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NOTA CIENTÍFICA


 Riqueza de Plantas Alimentícias Não-Convencionais
    na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio
                   Grande do Sul
                               Valdely Ferreira Kinupp1, Ingrid Bergman Inchausti de Barros2



Introdução                                                                vegetais da Região Metropolitana de Porto Alegre
                                                                          (RMPA), Rio Grande do Sul (RS).
   Muitas plantas são denominadas "daninhas" ou
"inços", pois medram entre as plantas cultivadas, porém,
são espécies com grande importância ecológica e                           Material e métodos
econômica. Muitas destas espécies, por exemplo, são                          O estudo aqui apresentado foi realizado no âmbito da
alimentícias, mesmo que atualmente em desuso (ou                          RMPA, que compreende 31 municípios e ocupa uma
quase) pela maior parte da população. O mesmo é válido                    área de 9.825,61 km2, representando 3,65% da área do
para plantas silvestres, as quais são genericamente                       estado do RS [3. Foi realizada uma revisão de toda a
chamadas de "mato" ou "planta do mato", as quais, no                      bibliografia de interesse, disponível sobre inventários
entanto, são recursos genéticos com usos potenciais                       florísticos realizados na RMPA. Também foram
inexplorados.                                                             consideradas monografias, dissertações, teses, artigos,
   Conceitualmente, plantas alimentícias são aquelas que                  livros, entre outras publicações, sobre as diversas
possuem uma ou mais partes ou produtos que podem ser                      formações vegetais ocorrentes na RMPA. Os dados
utilizados na alimentação humana, tais como: raízes,                      foram complementados através de consultas aos
tubérculos, bulbos, rizomas, cormos, talos, folhas, brotos,               Herbários ICN (UFRGS), HAS (FZBRS) e PACA
flores, frutos e sementes ou ainda látex, resina e goma,                  (UNISINOS). Foram contemplados trabalhos sobre todos
ou que são usadas para obtenção de óleos e gorduras                       os hábitos (árvores, arbustos, trepadeiras, apoiantes e
comestíveis. Inclui-se neste conceito também as                           herbáceas em geral). As espécies foram listadas pela
especiarias, espécies condimentares e aromáticas, assim                   família, nome científico, nomes populares, categoria de
como plantas que são utilizadas como substitutas do sal,                  uso e partes usadas como alimentos.
como edulcorantes, amaciantes de carnes, corantes                            As identificações de quais espécies de plantas são
alimentares e no fabrico de bebidas, tonificantes e                       potencialmente alimentícias foram realizadas a partir de
infusões. Conceitos similares são adotados por Kunkel                     bibliografia específica, principalmente: [1, 4, 5] e demais
[1] e pela Organização das Nações Unidas para                             artigos e publicações revisados no presente estudo. Além
Agricultura e Alimentação - FAO [2].                                      de dados próprios, experimentações e descobertas feitas
   Uma listagem de todas as plantas comestíveis do                        durante a presente pesquisa e de consultas a especialistas
mundo não existe. Numa das mais completas, são                            e ou informações de conhecedores tradicionais. Algumas
enumeradas cerca de 12.500 espécies potencialmente                        espécies consideradas comercialmente promissoras
alimentícias, perfazendo 3.100 gêneros e cerca de 400                     foram coletadas e estão sendo propagadas para estudos
famílias, em sua maioria pteridófitas e angiospermas [1].                 preliminares fitotécnicos e nutricionais.
No Brasil existem poucos trabalhos científicos, e mesmo
de divulgação, sobre plantas alimentícias não-                            Resultados e discussão
convencionais. Há alguns compêndios que listam
                                                                             Até o presente foram encontradas cerca de 280
espécies nativas e cultivadas e suas possibilidades de
                                                                          espécies de plantas com potencial alimentício,
uso, de forma genérica, e trabalhos regionais, para algum
                                                                          distribuídas em 71 famílias e 65 gêneros, sendo a família
bioma específico (e.g., Cerrado) e para formas de uso
                                                                          Fabaceae representada por duas subfamílias – Faboideae
delimitadas (e.g., frutas).
                                                                          e Mimosoideae. Deste total, 28 famílias (39%) estão
   Em função desta carência de informações básicas
                                                                          representadas por uma única espécie (0,35%) com
sobre a disponibilidade de recursos alimentícios nativos,
                                                                          potencial alimentício. As três famílias com maior riqueza
suas formas de uso e partes utilizadas e dos usos
                                                                          de espécies com potencial alimentício na RMPA
potenciais destes recursos alimentares desconhecidos e
                                                                          (Myrtaceae, Asteraceae e Solanaceae, respectivamente)
ou negligenciados, foi proposto o presente estudo de
                                                                          contribuem com 29 espécies (10%), 21 espécies (7,5%) e
levantamento das espécies nativas potencialmente
                                                                          14 espécies (5%), respectivamente (Fig. 1). A
alimentícias disponíveis nas diferentes formações
                                                                          classificação das famílias segue APG II [6]. Estes dados

