3. Palavras iniciais
Rogo à Espiritualidade Benfeitora que guie
minhas palavras e inspire meus mais elevados
sentimentos de amor, respeito e humildade,
para que eu transmita, com a maior fidelidade
possível, o verdadeiro ensinamento de amor
contido nestas páginas.
4. vam
As primeiras impressões de Camilo...
“Panorama desolador, composto
por vales profundos com
gargantas sinuosas e cavernas
sinistras, no interior das quais
uivavam, quais maltas de
demônios enfurecidos, Espíritos
que foram homens, dementados
pela intensidade e estranheza
verdadeiramente inconcebíveis, dos sofrimentos que
os martirizavam.”
5. Nenhuma forma de vida penetrava nessa paragem
aflitiva, a não ser a nossa própria presença,
traduzida por supremo horror...
O solo: imundo, pastoso,
escorregadio, fétido e
repugnante!
O ar: pesado, asfixiante, gelado; nevoeiros
ameaçadores; sufocante, submetendo os Espíritos a
um suplício inconcebível ao cérebro humano,
habituado às gloriosas claridades do Sol .
6. Os sentimentos: “não havia, ali, nem paz, nem
consolo, nem esperança; tudo era marcado pela
desgraça, miséria, assombro, desespero e horror.”.
7. Comparado ao vale dos leprosos da antiga Jerusalém,
Camilo afirma que aquele “seria consolador estágio
de repouso [...] Pelo menos ali existiria
solidariedade entre os renegados!”
Os leprosos faziam
amigos, irmanavam-se na
dor, criavam a sua
sociedade, divertiam-se,
prestavam-se favores,
dormiam e sonhavam que
eram felizes!
8. No vale dos leprosos era possível sentir o calor do
sol e o ar fresco da madrugada; contemplar uma
faixa de céu azul e acompanhar a revoada das
andorinhas e dos pombos; apreciar a lua cheia e
sonhar, quem sabe, com consolações futuras...
E tudo isso era como dádivas celestiais para reconciliá-los com
Deus, fornecendo-lhes tréguas na desgraça.
9. Mas pobre Camilo...
“Na caverna onde padeci o
martírio que me
surpreendeu além do
túmulo, nada disso havia!
Aqui, era a dor que nada
consola, a desgraça que
nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma
tranquilizadora vem orvalhar de esperança! Não há
céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há
tréguas!”
10. ... o que há é o choro convulso e inconsolável; é a
raiva envenenada daquele que já não pode chorar;
é o desaponto do que se sente vivo a despeito de se
haver arrojado na morte; é a revolta; é a
consciência em luta, a alma ofendida, a mente
torturada, as faculdades espirituais envolvidas nas
trevas oriundas de si mesma!
E ele conta mais...
11. “É o inferno, na mais
hedionda e dramática
exposição, porque, além do
mais, existem cenas
repulsivas de animalidade,
práticas abjetas dos mais
sórdidos instintos, as quais
eu me pejaria de revelar
aos meus irmãos, os
homens!”
12. ‘Mas porque o suicida não
recebe ajuda?’ ou...
...‘quanto tempo
esse infeliz
espírito fica preso
ao corpo físico?’
... ou ainda:
‘existiriam
agravantes e
atenuantes para
o crime do
suicídio’?
13. Deus, em sua infinita bondade, jamais abandona
seus filhos, especialmente os mais faltosos e
sofredores...
Contudo, não há previsão para o tempo que os
suicidas ficam presos ao corpo vendo sua
decomposição, vagando nas regiões umbralinas, ou
prisioneiros de obsessores. Isso varia de Espírito para
Espírito, de caso para caso...
14. No suicida, as forças vitais encontram-se geralmente
intactas, revestindo-lhes os envoltórios físico-
espirituais;
para que ele possa ser
ajudado, é preciso exaurir
essa força vital; enquanto isso
não acontece o infeliz fica
aprisionado ao corpo físico,
acompanhando sua
deterioração e revivendo o
ato do suicídio.
15. O escritor conta que nos
primeiros meses após o
desencarne, vagava entre o
cemitério e a região onde
morava, sentindo fortes dores na
área atingida pela bala e com
grave perturbação mental, pelas
Por muitas vezes, apesar de continuar sentindo-se
cego na Espiritualidade, deparou-se com a imagem de
seu corpo em estado de decomposição.
sensações físicas impregnadas em seu períspirito;
16. “Não sei como decorrerão os trabalhos
correcionais para suicidas nos demais núcleos
espirituais destinados aos mesmos fins. Sei apenas
que fiz parte de sinistra falange detida nessa
paragem horrenda cuja lembrança ainda hoje me
repugna à sensibilidade.”
