1. Universidade Federal do RioUniversidade Federal do Rio
Grande do SulGrande do Sul
EADEAD
PedagogiaPedagogia
LUDICIDADE E EDUCAÇÃOLUDICIDADE E EDUCAÇÃO
2. ““O jogo, conseqüentemente, é oO jogo, conseqüentemente, é o
lugar onde o homem é maislugar onde o homem é mais
completo. Sendo assim, podemoscompleto. Sendo assim, podemos
reconhecer a grandezareconhecer a grandeza
propriamente humana de umapropriamente humana de uma
civilização, que compreende, écivilização, que compreende, é
claro, sua relação com o belo,claro, sua relação com o belo,
pelos tipos de jogos que elapelos tipos de jogos que ela
aprecia e pratica”.aprecia e pratica”.
Colas DufloColas Duflo
3. Jogar e compreender: oJogar e compreender: o
jogo e suas implicações najogo e suas implicações na
aprendizagem escolaraprendizagem escolar
4. Numa breve definição podemos dizer queNuma breve definição podemos dizer que
a palavra jogo refere-se àquele tipo dea palavra jogo refere-se àquele tipo de
movimento que pode terminar em vitóriamovimento que pode terminar em vitória
ou derrota. É uma atividade livre,ou derrota. É uma atividade livre,
permeada essencialmente pela busca dopermeada essencialmente pela busca do
prazer.prazer.
5. No espaço de intervenção pedagógica,No espaço de intervenção pedagógica,
o ato de jogar adquire uma importânciao ato de jogar adquire uma importância
extraordinária, proporcionando aoextraordinária, proporcionando ao
sujeito envolvido aprofundar seusujeito envolvido aprofundar seu
processo de aprendizagem ou resgatarprocesso de aprendizagem ou resgatar
possíveis fraturas.possíveis fraturas.
6. Como um recurso de investigação o jogo éComo um recurso de investigação o jogo é
constantemente abarcado pelas técnicasconstantemente abarcado pelas técnicas
expressivas, fundamentado nos princípiosexpressivas, fundamentado nos princípios
de associação livre (Freud, in: Affonso,de associação livre (Freud, in: Affonso,
1998). Fica, assim, o sujeito livre para dar1998). Fica, assim, o sujeito livre para dar
dimensão às suas expressões nas maisdimensão às suas expressões nas mais
diferentes formas (Anzieu, in: Affonso,diferentes formas (Anzieu, in: Affonso,
1998, p.25).1998, p.25).
7. Sem dúvida a intervenção pedagógicaSem dúvida a intervenção pedagógica
quando trabalhada na perspectiva dosquando trabalhada na perspectiva dos
jogos, é auxiliada por uma importantejogos, é auxiliada por uma importante
ferramentaferramenta de elaboração dramática quede elaboração dramática que
reúne corpo, organismo, inteligência ereúne corpo, organismo, inteligência e
desejo. É neste campo que poderemosdesejo. É neste campo que poderemos
perceber conflitos, ansiedades, defesas,perceber conflitos, ansiedades, defesas,
medos e baixa tolerância à frustração.medos e baixa tolerância à frustração.
8. Segundo Lino de Macedo (1998),Segundo Lino de Macedo (1998),
““ para uma criança, a vida é ainda mais frágil epara uma criança, a vida é ainda mais frágil e
complexa que para um adulto. Assim sendocomplexa que para um adulto. Assim sendo
o esforço adaptativo se resume a umao esforço adaptativo se resume a uma
necessidade vital que a criança tem, e lhe énecessidade vital que a criança tem, e lhe é
solicitada pela sociedade, que consiste emsolicitada pela sociedade, que consiste em
aprender para poder sobreviver. Duranteaprender para poder sobreviver. Durante
esse processo, a criança utiliza jogos eesse processo, a criança utiliza jogos e
brincadeiras, não importando a estrutura debrincadeiras, não importando a estrutura de
ambos. Estes são uma espécie deambos. Estes são uma espécie de folgafolga nono
esforço adaptativo.”esforço adaptativo.”
