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A perda da aura

Um crítico francês do século passado, Paul de Saint-Victor, exclamou, certa vez, que os deuses
haviam abandonado a pintura moderna. Essa exclamação transformou-se numa verdade para
Malraux. No seu Museu imaginário da escultura mundial, Malraux acompanha o processo de
dessacralização da Arte, ocorrido a partir do Renascimento, quando ela começou a deixar de ser,
como Hegel suspeitou, um instrumento do homem na sua eterna busca da divindade. Perdendo o
contato com o numinoso, ela conquistou autonomia, e de representação do sagrado que era,
tornou-se sagrada. O culto votado à imagem dos deuses transferiu-se para o culto da Beleza,
último refúgio das ligações originárias da arte com a religião.
A sedução do objeto estético, o desinteresse do Belo, o seu caráter contemplativo, proviriam
dessa conaturalidade inicial entre o fenômeno artístico e o fenômeno religioso.
Não nos interessa a discussão da legitimidade dessa tese. O certo, porém, é que o objeto estético
- templo, monumento ou quadro - possui, para quem sabe contemplá-lo, uma inesgotabilidade,
uma estranha presença, palpável e fugidia, próxima e distante, que se impõe a cada ato de
contemplação dirigido para o objeto estético, singular e único, que guarda uma essência só dele
possuída e que só nele pode ser captada. É a aura, assim denominada por Walter Benjamin
("L'oeuvre d'art au temps de ses techniques de reproduction", in Oeuvres choisies, Julliard), essa
espécie de transcendência que assinala a presença única e singular das obras de arte. Uma das
mais importantes transformações a que estamos assistindo hoje, em decorrência dos meios
técnicos de reprodução de imagens - fotografia, cinema, televisão -, é, segundo Walter Benjamin,
a perda da aura das obras de arte, que, reproduzidas, divulgadas e vulgarizadas, para satisfazer às
necessidades da cultura de massa, multiplicam-se em grande número, tornando-se familiares e
banais. O resultado é o desgaste, pela multiplicação daquilo que é singular e irrepetível, da
presença que constitui a autenticidade da obra de arte. Concomitantemente, os meios de
reprodução, que causam a perda da aura, condicionam uma nova atitude em relação à Arte, que
não é mais a contemplativa solicitada pelas obras artísticas, cuja singularidade as técnicas de
reprodução de imagens vieram conturbar, e sim a atitude participante, condicionada sobretudo
pela ação do Cinema. Do Cinema, cuja natureza artística tanto se discute, da influência contínua
do espetáculo cinematográfico, resultariam novas condições psicológicas, de ordem emocional,
incompatíveis com a apreensão contemplativa exigida pela arte tradicional.
A cultura de massa é espetacular: assenta no espetáculo, requer o interessante, o raro, e são estes
que, como nos faz ver Lefebvre, em sua arguta análise das condições do espírito moderno, vão,
aos poucos, tomando o lugar do Belo. Os espetáculos que se apóiam nos meios técnicos de
reprodução da imagem, tais como os proporcionados pelo cinema e pela televisão, têm uma força
persuasiva que os da Antiguidade e do Renascimento jamais puderam alcançar. Com a
transmissão de imagens curiosas e interessantes pelos meios audiovisuais, os mitos do nosso
tempo se multiplicam, mas a linguagem simbólica, essencial à arte, estiola-se.
Entre mitos ativos e símbolos que o passado nos legou, qual a alternativa do artista? Terá ele,
teremos nós, consciência de que talvez estejamos engajados em algo que já não é mais arte; mas
o que será então e qual o seu nome?

(Henri Lefebvre, Introduction à Ia modernité, Les Éditions de Minuit, p. 272.)
NUNES, Benedito. “A perda da aura”. In: Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Editora
Ática, 1999.p.52

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A perda da aura

  • 1. A perda da aura Um crítico francês do século passado, Paul de Saint-Victor, exclamou, certa vez, que os deuses haviam abandonado a pintura moderna. Essa exclamação transformou-se numa verdade para Malraux. No seu Museu imaginário da escultura mundial, Malraux acompanha o processo de dessacralização da Arte, ocorrido a partir do Renascimento, quando ela começou a deixar de ser, como Hegel suspeitou, um instrumento do homem na sua eterna busca da divindade. Perdendo o contato com o numinoso, ela conquistou autonomia, e de representação do sagrado que era, tornou-se sagrada. O culto votado à imagem dos deuses transferiu-se para o culto da Beleza, último refúgio das ligações originárias da arte com a religião. A sedução do objeto estético, o desinteresse do Belo, o seu caráter contemplativo, proviriam dessa conaturalidade inicial entre o fenômeno artístico e o fenômeno religioso. Não nos interessa a discussão da legitimidade dessa tese. O certo, porém, é que o objeto estético - templo, monumento ou quadro - possui, para quem sabe contemplá-lo, uma inesgotabilidade, uma estranha presença, palpável e fugidia, próxima e distante, que se impõe a cada ato de contemplação dirigido para o objeto estético, singular e único, que guarda uma essência só dele possuída e que só nele pode ser captada. É a aura, assim denominada por Walter Benjamin ("L'oeuvre d'art au temps de ses techniques de reproduction", in Oeuvres choisies, Julliard), essa espécie de transcendência que assinala a presença única e singular das obras de arte. Uma das mais importantes transformações a que estamos assistindo hoje, em decorrência dos meios técnicos de reprodução de imagens - fotografia, cinema, televisão -, é, segundo Walter Benjamin, a perda da aura das obras de arte, que, reproduzidas, divulgadas e vulgarizadas, para satisfazer às necessidades da cultura de massa, multiplicam-se em grande número, tornando-se familiares e banais. O resultado é o desgaste, pela multiplicação daquilo que é singular e irrepetível, da presença que constitui a autenticidade da obra de arte. Concomitantemente, os meios de reprodução, que causam a perda da aura, condicionam uma nova atitude em relação à Arte, que não é mais a contemplativa solicitada pelas obras artísticas, cuja singularidade as técnicas de reprodução de imagens vieram conturbar, e sim a atitude participante, condicionada sobretudo pela ação do Cinema. Do Cinema, cuja natureza artística tanto se discute, da influência contínua do espetáculo cinematográfico, resultariam novas condições psicológicas, de ordem emocional, incompatíveis com a apreensão contemplativa exigida pela arte tradicional.
  • 2. A cultura de massa é espetacular: assenta no espetáculo, requer o interessante, o raro, e são estes que, como nos faz ver Lefebvre, em sua arguta análise das condições do espírito moderno, vão, aos poucos, tomando o lugar do Belo. Os espetáculos que se apóiam nos meios técnicos de reprodução da imagem, tais como os proporcionados pelo cinema e pela televisão, têm uma força persuasiva que os da Antiguidade e do Renascimento jamais puderam alcançar. Com a transmissão de imagens curiosas e interessantes pelos meios audiovisuais, os mitos do nosso tempo se multiplicam, mas a linguagem simbólica, essencial à arte, estiola-se. Entre mitos ativos e símbolos que o passado nos legou, qual a alternativa do artista? Terá ele, teremos nós, consciência de que talvez estejamos engajados em algo que já não é mais arte; mas o que será então e qual o seu nome? (Henri Lefebvre, Introduction à Ia modernité, Les Éditions de Minuit, p. 272.) NUNES, Benedito. “A perda da aura”. In: Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: Editora Ática, 1999.p.52