________________
1. Doutorando em Fitotecnia, Faculdade de Agronomia, Departamento de Horticultura e Silvicultura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS, CEP 91540-000. E-mail: valkinuppp@yahoo.com.br
2. Professora Titular do Departamento de Horticultura e Silvicultura, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS, CEP 91540-000. E-mail: ingridb@ufrgs.br



                     Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 63-65, jul. 2007
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são preliminares e estão sendo atualizados e                 estimativas mais completa da riqueza florística da
complementados. Desse total, 17 espécies são ou podem        RMPA, os dados preliminares do presente estudo
ser utilizadas para o preparo de bebidas (refrigerantes,     indicam que cerca de 19% das espécies nativas da
chás, tonificantes, estimulantes, licores e ou adicionadas   RMPA podem ser utilizadas na alimentação humana.
em aguardente); 22 espécies apresentam potencial como        Percentual bem superior à média citada [7]. O conceito
condimento ou tempero; 146 espécies podem ser                de “nativas” aqui adotado inclui também aquelas
classificadas como hortaliças, incluindo neste conceito      espécies naturalizadas e pantropicais sobre as quais
plantas produtoras de flores, folhas, raízes tuberosas e     pairam dúvidas sobre a real origem geográfica ou que
caules comestíveis; 118 espécies são frutíferas,             são cosmopolitas e ocorrem na RMPA, assim como em
contemplando frutas propriamente ditas, além de              outras regiões do RS e do Brasil e com potencial
amêndoas e sementes; e cerca de 12 espécies têm um uso       alimentício negligenciado.
potencial como cereal; seis produtoras de óleo
(oleaginosa); bromelina, papaína e corante alimentício       Agradecimentos
sendo fornecidos, individualmente, por uma espécie (Fig.
                                                                Ao CNPq pela bolsa de doutorado do primeiro autor e
2).
                                                             a todos os colaboradores deste projeto.
   As partes com potencial uso alimentar desta
diversidade vegetal, estão assim distribuídas: 133           Referências
espécies produzem frutos comestíveis; 99 espécies            [1]    KUNKEL, G. 1984. Plants for human consumption: an annotated
produzem folhas que podem ser utilizadas na                         checklist of the edible phanerogams and ferns. Koenigstein:
alimentação humana; 58 apresentam flores alimentícias;              Koeltz Scientific Books. 393p.
de 52 podem ser utilizadas as sementes; 30 têm talos que     [2]    FAO. 1992. Productos forestales no madereros; posibilidades.
                                                                    Estudio FAO Montes. Publicación No. 97, Roma. 35p.
podem ser usados como verdura; 11 apresentam rizomas;
                                                             [3]    HABITAT. Região metropolitana de Porto Alegre -
oito com raízes tuberosas; seis espécies produzem                   caracterização sócio-espacial. Borba, S.V. (Coord.). Porto
tubérculos comestíveis; cinco espécies têm casca de                 Alegre,     2003.    49    p.  Disponível      em    PDF    em:
alguma parte da planta com uso potencial como alimento.             <http://www.metroplan.rs.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2004.
Plantas produtoras de inflorescências jovens (cinco);        [4]    FACCIOLA, S. 1998. Cornucopia II - a source book of edible
                                                                    plants. Vista: Kampong Publications. 713p.
bulbos (quatro); planta inteira (quatro); brotos tenros e    [5]    CORRÊA, M. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das
bases foliares (três); cladódios (duas), palmito, pólen,            exóticas cultivadas. Ministério da Agricultura & Instituto
goma, medula e escama carnosa, contemplados com uma                 Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. 6v. 1926-1978. 4329p.
espécie cada.                                                [6]    SOUZA, V.C. & LORENZI, H. 2005. Botânica sistemática: Guia
                                                                    Ilustrado para Identificação das Famílias de Angiospermas da
   Em relação aos hábitos de crescimento, estas 280                 Flora Brasileira, baseado em APGII. Nova Odessa, SP, Instituto
espécies levantadas até o momento podem ser                         Plantarum. 640p.
classificadas, genericamente, em cerca de oito categorias,   [7]    DÍAZ-BETANCOURT, M. et al. 1999. Weeds as a source for
não rigidamente determinadas nem excludentes: ervas                  human consumption. A comparison between tropical and
                                                                     temperate Latin America. Revista Biología Tropical, v.47, n. 3,
em geral (incluindo herbáceas eretas, prostradas,                    p.329-338.
decumbentes, epífitas, suculentas, aquáticas e outras)       [8].    Teodoro Luis, F.S.C. 1960. Flora analítica de Porto Alegre.
perfazendo 131 espécies; árvores contribuindo com 66                 Canoas, RS, Instituto Geobiológico la Salle. 225p.
espécies; arbustos 37 espécies; trepadeiras com
consistência herbácea totalizando 16 espécies;
trepadeiras lenhosas com 15 espécies; trepadeiras
sublenhosas com 14 espécies; subarbustos perfazendo
nove espécies e a categoria arborescente, contemplada
com duas cactáceas. Novamente o somatório geral é
superior à riqueza total de espécies listadas, pois muitas
espécies apresentam uma amplitude de hábitos, em
função da variabilidade genética e das condições em que
medram.
   Em média, 10% do total de espécies vegetais de
qualquer bioma do planeta são comestíveis [7].
Naturalmente que há ambientes mais ricos e outros com
menor riqueza e abundância. Em hábitats naturais, em
média, a riqueza de espécies de plantas com potencial
alimentício varia de 6% (Terra do Fogo) a 21%
(Amazônia boliviana) e em solos férteis de regiões
tropicais e subtropicais, especialmente em áreas com
interferência antrópica, este percentual cresce
vertiginosamente. Nos ambientes sob ação do homem, e
considerando-se apenas as espécies ruderais, invasoras
ou “daninhas” (weeds), este percentual de uso
alimentício potencial pode alcançar até 89% das espécies
[7]. Considerando a relação de espécies (cerca de 1490)
apontadas por Teodoro Luis [8] como uma das

