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   espiral




                                             espiral
                                               boletim da associação          FRATERNIT
                                                                                 TERNITAS
                                                                              FRATERNITAS MOVIMENTO
                                                                                                                    1




             10 anos                                       N.º 38 - Janeiro / Março de 2010




             vozes proféticas precisam-se                                                                  Sousa
                                                                                                Serafim de Sousa


   N      os últimos dois meses, levantaram-se vozes di-
          versas a respeito dos sacerdotes que abando-
naram o exercício das ordens. Felizmente no mês de Ja-
                                                           preparação, muito estudo e muita reflexão em conjunto
                                                           e em particular, dá-se o passo final, a ordenação.
                                                               Ordenado presbítero ou até diácono, este sacramento
neiro do ano em curso, tudo parece ter serenado e os       imprime carácter. Nada o pode destruir, é indelével. Por
telefonemas da comunicação social do mais diverso teor     isso não gosto, não concordo com a expressão muito
pararam. E tudo isto aconteceu porque um sacerdote         usada no meio eclesiástico “redução ao estado laical”
novo, com pouco mais de um ano de vida paroquial, se       Acho esta expressão humilhante, e principalmente
apaixonou por uma jovem de 18 anos. O sacerdote foi        aniquilante. Usou-se, mas tem de deixar de se usar por
entrevistado na televisão e deu mostras claras de uma      não corresponder à realidade pura e simples.
pessoa sensata e equilibrada.                                  Nos tempos que correm, o povo de Deus já não se
    Por que é que tudo isto aconteceu? É sempre muito      escandaliza com o casamento dos padres. Para as pes-
fácil dizer que perdeu a vocação e por isso seguiu outro   soas mais esclarecidas tanto lhes dá que os sacerdotes
rumo. Ora eu não penso assim. Uma vocação é algo de        sejam casados ou não. Querem, sim, ver gente capaz
sagrado. Foi Deus quem chamou ao sacerdócio, come-         de lhes transmitir o Evangelho da vida, a Palavra de Deus,
çando pelo seminário menor até ao maior ou mesmo           a celebração da Eucaristia e vivência cristã, sem pres-
universidade. Depois de ordenado com vocação, com          sas, sem rotina, onde se sinta bem a profundidade do
fé e destinado ao serviço das almas ou do povo de Deus,    amor a Deus e ao próximo.
não se perde tudo isso de um momento para outro. A             O sacerdote de que falei no princípio, se lhe conce-
vocação continua, como todas as outras ideias ligadas      dessem autorização para continuar como sacerdote ca-
ao serviço da Igreja, que é o Corpo de Cristo. O que       sado, com certeza poderia prestar relevantes serviços na
acontece é que as circunstâncias da vida vão mudando.      mesma ou noutras paróquias, formando, a partir da sua
Muda o ambiente que nos rodeia, mudam as pessoas           comunidade familiar, um pequeno núcleo que podia ser
que nos acompanham, mudam também as nossas idei-           excelente auxiliar na caminhada da fé. O mesmo acon-
as e todos nós estamos num mundo onde a evolução é         teceria com outros, que conheço, e a prestarem impor-
contínua. Nós também evoluímos e mudamos.                  tantes serviços nas comunidades e serviços sociais.
    Diz o nosso povo :“Só os burros é que não mudam.”          As regras da Igreja têm mudado ao longo dos tem-
Eu costumo dizer :“A vocação ao sacerdócio é obra de       pos e torna-se necessário que mudem também agora e
Deus.” Deus chama quem quer, onde quer e como quer         depressa, pois corremos o risco de as igrejas ficarem
O chamado por Deus responde «sim» e depois de muita        vazias e não mobilizarem ninguém.
                                                               A mulher precisa de ter um papel na Igreja de acor-
                                                           do com a sua dignidade. Afinal, o Cristianismo come-
                                                           çou com o «sim» de uma mulher. Acabe-se com o que
                                                           está obsoleto. Refresque-se a mente com novas formas
                                                           de cativar e caminhar com Cristo. Ponha-se de lado a
                                                           ideia de que só nós é que sabemos, pois o pulsar colec-
                                                           tivo indica-nos que há outros modos, outros caminhos
                                                           que atraem para Deus, Senhor do mundo e da vida ple-
                                                           na. Juntos, homens e mulheres, poderemos ainda che-
                                                           gar muito longe.
                                                               Não vejam em mim um revoltado, ou visionário, mas
                                                           apenas e só um homem de fé que olha o futuro com
                                                           alguma apreensão, e peço ao Senhor que nos inspire a
                                                           servi-Lo cada vez melhor.
2                                                                                                               espiral



                              O ESCÂNDALO
De coração aberto, D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, acolheu os
seus padres dispensados do exercício do ministério ordenado.

    Na Igreja de Viseu, o histórico dia 19 de Dezembro
de 2009, em que o seu pastor, atento aos sinais dos            «Gostaria
                                                               «Gostaria
tempos, acolhe 17 dos 29 convidados, dos quais cinco                 que
faltaram por impossibilidade, é um marco já inapagável.
No encontro, de verdade e amor, a passagem bíblica           ninguém se
1Cor 7, 9 («Melius est nubi quam uri: É melhor casar do
que ficar abrasado»), sem que tivesse sido citada, foi
                                                              sentisse à
festejada no íntimo dos padres dispensados do exercício        arte,
                                                              parte, que
do ministério sacerdotal, dispensa que a quase totalida-
de tinha pedido na convicção de que o casamento é um
                                                                      me
direito natural e inalienável de todo o ser humano, que     ajudásseis.»
também é vocação.
                                                            pos e como, em conjunto, poderíamos colaborar e con-
    CONVITE PROFÉTICO                                       tribuir (…) sobretudo para nos conhecermos e para es-
    D. Ilídio, cerca de um mês antes, na carta de convite   tarmos juntos durante uma manhã.»
para este encontro, sem dúvida com a ternura e inspira-         Estavam preparados os nossos corações para o «sim»
ção que o Espírito nele insuflara, afirmava que, sendo      ao convite e dado o mote para o primeiro encontro, que
bispo de Viseu há pouco mais de três anos, gostaria de      iria ser um conclave a terminar com um almoço de con-
se encontrar com todas as pessoas a quem fora envia-        vívio: «somente o bispo com aqueles que, da nossa dio-
do. Este Homem compreensivo e irmão lembra e pro-           cese ou de outra mas a viverem aqui, foram e estão
põe: «Um grupo que me estimula e desafia (…) é o gru-       dispensados do exercício do ministério ordenado.»
po dos que, como eu, foram ordenados sacerdotes (…)
Destes, alguns fizeram outras opções, não deixando de           DO CORAÇÃO DO PASTOR  PAST
                                                                                       ASTOR
amar e servir, não amando e servindo menos, mas en-             Na primeira e maior parte do encontro, uns, desco-
tendendo que não poderiam continuar a fazê-lo de de-        nhecidos, outros, que há muito se não encontravam
terminada forma. Assim, conscientemente, optaram por        porque residentes em vários pontos do país, mas todos,
outro modo de ser e viver a sua vocação e a sua forma       incluindo o anfitrião que nos recebia na sua residência e
de estar na Igreja e no Mundo. Eu gostaria que (…) nos      que fora o Seminário de vários dos presentes, com mui-
encontrássemos e partilhássemos (…) reflectíssemos jun-     to em comum, com grande à-vontade, apresentaram-
tos sobre que Sociedade e que Igreja para os novos tem-     se, falaram do seu currículo, das suas experiências de