9. Assim, podemos entender que a construção deAssim, podemos entender que a construção de
um saber se passa num momento de folga, ouum saber se passa num momento de folga, ou
seja, em um tempo e um espaço adequadoseja, em um tempo e um espaço adequado
para pensar. O uso de uma atividade lúdica, dopara pensar. O uso de uma atividade lúdica, do
jogo mais especificamente, sugere que ojogo mais especificamente, sugere que o
problema colocado diante do sujeito daproblema colocado diante do sujeito da
intervenção pedagógica, oportunize hipótesesintervenção pedagógica, oportunize hipóteses
que serão levantadas diante dasque serão levantadas diante das reaçõesreações
provocadas pelo diálogo entre criança e oprovocadas pelo diálogo entre criança e o
professorprofessor. (Macedo, in: Affonso, 1998, p. 29). (Macedo, in: Affonso, 1998, p. 29)
10. Piaget propõe grandes categorias dePiaget propõe grandes categorias de
organização lúdicas sucessivamente construídasorganização lúdicas sucessivamente construídas
e elaboradas. Segundo Macedo (2006), “ae elaboradas. Segundo Macedo (2006), “a
novidade da proposta de Piaget é valorizarnovidade da proposta de Piaget é valorizar
algumas das características dos jogos (...),algumas das características dos jogos (...),
ordenando-as em uma perspectivaordenando-as em uma perspectiva
estruturalista e genéticaestruturalista e genética .. EstruturalistaEstruturalista,,
porque, diferente do modo usual de classificaçãoporque, diferente do modo usual de classificação
dos jogos (por seus conteúdos, objetivos,...),dos jogos (por seus conteúdos, objetivos,...),
Piaget propõe quatro formas de classificação dosPiaget propõe quatro formas de classificação dos
jogos e os aspectos importantes de cada umajogos e os aspectos importantes de cada uma
delas.delas.
11. GenéticaGenética, porque o que estrutura as, porque o que estrutura as
categorias expressa estágios decategorias expressa estágios de
desenvolvimento do jogo nas crianças,desenvolvimento do jogo nas crianças,
culminando com o modo pelo qual ele seráculminando com o modo pelo qual ele será
predominante nos adultos (lúdico, simbólico,predominante nos adultos (lúdico, simbólico,
regrado e construtivo), ao menos pararegrado e construtivo), ao menos para
aqueles que, quando crianças, não foramaqueles que, quando crianças, não foram
prejudicados por doença ou por falta deprejudicados por doença ou por falta de
oportunidades para exercícios lúdicos”.(p.20)oportunidades para exercícios lúdicos”.(p.20)
PiagetPiaget (1971), em(1971), em A formação do símboloA formação do símbolo
na criança: imagem, jogo e sonho, imagem ena criança: imagem, jogo e sonho, imagem e
representaçãorepresentação, considera que os jogos, considera que os jogos
podem ser estruturados partindo de trêspodem ser estruturados partindo de três
formas deformas de assimilação: exercício,assimilação: exercício,
símbolo e regrasímbolo e regra..
12. O jogo de exercícioO jogo de exercício
““Se o ato de inteligência culmina num equilíbrioSe o ato de inteligência culmina num equilíbrio
entre assimilação e a acomodação, enquantoentre assimilação e a acomodação, enquanto
que a imitação prolonga a última por si mesma,que a imitação prolonga a última por si mesma,
poder-se-á dizer, inversamente,que o jogo époder-se-á dizer, inversamente,que o jogo é
essencialmente assimilação, ouessencialmente assimilação, ou
assimilação predominando sobre aassimilação predominando sobre a
acomodação”.acomodação”.
Piaget, in Macedo,2006, p.21Piaget, in Macedo,2006, p.21
13. A primeira estrutura –A primeira estrutura – o exercício funcionalo exercício funcional é oé o
que organiza a primeira grande classe deque organiza a primeira grande classe de
jogos. Segundo Macedo (2006), por intermédiojogos. Segundo Macedo (2006), por intermédio
dele, em seus dois primeiros anos de vida, adele, em seus dois primeiros anos de vida, a
criança pode repetir os esquemas de ação emcriança pode repetir os esquemas de ação em
constituição, em atividades que lhe requisitemconstituição, em atividades que lhe requisitem
levantar, pegar, olhar desmontar, esconder elevantar, pegar, olhar desmontar, esconder e
descobrir pelo próprio prazer de fazê-lo, isto édescobrir pelo próprio prazer de fazê-lo, isto é
pelo prazer funcional, sem outra finalidade,pelo prazer funcional, sem outra finalidade,
somente pelo prazer de fazer de novo. (p.21)somente pelo prazer de fazer de novo. (p.21)
14. Macedo distingue uma criança que repete, istoMacedo distingue uma criança que repete, isto
é, usa o esquema de ação como instrumentoé, usa o esquema de ação como instrumento
para um outro fim, como quando usa apara um outro fim, como quando usa a
mamadeira para se alimentar e, em outramamadeira para se alimentar e, em outra
situação, quando utiliza o mesmo esquemasituação, quando utiliza o mesmo esquema
sem outra função que não sua própriasem outra função que não sua própria
repetição, como no momento em que sugarepetição, como no momento em que suga
pelo prazer de sugar.pelo prazer de sugar.
