Fabiana encontra uma menina chamada Sofia chorando em um parque e cuida dela. Sofia convida Fabiana para morar com ela, mas Fabiana não pode deixar sua própria família. No entanto, a mãe de Sofia oferece um emprego para a família de Fabiana, permitindo que elas continuem próximas.
6. Valorização da Família
Fabiana andava sem destino pelas ruas da cidade. Sentia-se triste e desolada.
Olhava com admiração as mulheres bem arrumadas, cheirosas, levando pela mão
crianças alegres e bem vestidas, que nem notavam sua presença.
De família muito pobre, ela morava num bairro afastado onde faltava tudo.
Desejava ter uma vida melhor, mas seu pai era operário de uma fábrica e ganhava
pouco; sua mãe lavava roupas, o que lhe rendia alguns trocados, enquanto Fabiana
cuidava dos dois irmãos menores.
Fabiana desejava estudar, ter uma profissão e ganhar dinheiro para ajudar sua
família, porém tinha apenas doze anos ainda.
Passando por um jardim, sentou-se para descansar. Logo, ouviu choro ali perto.
Levantou-se, procurando de onde vinham aqueles soluços, e encontrou uma garotinha
no chão, em prantos.
— O que aconteceu? — perguntou, preocupada.
— Eu caí e machuquei meu joelho. Veja! — disse a pequena, limpando as lágrimas
e mostrando o joelho ralado, de onde o sangue escorria.
Condoída da situação da menina, que não deveria ter mais de três anos, Fabiana
consolou-a:
7. — Isso não é nada. Vai sarar logo. Onde estão seus pais?
— Meu pai morreu. E minha mãe está trabalhando. Fugi de casa. Queria conversar
com alguém que me desse um pouco de atenção. Você foi a única pessoa que falou
comigo!
Sem que elas percebessem, Otávio, o pai da menina, desencarnado, preocupado
com a filha, estava ali tentando ajudá-la. Sorriu satisfeito ao ver a atenção que Fabiana
dava a ela.
— Como é seu nome? — perguntou Fabiana, penalizada, sentindo um interesse
todo especial.
— Sofia.
— Um lindo nome. E onde você mora, Sofia?
— Aqui perto. Lá naquela casa! — respondeu a garota, apontando com o dedinho.
Fabiana, acompanhada por Otávio, pegou a menina no colo, atravessou a rua e
levou-a até o portão. Apertou a campainha e esperou. Logo, uma empregada apareceu.
Quando viu a menina no colo de uma desconhecida, colocou as mãos na cintura,
irritada e surpresa:
— Sofia! Você fugiu de casa? Como conseguiu sair?
8. — Aproveitei quando o jardineiro chegou. Sai, e ele nem me viu!
Com cara fechada, a empregada gritou:
— Muito bonito! Então, fugiu de casa, não é? E ainda chega no colo de uma
desconhecida! Você não sabe que está proibida de falar com estranhos?
— Fabiana não é uma estranha, Ema. É minha amiga.
Vendo que a empregada estava muito nervosa, Fabiana explicou:
— Não brigue com Sofia, por favor. Eu a encontrei caída no chão, machucada, e a
trouxe para casa. Ela precisa de um curativo.
Irritada, Ema gritou:
— Pois não vou fazer curativo algum. Ela se machucou porque quis. Passe já para
dentro, Sofia!
A garotinha, porém, encolhida de medo, não queria entrar sem a nova amiga.
Preocupada com ela, Fabiana a acompanhou.
Entrando na casa, que era um verdadeiro palacete, Fabiana ficou impressionada
com a beleza e o luxo da decoração.
9. Como a empregada não se preocupara com o machucado, Sofia foi buscar a caixa de
primeiros-socorros e, com carinho, Fabiana fez um pequeno curativo, enquanto Ema
continuava reclamando, aos gritos.
Mas Clara, a mãe de Sofia, que havia saído do serviço mais cedo, chegou justo no
momento que Ema abria o portão e, sem ser notada, ouviu tudo. Estacionou o carro
na rua, entrou em casa e ficou parada na porta, muito espantada, observando a cena.
Quando Ema viu a patroa, ficou branca de susto. Deu um sorriso amarelo,
tentando justificar-se:
— Dona Clara, estava dizendo a Sofia que ela precisa...
Com expressão grave, a dona da casa impediu-a de prosseguir:
— Não se preocupe em explicar, Ema. Ouvi perfeitamente o que você disse.
Conversaremos depois.