                  Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 63-65, jul. 2007
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                                                                                                                                                      Moraceae

                                                                                                                                                      Verbenaceae

                                                                                                                                                      Amaranthaceae
           Total de Espécies




                               20
                                                                                                                                                      Cactaceae

                                                                                                                                                      Fabaceae

                               15                                                                                                                     Rosaceae

                                                                                                                                                      Malvaceae

                                                                                                                                                      Apiaceae

                               10                                                                                                                     Urticaceae

                                                                                                                                                      Solanaceae

                                                                                                                                                      Asteraceae

                                5                                                                                                                     Myrtaceae




                                0
                                                                                          Famílias



                    Figura 1 - Famílias com cinco ou mais espécies com potencial alimentício nativas na Região Metropolitana de Porto Alegre
                                                                                             (RMPA).



                       160



                       140



                       120



                       100
Total de Espécies




                               80



                               60



                               40



                               20



                               0
                                       Hortaliça       Frutífera   Condimento   Bebidas              Cereal       Oleaginosa   Papaína   Corante   Bromelina
                                                                                              Categorias de uso




                                    Figura 2 - Categorias de usos alimentícios das espécies nativas da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA).




                                                   Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 63-65, jul. 2007

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  • 1. NOTA CIENTÍFICA Riqueza de Plantas Alimentícias Não-Convencionais na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul Valdely Ferreira Kinupp1, Ingrid Bergman Inchausti de Barros2 Introdução vegetais da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), Rio Grande do Sul (RS). Muitas plantas são denominadas "daninhas" ou "inços", pois medram entre as plantas cultivadas, porém, são espécies com grande importância ecológica e Material e métodos econômica. Muitas destas espécies, por exemplo, são O estudo aqui apresentado foi realizado no âmbito da alimentícias, mesmo que atualmente em desuso (ou RMPA, que compreende 31 municípios e ocupa uma quase) pela maior parte da população. O mesmo é válido área de 9.825,61 km2, representando 3,65% da área do para plantas silvestres, as quais são genericamente estado do RS [3. Foi realizada uma revisão de toda a chamadas de "mato" ou "planta do mato", as quais, no bibliografia de interesse, disponível sobre inventários entanto, são recursos genéticos com usos potenciais florísticos realizados na RMPA. Também foram inexplorados. consideradas monografias, dissertações, teses, artigos, Conceitualmente, plantas alimentícias são aquelas que livros, entre outras publicações, sobre as diversas