15. Os jogos de exercícioOs jogos de exercício são construídos nossão construídos nos
dois primeiros anos de vida e também sedois primeiros anos de vida e também se
manifestam ao longo da vida adulta.manifestam ao longo da vida adulta. PorPor
exemploexemplo, ouvir uma determinada música, ouvir uma determinada música
muitas vezes pelo simples prazer de ouvir,muitas vezes pelo simples prazer de ouvir,
realizar palavras cruzadas, olhar umrealizar palavras cruzadas, olhar um
equipamento novo por horas a fio. Assim,equipamento novo por horas a fio. Assim,
caracterizamos o jogo de exercício a partir docaracterizamos o jogo de exercício a partir do
fazer pelo fazerfazer pelo fazer, instalando-se, desta forma, o, instalando-se, desta forma, o
prazer funcional que possibilitará ao sujeitoprazer funcional que possibilitará ao sujeito
poder realizar uma atividade sem valorpoder realizar uma atividade sem valor
instrumental. Nesta fase, a criança herda oinstrumental. Nesta fase, a criança herda o
prazer funcional, o que poderá no futuroprazer funcional, o que poderá no futuro
significar a sua atividade de trabalho como umasignificar a sua atividade de trabalho como uma
fonte de prazer, não um sacrifício.fonte de prazer, não um sacrifício.
16. Nos jogos de exercícioNos jogos de exercício , a forma de assimilação é, a forma de assimilação é
funcional ou repetitiva, ou seja, caracteriza-se pelofuncional ou repetitiva, ou seja, caracteriza-se pelo
prazer da função, o que demanda a formação de hábitosprazer da função, o que demanda a formação de hábitos
nas crianças no primeiro ano de vida, bem como nanas crianças no primeiro ano de vida, bem como na
qualidade de seus esquemas sensório-motoresqualidade de seus esquemas sensório-motores
(esquemas de ação) como conseqüência das repetições.(esquemas de ação) como conseqüência das repetições.
Esses esquemas são primordiais e serão asEsses esquemas são primordiais e serão as
bases para futuras categorias e operaçõesbases para futuras categorias e operações
mentais.mentais.
A assimilação funcionalA assimilação funcional ou o prazer de algo que seou o prazer de algo que se
tornou parte de um sistema e que por isso pede atornou parte de um sistema e que por isso pede a
repetição, caracteriza o aspecto lúdico dos esquemas derepetição, caracteriza o aspecto lúdico dos esquemas de
ação.ação.
Por exemploPor exemplo, aprender a ler significa ter a leitura como, aprender a ler significa ter a leitura como
parte, inevitável, do sistema de interação; a criança queparte, inevitável, do sistema de interação; a criança que
ao sair com os pais e encontra-se em processo deao sair com os pais e encontra-se em processo de
alfabetização, lê todas as placas e painéis.alfabetização, lê todas as placas e painéis.
17. O Jogo simbólicoO Jogo simbólico
““O jogo da imaginação constitui umaO jogo da imaginação constitui uma
transposição simbólica que sujeita as coisastransposição simbólica que sujeita as coisas
à atividade do indivíduo, sem regras nemà atividade do indivíduo, sem regras nem
limitações. Logo, é assimilação quase pura,limitações. Logo, é assimilação quase pura,
quer dizer, pensamento orientado pelaquer dizer, pensamento orientado pela
preocupação dominante da satisfaçãopreocupação dominante da satisfação
individual. Simples expansão de tendências,individual. Simples expansão de tendências,
assimilaassimila livremente todas as coisas e todaslivremente todas as coisas e todas
as coisas ao eu. ”as coisas ao eu. ”
Piaget, in Macedo, 2006, p.23Piaget, in Macedo, 2006, p.23
18. O símbolo é o que organiza a segunda grandeO símbolo é o que organiza a segunda grande
categoria de jogos. Os jogos simbólicos, que secategoria de jogos. Os jogos simbólicos, que se
instalam a partir dos dois anos de idade e seinstalam a partir dos dois anos de idade e se
identificam por um artifício, isto é,identificam por um artifício, isto é, pela
possibilidade de substituir o real pelo que é
descoberto ou inventado (a possibilidade que o
sujeito possui de reportar-se a pessoas, situações
e objetos por meio de símbolos, gestos, jogos de
simulação).
19. OsOs jogos simbólicosjogos simbólicos caracterizam-se pelascaracterizam-se pelas
brincadeiras de faz-de-conta, pelos desenhos ebrincadeiras de faz-de-conta, pelos desenhos e
histórias infantis, por simulações ou fingimentos.histórias infantis, por simulações ou fingimentos.
Assim,Assim, o real, enquanto conteúdo, subordina-seo real, enquanto conteúdo, subordina-se
à dimensão imaginária ou simbólica de seusà dimensão imaginária ou simbólica de seus
construtores.construtores. (Macedo, 2006, p.22) A criança(Macedo, 2006, p.22) A criança
altera a realidade de acordo com sua própriaaltera a realidade de acordo com sua própria
vontade. Com isso, revive momentos bons evontade. Com isso, revive momentos bons e
ruins através da imaginação.ruins através da imaginação.
Aqui a criança pode herdar, numa perspectivaAqui a criança pode herdar, numa perspectiva
cognitiva, a possibilidade de experimentarcognitiva, a possibilidade de experimentar
papéis, dramatizar, recriar situações com a clarapapéis, dramatizar, recriar situações com a clara
intenção de melhor compreendê-las.intenção de melhor compreendê-las.
20. Para Piaget, os jogos simbólicos caracterizam-sePara Piaget, os jogos simbólicos caracterizam-se
pela assimilação deformante. Deformantepela assimilação deformante. Deformante
porque nessa situação a realidade é assimiladaporque nessa situação a realidade é assimilada
da forma que o sujeito deseja. Assim, a criançada forma que o sujeito deseja. Assim, a criança
abre a possibilidade de compreender asabre a possibilidade de compreender as
brincadeiras, afetiva ou cognitivamente,brincadeiras, afetiva ou cognitivamente,
fantasiando, isto é, acomodando a seu modo osfantasiando, isto é, acomodando a seu modo os
temas presentes nestas fantasias, favorecendotemas presentes nestas fantasias, favorecendo
com isso, sua adaptação a um mundo complexo,com isso, sua adaptação a um mundo complexo,
no caso a escola, os novos hábitos, ano caso a escola, os novos hábitos, a
alimentação, bem como exercitando a submissãoalimentação, bem como exercitando a submissão
às regras de funcionamento de sua casa ou deàs regras de funcionamento de sua casa ou de
sua escola.sua escola.
21. Agir como mãe, em brincadeiras de bonecas,Agir como mãe, em brincadeiras de bonecas,
significa repetir por analogia o que sua mãesignifica repetir por analogia o que sua mãe
tantas vezes fez com ela em seu primeiro anotantas vezes fez com ela em seu primeiro ano
de vida. É aplicar como conteúdo nessede vida. É aplicar como conteúdo nesse
momento, as formas dos esquemas de açãomomento, as formas dos esquemas de ação
que assimilou em seus jogos de exercício.que assimilou em seus jogos de exercício.
22. O Jogo de regrasO Jogo de regras
Com a socialização da criança, o jogo adotaCom a socialização da criança, o jogo adota
regras ou adapta cada vez mais a imaginaçãoregras ou adapta cada vez mais a imaginação
simbólica aos dados da realidade, sob a forma desimbólica aos dados da realidade, sob a forma de
construções ainda espontâneas, mas imitando oconstruções ainda espontâneas, mas imitando o
real; sob essas duas formas, o símbolo dereal; sob essas duas formas, o símbolo de
assimilação individual cede assim o passo quer àassimilação individual cede assim o passo quer à
regar coletiva, quer ao símbolo representativo ouregar coletiva, quer ao símbolo representativo ou
objetivo, quer aos dois mundos”.objetivo, quer aos dois mundos”.
Piaget, in Macedo, 2006, p.23Piaget, in Macedo, 2006, p.23
23. NoNo jogo de regrasjogo de regras, que estrutura a terceira grande, que estrutura a terceira grande
categoria de jogos, aparece a inserção do mudocategoria de jogos, aparece a inserção do mudo
social e cultural. As regras representam o limite, osocial e cultural. As regras representam o limite, o
pode-não-pode que regula a convivência entre aspode-não-pode que regula a convivência entre as
pessoas. Por meio dessa estrutura de jogo, opessoas. Por meio dessa estrutura de jogo, o
sujeito pode construir, inventar normas para suassujeito pode construir, inventar normas para suas
brincadeiras, descobrindo e conhecendo a sibrincadeiras, descobrindo e conhecendo a si
mesmo e ao outro.mesmo e ao outro.
Através dos jogos, do sentido das regras e comoAtravés dos jogos, do sentido das regras e como
as mesmas são inventadas ou retomadas e, emas mesmas são inventadas ou retomadas e, em
que condições, Piaget observou aquilo que asque condições, Piaget observou aquilo que as
crianças organizavam entre si, isto é, uma moralcrianças organizavam entre si, isto é, uma moral
de autonomia em que a cooperação e respeitode autonomia em que a cooperação e respeito
mútuo são fundamentais.mútuo são fundamentais.
24. AoAo jogarjogar, o sujeito estabelece limites, regula o, o sujeito estabelece limites, regula o
comportamento. Sem regra não há trabalho ecomportamento. Sem regra não há trabalho e
sem trabalho não há regras. As regras sãosem trabalho não há regras. As regras são
necessárias para que haja solidariedade enecessárias para que haja solidariedade e
compartilhamento.compartilhamento.
Na perspectiva do jogo de regras, é a vidaNa perspectiva do jogo de regras, é a vida
social, a subordinação às leis da cultura e dasocial, a subordinação às leis da cultura e da
sociedade que o sujeito joga para subordinar ousociedade que o sujeito joga para subordinar ou
transformar, para aceitar ou negar. Aqui, sãotransformar, para aceitar ou negar. Aqui, são
usadas as estruturas dos jogos anteriores. É ausadas as estruturas dos jogos anteriores. É a
repetição como forma de intercâmbio e arepetição como forma de intercâmbio e a
convenção como pacto.convenção como pacto.
25. OO originaloriginal é que no jogo de regras o caráter éé que no jogo de regras o caráter é
coletivo, isto é, só se pode jogar em função dacoletivo, isto é, só se pode jogar em função da
jogada do outro.jogada do outro.
É umÉ um jogo de significadosjogo de significados porque para ganharporque para ganhar
o jogador tem de competir, compreender melhor,o jogador tem de competir, compreender melhor,
antecipar, ser mais rápido, coordenar situações,antecipar, ser mais rápido, coordenar situações,
observar condutas, ter estratégias.observar condutas, ter estratégias.
Aqui o desafio é superar a si mesmo e aoAqui o desafio é superar a si mesmo e ao
outrooutro..
26. O jogo de construçãoO jogo de construção
Por último, segundo Macedo (2006), PiagetPor último, segundo Macedo (2006), Piaget
acrescenta uma quarta categoria denominadaacrescenta uma quarta categoria denominada
jogos de construçãojogos de construção , que, na verdade, se, que, na verdade, se
situa entre ossitua entre os jogos simbólicos e os jogosjogos simbólicos e os jogos
de regras.de regras.
NosNos jogos de construçãojogos de construção , que caracterizam-, que caracterizam-
se por uma atividade lúdica e simbólicase por uma atividade lúdica e simbólica emem
que o desafio aceito ou auto-imposto peloque o desafio aceito ou auto-imposto pelo
jogador é realizar, por exemplo, umajogador é realizar, por exemplo, uma
montagem ou arranjo de peças segundo certamontagem ou arranjo de peças segundo certa
referência, modelo ou intençãoreferência, modelo ou intenção ( Macedo,( Macedo,
2006, p.24), surge a2006, p.24), surge a possibilidade depossibilidade de
reconstruir o real.reconstruir o real.
27. Quando jogamos nesta perspectiva,Quando jogamos nesta perspectiva,
oportunizamos a permissão para criar, para aoportunizamos a permissão para criar, para a
livre construção. Aqui o que regula ação dolivre construção. Aqui o que regula ação do
sujeito, é construir algo na direção do que foisujeito, é construir algo na direção do que foi
planejado ou querido, é fazer progressosplanejado ou querido, é fazer progressos
intencionais na direção daquilo que se pretendeintencionais na direção daquilo que se pretende
alcançar ( mover peças que desarmem oalcançar ( mover peças que desarmem o
adversário, transportar seguindo certasadversário, transportar seguindo certas
regras,etc.)regras,etc.)
Aqui o sujeito trabalha a imaginação criativa, aAqui o sujeito trabalha a imaginação criativa, a
vivência antecipada do real, por meio dovivência antecipada do real, por meio do
desenho, do faz-de-conta, do ser grande ou dodesenho, do faz-de-conta, do ser grande ou do
ser pequeno.ser pequeno.
28. A IMPORTÂNCIA DO JOGOA IMPORTÂNCIA DO JOGO
NO TRABALHONO TRABALHO
EDUCACIONALEDUCACIONAL
29. Na educação, o jogo pode significar para o sujeitoNa educação, o jogo pode significar para o sujeito
uma experiência de real importância:uma experiência de real importância: a de entrara de entrar
no mundo do conhecimento, de construirno mundo do conhecimento, de construir
respostas por meio de um trabalho querespostas por meio de um trabalho que
integre o lúdico, o simbólico e ointegre o lúdico, o simbólico e o
operatório, muitas vezes sem dar-seoperatório, muitas vezes sem dar-se
conta. É um espaço e um tempo paraconta. É um espaço e um tempo para
pensar, é umpensar, é um ócio digno.ócio digno.
30. Esta intervenção aponta para o sujeito queEsta intervenção aponta para o sujeito que
conhecer é um jogo de investigação, ondeconhecer é um jogo de investigação, onde
se ganha e se perde, sofre, chora,se ganha e se perde, sofre, chora,
comemora, ri, ama, se tem uma segundacomemora, ri, ama, se tem uma segunda
chance. É o processo natural para inserçãochance. É o processo natural para inserção
no mundo do trabalho. Assim, ano mundo do trabalho. Assim, a
aprendizagem é tratada de forma maisaprendizagem é tratada de forma mais
digna, filosófica e espiritual. Destacamosdigna, filosófica e espiritual. Destacamos
abaixo algumas possibilidades deabaixo algumas possibilidades de
intervenção pedagógica, no uso dos jogos.intervenção pedagógica, no uso dos jogos.
31. Jogos de exercício e jogosJogos de exercício e jogos
simbólicossimbólicos
Ainda que em outro nível também estas estruturasAinda que em outro nível também estas estruturas
(de exercício e simbólica) estão presentes no jogo(de exercício e simbólica) estão presentes no jogo
de regras e de construção, quando, por exemplo,de regras e de construção, quando, por exemplo,
o sujeito faz uma boa jogada e procura repetí-lao sujeito faz uma boa jogada e procura repetí-la
pelo simples prazer funcional, ou na presença dapelo simples prazer funcional, ou na presença da
fantasia e da imaginação.fantasia e da imaginação.
É a base para o jogo dramático, para o jogoÉ a base para o jogo dramático, para o jogo
corporal.corporal.
32. Jogos de RegraJogos de Regra
Aqui é muito difícil uma jogada ser igual aAqui é muito difícil uma jogada ser igual a
anterior, tendo em vista as relações sociaisanterior, tendo em vista as relações sociais
desencadeadas nos indivíduos. As relaçõesdesencadeadas nos indivíduos. As relações
espaciaisespaciais entre peças e tabuleiros estãoentre peças e tabuleiros estão
presentes em todos os momentos do jogo. Essapresentes em todos os momentos do jogo. Essa
presença, no caso do tabuleiro, se expressa porpresença, no caso do tabuleiro, se expressa por
seus limites (espaço demarcado), que simulamseus limites (espaço demarcado), que simulam
ruas de uma cidade ou campo de semeadura; eruas de uma cidade ou campo de semeadura; e
no caso das peças, se expressa por suasno caso das peças, se expressa por suas
posições e deslocamentosposições e deslocamentos.(Macedo, 2006).(Macedo, 2006)
33. NaNa matemáticamatemática,, a possibilidade da criançaa possibilidade da criança
construir relações quantitativas ou lógicas,construir relações quantitativas ou lógicas,
desenvolver seu raciocínio e utilizá-lo a seu favor,desenvolver seu raciocínio e utilizá-lo a seu favor,
questionar o como e o porquê dos erros e dosquestionar o como e o porquê dos erros e dos
acertos.acertos.
NasNas ciências,ciências, a construção de um sistema dea construção de um sistema de
pesquisa, a observação, o trabalho de hipótesepesquisa, a observação, o trabalho de hipótese
(uma manifestação própria do jogo de regras), a(uma manifestação própria do jogo de regras), a
testagemtestagem, o, o medir riscosmedir riscos, o produzir conhecimento., o produzir conhecimento.
NaNa linguagemlinguagem, a estrutura de códigos que o, a estrutura de códigos que o
próprio jogo apresenta é tal qual a estrutura léxicapróprio jogo apresenta é tal qual a estrutura léxica
(repertório) da língua. A interpretação, as(repertório) da língua. A interpretação, as
decisões, a defesa, o ataque, o blefe, adecisões, a defesa, o ataque, o blefe, a ordemordem
lógica das jogadas. É produzir um texto, darlógica das jogadas. É produzir um texto, dar
sentido aos diferentes momentos de uma partidasentido aos diferentes momentos de uma partida
ou aprendizagem. Produzindo a sintaxeou aprendizagem. Produzindo a sintaxe
(estrutura), estará o sujeito ordenando logicamente(estrutura), estará o sujeito ordenando logicamente
as jogadas.as jogadas.
34. Jogo de Construção:Jogo de Construção:
Ao contrário das regras a ênfase é dada aoAo contrário das regras a ênfase é dada ao
processo. É a vivência cultural e familiar de papéis,processo. É a vivência cultural e familiar de papéis,
em que por meio de brincadeiras eem que por meio de brincadeiras e
representações, conteúdos importantes para orepresentações, conteúdos importantes para o
sujeito podem ser reconstruídos. É o processo e osujeito podem ser reconstruídos. É o processo e o
resultado ao qual se chegou. Exercício e simbólicoresultado ao qual se chegou. Exercício e simbólico
estão juntos nesse processo.estão juntos nesse processo.
Na construção de textos, o professor junto com oNa construção de textos, o professor junto com o
sujeito cria uma história que depois, de formasujeito cria uma história que depois, de forma
desafiadora, deverá ser narrada, interpretada,desafiadora, deverá ser narrada, interpretada,
reconstruída.reconstruída.
35. Já na matemática o trabalho com a superaçãoJá na matemática o trabalho com a superação
de dificuldades que surgem no contexto do jogode dificuldades que surgem no contexto do jogo
sem limitações ou regras. Trazersem limitações ou regras. Trazer
problematizações.problematizações.
Nas relações afetivas a possibilidade deNas relações afetivas a possibilidade de
conversar, de elaborar, envolver-se com o outroconversar, de elaborar, envolver-se com o outro
a partir de um contexto mais livre, solto.a partir de um contexto mais livre, solto.
A possibilidade infinita da criação plástica.A possibilidade infinita da criação plástica.
36. OS JOGOS E SUASOS JOGOS E SUAS
ESTRUTURASESTRUTURAS
JOGOJOGO
VAVARETARETA
TIRA A TAÇATIRA A TAÇA
FAMÍLIAFAMÍLIA
LEGOLEGO
CARA A CARACARA A CARA
COMBATECOMBATE
YAMYAM
ESTRUTURAESTRUTURA
EXERCÍCIOEXERCÍCIO
SIMBÓLICOSIMBÓLICO
REGRASREGRAS
37. DAMADAMA
Jogo onde as combinações são infinitas;Jogo onde as combinações são infinitas;
Construção de relações de organização espaciaisConstrução de relações de organização espaciais
topológicas, euclidianas e projetivas;topológicas, euclidianas e projetivas;
Construção de jogadas que evitem contradições;Construção de jogadas que evitem contradições;
Construção de estratégias;Construção de estratégias;
Limites;Limites;
Estratégia matemática;Estratégia matemática;
Lógica da ação (movimentos imediatos) e daLógica da ação (movimentos imediatos) e da
antecipação (movimentos futuros em relação a suaantecipação (movimentos futuros em relação a sua
jogada e de seu adversário);jogada e de seu adversário);
38. Espaço unidimensional e bidimensional;Espaço unidimensional e bidimensional;
Possibilidade de perder-ganhar, competir, admirar oPossibilidade de perder-ganhar, competir, admirar o
adversário e aprender com suas jogadas;adversário e aprender com suas jogadas;
Respeito;Respeito;
Aprender com o outro;Aprender com o outro;
Controle motor;Controle motor;
Atenção, concentração;Atenção, concentração;
Sublimação e instrumentação da agressão (próprioSublimação e instrumentação da agressão (próprio
de um jogo de competição);de um jogo de competição);
Preparação para o pensamento hipotético-dedutivo.Preparação para o pensamento hipotético-dedutivo.
39. DOMINÓDOMINÓ
Permite uma exploração muito grandePermite uma exploração muito grande
(contar, empilhar, par, ímpar...);(contar, empilhar, par, ímpar...);
Memória;Memória;
Classificação;Classificação;
Seriação;Seriação;
Antecipação;Antecipação;
Lógica;Lógica;
Argumentação com conceitos operatórios eArgumentação com conceitos operatórios e
hipotéticos;hipotéticos;
Correspondência termo a termo.Correspondência termo a termo.
41. BATALHA NAVALBATALHA NAVAL
Coordenação viso-motora;Coordenação viso-motora;
Organização espacial;Organização espacial;
Lateralidade;Lateralidade;
Classificação por atributos;Classificação por atributos;
Estratégia;Estratégia;
Lógica;Lógica;
Antecipação em relação ao seu jogo e de seuAntecipação em relação ao seu jogo e de seu
adversário.adversário.
42. CARA A CARACARA A CARA
Construção de esquemasConstrução de esquemas
classificatórios por um ou maisclassificatórios por um ou mais
atributos;atributos;
Criação de hipóteses: combinar eCriação de hipóteses: combinar e
confirmar;confirmar;
A não pertinência;A não pertinência;
Lógica combinatória;Lógica combinatória;
Memória.Memória.
43. LIG 4 OU JOGO DALIG 4 OU JOGO DA
VELHAVELHA
Organização espacial;Organização espacial;
O trabalho com ângulos diferenciados;O trabalho com ângulos diferenciados;
A lógica e as hipóteses;A lógica e as hipóteses;
Antecipação de seu jogo e do jogo doAntecipação de seu jogo e do jogo do
oponente.oponente.
44. GENERAL OU YAMGENERAL OU YAM
Percepção de dados simples ePercepção de dados simples e
complexos;complexos;
Operações aritméticas;Operações aritméticas;
Hipóteses;Hipóteses;
Opções.Opções.
45. ReferênciasReferências
AberasturyAberastury, Arminda. A criança e seus jogos., Arminda. A criança e seus jogos.
Petrópolis: Vozes, 1972.Petrópolis: Vozes, 1972.
Affonso,Affonso, Rosa M. L. Ludodiagnóstico: a teoria de
Jean Piaget em entrevistas lúdicas para o
diagnóstico infantil.São Paulo: Cabral Editora
Universitária,1998.
DufloDuflo, Colas. O jogo de Pascal a Schiller. Porto, Colas. O jogo de Pascal a Schiller. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
MacedoMacedo, Lino. 4 cores, senha e dominó. São Paulo:, Lino. 4 cores, senha e dominó. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1998.Casa do Psicólogo, 1998.
MacedoMacedo, Lino; Machado, Nilson; Arantes, Valéria., Lino; Machado, Nilson; Arantes, Valéria.
Jogo e projeto: pontos e contrapontos. São Paulo:Jogo e projeto: pontos e contrapontos. São Paulo:
Sumus Editorial, 2006.Sumus Editorial, 2006.
PiagetPiaget,Jean. A formação do símbolo na criança:,Jean. A formação do símbolo na criança:
imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rioimitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio
de Janeiro: Zahar, 1971.de Janeiro: Zahar, 1971.