Sofia correu ao encontro da mãe, feliz. Abraçada fortemente à mãezinha,
suplicava:
— Mamãe! Que bom que você chegou! Ainda bem que você está aqui! Fica
comigo! Não quero mais ficar sozinha.
Ao ver a menina desconhecida, a senhora cumprimentou-a, gentilmente,
enquanto Sofia explicava:
10. — Mamãe, esta é minha amiga Fabiana. Eu fugi de casa para passear e caí no
jardim. Fabiana me trouxe no colo e olha o curativo que ela fez no meu
joelho!
Com um sorriso, a mãe agradeceu a Fabiana pelo atendimento à sua
filha. Convidou-a para sentar-se e conversou com ela, fazendo-lhe algumas
perguntas. E assim ficou sabendo como ela vivia, onde morava, e as
dificuldades da família.
Enquanto conversavam, Ema arrumava a mesa para a refeição, e a mãe
notou que toda vez que Ema se aproximava, a filha encolhia-se de medo,
agarrando-se ainda mais à mãe. Percebendo o pavor que a empregada gerava
na menina, a senhora ordenou que esta voltasse para a cozinha.
Quando Ema saiu da sala, Sofia pediu:
— Mamãe, deixa a Fabiana ficar comigo?
— Isso é impossível, querida. Fabiana tem família e precisa voltar para
a casa dela — explicou a mãezinha, carinhosamente.
11. — Se ela for eu também vou, mamãe. Ela é minha amiga. Gosta de mim e
não quero mais ficar sozinha com a Ema — insistiu a menina.
Fabiana pensou que, com certeza, morar numa casa como aquela, seria
um sonho para ela. Todavia, não poderia deixar sua família, que precisava
dela.
Ao pensar na família, Fabiana lembrou-se que estava ficando tarde.
Despediu-se de Sofia, deixou o endereço e prometeu que sempre que
pudesse viria visitá-la.
Retornando para casa, a mocinha encontrou a mãe ocupada em colocar
a mesa para o jantar, enquanto o pai consertava o ferro elétrico e os irmãos
brincavam na sala.
Havia tanto amor em tudo, tanta harmonia naquela vida simples e
pobre, que ela se emocionou.
— Mamãe! Papai! Sei que andei reclamando da nossa vida. Mas hoje
penso diferente. Não trocaria essa vida por nenhuma outra. Podemos sentir
falta de algumas coisas, mas aqui temos o amor de uma verdadeira família e
isso não há dinheiro que pague.
12. Todos se abraçaram felizes.
No dia seguinte, ao anoitecer, Sofia e sua mãe apareceram para uma
visita na casa de Fabiana, e ficaram conhecendo José e Ana.
Clara notou a pobreza daquele lar; conversou com os pais de Fabiana,
achando-os muito simpáticos. Depois, aceitando a sugestão de Otávio,
desencarnado, que estava ali, teve uma idéia e explicou:
— José e Ana! Sou uma mulher sozinha e trabalho muito. Desde que
Otávio, meu marido, faleceu, tenho que cuidar dos negócios. Desse modo,
sou obrigada a deixar minha filha com pessoas que podem não ser boas para
ela. Sofia, desde o momento que conheceu Fabiana, gostou muito dela.
Agora que estou aqui, que conheci vocês, senti vontade de lhes fazer uma
proposta: Tenho uma casinha nos fundos do meu jardim. Preciso de alguém
de confiança para tomar conta da casa e da minha filha enquanto trabalho, o
que Ana tem condições de fazer. E você, José, pode continuar no seu
serviço, e, nas horas vagas, cuidar do jardim e de outras pequenas tarefas da
nossa casa. Além disso, as crianças poderiam ir à escola, ali perto; eu mesma
providenciarei tudo. O que acham? Dessa forma, creio que nós nos
ajudaremos mutuamente!
13. Todos ficaram contentes com a solução do problema, especialmente Otávio
que dera a sugestão, e Sofia mais ainda, pois não se separaria da sua querida
Fabiana. Além disso, ainda teria os irmãozinhos dela para brincar!
A pequena Sofia, emocionada, sentindo a presença do papai que partira
para o mundo espiritual, disse com muita sabedoria:
— Sinto que o papai está muito feliz.
Na espiritualidade, Otávio agradecia a Deus pela ajuda que dera à sua
família, comovido com as palavras da filhinha, testemunhando que ninguém
morre e que, após a morte, continuamos a amar a família e a ajudá-la em
suas dificuldades, sempre que possível.
Tia Célia
Célia Xavier Camargo
Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita