing. Realização de experiências de criação de políticas públicas realizadas a partir da
colaboração em redes sociais (como o próprio Fórum de Cultura Digital Brasileira).

6.4 Projetos de mídia livre, incentivar novas formas de comunicação
Garantir a possibilidade de apropriação e remix e realizar experiências. Incentivo a blogs
informativos, contra a hegemonia dos sistemas broadcast. Incentivo à distribuição Peer to Peer
(P2P), ponto a ponto, capaz de descentralizar a distribuição de conteúdos audiovisuais. Utilização e
incentivo de mídias sociais.

6.5 Marco regulatório legal
O marco regulatório dos dispositivos analógicos não pode ser transposto para o meio digital. O
meio digital não é finito. O Fórum precisa contribuir para a definição destes marcos de
desenvolvimento tecnológico, de sustentabilidade e de democratizacao das mídias audivisuais e
digitais.

6.6 Formatos não devem ser proprietários
Se instituições públicas utilizam formatos proprietários, isso impede que seja lido por aqueles que
não utilizam plataformas proprietárias.

6.7 Ensino / Acesso / Formação de profissionais capazes de mediar
Políticas públicas de ensino de comunicação digital, mais do que simples acesso. Mudar o modo de
pensar. Ensino que faça compreender o processo de relacionamento na rede. Ensino à distância. E-
learning. O cara acha que é só colocar o teste na rede, depois fazer uma prova… E tudo bem. É a
mediação que vai fazer o processo de aprendizagem ocorrer. E hoje o mercado não tem mediadores.
Na educação, nos serviços. As pessoas não entenderam ainda este papel: alguém que vai promover
os grupos, alimentar a conversa. Isso não tem. E isso será o papel do comunicador.

6.7.1 Formação para produção multimídia


                                                                                                      20
Habilitação para a criação de conteúdos que sejam não apenas a soma das linguagens existentes,
mas também a fusão delas, especialmente utilizando e experimentando a interatividade.

6.8 Fomento
Editais de fomento ao desenvolvimento de tecnologias moveis / digitais que envolvam indústrias
privadas. Apoio a produção de conteúdo multimídia. Inclusão do setor digital na lei do audiovisual e
Rouanet.

6.9 Pesquisa
Necessidade de fomentar pesquisas para comunicação digital. Linhas de financiamento de bolsas
para pesquisas na área. Linhas de fomento que venham a promover grupos de pesquisa da sociedade
civil, a exemplo do que acontece com alguns institus norte-americanos (Poynter).

6.9.1 Pesquisa de ponta
Fomento do desenvolvimento de plataformas, de sistemas e de softwares colaborativos, a serem
utilizados na contrução de conteúdos culturais e de comunicação.

6.10 Financiamento público do jornalismo independente
Estímulo para a constituição de redações independentes -- desvinculadas de ongs, de governos e
também de mecanismos de comércio. Um fortalecimento, com base em critérios democráticos e
transparente, da comunicação pública, de fato.

O financiamento público de jornalismo vem sendo pregado não apenas no Brasil, mas também em
outras partes do mundo. Um relatório da Columbia University (the Reconstruction of American
Journalism) saiu também em defesa do financiamento público para o jornalismo. Isto vai de
encontro à defesa que Eugênio Bucci faz: “o jornalismo deveria ser visto como direito, pode
funcionar e bem como atividade privada, mas precisa de garantias públicas”.

A proposta mais radical do relatório aponta para uma política pública de criação de um fundo,
que seria bancado por redes de comunicação, provedores de internet e telecons, que seria usado para
financiar jornalismo local (broadcasters, Internet service providers, and telecom users to pay into a
fund that would be used to support local accountability journalism in communities around the
country). Link para o texto principal.

Surgem também experiências do jornal como plataforma de informação, e não mais apenas veículo
de notícias. The New York Times e The Guardian, dois exponentes mundiais do jornalismo,
liberaram APIs públicas, para que desenvolvedores utilizassem seus bancos de dados como
quisessem. A iniciativa é um interessante movimento no jornalismo mundial.

6.11 Manifestação contra o DRM, especialmente da TV Digital
Não permitir a introdução de tecnologias que impeçam a circulação e o remix de conteúdos
audivisuais.

6.12 Direitos
Construção de um conjunto de direitos dos cidadãos digitais. A proposta mais avançada é a
construção de uma Carta de Princípios sobre Liberdade na Rede.

Ver o anexo 5 para o debate no grupo Comunicação Digital sobre o assunto.

Documento sobre Rights and Principles e Congresso de Madri – visao global sobre privacidade –


                                                                                                  21
IGF

Garantia de uma rede que não precise de cultura da permissão; proposições a respeito da garantia e
não do limite.

6.12.1 Direito de anonimato para navegação
Houve todo um debate sobre este tema durante o processo de avaliação crítica sobre o projeto que
se tornou conhecido como Lei Azeredo. A defesa da liberdade de navegação compara o espaço
público virtual com o real: exigir cadastro para entrar na internet seria como exigir que as pessoas
andassem nas ruas com camisetas contendo CPF, RG, endereço, etc. Não se pode tratar todas as
pessoas como suspeitas, sob pretexto de facilitar a identificação de criminosos.

Para além disso, governos totalitários utilizam este controle para vigiar seus cidadãos, criado
sociedades orwellianas.

6.12.2 Direito de anonimato para navegação
A publicação anônima de informações é uma grande aliada da democracia. Para textos apócrifos
criminosos, há maneiras de realizar investigações que cheguem ao autor, ou pelo menos possam
criminalizar a distribuição dos textos. A publicação anônima garante que não o autor, mas o
conteúdo, seja avaliado, despido da discussão que haveria sobre o próprio autor.

Diz Sergio Amadeu da Silveira:
Neste novo cenário de uma esfera pública constituída nas redes informacionais, o direito de blogar
anonimamente é defendido pela Electronic Frontier Foundation (ELETRONIC, 2009). A entidade
propõe que a livre expressão deve ser protegida de quaisquer tipos de pressão, política, religiosa,
ideológica, profissional, corporativa, pública ou privada, por isso, a comunicação sem a necessária
identificação do sujeito comunicante é considerada uma das condições do direito à opinião. Nesse
mesmo sentido, Ian Clarke, criador e programador principal da rede Freenet, um típico hacker, no
texto The Philosophy behind Freenet esclarece:

But why is anonymity necessary? You cannot have freedom of speech without the option to remain
anonymous. Most censorship is retrospective, it is generally much easier to curtail free speech by
punishing those who exercise it afterward, rather than preventing them from doing it in the first
place. The only way to prevent this is to remain anonymous. It is a common misconception that you
cannot trust anonymous information. This is not necessarily true, using digital signatures people
can create a secure anonymous pseudonym which, in time, people can learn to trust. Freenet
incorporates a mechanism called “subspaces” to facilitate this (CLARK, 2009).

O argumento hacker sobre a verdade e a verificação dos conteúdos anônimos passa pelos
mecanismos de reputação, de denúncia colaborativa e pelas redes de confiança, ou seja, os
“instrumentos interativos de busca e enquete da comunicação distribuída tornam o anonimato
reputável” (ANTOUN, 2008, p. 17). A prática de escrever textos públicos com pseudônimos,
nicknames, perfis falsos, não é nova. Sem dúvida, um codinome pode construir uma forte reputação
a partir dos seus argumentos. Um grande exemplo da força dos argumentos acima da autoria,
ocorreu em 1787, quando Alexander Hamilton convenceu James Madison e John Jay a tentar
persuadir os votantes da convenção do Estado de Nova York a aprovar a nova Constituição
dos Estados Unidos, elaborada na Filadélfia, naquele ano. Passaram a publicar no Independent
Journal, uma série de artigos assinados pelo pseudônimo coletivo “Publius”. Foram 85 textos que
vieram a ser conhecidos como “Os artigos federalistas” que Thomas Jefferson chamaria de o melhor
comentário jamais escrito sobre princípios de governo. O pseudônimo, mais do que proteger seus


                                                                                                  22
autores, permitia que os argumentos federalistas fossem analisados em si a despeito de quaisquer
antipatias e simpatias por quem os escreveram.

Bibliografia de interesse:
Caso Minerva (Coréia do Sul)
http://www.wired.com/magazine/2009/10/mf_minerva/
Redes Cibernéticas e tecnologias do anonimato (Sergio Amadeu da Silveira, online)

6.13 Incentivo à produção de softwares
Ampliar a política dos Pontos de Mídia Livre e criar centros de estudo e produção de software livres
nas escolas. Não basta mais fazer lan houses, agora precisamos colocar a galera pra criar softwares.




                                                                                                   23
7. Propostas da Conferências Livre de Comunicação e Cultura

A I Conferência Livre de Comunicação para a Cultura, de 24 a 27 de setembro, no Recife (PE),
organizada pelo Ministério da Cultura, por intermédio da Secretaria de Cidadania Cultural (SCC) e
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), discutiu a comunicação e a cultura como direitos
fundamentais.

Abaixo, propostas aprovadas pelos participantes da Conferência Livre de Comunicação e
Cultura, realizada em Chã Grande (PE) pelo Ministério da Cultura, que serão encaminhadas para
a 2ª Conferência Nacional de Cultura:

BANDA LARGA
1. Alteração legal para utilização do FUST, FISTEL e outros fundos na aplicação da ampliação da
RNP, e outras redes públicas e gratuitas de pesquisa e implantação de acesso de Internet via redes
elétricas e de satélites, capacitação das comunidades para assumirem a responsabilidade de
administrarem seus próprios servidores territoriais, permitindo prover conteúdo licenciado
livremente e a criação de uma rede de infraestrutura de suporte técnico para a universalização, com
qualidade, do acesso à banda larga.

PLATAFORMAS
2. Estabelecer e fomentar políticas públicas para o desenvolvimento de plataformas em software
livre para a produção e difusão de conteúdos colaborativos e multimídia livres.

DISTRIBUIÇÃO
3. Criar um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de
comunicação e cultura. e garantir que a produção cultural financiada com dinheiro público seja
exibida e distribuída de forma livre, licenciada através de licenças flexíveis e disponibilizada em
acervos livres.

FORMAÇÃO
4. Criação e manutenção de escolas livres de formação multimidiática com núcleos regionais e/ou
estaduais, reunindo as experiências metodológicas já desenvolvidas por instituições de
reconhecimento público, com ênfase na formação continuada para o desenvolvimento de novas
práticas nas relações de mercado na área do audiovisual, da Economia Solidária e do Comércio
Justo.

DIREITO AUTORAL
5. Alteração da legislação de Direito Autoral para garantir a ampliação das possibilidades de uso das
obras protegidas e, para fins de educação, pesquisa, de difusão cultural, preservação,
interoperabilidade e portabilidade, uso privado de cópia integral sem finalidade comercial e também
para garantir a supervisão do estado nas entidades de gestão coletiva para estímulo ao licenciamento
alternativo e garantia a proteção dos conteúdos em domínio público de modo que esses conteúdos
permaneçam livres.

CONTEÚDO REGIONAL/INDEPENDENTE
6. Regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal com a aprovação de leis que garantam
percentual de conteúdo regional e independente, observando a diversidade étnica, de gênero,
religiosa para exibição nos canais de sinal aberto e por assinatura e nos mais diversos suportes e sua
rigorosa fiscalização.



                                                                                                      24
FOMENTO
7. Incentivo ao desenvolvimento de tecnologias para mídias livres, pulverização do recurso público
gasto com publicidade para fomentar produções impressas independentes e desoneração da cadeia
produtiva do audiovisual através do fomento para a formação de um parque industrial nacional para
a fabricação de maquinário de suporte, de baixo custo, para a indústria do audiovisual e da redução
dos custos de importação de câmeras, equipamentos e componentes audiovisuais, sem similar
produzido no Brasil.


Abaixo, a íntegra as propostas aprovadas pelos participantes da 1ª Conferência Livre de
Comunicação e Cultura, realizada em Chã Grande (PE) pelo Ministério da Cultura, e que serão
encaminhadas para a Conferência Nacional e Comunicação:

Eixo 1 – Produção de Conteúdo

1. Fomento à criação e disponibilização de redes e bases de dados geridas colaborativamente para as
redes de comunicação e cultura;

2. Criação de espaços públicos de comunicação em comunidades e povos tradicionais com rádios,
TVs, telecentros e gráficas livres, que possibilitem e reforcem o registro e divulgação da cultura
local e bens culturais materiais e imateriais produzidos nesses espaços. Estes espaços devem ainda
atuar como pontos de difusão de conectividade utilizando redes sem fio, provendo também serviços
de TV, rádio e telefonia além do conteúdo cultural produzido localmente;

3. Criação de marco regulatório para legalização e estímulo das redes de troca e compartilhamento
de conteúdo livre, cultural, educacional, comunicacional e informacional;

4. Criar um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de
comunicação e cultura. e garantir que a produção cultural financiada com dinheiro público seja
exibida e distribuída de forma livre, licenciada através de licenças flexíveis e disponibilizada em
acervos livres.

5. Criar um repositório comum de metodologias que partem do reconhecimento das identidades
culturais regionais, que contemplem soluções tecnológicas flexíveis de letramento digital, produção
e divulgação de conteúdo, reforçando a importância da autonomia e liberdade nos processos de
aprendizagem;

6. Incentivar a produção colaborativa de conteúdos em plataformas como internet, televisão, mídias
móveis etc. entre Pontos de Cultura, Pontos de Mídias Livres e produtoras culturais;

Votar junto:
1. Alocação de recursos de publicidade institucional do Governo Federal, Estados e Municípios em
mídias vinculadas aos Pontos de Cultura, comunitários, livres, independentes, educativos,
universitários, valorizando produtos e serviços populares;

2. Manutenção e ampliação do financiamento público para a comunicação livre objetivando a
estruturação sustentável dos coletivos beneficiados;

3. Projeto de Lei determinando que recursos públicos na área federal, na estadual e na municipal,
previstos para publicidade nos Planos Plurianuais (PPAs), sejam destinados para aplicação nas TVs


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Públicas, Comunitárias e Universitárias;

4. Projeto de Lei para garantir no sistema digital a criação de emissoras de Rádios e TVs
Comunitárias em sinal aberto, criando fundos específicos para estes meios e permitindo que captem
recursos com publicidade para garantir sua auto-sustentabilidade;

5. Criação e manutenção de equipamentos públicos para produção, armazenamento, documentação
e distribuição de conteúdos audiovisuais, sonoros e impressos, que atendam prioritariamente povos
tradicionais e comunidades com dificuldade de acesso a estes recursos, geridos por meio de
conselhos paritários que envolvam Poder Público e sociedade civil;

6. Garantir que todo conteúdo oferecido por serviço de radiodifusão digital de som e de som e
imagem seja livre de qualquer dispositivo técnico, sinal codificado ou outra medida de proteção
tecnológica que possa impedir ou restringir o seu acesso e uso legítimo.

Eixo 2 – Meios de Distribuição

1. Franquear os pontos de presença da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) para o uso das
redes de comunicação e cultura;

2. Utilizar recursos do FUST para investir na soberania da rede, ampliando o alcance da RNP e de
outras redes alternativas de acesso a Internet via energia elétrica e rede de satélites, envolvendo em
uma ação transversal o MinC, o MiniCom, o MEC e as universidades para capacitar o substrato
social na manutenção e administração desta infraestrutura, incluindo organizações sociais como
reais beneficiárias de conexão pública de banda larga na ponta, transformando essas instituições em
provedores de acesso que administram seus próprios servidores e provêm conteúdo licenciado
livremente.

3. Utilização das redes de internet públicas federais, municipais e estaduais como base de infra-
estrutura para disponibilização de servidores de internet públicos, com conselhos de gestão
paritários entre Poder Público e sociedade civil, de modo que tal infra-estrutura seja gerida
colaborativamente visando a construção de redes de comunicação e cultura;

4. A fim de garantir a universalização do acesso dos cidadãos à banda larga, criação e manutenção
de uma rede de infra-estrutura pública de internet em banda larga, mediante construção de uma rede
estatal composta por tecnologia satelital, fibra ótica e microondas garantindo os benefícios da
confluência tecnológica aos cidadãos por meio do fortalecimento da Telebrás e utilização de
recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), com a alteração da
lei.

5. Construção de plataformas públicas que possibilitem a difusão e maior visibilidade de conteúdo
para as mídias livres;

6. Proposta de projeto de lei para garantia de direitos civis na internet, para a criação de marco
regulatório civil para a internet, com base na Carta de Princípios para a Internet formulada pelo
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

7. Atualizar e consolidar o marco regulatório da área das comunicações dando condições de
exercício a uma regulação democrática e equânime da atividade dos diversos serviços existentes e
dos que possam existir.


                                                                                                     26
8. Controle social na renovação e liberação das concessões de radiodifusão, a fim de definir
critérios que contemplem os diversos segmentos socioeconômicos e culturais;

9. Criar mecanismos de apoio à implementação dos Canais criados pelo Decreto 5.820/2006 (TV
Digital), inclusive com aporte de recursos financeiros, garantindo a participação da sociedade civil
na programação e na gestão dos canais, mediante a ocupação dos canais da Cidadania, Educativo,
Cultural e Universitário.

10. Facilitar o acesso aos canais públicos pelo Ministério da Cultura e demais órgãos Públicos de
Cultura, TVs Comunitárias e TVs Universitárias, TVs Legislativas e TVs Educativas Culturais,
tendo em vista a constituição de acervo e a difusão da produção de conteúdos audiovisuais em todos
os canais do campo público de televisão, que contam com apoio ou fomento do Ministério da
Cultura, bem como a produção audiovisual oriunda de iniciativas populares;

11. Garantir, no mínimo, três canais e/ou bandas e/ou frequências diferentes para as Rádios
Comunitárias, inclusive no processo de digitalização do sistema de radiodifusão;

12. Garantir, nas três esferas de governo, a aquisição de produtos impressos e digitais de mídia livre
para equipamentos de educação e cultura, que sejam produção de conhecimento livre.

13. Recomendar que o operador de rede a ser contratado pela União carregue as transmissões de
todas as rádios e TVs do campo público, oferecendo ao povo brasileiro toda a diversidade cultural
em produção no País por meio de centros de comunicação comunitária de acesso público;

14. Criar no sistema público de comunicação uma central de reprodução e distribuição da produção
dos pontos de cultura, comunitários, livres, independentes, educativos e universitários;

15. Criação de uma plataforma virtual de cadastro de mídias alternativas do país vinculada ao site
do Ministério das Comunicações, legitimando estes meios de comunicação;

16. Implementação de política de cotas que garanta a distribuição de conteúdo nacional
independente e regional na televisão, com o estabelecimento de instância de regulação e de
fiscalização para o setor de audiovisual;

Eixo 3 Cidadania: Direitos e Deveres

1. Criar a comissão que gere o FUST (Fundo de Universalização dos Serviços em
Telecomunicações), com participação de membros da sociedade civil e do poder público;

2. Garantir a participação da sociedade civil, através de seus fóruns, na discussão da lei de
comunicação, assegurando a descentralização, a universalização, a democratização dos meios de
comunicação;

3. Desenvolver um padrão na metodologia do registro, divulgação e arquivamento dos projetos e
leis que assegurem o acesso à produção e difusão de trabalhos artísticos e culturais, levando em
conta a possibilidade do ambiente virtual com compartilhamento dos conteúdos;

4. Popularizar o conhecimento do decreto 5.820, que destina no modelo digital os canais de
educação, cultura e cidadania para uso da União; da Lei 8.977, mais conhecida como Lei do Cabo


                                                                                                     27
(1995), que garante 220 canais universitários e 220 comunitários; respeitar o artigo 221 da
Constituição Federal, que estabelece a regionalização da produção jornalística, artística, cultural e
educativa;

5. Assegurar a exibição de, no mínimo, 50% de produção independente regional pelas
concessionárias de canais de TVs, abertas e por assinatura;

6. Fomentar a produção de jogos educativos e que contemplem a diversidade sociocultural;

7. Estabelecimento de formas de controle público-social para o sistema de concessões de rádio e
TV, por meio da instituição efetiva do Conselho de Comunicação Social, sendo alterado seu caráter
consultivo para deliberativo, com participação do Poder Público e a sociedade civil organizada.

8. Alteração dos procedimentos da escolha dos membros do Conselho Curador da TV Brasil,
garantindo ampla e diversa representação da Sociedade Civil, através dos seus legítimos Fóruns;

9. O estado brasileiro deve implementar uma política de reparação para as pessoas e entidades que
foram criminalizadas por atuar em rádios comunitárias e abolir a criminalização de mídias
comunitárias sem outorga.

10. Reconhecer e apoiar experiências de educação não formal no campo da cultura e da
comunicação;

11. Implementar Educação Audiovisual e Mídias Digitais, inclusão de Lógica de Programação e
Desenvolvimento de Software na educação básica.

12. Promover práticas educativas, nos âmbitos da educação formal e não formal, a fim de
popularizar o direito à comunicação e garantir o aprendizado de uso das novas tecnologias da
comunicação e informação, visando o desenvolvimento de competências, habilidades e à reflexão
político-transformadora, na perspectiva da mediação tecnológica na educação, da educação para a
comunicação e da gestão educomunicativa;

13. Políticas de formação para o midialivrismo e do midialivrista em espaços formais e informais de
educação;

14. Criação e manutenção de escolas livres de formação multimidiática com núcleos regionais e/ou
estaduais, reunindo as experiências metodológicas jádesenvolvidas por instituições de
reconhecimento público, com ênfase na formação continuada para o desenvolvimento de novas
práticas nas relações de mercado na área do audiovisual, da Economia Solidária e do Comércio
Justo.

15. Democratizar o acesso aos Editais Públicos na área do audiovisual, garantindo consultoria
técnica para o seu preenchimento e simplificando os processos de inscrição e conveniamentos.




                                                                                                        28
8. Pré-plenária do eixo de comunicação digital realizada na ABCiber 2009

Foi apresentada uma prévia do documento do eixo de comunicação digital, levando em conta a
metodologia definida pelos curadores, em conjunto com os organizadores: delimitação de campo,
diagnósticos e propostas.

Após ouvirem a apresentação, os presentes fizeram os seguintes comentários:

Alguns aspectos são fundamentais para a discussão sobre comunicação digital, e não podem, de
maneira alguma, serem esquecidos:

- A Cultura de Colaboração e de Participação – produção de conteúdos de maneira colaborativa /
políticas públicas
- Ações de crowdsourcing / experiências de políticas públicas realizadas a partir da colaboração
multímídia
- Infra-estrutura compartilhada (servidores públicos) para possibilitar incontáveis iniciativas
de comunicação digital (uma espécie de SUS da comunicação)
- A Cultura do Remix
- A emergência dos blogs
- O Compartilhamento de arquivos em redes P2P (peer to peer)
- Garantia de Acesso e de Acessibilidade
- Mídias sociais
- Formação para produção multimídia

A comunicação ainda é vista como mídia de massa, não mais de um-para-muitos, mas um-para-um
e muitos-para-muitos.

O pesquisador e ativista político Sergio Amadeu listou algumas prioridades que, segundo ele,
deveriam ser destacadas no documento

- Infra-estrutura: É preciso ter prioridade para banda larga no Brasil – nem nas grandes cidades há.
- Banda larga pública e gratuita a todo cidadão brasileiro
- Dentro da infra-estrutura, defesa da neutralidade na rede

Segundo ele, a forma de ocupação das ondas de rádio e TV é analógica. É a forma que interessa aos
grandes difusores. “O Fórum deveria reaçar a defesa do open spectrum, espectro livre, porque é
possível não criar ruído. Nos EUA, abriram um white space: entre os canais de TV, se você usar
aparelhos homologados, você pode ocupar livremente.”

Sérgio Amadeu se colocou contra o marco civil da internet nacional. “A internet não pode ser
nacional. É uma rede transnacional. Já que vão fazer uma lei nacional, que a gente garanta a internet
livre nessa rede. Direito de navegação sem vigilância é um direito derradeiro. Guardar logs é
absurdo. Tinha que ter um manifesto a parte, que uma rede de controle, se você vincular seu nome a
um IP, você fica a mercê de governos autoritários. E uma manifestação contra o que se pretende
com a TV Digital. Querem que os aparelhos saiam com tecnologia DRM, que impede a cópia. É
preciso garantir o que já ocorre (a livre circulação de bits), mais do que qualquer coisa.”.

Garantia de uma rede que não precise de cultura da permissão; proposições a respeito da
garantia e não do limite.



                                                                                                   29
Outro ponto destacado pelos participantes: Fomento / pesquisa

O edital acaba pré-selecionando um grupo de pessoas que é o mesmo grupo sempre. A política de
pesquisa deveria criar um tipo de edital que não requisitasse certificações, para fomentar coisas
como os pontões – aí não seriam sempre os mesmos os capazes de receber financiamentos.

Digitalização e disponibilização do conhecimento produzido, sobretudo nas públicas, mas nas
privadas também. As revistas precisam estar online e com livre acesso. Senão fica-se a mercê do
desejo dos programas.

Tudo o que seja produzido com dinheiro público (filmes, documentários, audiovisual) deveria
ser disponível para download.

Direito a que a comunicação possa se efetivar sem intrusão, criação de conteúdos e formatos sem
autorização para isso, e garantir a navegação sem vigilância.

Projetos de mídia livre, incentivar novas formas de comunicação

O marco regulatório dos dispositivos analógicos não podem ser transpostos para o meio digital.
Garantir a possibilidade de apropriação e remix.

Incentivar a criação de iniciativas open-source na área da cultura.

A área de comunicação é transversal, diz respeito a infra-estrutura, é uma área transversal. Para que
se possa discutir a comunicação em todas as áreas, é preciso discutir sub-grupos que passem pelos
outros eixos.

Levar em consideração culturas locais e pequenas comunidades;

Criar uma interlocução entre as conferências de comunicação e cultura;

Formatos não deveriam ser proprietários. Se instituições públicas utilizam formatos
proprietários, isso impede que seja lido por aqueles que não utilizam plataformas
proprietárias.

Formato de produção cultural precisa ser aberto.

Essa não é uma questão do mundo não-digital, mas no mundo digital é fundamental.

Toda comunicação coletiva ou pública, e dados do governo, muito mais.



Leis que sejam feitas não para criminalização, mas para garantir direitos mínimos / Sem lei,
qualquer município define a sua. A ideia de um marco civil é garantir direitos. De um lado, tem-se
um processo ligado à Justiça. Mas significa inverter a direção da lei, normalmente feita para
restringir.


A lista abaixo é o contato dos participantes do encontro preparatório durante a ABCiber 2009.


                                                                                                   30
caruschwingel <caruschwingel@gmail.com>,
Andre Deak <andredeak@gmail.com>


Chirles V. De Oliveira – ESPM bccchirles.oliveira@gmail.com,
Liralcio Girardi jr. – Cásper Líbero lira.sociologia@gmail.com,
Vinicius Andrade Pereira – UERJ/ESPM vinianp@yahoo.com,
Henrique Parra - polart@riseup.net,
Yara Rondon Quasque Araújo – UDESC clyrga@udesc.br,
Luiza Helena Guimarães – PUC/SP luizahguimaraes@gmail.com,
Sandra Rúbia Silva – UFSC sandraxrubia@gmail.com,
Ismael Rocha – ESPM irocha@espm.br,
Débora de Carvalho Pereira – UFMG debcarpe@gmail.com,
Helena Klang – UERJ contato@helenaklang.com,
Adilson Cabral – UFF acabral@comunicacao.pro.br,
Sérgio Amadeu – Cásper Líbero sergio amadeu <samadeu@gmail.com>,
Henrique Antoun – UFRJ henrique.antoun@eco.ufrj.br,
Fernanda Bruno – UFRJ fgbruno@matrix.com.br




                                                                   31
9. Relato da Plenária de Comunicação Digital
Durante o Fórum de Cultura Digital Brasileira, realizado em novembro, na Cinemateca, em São
Paulo, todos os eixos fizeram discussões específicas sobre os documentos prévios. Abaixo, as
principais colaborações feitas durante a plenária de comunicação digital.


Cláudio Manoel Duarte de Souza (jornalista, professor UNIJORGE, FSBA, assessor de cultura
digital da secretaria de cultura da Bahia), explicou que o planejamento de novas mídias feito na
secretaria de cultura da Bahia inclui blog, twitter, youtube, picasa, etc. Importancia de criar redes
sociais. A metodologia de mobilizaçao através das redes e a consulta à sociedade civil.
Ricardo Severo (formado em ciência da computação e ativista pela liberdade na internet, software
livre e inclusão digital) fala da importância da comunicação e da integração com várias áreas, Hoje
o jornal é a internet. Não há mais necessidade de ter jornal. Para o público jovem não há
necessidade de jornal. As pessoas da minha idade não leem jornal. Eu só leio blogs e internet e me
sinto mais informado que muitos...
Daniel Bittencourt (curso de comunicação digital Unisinos – danielb@unsinos).
Ceila Santos (site Desabafo de Mãe): qual o papel do jornalista? Pensar em públicos diferentes
falando a mesma lingua. Importante relacionar o jornalista com o conteudo. Questão da propriedade
intelectual precisa ser discutida. A grande questao em termos de politicas publicas é a propriedade
intelectual.
Pagar pelo tamanho (de texto jornalístico) é um paradigma anterior, porque o espaço era limitado:
economia da escassez. É preciso refazer esse desenho: o que é comunicação digital.
Alex: Importancia da mediaçao. Com relação à comunicação, separaçao do jornalismo da
comunicação: se antes havia um compromisso do jornalista em expandir, hoje não se discute o
jornalismo, e sim o jornalista. Estamos nos fechando em um movimento contrário ao anterior:
liberdade de expressao só para quem tem diploma. Comunicacao é para todos, jornalismo é para
alguns?
A informaçao é uma commodity? A cultura é uma commodity? Jornalista pode cobrir eventos, mas
quem tem um blog também pode. Onde se agrega o valor é na comunidade, na relação.
Andre Deak: jornalismo como prática social é essencial para a democracia. Que política pública
poderia haver para incentivar blogs, sites jornalísticos? Também existe muita informnaçao mal
produzida, e o que o governo poderia fazer para melhorar essa produção? Como salvar o
jornalismo: incentivo público ao jornalismo independente? Isso seria a garantia de valorização do
jornalimo em tempos de crise?
Caru: Há um distanciamento do jornalismo do campo da comunicação. Processos de produçao de
conteudo.
A plenária discute que é preciso fomentar novas práticas jornalisticas. “Jornalistas se tornaram
muito conservadores: defesa do diploma e nao da qualidade”. Livre informaçao é um paradigma;
informaçao sempre foi commodity; firmar essa posição: defesa da liberdade de expressção nao
mediada pela técnica (diploma). Incentivar a pluralidade. Comunicaçao nesse novo lugar passa por
outros lugares, como a economia, o marketing, a cultura.
Fundos p'ublicos para o jornalismo independente podem ser uma solução. Seriam geridos por


                                                                                                        32
conselhos de comunicaçao, que poderiam fomentar o que é relevante ou não: pautas investigativas.
Jornalismo cidadao pode superar o jornalismo diário? Hoje você paga pela credibilidade de uma
assinatura, e nao pela informaçao. Reconhecimento destes comunicadores que nao sao só
jornalistas.
Esse poderia ser um dos eixos de investimento publico na comunicação: financiar alguém para
disputar a hegemonia midiática ou pequenas iniciativas.
Questão levantada pela plenária: internet ainda é limitada a uma classe social. Como fazer para isso
chegar ao resto da população?
Uma conclusão sobre o gerenciamento e administraçao de servidores de uso público: deve ser feito
de maneira apartidária, juntando sociedade civil e governo.




