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Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina
Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade
destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
FRANCISCO J. B. SÁ
O CASARÃO DOS INFELIZES.
1ª EDIÇÃO
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2013
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COLABORADORES
Ao
Frei Albino Aresi que testou a veracidade destes fatos.
e
Gerson Barreto que organizou e promoveu o seu
primeiro grande lançamento.
Aos retirantes nordestinos que a cada ano
de seca renovam o seu calvário.
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Homenageados
Aos meus maravilhosos filhos
Wladimir e Alan Delano.
A minha querida Angélica que amou esta obra.
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O Autor.
Francisco J.B. Sá é Escritor.Formado em engenharia mecânica pela
Universidade Federal do Ceará,1970.Pós-graduado em Administração
pela Universidade Gama Filho,RJ,1993.Extensão em Antropologia pela
UFBA,2008-2012.
Escreveu:
- A marca de Caim,1995
- O casarão dos infelizes,1987,1ªEdição.
-O Romance da Torre,1ªEdição1996 e 2ªEdição2006.
-Uma Torre Além do Tempo, A Colmeia de Almas, 1ªEdição1999 e
2ªEdição 2013.
-Amor e Crime na Bahia do século XVII, 2005.
-Fundou e dirigiu de 1964 a 1970, o jornal estudantil, O PERIQUITO ,um
vespertino de natureza política,dirigido para a luta contra a Ditadura Militar.
-Fundou e dirige de 1996 até hoje, o periódico A GAZETA.Umperiódico á
serviço da Cultura
O casarão dos Infelizes é um conto parapsicológico baseado nas fortes
experiências familiares de uma criança atormentada por fenômenos
paranormais.
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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ÍNDICE
Sinopse............................................................................................ 8
1ª Parte: A Origem e o Tempo.
Capítulo I – O Escritório............................................................10
Capítulo II – A Casa de Yedda....................................................25
Capítulo III – O Trem dos Desgraçados.......................................
Capítulo IV – O Retiro dos Monges...............................................
Capítulo V - Um vulto ao Luar....................................................
Parte Final: O Casarão dos Infelizes.
Capítulo VI – A Orgia....................................................................
Capítulo VII– O Tesouro da Morta..............................................
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SINOPSE
Até que ponto a nossa percepção é completa em relação aos fenômenos que
nos cercam?
Quem garante que esta percepção não se altera sob os efeitos das emoções?
Ou haveria outra visão associada ao sexto-sentido que possibilitaria a
penetração da mente em outras dimensões?
Seria essa outra dimensão o sobrenatural que comumente está presente
nas denominadas evocações espirituais?
Quando todas estas questões forem respondidas estaremos no limiar da
verdadeira história do homem e terá terminado a sua pré-história.
Em O casarão dos Infelizes o leitor terá a oportunidade de desvendar e
participar de situações que poderão responder as questões acima
consideradas e viver o drama social dos retirantes nordestinos cuja
tragédia se acentuava pelo despreparo dos governos da
época,assistenciais,sem visão social e beneficiários da indústria da seca.
Os fatos que narramos aqui surgiram da experiência real de uma criança,
que talvez o leitor a considere anormalmente precoce, mas que
poderíamos defini-la como dolorosa,e por isso marcante,em um contexto
onde passado e presente parecem se entrelaçar e se confundir fazendo com
que o mundo dos vivos encontre o mundo dos mortos.
A narrativa se contextualiza em um ambiente marcado por efeitos de
escândalos comerciais e empresariais que agravam um singular contexto
familiar.Por isso decidimos manter em sigilo os verdadeiros nomes dos
protagonistas,os locais e as circunstâncias envolvendo pessoas e
organizações.Por sua autenticidade,como palco de fenômenos
paranormais,o livro pode ser utilizado para fins de pesquisa.
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1ªParte:
A Origem e o Tempo.
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Capítulo I
O Escritório.
Hoje a lembrança destes fatos ainda me doem e sinto um arrepio ao evocar as
imagens que marcaram de forma tão dantesca os anos verdes de minha vida.
Meu nome é Tássio de Alencar e Silva e ao lembrar estes acontecimentos de
minha infância procuro um referencial para justificá-los afim de que possa
transmitir às gerações futuras com precisão,as lições advindas de minha vida
infantil.Mas não o encontro!Patético tento defini-lo como imagens
alucinatórias de uma criança em crescimento.Outras vezes,reflito perplexo e
parto para análises metafísicas em que os acontecimentos que me atingiram e a
minha família se entrelaçam em um feixe de cenários grotescos e apavorantes
decorrentes da atitude impensada dos adultos.Não sei porque milagre não quis
me vingar de tudo,tornando-me uma pessoa dolorida na idade adulta e
ressentido com que os adultos fizeram de minha vida.Mas,eis o milagre!A
quem agradeço?À minha índole ou a alguma dádiva da natureza ou de Deus
que me fez,em um momento de reflexão,se não compreender pelo menos não
deixar que o mundo dos adultos ceifasse o meu desenvolvimento sadio e
voltado para a sanidade e o equilíbrio?
Chego quase a incorporar os personagens, muitos deles retirados de dentro da
minha alma com um esforço sobre humano, gigantesco,para permitir que me
desenvolvesse livre de “demônios” que assolam aqueles que vivem a vida com
tal intensidade ainda na infância.
Me pergunto-se estes efeitos se limitaram a atuar em mim,tão somente,ou se
atingiram de diversas formas,os mais próximos,deixando-os à mercê dos
“fantasmas” que me assombraram no passado?
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Talvez estas linhas tenham sido- a Dádiva e a Promessa,o resgate de uma vida
que se descortinou diferente dos demais ambientando-a nas crônicas,nos livros
e na ciência.Sobretudo criando as condições terapêuticas para a criação de um
lar,de uma família de amor,tão diferente do que assisti em meus jovens anos!
Dentre todas as imagens mesmo dos “fantasmas”,sobrepujando o perfil
inesquecível das pessoas que conviveram comigo em minha infância,avulta em
primeiro lugar a singular figura de Américo Silva,paradoxal,inquieto,sorridente
e mordaz.
Por isso não posso me esquecer dele e sua imagem deve ocupar o primeiro
plano desta narrativa,sentado por trás da escrivaninha,sorridente,galhofeiro e
mordaz,a verdadeira imagem do executivo satisfeito.Sua branca e bem passada
e engomada camisa de colarinhos impecáveis chamava a atenção,transmitindo
uma imagem de homem impecável,eficaz e eficiente na tarefa de conduzir sua
empresa e sua equipe.
Naquele tempo os escritórios comerciais gozavam da liberdade da falta de
paredes e divisões que hoje separam os homens delimitando seu “status” social
e profissional.
A dois metros trabalhava Jane,compenetrada,esguia e elegante diante de uma
máquina de escrever antiga que ela manuseava sem parar.
Seu busto protuberante e pernas e coxas em posição,dentro das medidas certas
para a época,salientava-se por cima da linha do contorno mais alto da máquina
que utilizava,transformando seu “sex-appeal” em ponto de convergência dos
olhares masculinos que a cercavam e dos clientes que eventualmente
atravessavam o balcão que dava para movimentada Rua S.Paulo,via de acesso
ao centro da cidade,ocupado pela praça principal,que ficava a alguns
quarteirões da Atalaia Co.
Seu cabelo doirado e cintilante chamava a atenção porque emoldurava um
lindo e primaveril rosto ornamentado por lindos olhos azuis e uma testa alta e
intelectual,dando-lhe uma forte presença feminina.
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Atrás de Américo Silva e de Jane sentados lado a lado,Julio Monte se escondia
qual um rato de óculos,observando os movimentos dos colegas e do chefe sem
perder de vista as pernas bem torneadas da jovem que se descobriam
propositalmente,sempre que o vestido cinza subia além do nível
certo,oferecendo a imagem mais profunda de seus joelhos trabalhados
artisticamente pela natureza.
Júlio Monte era a própria imagem do espião anônimo e devassador das
intimidades, dos assuntos da firma e da vida particular dos colegas, que a cada
dia ele conhecia mais e mais com a infalível ajuda de sua perspicácia natural.
Armara um círculo de relações cuja complexidade ultrapassaria a concepção
de qualquer mortal comum. Originário como Américo Silva de uma família
rural que se mudara para o Recife quando Caruaru não mais atendia às suas
aspirações de caixeiro ambicioso,seu horizonte ultrapassava em muito ao de
seus conterrâneos.Queria ser rico de qualquer maneira,nem que tivesse que
roubar ou destruir quem quer que fosse em seu caminho.Entretanto este
propósito e esta determinação ele não demonstrava,só ele o sabia!
Quando chegou ao Recife, a cidade grande o estonteara e o desorientara ao
ponto de,durante algum tempo,desvincular-se um pouco de suas ambições.Foi
então que surgiu o emprego da ATALAIA CO.
Fizera concurso para datilógrafo e, fora aprovado, mas, após seis meses nesta
função viera a promoção de escriturário e conferidor de documentos de cargas
aéreas,a qual ele se dedicara de maneira decidida e competente.Coroou sua
ascensão chegando a tesoureiro,quando passou a controlar todo o movimento
financeiro da firma e até os vales retirados pelo gerente.
Ao chegar já encontrou Américo Silva,gerente-geral,que controlava a Filial de
Recife e multiplicava com recursos de gerência e talento admirável,o lucro da
empresa.
A ambição,a falta de escrúpulos nas manobras comerciais com pessoas e
instituições que se relacionavam com a ATALAIA CO. não tardaram a uni-los
para aquela finalidade
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Não demorou e os dois eram parceiros nas inúmeras jogadas comerciais e
bancárias que colocavam a seus pés,os gerentes das demais filiais e dos bancos
que se perdiam naquela época em conjecturas que os levassem a aplicações
volumosas de recursos financeiros que surgiam no período de após-guerra.
O quarto-ano depois da IIªGuerra Mundial caracterizava-se como um
período frutífero para os investimentos.As companhias cresciam,a cana-de-
açúcar e a cera-de-carnaúba,produzidas em larga escala,cada vez mais
abarrotavam os mercados europeus e americanos,gerando mais e mais riquezas
que compensavam as deficiências dos rendimentos da frágil agricultura
nordestina,antiquada,colonial,de subsistência e periodicamente devastada pelas
secas cíclicas,das quais a Seca de 1915 fora a mais arrasadora das estiagens.
Os americanos se foram,mas,após utilizarem o Nordeste brasileiro como base
estratégica para seus pousos na África,deixaram uma infra-estruturar de
aeroportos os quais,embora com contornos de simplicidade exterior,ofereciam
grandes oportunidades ao desenvolvimento dos vôos domésticos e comerciais.
Tal situação favorecia às empresas que direta e indiretamente estavam
relacionadas com o tráfego aéreo,já que o país,como ainda hoje,não possuía
uma rede rodoviária eficiente e sua rede ferroviária,caminhava àquela época
para o sucatamento.
Américo Silva era um expoente financeiro sem escrúpulos quando exercia as
atividades de gerente-comercial.Conhecia muito bem a praça,apesar de possuir
irrisório lastro cultural.Sua desenvoltura,carisma,palavra fácil e simpatia
natural atraiam as atenções dos diretores,expectadores distantes de sua atuação
espetacular e geradora de lucros surpreendentes.
Quando Adália,a segunda-secretária,trouxera sua irmã Hidalga,juntaram-se a
Américo Silva,Júlio Monte e Jane sem saber quanta ambição e espírito de
grandeza caracterizaria aquele grupo.
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Por que a história aproxima pessoas tão semelhantes em seus objetivos
ocultos?Uma Lei Social?Seria por acaso que alguém os convidara para que
constituíssem em grupo tão harmonioso,ao mesmo tempo,tão competitivo,
impetuoso e escandaloso?
Algum diretor se arriscaria sob sua liderança a formar tal grupo pondo em risco
a sua própria segurança funcional?Uma equipe tão singular?Suas contratações
visaram ímpeto e tirocínio comercial e obedeceram a um caráter
essencialmente aleatório.Nenhum deles se conhecia ou conheciam aos demais.
A quem devemos culpar ou responsabilizar? A Deus ou ao Diabo?Se foi Deus,
teríamos que considerar o Ser Supremo dialético, pois criaria condições críticas
e surpreendentes para dali extrair seus objetivos excelsos!Se foi o Diabo que
ardilosamente juntou aquele grupo,só poderíamos classificá-lo como
intrometido e pervertido sabichão,atuando de forma estratégica em uma seara
que não era a sua.
Seria a casualidade,pois é dela,deste contexto que favorece ao caos que
surgem os trunfos e as tragédias que escapam à compreensão humana,sempre
perplexa diante de seus resultados imprevistos, e terminam por comprometer a
vida de inocentes,crianças e adultos indefesos os quais,dependem para
sobreviver,das complexas atividades dos adultos.
Adália sentindo-se apoiada em Jane de quem se tornara
colaboradora,aproximou-a de Hidalga,que com ela se identificava e se
caracterizara sobretudo,pela falta de escrúpulos,pela capacidade de utilizar a
sedução cercada da farisaica humildade dos servis.
Não tardou que Adália,Jane e Hidalga passassem a ser controladas por Julio
Monte,expoente e controlador do dinheiro e veículo das maiores ambições.
Ele de sua parte,encontrou nelas a equipe ideal para pressionar,competir e ter
acesso a Américo Silva, astuto e ambicioso, mas sem muito treinamento na arte
de acompanhar, monitorar e entender os seus funcionários.
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Eram todos originários da classe-média rural e se lançavam à cidade grande
movidos pelo ideal de enriquecer a qualquer custo. Tinham, portanto, o mesmo
caráter e origem social!
O Escritório ficava na confluência de duas movimentadas ruas da cidade
maurícia,artéria centrais repletas de lojas e bazares sortidos,de bugigangas que
costumam ser devoradas pelos fregueses incautos e pela multidão de turistas
que acorriam ao Recife procurando o calor e o relaxamento das maravilhosas e
paradisíacas praias de Boa Viagem e Piedade.
Naquela tarde o expediente se prolongara porque o Sr.Papa,o Diretor-
Superintendente estava na terra e queria conferir os “conhecimentos”,
documentos de recebimento de mercadorias.Ele decidira ir adiante,queria ver o
balanço,as faturas,as notas fiscais e os livros contábeis.
Sr.Pappa era um destes italianos competentes e muito experiente que criara
organizações com respeito e relativa honestidade,mas,se os lucros fossem altos
ele fecharia os olhos para muita coisa que pudesse ser considerada imoral!
Vira em Américo Silva um gerente local promissor e sorria de suas piadas
engraçadas e pornográficas, as quais enxovalhavam e animavam os jantares
noturnos no Estoril,restaurante à beira-mar,onde as águas tocavam quase nas
mesas de refeição sob luares inesquecíveis junto a um mar que parecia de prata.
Américo Silva sempre recepcionava Sr.Papa e sua comitiva neste restaurante
quando ele vinha inspecionar a firma.Também às suas amantes,naturalmente
nas horas mais adiantadas e calmas,onde livre das obrigações gerenciais não
pudesse ser incomodado.Ele era um amante e um sedutor do tipo,que dava de
presente a esposa uma jóia e igualmente presenteava uma amante de forma
idêntica.Não atinava para estas coincidências que punham em risco sua dupla
vida,confusa,atropelada e inconseqüente.
- O Américo merece ser ajudado,apoiado,Celini!Eu gosto do Américo!Ele
nos encanta com suas piadas e nos engorda com seus jantares maravilhosos.E
que jantares!E depois,nunca vi gostar tanto de “mulher-dama” e ser tão querido
por elas.Repetia sorrindo e satisfeito,revelando a faceta oculta de italiano
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simpatizante das noitadas e dos bacanais.Gargalhava gostosamente,porque a
Flial do Recife enriquecia a olhos vistos.
Celini obediente,balançava a cabeça afirmativamente e não esquecia suas
obrigações:
- Sr.Pappa já providenciei o aumento dele!Vai ficar bem!E para paparicar o
chefe dizia,ainda: - Ele merece!Ele merece!..E sorria galhofeiro.
Enquanto isso,Celini batia com o cachimbo no encosto da cadeira,observando o
chefe sorridente.
O Sr.Pappa voltava a lembrá-lo:
- Lembre-se da equipe,também.E principalmente de Jane,de Jane,(suspiros de
paixão)repetia avermelhado,risonho e entusiasmado,quase histérico.
- A carne é fraca,não é Sr.Pappa?A mulher é linda,parece uma estátua grega
do período clássico!
Pappa olhava enciumado para Celini,que então passava de zombeteiro a
humilde e rastejante servidor dos poderosos,quedando-se silencioso e
desconfiado.
As inspeções e auditorias geralmente terminavam em orgias cheias de
encanto e despudor,que se estendiam até às primeiras horas da madrugada.Com
jogos sexuais entre parceiros dos dois sexos ou do mesmo sexo que
escandalizariam os militantes gays das passeatas hodiernas.
Adália e Hidalga saiam cedo,os pais velhinhos e religiosos não
entenderiam!...Jane ficava com o Américo até às 03:00h da madrugada e
depois ia dormir com Julio Monte que pouco se importava com Neline,a
esposa,quer ela viesse a saber ou não...Trazia a mulher e os filhos debaixo dos
pés!Sob a mais cruel das ditaduras domésticas.
- O Sr.Pappa está aí?A palavra e o aviso funcionava como um toque de alerta
e de mobilização dentro de casa..E a pobre mulher calava-se tranqüila e
adormecia sob terrível bafo de cachaça e cheiro de camarão que eram exalados
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das entranhas de Julio Monte e impregnavam o quarto,sempre que ele
retornava às altas horas da noite.Mas o pior eram os peidos,que chegavam
muitas vezes a acordá-la!Todo este pesadelo só terminava nas primeiras horas
do amanhecer.E assim a vida da filial de Recife da ATALAIA prosseguia em
ritmo alucinante.
- Roupa suja se lava em casa,dizia o Celini quando descobria algum deslize
dos funcionários.E completava: - Não dando prejuízo,tudo bem!...Para
ele,moral e decência eram o resultado do Balanço Final da firma.
Geralmente na segunda-feira,após o encerramento da inspeção,Sr.Pappa
oferecia um almoço de despedida e encerramento aos funcionários e seus
familiares,e em seguida viajava de volta para S.Paulo,naqueles bimotores
sacolejantes que invariavelmente,terminavam fazendo algum pouso imprevisto
em alguma cidade da costa da Bahia,como Camamu e Porto Seguro,em seu
vacilante trajeto para S.Paulo.
Naquele tempo Américo tinha apenas dois filhos,e Tássio,o filho mais velho
observava durante os almoços,o quanto D.Lia,a esposa,era mais culta e
socialmente mais bem preparada até na”socila”,que os demais.E como sorria
esquiva e desconfiada,sempre que Jane solícita,sentava-se ao seu lado e falava
o tempo todo das qualidades de Américo,como homem e como chefe.
Quando fazia isto sua voz afinava-se e adqueria um tom meio feminino e meio
infantil,quase inaudível aos ouvidos dos presentes,cercado de suspiros abafados
e comovidos.Seus olhos imitavam o pôster de Sta.Luzia,pura,incólume e mártir
das causas mais excelsas.
- É meu pai,dizia Jane,de olhos brilhantes.Neste ponto o busto empinava.E
completava -que cabeça para negociar e gerenciar,insistia,olhando
zarolha,como sempre acontecia ao beber.Fixando os olhos trocados em D.Lia: -
A senhora tem muita sorte,ter um marido assim!
D.Lia ouvia e observava discreta,previdente e enciumada das observações da
moça.Era evidente que a criança via que ela não simpatizava com a secretária
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do marido.Ele era um menino sensível,que lia o tempo todo,e por isso D.Lia
orgulhosa do filho,dizia sorridente aos amigos:
- No aniversário dele dêem livros,presentes de livros.Adora ler e estudar!A
criança ouvia o que a mãe dizia,e fazia que não ouvia.Ela era uma professora
competente que não exercia a profissão em face da exigência do marido de
mantê-la em casa.
Naquele tempo apaixonada ainda por Américo Silva,mas já marcada por suas
aventuras,fechava os olhos a estas peraltices do marido,na esperança de que ele
mudasse,se transformasse!Quem sabe,se tivesse uma filha,que era o sonho do
Américo,ele talvez viesse a mudar.Era a sua esperança!
D.Armênia,sua tia,mulher perspicaz e inteligente,que mais fizera “trancinhas”
ao tempo do namoro do casal para que eles casassem,sempre que passava os
dias com ela,advertia:
- Lia,cuida de tua profissão!faz um concurso.Olha o dia de amanhã!
- Olha Tia Armênia,o Américo acha que mulher é para o lar.E encerrava a
conversa.Parecia até que conhecia o Américo mais do que a própria Lia e sabia
mais coisas sobre a vida dele do que a própria esposa.
