Este documento discute as perspectivas da sociedade civil e da comunidade científica sobre a conferência Rio+20 das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável. Alguns grupos sentem que suas opiniões não estão sendo consideradas e que o foco excessivo na economia verde pode permitir mais degradação ambiental. Eles defendem práticas sustentáveis comprovadas cientificamente, como agricultura ecológica e economia solidária.
1. Felipe Pinheiro 08/05/12
Resumo Palestra Rio + 20, sob olhar da sociedade civil e da comunidade científica
Antes de iniciar qualquer pensamento referente a Rio+20, temos de pensar o porquê
de um enorme esforço das Nações Unidas (ONU) em promover um evento que será recorde
em participação de chefes de estado. Fato esse a crise, porém qual das crises? Econômica?
Social? Ambiental?
Um ponto de grande acerto das Nações Unidas foi abordar as três crises como
interconectadas, tão consideradas que até no símbolo da Rio+20 existem os chamados 3
tripés: econômico, social e ambiental.
Ao mesmo tempo em que a ONU considera que para o desenvolvimento sustentável é
necessária a participação de todos os segmentos da sociedade, criando assim os conhecidos
“Major Groups”; alguns destes grupos: agricultores, trabalhadores, ONGs, povos tradicionais,
cientistas, ..., reclamam pelo fato de suas manifestações e posições não serem consideradas
no processo da criação do documento que pautará a discussão.
Dois importantes eventos serão realizados em paralelo com a conferência oficial da
Rio+20, a qual os chefes de Estado estarão presentes, um deles é a Cúpula dos Povos,
organizado por vários segmentos da sociedade civil (mulheres, trabalhadores, ongs, povos
tradicionais, jovens...) e o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento
Sustentável, organizado pela comunidade científica.
Sob o ponto de vista histórico das conferências, diversos movimentos da sociedade
civil reclamam pelo foco cada vez maior no lado econômico, que nesta edição é o primeiro dos
dois principais temas, este é a Economia Verde. Para os movimentos sociais, as práticas
defendidas pela Economia Verde nada mais são do que a continuação do uso da terra sem
discriminação, a continuidade da degradação e da expulsão das populações tradicionais, ao
mesmo tempo em que é criado um novo mercado econômico, especulativo, para que alguns
grupos possam obter lucro com a degradação ambiental. Como exemplo para embasar tal
argumento, é possível citar o badalado crédito de carbono, no qual as principais empresas que
lucram são também as mais poluidoras. Já a comunidade científica vem alertando há anos
sobre a degradação do planeta, que vem atingindo níveis realmente perigosos para a
manutenção da vida humana no planeta, fato não considerado nas políticas públicas.
2. As soluções propostas pela ONU focam principalmente na questão energética, porém
questões mais profundas são questionadas pela sociedade civil, como o direito de território e a
soberania alimentar. A comunidade científica destaca a importância de se manter objetivos e
metas de sustentabilidade. O movimento da sociedade civil reclama ainda por maior atenção
em práticas sustentáveis já frequentes em alguns lugares, com respaldo científico (práticas de
agricultura ecológica, construção com materiais alternativos, uso do esgoto para produção de
energia, alimentos e etc.), assim como incentivo a economia solidária (economia que preza o
foco na valorização do ser humano e não no capital), que tem demonstrado grandes
resultados em regiões de baixa renda, com práticas de crédito a comunidade e outras ações,
que acabam fortalecendo a economia local. A comunidade científica, além de embasar tais
práticas, reclama de maior respeito aos dados científicos, para influenciar de fato em políticas
públicas, como exemplo, utilizar para um país um indicador mais adequado que o PIB.
Muitas propostas e viáveis soluções estão espalhadas ao redor do mundo, citadas
pelos movimentos sociais e embasadas pela comunidade cientifica. Ambos os movimentos
reclamam por maiores atenções a estas, que são consideradas as verdadeiras práticas para
sustentabilidade.