                                                                                                  33
Anexo 1 Digital versus Analógico - Definições básicas

O que caracteriza a transmissão analógica é que as formas de onda possuem a informação que deve
ser reproduzida no destino, ou seja não há o emprego de técnicas de codificação para a mensagem.
Sendo uma comunicação susceptível a ruído, distorções e interferências

COMUNICAÇÃO ANALÓGICA – é a forma de transmissão de dados que obedece aos princípios
analógicos. Uma entidade é analógica quando uma de suas dimensões varia de forma contínua, sem
saltos. Por exemplo, o movimento do pêndulo de um relógio começa com velocidade zero de um
lado, aumenta esta velocidade até um máximo na descida e vai reduzindo gradativamente até zero
na subida para o outro lado. Se não houvesse atrito este movimento se prolongaria indefinidamente.
Os sinais elétricos de uma comunicação analógica fluem através de um meio físico como ondas
eletromagnéticas que variam a intensidade de sua voltagem continuamente no tempo.
Um sinal elétrico analógico é representado por uma curva chamada senóide, onde a amplitude
indica a variação contínua da intensidade da voltagem e o período de tempo gasto para o retorno da
curva à posição inicial indica que um ciclo foi completado. O número de ciclos completados em
uma unidade de tempo indica a freqüência do sinal. Quando 1 ciclo é completado em 1 segundo diz-
se que a freqüência do sinal é igual a 1 Hz (Hertz).
Por exemplo, falando baixo em um telefone a amplitude (volume) diminui, gritando ela aumenta,
falando com voz aguda a freqüência muda para mais ciclos por segundo e com voz grave diminui o
número de ciclos por segundo.


COMUNICAÇÃO DIGITAL – um sinal transmitido por uma rede é digital quando seu valor não é
contínuo, isto é, não há estados intermediários. Diz-se que os sinais são discretos. Ou está sendo
transmitida corrente elétrica ou não. Isto é representado por um código de dois símbolos: 1 e 0.
Cada um destes símbolos é chamado de dígito binário ou bit, do inglês binary digit. Associa-se ao
dígito 1 a presença de corrente elétrica (ligado) e ao 0 a ausência (desligado).

Docs online:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinal_anal%C3%B3gico

http://iaracaju.infonet.com.br/users/jfonseca/TELECOMUNICACOES.HTM

Princípios da Comunicação Digital
http://books.google.com.br/books?id=xBwute5fxNEC&lpg=PA11&ots=v5nGb5BO2j&dq=
%22comunica%C3%A7%C3%A3o%20digital%22&lr=&pg=PA11#v=onepage&q=%22comunica
%C3%A7%C3%A3o%20digital%22&f=false




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Anexo 2
Breves entrevistas sobre campo da comunicação digital, atores, diagnósticos e propostas
Estas são apenas as entrevistas transcritas – outras conversas foram feitas, porém ainda não foram
acrescentadas no relatório.

Beth Saad, doutora, professora de comunicação digital

Essa é uma conversa sobre a delimitação do campo da comunicação digital. No livro Cultura
Digital.Br (baixe aqui), a primeira pergunta para todos os entrevistados é “o que é a cultura
digital?”. E há inlusive uma disputa semântica de termos: cibercultura, cultura digital. Mas
todos entendem que a cultura digital não é simplesmente a digitalização – o analógico tornado
digital. Dizem que muda muito mais, que é uma mudança estruturante da sociedade.
Beth Saad: Concordo.

Na comunicação é possível o mesmo paralelo?
Tem um complicador. Não dá para negar que vamos continuar tendo os meios tradicionais. Mas
maioria tende a limitar a comunicação digital às ações de relacionamento no ciberespaço. E não
acham que isso vai envolver todos os demais suportes.

Mas a comunicação digital vai envolver tudo simplesmente porque o ciberespaço será
onipresente, ou mais que isso?
Mais que isso. Algumas coisas vão acontecer no ciberespaço, mas várias outras coisas estarão
digitalizadas e vão envolver a lógica digital, de trocas, de bits. Um jornal impresso, hoje, se faz com
meios digitais. A lógica digital é o grande chapéu do processo de comunicação. Uma parte do
processo é o meio digital puro. Relacionamento com o público: o que vai fazer a diferença é se a
relação é unilateral, bilateral, multilateral. O que vejo hoje é que se delimita o relacionamento no
mundo virtual como se ele não se misturasse com os demais. Não acredito nisso. Tem que se
misturar. Se você se propõe a entrar nas redes sociais, e abrir conta no twitter, no facebook, esse
processo vai desembocar em outros processos não são tão virtuais assim. Existe toda uma
integração que ainda não está clara. As pessoas acham que o que está no virtual ficará no virtual.
Mas não é assim.
Cada vez mais estamos tirando o intermediário do processo, falando diretamente – o gestor,
produtor com o consumidor. Isso vai afetar todo o resto. Sinto uma grande dificuldade,
especialmente nas corporações privadas. Esse povo tem dificuldade em aceitar essa proximidade.
Isso ainda assusta.

O Marcelo Tas diz que o digital, do termo cultura digital, uma hora desaparece, porque tudo
será digital. Na comunicação também?
Eu diria que sim. A gente fala em comunicação digital hoje porque existe uma necessidade didática
de organizar as coisas em caixinhas. Mas cada vez mais as coisas da comunicação vão ocorrer num
pacote único. E sempre haverá um processo, ou parte dele, que ocorre em bits. Vamos colocar um
tempo aí ainda pra isso acontecer, mas será assim.

O campo da comunicação digital, portanto, será o campo da comunicação?
Será. Hoje ainda está restrito ao ambientel virtual.

O livro Cultura Digital.Br talvez seja um exemplo interessante. Ele inverte a lógica com a qual
estamos acostumados. O livro, impresso, não é resultado final do processo, mas ao contrário: é
o início do processo, um caderno de provocações. Que depois é discutido no virtual – a


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plataforma www.culturadigital.br .
E as pessoas ainda estão na lógica do linear em que sempre haverá algo palpável no final. Teremos
aí um tempo de convivência, entre comunicação digital e tradicional. Hoje o digital é um subcampo.

E quanto aos atores? São os mesmos do campo e do subcampo?
Enquanto competências e habilidades, todos precisam pensar no digital. Mas há uma questão de
geração que causa alguns impedimentos… (risos). Para ter um conjunto de atores com este
pensamento, é preciso formação destes atores. Hoje a gente mantém a formação do comunicador de
forma compartimentada. Ou é jornalista, ou publicitário, ou RP. Enquanto não inverter esse
processo de formação básica, sempre haverá no final do processo alguém querendo fazer só livro
em papel.
Vejo a formação como algo que irá modificar a mudança do campo. É muito diferente eu ensinar de
modo compartimentado do que ensinar a trabalhar com grandes temas. Uma coisa é ensinar a fazer
um anúncio para o impresso, outra é pedir para o aluno conceber uma campanha crossmedia, cross-
suporte. Se ensinar a pensar sistemicamente, o digital entra naturalmente no processo todo. É
preciso mudar o início.
Pense como seria a ECA como um pacote único, e não mais compartimentada. Essa é a proposta
mais extrema. E isso não é só no Brasil. Veja a discussão do Protocolo de Bolonha.

Como é isso?
O Protocolo de Bolonha propõe que o aluno europeu possa frequentar o seu curso em vários países.
Para isso, houve um prazo de cinco anos para que as universidades da Europa se adaptassem,
currículo similar, número de créditos. Para que quem quiser faça um pouco na Inglaterra, um pouco
na Espanha, e saia comunicador. Poderíamos, com essa nova proposta, acrescentar umas aulas na
história.
Eu conversei com Ramon Salaverría, que atualmente é chefe do depto de jornalismo em Navarra,
perguntei para ele: vocês reformaram o curso e incluíram todo o curso de comunicação no pacote?
Não. Continua jornalismo, apenas. Não abriram mão. Isso reflete um certo patamar da sociedade
que não aceita o fim do cartesianismo, na Europa mais que tudo. Ainda demora um pouco. Apesar
do público final já ver que a coisa é outra, as estruturas sociais continuam fechadas.

Aproveito para abrir para sua análise do campo. Falou dos empresários e da universidade…
E tem a comunicação pública. Tem um lado muito adiantado, que é a comunicação de serviços:
governo eletrônico, imposto de renda, agenda o INSS pelo computador. Eleição. Tem um avanço
bom. Mas não é comunicação, apenas meios facilitadores para reduzir o tempo. Não significa
espaço para relacionamento.

Para as empresas também. Você compra uma passagem de avião, usa o home banking, mas se
tiver algum problema….
Pois é. Teve o caso do sujeito da United Airlines.
A United perde o violão dele, ele reclama e ninguém faz nada. O cara é músico, fez uma música
sobre a história, o vídeo estoura (5,6 milhões de views no momento deste post), a empresa fica em
crise. A música dele vai para as primeiras paradas do Itunes, ele ainda ganha dinheiro. Aí a empresa
corre atrás. Isso é um processo típico do mundo digital. As empresas tem um medo do cão. O cara
fala mal no YouTube. O que a empresa faz? Em geral, usa respostas do mundo tradicional para
dialogar com o digital. Processa o cara. As pessoas não querem buscar a solução – responder no
mesmo formato, conversar.

A última parte: que políticas públicas poderiam ser feitas para avançar esse processo?
De novo, agir na base. Política pública de comunicação digital tem que ensinar isso para as


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Documento do Eixo Comunicacao Digital
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  • 1. COMUNICAÇÃO DIGITAL VISÕES, CONTEXTOS E PROPOSTAS ANDRE DEAK documento do eixo fórum de cultura digital brasileira Fórum da CulturaDigital Brasileira CulturaDigital.br “a tecnologia é a sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas” (Castells) The fundamental elements of the difference between the networked information economy and the mass media are network architecture and the cost of becoming a speaker. The first element is the shift from a hub-and-spoke architecture with unidirectional links to the end points in the mass media, to distributed architecture with multidirectional connections among all nodes in the networked information environment. The second is the practical elimination of communications costs as a barrier to speaking across associational boundaries. Together, these characteristics have fundamentally altered the capacity of individuals, acting alone or with others, to be active participants in the public sphere as opposed to its passive readers, listeners, or viewers. For authoritarian countries, this means that it is harder and more costly, though not perhaps entirely impossible, to both be networked and maintain control over their public spheres (Yochai Benkler) janeiro de 2010 1
  • 2. SUMÁRIO 1. Prefácio.................................................................................................................. 03 2. Breve introdução à delimitação do campo da comunicação digital...................... 04 3. Dados preliminares sobre a comunicação digital no Brasil...................................12 4. Recorte do campo.................................................................................................. 14 5. Diagnósticos.......................................................................................................... 15 6. Indicações e propostas preliminares...................................................................... 20 7. Propostas da Conferência Livre de Comunicação e Cultura................................. 24 8. Pré-plenária do eixo de comunicação realizada na ABCiber 2009........................29 9. Relato da Plenária de Comunicação...................................................................... 32 ANEXOS Digital versus Analógico - Definições básicas.......................................................... 34 Breves entrevistas sobre campo da comunicação digital, atores, diagnósticos e propostas Beth Saad........................................................................................ 35 Sabrina Nudeliman......................................................................... 37 Eugênio Bucci................................................................................ 37 Eduardo Tessler.............................................................................. 38 Daniela Osvald Ramos................................................................... 39 Renato Rovai.................................................................................. 40 Ana Brambilla................................................................................ 41 Mapeamento das discussões de comunicação digital na plataforma.......................... 42 Extratos da rede.......................................................................................................... 49 Debate sobre a Carta de Princípios sobre Liberdade na Rede................................... 50 Petição online em defesa da liberdade e do progresso do conhecimento na internet brasileira (com mais de 150 mil assinaturas).................... 54 2
  • 3. 1. Prefácio O texto a seguir é resultado dos diversos debates e pesquisas realizados no âmbito do eixo de Comunicação Digital, do Fórum de Cultura Digital Brasileira. Foi contruído com base nas discussões realizadas na plataforma do Fórum (www.culturadigital.br), além de entrevistas, pesquisa bibliográfica e reuniões presenciais. Uma prévia deste trabalho foi apresentada durante as plenárias do Fórum de Cultura Digital Brasileira, entre os dias 18 e 21 de novembro de 2009. O resultado das conversas foi reprocessado com base na plenária de Comunicação e na mesa que discutiu o tema, e depois ainda publicado na plataforma online para receber contribuições diversas. O resultado de todas essas conversas está apresentado abaixo. A ideia, no entanto, é que este documento seja parte de uma discussão constante, em construção permanente. Organizamos o documento em três partes principais: – Introdução ao campo e recorte da abordagem – Diagnósticos – Propostas para públicas públicas A metodologia é resultado de reuniões entre os coordenadores dos eixos, organizadores do Fórum, integrantes do Ministério da Cultura e da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Boa leitura. 3
  • 4. 2. Breve introdução à delimitação do campo da comunicação digital A comunicação como campo de estudos é recente, e mais ainda a inserção destas discussões em um ambiente de redes digitais de alta velocidade. Difrente de outros campos, como a matemática, ou a biologia, os estudos comunicacionais ainda estão em fase de desenvolvimento e bebem, de muitas maneiras, nas metodologias e nos resultados desenvolvidos em outras áreas. Se a comunicação é uma área “jovem”, o recorte da comunicação digital é ainda mais recente. Mesmo entre acadêmicos, não há consenso e nenhuma definição foi, ainda, adotada largamente. Comunicação digital, portanto, ainda é e pode ser entendida de várias maneiras. A primeira delas, mais convencional, e talvez mais básica, é a de que a comunicação digital é aquela oposta à analógica. Este é o entendimento da digitalização da comunicação como um processo técnico de transformação dos átomos em bits. Tudo o que circula em bits, portanto, faz parte do digital. Muitos afirmam, entretanto, que não se trata disso – ou pelo menos não apenas isso. A transformação causada pela digitalização da comunicação em seus vários níveis – especialmente pela comunicação feita com computadores e redes de alta velocidade – aponta para uma transformação em várias áreas do conhecimento. Um dos modelos pelo qual a comunicação era entendida em larga escala era o modelo de broadcasting – a comunicação feita de um para muitos. O novo modelo que se configura a partir das redes digitais é o de um para um, em coexistência com o modelo de um para muitos, mas também o de muitos para muitos (Crosbie, V. 2002. What is New Media?). Os mais entusiatas chamam este processo de revolução, entendendo que essas mudanças serão capazes de resignificar relações sociais, alterar relações de poder e, até mesmo, provocar o surgimento de uma nova sociedade. As próprias teorias da comunicação são questionadas em vista da digitalização – teorias que surgiram antes da internet e que não poderiam, hoje, explicar um mundo de computação ubíqua e convergente. Mas tudo isso ainda é uma discussão em aberto, um campo em disputa. Uma das interpretações mais comuns entre acadêmicos (ver entrevistas anexas) é que o campo da comunicação vai sendo, gradativamente, transformado no campo da comunicação digital. Mesmo produtos físicos, como o jornal, ou a música, passam, durante algum processo, por meios digitais. E mesmo comunicações que, aparentemente, estão totalmente fora de um processo digital – como uma conversa, por exemplo –, começam, terminam, ou continuam, através de processos digitais, como um celular ou um email, ou tratam de assuntos e informações que só vieram à tona por conta de algum processo digital. Sendo assim, tudo o que diga respeito à comunicação diz respeito também à comunicação digital em última instância. Seja porque já é afetada por ela, seja porque é um espaço de crescimento potencial para o digital, um mercado onde ele quer chegar, uma estrutura de poder que pode ser transformada. O campo da comunicação digital, se ainda não é, será o campo de toda a comunicação humana. Comunicação como direito Outro pressuposto deste documento, também, é o de que a garantia da liberdade de expressão, do direito à comunicação e à informação é, também, a garantia das liberdades criativas. A produção cultural é afetada quando a comunicação é prejudicada de qualquer forma, ou quando a formação e a informação são sonegadas. 4
  • 5. A garantia dessas liberdades e desses direitos depende de iniciativas transversais. Assim, este documento traz alguns dos debates que estão presentes também em outros eixos, e até mesmo relacionados a outras áreas do governo que não apenas o Ministério da Cultura (mas Educação, Comunicações e Ciência e Tecnologia). Todas estas discussões são transversais ao eixo de comunicação digital. 2.1 Jornalistas e jornalismo: um breve panorama da situação Um dos enfoques dos debates sobre comunicação digital foi o jornalismo e as alterações sofridas na profissão nos últimos anos. Abaixo, recuperamos algumas das discussões atuais sobre o assunto. O que define atualmente alguém como sendo um jornalista? A pergunta talvez não fizesse sentido há alguns anos: jornalista é quem faz jornalismo, e jornalismo era feito em redações de jornal, de rádio, de televisão e de revistas. Mas até mesmo o formato do livro foi utilizado para grandes reportagens, especialmente depois do que veio a ser chamado de new journalism - hoje não mais tão new assim. No Brasil, especificamente, a questão sobre quem é jornalista estava mais ou menos esclarecida até junho de 2009, quando ainda podia ser respondida de maneira simples: jornalista é aquele que tem diploma de jornalista, após ter estudado durante quatro anos numa faculdade e passado nos exames. Ainda assim, as redações brasileiras sempre empregaram jornalistas que nunca tiveram diploma, especialmente aqueles que praticavam jornalismo antes mesmo da existência das faculdades (a primeira do país foi a Cásper Líbero, de 1947). Estudantes de jornalismo - sem diploma ainda, portanto - também, como norma, trabalham nas redações realizando as mesmas funções dos jornalistas, recebendo salários de estagiários, mas sendo cobrados como repórteres. Mas o diploma deixou de ser definitivo para a questão quando o o Supremo Tribunal Federal decretou que ele não é mais necessário para executar a função. O Brasil, assim, soma-se aos EUA, ou Argentina, e a dezenas de outros países onde o diploma não é necessário. Portugal, por exemplo, em seu Estatuto do Jornalista, determina: Artigo 1º – Definição de jornalista São considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica. Definir que aqueles que trabalham com fatos, notícias e opiniões, portanto, são jornalistas, é uma das maneiras de encontrar um padrão e uma definição para esta categoria profissional. Mas como determinar quais fatos, notícias e opiniões estão dentro do campo (Bourdieu) do jornalismo? O que é a notícia, afinal? O que é, aliás, o próprio jornalismo? A literatura especializada tem uma série de respostas a esta questão. Alexandre Freire, em artigo no Observatório da Imprensa, resume: "tomando por base a referida literatura, é possível afirmar que as definições de jornalismo se articulam em torno da idéia de verdade. Jornalismo seria então uma prática social mediadora entre os eventos que ocorrem no nosso dia-a-dia, no mundo, e o público, que tem deles uma leitura, um entendimento, a partir dos fatos divulgados pela imprensa. Tais fatos representariam a verdade, na medida em que estabeleceriam um nexo entre as palavras e as coisas. Fato, convém lembrar, é o 5
  • 6. produto, de natureza simbólica, que surge a partir da intervenção do jornalista no mundo. É o recorte que é apresentado pela consciência do sujeito cognoscente no seu diálogo com o objeto em foco. Livros e manuais de jornalismo, contudo, estão distantes de um consenso sobre a relação desse com o conceito de verdade. Ideologia, narrativa, discurso, interpretação, representação, manipulação, produto - são, todas, expressões interpostas entre os fenômenos que se desenrolam à nossa volta e o relato proposto pela prática jornalística. Todas são expressões que modulam o sentido da idéia de verdade, aludindo desde à parcialidade do texto jornalístico, como manifestação ideológica, até a sua completa negação, como manipulação." A idéia de jornalismo sempre esteve conectada com a de imprensa. Jornalismo sempre foi praticado e apresentado ao público pela imprensa - seja ela TV, rádio ou impressos. No momento em que os meios de produção da informação eram escassos, poucas pessoas ou empresas podiam distribuir fatos. Quando o custo para distribuir informação passa a ser praticamente zero, o jornalismo pode finalmente desvincular-se da imprensa. Ou melhor: todos podem ser, de alguma forma, a imprensa. John Carlin, em reportagem do El País, publica uma entrevista que descreve a situação atual a partir do viés de Spencer Reiss, "que abandonó Newsweek a mitad de los noventa para incorporarse a la primera gran revista de la ciberépoca, Wired". Reiss é um dos entusiastas, parte do grupo que qualifica o momento atual como "revolução digital" – e a defende: "El plan A es publicar un diario por el método tradicional, por ejemplo en Madrid, lo cual implica cortar árboles en Escandinavia, procesar la madera para convertirla en papel, transportar el papel en barco a un puerto y después en camión a la capital. Ahí tienes un caro inmueble en el que trabaja tu extensa y costosa redacción y operan tus máquinas de impresión, con sus costosos operarios. Y todavía te queda la fase final de transportar el producto impreso a los extensos y dispersos punto de venta. El plan B es un tipo con un ordenador que aprieta unas teclas y envía el mismo producto a las pantallas de un número ilimitado de consumidores. ¿Quién gana?". Carlin, autor da reportagem que entrevista diversos pesquisadores e editores, dividiu em três grupos de opiniões os ânimos sobre essa questão: En líneas generales hay tres corrientes de opinión: los blogueros (por así llamarlos), convencidos de que el periódico como lo hemos conocido durante 200 años y el ancien régime del periodismo empresarial están condenados a la extinción; los viejos rockeros, defensores del antiguo orden, que creen que tras una época de inevitables ajustes y transformación, los grandes buques insignia no sólo sobrevivirán, sino que emergerán fortalecidos; y los de mentes abiertas (o confusas) que observan el espectáculo con honesta perplejidad y (...) no saben muy bien qué conclusiones sacar. Clay Shirky, autor de Here Comes Everybody, sobre as mudanças culturais que chegam junto com as novas tecnologias, é outro dos grandes entusiastas do mundo digital: para ele, os jornalistas podem inclusive deixar de existir, uma vez que todos, agora, são capazes de realizar o que antes era exclusivo destes profissionais. Ele compara os jornalistas com os escribas, que eram indispensáveis no início do século 1400, mas tornaram-se obsoletos com a prensa de Gutemberg, ao final do século – quando ficou muito mais simples gravar o conhecimento humano em papel. "If everyone can do something, it is no longer rare enough to pay for, even if its vital". "a professional class implies a specialized function, minimun tests for competence and a minority of members. None of those exist with political weblogs, photo-sharing or a host of other self- publication tools". 6
  • 7. Existem também alguns que repudiam totalmente a produção dos cidadãos-repórteres (termo difundido pela experiência do jornal sul-coreano OhMyNews). Exemplo desta vertente é Andrew Keen, que escreveu O Culto do Amador - Como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores. Para ele, é um terror o fato de que “A Wikipedia de Jimmy Wales, com seus milhões de editores amadores e conteúdo não confiável, é o 17º site mais acessado da internet; Britannica.com, com seus 100 ganhadores do Prêmio Nobel e 4 mil colaboradores especialistas, está em 5.128º lugar”. “A responsabilidade de um jornalista é informar, não conversar conosco. […] Na Blogosfera, publicar nosso próprio “jornalismo” é grátis, não exige esforço e está a salvo de restrições éticas irritantes e conselhos editoriais importunos”. [N.A. acrescentar parágrafos: Uma análise mais detalhada sobre os argumentos de Keen, no entanto, mostra o quanto está equivocado. Ele mesmo, mais tarde, afirmou que teria exagerado em muitas coisas] Manuel Carlos Chaparro, professor e membro do comitê do Ministério da Educação que investigou novas diretrizes para o currículo dos cursos de jornalismo, participou de várias discussões públicas sobre o assunto. Para ele, ao contrário do que muitos pensam, a profissão sai fortalecida. "Associamos jornalismo a jornal, a redações organizadas, mas cada vez mais o jornalismo é um fenômeno abstrato. É algo espalhado pela sociedade. Isso elimina o jornalismo? Não, claro que não. Ele ganha força. Porque é quando a informação passa pelo jornalismo, por seus critérios, é que ganha credibilidade. Na faculdade se aprende a construir uma linguagem da credibilidade. Mas muita gente usa a linguagem do jornalismo hoje. A linguagem precisa ser preservada, mas os jornalistas também. Nada do que ocorre hoje vai contra a profissão ou contra a atividade, pelo contrário. Antigamente os políticos iam até a praça pública – lá era o espaço público. Agora ainda vão, mas apenas como palco para o jornalismo. O jornalismo tornou-se o grande espaço público – não a mídia, mas o jornalismo. Porque ninguém se importa em aparecer na Ana Maria Braga, mas querem aparecer no jornal das oito. Porque lá está a credibilidade." O fim do jornalista e mesmo do próprio jornalismo, entretanto, não estão em discussão aqui. Estes são apenas alguns exemplos dos discursos mais contundentes sobre o assunto, que situam a amplitude do debate desencadeado desde o surgimento da internet e das mais recentes evoluções da web. Independente do que irá ocorrer, fato é que algumas transformações já ocorrem. Os pesquisadores espanhóis Javier Díaz Noci e Ramón Salaverría resumem: “La incorporación de la tecnologia digital está modificando los procesos tradicionales de investigación, elaboración y difusión de los mensajes periodísticos y, de hecho, hasta la propia barrera entre periodista y publico, entre emisor y receptor, se difumina. La tecnología digital, en fin, há llegado para transfigurar aspectos esenciales de la profesión periodística.” Os exemplos dessas modificações são muitos. Muitos autores – como Clay Shirky, mas também Henry Jenkins (Cultura da Convergência) e Steven Johnson (Cultura da Interface), relatam como as 7