possuem uma ou mais partes ou produtos que podem ser formações vegetais ocorrentes na RMPA. Os dados utilizados na alimentação humana, tais como: raízes, foram complementados através de consultas aos tubérculos, bulbos, rizomas, cormos, talos, folhas, brotos, Herbários ICN (UFRGS), HAS (FZBRS) e PACA flores, frutos e sementes ou ainda látex, resina e goma, (UNISINOS). Foram contemplados trabalhos sobre todos ou que são usadas para obtenção de óleos e gorduras os hábitos (árvores, arbustos, trepadeiras, apoiantes e comestíveis. Inclui-se neste conceito também as herbáceas em geral). As espécies foram listadas pela especiarias, espécies condimentares e aromáticas, assim família, nome científico, nomes populares, categoria de como plantas que são utilizadas como substitutas do sal, uso e partes usadas como alimentos. como edulcorantes, amaciantes de carnes, corantes As identificações de quais espécies de plantas são alimentares e no fabrico de bebidas, tonificantes e potencialmente alimentícias foram realizadas a partir de infusões. Conceitos similares são adotados por Kunkel bibliografia específica, principalmente: [1, 4, 5] e demais [1] e pela Organização das Nações Unidas para artigos e publicações revisados no presente estudo. Além Agricultura e Alimentação - FAO [2]. de dados próprios, experimentações e descobertas feitas Uma listagem de todas as plantas comestíveis do durante a presente pesquisa e de consultas a especialistas mundo não existe. Numa das mais completas, são e ou informações de conhecedores tradicionais. Algumas enumeradas cerca de 12.500 espécies potencialmente espécies consideradas comercialmente promissoras alimentícias, perfazendo 3.100 gêneros e cerca de 400 foram coletadas e estão sendo propagadas para estudos famílias, em sua maioria pteridófitas e angiospermas [1]. preliminares fitotécnicos e nutricionais. No Brasil existem poucos trabalhos científicos, e mesmo de divulgação, sobre plantas alimentícias não- Resultados e discussão convencionais. Há alguns compêndios que listam Até o presente foram encontradas cerca de 280 espécies nativas e cultivadas e suas possibilidades de espécies de plantas com potencial alimentício, uso, de forma genérica, e trabalhos regionais, para algum distribuídas em 71 famílias e 65 gêneros, sendo a família bioma específico (e.g., Cerrado) e para formas de uso Fabaceae representada por duas subfamílias – Faboideae delimitadas (e.g., frutas). e Mimosoideae. Deste total, 28 famílias (39%) estão Em função desta carência de informações básicas representadas por uma única espécie (0,35%) com sobre a disponibilidade de recursos alimentícios nativos, potencial alimentício. As três famílias com maior riqueza suas formas de uso e partes utilizadas e dos usos de espécies com potencial alimentício na RMPA potenciais destes recursos alimentares desconhecidos e (Myrtaceae, Asteraceae e Solanaceae, respectivamente) ou negligenciados, foi proposto o presente estudo de contribuem com 29 espécies (10%), 21 espécies (7,5%) e levantamento das espécies nativas potencialmente 14 espécies (5%), respectivamente (Fig. 1). A alimentícias disponíveis nas diferentes formações classificação das famílias segue APG II [6]. Estes dados ________________ 1. Doutorando em Fitotecnia, Faculdade de Agronomia, Departamento de Horticultura e Silvicultura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS, CEP 91540-000. E-mail: valkinuppp@yahoo.com.br 2. Professora Titular do Departamento de Horticultura e Silvicultura, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS, CEP 91540-000. E-mail: ingridb@ufrgs.br Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 63-65, jul. 2007
  • 2. 64 são preliminares e estão sendo atualizados e estimativas mais completa da riqueza florística da complementados. Desse total, 17 espécies são ou podem RMPA, os dados preliminares do presente estudo ser utilizadas para o preparo de bebidas (refrigerantes, indicam que cerca de 19% das espécies nativas da chás, tonificantes, estimulantes, licores e ou adicionadas RMPA podem ser utilizadas na alimentação humana. em aguardente); 22 espécies apresentam potencial como Percentual bem superior à média citada [7]. O conceito condimento ou tempero; 146 espécies podem ser de “nativas” aqui adotado inclui também aquelas classificadas como hortaliças, incluindo neste conceito espécies naturalizadas e pantropicais sobre as quais plantas produtoras de flores, folhas, raízes tuberosas e pairam dúvidas sobre a real origem geográfica ou que caules comestíveis; 118 espécies são frutíferas, são cosmopolitas e ocorrem na RMPA, assim como em contemplando frutas propriamente ditas, além de outras regiões do RS e do Brasil e com potencial amêndoas