Encontro dos movimentos laicais, em Fátima
    Convocados pela Comissão Episcopal do Laicado e         dos leigos no mundo, em resposta às necessidades des-
Família, reuniram-se, em Fátima, no Centro Pastoral         te e em conformidade com a missão da Igreja.
Paulo VI e Casa Senhora do Carmo, de 5 a 7 de Feve-             Para enriquecer o debate e iluminar as questões em
reiro, muitos dos responsáveis dos movimentos e obras       apreço, várias intervenções se fizeram ouvir, nomeada-
laicais de Portugal.                                        mente a de D. António Carrilho, presidente da Comis-
    A direcção da Associação Fraternitas Movimento,         são Episcopal do Laicado e Família, do teólogo João
correspondendo ao convite formulado, esteve presente.       Duque e dos dirigentes nacionais Alexandra Viana Lo-
    O objectivo prioritário do encontro era a discussão     pes e Pedro Duarte Silva.
da proposta de Estatutos da futura Conferência Nacio-           A voz da Fraternitas fez-se ouvir nos trabalhos de gru-
nal do Apostolado dos Leigos (CNAL), cujas finalidades,     po e plenários, assinalando, no entanto, a sua especifi-
de acordo com o seu articulado estatutário, são:            cidade no enquadramento eclesial: movimento de pa-
    – promover a comunhão entre os seus membros, e          dres casados dispensados do exercício do ministério.
entre estes e as estruturas eclesiais do apostolado dos     Estando presente, deu-se a conhecer, contribuindo tam-
leigos;                                                     bém para a comunhão na diversidade da nossa Igreja –
    – fomentar o discernimento comum das realidades         Corpo Místico de Cristo.
contemporâneas e dos desafios da sua evangelização;
    – contribuir para uma maior coordenação no serviço                                            António Duarte
                                                                                                  António Duar
                                                                                                            arte
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    espiral                                                                                                            3

vida sacerdotal, profissional, familiar, eclesial, social…   «na prática, o que qualquer leigo bem preparado pode
A todos o pastor escutou atentamente, provocou res-          fazer, peço que o façam e dêem sugestões os que cá
postas, com a evidente intenção de conhecer-nos e, ain-      vivem; sois formadores muito especiais, porque prepa-
da mais notório, com a satisfação de estar connosco.         rados». É de supor que o bispo de Viseu, nos seus escla-
Confidenciou-nos os seus planos para este Ano Sacer-         recimentos e decisões, foi até ao limite máximo da aber-
dotal, em que não faz visitas pastorais às paróquias, para   tura legítima a que pode chegar um bispo na sua dioce-
poder visitar grupos arciprestais de padres e leigos e com   se.
eles celebrar a corresponsabilidade.
    O Pai na Fé passou a focar, de maneira clarividente,         MENSAGEM QUE FICA
                                                                 MENSAGEM
a nossa situação e relação na Igreja e com o bispo,              Chegara a hora do almoço que D. Ilídio quis ofere-
«nem sempre serena e próxima, também as normas da            cer e, no caso, bem se lhe poderia chamar almoço de
Igreja por vezes são frias e distantes» – reconheceu –,      Natal, porque era na época e, sobretudo, era após re-
mas, porque olha para mais além e quer aplicar a força       flexões que mais nos tinham aproximado do Jesus-Amor.
terapêutica da Boa Nova, eleva-nos à contemplação do         No final, acordou-se continuar com outros encontros de
coração de Deus e do Seu Reino, onde somos família e         reflexão, podendo o próximo ser em Maio ou Junho,
«quer cada um reconciliado consigo e com o seu passa-        tendo-se abordado alguns tópicos que poderão sinteti-
do».                                                         zar-se: Palavra de Deus e Concílio Vaticano ll versus
    Dirige-se, seguida e preferencialmente, a parte dos      normas do Direito.
ouvintes para os interpelar: «Queria estar convosco, so-         Estamos em crer que, no íntimo de cada um, conti-
bretudo, com os que vivem cá». Elucida que, na dioce-        nuou a reflexão sobre o «escândalo ao contrário», as
se, decorre o terceiro ano em que o Plano Pastoral é de      consequências nefastas que constatamos na Igreja e na
preparação para o Sínodo Diocesano, que decorrerá            sociedade, e maneiras de reparar tudo isto. O subscritor
de 2010 a 2015, para reflectir sobre o Concílio Vatica-      destas notas, porque, no dia imediato, viu necessidade
no II, celebrando-se em 2015/2016 os 50 anos do              de enviar um e-mail ao seu prelado, incluiu o que se
mesmo concílio. E conclui a interpelação: «Gostaria que      segue:
ninguém se sentisse à parte, que me ajudásseis.»                 «(…) o meu profundo agradecimento ao Pai na Fé
    De maneira contundente, e que tem a ver com a nos-       desta diocese pelo encontro e palavras amigas de aco-
sa «condição marginal na acção pastoral» (confessada,        lhimento reconciliador e perspectivadoras de melhor fu-
numa entrevista do ano, pelo cardeal Tarcísio Bertone,       turo eclesial, que ontem nos proporcionou. Maravilho-
secretário de Estado do Vaticano) a que temos sido vo-       so! Rezo ao Espírito Santo para que Roma se Lhe abra e
tados, reconheceu o que há de negativo e infeliz na ex-      altere a disciplina em causa, não por mim, caduco, que
pressão «redução ao estado laical», chapa inalterada         já não aspiro a mais, mas por alguns sacerdotes dispen-
nos rescritos que a Santa Sé nos tem enviado. Toda esta      sados meus conhecidos, de competência e santidade
marginalização porque havia o medo do “escândalo”            indubitáveis, que, readmitidos ao exercício, tanto bem
do Povo de Deus – referiu o nosso bispo –, apontou o         proporcionariam ao faminto Povo de Deus. Julgo que o
descabimento e corrigiu: «Hoje, o escândalo é ao con-        contrário será escandalizar este mesmo Povo.»
trário, por saber que há desaproveitamento»(…), por isso,                                                 Luís Cunha