D.Lia se casara na casa de um tio rico e sem escrúpulos e D.Armênia assistira e
participara de todos os detalhes do seu complexo e imprevisível casamento
com Américo Silva.Na época proprietário de uma imensa casa de comércio e
baluarte na condução e colocação de seus irmãos em lugares promissores da
cidade grande.E assim ela saiu como a maioria das moças de classe-média,do
convento e colégio de freiras,dividida em sua vocação religiosa,mas
terrivelmente apaixonada por Américo Silva.Galã,carismático,comerciante
próspero ainda jovem,já com um passado matrimonial e filhos,que só depois
ela viria,desapontada saber. Uma verdadeira armadilha cuja máquina fora
azeitada e mobilizada por seus parentes próximos no intuito de dar-lhe um –
“magnífico casamento”.
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Seus pais ainda vivendo no interior,entregaram confiantes a filha a este tio e a
estas tias,selando seu destino,em um casamento imprevisível com um homem
em tudo diferente de suas origens,de seus sonhos e de seu ideal.Um homem
que não era mau!Fôra vitimado por uma vida e uma criação,cheia de carências
e infortúnios,uma orientação paternal,cruel ainda em sua infância e pelo
terrível contexto das secas cíclicas do Nordeste brasileiro,responsáveis pela
agudização dos dramas de nosso povo em um país,cuja história foi sempre
marcada por políticos corrutos,inescrupulosos e exploradores de seu povo.
Os dias iam passando,com o Américo subindo na ATALAIA CO., e a casa
sempre cheia de gente,com o Tássio fugindo para a casa dos tios e avós,onde
sentia mais tranqüilidade.
Quando reclamava que não gostava de tapetes e cortinas que o faziam
espirrar,D.Lia brincava com ele e o apelidava de S.Francisco de Assis,o Santo
que abominava a riqueza e o luxo e se identificava com os pobres!
Flávio,o mais novo,não largava os pais!Dócil,alegre e infantil,era
completamente diferente do irmão,inclusive com uma característica de não se
concentrar muito no que fazia ou no estudo,que transformava a vida de D.Lia
em um inferno para que o menino estudasse..Ficava empolgado com a
inteligência do irmão,e quando Tássio falava,ele escutava atentamente.Sempre
perguntando-lhe tudo o que não sabia,enquanto o mais velho explicava de
forma erudita e detalhada,como era o seu estilo,preocupado talvez
inconscientemente em preparar o irmão e informa-lo de coisas que ele não
atinava.
A diferença entre ambos era pouco mais de dois anos,mas quem não
soubesse,juraria que era maior!O futuro demonstraria,que tal era a diferença
entre ambos,que o que Tássio tinha de intelectual,sonhador,Flávio tinha de
esperto e astucioso!
Na manhã de 1º de julho de 1950 Américo entrou radiante em casa.Como
era seu costume,passara pela banca do “Jão Lemos” e soubera da nova!Fora
premiado na Loteria Federal!
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina
Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade
destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
Também não parava de comprar bilhetes.Isto era todo o dia!Além disso,jogava
no bicho e era assíduo cliente da Loteria Federal.
D.Lia,as vezes dizia: - Américo,você está gastando demais com jogo!E ele
respondia:
- Besteira Lia se necessitar de dinheiro adianto um vale lá na firma.Não
esqueça que sou o gerente!Julgava que como gerente e gerador de lucros para a
firma,ele podia pegar o dinheiro que bem quisesse e entendesse.Uma forma
caipira de por em prática o móvel de posse,o “job” que deve orientar os
executivos em seu ambiente de negócios.
Na manhã que ficou rico,premiado em cento e cinqüenta milhões de cruzeiros
na Loteria,deu um almoço de estouro,no qual estiveram presentes os parentes
de D.Lia,como a Antonina e o Marcondes,que eram noivos e moravam
defronte da residência dos Silva,na Rogério Junior,uma rua de classe-média
B,repleta de meninos que batiam bola todas as tardes nas calçadas,e bola-de-
meia nas ruas, onde figuras do bairro idolatradas pela molecada como,o
Babá,que foi um astro no Flamengo,do Rio,e o Zé Urbano,um dos maiores
goleiros do Nordeste,aprenderam futebol nestas pelejas.
A rua que fervilhava de meninos preparando cerol e empinando
pipas,invariavelmente “explodia” em tumultos e brigas por causa destas
atividades,jogos infantis de gravuras Eucalol que inundavam os lares ou
tampinhas cheias de sabão nos jogos de calçada.bocas quebradas,dentes
deslocados na boca os meninos entravam em casa aos berros pedindo socorro
aos pais desesperados.Américo e D.Lia,ciosos da educação dos filhos não
conseguiam mantê-los em casa,porque junto com o Erlânio,filho da
empregada,se envolviam em brigas desesperadas,se afastando dos estudos e
muitas vezes envolvendo os pais nas disputas de rua.
Américo Silva tinha pavor à rua.Os meninos lançavam bolas pelas janelas das
casas,as brigas nas calçadas por pipas e cerol eram
constantes.Invariavelmente,quando fazia a sesta de almoço,Américo furava
uma bola por semana,na ponta dos ferros do seu portão,toda a vez que a bola
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entrava de casa a dentro!Depois sorrindo e assobiando se deitava para dormir
até as 14:00h quando foltava para a ATALAIA. Enquanto os meninos na
calçada choravam e gritavam desesperados porque viram o objeto de sua
felicidade,a bola de borracha,estourada nos ferrões.
O episódio mais forte a envolver Américo Silva ocorreu em um dia em que ele
se deparou ao voltar para casa,com o Erlânio,sangrando por tudo quanto era
beiço,de um murro que um tal “cara-de-gato” muito mais velho e forte do que
o menino,tinha lhe aplicado.
Américo não pensou duas vezes largou o paletó para lá e atravessou a rua.
Cara-de-gato era quase de sua altura,lá por um metro e oitenta,cheio de força e
juventude,mas Américo aplicou-lhe logo uma rasteira e um soco na cara,o e
rapaz saiu direto para o pronto socorro!Nem sequer voltou para saber o
ocorrido.Logo depois ele,se sentaria na mesa,e fez uma excelente refeição com
duas cervejas e uma travessa de “baião-de-dois”.Saindo em
seguida,célere,assobiando como era seu hábito,para a ATALAIA CO. como se
nada tivesse acontecido.Não media as conseqüências de seus atos e os efeitos
que depois cabia a D.Lia apaziguar,pagar as despesas e reconciliar as partes.
Era ela que ficava para resolver os impasses,diplomática,prometia que o filho
da empregada não andaria mais nas ruas e os vizinhos que a consideravam em
um patamar social muito mais alto,terminavam por se aquietar.
Na manhã que festejou a sorte na loteria,ele e o Marconde tomaram um porre
de loucos,no que foram acompanhados pelo Ubiratã,irmão de D.Lia,que
também ficara de porre.Lá pelas tantas,o Marconde sonhou que uma velha
estava correndo em cima do muro,e o ameaçava com um cabo-de-
vassoura!Gritou em convulções,e morto de bêbado.A Antonina pensou que o
noivo ia morrer,gritou,Américo Silva e o Ubiratã gritaram também,as crianças
choravam.D.Lia tentava acalmar e gritava: - Calma gente,foi só um
pesadelo!Mas não adiantava.Depois de vomitar muito o Marconde se acalmou
e a festa foi encerrada.
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
Na verdade,o Marcondes era outro”pau-d´água”,bebia cachaça como ninguém
pode imaginar e tirava gosto com farinha de mandioca!Nada sentia,até que a
cirrose o apanhou lá pelos cinqüenta anos e o levou,de vez!
Entretanto ele era um químico muito competente, um bom amigo,jovial,sincero
e sempre pronto para ajudar!
O Ubiratã,era outro pau-d´água,Mas tinha o pavio curto!Quando bebia,trincava
os dentes e se pudesse acabava com os inimigos,que ele fizera aos montes,lá
pelo interior,quando ia aos casamentos e sem avisar,tirava logo a noiva para
dançar! Confiava no prestígio político e nas amizades do pai,funcionário
público e agricultor próspero,político,naquelas terras,àquele tempo,frias e
distantes de tudo!Toda questão,toda querela,o Ubiratã se metia.Parecia um
advogado em potencial,mas que nunca gostou de estudar!Conheceu vários
colégios e inadvertidamente,sempre o pai recebia um leve convite para
transferir o filho,que além de não estudar,chamava para briga até professores!
Toda esta vida agitada,junto com o Marconde e o Américo,seu cunhado e
companheiro de farras,não o impedia de se reunirem e “bebericarem” até que o
Américo se abraçasse cantando e discutindo tudo que constituía a boa-vida que
iam levando.
Invariavelmente,as tias velhas apareciam para almoçar com o casal e o
Américo transformava aquela visita em brincadeira e para isto utilizava
pequenos goles de cachaça e instigação de questões entre as velhas,que
acabavam por se engafinhar por causa de dívidas entre elas ou pequenas coisas
como empréstimos de galinhas poedeiras que nunca voltavam ou ninhadas de
patos ou pintos,que nunca eram divididos equitativamente.O Américo sorria
que caía no chão chorando de tantos relatos.Depois ele apaziguava as tias e ia
deixa-las em casa quando brigavam até terminar a visita.
Os dois casais,o Américo e D.Lia e o Marconde e a Antonina,eram como
irmãos!O futuro faria com que esta amizade desaparecesse como tinha
nascido,ficando apenas,o aspecto formal.
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Quando Maria,a filha mais velha dos Silva nascera,o Marcondes foi o
padrinho,e como a Antonina já era madrinha do Tássio,a amizade atingiu seu
ponto máximo.Agora eram compadres e tudo corria qual “um mar-de-rosas”.
A loteria veio retirar os Silva da tranqüila madorna de membros da classe-
média e transportá-los para o mundo dos novos ricos,cheio de
surpresas,alegrias e decepções que são o contexto da vida!
Não tardou que o Américo comprasse uma nova casa,uma velha residência em
estilo colonial nos arredores do Recife,cercado por um terreno de cerca de dez
mil metros quadrados.
D.Lia se opôs de início.Achou a casa velha demais,muito rica e carente de
reformas.No entanto Américo Silva não se fez de rogado,reformou-a sob o
pretexto de que necessitava de mais “status” e que no futuro lotearia os
terrenos periféricos,enquanto no presente,as crianças poderiam brincar sem
limitações naquele paraíso natural,repleto de árvores seculares,samambais,e
flores naturais que brotavam aqui e ali,lianas que iam do chão até o teto mais
alto das árvores de quase trinta metros de altura.
As frutas,mamoeiros,jambos,cajueiros eram e profusão!Bananeiras surgiam de
depressões onde a água se acumulava e goiabas e cajus enchiam o solo das
matas que o cercavam.Pois era quase impossível saber quantos cajueiros e
goiabeiras brotavam de todos os locais que cercavam a casa.
Na verdade,Américo preparava um contexto para receber toda a Diretoria mais
alta da ATALAIA CO.
Os viajantes que vendiam para a firma,os comandantes e pilotos que
transportavam mercadorias pelo Brasil inteiro.Enfim,o seu círculo de amizades
que ultrapassava muito o que D.Lia considerara que seria aceitável.
Ataúlfo,o antigo dono,queria vendê-la porque estava em apertos e queria se
livrar da imagem da morte trágica de sua esposa ocorrida
recentemente!Encontrou em Américo alguém que tinha tanta pressa em gastar
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o que ganhava como gastava mais e mais dinheiro.Tal precipitou e consumou a
transação.
Na verdade vinte dias depois da sorte na loteria foi comprada a casa,quando
quase que instantaneamente começou a reforma para um modelo tipo
“bungalow” inglês e os Silva logo se mudaram.Havia euforia em todos os seus
atos e os pais de D.Lia que visitara o casal se assustaram com tantos gastos e a
profusão de almoços e visitas,regadas a vinho e outras bebidas nos encontros
inicias na Casa dos Silva.
Américo festejou à sua maneira particular bebendo tal quantidade de vinho que
comentada pelo pai de D.Lia,fê-lo descrever, que não sabia o que era aquele”
rio” que surgia de sua rede armada em uma das inúmeras varandas de sua
casa,em um dia que bateu a sua porta para entrar no casarão.Ele que era um
senhor sóbrio,de hábitos simples e criado pelos frades que o educaram.
D.Lia comprou tudo novo e não faltaram as mesas de “ping-pong” para as
crianças que logo atraíram a molecada da vizinhança e o primo Atílio que era
como um irmão para o Tássio.
D.Lia logo começou uma seleção dos moleques da vizinhança que poderiam
brincar com o Tássio e o Flávio, e na verdade seus escrúpulos eram tão grandes
e o espírito de elite tão pronunciado,que em um bairro de classe-média só ficou
mesmo o primo Atílio.Ninguém sobrou mais para conviver com os dois
meninos na grande Mansão dos Silva.D.Lia mal viu sua renda e seu status
alterar-se e logo tratou de retornar aos hábitos e padrões que se apegava
freneticamente.Este era seu lado negativo,em uma senhora cheia de qualidades
excelsas e educação refinada.Caráter e senso de justiça inigualável.
A nova residência tinha aumentado em muito o círculo de amizade do casal e
não raro,os domingos ficavam lotados de caras novas.Havia sempre caras
novas!
Americo Silva e D.Lia adoravam isso!Quando Tássio retornou da casa dos
avós onde passara as férias do fim-de-ano,notou que a atmosfera do lar tinha se
transformado,desaparecendo a euforia inicial dos pais,com D.Lia cada vez mais
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cismada com o marido e olhando desconfiada para os cantos da rica e velha
residência.
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CAPÍTULO II
A CASA DE YEDDA.
O casarão dos Silva dava de perto para uma rua quase deserta e não
calçada.Na verdade,apenas seu jardim lateral gramado,cujo tapete verde
contrastava com a sua branca silueta,a separava desta rua deserta,onde a areia
atolava todos os carros que ali passavam.Quem quisesse entrar de carro na
residência tinha que vir pelo portão principal da Rua do Rei,frontal e cerca de
quatrocentos metros da parte lateral e cheia de janelas, daquela antiga casa
colonial.Ora isso a tornava mais e mais inacessível.
Além das inúmeras mangueiras e cajueiros que enchiam o lado direito da
casa,Américo mandara fazer um jardim gramado,e plantou várias mudas de
coqueiros anães que não tardariam a dar cocos verdes em profusão,alimentando
os “drinks” e os pileques que ele e suas visitas se entregavam nos fins-de-
semana e nas visitas noturnas que se prolongavam até meia-noite e uma hora
da madrugada.
O lado esquerdo da casa grande guardava ainda o aspecto e os traços marcantes
do tempo, de velha mansão colonial que fora outrora.
Uma velha e estreita estrada de blocos irregulares se estendia a procura da Rua
do Rei,distando cerca de quatrocentos a quinhentos metros da residência como
uma Via Apia para a saída lateral da residência,onde pairava um imenso e
portentoso portão de acesso para carros e caminhões da ATALAIA CO.que às
vezes pernoitavam sob a proteção do casarão.
Este imenso portão a isolava do mundo exterior!Reforçando a imagem de
isolamento,de distância que ao cair da noite transformava a vivenda em uma
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mansão misteriosa.lúgrube e distante,que desaparecia entre a verdura quase
fechada das árvores,um um quadro fantástico e de aspecto sobrenatural.
À direita e a esquerda daquela via antiga,rústica e estreita de paralepípedos,o
terreno era cheio de cabaceiras,carrapateiras e um capinzal que parecia um
tapete verde de perder de vistas.Eram inúmeras neste sítio,as plantas
medicinais,como a costela-de-adão,o pega-pinto que servia para tratamento
renal,o quebra-pedra de utilização idêntica,o boldo-da-índia,e até o hortelã.
Américo Silva era um sonhador mas sua mente habilidosa para ganhar dinheiro
e criar projetos fantásticos não era igualmente eficiente para materializá-
los,organizar seu crescimento,monitorá-losesobretudo mantê-los!Isto porque
sua paixão pelas mulheres e a “boa e doce vida” terminava sempre por fazê-lo
jogar fora tudo que poderia ter sido o arrimo da esposa e dos filhos como se
aquilo fosse uma característica de uma cultura ou de um traço genético
herdado.
D.Lia por sua parte não se preocupava muito em economizar.Tinha
também,como ele,as ilusões da juventude que criam nas moças de classe-média
aquela permanente ilusão de serem ricas!Gostava de gastar também,de
consumir além de suas posses,pois a infância e a juventude de disciplinada
contenção em um colégio de freiras,criara nela a disposição e a certeza de que
não nascera para vida ascética.
Quando interna no período de estudante,até as velas que consumia para estudar
eram apagadas precocemente e poupadas até o último toco,porque ela sofria os
terrores do remorso de que pudesse estar desperdiçando os parcos recursos que
seus pais ganhavam com tanta luta e dificuldade,naquele tempo.Este escrúpulo
ela mantivera por muito tempo,principalmente por causa do pai honesto
funcionário público e de sua característica consciente e responsável.
Depois com melhores tempos ela foi relaxando aquela atitude e os primeiros
desastres financeiros do marido foram esquecidos quando começaram os
tempos da ATALAIA CO.,desaparecendo completamente de sua memória
quando o marido ficou rico com o prêmio da loteria.Afinal,ninguém é de
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ferro,e o ser humano,embora consciente de suas limitações foi feito para a
felicidade,mas aí reside um dos momentos de maior perigo no curso da vida,o
ufanismo de que afinal aportou no “paraíso” para sempre!..
No entanto ao chegar na Rua do Rei,D.Lia nunca simpatizara de todo,com a
nova residência.Na esquina contígua,havia um “cabaret” ou castelo,uma casa
de mulheres-dama,que desenvolvia suas atividades de maneira assídua e
ininterrupta por noites seguidas acompanhadas de músicas tristes que
caracterizavam em muito o contexto infeliz da vida das perdidas.
D.Yedda,a proprietária,não perdia tempo na exploração da mais antiga das
profissões e D.Lia sempre desconfiava que o marido fazia trânsito por ali,após
os serões da firma.Olhava para lá coitada,com tanta repugnância que chegava
ao exagero.
- Ora,comentava ela,o Américo deveria ter visto que esta casa fica quase em
cima de um “cabaret”.É verdade,que é em outra quadra,mas,aqui ainda é muito
deserto e isto pode atrair gente ruim!E como tinha razão!
Com o tempo ela foi associando as desconfianças do marido à promiscuidade
da casa de Yedda,aos bacanais e festins que lá ocorriam.
Yedda por sua vez,se deprimia quando olhava para o lado da casa de
D.Lia,pois era infeliz demais para suportar aquele “paraíso cojugal” que ela
considerava,o feliz lar de D.Lia e Américo.
Olhar o purgatório,quando se está no inferno,é bem mais doloroso do que se
pode pensar!
Como a felicidade mesmo incompleta, é transitória neste mundo de mortais,
veremos que, em seus sofrimentos, aqueles destinos em breve se comparariam.
Quando a tarde caía, D.Lia sentia alguma coisa diferente na casa.E quando
ouvia as tristes canções da Casa de Yedda,se entristecia e caía em profunda
melancolia que se transformava pouco a pouco em depressão.
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Canções tristes!Porque melancólicas são as canções dos bordéis que cantam a
queda das meretrizes e suas vidas de servidão humana.
Naquele tempo o ciúme do marido,o rancor por morar tão perto daquele
“cabaret”,faziam da triste e elegante senhora uma pessoa enraivecida e cheia de
preconceitos para com as meretrizes.
É muito difícil a prática da caridade com os infelizes,quando se sabe,ou se
supõe, que eles podem ser a causa de nossa infelicidade!
Esta desagradável proximidade,cercada por um círculo de preconceitos sociais
e religioso tão significantes,depois dos ciúmes justificados de Américo foram
aos poucos criando uma repugnância da parte dela com a nova residência,ao
ponto de fazer com que julgasse sentir uma tristeza mórbida,sempre que a noite
se aproximava!
A noite sempre despertou no homem moderno o pavor remanescente do tempo
em que seus ancestrais se escondiam, trêmulos e apavorados pelo assédio das
feras no interior das cavernas ainda na alvorada do homem.
Tássio assistia esta transformação com pesar e melancolia, e foi assim que
começou a viver os dramas íntimos pelos quais passava a alma de sua
mãe.Suas lágrimas,suas suspeitas justificadas até certo ponto,da conduta
desleal do marido ocupavam a maior parte de seu tempo em casa!