“É bem possível que haja
quem duvide da veracidade
do que vai descrito nestas
páginas.”
17. Não os convidarei a crer...
O Além-túmulo acha-se longe de
ser a abstração que supomos na
Terra. Ele é simplesmente a Vida
Real, vida intensa a se desdobrar
em modalidades infinitas,
dividida em continentes e
falanges como a Terra é dividida
em nações e raças, dispondo de
organizações sociais e
educativas a servirem de modelo para o progresso da
Humanidade.
18. “Eu os convido, e
ardentemente desejo, que se
eximam de conhecer essa
realidade pelos canais
trevosos a que me expus,
entregando-me ao suicídio
por não crer na advertência
de que a morte nada mais é
do que a verdadeira forma
de existir!...”
19. O Inferno de Dante...
O Espírito de Dante desprendia-se do corpo físico e ia, em
companhia de seu Guia Espiritual, identificado por ele
como sendo o poeta romano Virgílio, visitar essas regiões
tenebrosas. Ao voltar ao corpo somático, a sua
impressão de angústia e
pavor se lhe refletia no
rosto.
(Os Grandes Vultos da
Humanidade e o Espiritismo –
Sylvio Brito Soares, Ed. FEB)
20. A cegueira de Camilo
A cegueira, impiedosa e cruel, que o
retirara do mundo das letras,
também acabou retirando-o da vida
pela porta do suicídio... Mas
mesmo sentindo-se ainda cego após
a morte, não lhe passava despercebido tudo que se
apresentasse feio, sinistro, imoral, obsceno, pois
“conservavam meus olhos visão bastante para toda
essa escória contemplar – agravando-se mais a
minha desdita”.
21. Fato digno de nota é o que ele conta sobre sua
sensibilidade superexcitada que o levava a
“experimentar também os sofrimentos dos
outros companheiros de desdita, fenômeno esse
ocasionado pelas
correntes mentais
que se despejavam
sobre toda a falange
e oriundas dela
própria.”
22. Façamos uma breve pausa neste ponto...
Será que não existe esperança para este desafortunado?
Sim... sabemos que sim!!! Nosso Pai Celestial,
infinitamente bom e justo, jamais nos
abandonaria à própria sorte.
“Contudo, o sofrimento do suicida só termina
quando o Espírito consegue passar com êxito por
todas as provações que o levaram ao ato
criminoso e ainda resgatar os prejuízos
acumulados com o feito.”
23. O Espírito desencarnado, detém-se nas regiões
purgatoriais, até que seja naturalmente
"desanimalizado", isto é, que se desfaça dos fluidos
e forças vitais.
O tempo e o sofrimento nesse local, são função do
caráter, das ações praticadas, do gênero de vida e
do gênero de morte.
Alguns demoram-se apenas algumas horas; outros
levarão meses, anos consecutivos, voltando à
reencarnação sem atingirem a Espiritualidade.
24. Em geral, o suicida demora-se nessas regiões pelo
tempo que ainda lhe restava para concluir o
compromisso que prematuramente rompeu.
Em certos casos, a reencarnação compulsória torna-se a
única terapêutica. Embora dolorosa, é mais rápida e
preferível do que permanecer naquele cárcere sinistro.
Isso evidencia a Misericórdia Divina em ação!!!
25. “Às vezes, conflitos brutais se verificavam pelos
becos lamacentos onde se enfileiravam as cavernas
que nos serviam de domicílio. Invariavelmente
irritados, por motivos insignificantes nos atirávamos
uns contra os outros em lutas corporais violentas.”
“Frequentemente fui insultado, ridicularizado,
apedrejado e espancado até que, excitado por fobia
idêntica, eu me atirava a represálias selvagens,
ombreando com os agressores e com eles refocilando
na lama da mesma ceva espiritual!”
26. Exigências físicas martirizantes
A fome, a sede, o frio, a fadiga, a insônia...
A natureza como que aguçada em todos os seus desejos e
apetites, como se carregássemos ainda o corpo carnal...
A promiscuidade vexatória de espíritos que foram
homens e dos que animaram corpos femininos...
27. mmm
Nem mesmo sonhar ou orar...
Naquele ambiente superlotado de males, o
pensamento jazia encarcerado, só podendo emitir
vibrações que se afinassem com a própria perfídia
local; não podíamos nem sequer orar...
28. “Impossível contar o tempo ou saber onde estávamos...”