  • 8. pessoas passaram a usar a rede digital para organizar as mais diversas ações, como grupos que investigam onde ocorrerá o próximo Survivor e quem será o vencedor (Jenkins) ou mesmo desvendam crimes reais, como o roubo de um celular (Shirky). Em muitos casos, essa produção informativa, inclusive no método de apuração utilizado, é exatamente a mesma da investigação utilizada pelo jornalismo na construção da reportagem. Às vezes, inclusive melhor. Por exemplo, quando não se trata de uma investigação extensa, mas da avaliação crítica de produtos ou serviços, quando um blogueiro avalia produtos ou serviços, mas não se identifica como tal (ao contrário do que fazem jornalistas que viajam a convite para avaliar serviços hoteleiros, por exemplo – o que aumenta, sem dúvida, o grau de dúvida sobre a isenção da avaliação). E até nos casos de reportagens investigativas há quem diga que o leitor sempre poderá fazer um trabalho melhor do que o do jornalista. “Parto do pressuposto que meus leitores sabem mais do que eu: eles são em maior número – eu sou um só”, diz a frase já célebre de Dan Gillmor em We the Media. A participação do público na produção de notícias e de outros conteúdos informativos cresce. A imprensa não é mais a única capaz de publicar; os jornalistas não são mais os únicos capazes de realizar jornalismo. Se a participação do público apenas modifica ou extingue a função do jornalista, o tempo dirá – e, como já vimos, há defesas das duas teorias. Os produtos jornalísticos, como o jornal, também sofrem modificações. O editor da revista Amanhã, Eugenio Esber, fala num processo de “arrevistamento”, ou seja, jornais tratando a informação mais como revistas, especialmente as semanais. O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e o New York Times já lançaram assinaturas exclusivas para quem quer ler apenas os jornais do final de semana. Será que precisamos imprimir jornais todos os dias? Sábado e domingo, por exemplo? Se o jornal vai ser mais analítico, precisa ter ênfase na reportagem. Matérias curtas, com uma fonte só, geralmente oficial, ou releases, isso tudo está na internet. No jornal de 2011 não vejo nenhum release. Ele não é o único. No livro O Destino do Jornal, de Lourival Sant'Anna, vários depoimentos de editores de jornais brasileiros seguem na mesma linha. Sandro Vaia, diretor de redação de O Estado de S. Paulo, diz a ele: “O jornal de hardnews desaparece, e passa a ser um jornal de análise, de comentário, para quem quer saber mais, para quem quer se aprofundar na informação. […] Os jornais têm de se conscientizar de que não podem ficar repetindo, no dia seguinte, aquilo que todo mundo já sabe.” Não há, ainda, nenhum estudo ou pesquisa - ou mesmo experiência de mercado - que garanta a existência e o sucesso comercial dos jornais como ocorreu nos últimos 100 anos (o império midiático de William Randolph Hearst foi fundado em 1887). Os números, inclusive, mostram uma decadência generalizada, sendo o mercado brasileiro uma das poucas excessões (Sant'Anna). Os profissionais e pesquisadores apontam algumas probabilidades, como sugere o doutorando e professor de jornalismo Marcelo Träsel, em comentário sobre a reportagem do El País: As redações serão enxutas e formadas por editores, cuja principal tarefa será gerenciar o fluxo de informações vindas dos quatro cantos do mundo, organizar a edição impressa e as capas da edição 8
  • 9. digital do jornal. O ex-editor chefe do Estadão Online, Marco Chiaretti, também avalia que isso deverá ocorrer. Em palestra ministrada para a Revista Cult, disse que o jornalismo online começa com um pensamento simples dos donos dos veículos: "se estamos ganhando 1 distribuindo as notícias em mídias tradicionais, talvez possamos ganhar 1.2 distribuindo também online, mas sem gastar mais 0.2 para isso. Bastaria “otimizar” e “integrar”. Tempos depois, o custo de operação do online aumentou (agora todos precisam ter vídeos, áudios, infografias, etc.), enquanto a publicidade não transferiu ainda para a rede os investimentos que faz nos meios tradicionais. Estaríamos, segundo ele, num momento de transição em que, finalmente, teremos o jornal funcionando prioritariamente no online. Citou o Die Zeit alemão, jornal semanal, como exemplo do que poderá se tornar o jornal impresso. E prevê ainda que a reportagem - item mais caro do jornalismo - deve diminuir cada vez mais dentro das redações, o que já ocorre, aliás. O jornalista passaria a ter como função, portanto, a edição do fluxo de informações, muito mais do que a própria produção delas. Uma das funções passa a ser a de arquiteto da informação. Segundo a pesquisadora Elizabeth Saad: Richard Saul Wurman, um arquiteto americano que ao longo de sua carreira passou da concepção de formas para a concepção de conteúdos formatados, propõe esse novo verbete: Arquiteto da Informação. sm. 1) O indivíduo que organiza padrões inerentes a dados, esclarecendo complexidades. 2) Uma pessoa que cria estruturas ou mapeia informações que possibilitam a busca de caminhos individuais de conhecimento. 3) o profissional emergente do século 21, voltado para as necessidades de sua era, buscando clareza, conhecimento humano e a ciência da organização de informações. Esta ampla definição passou a ser utilizada por aqueles que trabalham nas intersecções entre tecnologia, design e jornalismo (Agner). No caso dos jornalistas, mesmo aqueles que realizam justamente a arquitetura de páginas de notícias ou desenham a arquitetura das reportagens interativas publicadas em sites ainda não se autodenominam arquitetos da informação. Mas as tarefas realizadas por eles se encaixariam perfeitamente na definição. Conforme Beth Saad: A era da informação eletrônica nos coloca diante de um meio que possibilita (e quase que nos obriga) a disponibilização de uma informação que, para ser adequadamente compreendida e absorvida, vem configurada com dimensão, profundidade e amplitude. Essa informação não é apenas, mas também é texto (ou hipertexto), são gráficos (ou infográficos), são ícones (ou links), imagens (animações), sons (real audio), ou tudo isso junto. O que se procura demonstrar que o produto informativo, desde a sua concepção, tem forma, conteúdo e contexto, destinados a satisfazer um determinado conjuntode expectativas, expressas em papel, numa interface eletrônica ou numa exposição de arte. Esse processo é fruto de uma atividade típica desse novoprofissional do século 21, seja ele o próprio arquiteto, ou um designer, um jornalista ou um editor, um webmaster, um artista gráfico, um produtor de CD-ROM, um engenheiro, um educador, pesquisadores em geral, ou quem se queira. O texto, de 1999 - escrito há mais de uma década, portanto - fala ainda em CD-ROM, na época o expoente de algumas experiências multimídia interativas. Atualmente, todas as possibilidades do 9
  • 10. CD-ROM estão online, e ampliadas, inclusive. Alguns jornalistas, hoje, realizam a apuração, produzem material em texto, foto, áudio e vídeo, além de infográficos, desenham a plataforma onde a reportagem será apresentada e, por fim, constroem a própria plataforma, utilizando linguagens de programação. A depender do modelo de reportagem, se possibilitar interações do usuário (desde comentários até colaboração, nos mais diversos níveis), o jornalista ainda terá que mediar a relação com o público. Beth Saad também fala sobre esta função: "Pensando na evolução do tema transformação do papel do jornalista, podemos ampliar sua atuação na sociedade digital para algo mais fundamental, que é funcionar como elo entre opiniões, pessoas, grupos, comunidades, etc." O trabalho de muitos jornalistas não é mais, portanto, o que foi um dia. Os editores, que contratam repórteres, são quase unânimes na opinião de que o profissional que oferecer mais técnicas multimídia terá mais chance de trabalho. Uma boa síntese é o que apresentou o professor e blogueiro José Luis Orihuela, da Universidade de Navarra, no III Congreso Internacional de Periodismo en La Red, que aconteceu na Universidad Complutense de Madri em 2008: uma lista de competências que o jornalista – de qualquer meio – deveria ter na era digital: Buscar, selecionar e misturar, otimizar e produzir informações novas, em áudio, vídeo, foto e texto, e de forma integrada; Desenhar: saber explicar visualmente a organização da informação, bem como a arquitetura de um meio digital para distintas audiências e plataformas; Expor e argumentar em público sobre suas idéias; Refinar a informação, e aqui está um diferencial, pois este ponto determinará o valor da informação, e se as pessoas vão pagar por ela ou não; Representar a informação de forma visual, pois é a forma mais eficaz de comunicação de nossas idéias com outras áreas de conhecimento, como programação e design; Mudar sempre, redefinir e repensar nossa identidade profissional muitas vezes na vida; Empreender, pois o horizonte do estudante era conseguir um emprego, e agora há muito mais empreendedorismo do que antes; levar a sério a formação empresarial da nossa profissão; Inovar, e passar sempre do discurso para a ação. Competências essenciais Ler, no sentido amplo. Aprender a decodificar a informação a partir de ligações e links; Pensar de forma nova os novos paradigmas; Escrever, no sentido amplo também, em várias plataformas, texto, áudio, vídeo, textos flutuantes, hipertextos, escrita em cooperação; Comunicar, a base da profissão, de forma eficaz e em diversas plataformas; Aprender a aprender, de forma autônoma e independente, durante toda a vida. A formação do jornalista será sempre permanente. Alberto Cairo, um dos maiores especialistas em infografias, também aponta que, hoje, um jornalista precisa "conhecer as tecnologias e softwares que compõem o processo noticioso digital, não no nível de especialista, mas sim o necessário para saber quais as possibilidade e limitações de cada tecnologia. (...) O mundo hoje é informatizado, portanto, o jornalista precisa entender de tecnologia para compreender o mundo ao seu redor. Afinal, é desse mesmo mundo que ele tira a substância 10
  • 11. para o seu trabalho diário”. Fernanda Abras e Pedro Penido, em paper apresentado para o Intercom, destacam o papel do jornalista não mais como porteiro (gatekeeping), mas como vigia (gatewatching) da produção de conteúdo gerado pela rede. Na terceira geração do jornalismo na Internet (fase hipermidiática), o pensamento massivo é abandonado, dando lugar ao pensamento interacional. Por isso, os conceitos clássicos começam a ser questionados. Primo & Träsel usam o neologismo gatewatching, criado por Bruns, em oposição à noção de gatekeeping presente nos meios de comunicação de massa: Devido à quantidade de informação circulando nas redes telemáticas, cria-se a necessidade de avaliá-la, mais do que descartá-la. Não é mais preciso rejeitar notícias devido à falta de espaço, porque pode-se publicá- las todas. Nota-se um deslocamento da coleta de informação para a seleção da mesma. Assume-se um papel semelhante ao de um bibliotecário. É claro que alguém ainda precisa entrevistar as fontes e analisar dados, e a maioria dos profissionais que lidam com o webjornalismo acabam por assumir ambos os papéis. Este novo jornalista, que combina repórter e bibliotecário, é o gatewatcher. Do porteiro, passa-se ao vigia 2.0 A tecnologia sempre transforma, minimamente que seja, qualquer profissão. Algumas são mais radicalmente afetadas, outras alteram apenas a técnica. O jornalismo vê a tecnologia operar transformações em todos os níveis da profissão, com alguns temendo – e outros comemorando – inclusive a chance de sua própria extinção. Gay Talese, em entrevista em vídeo ao jornal O Estado de S. Paulo, disse que os jornais ainda são instituições onde, talvez, existam menos mentirosos por metro quadrado. Ele estava, assim como o professor Chaparro, defendendo que a credibilidade dos jornalistas ainda é necessária, e ainda é maior do que a da maioria dos outros agentes que propagam informações. Enquanto a balança da credibilidade pender para o lado dos jornalistas – sejam eles quem forem –, o jornalismo ainda será visto como uma necessidade pela sociedade. Seja lá como, e por quem, ele seja realizado. 11
  • 12. 3. Dados preliminares sobre a comunicação digital no Brasil* O país tem 64,8 milhões de internautas segundo o Ibope Nielsen Online em julho de 2009[1], um aumento de 2,5 milhões de pessoas em relação ao mês anterior[2]. Em junho de 2008, o Ibope/NetRatings contabilizava 41,5 milhões[3], mas não contabilizava os acessos públicos (LAN houses, bibliotecas, escolas e telecentros), que agora passou a somar aos acessos do trabalho e de casa. O Brasil é o 5º país com o maior número de conexões à Internet[4]. Nas áreas urbanas, 44% da população está conectada à internet[5]. 97% das empresas[6] e 23,8% dos domicílios brasileiros estão conectados à internet[7]. 3.1 Internautas ativos 27,5 milhões acessam regularmente a Internet de casa, número que sobe para 36,4 milhões se considerados também os acesso do trabalho (jul/2009)[8]. 38% das pessoas acessam à web diariamente; 10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana; 18% uma vez por semana. Somando, 87% dos internautas brasileiros entram na internet semanalmente[2]. Segundo Alexandre Sanches Magalhães, gerente de análise do Ibope//NetRatings, o ritmo de crescimento da internet brasileira é intenso. A entrada da classe C para o clube dos internautas deve continuar a manter esse mesmo compasso forte de aumento no número de usuários residenciais.[9]. 3.2 Tempo de navegação Desde que esta métrica foi criada, o Brasil sempre obteve excelentes marcas, estando constantemente na liderança mundial. Em julho de 2009, o tempo foi de 48 horas e 26 minutos, considerando apenas a navegação em sites. O tempo sobe para 71h30m se considerar o uso de aplicativos on-line (MSN, Emule, Torrent, Skype etc)[10]. 3.3 Tempo em comunidades online** Em geral, no mundo, as pessoas passam 10% do tempo que estão online em comunidades sociais. No Brasil, elas passam quase 25% do tempo em comunidades – quase 1/4 do tempo em que estão online, estão no Orkut, no Twitter ou Facebook. 12
  • 13. 3.4 Comércio eletrônico No primeiro semestre de 2008, as compras on-line somaram R$ 3,8 bilhões (45% mais do que igual período de 2007)[11]. O ano fechou em R$ 8,2 bilhões (crescimento de 30% na comparação com 2007). A previsão para o primeiro semestre de 2009 era de R$ 4,5 bilhões[12], mas, mesmo com crise, o faturamento foi de R$ 4,8 bilhões, 27% a mais em relação ao mesmo período de 2008. O valor médio das compras é de 323 reais[13]. A previsão é que o ano feche em R$ 10,6 bilhões. 3.5 Publicidade on-line A internet se tornou o terceiro veículo de maior alcance no Brasil, atrás apenas de rádio e TV[14]. 87% dos internautas utilizam a rede para pesquisar produtos e serviços[15]. Antes de comprar, 90% dos consumidores ouvem sugestões de pessoas conhecidas, enquanto 70% confiam em opiniões expressas online[16]. 3.6 Venda de Computadores São 60 milhões de computadores em uso, segundo a FGV, devendo chegar a 100 milhões em 2012[17]. 95% das empresas brasileiras possuem computador[18]. 3.7 Banda larga Atingimos 10,04 milhões de conexões em junho de 2008: um ano e meio antes do previsto, já que essa era a projeção para 2010[19]. O último dado, do primeiro semetre de 2009, aponta quase 11 milhões de conexões. Somando as conexões móveis (3G), chega-se a 13 milhões. A previsão é de 15 milhões em 2010[***]. Quanto ao volume de dados, o incremento foi de 56 vezes de 2002 até 2007. E a projeção é de um aumento de 8 vezes até 2012[20]; o número de conexões móveis cresceu de 233 mil para 1,31 milhão em um ano[21]; Sistemas gratuitos de banda larga sem fio (Wi-Fi) funcionam nas orlas de Copacabana, Leme, Ipanema e Leblon, nos Morros Santa Marta[22] e Cidade de Deus[23] e na Praça Roberto Silveira, em Duque de Caxias[24]. Estão nos planos: São João de Meriti, Belford Roxo, Mesquita, Nova Iguaçu, Nilópolis, Rocinha, Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e 58 km da Avenida Brasil[25], todos no Rio de Janeiro. 3.8 No Mundo O número de usuários de computador vai dobrar até 2012, chegando a 2 bilhões. A cada dia, 500 mil pessoas entram pela primeira vez na Internet[26], a cada minuto são disponibilizadas 20 horas de vídeo no YouTube[27] e cada segundo um novo blog é criado[28]. Em 1982 havia 315 sites na Internet[29]. Hoje existem 174 milhões[30]. *Dados retirados do site Estatísticas sobre a internet no Brasil (atualizado em 23 de outubro de 2009); todos os dados tem links de referência para as notícias que serviram de fonte. **Dados de apresentação feita por Jonathan Carson, presidente do International Ibope/Nielsen Online ***Apresentação Barômetro Cisco 13
  • 14. 4. Recorte do campo A proposta inicial do Ministério da Cultura para as discussões sobre comunicação digital passa pelos seguintes eixos: - a linguagem (códigos, sejam eles de programação ou línguas) Preservação da língua portuguesa e o incentivo à produção de conteúdos no ambiente da cibercultura; - Processos midiáticos e as implicações comunicacionais e culturais da convergência; Há muito mais espaço para concorrência; novos “players”, surgidos no mundo digital, disputam tanta verba publicitária quanto os antigos sistemas de broadcast; (como fomentar este processo de diluição do poder comunicacional dos velhos atores?) - Transformações nos processos educacionais e o impacto das novas tecnologias de informação e comunicação nos espaços formais e informais de ensino; - Acesso ao conhecimento científico; - Padrões de disponibilização de bases de dados públicas, para permitir a sua apropriação e recombinação pela cidadania Pretende-se também debater a emergência de novas formas de cultura, como games, softwares, a produção para aparelhos móveis, fanfics, entre tantas outras expressões da cultura contemporânea que emergem com o processo de digitalização. 4.1 Outros recortes As discussões levantadas no ambiente digital do Fórum e nas discussões presenciais não ficaram restritas a estes eixos. Tendo em vista a amplitude do campo da comunicação digital – ou da própria comunição –, o recorte foi feito com uma abertura maior e discussões não necessariamente relacionadas com estas acima foram também incluídas no documento. Um dos pontos transversais apontados em muitas discussões foi a necessidade de uma infra- estrutura compartilhada (servidores públicos) para possibilitar incontáveis iniciativas de comunicação digital. Também foi feita a defesa da neutralidade da rede, em muitos debates, assim como da liberdade da rede – uma discussão vinculada ao marco civil da internet. 14
  • 15. 5. Diagnósticos O Brasil se coloca como um dos principais países em que a comunicação digital germina de maneira criativa. Para que possa se desenvolver, entretanto, precisa ser incentivada e protegida de interesses mercadológicos monopolistas que poderiam prejudicar a diversidade criativa brasileira. Esta pode ser considerada uma das principais leituras que podem ser feitas a partir das avaliações do Fórum. A inventividade particular ao Brasil e a capacidade para criar redes e utilizá-las de maneira eficiente parece ser um terreno ideal para o desenvolvimento e uso das tecnologias de comunicação que surgem no século 21. A desenvoltura do Brasil em redes como o Orkut (comunidade brasileira é uma das maiores, junto com Índia), ou a descoberta do Facebook (quintuplicou o número de brasileiros na rede em 3 meses) é um pequeno exemplo disso. O Orkut tem mais de 22 milhões de usuários só no Brasil (conforme divulgado pelo site e no artigo publicado em MediaPost, com números fornecidos pela comScore), enquanto o Facebook tem pouco mais de 1 milhão. Outras fontes falam que a base de usuários do Orkut no Brasil chega a 37 milhões. Na Índia, o Facebook tem 3,2 milhões de usuários e o Orkut, 14,5 milhões. [1] Mercadologicamente, inclusive, o país tem grande potencial para se tornar um dos principais consumidores mundiais. Para Microsoft, o Brasil será o terceiro mercado mais importante em alguns anos, atrás apenas de EUA e China (atualmente é o 5º), segundo dados do caderno Link (Estadão). Um dos principais impeditivos para o crescimento e desenvolvimento desta comunicação é o acesso. Tanto os problemas de infra-estrutura, onde a internet ainda não chega, (e o problema da “última milha” inclusive), e mesmo problemas do sistema de telefonia: onde o telefone celular ainda funciona mal (basta lembrar que na Amazônia o rádio de ondas curtas ainda é um meio eficaz de comunicação, pela falta de outros suportes), sem falar no sistema 3G, bastante precário ainda. E mesmo onde há possibilidade de acesso, o custo dele ainda é impeditivo para muitas pessoas (o Brasil tem uma das internet mais caras do mundo, e mesmo o que se conhece aqui como banda larga – 1 Mb – não possibilita a troca ágil de conteúdos audiovisuais). Diagnósticos por áreas 5.1 Língua portuguesa O português é hoje a sexta língua mais falada na rede (segundo o World Stats, set. 2009). Inglês segue em primeiro (478 milhões), com chinês em segundo (384), seguidos por espanhol (137), japonês (96), francês (79), português (73), alemão (65), árabe (50), russo (45) e coreano (37). Há uma discussão acadêmica forte sobre o uso do “internetês” e sobre como ele pode alterar / prejudicar o uso da linguagem formal. Vários estudos foram e ainda são produzidos sobre o assunto. Também faz parte da discussão sobre linguagem a indexação de conteúdos online – em quais línguas e com quais palavras-chave, categorias, etc. A internet semântica, que seria capaz de cruzar todos os dados, precisaria antes de tudo ter acesso a dados indexados de maneira semelhante – ou encontrar uma forma de traduzir / compreender as bases diferentes e interpretá-las. Abaixo, a tabela do World Stats: 15
  • 16. 5.2 Linguagem livre O Brasil se destaca como um dos países onde há uma das maiores comunidades ativas de desenvolvedores de software livre. Realizado anualmente, o Fisl (Forum Internacional de Software Livre) é o maior evento a reunir o movimento software livre brasileiro e, mundialmente, rivaliza em tamanho apenas com a LinuxWorld San Francisco. O Ginga, um SL, é o middleware da TV digital brasileira, software que permitirá a interatividade entre telespectador e a televisão. Lula esteve no Fisl mais recente (2009), quando defendeu o uso do SL contra a tecnologia paga da Microsoft. Comercialmente, o SL também parece, cada vez mais, uma opção melhor. Mas o sistema ainda não é tão user-friendly quanto deveria, apesar de avançar lentamente neste sentido. O vídeo online ainda não encontrou uma linguagem livre capaz de rivalizar com o Flash, da Adobe. O Firefox 3.5 promete, através do HTML5, ter uma plataforma de vídeos que seja tão interativa quanto o Flash, mas ainda é incipiente. 5.3 Poder público / universidades / bases públicas Simplesmente há pouca transparência da máquina pública. Poucos dados estão disponíveis, e os que estão não conseguem ser lidos de maneira clara – tabelas, planilhas, códigos. Há uma presença grande do poder público naquilo que pode ser chamado de serviços: BO online, pagamento do IR, consultas e agendamentos para INSS, voto eletrônico, etc. No entanto, no que diz 16
  • 17. respeito à conversação, o contato é praticamente zero. Os governos não apenas não estão abertos às redes, como não participam delas. Alguns poucos políticos, após o advento Obama, utilizam a rede como tentativa de se aproximar do eleitorado, mas pouco ou nada está sendo feito efetivamente para utilizar as novas tecnologia para promover a democracia. A plataforma CulturaDigital.Br entra aí como experiência pioneira, juntando-se a poucas outras experiências mundo afora. Mesmo as bases de dados públicas contendo documentos de pesquisa não estão interligadas e/ou completas. Espera-se que as discussões sobre open data gerem a introdução de APIs abertas para toda e qualquer base pública – permitindo, assim, que desenvolvedores possam se apoderar do conteúdo da base de dados para criar interfaces criativas que permitam sua visualização de maneira simplificada. 5.4 Produção e distribuição Na produção audiovisual, o Brasil está ao lado dos grandes produtores mundiais, seja na televisão ou no cinema, com produtos de qualidade. Também ocorre o mesmo com portais online, agências de publicidade e empresas telecons. Ocorre que toda esta produção não alcança o grande público – tirando, talvez, a produção da TV Globo. Levando em consideração que a internet já tem uma penetração muito maior do que o cinema (municípios com salas de cinema [8,7% de cidades] versus população com acesso à internet [mais de 60 milhões de pessoas]), a distribuição poderia privilegiar o online sobre o cinema e mesmo a televisão. 5.5 Controle e descontrole Surgem novas formas de uso malicioso da comunicação, onde conglomerados do mundo empresarial se disfarçam de blogs domésticos para difundir suas propagandas e seus lobbies. Há as ações das claques partidárias sabotando, mesmo, o livre fluxo das idéias. temos percebido que várias claques organizadas (as pardiárias em destaque) não acreditam na democracia, no debate objetivo, na verificação da verdade; têm apenas uma visão instrumental da comunicação e procuram instrumentalizar a esfera digital. Além disso, ainda há pouco entendimento do que seja a comunicação digital, havendo espaço para “baixaria generalizada”. As pessoas estão pouco acostumadas a conversar, e utilizam a rede para emitir opiniões, preconceitos, provocando ações até mesmo criminosas. Ainda há pouco entendimento sobre como operar num ambiente digital. Não há uma linha divisória clara entre esfera pública e esfera privada, o que leva as pessoas a misturarem canais, opiniões e posturas. Preconceitos que antes ficavam restritos à esfera privada vão para a rede, transformando- se em crimes de calúnia ou difamação. O anonimato na rede é uma questão em debate, ligado também às iniciativas de controle que surgem a partir da discussão sobre “cibercrimes” (abaixo). 5.6 Liberdade na rede Tema que percorre a discussão em vários grupos, em diversas falas. Iniciativas como a Lei Azeredo e a lei francesa conhecida como Hadopi premeditaram debates acalorados na sociedade. 17
  • 18. O debate fica entre a busca de uma solução contra cibercrimes em geral e o direito dos “cidadãos digitais”. 5.7 Jornalismo e informação Pesquisa encomendada pelo Grupo Máquina ao Vox Populi que ouviu 2,5 mil pessoas e teve seu resultado publicado no Meio Mensagem mostra que a principal fonte de informação do brasileiro ainda é a TV com 55,9% da preferência dos entrevistados, mas o segundo já são os sites de notícias e blogues, com 20,4%. É o dobro do público que se informa por jornais impressos, preferidos de 10,5%. E quase três vezes mais do que o rádio, com 7,8%. As redes sociais já contam 2,7% da preferência dos pesquisados como fonte primeira de informação, estando à frente dass versões online dos jornais, 1,8%, e das revistas impressas, com 0,8%. Em relação à credibilidade, o rádio está em primeiro lugar com nota média de 8,21 e os sites e blogues jornalísticos estão um centésimo atrás com 8,20. Só depois aparecem TV, 8,12, jornais online, 8,03, jornais impressos, 7,99, revistas impressas, 7,79, redes sociais, 7,74, e revistas online, 7,67. Recentemente, Rupert Murdoch – dono de boa parte dos jornais do mundo, inclusive o Wall Street Journal – anunciou que não apenas pretende cobrar pelo jornalismo online (na contramão do que vem sendo feito até agora), mas também gostaria de retirar todo o conteúdo de seus jornais da indexação do Google. Outros jornais debatem iniciativas que, se não tão radicais, também apontam caminhos pela via paga. A Declaração de Hamburgo propõe que as ferramentas de busca devem pagar para levar leitores aos jornais, porque lucram veiculando anúncios junto aos resultados de buscas (o pesquisador Marcelo Träsel opina que isso seria o suicído dos jornais). A Associação Nacional dos Jornais (ANJ), representante de 90% dos jornais do país, anunciou que vai estimular todos os 145 periódicos associados a aderirem à Declaração de Hamburgo. O Grupo Estado aderiu à Declaração no dia 9 de novembro. Os jornais Folha de S. Paulo e O Globo já anunciaram a decisão de aderir. Links relacionados: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,editores-debatem-conteudo-de-jornais-produzido-na- internet,464214,0.htm http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,editores-debatem-conteudo-de-jornais-produzido-na- internet,464214,0.htm http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091110/not_imp463848,0.php http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,grupo-estado-apoia-acao-por-propriedade-intelectual- na-internet,463696,0.htm De qualquer maneira, fora do Brasil buscam-se formas para viabilizar o caro modelo do jornalismo, especialmente para bancar reportagens, num cenário em que as pessoas deixaram de comprar o 18
  • 19. produto físico e ainda não se dispõem a pagar pelo digital. O Brasil, sendo um mercado que segue na contramão do mundo – vendendo mais jornais impressos a cada ano, sem nenhuma indicação de queda – ainda não discute novos modelos para a web. 19
  • 20. 6. Indicações e propostas preliminares 6.1 Infra-estrutura compartilhada (servidores públicos) para possibilitar incontáveis iniciativas de comunicação digital Boa parte do conteúdo cultural brasileiro está sendo “uploadado” em sites e servidores estrangeiros. Não há um repositório nacional para cultura digital. Tampouco um espaço virtual livre, que possa ser utilizado para criação de experiências de comunicação e cultura. Uma espécie de Local Web pública, nacional, para usos diversos. 6.1.1 Grupos de produtores de conteúdo multimídia organizados precisam de pontos de presença online, linhas de financiamento ou espaço virtual e infra-estrutura para alavancar a produção multimídia. Também a necessidade de integrar as bases de dados acadêmicas e todos estes acervos, e facilitar a busca e download de teses, dissertações, livros, etc. 6.2 Espectro aberto e livre Forma de ocupação das ondas de rádio e TV é analógica. É a forma que interessa aos grandes difusores. O Fórum deveria reaçar a defesa do open spectrum, espectro livre, porque é possível não criar ruído. Nos EUA, abriram um white space: entre os canais de TV, se você usar aparelhos homologados, você pode ocupar livremente. 6.3 Incentivos a projetos de comunicação colaborativa e participativa Produção de conteúdos de maneira colaborativa / realização de políticas públicas a partir de ações de crowdsourcing. Realização de experiências de criação de políticas públicas realizadas a partir da colaboração em redes sociais (como o próprio Fórum de Cultura Digital Brasileira). 6.4 Projetos de mídia livre, incentivar novas formas de comunicação Garantir a possibilidade de apropriação e remix e realizar experiências. Incentivo a blogs informativos, contra a hegemonia dos sistemas broadcast. Incentivo à distribuição Peer to Peer (P2P), ponto a ponto, capaz de descentralizar a distribuição de conteúdos audiovisuais. Utilização e incentivo de mídias sociais. 6.5 Marco regulatório legal O marco regulatório dos dispositivos analógicos não pode ser transposto para o meio digital. O meio digital não é finito. O Fórum precisa contribuir para a definição destes marcos de desenvolvimento tecnológico, de sustentabilidade e de democratizacao das mídias audivisuais e digitais. 6.6 Formatos não devem ser proprietários Se instituições públicas utilizam formatos proprietários, isso impede que seja lido por aqueles que não utilizam plataformas proprietárias. 6.7 Ensino / Acesso / Formação de profissionais capazes de mediar Políticas públicas de ensino de comunicação digital, mais do que simples acesso. Mudar o modo de pensar. Ensino que faça compreender o processo de relacionamento na rede. Ensino à distância. E- learning. O cara acha que é só colocar o teste na rede, depois fazer uma prova… E tudo bem. É a mediação que vai fazer o processo de aprendizagem ocorrer. E hoje o mercado não tem mediadores. Na educação, nos serviços. As pessoas não entenderam ainda este papel: alguém que vai promover os grupos, alimentar a conversa. Isso não tem. E isso será o papel do comunicador. 6.7.1 Formação para produção multimídia 20
  • 21. Habilitação para a criação de conteúdos que sejam não apenas a soma das linguagens existentes, mas também a fusão delas, especialmente utilizando e experimentando a interatividade. 6.8 Fomento Editais de fomento ao desenvolvimento de tecnologias moveis / digitais que envolvam indústrias privadas. Apoio a produção de conteúdo multimídia. Inclusão do setor digital na lei do audiovisual e Rouanet. 6.9 Pesquisa Necessidade de fomentar pesquisas para comunicação digital. Linhas de financiamento de bolsas para pesquisas na área. Linhas de fomento que venham a promover grupos de pesquisa da sociedade civil, a exemplo do que acontece com alguns institus norte-americanos (Poynter). 6.9.1 Pesquisa de ponta Fomento do desenvolvimento de plataformas, de sistemas e de softwares colaborativos, a serem utilizados na contrução de conteúdos culturais e de comunicação. 6.10 Financiamento público do jornalismo independente Estímulo para a constituição de redações independentes -- desvinculadas de ongs, de governos e também de mecanismos de comércio. Um fortalecimento, com base em critérios democráticos e transparente, da comunicação pública, de fato. O financiamento público de jornalismo vem sendo pregado não apenas no Brasil, mas também em outras partes do mundo. Um relatório da Columbia University (the Reconstruction of American Journalism) saiu também em defesa do financiamento público para o jornalismo. Isto vai de encontro à defesa que Eugênio Bucci faz: “o jornalismo deveria ser visto como direito, pode funcionar e bem como atividade privada, mas precisa de garantias públicas”. A proposta mais radical do relatório aponta para uma política pública de criação de um fundo, que seria bancado por redes de comunicação, provedores de internet e telecons, que seria usado para financiar jornalismo local (broadcasters, Internet service providers, and telecom users to pay into a fund that would be used to support local accountability journalism in communities around the country). Link para o texto principal. Surgem também experiências do jornal como plataforma de informação, e não mais apenas veículo de notícias. The New York Times e The Guardian, dois exponentes mundiais do jornalismo, liberaram APIs públicas, para que desenvolvedores utilizassem seus bancos de dados como quisessem. A iniciativa é um interessante movimento no jornalismo mundial. 6.11 Manifestação contra o DRM, especialmente da TV Digital Não permitir a introdução de tecnologias que impeçam a circulação e o remix de conteúdos audivisuais. 6.12 Direitos Construção de um conjunto de direitos dos cidadãos digitais. A proposta mais avançada é a construção de uma Carta de Princípios sobre Liberdade na Rede. Ver o anexo 5 para o debate no grupo Comunicação Digital sobre o assunto. Documento sobre Rights and Principles e Congresso de Madri – visao global sobre privacidade – 21
  • 22. IGF Garantia de uma rede que não precise de cultura da permissão; proposições a respeito da garantia e não do limite. 6.12.1 Direito de anonimato para navegação Houve todo um debate sobre este tema durante o processo de avaliação crítica sobre o projeto que se tornou conhecido como Lei Azeredo. A defesa da liberdade de navegação compara o espaço público virtual com o real: exigir cadastro para entrar na internet seria como exigir que as pessoas andassem nas ruas com camisetas contendo CPF, RG, endereço, etc. Não se pode tratar todas as pessoas como suspeitas, sob pretexto de facilitar a identificação de criminosos. Para além disso, governos totalitários utilizam este controle para vigiar seus cidadãos, criado sociedades orwellianas. 6.12.2 Direito de anonimato para navegação A publicação anônima de informações é uma grande aliada da democracia. Para textos apócrifos criminosos, há maneiras de realizar investigações que cheguem ao autor, ou pelo menos possam criminalizar a distribuição dos textos. A publicação anônima garante que não o autor, mas o conteúdo, seja avaliado, despido da discussão que haveria sobre o próprio autor. Diz Sergio Amadeu da Silveira: Neste novo cenário de uma esfera pública constituída nas redes informacionais, o direito de blogar anonimamente é defendido pela Electronic Frontier Foundation (ELETRONIC, 2009). A entidade propõe que a livre expressão deve ser protegida de quaisquer tipos de pressão, política, religiosa, ideológica, profissional, corporativa, pública ou privada, por isso, a comunicação sem a necessária identificação do sujeito comunicante é considerada uma das condições do direito à opinião. Nesse mesmo sentido, Ian Clarke, criador e programador principal da rede Freenet, um típico hacker, no texto The Philosophy behind Freenet esclarece: But why is anonymity necessary? You cannot have freedom of speech without the option to remain anonymous. Most censorship is retrospective, it is generally much easier to curtail free speech by punishing those who exercise it afterward, rather than preventing them from doing it in the first place. The only way to prevent this is to remain anonymous. It is a common misconception that you cannot trust anonymous information. This is not necessarily true, using digital signatures people can create a secure anonymous pseudonym which, in time, people can learn to trust. Freenet incorporates a mechanism called “subspaces” to facilitate this (CLARK, 2009). O argumento hacker sobre a verdade e a verificação dos conteúdos anônimos passa pelos mecanismos de reputação, de denúncia colaborativa e pelas redes de confiança, ou seja, os “instrumentos interativos de busca e enquete da comunicação distribuída tornam o anonimato reputável” (ANTOUN, 2008, p. 17). A prática de escrever textos públicos com pseudônimos, nicknames, perfis falsos, não é nova. Sem dúvida, um codinome pode construir uma forte reputação a partir dos seus argumentos. Um grande exemplo da força dos argumentos acima da autoria, ocorreu em 1787, quando Alexander Hamilton convenceu James Madison e John Jay a tentar persuadir os votantes da convenção do Estado de Nova York a aprovar a nova Constituição dos Estados Unidos, elaborada na Filadélfia, naquele ano. Passaram a publicar no Independent Journal, uma série de artigos assinados pelo pseudônimo coletivo “Publius”. Foram 85 textos que vieram a ser conhecidos como “Os artigos federalistas” que Thomas Jefferson chamaria de o melhor comentário jamais escrito sobre princípios de governo. O pseudônimo, mais do que proteger seus 22
  • 23. autores, permitia que os argumentos federalistas fossem analisados em si a despeito de quaisquer antipatias e simpatias por quem os escreveram. Bibliografia de interesse: Caso Minerva (Coréia do Sul) http://www.wired.com/magazine/2009/10/mf_minerva/ Redes Cibernéticas e tecnologias do anonimato (Sergio Amadeu da Silveira, online) 6.13 Incentivo à produção de softwares Ampliar a política dos Pontos de Mídia Livre e criar centros de estudo e produção de software livres nas escolas. Não basta mais fazer lan houses, agora precisamos colocar a galera pra criar softwares. 23
  • 24. 7. Propostas da Conferências Livre de Comunicação e Cultura A I Conferência Livre de Comunicação para a Cultura, de 24 a 27 de setembro, no Recife (PE), organizada pelo Ministério da Cultura, por intermédio da Secretaria de Cidadania Cultural (SCC) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), discutiu a comunicação e a cultura como direitos fundamentais. Abaixo, propostas aprovadas pelos participantes da Conferência Livre de Comunicação e Cultura, realizada em Chã Grande (PE) pelo Ministério da Cultura, que serão encaminhadas para a 2ª Conferência Nacional de Cultura: BANDA LARGA 1. Alteração legal para utilização do FUST, FISTEL e outros fundos na aplicação da ampliação da RNP, e outras redes públicas e gratuitas de pesquisa e implantação de acesso de Internet via redes elétricas e de satélites, capacitação das comunidades para assumirem a responsabilidade de administrarem seus próprios servidores territoriais, permitindo prover conteúdo licenciado livremente e a criação de uma rede de infraestrutura de suporte técnico para a universalização, com qualidade, do acesso à banda larga. PLATAFORMAS 2. Estabelecer e fomentar políticas públicas para o desenvolvimento de plataformas em software livre para a produção e difusão de conteúdos colaborativos e multimídia livres. DISTRIBUIÇÃO 3. Criar um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de comunicação e cultura. e garantir que a produção cultural financiada com dinheiro público seja exibida e distribuída de forma livre, licenciada através de licenças flexíveis e disponibilizada em acervos livres. FORMAÇÃO 4. Criação e manutenção de escolas livres de formação multimidiática com núcleos regionais e/ou estaduais, reunindo as experiências metodológicas já desenvolvidas por instituições de reconhecimento público, com ênfase na formação continuada para o desenvolvimento de novas práticas nas relações de mercado na área do audiovisual, da Economia Solidária e do Comércio Justo. DIREITO AUTORAL 5. Alteração da legislação de Direito Autoral para garantir a ampliação das possibilidades de uso das obras protegidas e, para fins de educação, pesquisa, de difusão cultural, preservação, interoperabilidade e portabilidade, uso privado de cópia integral sem finalidade comercial e também para garantir a supervisão do estado nas entidades de gestão coletiva para estímulo ao licenciamento alternativo e garantia a proteção dos conteúdos em domínio público de modo que esses conteúdos permaneçam livres. CONTEÚDO REGIONAL/INDEPENDENTE 6. Regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal com a aprovação de leis que garantam percentual de conteúdo regional e independente, observando a diversidade étnica, de gênero, religiosa para exibição nos canais de sinal aberto e por assinatura e nos mais diversos suportes e sua rigorosa fiscalização. 24
  • 25. FOMENTO 7. Incentivo ao desenvolvimento de tecnologias para mídias livres, pulverização do recurso público gasto com publicidade para fomentar produções impressas independentes e desoneração da cadeia produtiva do audiovisual através do fomento para a formação de um parque industrial nacional para a fabricação de maquinário de suporte, de baixo custo, para a indústria do audiovisual e da redução dos custos de importação de câmeras, equipamentos e componentes audiovisuais, sem similar produzido no Brasil. Abaixo, a íntegra as propostas aprovadas pelos participantes da 1ª Conferência Livre de Comunicação e Cultura, realizada em Chã Grande (PE) pelo Ministério da Cultura, e que serão encaminhadas para a Conferência Nacional e Comunicação: Eixo 1 – Produção de Conteúdo 1. Fomento à criação e disponibilização de redes e bases de dados geridas colaborativamente para as redes de comunicação e cultura; 2. Criação de espaços públicos de comunicação em comunidades e povos tradicionais com rádios, TVs, telecentros e gráficas livres, que possibilitem e reforcem o registro e divulgação da cultura local e bens culturais materiais e imateriais produzidos nesses espaços. Estes espaços devem ainda atuar como pontos de difusão de conectividade utilizando redes sem fio, provendo também serviços de TV, rádio e telefonia além do conteúdo cultural produzido localmente; 3. Criação de marco regulatório para legalização e estímulo das redes de troca e compartilhamento de conteúdo livre, cultural, educacional, comunicacional e informacional; 4. Criar um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de comunicação e cultura. e garantir que a produção cultural financiada com dinheiro público seja exibida e distribuída de forma livre, licenciada através de licenças flexíveis e disponibilizada em acervos livres. 5. Criar um repositório comum de metodologias que partem do reconhecimento das identidades culturais regionais, que contemplem soluções tecnológicas flexíveis de letramento digital, produção e divulgação de conteúdo, reforçando a importância da autonomia e liberdade nos processos de aprendizagem; 6. Incentivar a produção colaborativa de conteúdos em plataformas como internet, televisão, mídias móveis etc. entre Pontos de Cultura, Pontos de Mídias Livres e produtoras culturais; Votar junto: 1. Alocação de recursos de publicidade institucional do Governo Federal, Estados e Municípios em mídias vinculadas aos Pontos de Cultura, comunitários, livres, independentes, educativos, universitários, valorizando produtos e serviços populares; 2. Manutenção e ampliação do financiamento público para a comunicação livre objetivando a estruturação sustentável dos coletivos beneficiados; 3. Projeto de Lei determinando que recursos públicos na área federal, na estadual e na municipal, previstos para publicidade nos Planos Plurianuais (PPAs), sejam destinados para aplicação nas TVs 25
  • 26. Públicas, Comunitárias e Universitárias; 4. Projeto de Lei para garantir no sistema digital a criação de emissoras de Rádios e TVs Comunitárias em sinal aberto, criando fundos específicos para estes meios e permitindo que captem recursos com publicidade para garantir sua auto-sustentabilidade; 5. Criação e manutenção de equipamentos públicos para produção, armazenamento, documentação e distribuição de conteúdos audiovisuais, sonoros e impressos, que atendam prioritariamente povos tradicionais e comunidades com dificuldade de acesso a estes recursos, geridos por meio de conselhos paritários que envolvam Poder Público e sociedade civil; 6. Garantir que todo conteúdo oferecido por serviço de radiodifusão digital de som e de som e imagem seja livre de qualquer dispositivo técnico, sinal codificado ou outra medida de proteção tecnológica que possa impedir ou restringir o seu acesso e uso legítimo. Eixo 2 – Meios de Distribuição 1. Franquear os pontos de presença da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) para o uso das redes de comunicação e cultura; 2. Utilizar recursos do FUST para investir na soberania da rede, ampliando o alcance da RNP e de outras redes alternativas de acesso a Internet via energia elétrica e rede de satélites, envolvendo em uma ação transversal o MinC, o MiniCom, o MEC e as universidades para capacitar o substrato social na manutenção e administração desta infraestrutura, incluindo organizações sociais como reais beneficiárias de conexão pública de banda larga na ponta, transformando essas instituições em provedores de acesso que administram seus próprios servidores e provêm conteúdo licenciado livremente. 3. Utilização das redes de internet públicas federais, municipais e estaduais como base de infra- estrutura para disponibilização de servidores de internet públicos, com conselhos de gestão paritários entre Poder Público e sociedade civil, de modo que tal infra-estrutura seja gerida colaborativamente visando a construção de redes de comunicação e cultura; 4. A fim de garantir a universalização do acesso dos cidadãos à banda larga, criação e manutenção de uma rede de infra-estrutura pública de internet em banda larga, mediante construção de uma rede estatal composta por tecnologia satelital, fibra ótica e microondas garantindo os benefícios da confluência tecnológica aos cidadãos por meio do fortalecimento da Telebrás e utilização de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), com a alteração da lei. 5. Construção de plataformas públicas que possibilitem a difusão e maior visibilidade de conteúdo para as mídias livres; 6. Proposta de projeto de lei para garantia de direitos civis na internet, para a criação de marco regulatório civil para a internet, com base na Carta de Princípios para a Internet formulada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). 7. Atualizar e consolidar o marco regulatório da área das comunicações dando condições de exercício a uma regulação democrática e equânime da atividade dos diversos serviços existentes e dos que possam existir. 26
  • 27. 8. Controle social na renovação e liberação das concessões de radiodifusão, a fim de definir critérios que contemplem os diversos segmentos socioeconômicos e culturais; 9. Criar mecanismos de apoio à implementação dos Canais criados pelo Decreto 5.820/2006 (TV Digital), inclusive com aporte de recursos financeiros, garantindo a participação da sociedade civil na programação e na gestão dos canais, mediante a ocupação dos canais da Cidadania, Educativo, Cultural e Universitário. 10. Facilitar o acesso aos canais públicos pelo Ministério da Cultura e demais órgãos Públicos de Cultura, TVs Comunitárias e TVs Universitárias, TVs Legislativas e TVs Educativas Culturais, tendo em vista a constituição de acervo e a difusão da produção de conteúdos audiovisuais em todos os canais do campo público de televisão, que contam com apoio ou fomento do Ministério da Cultura, bem como a produção audiovisual oriunda de iniciativas populares; 11. Garantir, no mínimo, três canais e/ou bandas e/ou frequências diferentes para as Rádios Comunitárias, inclusive no processo de digitalização do sistema de radiodifusão; 12. Garantir, nas três esferas de governo, a aquisição de produtos impressos e digitais de mídia livre para equipamentos de educação e cultura, que sejam produção de conhecimento livre. 13. Recomendar que o operador de rede a ser contratado pela União carregue as transmissões de todas as rádios e TVs do campo público, oferecendo ao povo brasileiro toda a diversidade cultural em produção no País por meio de centros de comunicação comunitária de acesso público; 14. Criar no sistema público de comunicação uma central de reprodução e distribuição da produção dos pontos de cultura, comunitários, livres, independentes, educativos e universitários; 15. Criação de uma plataforma virtual de cadastro de mídias alternativas do país vinculada ao site do Ministério das Comunicações, legitimando estes meios de comunicação; 16. Implementação de política de cotas que garanta a distribuição de conteúdo nacional independente e regional na televisão, com o estabelecimento de instância de regulação e de fiscalização para o setor de audiovisual; Eixo 3 Cidadania: Direitos e Deveres 1. Criar a comissão que gere o FUST (Fundo de Universalização dos Serviços em Telecomunicações), com participação de membros da sociedade civil e do poder público; 2. Garantir a participação da sociedade civil, através de seus fóruns, na discussão da lei de comunicação, assegurando a descentralização, a universalização, a democratização dos meios de comunicação; 3. Desenvolver um padrão na metodologia do registro, divulgação e arquivamento dos projetos e leis que assegurem o acesso à produção e difusão de trabalhos artísticos e culturais, levando em conta a possibilidade do ambiente virtual com compartilhamento dos conteúdos; 4. Popularizar o conhecimento do decreto 5.820, que destina no modelo digital os canais de educação, cultura e cidadania para uso da União; da Lei 8.977, mais conhecida como Lei do Cabo 27
  • 28. (1995), que garante 220 canais universitários e 220 comunitários; respeitar o artigo 221 da Constituição Federal, que estabelece a regionalização da produção jornalística, artística, cultural e educativa; 5. Assegurar a exibição de, no mínimo, 50% de produção independente regional pelas concessionárias de canais de TVs, abertas e por assinatura; 6. Fomentar a produção de jogos educativos e que contemplem a diversidade sociocultural; 7. Estabelecimento de formas de controle público-social para o sistema de concessões de rádio e TV, por meio da instituição efetiva do Conselho de Comunicação Social, sendo alterado seu caráter consultivo para deliberativo, com participação do Poder Público e a sociedade civil organizada. 8. Alteração dos procedimentos da escolha dos membros do Conselho Curador da TV Brasil, garantindo ampla e diversa representação da Sociedade Civil, através dos seus legítimos Fóruns; 9. O estado brasileiro deve implementar uma política de reparação para as pessoas e entidades que foram criminalizadas por atuar em rádios comunitárias e abolir a criminalização de mídias comunitárias sem outorga. 10. Reconhecer e apoiar experiências de educação não formal no campo da cultura e da comunicação; 11. Implementar Educação Audiovisual e Mídias Digitais, inclusão de Lógica de Programação e Desenvolvimento de Software na educação básica. 12. Promover práticas educativas, nos âmbitos da educação formal e não formal, a fim de popularizar o direito à comunicação e garantir o aprendizado de uso das novas tecnologias da comunicação e informação, visando o desenvolvimento de competências, habilidades e à reflexão político-transformadora, na perspectiva da mediação tecnológica na educação, da educação para a comunicação e da gestão educomunicativa; 13. Políticas de formação para o midialivrismo e do midialivrista em espaços formais e informais de educação; 14. Criação e manutenção de escolas livres de formação multimidiática com núcleos regionais e/ou estaduais, reunindo as experiências metodológicas jádesenvolvidas por instituições de reconhecimento público, com ênfase na formação continuada para o desenvolvimento de novas práticas nas relações de mercado na área do audiovisual, da Economia Solidária e do Comércio Justo. 15. Democratizar o acesso aos Editais Públicos na área do audiovisual, garantindo consultoria técnica para o seu preenchimento e simplificando os processos de inscrição e conveniamentos. 28
  • 29. 8. Pré-plenária do eixo de comunicação digital realizada na ABCiber 2009 Foi apresentada uma prévia do documento do eixo de comunicação digital, levando em conta a metodologia definida pelos curadores, em conjunto com os organizadores: delimitação de campo, diagnósticos e propostas. Após ouvirem a apresentação, os presentes fizeram os seguintes comentários: Alguns aspectos são fundamentais para a discussão sobre comunicação digital, e não podem, de maneira alguma, serem esquecidos: - A Cultura de Colaboração e de Participação – produção de conteúdos de maneira colaborativa / políticas públicas - Ações de crowdsourcing / experiências de políticas públicas realizadas a partir da colaboração multímídia - Infra-estrutura compartilhada (servidores públicos) para possibilitar incontáveis iniciativas de comunicação digital (uma espécie de SUS da comunicação) - A Cultura do Remix - A emergência dos blogs - O Compartilhamento de arquivos em redes P2P (peer to peer) - Garantia de Acesso e de Acessibilidade - Mídias sociais - Formação para produção multimídia A comunicação ainda é vista como mídia de massa, não mais de um-para-muitos, mas um-para-um e muitos-para-muitos. O pesquisador e ativista político Sergio Amadeu listou algumas prioridades que, segundo ele, deveriam ser destacadas no documento - Infra-estrutura: É preciso ter prioridade para banda larga no Brasil – nem nas grandes cidades há. - Banda larga pública e gratuita a todo cidadão brasileiro - Dentro da infra-estrutura, defesa da neutralidade na rede Segundo ele, a forma de ocupação das ondas de rádio e TV é analógica. É a forma que interessa aos grandes difusores. “O Fórum deveria reaçar a defesa do open spectrum, espectro livre, porque é possível não criar ruído. Nos EUA, abriram um white space: entre os canais de TV, se você usar aparelhos homologados, você pode ocupar livremente.” Sérgio Amadeu se colocou contra o marco civil da internet nacional. “A internet não pode ser nacional. É uma rede transnacional. Já que vão fazer uma lei nacional, que a gente garanta a internet livre nessa rede. Direito de navegação sem vigilância é um direito derradeiro. Guardar logs é absurdo. Tinha que ter um manifesto a parte, que uma rede de controle, se você vincular seu nome a um IP, você fica a mercê de governos autoritários. E uma manifestação contra o que se pretende com a TV Digital. Querem que os aparelhos saiam com tecnologia DRM, que impede a cópia. É preciso garantir o que já ocorre (a livre circulação de bits), mais do que qualquer coisa.”. Garantia de uma rede que não precise de cultura da permissão; proposições a respeito da garantia e não do limite. 29
  • 30. Outro ponto destacado pelos participantes: Fomento / pesquisa O edital acaba pré-selecionando um grupo de pessoas que é o mesmo grupo sempre. A política de pesquisa deveria criar um tipo de edital que não requisitasse certificações, para fomentar coisas como os pontões – aí não seriam sempre os mesmos os capazes de receber financiamentos. Digitalização e disponibilização do conhecimento produzido, sobretudo nas públicas, mas nas privadas também. As revistas precisam estar online e com livre acesso. Senão fica-se a mercê do desejo dos programas. Tudo o que seja produzido com dinheiro público (filmes, documentários, audiovisual) deveria ser disponível para download. Direito a que a comunicação possa se efetivar sem intrusão, criação de conteúdos e formatos sem autorização para isso, e garantir a navegação sem vigilância. Projetos de mídia livre, incentivar novas formas de comunicação O marco regulatório dos dispositivos analógicos não podem ser transpostos para o meio digital. Garantir a possibilidade de apropriação e remix. Incentivar a criação de iniciativas open-source na área da cultura. A área de comunicação é transversal, diz respeito a infra-estrutura, é uma área transversal. Para que se possa discutir a comunicação em todas as áreas, é preciso discutir sub-grupos que passem pelos outros eixos. Levar em consideração culturas locais e pequenas comunidades; Criar uma interlocução entre as conferências de comunicação e cultura; Formatos não deveriam ser proprietários. Se instituições públicas utilizam formatos proprietários, isso impede que seja lido por aqueles que não utilizam plataformas proprietárias. Formato de produção cultural precisa ser aberto. Essa não é uma questão do mundo não-digital, mas no mundo digital é fundamental. Toda comunicação coletiva ou pública, e dados do governo, muito mais. Leis que sejam feitas não para criminalização, mas para garantir direitos mínimos / Sem lei, qualquer município define a sua. A ideia de um marco civil é garantir direitos. De um lado, tem-se um processo ligado à Justiça. Mas significa inverter a direção da lei, normalmente feita para restringir. A lista abaixo é o contato dos participantes do encontro preparatório durante a ABCiber 2009. 30
  • 31. caruschwingel <caruschwingel@gmail.com>, Andre Deak <andredeak@gmail.com> Chirles V. De Oliveira – ESPM bccchirles.oliveira@gmail.com, Liralcio Girardi jr. – Cásper Líbero lira.sociologia@gmail.com, Vinicius Andrade Pereira – UERJ/ESPM vinianp@yahoo.com, Henrique Parra - polart@riseup.net, Yara Rondon Quasque Araújo – UDESC clyrga@udesc.br, Luiza Helena Guimarães – PUC/SP luizahguimaraes@gmail.com, Sandra Rúbia Silva – UFSC sandraxrubia@gmail.com, Ismael Rocha – ESPM irocha@espm.br, Débora de Carvalho Pereira – UFMG debcarpe@gmail.com, Helena Klang – UERJ contato@helenaklang.com, Adilson Cabral – UFF acabral@comunicacao.pro.br, Sérgio Amadeu – Cásper Líbero sergio amadeu <samadeu@gmail.com>, Henrique Antoun – UFRJ henrique.antoun@eco.ufrj.br, Fernanda Bruno – UFRJ fgbruno@matrix.com.br 31
  • 32. 9. Relato da Plenária de Comunicação Digital Durante o Fórum de Cultura Digital Brasileira, realizado em novembro, na Cinemateca, em São Paulo, todos os eixos fizeram discussões específicas sobre os documentos prévios. Abaixo, as principais colaborações feitas durante a plenária de comunicação digital. Cláudio Manoel Duarte de Souza (jornalista, professor UNIJORGE, FSBA, assessor de cultura digital da secretaria de cultura da Bahia), explicou que o planejamento de novas mídias feito na secretaria de cultura da Bahia inclui blog, twitter, youtube, picasa, etc. Importancia de criar redes sociais. A metodologia de mobilizaçao através das redes e a consulta à sociedade civil. Ricardo Severo (formado em ciência da computação e ativista pela liberdade na internet, software livre e inclusão digital) fala da importância da comunicação e da integração com várias áreas, Hoje o jornal é a internet. Não há mais necessidade de ter jornal. Para o público jovem não há necessidade de jornal. As pessoas da minha idade não leem jornal. Eu só leio blogs e internet e me sinto mais informado que muitos... Daniel Bittencourt (curso de comunicação digital Unisinos – danielb@unsinos). Ceila Santos (site Desabafo de Mãe): qual o papel do jornalista? Pensar em públicos diferentes falando a mesma lingua. Importante relacionar o jornalista com o conteudo. Questão da propriedade intelectual precisa ser discutida. A grande questao em termos de politicas publicas é a propriedade intelectual. Pagar pelo tamanho (de texto jornalístico) é um paradigma anterior, porque o espaço era limitado: economia da escassez. É preciso refazer esse desenho: o que é comunicação digital. Alex: Importancia da mediaçao. Com relação à comunicação, separaçao do jornalismo da comunicação: se antes havia um compromisso do jornalista em expandir, hoje não se discute o jornalismo, e sim o jornalista. Estamos nos fechando em um movimento contrário ao anterior: liberdade de expressao só para quem tem diploma. Comunicacao é para todos, jornalismo é para alguns? A informaçao é uma commodity? A cultura é uma commodity? Jornalista pode cobrir eventos, mas quem tem um blog também pode. Onde se agrega o valor é na comunidade, na relação. Andre Deak: jornalismo como prática social é essencial para a democracia. Que política pública poderia haver para incentivar blogs, sites jornalísticos? Também existe muita informnaçao mal produzida, e o que o governo poderia fazer para melhorar essa produção? Como salvar o jornalismo: incentivo público ao jornalismo independente? Isso seria a garantia de valorização do jornalimo em tempos de crise? Caru: Há um distanciamento do jornalismo do campo da comunicação. Processos de produçao de conteudo. A plenária discute que é preciso fomentar novas práticas jornalisticas. “Jornalistas se tornaram muito conservadores: defesa do diploma e nao da qualidade”. Livre informaçao é um paradigma; informaçao sempre foi commodity; firmar essa posição: defesa da liberdade de expressção nao mediada pela técnica (diploma). Incentivar a pluralidade. Comunicaçao nesse novo lugar passa por outros lugares, como a economia, o marketing, a cultura. Fundos p'ublicos para o jornalismo independente podem ser uma solução. Seriam geridos por 32
  • 33. conselhos de comunicaçao, que poderiam fomentar o que é relevante ou não: pautas investigativas. Jornalismo cidadao pode superar o jornalismo diário? Hoje você paga pela credibilidade de uma assinatura, e nao pela informaçao. Reconhecimento destes comunicadores que nao sao só jornalistas. Esse poderia ser um dos eixos de investimento publico na comunicação: financiar alguém para disputar a hegemonia midiática ou pequenas iniciativas. Questão levantada pela plenária: internet ainda é limitada a uma classe social. Como fazer para isso chegar ao resto da população? Uma conclusão sobre o gerenciamento e administraçao de servidores de uso público: deve ser feito de maneira apartidária, juntando sociedade civil e governo. 33
  • 34. Anexo 1 Digital versus Analógico - Definições básicas O que caracteriza a transmissão analógica é que as formas de onda possuem a informação que deve ser reproduzida no destino, ou seja não há o emprego de técnicas de codificação para a mensagem. Sendo uma comunicação susceptível a ruído, distorções e interferências COMUNICAÇÃO ANALÓGICA – é a forma de transmissão de dados que obedece aos princípios analógicos. Uma entidade é analógica quando uma de suas dimensões varia de forma contínua, sem saltos. Por exemplo, o movimento do pêndulo de um relógio começa com velocidade zero de um lado, aumenta esta velocidade até um máximo na descida e vai reduzindo gradativamente até zero na subida para o outro lado. Se não houvesse atrito este movimento se prolongaria indefinidamente. Os sinais elétricos de uma comunicação analógica fluem através de um meio físico como ondas eletromagnéticas que variam a intensidade de sua voltagem continuamente no tempo. Um sinal elétrico analógico é representado por uma curva chamada senóide, onde a amplitude indica a variação contínua da intensidade da voltagem e o período de tempo gasto para o retorno da curva à posição inicial indica que um ciclo foi completado. O número de ciclos completados em uma unidade de tempo indica a freqüência do sinal. Quando 1 ciclo é completado em 1 segundo diz- se que a freqüência do sinal é igual a 1 Hz (Hertz). Por exemplo, falando baixo em um telefone a amplitude (volume) diminui, gritando ela aumenta, falando com voz aguda a freqüência muda para mais ciclos por segundo e com voz grave diminui o número de ciclos por segundo. COMUNICAÇÃO DIGITAL – um sinal transmitido por uma rede é digital quando seu valor não é contínuo, isto é, não há estados intermediários. Diz-se que os sinais são discretos. Ou está sendo transmitida corrente elétrica ou não. Isto é representado por um código de dois símbolos: 1 e 0. Cada um destes símbolos é chamado de dígito binário ou bit, do inglês binary digit. Associa-se ao dígito 1 a presença de corrente elétrica (ligado) e ao 0 a ausência (desligado). Docs online: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinal_anal%C3%B3gico http://iaracaju.infonet.com.br/users/jfonseca/TELECOMUNICACOES.HTM Princípios da Comunicação Digital http://books.google.com.br/books?id=xBwute5fxNEC&lpg=PA11&ots=v5nGb5BO2j&dq= %22comunica%C3%A7%C3%A3o%20digital%22&lr=&pg=PA11#v=onepage&q=%22comunica %C3%A7%C3%A3o%20digital%22&f=false 34
  • 35. Anexo 2 Breves entrevistas sobre campo da comunicação digital, atores, diagnósticos e propostas Estas são apenas as entrevistas transcritas – outras conversas foram feitas, porém ainda não foram acrescentadas no relatório. Beth Saad, doutora, professora de comunicação digital Essa é uma conversa sobre a delimitação do campo da comunicação digital. No livro Cultura Digital.Br (baixe aqui), a primeira pergunta para todos os entrevistados é “o que é a cultura digital?”. E há inlusive uma disputa semântica de termos: cibercultura, cultura digital. Mas todos entendem que a cultura digital não é simplesmente a digitalização – o analógico tornado digital. Dizem que muda muito mais, que é uma mudança estruturante da sociedade. Beth Saad: Concordo. Na comunicação é possível o mesmo paralelo? Tem um complicador. Não dá para negar que vamos continuar tendo os meios tradicionais. Mas maioria tende a limitar a comunicação digital às ações de relacionamento no ciberespaço. E não acham que isso vai envolver todos os demais suportes. Mas a comunicação digital vai envolver tudo simplesmente porque o ciberespaço será onipresente, ou mais que isso? Mais que isso. Algumas coisas vão acontecer no ciberespaço, mas várias outras coisas estarão digitalizadas e vão envolver a lógica digital, de trocas, de bits. Um jornal impresso, hoje, se faz com meios digitais. A lógica digital é o grande chapéu do processo de comunicação. Uma parte do processo é o meio digital puro. Relacionamento com o público: o que vai fazer a diferença é se a relação é unilateral, bilateral, multilateral. O que vejo hoje é que se delimita o relacionamento no mundo virtual como se ele não se misturasse com os demais. Não acredito nisso. Tem que se misturar. Se você se propõe a entrar nas redes sociais, e abrir conta no twitter, no facebook, esse processo vai desembocar em outros processos não são tão virtuais assim. Existe toda uma integração que ainda não está clara. As pessoas acham que o que está no virtual ficará no virtual. Mas não é assim. Cada vez mais estamos tirando o intermediário do processo, falando diretamente – o gestor, produtor com o consumidor. Isso vai afetar todo o resto. Sinto uma grande dificuldade, especialmente nas corporações privadas. Esse povo tem dificuldade em aceitar essa proximidade. Isso ainda assusta. O Marcelo Tas diz que o digital, do termo cultura digital, uma hora desaparece, porque tudo será digital. Na comunicação também? Eu diria que sim. A gente fala em comunicação digital hoje porque existe uma necessidade didática de organizar as coisas em caixinhas. Mas cada vez mais as coisas da comunicação vão ocorrer num pacote único. E sempre haverá um processo, ou parte dele, que ocorre em bits. Vamos colocar um tempo aí ainda pra isso acontecer, mas será assim. O campo da comunicação digital, portanto, será o campo da comunicação? Será. Hoje ainda está restrito ao ambientel virtual. O livro Cultura Digital.Br talvez seja um exemplo interessante. Ele inverte a lógica com a qual estamos acostumados. O livro, impresso, não é resultado final do processo, mas ao contrário: é o início do processo, um caderno de provocações. Que depois é discutido no virtual – a 35
  • 36. plataforma www.culturadigital.br . E as pessoas ainda estão na lógica do linear em que sempre haverá algo palpável no final. Teremos aí um tempo de convivência, entre comunicação digital e tradicional. Hoje o digital é um subcampo. E quanto aos atores? São os mesmos do campo e do subcampo? Enquanto competências e habilidades, todos precisam pensar no digital. Mas há uma questão de geração que causa alguns impedimentos… (risos). Para ter um conjunto de atores com este pensamento, é preciso formação destes atores. Hoje a gente mantém a formação do comunicador de forma compartimentada. Ou é jornalista, ou publicitário, ou RP. Enquanto não inverter esse processo de formação básica, sempre haverá no final do processo alguém querendo fazer só livro em papel. Vejo a formação como algo que irá modificar a mudança do campo. É muito diferente eu ensinar de modo compartimentado do que ensinar a trabalhar com grandes temas. Uma coisa é ensinar a fazer um anúncio para o impresso, outra é pedir para o aluno conceber uma campanha crossmedia, cross- suporte. Se ensinar a pensar sistemicamente, o digital entra naturalmente no processo todo. É preciso mudar o início. Pense como seria a ECA como um pacote único, e não mais compartimentada. Essa é a proposta mais extrema. E isso não é só no Brasil. Veja a discussão do Protocolo de Bolonha. Como é isso? O Protocolo de Bolonha propõe que o aluno europeu possa frequentar o seu curso em vários países. Para isso, houve um prazo de cinco anos para que as universidades da Europa se adaptassem, currículo similar, número de créditos. Para que quem quiser faça um pouco na Inglaterra, um pouco na Espanha, e saia comunicador. Poderíamos, com essa nova proposta, acrescentar umas aulas na história. Eu conversei com Ramon Salaverría, que atualmente é chefe do depto de jornalismo em Navarra, perguntei para ele: vocês reformaram o curso e incluíram todo o curso de comunicação no pacote? Não. Continua jornalismo, apenas. Não abriram mão. Isso reflete um certo patamar da sociedade que não aceita o fim do cartesianismo, na Europa mais que tudo. Ainda demora um pouco. Apesar do público final já ver que a coisa é outra, as estruturas sociais continuam fechadas. Aproveito para abrir para sua análise do campo. Falou dos empresários e da universidade… E tem a comunicação pública. Tem um lado muito adiantado, que é a comunicação de serviços: governo eletrônico, imposto de renda, agenda o INSS pelo computador. Eleição. Tem um avanço bom. Mas não é comunicação, apenas meios facilitadores para reduzir o tempo. Não significa espaço para relacionamento. Para as empresas também. Você compra uma passagem de avião, usa o home banking, mas se tiver algum problema…. Pois é. Teve o caso do sujeito da United Airlines. A United perde o violão dele, ele reclama e ninguém faz nada. O cara é músico, fez uma música sobre a história, o vídeo estoura (5,6 milhões de views no momento deste post), a empresa fica em crise. A música dele vai para as primeiras paradas do Itunes, ele ainda ganha dinheiro. Aí a empresa corre atrás. Isso é um processo típico do mundo digital. As empresas tem um medo do cão. O cara fala mal no YouTube. O que a empresa faz? Em geral, usa respostas do mundo tradicional para dialogar com o digital. Processa o cara. As pessoas não querem buscar a solução – responder no mesmo formato, conversar. A última parte: que políticas públicas poderiam ser feitas para avançar esse processo? De novo, agir na base. Política pública de comunicação digital tem que ensinar isso para as 36