Sensitivo,ele captava estes sentimentos e também se angustiava.Passou
também olhar a casa de Yedda e julgar que o pai poderia estar lá,todos os dias
após o trabalho,o que era um exagero evidente...Mas algo lhe dizia que havia
um certo exagero da mãe naquela avaliação.Apiedava-se dela e admirava-se
como o irmãozinho nada se ligava e percebia.Foi nesta época que D.Lia
aprofundou as suas cismas,achando que o casarão tinha qualquer coisa de
sobrenatural.As vezes percorria os banheiros e achava que abriam os chuveiros
de supetão!Outras vezes ouvia crianças chorando,bebês,em uma casa que as
crianças já passavam dos cinco anos de idade.Vultos começaram a ser vistos
por ela ao cair da noite e seus apelos deixavam o marido insatisfeito e inquieto!
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Estava criado o ambiente propício a esta fenomenologia já que os dois pólos
sensitivos,mãe e filho,estavam ativados,ligados e postados favoravelmente aos
eventos desta natureza.
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Capítulo III
O Trem dos Desgraçados.
A composição cortava célere a planície sertaneja e bamboleante levando
a carga humana sofredora.
Os miseráveis eram aos milhares, homens,mulheres,velhos e crianças que
se lançavam em direção ao Recife vindo Agreste pernambucano, na
esperança de alívio da fome e da miséria!
Nos primeiros vagões iam os que conseguiram reunir alguma coisa além
da roupa do corpo, esfarrapada e remendada. Nos vagões intermediários
iam os pingentes mais necessitados e cheios de pequenas doenças,que
muitas vezes eram responsáveis pelo fedor nauseabundo que
acompanhava o Trem dos Desgraçados.
Nos últimos elementos da composição, juntamente com os animais de
carga,gaiolas de passarinhos, algum gado remanescente da tragédia
secular,vinham os maltrapilhos e miseráveis retirantes nordestinos
vitimados pela terrível seca do Quinze. (1915)
O tradicional e secular drama fizera naquele ano uma verdadeira
raspagem nos contingentes humanos que povoavam os sertões do
Ceará,Pernambuco,Sergipe,Bahia,Alagoas,Rio Grande do Norte e
Paraíba.O gado quase que desaparecera em sua totalidade e milhares de
crianças perderam a vida antes dos três meses de idade.A Zona da Mata
estava sendo invadida por flagelados que vinham do Agreste e do Cariri.
Os miseráveis párias humanos olhavam para além das janelas dos carros
azuis da Rede como esperassem que seus semelhantes compreendessem
que eles desejavam sobreviver apesar daquele calvário.
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Cada olhar era um raio de esperança em direção ao homem metropolitano
que não entendia aquilo tudo,aquela invasão de maltrapilhos.
Às vezes as barreiras sociais são cortinas fechadas à observação e ao
entendimento entre os homens, e os que os exploram tratam de fortificar
esta divisão e separar os homens por fúlgidos conceitos para justificar a
dominação em um país em que a estrutura agrária durante quinhentos
anos só serviu a este propósito,e que gerações de políticos transformaram
este sofrimento em uma verdadeira indústria da seca.
Quando o trem passava nas estações fazendo paradas regulamentares,
nem os fiscais se arriscavam a subir nas plataformas,limitando-se a tocar
suas sinetas mandando prosseguir.
Quem tentava descer era empurrado de volta para aquele amontoado de
corpos macilentos que se espremiam, pisando sobre as próprias fezes ou se
machucando mutuamente dentro da maior e mais triste promiscuidade.
As almas mais caridosas se reuniam nas estações do Grande Recife e
Fortasleza ou arrecadavam algum dinheiro com os expectadores e os
viajantes,entregando pelas janelas, o resultado daquela coleta minguada.
Os pobres,como condenados a um purgatório terrestre, estendiam as mãos
amareladas cheias de veias azuis e muitos deles ao receber as esmolas
retiravam os chapéus em sinal de respeito só devido a reis e papas, quando
gritavam fraquinhos na proporção que as forças permitiam-lhes:
- Deus pague o auxílio e que te dê muitos anos de vida e felicidade!Era
isso que eles sonhavam também para si,o tanto quanto sinceramente
desejavam aos outros!
E lá ia o Trem dos Desgraçados a mexer-se, a chiar em suas
rodas,apitando,apitando e lançando-se em direção à estação
seguinte,procurando o Recife e as demais capitais do Nordeste também
minguando pela falta de água e de bens extintos pela seca,pela estiagem
cruel que se repetia em ciclos naturais.Ela,o Trem dos Desgraçados se
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escondia ao longe,por trás dos canaviais que tomavam um lado e outro da
composição e reaparecia apitando e fumegando a toda vcelocidade como
uma serpente sinistra daquele flagelo na espécie humana.
Marieta,Julinha,Maria e Severino se espremiam nos últimos
vagões,encostados uns nos outros,sonolentos pela noite mal dormida e
ansiosos por chegar.
A raçãozinha de pirão de milho já terminara e as esmolas não tinham
chegado àquela composição.
Severino abraçava a esposa com Julinha de dois anos no colo, e rezava sem
parar:
- Nossa Senhora,São Francisco de Canindé, ajudem-nos a chegar vivos a
ao Recife que eu rezo trinta terços sem parar antes de comer o primeiro
prato de comida do dia.
Marieta reclamava: - Ora Severino,quem dixe que eu vou rezar nada de
uma pôrra!Vou é comer o primeiro prato e a primeira migalha que
aparecer.Ixe homem,tu é doido varrido.Primeiro a barriga,depois a reza!
E completava: - Tu acha que Deus sabe que a gente existe?Já perdemos
tudo e eu estou com o pulmão inutilizado. Abre os olhos home e dexe de
falar e dizer tanta besteira!
O pobre e crédulo homem, criado dentro da religião e das igrejas que
completavam no campo, a tarefa de manter submissos os homens ao seus
senhores feudais,balançava a cabeça para lá e para cá,como se estivesse
reaprendendo e censurando a esposa incrédula,desesperada e revoltada.
Marieta era uma dessas mulheres sertanejas,curtidas ao sol,que saía de
manhã cedo quase em jejum para capinar até se apoiar no cabo da
enxada.Esquelética pelo sofrimento e o maltrato que os senhores em quase
sua totalidade mantém os meeiros sem opção,tinha quase um metro e
oitenta de altura,olhos verdes faiscantes,rosto de ossos laterais
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina
Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade
destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
preeminentes,denunciando sua origem mestiça,artérias à mostra no
pescoço e nos braços ainda em plena juventude.
Só tinha mesmo cabeça em cima daquele corpo esguio e cheio de pelancas
como quem fora gerada gorda e formosa e perdera as carnes pelo
sofrimento e pela necessidade.
Seus olhos verdes, traço dominante sob a testa arredondada, que mais
parecia uma face de cabaça murcha pela ação do sol e do vento,era o
indício de uma alma forte e presente,rebelde de Deus e dos homens!
Fizera tudo para salvar a família da inanição, quando a seca se abatera
sobre o Agreste.Apanhara água á distância de dez quilômetros de casa
dentro de um grotão que só herói era capaz de escapar.
Muitas vezes,deixando Maria em casa mexendo o angu ou carregando
Julinha nas costas quando pequena,já não podia mais caminhar.Descia o
grotão com a criança e subia com a menina agarrada à sua cintura
equilibrando a lata d água na cabeça.
Transportando aquela água barrenta, oscilando de lá para cá,ferindo os
pés nos seixos que se acumulavam nos caminhos tortuosos do Sertão, havia
momentos que parecia que iam despencar despenhadeiro abaixo. E lá
reiniciavam o retorno de dez quilômetros sob um sol escaldante e
pedregosa de terra seca até à casinha de taipa,onde morcegos habitavam
no teto e barbeiros se infiltravam,muitas vezes com suas
picadas,dizimando legiões de nordestinos pela Doença de Chagas.
À noite,quando Severino retornava da faina e voltava com um tatu,um
preá-do-mato,e ultimamente com nada,ela coitada,desesperada,ainda
cumpria religiosamente seus deveres matrimoniais!
Antes,quando ainda havia esperança,tinha sido assim. Rezava, não
praguejava, e sentada com o marido no banquinho tosco que ficava fora
de casa,olhava a paisagem de fogo ressequida e então comentava:
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- Vamo embora dessa desgraça Severino,isto aqui é o inferno!Do jeito que
vai,vamo tudo é morrê de fome e sede!
Severino acendia o cachimbinho de barro e humildemente dizia:
- Fica quieta muié!Deus vai ajudá!Tô chegando a vinte pele-de-
tejuassu,O que vai dar para gente sair das terras do Cel.Raimundo e
pegar a composição para o Recife.Ouvi dizer que lá tão abrindo muitos
asilos para retirantes e o governo tá sustentando o sertanejo inté passar
esta desgraça de seca.
Aí então ela se levantava,tossindo e cuspindo raias de sangue que cobria
com a terra,apressada para o marido não ver!..
- Pois vamo logo,senão eu não agüento!Nem eu nem a menina que está
emagrecendo demais cada dia que passa.
Os olhos se enchiam de lágrimas quando ela passava as mãos pela cabeça
da criança que brincava com os ossinhos na porta irregular da cabana.
Aquilo tudo tinha fortes cores de tragédia e o fenômeno que se repetia há
quinhentos anos ceifava vidas e trucidava homens através dos tempos,foi
aos poucos revoltando,tornando-a descrente de tudo,chegando a tornar
impossível qualquer relação amistosa entre ela e o Criador,a quem ela
responsabilizava pela tragédia.
Era demais para que ela pudesse entender a complexa realidade que
enfeixava a responsabilidade dos governantes,das instituições com aquele
quadro terrível e doloroso de extinção!A responsabilidade social não é
identificada em um povo ou um homem em estágio religioso ou teológico
como era o Nordeste brasileiro do século passado e o Brasil até a Obra –Os
Sertões,de Euclides da Cunha que divisou etnias,responsabilizou
governantes e chocou os padrões da insípida república que surgia de um
Império vacilante e decadente.
Os governos estaduais e municipais eleitos à bico-de-pena pelos
latifundiários e donos de terras,se alinhavam a um Governo Federal,no
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Rio,alienado de tudo e perdido nas lutas entre Minas e S.Paulo pelo
domínio da arena do café com leite.A indústria da seca era uma
extensão,um complemento do mecanismo de poder que oprimia não só os
nordestinos,mas a todo o povo brasileiro ao longo do início do
século,durante a queda da República Velha e do Estado Novo presedido
por Vargas.
Depois de alguns dias pelas calçadas de Recife,Marieta começou a ter
febre alta,delirando sem parar,dizendo coisas que feriam os ouvidos dos
Severinos,dos Mororós,dos Lopes que se acotovelaram com eles no último
vagão ao longo da longa viagem do Agreste até o Litoral.
Aquilo tudo soava como heresia aos ouvidos dos crédulos e pobres
retirantes.
Às vezes ela segurava as mãos do marido como se esforçasse para
sobreviver à fome,à sede e ao calor implacáveis que deixavam seus olhos
faiscantes,salientando mais ainda seu estado doentio.
Marieta caminhava para morte com sérias lesões físicas e psíquicas
comprometendo todo o edifício que a vida lhe propiciara para a
sobrevivência.Ela era protagonista de um contexto que ao se agudizar
atingia sobretudo os inocentes,grandes vítimas destas tragédias.
- Ela não bota amanhã!Diziam os outros, colocando as mãos em sua testa
porejaste.Bom mesmo era chamar um padre para lhe dar a Extrema-
Unção!
Mas Severino paciente ia molhando uns trapinhos e colocando nos
braços,na testa e no peito de Marieta,enquanto rezava e rezava sem parar.
Quando o caminhão levou as três famílias que estavam no saguão da
estação de trem para o casarão da Rua do Rei,a febre de Marieta tinha
cedido e ela tossindo,fraca,já falava normal e conseguira se sentar.
Os poderes públicos se limitavam ao assistencialismo precário.Cediam
galpões ou casarões como aquele,sombrios e afastados onde os miseráveis
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se abrigavam,e quando muito as irmãs de caridade e os frades da Ordem
de S.Francisco se encarregavam de colher esmolas ou arranjar algum
trabalho para as famílias.
Quando a seca ia embora,davam sementes,e com o que tinham reunido
voltavam para suas terras,como meeiros dentro de um sistema de
escravidão que se repetia até a próxima seca,que hoje ainda subsiste
limitando o aproveitamento das águas represadas e ampliando o poder
político dos que se alinham ao latifúndio improdutivo.
O fenômeno atingia e atinge contingentes humanos diversos.Mesmo nas
cidades do Nordeste brasileiro,muitos imigrantes estrangeiros foram
tratados com pouca diferença,estabelecendo linhas de comércio fracas,na
espera de dias melhores.mais operosos e de uma cultura muitas vezes
menos submissa,estes estrangeiros conseguiam se situar melhor do que os
retirantes.
O caso de Joaquim de Sá Aragão,cidadão judeu e português,que chegou ao
Sobral,CE,vindo de Portugal no fim do século dezenove,foi um desses
casos de estrangeiros imigrantes que se confundiam com retirantes e que
teve outro destino.
Vinha solteiro com algum dinheiro e experiência de agricultor em
Portugal.Ao chegar durante o Quinze,só encontrou gente morrendo,terra
seca e gado moribundo.Sem ninguém para trabalhar e roça para plantar.
Comprava o gado que morria, estirava o couro e vendia a carne por um
terço do preço. Logo ficaria rico!
Quando a família de Severino e Marieta se instalou no casarão da Rua do
Rei, com clima ameno,água de coco abundante,além das frutas e esmolas
de pessoas caridosas,não tardaram a melhorar de ânimo e saúde.
No entanto tal não aconteceu com Marieta que não acompanhou a
recuperação dos demais.A tosse prosseguia e a magreza aumentava.
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Veio o Dr.Leandro Moura que era muito atencioso com os retirantes e não
cobrava nada.Diagnosticou tuberculose!
Os demais se afastaram dela.Ficou dormindo em um quartinho dos
fundos,sem o marido e sem os filhos.Onde passava horas sentada olhando
para o pé-de-limão que dava os galhos quase na janela de seu quarto.
Não deixava nunca seu cigarrinho de palha e também não se conformava
com seu estado.
A meio-dia e ao cair da tarde quando as pessoas se recolhiam para as
refeições,ela saía a andar devagarzinho,passeando,tossindo e caminhando
com aquele passo de marreca que era a sua principal característica.
O marido se afastava com medo de pegar tuberculose e ela não podia
tomar a filhinha nos braços.Era uma tísica!Chamavam-na assim,porque
além de doente,era agressiva e antipática.Olhava todo o mundo com ódio
estampado no rosto,desespero e rebeldia em relação a Deus e aos homens.
Apegou-se ao casarão da Rua do Rei e confessava para Maria que era
única que ainda chegava perto dela:
- Eu gosto daqui!Olhe a minha sorte,depois de escapar de uma miséria
daquelas,fico tuberculosa.Eu sou é filha do Diabo e não de Deus!
- Tem paciência criatura,o doutor disse que se tu tiver repouso,vai
melhorar.Vai ficar boa!
Ela sorria incrédula,fumando e cuspindo sem parar.
Mas tu tens que deixar este cigarro desgraçado,ele está te
matando!Repetia Maria insistente.
- Que morra!De que vale uma vida dessas?Não posso dormir com meu
marido,não posso tomar minha filhinha nos braços.Todo mundo foge de
mim como o Diabo da Cruz!
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- Santo Deus Marieta,exortava Maria,tu dexe jeito vai morrer e vai pro
inferno!Não tem paciência,não reza,não sacrifica nem o cigarro.E saía de
lá se benzendo e chorando.
Em meio aos inúmeros retirantes que ali se alojavam,existia uma pequena
figura singular.Chamava-se Jesuíno!
Clarinho,pálido,só andava de camisola branca com três botãozinhos na
frente.passava o dia brincando e mexendo com tudo que era
retirante.Davam-lhe caixinhas de fósforo e ele as colocava em cima de um
caminhãozinho de madeira e molas de arco-de-barrica,enquanto ia pelo
meio da casa gritando “slogans” que ouvira de motoristas nas estradas de
Garanhuns.
Todo o mundo era louco por ele que irradiava uma aura benéfica,sempre
sorrindo e dizendo palavras de conforto para os que se queixavam de
reumatismo como a velha Carminha e o velho Aristeu.
Às vezes sentava-se de camisola no muro externo do casarão e quem
passava ouvia dele:
- Uma esmolinha para a tísica!Uma esmolinha para os retirantes!Uma
esmolinha para a tísica que está morrendo de inanição e não tem dinheiro
para comprar remédios!
Quem passava dava sempre,porque a beleza que irradiava da pobre
criança chamava á atenção e enternecia os corações.
Quando a latinha enchia dava ao Aristeu para ir trocar na bodega de Seu
Gerônimo,e de novo,ficava “sol à pino”,sentadinho no muro,pedindo aos
que passavam para o almoço:
- Uma esmolinha para a “tísica”!Uma esmolinha pros flagelados da seca!
Quando não estava entregue a esta tarefa passava horas seguidas e
esquecidas debaixo do limoeiro,brincando com os bonequinhos feitos de
sabugo de milho,feliz da vida,na sua pobreza e inocência dos seis anos.
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Marieta chegava na janela de seu quarto e ele se levantava com um pouco
de medo olhando disfarçado para ela.
- Marieta sai desta janela senão tu vai piorar!Gritava a criança.Então ela
sorria compreensiva.Era só para quem ela sorria,ainda!
O menino retirava dois limões escolhidos e bem amarelinhos e devagar ia
chegando perto dela e estendendo a mão lentamente.Ia deixando que as
frutas escorregassem para aquela mão cheia de veias azuis
salientes,trêmula,pálidas e magérrimas que mais pareciam mãos de um
cadáver.
- Olha cobra,menino!Brincava a “tísica”.E sorrindo,falava com a voz já
fraca: - Obrigado pelos limões.Que Deus lhe pague!
Entrava resmungando palavras ininteligíveis, tossindo e tossindo...Ele saía
correndo,arrodeando a casa grande e chegando devagarinho como era seu
jeito dizia no ouvido de Maria:
- Marieta ta tossindo de novo!Dei uns limões a ela para fazer chá!Ela vai
morrer!Ela vai morrer!
Maria ouvia a criança falar e começava a chorar.Então gritava lá de
dentro para D.Carminha ouvir:
- D.Carminha,olha o chá de Marieta,ta tossindo de novo!
- Já vou,gritava a velha e ia toda corcunda se segurando nas paredes de
tanta dor reumática.Pegava os limões que Marieta colocara na soleira da
porta,ia cortando e lavando às pressas em uma velha bacia,para fazer o
chá.
Quando Marieta tomava o chá,parava de tossir e adormecia fraquinha
que dava dó.
- Tá cada vez pior!Murmuravam baixinho de uma porta a outra do
casarão.E quando Marieta dormia,imensa,magérrima,esticada no colchão
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de palha jogado no cimento,Jesuino vinha devagarinho e parava na porta
do quarto,observando ternamente:
Ali ficava triste,parado,com a mãozinha segurando na porta entreaberta
olhando a “tísica” que dormia gemendo e gemendo.
Geralmente esta cena demorava de quinze a vinte minutos e logo depois,os
gemidos cessavam e Jesuíno ia saindo de lá devagarinho,e lá estava de
novo brincando debaixo do limoeiro,a sua sombra refrescante,onde o odor
do limão maduro se confundia com o cheiro das romãs e das flores de caju
que existiam por todo o canto prometendo uma safra de arrombar!
Mal terminara a floração dos cajueiros e as primeiras castanhas
apontavam nos inúmeros pés que cercavam o casarão,Marieta começou a
morrer.De nada adiantavam mais os xaropes e os chás-de-limão que lhe
davam.
Antes de morrer,tinha crises de asfixia que deixavam-na toda roxa,e
mesmo sem forças,ela praguejava sem cessar e lançava olhares terríveis
para os moradores que se aproximavam pela curiosidade,ato que nunca
tinham feito por caridade enquanto ela vivia isolada e tinham um terrível
e apavorante medo dela e da doença.
Severino,o marido,chorava e dizia:
-Se eu fosse rico,tinha mandado pru sanatório e ela tinha se curado!E
desatava a chorar e se maldizer da vida.
Jesuíno corria do limoeiro para a janela,subia e ficava lá olhando a
moribunda com piedade.
Marieta sem sangue,Marieta pálida como cera,que sentia frio e tiriricava
sem parar na agonia da morte.E agoniada jogava a cabeça de um lado
para o outro.Esta agonia durou um dia e uma noite!
Quando os primeiros albores da alvorada entraram pelas portas e janelas
da frente do casarão e os passarinhos começaram a orquestra matutina
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nas goiabeiras,cajueiros e romãzeiras,ela foi se aquietando,suspirando em
ciclos cada vez menores.Via-se que diminuía a atividade pulmonar.Até que
se imobilizou,quando duas lágrimas rolaram pelo rosto sofrido e
macilento,onde uma forte estrutura óssea se salientava.
Parecia uma estátua de cera onde a estrutura óssea lhe dava um aspecto
impressionante. O aspecto de uma grade ou uma jaula que tivesse durante
algum tempo,sob terrível sofrimento aprisionado um ser de dor.
Severino,Maria e Julinha choravam copiosamente,alto,de forma
desesperada,enquanto seguravam uma vela nas mãos da morta.
Maria gritava desesperada:
- Se ao menos tivesse chamado o padre!
- Ora,ela não queria ver padre,nem reza,de forma alguma.Respondeu
Severino se defendendo.e adoçou: - Deus agora se encarrega dela!Sofreu
muito e era uma ótima mãe e esposa!E chorando muito continuou:
- Só vi gostar de uma coisa na vida,foi este casarão!Dizia que isto aqui era
o céu.Veja só!Com todo aquele sofrimento e isolamento!
-Ela olhava para mim quando estava morrendo como se estivesse se
despedindo.Disse Jesuíno,mais pálido ainda pela emoção que dominava o
ambiente do velório.Então a velha Carminha dizia grosseira:
- Vai te deitar Jesuíno.Não pregou o olho desde que a finada começou a
agonizar...
E todos olhavam para o menino de olhos brilhantes que não chorava e
demonstrava uma profunda compreensão da morte.
- Ele não derramou uma lágrima!Disse o João Quirino,carregador de
água do casarão.
- Ele é assim mesmo!Observou Carminha.E continuou: - É mais forte do
que qualquer um de nós!
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A criança pálida e magrinha continuava rondando o corpo de Marieta e
olhava-a com um profundo olhar de tristeza.
De repente saiu correndo e deitou-se no pobre catre que lhe servia de
leito,enquanto ia puxando os trapinhos que o agasalhavam,enquanto
adormecia.
Ao ,no dia seguinte,às seis horas da manhã,o casarão estava com as portas
abertas e os homens tinham jogado cal no quarto da morta,e,em seguida
tinham enterrado o colchão no fundo do quintal,lá para os lados dos
limites do casarão com as demais casa que começavam a surgir no
quarteirão imenso da Rua do Rei.
Marieta fora enterrada muito cedo,enquanto a criança corria inquieta da
cozinha para a ante-sala e de lá para o iotão,como se estivesse procurando
alguma coisa.Retornava freqüentemente para olhar o quarto da morta,e
então escutou o que os homens que lá estiveram
trabalhando,conversaram:
- Ela era doida por este menino.Gostava mais dele do que da filha
Julinha,dizia o João Quirino.
- E ele por ela,dizia o Leôncio que completava: - Já viu como ele está
inquieto?Correndo de um lado para o outro?É procurando a finada!
- É mesmo,confirmava o homem que trazia uma placa de carreteiro no
chapéu.
Nos dias que se seguiram,Jesuíno silenciou.Corria pouquinho e passava os
dias de baixo do limoeiro.De repente,erguia-se,ia até á janela do quarto da
morta e dizia:
-Marieta,tu ainda está aí?Eu sei!Eu sinto que tu ta aí!E voltava sorrindo
para dentro de casa,correndo.
Um certo dia a velha Carminha estava lavando roupa lá no oitão do
casarão,quando a dor nas cadeiras se agravou.Neste instante Jesuíno foi se
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aproximando silencioso.Parou pálido diante da mãe,de olhos brilhantes e
ansioso, olhando a água que se despejava naquela tina grande,observou:
- Mãe,eu vi a Marieta neste instante!
- Ai,já não chegam estas dores e você me vem com esta conversa
besta,menino!Marieta já morreu e ta inté de “osso branco”...
- Mas eu vi,observou a criança insistente e seguro de si.
Estava muito assustada e se encostava na parede da sala sem querer que
eu chegasse perto dela!
- Quando me viu foi se afastando com as mãos apoiadas na parede,entrou
no quarto do Seu Jão Quirino e de D.Chica Bandeira.Depois eu entrei lá
procurei por ela no corredor,debaixo da cama,mas ela não estava mais
lá!..Cadê ela,mãe?!Quando a gente moor,não desaparece?Por que a
Marieta continua por aqui,mãe?Me diz..E insistia sem sucesso.
- Vai brincar,menino!Dexe esta conversa sem pé nem cabeça!Exclamou
D.Carminha apavorada.
Enquanto isso Jesuíno balançara a cabeça e pulara a calçada alta
gritando:
- Eu vi mãe!Marieta ainda está aqui,não enterraram ela,não!
D.Carminha benzeu-se e olhou para os céus batendo três vezes na boca:
- Este menino tem cada coisa esquisita.Onde pode,onde já se viu alguém
morrer e andar por aí para todo o mundo ver?!Nunca acreditei
nisso.Marieta ta no outro mundo,bem longe daqui.
E a vida do casarão continuava sua rotina imperturbável,com retirantes
chegando e outros morrendo,enquanto outros,sabendo de notícias de
chuva em suas terras,no longínquo sertão,iam embora para não mais
voltar.
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No ano seguinte ao terrível terrível ano seco do Quinze, às vezes chegavam
sacos de mantimentos,feijão,farinha de mandioca e rapadura,que as
senhoras da sociedade traziam de esmola para seus famintos e necessitados
moradores.
Outras vezes elas vinham visitar os retirantes percorriam suas
dependências em silêncio sepulcral,sem falar ou dar atenção a
ninguém,importantes,distantes e frias,posudas,olhando para os
cantos,apontando os telhados e em seguida,comentando alguma coisa
entre elas.Iam aos fundos e anotavam.Jesuíno sempre as
acompanhava,escondidinho,para que não lhe vissem.Em seguida corria
para dizer à mãe que elas cheiravam muito!
No dia seguinte vinha um homem fardado em amarelo e cáqui,com
máscara e tubo nas costas e a criança o acompanhava em todos os cantos
onde ele ia.Gostava mais quando ele ligava a máquina que trazia
pendurada no pescoço e saía um pó branco que se espalhava.
Um dia ele condenou a fossa lá embaixo e pregou um papel na porta dos
fundos.Jesuíno corria sem parar atrás do homem e disparava na risada
quando ele ligava a máquina e a pressão fazia o pó sair impregnando tudo!
Entretanto ficou muito triste porque o homem demorava muito aparecer e
quando vinha era depois de meses.Ficava então privado da diversão mais
interessante que conhecia.
Durante estes intervalos, estas esperas,amarrava uma caixa e com uma
corda presa nesta e um caniço,repetia os gestos e a operação que o guarda
sanitário fazia:
- Fu!Fu!Fu!Fu e lá se ia fazendo aquelas fisionomias tristes e sofridas dos
retirantes,sorrir de satisfação e de rara e extrema sensação de
alegria.Eram momentos de refrigério e paz!Uma pausa para esquecer seus
tristes destinos de marginalizados.Verdadeiros párias de Deus!
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Naquela escuridão de tristeza,pobreza,infelicidade,dores,fome
e desesperança,aquela criança era como uma luz que dissipava as trevas.
Se alguém sentia dores ele corria para o meio do matagal aflito e de lá
voltava com uma raiz ou folha de mastruce ou cidreira virgem para fazer
um chá.
- Jesuíno,vê se acha uma raiz de “quebra-pedra”,te dou cinqüenta
centavos,gritava Seu Raimundo “Bêbado”.Ele atendia,mal ouvia o
chamado,voltando em seguida com a dita raiz que aliviava as dores de rins
estraçalhados com a imensa quantidade de cachaça que o homem ingeria
para esquecer a sua dor.Às vezes,muito doente,bebia mesmo em jejum!
- Toma cinqüenta centavos,menino!
- Precisa não,Seu Raimundo,não deu nenhum trabalho.Corria Jesuíno
para não receber o dinheiro.Mas,D.Carminha passava na frente e dizia:
- Me dá os cinqüenta centavos Raimundo,que dá para comprar sabão
para lavar os trapinhos dele.
Jesuíno baixava a cabeça e se encostava na parede pelo lado de
fora,olhando a mãe com aquele olhar de profunda tristeza,aparentemente
reprovando-a.Nestes momentos D.Carminha tinha se acostumado a não
encará-lo,pois dele emanava um forte sentimento de reprovação que lhe
cortava a alma,enquanto os olhos cintilavam de uma forma que a deixava
tonta e sem jeito.Seu olhar era tão forte que a mãe não sustentava vê-lo
nos olhos.Sua percepção era tão aguda e a precocidade tão grande que a
mãe se atemorizava diante e sua expressão de olhar.Isto fugia à
compreensão dos retirantes.
- Este menino é um santo,dizia Seu Raimundo “Bêbado”,quando a mãe se
afastava.Vive aqui para servir todo o mundo,brincando alegre com uns
sabuguinhos e pedindo esmolas naquele sol que dá dó:
- É um santinho,dizia Maria,largando o ferro de engomar para o lado e
com os olhos cheios de lágrimas,relembrando:
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- Marieta era louca por ele!Ele vive dizendo que vê a finada aqui.Ah!Se
fosse eu que a visse!Será que ela está bem no outro mundo?
João Quirino mascando fumo,sentado na soleira da porta da
cozinha,cuspia e dizia:
- Comadre Marieta sofreu muito.Deus teve pena dela.E Maria tomando o
ferro,enquanto o soprava e reunia uma pilha de roupas para
passar,completava melancólica: - Mas homem,ela morreu revoltada com
Deus!Não aceitava deixar a filha e morrer daquele jeito!Disse isto
baixando a voz propositalmente.Nisto Jesuíno que estava brincando
debaixo do limoeiro gritou:
- Maria,Maria,aos berros.Maria,o velho Jesuíno e Severino que estavam
capinando,correram para lá,para ver o que a criança tinha encontrado e
estava aos prantos:
- Marieta debruçou-se ali na janela e quando olhei para ela,sumiu.Depois
de fazer uma careta horrível e grelar os olhos para mim.Completou
chorando:
- Eu to com medo.Ela não gosta mais de mim.Está com raiva de todo o
mundo!
Os homens se entreolharam e D.Carminha foi carregando o filho,aos
prantos para o outro lado do casarão onde uma brisa calma trazia dos
cajueiros um forte cheiro de castanhas e de goiabas maduras.
Na verdade crença ou experiência,os nativos da Polinésia asseguram e
muitas tribos indígenas da America asseveram que os mortos se tornam
mais perigosos e piores do que quando eram vivos!Essa crença e essas
versões sobre tal dimensão do homem,é uma página obscura da
Antropologia e entra em choque com as versões e os valores das religiões
ocidentais.
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina
Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade
destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
- Mas que conversa besta é essa,menino!perguntou a mãe com enérgica
ignorância com a criança.Eu te castigo se tornares a dizer que viu a
Marieta.
- Mas eu vi,mãe!Repetiu a criança apavorada,conflitada pela ignorância
da mãe.E insistiu: - Quando eu gritei,ela sumiu.
Seu João Quirino foi saindo e cochichou no ouvido de Carminha:
- Dexe o menino em paz!Estas coisas existem mesmo.E depois ele vivia
conversando com a falecida,pode ter pegado uma impressão forte.Criança
é assim.E completou:
- Quem sabe,disse isso se benzendo,se ela não se liga no pequeno?
Seu Raimundo “Bêbado” foi chegando,também fedendo à cachaça e com
os olhos vermelhos,observou:
- Dona do Carmo não brinque com estas coisas.Marieta era louca por esta
criança.Quem sabe não resolveu ficar por aqui?E completou:
- Este casarão está ficando mal-assombrado!Se eu começar a ver alguma
coisa,por Deus que vou me mandar!Quer ver homem “se obrar”,me faça
ver uma alma!Não agüento,não!É só do que tenho medo nesta vida!
Nos dias que se seguiram a conversa pegou e só se ouvia os retirantes
sentados do lado de fora no calçadão de pedra contando histórias de
“visagens” e dizendo que o menino estava vendo a finada Marieta.
Jesuíno já não brincava no limoeiro como lhe era usual e começou a ficar
triste e emagrecer.Apareceu uma tosse de garganta e toda noite
D.Carminha passava as horas da madrugada insone,passando banha-de-
galinha e enrolando o pescoço da criança.Dormia a maior parte do dia e
ninguém o via mais pedindo esmolas na calçada.
Triste e calado pelos cantos ele foi definhando,tossindo e um dia veio o
doutor,novamente.Examinou o menino,ouviu a respiração dele e chamou
D.Carminha:
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina
Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade
destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
- A criança está “tísica”!Tem que ser isolada e vá dando este
medicamento,logo.Abriu a bolsa e foi dando a amostra grátis do remédio
contra a tuberculose.
D.Carminha foi abraçando o filho e por todos os lados o pranto era geral.
Instalaram Jesuino no quarto de Marieta,em um colchão de palha, do
mesmo tipo do que usaram para finada.Colocaram uma coberta ao alado e
os bonequinhos de sabugo que ele gostava tanto e brincava horas e horas
falando por eles e simulando movimentos como se fossem vivos.
Quando os cajus amadureceram, amarelaram e começaram a cobrir o
solo do casarão,espargido aquele cheiro aromático misturado com resina e
orégano,cujo odor estava espalhado por debaixo das árvores atingindo
suas frondes mais altas,o chão dos terrenos periféricos do casarão se
transformavam em um verdadeiro tapete de topázio alimentando os
retirantes famintos.Jesuíno começou a morrer!
Não mais se erguia.Tossia seguidamente e pedia a D.Carminha que o
colocasse sentado em um caixote,perto da janela.
Então acompanhava com os olhos semicerrados e tristes de criança,o
limoeiro amado parte daquela maravilha tropical que o cercava,em
oposição à tragédia de sua doença irreversível.
Então dizia para a mãe:
- Ontem eu sonhei com Marieta,ela tava com um frade ao lado dela.Ele
trazia a finada presa por uma corda no pescoço como se fosse um cabrito!
- Pára menino,tu inda tá com essa impressão na cabeça?!Dizia
desesperada e chorando a pobre mulher.
- Ela me disse que vem me buscar antes do fim do ano!
-D.Carminha desatava a chorar,e resolveu transferir o filho para o seu
próprio quarto.Houve um protesto geral dos retirantes,mas o quarto de
Marieta,onde estivera Jesuíno,foi fechado e nunca mais ninguém entrou lá.
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
Uma tristeza começou a tomar conta de todos com a doença da criança e
com aquela casa.Sempre que podiam,juntavam uns trocados e tratavam
de ir embora o mais cedo possível.
Um dia,quando os sinos do Natal começaram a repicar fora do
casarão,chegaram as senhoras da sociedade,com uma cesta grande de
frutas,bananas,laranjas e uns saquinhos de mantimentos.No meio das
frutas vinha uns brinquedos que foram distribuídos entre os meninos dos
Severinos,dos Bartolomeus e dos Queiroz!
Jesuíno piorava e a febre aumentava debilitando-o.Era uma sombra do
que fora.mal abria os olhos durante o dia, e à noite,a tosse se acentuava
deixando todos acordados de pena da criança.
Véspera de dia-de-ano a criança arquejou a noite toda.Quem chegava se
debulhava de lágrimas pelo sofrimento do pequeno,que já arroxeava e
apresentava tonalidades escuras nosa pulsos e ao redor da boca.
Antes da meia-noite um grito foi ouvido no quarto do oitão.Era
D.carminha que pedia socorre e chorava desesperada.
A criança se imobilizara e o corpo esfriava, enquanto ele arquejava
baixinho, quase imperceptível. Alguém entrou com o Pe.Alberto da
Paróquia da Piedade,e,mal ele deu a Extrema-Unção,Jesuíno entregou a
alma a Deus,sereno,frágil,deixando muitos prantos e muita saudade.
Choraram os velhos, os jovens, e até os “pivetes” sentados nos fios de
pedra das calçadas próximas do casarão.
E quando o caixãozinho azul passou pelas ruas vizinhas,ouvia-se prantos
dentro das casas e multidões de crianças curiosas,mas de fisionomias
entristecidas quedavam-se desoladas.
Durante o enterro,o Pe.Alberto comparou Jesuíno ao Menino-Jesus e disse
que ele tinha nascido naquele ambiente do casarão para amenizar a dor
dos retirantes e o sofrimento dos miseráveis!Fôra uma criança de luz!Uma
Entidade do mais próximo séquito de Jesus!”Um exemplo de amor por
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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seus semelhantes. Nascera pobre como Jesus para atender e alegrar
aqueles que viviam na escuridão do sofrimento e da penúria.”
As pessoas que davam esmolas e passavam no beco arenoso ao lado da
casa,não o faziam mais para não reverem o local onde Jesuíno com uma
latinha enferrujada,estendia um apelo aos transeuntes por esmolas para a
“tísica” e os retirantes.
“Seu” Gerônimo mudou a barraca para o outro lado do quarteirão para
não mais se lembrar da figura da criança.
Mas,mesmo assim,às vezes parava e parecia-lhe que via Jesuíno colocando
aquela mão pálida na borda do balcão,pedindo para trocar por cédulas,as
inúmeras moedas que recebia de esmolas.
- Parece que estou vendo,dizia,conversando com o Raimundo
“bêbado”.Ele enchia aquela latinha duas vezes até o meui-dia e vinha
caminhando silencioso.De repente,eu escutava sua voz de criança: - “Seu”
Jerônimo troca estas moedinhas dos pobres por uma moeda maior ou por
cédula!É prá comprar remédios para a “Tísica” e comida pus retirante!
Então “Seu” Raimundo “bêbado” se emocionava até que as lágrimas
rolassem por seu rosto macilento, tostado de sol e enrugado que mais
parecia um pergaminho.
Raimundo “Bêbado” enchia o copo de “amarelinha” e quando a água
brava descia,ele exclamava:
- Ave,que esta derruba inté defunto!Cuspia longe e olhando “seu”
Jerônimo nos olhos,observava:
- Sabe “Seu” Jerônimo,é porisso que eu bebo.A vida de pobre é assim
mesmo.Você acha que se Jesuíno fosse filho de rico,teria
morrido?Botavam logo em um dos melhores sanatórios e a criança se
recuperava.Agora aquele casarão só dá tristeza!Mal entro lá depois da
labuta diária de pedreiro e uma tristeza toma conta de mim que acabo
adoecendo.
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
- Vá lá “Seu” Raimundo,tome um banho,reze a Ladainha de Nossa
Senhora e durma inté amanhã.Vai pegar na colher sem tristeza e esquecer
um pouco este “Vale de Lágrimas”!Eu por mim vou fechar dedo,hoje.Tô
doido por dentro,com estas coisas todas.
Na verdade,aquela criança era a Luz e a alegria aqui,nesta barraca e prá
todo o canto que olho,a vejo!Senão,quem vai acabar doido,sou eu
mesmo!A vida é assim – Uma Viagem triste e cruel!Que vou fazer?É
entregar a Deus!
“Seu” Raimundo saía cambaleando,conversando só,batendo ao longo do
muro longo que limitava o Casarão pelo lado direito e quando passava em
frente do lugar que Jesuíno pedia esmolas,parava e ficava oscilando para
lé e para cá,morto de bêbado.De repente,desatava no choro e sentava-se no
fio de pedra.Agarrava finalmente no sono,naquela posição e,quando a lua
imensa e branca apontava lá para o lado do portão que isolava a casa
grande da Rua do Rei,ele levantava-se e entrando pelo lado esquerdo da
moradia dos retirantes,empurrava a porta de pedaços de caixotes,que
ce3dia dramática,misteriosa,e espectral.
Cambaleante, lá ia exalando a cachaça que impregnava até os corredores e
em seguida, estirava-se no chão à corpo todo,sobre a esteira que
D.Carminha deixara para ele.Enquanto ia adormecendo,falava baixinho
para seus botões:
Oh Deus!Duas mortes por tuberculose em menos de três meses!Vai ver
que serei o próximo!Como mal,trabalho demais,cheiro a “catinga” do
cimento todo o dia e ainda tenho que beber para esquecer a vida!E
adormecia, pensando que em vez de construção para levantar,tinha um
lindo jardim para cuidar,e as flores,orquídeas,violetas e rosas brotavam ao
seu redor soltando um perfume inebriante...
A noite tomava conta do Casarão dos Infelizes enquanto os “caborés”
piavam lá nas cabaceiras e o vento castigava os cajueiros que vinham de lá
para cá, enquanto sombras fantasmagóricas pareciam desfilar no silêncio
Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes
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destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
que cercava a casa devido a quietude decorrente de seu isolamento.Os
coqueiros agitavam-se violentamente,fornecendo um único ruído além dos
pios dos caburés e corujinhas que ali vinham se agasalhar.Lá no quintal,o
galo cantou,pensando que o luar era o dia que ia chegando e D.Carminha
triste e trêmula passou a mão na esteira ao seu lado procurando
inutilmente o filhinho que se fora!E não o achando desatou em choro
convulsivo. Os outros retirantes colocaram a cabeça para fora de seus
trapinhos e sentiram a tristeza invadi-los.
Maria começou a chorar baixinho e “Seu” Jão Quirino abraçou D.Chica
Bandeira para abafar o soluço que veio à garganta e que não podia sair,
“porque homem não podia chorar!”
D.Carminha em prantos acordando,desta vez,todo o mundo:
- Meu Deus não me dexe muito tempo neste Vale de Lágrimas!Tome
conta de meu filhinho que foi a única coisa bonita que tive nesta vida,mas
não demore muito,pois não agüento mais...
Virando-se,deitou cobrindo os pés,a cabeça como fazia desde que Marieta
morrera e o filho vivia dizendo que via a morta.
- Vixe,exclamou,adormecendo e pensando – Se a “Tísica”puxa o lençol
dos pés agora...Eu dava um pulo de morrer...Santa Maria Mãe de
Deus...rogai...por nós...que e adormeceu profundamente.
O casarão dos infelizes.
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Documento n.001 de 20014 uma tore além do tempo,o livro,2013,2ªedição.
 

O casarão dos infelizes.

  • 1. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. FRANCISCO J. B. SÁ O CASARÃO DOS INFELIZES. 1ª EDIÇÃO
  • 2. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. 2013
  • 3. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
  • 4. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes.
  • 5. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. COLABORADORES Ao Frei Albino Aresi que testou a veracidade destes fatos. e Gerson Barreto que organizou e promoveu o seu primeiro grande lançamento. Aos retirantes nordestinos que a cada ano de seca renovam o seu calvário.
  • 6. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Homenageados Aos meus maravilhosos filhos Wladimir e Alan Delano. A minha querida Angélica que amou esta obra.
  • 7. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. O Autor. Francisco J.B. Sá é Escritor.Formado em engenharia mecânica pela Universidade Federal do Ceará,1970.Pós-graduado em Administração pela Universidade Gama Filho,RJ,1993.Extensão em Antropologia pela UFBA,2008-2012. Escreveu: - A marca de Caim,1995 - O casarão dos infelizes,1987,1ªEdição. -O Romance da Torre,1ªEdição1996 e 2ªEdição2006. -Uma Torre Além do Tempo, A Colmeia de Almas, 1ªEdição1999 e 2ªEdição 2013. -Amor e Crime na Bahia do século XVII, 2005. -Fundou e dirigiu de 1964 a 1970, o jornal estudantil, O PERIQUITO ,um vespertino de natureza política,dirigido para a luta contra a Ditadura Militar. -Fundou e dirige de 1996 até hoje, o periódico A GAZETA.Umperiódico á serviço da Cultura O casarão dos Infelizes é um conto parapsicológico baseado nas fortes experiências familiares de uma criança atormentada por fenômenos paranormais.
  • 8. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. ÍNDICE Sinopse............................................................................................ 8 1ª Parte: A Origem e o Tempo. Capítulo I – O Escritório............................................................10 Capítulo II – A Casa de Yedda....................................................25 Capítulo III – O Trem dos Desgraçados....................................... Capítulo IV – O Retiro dos Monges............................................... Capítulo V - Um vulto ao Luar.................................................... Parte Final: O Casarão dos Infelizes. Capítulo VI – A Orgia.................................................................... Capítulo VII– O Tesouro da Morta..............................................
  • 9. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. SINOPSE Até que ponto a nossa percepção é completa em relação aos fenômenos que nos cercam? Quem garante que esta percepção não se altera sob os efeitos das emoções? Ou haveria outra visão associada ao sexto-sentido que possibilitaria a penetração da mente em outras dimensões? Seria essa outra dimensão o sobrenatural que comumente está presente nas denominadas evocações espirituais? Quando todas estas questões forem respondidas estaremos no limiar da verdadeira história do homem e terá terminado a sua pré-história. Em O casarão dos Infelizes o leitor terá a oportunidade de desvendar e participar de situações que poderão responder as questões acima consideradas e viver o drama social dos retirantes nordestinos cuja tragédia se acentuava pelo despreparo dos governos da época,assistenciais,sem visão social e beneficiários da indústria da seca. Os fatos que narramos aqui surgiram da experiência real de uma criança, que talvez o leitor a considere anormalmente precoce, mas que poderíamos defini-la como dolorosa,e por isso marcante,em um contexto onde passado e presente parecem se entrelaçar e se confundir fazendo com que o mundo dos vivos encontre o mundo dos mortos. A narrativa se contextualiza em um ambiente marcado por efeitos de escândalos comerciais e empresariais que agravam um singular contexto familiar.Por isso decidimos manter em sigilo os verdadeiros nomes dos protagonistas,os locais e as circunstâncias envolvendo pessoas e organizações.Por sua autenticidade,como palco de fenômenos paranormais,o livro pode ser utilizado para fins de pesquisa.
  • 10. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. 1ªParte: A Origem e o Tempo.
  • 11. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Capítulo I O Escritório. Hoje a lembrança destes fatos ainda me doem e sinto um arrepio ao evocar as imagens que marcaram de forma tão dantesca os anos verdes de minha vida. Meu nome é Tássio de Alencar e Silva e ao lembrar estes acontecimentos de minha infância procuro um referencial para justificá-los afim de que possa transmitir às gerações futuras com precisão,as lições advindas de minha vida infantil.Mas não o encontro!Patético tento defini-lo como imagens alucinatórias de uma criança em crescimento.Outras vezes,reflito perplexo e parto para análises metafísicas em que os acontecimentos que me atingiram e a minha família se entrelaçam em um feixe de cenários grotescos e apavorantes decorrentes da atitude impensada dos adultos.Não sei porque milagre não quis me vingar de tudo,tornando-me uma pessoa dolorida na idade adulta e ressentido com que os adultos fizeram de minha vida.Mas,eis o milagre!A quem agradeço?À minha índole ou a alguma dádiva da natureza ou de Deus que me fez,em um momento de reflexão,se não compreender pelo menos não deixar que o mundo dos adultos ceifasse o meu desenvolvimento sadio e voltado para a sanidade e o equilíbrio? Chego quase a incorporar os personagens, muitos deles retirados de dentro da minha alma com um esforço sobre humano, gigantesco,para permitir que me desenvolvesse livre de “demônios” que assolam aqueles que vivem a vida com tal intensidade ainda na infância. Me pergunto-se estes efeitos se limitaram a atuar em mim,tão somente,ou se atingiram de diversas formas,os mais próximos,deixando-os à mercê dos “fantasmas” que me assombraram no passado?
  • 12. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Talvez estas linhas tenham sido- a Dádiva e a Promessa,o resgate de uma vida que se descortinou diferente dos demais ambientando-a nas crônicas,nos livros e na ciência.Sobretudo criando as condições terapêuticas para a criação de um lar,de uma família de amor,tão diferente do que assisti em meus jovens anos! Dentre todas as imagens mesmo dos “fantasmas”,sobrepujando o perfil inesquecível das pessoas que conviveram comigo em minha infância,avulta em primeiro lugar a singular figura de Américo Silva,paradoxal,inquieto,sorridente e mordaz. Por isso não posso me esquecer dele e sua imagem deve ocupar o primeiro plano desta narrativa,sentado por trás da escrivaninha,sorridente,galhofeiro e mordaz,a verdadeira imagem do executivo satisfeito.Sua branca e bem passada e engomada camisa de colarinhos impecáveis chamava a atenção,transmitindo uma imagem de homem impecável,eficaz e eficiente na tarefa de conduzir sua empresa e sua equipe. Naquele tempo os escritórios comerciais gozavam da liberdade da falta de paredes e divisões que hoje separam os homens delimitando seu “status” social e profissional. A dois metros trabalhava Jane,compenetrada,esguia e elegante diante de uma máquina de escrever antiga que ela manuseava sem parar. Seu busto protuberante e pernas e coxas em posição,dentro das medidas certas para a época,salientava-se por cima da linha do contorno mais alto da máquina que utilizava,transformando seu “sex-appeal” em ponto de convergência dos olhares masculinos que a cercavam e dos clientes que eventualmente atravessavam o balcão que dava para movimentada Rua S.Paulo,via de acesso ao centro da cidade,ocupado pela praça principal,que ficava a alguns quarteirões da Atalaia Co. Seu cabelo doirado e cintilante chamava a atenção porque emoldurava um lindo e primaveril rosto ornamentado por lindos olhos azuis e uma testa alta e intelectual,dando-lhe uma forte presença feminina.
  • 13. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Atrás de Américo Silva e de Jane sentados lado a lado,Julio Monte se escondia qual um rato de óculos,observando os movimentos dos colegas e do chefe sem perder de vista as pernas bem torneadas da jovem que se descobriam propositalmente,sempre que o vestido cinza subia além do nível certo,oferecendo a imagem mais profunda de seus joelhos trabalhados artisticamente pela natureza. Júlio Monte era a própria imagem do espião anônimo e devassador das intimidades, dos assuntos da firma e da vida particular dos colegas, que a cada dia ele conhecia mais e mais com a infalível ajuda de sua perspicácia natural. Armara um círculo de relações cuja complexidade ultrapassaria a concepção de qualquer mortal comum. Originário como Américo Silva de uma família rural que se mudara para o Recife quando Caruaru não mais atendia às suas aspirações de caixeiro ambicioso,seu horizonte ultrapassava em muito ao de seus conterrâneos.Queria ser rico de qualquer maneira,nem que tivesse que roubar ou destruir quem quer que fosse em seu caminho.Entretanto este propósito e esta determinação ele não demonstrava,só ele o sabia! Quando chegou ao Recife, a cidade grande o estonteara e o desorientara ao ponto de,durante algum tempo,desvincular-se um pouco de suas ambições.Foi então que surgiu o emprego da ATALAIA CO. Fizera concurso para datilógrafo e, fora aprovado, mas, após seis meses nesta função viera a promoção de escriturário e conferidor de documentos de cargas aéreas,a qual ele se dedicara de maneira decidida e competente.Coroou sua ascensão chegando a tesoureiro,quando passou a controlar todo o movimento financeiro da firma e até os vales retirados pelo gerente. Ao chegar já encontrou Américo Silva,gerente-geral,que controlava a Filial de Recife e multiplicava com recursos de gerência e talento admirável,o lucro da empresa. A ambição,a falta de escrúpulos nas manobras comerciais com pessoas e instituições que se relacionavam com a ATALAIA CO. não tardaram a uni-los para aquela finalidade
  • 14. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Não demorou e os dois eram parceiros nas inúmeras jogadas comerciais e bancárias que colocavam a seus pés,os gerentes das demais filiais e dos bancos que se perdiam naquela época em conjecturas que os levassem a aplicações volumosas de recursos financeiros que surgiam no período de após-guerra. O quarto-ano depois da IIªGuerra Mundial caracterizava-se como um período frutífero para os investimentos.As companhias cresciam,a cana-de- açúcar e a cera-de-carnaúba,produzidas em larga escala,cada vez mais abarrotavam os mercados europeus e americanos,gerando mais e mais riquezas que compensavam as deficiências dos rendimentos da frágil agricultura nordestina,antiquada,colonial,de subsistência e periodicamente devastada pelas secas cíclicas,das quais a Seca de 1915 fora a mais arrasadora das estiagens. Os americanos se foram,mas,após utilizarem o Nordeste brasileiro como base estratégica para seus pousos na África,deixaram uma infra-estruturar de aeroportos os quais,embora com contornos de simplicidade exterior,ofereciam grandes oportunidades ao desenvolvimento dos vôos domésticos e comerciais. Tal situação favorecia às empresas que direta e indiretamente estavam relacionadas com o tráfego aéreo,já que o país,como ainda hoje,não possuía uma rede rodoviária eficiente e sua rede ferroviária,caminhava àquela época para o sucatamento. Américo Silva era um expoente financeiro sem escrúpulos quando exercia as atividades de gerente-comercial.Conhecia muito bem a praça,apesar de possuir irrisório lastro cultural.Sua desenvoltura,carisma,palavra fácil e simpatia natural atraiam as atenções dos diretores,expectadores distantes de sua atuação espetacular e geradora de lucros surpreendentes. Quando Adália,a segunda-secretária,trouxera sua irmã Hidalga,juntaram-se a Américo Silva,Júlio Monte e Jane sem saber quanta ambição e espírito de grandeza caracterizaria aquele grupo.
  • 15. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Por que a história aproxima pessoas tão semelhantes em seus objetivos ocultos?Uma Lei Social?Seria por acaso que alguém os convidara para que constituíssem em grupo tão harmonioso,ao mesmo tempo,tão competitivo, impetuoso e escandaloso? Algum diretor se arriscaria sob sua liderança a formar tal grupo pondo em risco a sua própria segurança funcional?Uma equipe tão singular?Suas contratações visaram ímpeto e tirocínio comercial e obedeceram a um caráter essencialmente aleatório.Nenhum deles se conhecia ou conheciam aos demais. A quem devemos culpar ou responsabilizar? A Deus ou ao Diabo?Se foi Deus, teríamos que considerar o Ser Supremo dialético, pois criaria condições críticas e surpreendentes para dali extrair seus objetivos excelsos!Se foi o Diabo que ardilosamente juntou aquele grupo,só poderíamos classificá-lo como intrometido e pervertido sabichão,atuando de forma estratégica em uma seara que não era a sua. Seria a casualidade,pois é dela,deste contexto que favorece ao caos que surgem os trunfos e as tragédias que escapam à compreensão humana,sempre perplexa diante de seus resultados imprevistos, e terminam por comprometer a vida de inocentes,crianças e adultos indefesos os quais,dependem para sobreviver,das complexas atividades dos adultos. Adália sentindo-se apoiada em Jane de quem se tornara colaboradora,aproximou-a de Hidalga,que com ela se identificava e se caracterizara sobretudo,pela falta de escrúpulos,pela capacidade de utilizar a sedução cercada da farisaica humildade dos servis. Não tardou que Adália,Jane e Hidalga passassem a ser controladas por Julio Monte,expoente e controlador do dinheiro e veículo das maiores ambições. Ele de sua parte,encontrou nelas a equipe ideal para pressionar,competir e ter acesso a Américo Silva, astuto e ambicioso, mas sem muito treinamento na arte de acompanhar, monitorar e entender os seus funcionários.
  • 16. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Eram todos originários da classe-média rural e se lançavam à cidade grande movidos pelo ideal de enriquecer a qualquer custo. Tinham, portanto, o mesmo caráter e origem social! O Escritório ficava na confluência de duas movimentadas ruas da cidade maurícia,artéria centrais repletas de lojas e bazares sortidos,de bugigangas que costumam ser devoradas pelos fregueses incautos e pela multidão de turistas que acorriam ao Recife procurando o calor e o relaxamento das maravilhosas e paradisíacas praias de Boa Viagem e Piedade. Naquela tarde o expediente se prolongara porque o Sr.Papa,o Diretor- Superintendente estava na terra e queria conferir os “conhecimentos”, documentos de recebimento de mercadorias.Ele decidira ir adiante,queria ver o balanço,as faturas,as notas fiscais e os livros contábeis. Sr.Pappa era um destes italianos competentes e muito experiente que criara organizações com respeito e relativa honestidade,mas,se os lucros fossem altos ele fecharia os olhos para muita coisa que pudesse ser considerada imoral! Vira em Américo Silva um gerente local promissor e sorria de suas piadas engraçadas e pornográficas, as quais enxovalhavam e animavam os jantares noturnos no Estoril,restaurante à beira-mar,onde as águas tocavam quase nas mesas de refeição sob luares inesquecíveis junto a um mar que parecia de prata. Américo Silva sempre recepcionava Sr.Papa e sua comitiva neste restaurante quando ele vinha inspecionar a firma.Também às suas amantes,naturalmente nas horas mais adiantadas e calmas,onde livre das obrigações gerenciais não pudesse ser incomodado.Ele era um amante e um sedutor do tipo,que dava de presente a esposa uma jóia e igualmente presenteava uma amante de forma idêntica.Não atinava para estas coincidências que punham em risco sua dupla vida,confusa,atropelada e inconseqüente. - O Américo merece ser ajudado,apoiado,Celini!Eu gosto do Américo!Ele nos encanta com suas piadas e nos engorda com seus jantares maravilhosos.E que jantares!E depois,nunca vi gostar tanto de “mulher-dama” e ser tão querido por elas.Repetia sorrindo e satisfeito,revelando a faceta oculta de italiano
  • 17. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. simpatizante das noitadas e dos bacanais.Gargalhava gostosamente,porque a Flial do Recife enriquecia a olhos vistos. Celini obediente,balançava a cabeça afirmativamente e não esquecia suas obrigações: - Sr.Pappa já providenciei o aumento dele!Vai ficar bem!E para paparicar o chefe dizia,ainda: - Ele merece!Ele merece!..E sorria galhofeiro. Enquanto isso,Celini batia com o cachimbo no encosto da cadeira,observando o chefe sorridente. O Sr.Pappa voltava a lembrá-lo: - Lembre-se da equipe,também.E principalmente de Jane,de Jane,(suspiros de paixão)repetia avermelhado,risonho e entusiasmado,quase histérico. - A carne é fraca,não é Sr.Pappa?A mulher é linda,parece uma estátua grega do período clássico! Pappa olhava enciumado para Celini,que então passava de zombeteiro a humilde e rastejante servidor dos poderosos,quedando-se silencioso e desconfiado. As inspeções e auditorias geralmente terminavam em orgias cheias de encanto e despudor,que se estendiam até às primeiras horas da madrugada.Com jogos sexuais entre parceiros dos dois sexos ou do mesmo sexo que escandalizariam os militantes gays das passeatas hodiernas. Adália e Hidalga saiam cedo,os pais velhinhos e religiosos não entenderiam!...Jane ficava com o Américo até às 03:00h da madrugada e depois ia dormir com Julio Monte que pouco se importava com Neline,a esposa,quer ela viesse a saber ou não...Trazia a mulher e os filhos debaixo dos pés!Sob a mais cruel das ditaduras domésticas. - O Sr.Pappa está aí?A palavra e o aviso funcionava como um toque de alerta e de mobilização dentro de casa..E a pobre mulher calava-se tranqüila e adormecia sob terrível bafo de cachaça e cheiro de camarão que eram exalados
  • 18. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. das entranhas de Julio Monte e impregnavam o quarto,sempre que ele retornava às altas horas da noite.Mas o pior eram os peidos,que chegavam muitas vezes a acordá-la!Todo este pesadelo só terminava nas primeiras horas do amanhecer.E assim a vida da filial de Recife da ATALAIA prosseguia em ritmo alucinante. - Roupa suja se lava em casa,dizia o Celini quando descobria algum deslize dos funcionários.E completava: - Não dando prejuízo,tudo bem!...Para ele,moral e decência eram o resultado do Balanço Final da firma. Geralmente na segunda-feira,após o encerramento da inspeção,Sr.Pappa oferecia um almoço de despedida e encerramento aos funcionários e seus familiares,e em seguida viajava de volta para S.Paulo,naqueles bimotores sacolejantes que invariavelmente,terminavam fazendo algum pouso imprevisto em alguma cidade da costa da Bahia,como Camamu e Porto Seguro,em seu vacilante trajeto para S.Paulo. Naquele tempo Américo tinha apenas dois filhos,e Tássio,o filho mais velho observava durante os almoços,o quanto D.Lia,a esposa,era mais culta e socialmente mais bem preparada até na”socila”,que os demais.E como sorria esquiva e desconfiada,sempre que Jane solícita,sentava-se ao seu lado e falava o tempo todo das qualidades de Américo,como homem e como chefe. Quando fazia isto sua voz afinava-se e adqueria um tom meio feminino e meio infantil,quase inaudível aos ouvidos dos presentes,cercado de suspiros abafados e comovidos.Seus olhos imitavam o pôster de Sta.Luzia,pura,incólume e mártir das causas mais excelsas. - É meu pai,dizia Jane,de olhos brilhantes.Neste ponto o busto empinava.E completava -que cabeça para negociar e gerenciar,insistia,olhando zarolha,como sempre acontecia ao beber.Fixando os olhos trocados em D.Lia: - A senhora tem muita sorte,ter um marido assim! D.Lia ouvia e observava discreta,previdente e enciumada das observações da moça.Era evidente que a criança via que ela não simpatizava com a secretária
  • 19. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. do marido.Ele era um menino sensível,que lia o tempo todo,e por isso D.Lia orgulhosa do filho,dizia sorridente aos amigos: - No aniversário dele dêem livros,presentes de livros.Adora ler e estudar!A criança ouvia o que a mãe dizia,e fazia que não ouvia.Ela era uma professora competente que não exercia a profissão em face da exigência do marido de mantê-la em casa. Naquele tempo apaixonada ainda por Américo Silva,mas já marcada por suas aventuras,fechava os olhos a estas peraltices do marido,na esperança de que ele mudasse,se transformasse!Quem sabe,se tivesse uma filha,que era o sonho do Américo,ele talvez viesse a mudar.Era a sua esperança! D.Armênia,sua tia,mulher perspicaz e inteligente,que mais fizera “trancinhas” ao tempo do namoro do casal para que eles casassem,sempre que passava os dias com ela,advertia: - Lia,cuida de tua profissão!faz um concurso.Olha o dia de amanhã! - Olha Tia Armênia,o Américo acha que mulher é para o lar.E encerrava a conversa.Parecia até que conhecia o Américo mais do que a própria Lia e sabia mais coisas sobre a vida dele do que a própria esposa. D.Lia se casara na casa de um tio rico e sem escrúpulos e D.Armênia assistira e participara de todos os detalhes do seu complexo e imprevisível casamento com Américo Silva.Na época proprietário de uma imensa casa de comércio e baluarte na condução e colocação de seus irmãos em lugares promissores da cidade grande.E assim ela saiu como a maioria das moças de classe-média,do convento e colégio de freiras,dividida em sua vocação religiosa,mas terrivelmente apaixonada por Américo Silva.Galã,carismático,comerciante próspero ainda jovem,já com um passado matrimonial e filhos,que só depois ela viria,desapontada saber. Uma verdadeira armadilha cuja máquina fora azeitada e mobilizada por seus parentes próximos no intuito de dar-lhe um – “magnífico casamento”.
  • 20. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Seus pais ainda vivendo no interior,entregaram confiantes a filha a este tio e a estas tias,selando seu destino,em um casamento imprevisível com um homem em tudo diferente de suas origens,de seus sonhos e de seu ideal.Um homem que não era mau!Fôra vitimado por uma vida e uma criação,cheia de carências e infortúnios,uma orientação paternal,cruel ainda em sua infância e pelo terrível contexto das secas cíclicas do Nordeste brasileiro,responsáveis pela agudização dos dramas de nosso povo em um país,cuja história foi sempre marcada por políticos corrutos,inescrupulosos e exploradores de seu povo. Os dias iam passando,com o Américo subindo na ATALAIA CO., e a casa sempre cheia de gente,com o Tássio fugindo para a casa dos tios e avós,onde sentia mais tranqüilidade. Quando reclamava que não gostava de tapetes e cortinas que o faziam espirrar,D.Lia brincava com ele e o apelidava de S.Francisco de Assis,o Santo que abominava a riqueza e o luxo e se identificava com os pobres! Flávio,o mais novo,não largava os pais!Dócil,alegre e infantil,era completamente diferente do irmão,inclusive com uma característica de não se concentrar muito no que fazia ou no estudo,que transformava a vida de D.Lia em um inferno para que o menino estudasse..Ficava empolgado com a inteligência do irmão,e quando Tássio falava,ele escutava atentamente.Sempre perguntando-lhe tudo o que não sabia,enquanto o mais velho explicava de forma erudita e detalhada,como era o seu estilo,preocupado talvez inconscientemente em preparar o irmão e informa-lo de coisas que ele não atinava. A diferença entre ambos era pouco mais de dois anos,mas quem não soubesse,juraria que era maior!O futuro demonstraria,que tal era a diferença entre ambos,que o que Tássio tinha de intelectual,sonhador,Flávio tinha de esperto e astucioso! Na manhã de 1º de julho de 1950 Américo entrou radiante em casa.Como era seu costume,passara pela banca do “Jão Lemos” e soubera da nova!Fora premiado na Loteria Federal!
  • 21. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Também não parava de comprar bilhetes.Isto era todo o dia!Além disso,jogava no bicho e era assíduo cliente da Loteria Federal. D.Lia,as vezes dizia: - Américo,você está gastando demais com jogo!E ele respondia: - Besteira Lia se necessitar de dinheiro adianto um vale lá na firma.Não esqueça que sou o gerente!Julgava que como gerente e gerador de lucros para a firma,ele podia pegar o dinheiro que bem quisesse e entendesse.Uma forma caipira de por em prática o móvel de posse,o “job” que deve orientar os executivos em seu ambiente de negócios. Na manhã que ficou rico,premiado em cento e cinqüenta milhões de cruzeiros na Loteria,deu um almoço de estouro,no qual estiveram presentes os parentes de D.Lia,como a Antonina e o Marcondes,que eram noivos e moravam defronte da residência dos Silva,na Rogério Junior,uma rua de classe-média B,repleta de meninos que batiam bola todas as tardes nas calçadas,e bola-de- meia nas ruas, onde figuras do bairro idolatradas pela molecada como,o Babá,que foi um astro no Flamengo,do Rio,e o Zé Urbano,um dos maiores goleiros do Nordeste,aprenderam futebol nestas pelejas. A rua que fervilhava de meninos preparando cerol e empinando pipas,invariavelmente “explodia” em tumultos e brigas por causa destas atividades,jogos infantis de gravuras Eucalol que inundavam os lares ou tampinhas cheias de sabão nos jogos de calçada.bocas quebradas,dentes deslocados na boca os meninos entravam em casa aos berros pedindo socorro aos pais desesperados.Américo e D.Lia,ciosos da educação dos filhos não conseguiam mantê-los em casa,porque junto com o Erlânio,filho da empregada,se envolviam em brigas desesperadas,se afastando dos estudos e muitas vezes envolvendo os pais nas disputas de rua. Américo Silva tinha pavor à rua.Os meninos lançavam bolas pelas janelas das casas,as brigas nas calçadas por pipas e cerol eram constantes.Invariavelmente,quando fazia a sesta de almoço,Américo furava uma bola por semana,na ponta dos ferros do seu portão,toda a vez que a bola
  • 22. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. entrava de casa a dentro!Depois sorrindo e assobiando se deitava para dormir até as 14:00h quando foltava para a ATALAIA. Enquanto os meninos na calçada choravam e gritavam desesperados porque viram o objeto de sua felicidade,a bola de borracha,estourada nos ferrões. O episódio mais forte a envolver Américo Silva ocorreu em um dia em que ele se deparou ao voltar para casa,com o Erlânio,sangrando por tudo quanto era beiço,de um murro que um tal “cara-de-gato” muito mais velho e forte do que o menino,tinha lhe aplicado. Américo não pensou duas vezes largou o paletó para lá e atravessou a rua. Cara-de-gato era quase de sua altura,lá por um metro e oitenta,cheio de força e juventude,mas Américo aplicou-lhe logo uma rasteira e um soco na cara,o e rapaz saiu direto para o pronto socorro!Nem sequer voltou para saber o ocorrido.Logo depois ele,se sentaria na mesa,e fez uma excelente refeição com duas cervejas e uma travessa de “baião-de-dois”.Saindo em seguida,célere,assobiando como era seu hábito,para a ATALAIA CO. como se nada tivesse acontecido.Não media as conseqüências de seus atos e os efeitos que depois cabia a D.Lia apaziguar,pagar as despesas e reconciliar as partes. Era ela que ficava para resolver os impasses,diplomática,prometia que o filho da empregada não andaria mais nas ruas e os vizinhos que a consideravam em um patamar social muito mais alto,terminavam por se aquietar. Na manhã que festejou a sorte na loteria,ele e o Marconde tomaram um porre de loucos,no que foram acompanhados pelo Ubiratã,irmão de D.Lia,que também ficara de porre.Lá pelas tantas,o Marconde sonhou que uma velha estava correndo em cima do muro,e o ameaçava com um cabo-de- vassoura!Gritou em convulções,e morto de bêbado.A Antonina pensou que o noivo ia morrer,gritou,Américo Silva e o Ubiratã gritaram também,as crianças choravam.D.Lia tentava acalmar e gritava: - Calma gente,foi só um pesadelo!Mas não adiantava.Depois de vomitar muito o Marconde se acalmou e a festa foi encerrada.
  • 23. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Na verdade,o Marcondes era outro”pau-d´água”,bebia cachaça como ninguém pode imaginar e tirava gosto com farinha de mandioca!Nada sentia,até que a cirrose o apanhou lá pelos cinqüenta anos e o levou,de vez! Entretanto ele era um químico muito competente, um bom amigo,jovial,sincero e sempre pronto para ajudar! O Ubiratã,era outro pau-d´água,Mas tinha o pavio curto!Quando bebia,trincava os dentes e se pudesse acabava com os inimigos,que ele fizera aos montes,lá pelo interior,quando ia aos casamentos e sem avisar,tirava logo a noiva para dançar! Confiava no prestígio político e nas amizades do pai,funcionário público e agricultor próspero,político,naquelas terras,àquele tempo,frias e distantes de tudo!Toda questão,toda querela,o Ubiratã se metia.Parecia um advogado em potencial,mas que nunca gostou de estudar!Conheceu vários colégios e inadvertidamente,sempre o pai recebia um leve convite para transferir o filho,que além de não estudar,chamava para briga até professores! Toda esta vida agitada,junto com o Marconde e o Américo,seu cunhado e companheiro de farras,não o impedia de se reunirem e “bebericarem” até que o Américo se abraçasse cantando e discutindo tudo que constituía a boa-vida que iam levando. Invariavelmente,as tias velhas apareciam para almoçar com o casal e o Américo transformava aquela visita em brincadeira e para isto utilizava pequenos goles de cachaça e instigação de questões entre as velhas,que acabavam por se engafinhar por causa de dívidas entre elas ou pequenas coisas como empréstimos de galinhas poedeiras que nunca voltavam ou ninhadas de patos ou pintos,que nunca eram divididos equitativamente.O Américo sorria que caía no chão chorando de tantos relatos.Depois ele apaziguava as tias e ia deixa-las em casa quando brigavam até terminar a visita. Os dois casais,o Américo e D.Lia e o Marconde e a Antonina,eram como irmãos!O futuro faria com que esta amizade desaparecesse como tinha nascido,ficando apenas,o aspecto formal.
  • 24. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Quando Maria,a filha mais velha dos Silva nascera,o Marcondes foi o padrinho,e como a Antonina já era madrinha do Tássio,a amizade atingiu seu ponto máximo.Agora eram compadres e tudo corria qual “um mar-de-rosas”. A loteria veio retirar os Silva da tranqüila madorna de membros da classe- média e transportá-los para o mundo dos novos ricos,cheio de surpresas,alegrias e decepções que são o contexto da vida! Não tardou que o Américo comprasse uma nova casa,uma velha residência em estilo colonial nos arredores do Recife,cercado por um terreno de cerca de dez mil metros quadrados. D.Lia se opôs de início.Achou a casa velha demais,muito rica e carente de reformas.No entanto Américo Silva não se fez de rogado,reformou-a sob o pretexto de que necessitava de mais “status” e que no futuro lotearia os terrenos periféricos,enquanto no presente,as crianças poderiam brincar sem limitações naquele paraíso natural,repleto de árvores seculares,samambais,e flores naturais que brotavam aqui e ali,lianas que iam do chão até o teto mais alto das árvores de quase trinta metros de altura. As frutas,mamoeiros,jambos,cajueiros eram e profusão!Bananeiras surgiam de depressões onde a água se acumulava e goiabas e cajus enchiam o solo das matas que o cercavam.Pois era quase impossível saber quantos cajueiros e goiabeiras brotavam de todos os locais que cercavam a casa. Na verdade,Américo preparava um contexto para receber toda a Diretoria mais alta da ATALAIA CO. Os viajantes que vendiam para a firma,os comandantes e pilotos que transportavam mercadorias pelo Brasil inteiro.Enfim,o seu círculo de amizades que ultrapassava muito o que D.Lia considerara que seria aceitável. Ataúlfo,o antigo dono,queria vendê-la porque estava em apertos e queria se livrar da imagem da morte trágica de sua esposa ocorrida recentemente!Encontrou em Américo alguém que tinha tanta pressa em gastar
  • 25. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. o que ganhava como gastava mais e mais dinheiro.Tal precipitou e consumou a transação. Na verdade vinte dias depois da sorte na loteria foi comprada a casa,quando quase que instantaneamente começou a reforma para um modelo tipo “bungalow” inglês e os Silva logo se mudaram.Havia euforia em todos os seus atos e os pais de D.Lia que visitara o casal se assustaram com tantos gastos e a profusão de almoços e visitas,regadas a vinho e outras bebidas nos encontros inicias na Casa dos Silva. Américo festejou à sua maneira particular bebendo tal quantidade de vinho que comentada pelo pai de D.Lia,fê-lo descrever, que não sabia o que era aquele” rio” que surgia de sua rede armada em uma das inúmeras varandas de sua casa,em um dia que bateu a sua porta para entrar no casarão.Ele que era um senhor sóbrio,de hábitos simples e criado pelos frades que o educaram. D.Lia comprou tudo novo e não faltaram as mesas de “ping-pong” para as crianças que logo atraíram a molecada da vizinhança e o primo Atílio que era como um irmão para o Tássio. D.Lia logo começou uma seleção dos moleques da vizinhança que poderiam brincar com o Tássio e o Flávio, e na verdade seus escrúpulos eram tão grandes e o espírito de elite tão pronunciado,que em um bairro de classe-média só ficou mesmo o primo Atílio.Ninguém sobrou mais para conviver com os dois meninos na grande Mansão dos Silva.D.Lia mal viu sua renda e seu status alterar-se e logo tratou de retornar aos hábitos e padrões que se apegava freneticamente.Este era seu lado negativo,em uma senhora cheia de qualidades excelsas e educação refinada.Caráter e senso de justiça inigualável. A nova residência tinha aumentado em muito o círculo de amizade do casal e não raro,os domingos ficavam lotados de caras novas.Havia sempre caras novas! Americo Silva e D.Lia adoravam isso!Quando Tássio retornou da casa dos avós onde passara as férias do fim-de-ano,notou que a atmosfera do lar tinha se transformado,desaparecendo a euforia inicial dos pais,com D.Lia cada vez mais
  • 26. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. cismada com o marido e olhando desconfiada para os cantos da rica e velha residência.
  • 27. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. CAPÍTULO II A CASA DE YEDDA. O casarão dos Silva dava de perto para uma rua quase deserta e não calçada.Na verdade,apenas seu jardim lateral gramado,cujo tapete verde contrastava com a sua branca silueta,a separava desta rua deserta,onde a areia atolava todos os carros que ali passavam.Quem quisesse entrar de carro na residência tinha que vir pelo portão principal da Rua do Rei,frontal e cerca de quatrocentos metros da parte lateral e cheia de janelas, daquela antiga casa colonial.Ora isso a tornava mais e mais inacessível. Além das inúmeras mangueiras e cajueiros que enchiam o lado direito da casa,Américo mandara fazer um jardim gramado,e plantou várias mudas de coqueiros anães que não tardariam a dar cocos verdes em profusão,alimentando os “drinks” e os pileques que ele e suas visitas se entregavam nos fins-de- semana e nas visitas noturnas que se prolongavam até meia-noite e uma hora da madrugada. O lado esquerdo da casa grande guardava ainda o aspecto e os traços marcantes do tempo, de velha mansão colonial que fora outrora. Uma velha e estreita estrada de blocos irregulares se estendia a procura da Rua do Rei,distando cerca de quatrocentos a quinhentos metros da residência como uma Via Apia para a saída lateral da residência,onde pairava um imenso e portentoso portão de acesso para carros e caminhões da ATALAIA CO.que às vezes pernoitavam sob a proteção do casarão. Este imenso portão a isolava do mundo exterior!Reforçando a imagem de isolamento,de distância que ao cair da noite transformava a vivenda em uma
  • 28. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. mansão misteriosa.lúgrube e distante,que desaparecia entre a verdura quase fechada das árvores,um um quadro fantástico e de aspecto sobrenatural. À direita e a esquerda daquela via antiga,rústica e estreita de paralepípedos,o terreno era cheio de cabaceiras,carrapateiras e um capinzal que parecia um tapete verde de perder de vistas.Eram inúmeras neste sítio,as plantas medicinais,como a costela-de-adão,o pega-pinto que servia para tratamento renal,o quebra-pedra de utilização idêntica,o boldo-da-índia,e até o hortelã. Américo Silva era um sonhador mas sua mente habilidosa para ganhar dinheiro e criar projetos fantásticos não era igualmente eficiente para materializá- los,organizar seu crescimento,monitorá-losesobretudo mantê-los!Isto porque sua paixão pelas mulheres e a “boa e doce vida” terminava sempre por fazê-lo jogar fora tudo que poderia ter sido o arrimo da esposa e dos filhos como se aquilo fosse uma característica de uma cultura ou de um traço genético herdado. D.Lia por sua parte não se preocupava muito em economizar.Tinha também,como ele,as ilusões da juventude que criam nas moças de classe-média aquela permanente ilusão de serem ricas!Gostava de gastar também,de consumir além de suas posses,pois a infância e a juventude de disciplinada contenção em um colégio de freiras,criara nela a disposição e a certeza de que não nascera para vida ascética. Quando interna no período de estudante,até as velas que consumia para estudar eram apagadas precocemente e poupadas até o último toco,porque ela sofria os terrores do remorso de que pudesse estar desperdiçando os parcos recursos que seus pais ganhavam com tanta luta e dificuldade,naquele tempo.Este escrúpulo ela mantivera por muito tempo,principalmente por causa do pai honesto funcionário público e de sua característica consciente e responsável. Depois com melhores tempos ela foi relaxando aquela atitude e os primeiros desastres financeiros do marido foram esquecidos quando começaram os tempos da ATALAIA CO.,desaparecendo completamente de sua memória quando o marido ficou rico com o prêmio da loteria.Afinal,ninguém é de
  • 29. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. ferro,e o ser humano,embora consciente de suas limitações foi feito para a felicidade,mas aí reside um dos momentos de maior perigo no curso da vida,o ufanismo de que afinal aportou no “paraíso” para sempre!.. No entanto ao chegar na Rua do Rei,D.Lia nunca simpatizara de todo,com a nova residência.Na esquina contígua,havia um “cabaret” ou castelo,uma casa de mulheres-dama,que desenvolvia suas atividades de maneira assídua e ininterrupta por noites seguidas acompanhadas de músicas tristes que caracterizavam em muito o contexto infeliz da vida das perdidas. D.Yedda,a proprietária,não perdia tempo na exploração da mais antiga das profissões e D.Lia sempre desconfiava que o marido fazia trânsito por ali,após os serões da firma.Olhava para lá coitada,com tanta repugnância que chegava ao exagero. - Ora,comentava ela,o Américo deveria ter visto que esta casa fica quase em cima de um “cabaret”.É verdade,que é em outra quadra,mas,aqui ainda é muito deserto e isto pode atrair gente ruim!E como tinha razão! Com o tempo ela foi associando as desconfianças do marido à promiscuidade da casa de Yedda,aos bacanais e festins que lá ocorriam. Yedda por sua vez,se deprimia quando olhava para o lado da casa de D.Lia,pois era infeliz demais para suportar aquele “paraíso cojugal” que ela considerava,o feliz lar de D.Lia e Américo. Olhar o purgatório,quando se está no inferno,é bem mais doloroso do que se pode pensar! Como a felicidade mesmo incompleta, é transitória neste mundo de mortais, veremos que, em seus sofrimentos, aqueles destinos em breve se comparariam. Quando a tarde caía, D.Lia sentia alguma coisa diferente na casa.E quando ouvia as tristes canções da Casa de Yedda,se entristecia e caía em profunda melancolia que se transformava pouco a pouco em depressão.
  • 30. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Canções tristes!Porque melancólicas são as canções dos bordéis que cantam a queda das meretrizes e suas vidas de servidão humana. Naquele tempo o ciúme do marido,o rancor por morar tão perto daquele “cabaret”,faziam da triste e elegante senhora uma pessoa enraivecida e cheia de preconceitos para com as meretrizes. É muito difícil a prática da caridade com os infelizes,quando se sabe,ou se supõe, que eles podem ser a causa de nossa infelicidade! Esta desagradável proximidade,cercada por um círculo de preconceitos sociais e religioso tão significantes,depois dos ciúmes justificados de Américo foram aos poucos criando uma repugnância da parte dela com a nova residência,ao ponto de fazer com que julgasse sentir uma tristeza mórbida,sempre que a noite se aproximava! A noite sempre despertou no homem moderno o pavor remanescente do tempo em que seus ancestrais se escondiam, trêmulos e apavorados pelo assédio das feras no interior das cavernas ainda na alvorada do homem. Tássio assistia esta transformação com pesar e melancolia, e foi assim que começou a viver os dramas íntimos pelos quais passava a alma de sua mãe.Suas lágrimas,suas suspeitas justificadas até certo ponto,da conduta desleal do marido ocupavam a maior parte de seu tempo em casa! Sensitivo,ele captava estes sentimentos e também se angustiava.Passou também olhar a casa de Yedda e julgar que o pai poderia estar lá,todos os dias após o trabalho,o que era um exagero evidente...Mas algo lhe dizia que havia um certo exagero da mãe naquela avaliação.Apiedava-se dela e admirava-se como o irmãozinho nada se ligava e percebia.Foi nesta época que D.Lia aprofundou as suas cismas,achando que o casarão tinha qualquer coisa de sobrenatural.As vezes percorria os banheiros e achava que abriam os chuveiros de supetão!Outras vezes ouvia crianças chorando,bebês,em uma casa que as crianças já passavam dos cinco anos de idade.Vultos começaram a ser vistos por ela ao cair da noite e seus apelos deixavam o marido insatisfeito e inquieto!
  • 31. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Estava criado o ambiente propício a esta fenomenologia já que os dois pólos sensitivos,mãe e filho,estavam ativados,ligados e postados favoravelmente aos eventos desta natureza.
  • 32. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Capítulo III O Trem dos Desgraçados. A composição cortava célere a planície sertaneja e bamboleante levando a carga humana sofredora. Os miseráveis eram aos milhares, homens,mulheres,velhos e crianças que se lançavam em direção ao Recife vindo Agreste pernambucano, na esperança de alívio da fome e da miséria! Nos primeiros vagões iam os que conseguiram reunir alguma coisa além da roupa do corpo, esfarrapada e remendada. Nos vagões intermediários iam os pingentes mais necessitados e cheios de pequenas doenças,que muitas vezes eram responsáveis pelo fedor nauseabundo que acompanhava o Trem dos Desgraçados. Nos últimos elementos da composição, juntamente com os animais de carga,gaiolas de passarinhos, algum gado remanescente da tragédia secular,vinham os maltrapilhos e miseráveis retirantes nordestinos vitimados pela terrível seca do Quinze. (1915) O tradicional e secular drama fizera naquele ano uma verdadeira raspagem nos contingentes humanos que povoavam os sertões do Ceará,Pernambuco,Sergipe,Bahia,Alagoas,Rio Grande do Norte e Paraíba.O gado quase que desaparecera em sua totalidade e milhares de crianças perderam a vida antes dos três meses de idade.A Zona da Mata estava sendo invadida por flagelados que vinham do Agreste e do Cariri. Os miseráveis párias humanos olhavam para além das janelas dos carros azuis da Rede como esperassem que seus semelhantes compreendessem que eles desejavam sobreviver apesar daquele calvário.
  • 33. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Cada olhar era um raio de esperança em direção ao homem metropolitano que não entendia aquilo tudo,aquela invasão de maltrapilhos. Às vezes as barreiras sociais são cortinas fechadas à observação e ao entendimento entre os homens, e os que os exploram tratam de fortificar esta divisão e separar os homens por fúlgidos conceitos para justificar a dominação em um país em que a estrutura agrária durante quinhentos anos só serviu a este propósito,e que gerações de políticos transformaram este sofrimento em uma verdadeira indústria da seca. Quando o trem passava nas estações fazendo paradas regulamentares, nem os fiscais se arriscavam a subir nas plataformas,limitando-se a tocar suas sinetas mandando prosseguir. Quem tentava descer era empurrado de volta para aquele amontoado de corpos macilentos que se espremiam, pisando sobre as próprias fezes ou se machucando mutuamente dentro da maior e mais triste promiscuidade. As almas mais caridosas se reuniam nas estações do Grande Recife e Fortasleza ou arrecadavam algum dinheiro com os expectadores e os viajantes,entregando pelas janelas, o resultado daquela coleta minguada. Os pobres,como condenados a um purgatório terrestre, estendiam as mãos amareladas cheias de veias azuis e muitos deles ao receber as esmolas retiravam os chapéus em sinal de respeito só devido a reis e papas, quando gritavam fraquinhos na proporção que as forças permitiam-lhes: - Deus pague o auxílio e que te dê muitos anos de vida e felicidade!Era isso que eles sonhavam também para si,o tanto quanto sinceramente desejavam aos outros! E lá ia o Trem dos Desgraçados a mexer-se, a chiar em suas rodas,apitando,apitando e lançando-se em direção à estação seguinte,procurando o Recife e as demais capitais do Nordeste também minguando pela falta de água e de bens extintos pela seca,pela estiagem cruel que se repetia em ciclos naturais.Ela,o Trem dos Desgraçados se
  • 34. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. escondia ao longe,por trás dos canaviais que tomavam um lado e outro da composição e reaparecia apitando e fumegando a toda vcelocidade como uma serpente sinistra daquele flagelo na espécie humana. Marieta,Julinha,Maria e Severino se espremiam nos últimos vagões,encostados uns nos outros,sonolentos pela noite mal dormida e ansiosos por chegar. A raçãozinha de pirão de milho já terminara e as esmolas não tinham chegado àquela composição. Severino abraçava a esposa com Julinha de dois anos no colo, e rezava sem parar: - Nossa Senhora,São Francisco de Canindé, ajudem-nos a chegar vivos a ao Recife que eu rezo trinta terços sem parar antes de comer o primeiro prato de comida do dia. Marieta reclamava: - Ora Severino,quem dixe que eu vou rezar nada de uma pôrra!Vou é comer o primeiro prato e a primeira migalha que aparecer.Ixe homem,tu é doido varrido.Primeiro a barriga,depois a reza! E completava: - Tu acha que Deus sabe que a gente existe?Já perdemos tudo e eu estou com o pulmão inutilizado. Abre os olhos home e dexe de falar e dizer tanta besteira! O pobre e crédulo homem, criado dentro da religião e das igrejas que completavam no campo, a tarefa de manter submissos os homens ao seus senhores feudais,balançava a cabeça para lá e para cá,como se estivesse reaprendendo e censurando a esposa incrédula,desesperada e revoltada. Marieta era uma dessas mulheres sertanejas,curtidas ao sol,que saía de manhã cedo quase em jejum para capinar até se apoiar no cabo da enxada.Esquelética pelo sofrimento e o maltrato que os senhores em quase sua totalidade mantém os meeiros sem opção,tinha quase um metro e oitenta de altura,olhos verdes faiscantes,rosto de ossos laterais
  • 35. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. preeminentes,denunciando sua origem mestiça,artérias à mostra no pescoço e nos braços ainda em plena juventude. Só tinha mesmo cabeça em cima daquele corpo esguio e cheio de pelancas como quem fora gerada gorda e formosa e perdera as carnes pelo sofrimento e pela necessidade. Seus olhos verdes, traço dominante sob a testa arredondada, que mais parecia uma face de cabaça murcha pela ação do sol e do vento,era o indício de uma alma forte e presente,rebelde de Deus e dos homens! Fizera tudo para salvar a família da inanição, quando a seca se abatera sobre o Agreste.Apanhara água á distância de dez quilômetros de casa dentro de um grotão que só herói era capaz de escapar. Muitas vezes,deixando Maria em casa mexendo o angu ou carregando Julinha nas costas quando pequena,já não podia mais caminhar.Descia o grotão com a criança e subia com a menina agarrada à sua cintura equilibrando a lata d água na cabeça. Transportando aquela água barrenta, oscilando de lá para cá,ferindo os pés nos seixos que se acumulavam nos caminhos tortuosos do Sertão, havia momentos que parecia que iam despencar despenhadeiro abaixo. E lá reiniciavam o retorno de dez quilômetros sob um sol escaldante e pedregosa de terra seca até à casinha de taipa,onde morcegos habitavam no teto e barbeiros se infiltravam,muitas vezes com suas picadas,dizimando legiões de nordestinos pela Doença de Chagas. À noite,quando Severino retornava da faina e voltava com um tatu,um preá-do-mato,e ultimamente com nada,ela coitada,desesperada,ainda cumpria religiosamente seus deveres matrimoniais! Antes,quando ainda havia esperança,tinha sido assim. Rezava, não praguejava, e sentada com o marido no banquinho tosco que ficava fora de casa,olhava a paisagem de fogo ressequida e então comentava:
  • 36. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. - Vamo embora dessa desgraça Severino,isto aqui é o inferno!Do jeito que vai,vamo tudo é morrê de fome e sede! Severino acendia o cachimbinho de barro e humildemente dizia: - Fica quieta muié!Deus vai ajudá!Tô chegando a vinte pele-de- tejuassu,O que vai dar para gente sair das terras do Cel.Raimundo e pegar a composição para o Recife.Ouvi dizer que lá tão abrindo muitos asilos para retirantes e o governo tá sustentando o sertanejo inté passar esta desgraça de seca. Aí então ela se levantava,tossindo e cuspindo raias de sangue que cobria com a terra,apressada para o marido não ver!.. - Pois vamo logo,senão eu não agüento!Nem eu nem a menina que está emagrecendo demais cada dia que passa. Os olhos se enchiam de lágrimas quando ela passava as mãos pela cabeça da criança que brincava com os ossinhos na porta irregular da cabana. Aquilo tudo tinha fortes cores de tragédia e o fenômeno que se repetia há quinhentos anos ceifava vidas e trucidava homens através dos tempos,foi aos poucos revoltando,tornando-a descrente de tudo,chegando a tornar impossível qualquer relação amistosa entre ela e o Criador,a quem ela responsabilizava pela tragédia. Era demais para que ela pudesse entender a complexa realidade que enfeixava a responsabilidade dos governantes,das instituições com aquele quadro terrível e doloroso de extinção!A responsabilidade social não é identificada em um povo ou um homem em estágio religioso ou teológico como era o Nordeste brasileiro do século passado e o Brasil até a Obra –Os Sertões,de Euclides da Cunha que divisou etnias,responsabilizou governantes e chocou os padrões da insípida república que surgia de um Império vacilante e decadente. Os governos estaduais e municipais eleitos à bico-de-pena pelos latifundiários e donos de terras,se alinhavam a um Governo Federal,no
  • 37. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Rio,alienado de tudo e perdido nas lutas entre Minas e S.Paulo pelo domínio da arena do café com leite.A indústria da seca era uma extensão,um complemento do mecanismo de poder que oprimia não só os nordestinos,mas a todo o povo brasileiro ao longo do início do século,durante a queda da República Velha e do Estado Novo presedido por Vargas. Depois de alguns dias pelas calçadas de Recife,Marieta começou a ter febre alta,delirando sem parar,dizendo coisas que feriam os ouvidos dos Severinos,dos Mororós,dos Lopes que se acotovelaram com eles no último vagão ao longo da longa viagem do Agreste até o Litoral. Aquilo tudo soava como heresia aos ouvidos dos crédulos e pobres retirantes. Às vezes ela segurava as mãos do marido como se esforçasse para sobreviver à fome,à sede e ao calor implacáveis que deixavam seus olhos faiscantes,salientando mais ainda seu estado doentio. Marieta caminhava para morte com sérias lesões físicas e psíquicas comprometendo todo o edifício que a vida lhe propiciara para a sobrevivência.Ela era protagonista de um contexto que ao se agudizar atingia sobretudo os inocentes,grandes vítimas destas tragédias. - Ela não bota amanhã!Diziam os outros, colocando as mãos em sua testa porejaste.Bom mesmo era chamar um padre para lhe dar a Extrema- Unção! Mas Severino paciente ia molhando uns trapinhos e colocando nos braços,na testa e no peito de Marieta,enquanto rezava e rezava sem parar. Quando o caminhão levou as três famílias que estavam no saguão da estação de trem para o casarão da Rua do Rei,a febre de Marieta tinha cedido e ela tossindo,fraca,já falava normal e conseguira se sentar. Os poderes públicos se limitavam ao assistencialismo precário.Cediam galpões ou casarões como aquele,sombrios e afastados onde os miseráveis
  • 38. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. se abrigavam,e quando muito as irmãs de caridade e os frades da Ordem de S.Francisco se encarregavam de colher esmolas ou arranjar algum trabalho para as famílias. Quando a seca ia embora,davam sementes,e com o que tinham reunido voltavam para suas terras,como meeiros dentro de um sistema de escravidão que se repetia até a próxima seca,que hoje ainda subsiste limitando o aproveitamento das águas represadas e ampliando o poder político dos que se alinham ao latifúndio improdutivo. O fenômeno atingia e atinge contingentes humanos diversos.Mesmo nas cidades do Nordeste brasileiro,muitos imigrantes estrangeiros foram tratados com pouca diferença,estabelecendo linhas de comércio fracas,na espera de dias melhores.mais operosos e de uma cultura muitas vezes menos submissa,estes estrangeiros conseguiam se situar melhor do que os retirantes. O caso de Joaquim de Sá Aragão,cidadão judeu e português,que chegou ao Sobral,CE,vindo de Portugal no fim do século dezenove,foi um desses casos de estrangeiros imigrantes que se confundiam com retirantes e que teve outro destino. Vinha solteiro com algum dinheiro e experiência de agricultor em Portugal.Ao chegar durante o Quinze,só encontrou gente morrendo,terra seca e gado moribundo.Sem ninguém para trabalhar e roça para plantar. Comprava o gado que morria, estirava o couro e vendia a carne por um terço do preço. Logo ficaria rico! Quando a família de Severino e Marieta se instalou no casarão da Rua do Rei, com clima ameno,água de coco abundante,além das frutas e esmolas de pessoas caridosas,não tardaram a melhorar de ânimo e saúde. No entanto tal não aconteceu com Marieta que não acompanhou a recuperação dos demais.A tosse prosseguia e a magreza aumentava.
  • 39. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Veio o Dr.Leandro Moura que era muito atencioso com os retirantes e não cobrava nada.Diagnosticou tuberculose! Os demais se afastaram dela.Ficou dormindo em um quartinho dos fundos,sem o marido e sem os filhos.Onde passava horas sentada olhando para o pé-de-limão que dava os galhos quase na janela de seu quarto. Não deixava nunca seu cigarrinho de palha e também não se conformava com seu estado. A meio-dia e ao cair da tarde quando as pessoas se recolhiam para as refeições,ela saía a andar devagarzinho,passeando,tossindo e caminhando com aquele passo de marreca que era a sua principal característica. O marido se afastava com medo de pegar tuberculose e ela não podia tomar a filhinha nos braços.Era uma tísica!Chamavam-na assim,porque além de doente,era agressiva e antipática.Olhava todo o mundo com ódio estampado no rosto,desespero e rebeldia em relação a Deus e aos homens. Apegou-se ao casarão da Rua do Rei e confessava para Maria que era única que ainda chegava perto dela: - Eu gosto daqui!Olhe a minha sorte,depois de escapar de uma miséria daquelas,fico tuberculosa.Eu sou é filha do Diabo e não de Deus! - Tem paciência criatura,o doutor disse que se tu tiver repouso,vai melhorar.Vai ficar boa! Ela sorria incrédula,fumando e cuspindo sem parar. Mas tu tens que deixar este cigarro desgraçado,ele está te matando!Repetia Maria insistente. - Que morra!De que vale uma vida dessas?Não posso dormir com meu marido,não posso tomar minha filhinha nos braços.Todo mundo foge de mim como o Diabo da Cruz!
  • 40. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. - Santo Deus Marieta,exortava Maria,tu dexe jeito vai morrer e vai pro inferno!Não tem paciência,não reza,não sacrifica nem o cigarro.E saía de lá se benzendo e chorando. Em meio aos inúmeros retirantes que ali se alojavam,existia uma pequena figura singular.Chamava-se Jesuíno! Clarinho,pálido,só andava de camisola branca com três botãozinhos na frente.passava o dia brincando e mexendo com tudo que era retirante.Davam-lhe caixinhas de fósforo e ele as colocava em cima de um caminhãozinho de madeira e molas de arco-de-barrica,enquanto ia pelo meio da casa gritando “slogans” que ouvira de motoristas nas estradas de Garanhuns. Todo o mundo era louco por ele que irradiava uma aura benéfica,sempre sorrindo e dizendo palavras de conforto para os que se queixavam de reumatismo como a velha Carminha e o velho Aristeu. Às vezes sentava-se de camisola no muro externo do casarão e quem passava ouvia dele: - Uma esmolinha para a tísica!Uma esmolinha para os retirantes!Uma esmolinha para a tísica que está morrendo de inanição e não tem dinheiro para comprar remédios! Quem passava dava sempre,porque a beleza que irradiava da pobre criança chamava á atenção e enternecia os corações. Quando a latinha enchia dava ao Aristeu para ir trocar na bodega de Seu Gerônimo,e de novo,ficava “sol à pino”,sentadinho no muro,pedindo aos que passavam para o almoço: - Uma esmolinha para a “tísica”!Uma esmolinha pros flagelados da seca! Quando não estava entregue a esta tarefa passava horas seguidas e esquecidas debaixo do limoeiro,brincando com os bonequinhos feitos de sabugo de milho,feliz da vida,na sua pobreza e inocência dos seis anos.
  • 41. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Marieta chegava na janela de seu quarto e ele se levantava com um pouco de medo olhando disfarçado para ela. - Marieta sai desta janela senão tu vai piorar!Gritava a criança.Então ela sorria compreensiva.Era só para quem ela sorria,ainda! O menino retirava dois limões escolhidos e bem amarelinhos e devagar ia chegando perto dela e estendendo a mão lentamente.Ia deixando que as frutas escorregassem para aquela mão cheia de veias azuis salientes,trêmula,pálidas e magérrimas que mais pareciam mãos de um cadáver. - Olha cobra,menino!Brincava a “tísica”.E sorrindo,falava com a voz já fraca: - Obrigado pelos limões.Que Deus lhe pague! Entrava resmungando palavras ininteligíveis, tossindo e tossindo...Ele saía correndo,arrodeando a casa grande e chegando devagarinho como era seu jeito dizia no ouvido de Maria: - Marieta ta tossindo de novo!Dei uns limões a ela para fazer chá!Ela vai morrer!Ela vai morrer! Maria ouvia a criança falar e começava a chorar.Então gritava lá de dentro para D.Carminha ouvir: - D.Carminha,olha o chá de Marieta,ta tossindo de novo! - Já vou,gritava a velha e ia toda corcunda se segurando nas paredes de tanta dor reumática.Pegava os limões que Marieta colocara na soleira da porta,ia cortando e lavando às pressas em uma velha bacia,para fazer o chá. Quando Marieta tomava o chá,parava de tossir e adormecia fraquinha que dava dó. - Tá cada vez pior!Murmuravam baixinho de uma porta a outra do casarão.E quando Marieta dormia,imensa,magérrima,esticada no colchão
  • 42. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. de palha jogado no cimento,Jesuino vinha devagarinho e parava na porta do quarto,observando ternamente: Ali ficava triste,parado,com a mãozinha segurando na porta entreaberta olhando a “tísica” que dormia gemendo e gemendo. Geralmente esta cena demorava de quinze a vinte minutos e logo depois,os gemidos cessavam e Jesuíno ia saindo de lá devagarinho,e lá estava de novo brincando debaixo do limoeiro,a sua sombra refrescante,onde o odor do limão maduro se confundia com o cheiro das romãs e das flores de caju que existiam por todo o canto prometendo uma safra de arrombar! Mal terminara a floração dos cajueiros e as primeiras castanhas apontavam nos inúmeros pés que cercavam o casarão,Marieta começou a morrer.De nada adiantavam mais os xaropes e os chás-de-limão que lhe davam. Antes de morrer,tinha crises de asfixia que deixavam-na toda roxa,e mesmo sem forças,ela praguejava sem cessar e lançava olhares terríveis para os moradores que se aproximavam pela curiosidade,ato que nunca tinham feito por caridade enquanto ela vivia isolada e tinham um terrível e apavorante medo dela e da doença. Severino,o marido,chorava e dizia: -Se eu fosse rico,tinha mandado pru sanatório e ela tinha se curado!E desatava a chorar e se maldizer da vida. Jesuíno corria do limoeiro para a janela,subia e ficava lá olhando a moribunda com piedade. Marieta sem sangue,Marieta pálida como cera,que sentia frio e tiriricava sem parar na agonia da morte.E agoniada jogava a cabeça de um lado para o outro.Esta agonia durou um dia e uma noite! Quando os primeiros albores da alvorada entraram pelas portas e janelas da frente do casarão e os passarinhos começaram a orquestra matutina
  • 43. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. nas goiabeiras,cajueiros e romãzeiras,ela foi se aquietando,suspirando em ciclos cada vez menores.Via-se que diminuía a atividade pulmonar.Até que se imobilizou,quando duas lágrimas rolaram pelo rosto sofrido e macilento,onde uma forte estrutura óssea se salientava. Parecia uma estátua de cera onde a estrutura óssea lhe dava um aspecto impressionante. O aspecto de uma grade ou uma jaula que tivesse durante algum tempo,sob terrível sofrimento aprisionado um ser de dor. Severino,Maria e Julinha choravam copiosamente,alto,de forma desesperada,enquanto seguravam uma vela nas mãos da morta. Maria gritava desesperada: - Se ao menos tivesse chamado o padre! - Ora,ela não queria ver padre,nem reza,de forma alguma.Respondeu Severino se defendendo.e adoçou: - Deus agora se encarrega dela!Sofreu muito e era uma ótima mãe e esposa!E chorando muito continuou: - Só vi gostar de uma coisa na vida,foi este casarão!Dizia que isto aqui era o céu.Veja só!Com todo aquele sofrimento e isolamento! -Ela olhava para mim quando estava morrendo como se estivesse se despedindo.Disse Jesuíno,mais pálido ainda pela emoção que dominava o ambiente do velório.Então a velha Carminha dizia grosseira: - Vai te deitar Jesuíno.Não pregou o olho desde que a finada começou a agonizar... E todos olhavam para o menino de olhos brilhantes que não chorava e demonstrava uma profunda compreensão da morte. - Ele não derramou uma lágrima!Disse o João Quirino,carregador de água do casarão. - Ele é assim mesmo!Observou Carminha.E continuou: - É mais forte do que qualquer um de nós!
  • 44. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. A criança pálida e magrinha continuava rondando o corpo de Marieta e olhava-a com um profundo olhar de tristeza. De repente saiu correndo e deitou-se no pobre catre que lhe servia de leito,enquanto ia puxando os trapinhos que o agasalhavam,enquanto adormecia. Ao ,no dia seguinte,às seis horas da manhã,o casarão estava com as portas abertas e os homens tinham jogado cal no quarto da morta,e,em seguida tinham enterrado o colchão no fundo do quintal,lá para os lados dos limites do casarão com as demais casa que começavam a surgir no quarteirão imenso da Rua do Rei. Marieta fora enterrada muito cedo,enquanto a criança corria inquieta da cozinha para a ante-sala e de lá para o iotão,como se estivesse procurando alguma coisa.Retornava freqüentemente para olhar o quarto da morta,e então escutou o que os homens que lá estiveram trabalhando,conversaram: - Ela era doida por este menino.Gostava mais dele do que da filha Julinha,dizia o João Quirino. - E ele por ela,dizia o Leôncio que completava: - Já viu como ele está inquieto?Correndo de um lado para o outro?É procurando a finada! - É mesmo,confirmava o homem que trazia uma placa de carreteiro no chapéu. Nos dias que se seguiram,Jesuíno silenciou.Corria pouquinho e passava os dias de baixo do limoeiro.De repente,erguia-se,ia até á janela do quarto da morta e dizia: -Marieta,tu ainda está aí?Eu sei!Eu sinto que tu ta aí!E voltava sorrindo para dentro de casa,correndo. Um certo dia a velha Carminha estava lavando roupa lá no oitão do casarão,quando a dor nas cadeiras se agravou.Neste instante Jesuíno foi se
  • 45. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. aproximando silencioso.Parou pálido diante da mãe,de olhos brilhantes e ansioso, olhando a água que se despejava naquela tina grande,observou: - Mãe,eu vi a Marieta neste instante! - Ai,já não chegam estas dores e você me vem com esta conversa besta,menino!Marieta já morreu e ta inté de “osso branco”... - Mas eu vi,observou a criança insistente e seguro de si. Estava muito assustada e se encostava na parede da sala sem querer que eu chegasse perto dela! - Quando me viu foi se afastando com as mãos apoiadas na parede,entrou no quarto do Seu Jão Quirino e de D.Chica Bandeira.Depois eu entrei lá procurei por ela no corredor,debaixo da cama,mas ela não estava mais lá!..Cadê ela,mãe?!Quando a gente moor,não desaparece?Por que a Marieta continua por aqui,mãe?Me diz..E insistia sem sucesso. - Vai brincar,menino!Dexe esta conversa sem pé nem cabeça!Exclamou D.Carminha apavorada. Enquanto isso Jesuíno balançara a cabeça e pulara a calçada alta gritando: - Eu vi mãe!Marieta ainda está aqui,não enterraram ela,não! D.Carminha benzeu-se e olhou para os céus batendo três vezes na boca: - Este menino tem cada coisa esquisita.Onde pode,onde já se viu alguém morrer e andar por aí para todo o mundo ver?!Nunca acreditei nisso.Marieta ta no outro mundo,bem longe daqui. E a vida do casarão continuava sua rotina imperturbável,com retirantes chegando e outros morrendo,enquanto outros,sabendo de notícias de chuva em suas terras,no longínquo sertão,iam embora para não mais voltar.
  • 46. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. No ano seguinte ao terrível terrível ano seco do Quinze, às vezes chegavam sacos de mantimentos,feijão,farinha de mandioca e rapadura,que as senhoras da sociedade traziam de esmola para seus famintos e necessitados moradores. Outras vezes elas vinham visitar os retirantes percorriam suas dependências em silêncio sepulcral,sem falar ou dar atenção a ninguém,importantes,distantes e frias,posudas,olhando para os cantos,apontando os telhados e em seguida,comentando alguma coisa entre elas.Iam aos fundos e anotavam.Jesuíno sempre as acompanhava,escondidinho,para que não lhe vissem.Em seguida corria para dizer à mãe que elas cheiravam muito! No dia seguinte vinha um homem fardado em amarelo e cáqui,com máscara e tubo nas costas e a criança o acompanhava em todos os cantos onde ele ia.Gostava mais quando ele ligava a máquina que trazia pendurada no pescoço e saía um pó branco que se espalhava. Um dia ele condenou a fossa lá embaixo e pregou um papel na porta dos fundos.Jesuíno corria sem parar atrás do homem e disparava na risada quando ele ligava a máquina e a pressão fazia o pó sair impregnando tudo! Entretanto ficou muito triste porque o homem demorava muito aparecer e quando vinha era depois de meses.Ficava então privado da diversão mais interessante que conhecia. Durante estes intervalos, estas esperas,amarrava uma caixa e com uma corda presa nesta e um caniço,repetia os gestos e a operação que o guarda sanitário fazia: - Fu!Fu!Fu!Fu e lá se ia fazendo aquelas fisionomias tristes e sofridas dos retirantes,sorrir de satisfação e de rara e extrema sensação de alegria.Eram momentos de refrigério e paz!Uma pausa para esquecer seus tristes destinos de marginalizados.Verdadeiros párias de Deus!
  • 47. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Naquela escuridão de tristeza,pobreza,infelicidade,dores,fome e desesperança,aquela criança era como uma luz que dissipava as trevas. Se alguém sentia dores ele corria para o meio do matagal aflito e de lá voltava com uma raiz ou folha de mastruce ou cidreira virgem para fazer um chá. - Jesuíno,vê se acha uma raiz de “quebra-pedra”,te dou cinqüenta centavos,gritava Seu Raimundo “Bêbado”.Ele atendia,mal ouvia o chamado,voltando em seguida com a dita raiz que aliviava as dores de rins estraçalhados com a imensa quantidade de cachaça que o homem ingeria para esquecer a sua dor.Às vezes,muito doente,bebia mesmo em jejum! - Toma cinqüenta centavos,menino! - Precisa não,Seu Raimundo,não deu nenhum trabalho.Corria Jesuíno para não receber o dinheiro.Mas,D.Carminha passava na frente e dizia: - Me dá os cinqüenta centavos Raimundo,que dá para comprar sabão para lavar os trapinhos dele. Jesuíno baixava a cabeça e se encostava na parede pelo lado de fora,olhando a mãe com aquele olhar de profunda tristeza,aparentemente reprovando-a.Nestes momentos D.Carminha tinha se acostumado a não encará-lo,pois dele emanava um forte sentimento de reprovação que lhe cortava a alma,enquanto os olhos cintilavam de uma forma que a deixava tonta e sem jeito.Seu olhar era tão forte que a mãe não sustentava vê-lo nos olhos.Sua percepção era tão aguda e a precocidade tão grande que a mãe se atemorizava diante e sua expressão de olhar.Isto fugia à compreensão dos retirantes. - Este menino é um santo,dizia Seu Raimundo “Bêbado”,quando a mãe se afastava.Vive aqui para servir todo o mundo,brincando alegre com uns sabuguinhos e pedindo esmolas naquele sol que dá dó: - É um santinho,dizia Maria,largando o ferro de engomar para o lado e com os olhos cheios de lágrimas,relembrando:
  • 48. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. - Marieta era louca por ele!Ele vive dizendo que vê a finada aqui.Ah!Se fosse eu que a visse!Será que ela está bem no outro mundo? João Quirino mascando fumo,sentado na soleira da porta da cozinha,cuspia e dizia: - Comadre Marieta sofreu muito.Deus teve pena dela.E Maria tomando o ferro,enquanto o soprava e reunia uma pilha de roupas para passar,completava melancólica: - Mas homem,ela morreu revoltada com Deus!Não aceitava deixar a filha e morrer daquele jeito!Disse isto baixando a voz propositalmente.Nisto Jesuíno que estava brincando debaixo do limoeiro gritou: - Maria,Maria,aos berros.Maria,o velho Jesuíno e Severino que estavam capinando,correram para lá,para ver o que a criança tinha encontrado e estava aos prantos: - Marieta debruçou-se ali na janela e quando olhei para ela,sumiu.Depois de fazer uma careta horrível e grelar os olhos para mim.Completou chorando: - Eu to com medo.Ela não gosta mais de mim.Está com raiva de todo o mundo! Os homens se entreolharam e D.Carminha foi carregando o filho,aos prantos para o outro lado do casarão onde uma brisa calma trazia dos cajueiros um forte cheiro de castanhas e de goiabas maduras. Na verdade crença ou experiência,os nativos da Polinésia asseguram e muitas tribos indígenas da America asseveram que os mortos se tornam mais perigosos e piores do que quando eram vivos!Essa crença e essas versões sobre tal dimensão do homem,é uma página obscura da Antropologia e entra em choque com as versões e os valores das religiões ocidentais.
  • 49. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. - Mas que conversa besta é essa,menino!perguntou a mãe com enérgica ignorância com a criança.Eu te castigo se tornares a dizer que viu a Marieta. - Mas eu vi,mãe!Repetiu a criança apavorada,conflitada pela ignorância da mãe.E insistiu: - Quando eu gritei,ela sumiu. Seu João Quirino foi saindo e cochichou no ouvido de Carminha: - Dexe o menino em paz!Estas coisas existem mesmo.E depois ele vivia conversando com a falecida,pode ter pegado uma impressão forte.Criança é assim.E completou: - Quem sabe,disse isso se benzendo,se ela não se liga no pequeno? Seu Raimundo “Bêbado” foi chegando,também fedendo à cachaça e com os olhos vermelhos,observou: - Dona do Carmo não brinque com estas coisas.Marieta era louca por esta criança.Quem sabe não resolveu ficar por aqui?E completou: - Este casarão está ficando mal-assombrado!Se eu começar a ver alguma coisa,por Deus que vou me mandar!Quer ver homem “se obrar”,me faça ver uma alma!Não agüento,não!É só do que tenho medo nesta vida! Nos dias que se seguiram a conversa pegou e só se ouvia os retirantes sentados do lado de fora no calçadão de pedra contando histórias de “visagens” e dizendo que o menino estava vendo a finada Marieta. Jesuíno já não brincava no limoeiro como lhe era usual e começou a ficar triste e emagrecer.Apareceu uma tosse de garganta e toda noite D.Carminha passava as horas da madrugada insone,passando banha-de- galinha e enrolando o pescoço da criança.Dormia a maior parte do dia e ninguém o via mais pedindo esmolas na calçada. Triste e calado pelos cantos ele foi definhando,tossindo e um dia veio o doutor,novamente.Examinou o menino,ouviu a respiração dele e chamou D.Carminha:
  • 50. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. - A criança está “tísica”!Tem que ser isolada e vá dando este medicamento,logo.Abriu a bolsa e foi dando a amostra grátis do remédio contra a tuberculose. D.Carminha foi abraçando o filho e por todos os lados o pranto era geral. Instalaram Jesuino no quarto de Marieta,em um colchão de palha, do mesmo tipo do que usaram para finada.Colocaram uma coberta ao alado e os bonequinhos de sabugo que ele gostava tanto e brincava horas e horas falando por eles e simulando movimentos como se fossem vivos. Quando os cajus amadureceram, amarelaram e começaram a cobrir o solo do casarão,espargido aquele cheiro aromático misturado com resina e orégano,cujo odor estava espalhado por debaixo das árvores atingindo suas frondes mais altas,o chão dos terrenos periféricos do casarão se transformavam em um verdadeiro tapete de topázio alimentando os retirantes famintos.Jesuíno começou a morrer! Não mais se erguia.Tossia seguidamente e pedia a D.Carminha que o colocasse sentado em um caixote,perto da janela. Então acompanhava com os olhos semicerrados e tristes de criança,o limoeiro amado parte daquela maravilha tropical que o cercava,em oposição à tragédia de sua doença irreversível. Então dizia para a mãe: - Ontem eu sonhei com Marieta,ela tava com um frade ao lado dela.Ele trazia a finada presa por uma corda no pescoço como se fosse um cabrito! - Pára menino,tu inda tá com essa impressão na cabeça?!Dizia desesperada e chorando a pobre mulher. - Ela me disse que vem me buscar antes do fim do ano! -D.Carminha desatava a chorar,e resolveu transferir o filho para o seu próprio quarto.Houve um protesto geral dos retirantes,mas o quarto de Marieta,onde estivera Jesuíno,foi fechado e nunca mais ninguém entrou lá.
  • 51. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. Uma tristeza começou a tomar conta de todos com a doença da criança e com aquela casa.Sempre que podiam,juntavam uns trocados e tratavam de ir embora o mais cedo possível. Um dia,quando os sinos do Natal começaram a repicar fora do casarão,chegaram as senhoras da sociedade,com uma cesta grande de frutas,bananas,laranjas e uns saquinhos de mantimentos.No meio das frutas vinha uns brinquedos que foram distribuídos entre os meninos dos Severinos,dos Bartolomeus e dos Queiroz! Jesuíno piorava e a febre aumentava debilitando-o.Era uma sombra do que fora.mal abria os olhos durante o dia, e à noite,a tosse se acentuava deixando todos acordados de pena da criança. Véspera de dia-de-ano a criança arquejou a noite toda.Quem chegava se debulhava de lágrimas pelo sofrimento do pequeno,que já arroxeava e apresentava tonalidades escuras nosa pulsos e ao redor da boca. Antes da meia-noite um grito foi ouvido no quarto do oitão.Era D.carminha que pedia socorre e chorava desesperada. A criança se imobilizara e o corpo esfriava, enquanto ele arquejava baixinho, quase imperceptível. Alguém entrou com o Pe.Alberto da Paróquia da Piedade,e,mal ele deu a Extrema-Unção,Jesuíno entregou a alma a Deus,sereno,frágil,deixando muitos prantos e muita saudade. Choraram os velhos, os jovens, e até os “pivetes” sentados nos fios de pedra das calçadas próximas do casarão. E quando o caixãozinho azul passou pelas ruas vizinhas,ouvia-se prantos dentro das casas e multidões de crianças curiosas,mas de fisionomias entristecidas quedavam-se desoladas. Durante o enterro,o Pe.Alberto comparou Jesuíno ao Menino-Jesus e disse que ele tinha nascido naquele ambiente do casarão para amenizar a dor dos retirantes e o sofrimento dos miseráveis!Fôra uma criança de luz!Uma Entidade do mais próximo séquito de Jesus!”Um exemplo de amor por
  • 52. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. seus semelhantes. Nascera pobre como Jesus para atender e alegrar aqueles que viviam na escuridão do sofrimento e da penúria.” As pessoas que davam esmolas e passavam no beco arenoso ao lado da casa,não o faziam mais para não reverem o local onde Jesuíno com uma latinha enferrujada,estendia um apelo aos transeuntes por esmolas para a “tísica” e os retirantes. “Seu” Gerônimo mudou a barraca para o outro lado do quarteirão para não mais se lembrar da figura da criança. Mas,mesmo assim,às vezes parava e parecia-lhe que via Jesuíno colocando aquela mão pálida na borda do balcão,pedindo para trocar por cédulas,as inúmeras moedas que recebia de esmolas. - Parece que estou vendo,dizia,conversando com o Raimundo “bêbado”.Ele enchia aquela latinha duas vezes até o meui-dia e vinha caminhando silencioso.De repente,eu escutava sua voz de criança: - “Seu” Jerônimo troca estas moedinhas dos pobres por uma moeda maior ou por cédula!É prá comprar remédios para a “Tísica” e comida pus retirante! Então “Seu” Raimundo “bêbado” se emocionava até que as lágrimas rolassem por seu rosto macilento, tostado de sol e enrugado que mais parecia um pergaminho. Raimundo “Bêbado” enchia o copo de “amarelinha” e quando a água brava descia,ele exclamava: - Ave,que esta derruba inté defunto!Cuspia longe e olhando “seu” Jerônimo nos olhos,observava: - Sabe “Seu” Jerônimo,é porisso que eu bebo.A vida de pobre é assim mesmo.Você acha que se Jesuíno fosse filho de rico,teria morrido?Botavam logo em um dos melhores sanatórios e a criança se recuperava.Agora aquele casarão só dá tristeza!Mal entro lá depois da labuta diária de pedreiro e uma tristeza toma conta de mim que acabo adoecendo.
  • 53. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. - Vá lá “Seu” Raimundo,tome um banho,reze a Ladainha de Nossa Senhora e durma inté amanhã.Vai pegar na colher sem tristeza e esquecer um pouco este “Vale de Lágrimas”!Eu por mim vou fechar dedo,hoje.Tô doido por dentro,com estas coisas todas. Na verdade,aquela criança era a Luz e a alegria aqui,nesta barraca e prá todo o canto que olho,a vejo!Senão,quem vai acabar doido,sou eu mesmo!A vida é assim – Uma Viagem triste e cruel!Que vou fazer?É entregar a Deus! “Seu” Raimundo saía cambaleando,conversando só,batendo ao longo do muro longo que limitava o Casarão pelo lado direito e quando passava em frente do lugar que Jesuíno pedia esmolas,parava e ficava oscilando para lé e para cá,morto de bêbado.De repente,desatava no choro e sentava-se no fio de pedra.Agarrava finalmente no sono,naquela posição e,quando a lua imensa e branca apontava lá para o lado do portão que isolava a casa grande da Rua do Rei,ele levantava-se e entrando pelo lado esquerdo da moradia dos retirantes,empurrava a porta de pedaços de caixotes,que ce3dia dramática,misteriosa,e espectral. Cambaleante, lá ia exalando a cachaça que impregnava até os corredores e em seguida, estirava-se no chão à corpo todo,sobre a esteira que D.Carminha deixara para ele.Enquanto ia adormecendo,falava baixinho para seus botões: Oh Deus!Duas mortes por tuberculose em menos de três meses!Vai ver que serei o próximo!Como mal,trabalho demais,cheiro a “catinga” do cimento todo o dia e ainda tenho que beber para esquecer a vida!E adormecia, pensando que em vez de construção para levantar,tinha um lindo jardim para cuidar,e as flores,orquídeas,violetas e rosas brotavam ao seu redor soltando um perfume inebriante... A noite tomava conta do Casarão dos Infelizes enquanto os “caborés” piavam lá nas cabaceiras e o vento castigava os cajueiros que vinham de lá para cá, enquanto sombras fantasmagóricas pareciam desfilar no silêncio
  • 54. Francisco J. B. Sá O casarão dos Infelizes [Digite texto] Frei Albino Aresi,psicólogo,parapsicólogo e Diretor da Mens Sana.Grã-Cruz da ONU.Juntamente com Dra.Cristina Cabral,psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia,em 1985,analisaram e provaram a autenticidade destes fatos,recomendando a edição do Livro-O casarão dos Infelizes. que cercava a casa devido a quietude decorrente de seu isolamento.Os coqueiros agitavam-se violentamente,fornecendo um único ruído além dos pios dos caburés e corujinhas que ali vinham se agasalhar.Lá no quintal,o galo cantou,pensando que o luar era o dia que ia chegando e D.Carminha triste e trêmula passou a mão na esteira ao seu lado procurando inutilmente o filhinho que se fora!E não o achando desatou em choro convulsivo. Os outros retirantes colocaram a cabeça para fora de seus trapinhos e sentiram a tristeza invadi-los. Maria começou a chorar baixinho e “Seu” Jão Quirino abraçou D.Chica Bandeira para abafar o soluço que veio à garganta e que não podia sair, “porque homem não podia chorar!” D.Carminha em prantos acordando,desta vez,todo o mundo: - Meu Deus não me dexe muito tempo neste Vale de Lágrimas!Tome conta de meu filhinho que foi a única coisa bonita que tive nesta vida,mas não demore muito,pois não agüento mais... Virando-se,deitou cobrindo os pés,a cabeça como fazia desde que Marieta morrera e o filho vivia dizendo que via a morta. - Vixe,exclamou,adormecendo e pensando – Se a “Tísica”puxa o lençol dos pés agora...Eu dava um pulo de morrer...Santa Maria Mãe de Deus...rogai...por nós...que e adormeceu profundamente.