Os Espíritos ali confinados não sabiam quando era dia
ou noite, porque sombras perenes os envolviam.
Perderem totalmente a noção do tempo...
Ignoravam também o local
onde estavam, sem
perceber que era
patrimônio de suas próprias
mentes em conflito, de suas
vibrações tumultuadas por
martírios indescritíveis!
29. “Vivos, em espírito, diante do corpo putrefato,
sentíamos a corrupção atingir-nos!...
Doíam em nossa configuração astral as picadas
monstruosas dos vermes! Enfurecia-nos até à
demência a martirizante repercussão que levava
nosso perispírito, ainda animalizado e provido de
abundantes forças vitais, a refletir o que se
passava com seu antigo envoltório limoso...”
Diante do corpo morto...
30. À frente do tribunal dos infernos...
“Obsessores que pululam por todas
as camadas inferiores, tanto da
Terra como do Além; os mesmos
que haviam alimentado em nós as
sugestões suicidas, divertiam-se
com nossas angústias e
convenciam-nos de que eram juízes
que nos deveriam julgar e castigar,
apresentando-se às nossas
faculdades conturbadas como seres
fantásticos, fantasmas
impressionantes e trágicos.”
31. “A lembrança dos erros, das quedas pecaminosas,
dos crimes mesmo, corporificavam-se à frente de
nossas consciências culpadas...”
“As vítimas do nosso egoísmo
reapareciam em recordações
vergonhosas, indo e vindo ao
nosso lado em atropelos
pertinazes, infundindo em nossa
combalida organização
espiritual o mais angustioso
desequilíbrio nervoso forjado
pelo remorso!”
32. Periodicamente, singular caravana visitava esse
antro de sombras à procura daqueles cujos fluidos
vitais, arrefecidos pela desintegração completa da
matéria, permitissem locomoção para outras
camadas do invisível.
33. LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA
‘Supúnhamos tratar-se de um
grupo de homens, mas eram, sim,
Espíritos...”
Vestiam branco e traziam ao
peito uma cruz azul celeste;
senhoras também faziam parte
da caravana...
Apresentavam-se caminhando nas ruas lamacentas, um
a um...
34. Vinham precedidos de um grupo de lanceiros,
que formavam um cordão de isolamento,
protegendo-os dos ataques da turba.
35. “E, chefiando a expedição,
destacava-se varão
respeitável, o qual trazia
avental branco e insígnias
de médico a par da cruz já
referida. Cobria-lhe a
cabeça, um turbante
hindu, cujas dobras eram
atadas à frente pela
tradicional esmeralda,
símbolo dos esculápios.”
36. Os socorridos eram
conduzidos em macas,
protegidos pelo cordão de
isolamento e abrigados
em veículos brancos,
leves, burilados em
matérias habilmente
laqueadas, e
puxados por formosas
parelhas de cavalos
também brancos...
37. Os que não eram ajudados, em vão suplicavam justiça e
compaixão ou se amotinavam, revoltados...
Os caravaneiros não respondiam e, se alguém tentasse
assaltar as viaturas, dez, vinte lanças faziam-no recuar.
Então, um coro hediondo de uivos e choro sinistros, de
pragas e gargalhadas satânicas, o ranger de dentes,
repercutiam longa e dolorosamente...
38. E assim ficam... quanto tempo?... Oh! Deus
piedoso! Quanto tempo?...
39. Até que suas inimagináveis condições de suicidas, de
mortos-vivos, lhes permitam também a transferência
para localidade menos trágica...
40. Allan Kardec
O Livro dos Espíritos, Parte Quarta, 943 – 957
O Livro dos Espíritos, Parte Primeira, 60 – 70
O Céu e o Inferno, Segunda Parte, Cap. V [Suicidas] e cap. I [O Passamento]
Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII: 71 e 72; Cap. V: 14-17
A Gênese, Capítulo X – Gênese Orgânica
Marlene Nobre
A Alma da Matéria
F.C. Xavier / André Luiz
Mecanismos da Mediunidade, Capítulo 4: Matéria mental
F.C. Xavier / Emmanuel
Pensamento e Vida, Capítulo 29: Morte
O Consolador, 2ª Parte – Vida, perg. 154
Léon Denis
Depois da Morte, Primeira Parte, Capítulo 7: O Materialismo e o Positivismo
Depois da Morte, Terceira Parte, Capítulo 28: Utilidade dos Estudos Psicológicos
Depois da Morte, Quarta Parte, Capítulo 36: Espíritos Inferiores