e sementes; e cerca de 12 espécies têm um uso alimentício negligenciado. potencial como cereal; seis produtoras de óleo (oleaginosa); bromelina, papaína e corante alimentício Agradecimentos sendo fornecidos, individualmente, por uma espécie (Fig. Ao CNPq pela bolsa de doutorado do primeiro autor e 2). a todos os colaboradores deste projeto. As partes com potencial uso alimentar desta diversidade vegetal, estão assim distribuídas: 133 Referências espécies produzem frutos comestíveis; 99 espécies [1] KUNKEL, G. 1984. Plants for human consumption: an annotated produzem folhas que podem ser utilizadas na checklist of the edible phanerogams and ferns. Koenigstein: alimentação humana; 58 apresentam flores alimentícias; Koeltz Scientific Books. 393p. de 52 podem ser utilizadas as sementes; 30 têm talos que [2] FAO. 1992. Productos forestales no madereros; posibilidades. Estudio FAO Montes. Publicación No. 97, Roma. 35p. podem ser usados como verdura; 11 apresentam rizomas; [3] HABITAT. Região metropolitana de Porto Alegre - oito com raízes tuberosas; seis espécies produzem caracterização sócio-espacial. Borba, S.V. (Coord.). Porto tubérculos comestíveis; cinco espécies têm casca de Alegre, 2003. 49 p. Disponível em PDF em: alguma parte da planta com uso potencial como alimento. <http://www.metroplan.rs.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2004. Plantas produtoras de inflorescências jovens (cinco); [4] FACCIOLA, S. 1998. Cornucopia II - a source book of edible plants. Vista: Kampong Publications. 713p. bulbos (quatro); planta inteira (quatro); brotos tenros e [5] CORRÊA, M. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das bases foliares (três); cladódios (duas), palmito, pólen, exóticas cultivadas. Ministério da Agricultura & Instituto goma, medula e escama carnosa, contemplados com uma Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. 6v. 1926-1978. 4329p. espécie cada. [6] SOUZA, V.C. & LORENZI, H. 2005. Botânica sistemática: Guia Ilustrado para Identificação das Famílias de Angiospermas da Em relação aos hábitos de crescimento, estas 280 Flora Brasileira, baseado em APGII. Nova Odessa, SP, Instituto espécies levantadas até o momento podem ser Plantarum. 640p. classificadas, genericamente, em cerca de oito categorias, [7] DÍAZ-BETANCOURT, M. et al. 1999. Weeds as a source for não rigidamente determinadas nem excludentes: ervas human consumption. A comparison between tropical and temperate Latin America. Revista Biología Tropical, v.47, n. 3, em geral (incluindo herbáceas eretas, prostradas, p.329-338. decumbentes, epífitas, suculentas, aquáticas e outras) [8]. Teodoro Luis, F.S.C. 1960. Flora analítica de Porto Alegre. perfazendo 131 espécies; árvores contribuindo com 66 Canoas, RS, Instituto Geobiológico la Salle. 225p. espécies; arbustos 37 espécies; trepadeiras com consistência herbácea totalizando 16 espécies; trepadeiras lenhosas com 15 espécies; trepadeiras sublenhosas com 14 espécies; subarbustos perfazendo nove espécies e a categoria arborescente, contemplada com duas cactáceas. Novamente o somatório geral é superior à riqueza total de espécies listadas, pois muitas espécies apresentam uma amplitude de hábitos, em função da variabilidade genética e das condições em que medram. Em média, 10% do total de espécies vegetais de qualquer bioma do planeta são comestíveis [7]. Naturalmente que há ambientes mais ricos e outros com menor riqueza e abundância. Em hábitats naturais, em média, a riqueza de espécies de plantas com potencial alimentício varia de 6% (Terra do Fogo) a 21% (Amazônia boliviana) e em solos férteis de regiões tropicais e subtropicais, especialmente em áreas com interferência antrópica, este percentual cresce vertiginosamente. Nos ambientes sob ação do homem, e considerando-se apenas as espécies ruderais, invasoras ou “daninhas” (weeds), este percentual de uso alimentício potencial pode alcançar até 89% das espécies [7]. Considerando a relação de espécies (cerca de 1490) apontadas por Teodoro Luis [8] como uma das Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 63-65, jul. 2007
  • 3. 65 35 30 25 Cannabaceae Moraceae Verbenaceae Amaranthaceae Total de Espécies 20 Cactaceae Fabaceae 15 Rosaceae Malvaceae Apiaceae 10 Urticaceae Solanaceae Asteraceae 5 Myrtaceae 0 Famílias Figura 1 - Famílias com cinco ou mais espécies com potencial alimentício nativas na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). 160 140 120 100 Total de Espécies 80 60 40 20 0 Hortaliça Frutífera Condimento Bebidas Cereal Oleaginosa Papaína Corante Bromelina Categorias de uso Figura 2 - Categorias de usos alimentícios das espécies nativas da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 63-65, jul. 2007