“Ah, se a Igreja ouvisse melhor as mulheres’’
    Anne Soupa, jorna-                                           «Houve períodos da História em que voz das mulhe-
lista, biblista e teóloga                                    res era muito mais ouvida. Na Idade Média, a palavra
feminista católica, aca-                                     de uma Hildegarda de Bingen, de uma Angela di Foligno,
ba de fundar, junto com                                      teve forte repercussão. Depois, mais tarde, Teresa d’Ávila,
outros amigos, a                                             cuja voz chegou até Roma...», afirma numa entrevista à
Conférence            des                                    revista francesa Panorama, de Janeiro passado. «Todos
Baptisé(e)s de France                                        e todas temos uma parte feminina que acolhe a palavra
(Conferência de Bapti-                                       divina, que se deixa penetrar por ela. Também temos
zados/as da França).                                         uma parte masculina que vai à frente, que abre as por-
Em 2008, ela ficou conhecida mundialmente ao criar o         tas. Se a parte feminina fosse mais ouvida, acho que a
“Comité de la Jupe” [Comitê da Saia] para contestar,         Igreja estaria melhor. Sem dúvidas, os homens, na Igre-
até mesmo no tribunal da Igreja, uma afirmação machista      ja, estariam melhor, ousariam talvez mais facilmente abrir
do cardeal arcebispo de Paris, Andrés Vingt-Trois: «O        as portas ao lado feminino da sua própria espiritualida-
importante não é ter uma saia, mas ter alguma coisa na       de. E as mulheres também estariam melhor, às quais se
cabeça» (6 de Novembro de 2008), que lhe pareceu             impõe às vezes – em particular na vida religiosa – um
indigna e reveladora do modo de pensar de um certo           modelo muito calcado sobre os homens, que nem sem-
número de padres com relação às mulheres.                    pre lhes permite realizar a sua feminilidade.»
    .
4                                                                                                                            espiral




PÁSCOA,ESPERANÇA ESTIMULANTE
Tal como a Primavera nos confirma a revitalização cíclica da Natureza, a celebração anual da Páscoa reafirma a
             Primavera     confirma revitalização            Natureza, celebração                    reafirma
  confiança      emergência             for
                                         ort            mort                    Ressurreição       utopia
  confiança na emergência da vida mais forte do que a mor te. A mensagem da Ressurreição é essa utopia que
                                     horizonte                   Terr
                                                                  erra.                               tantos
 dilata a insatisfação humana até um horizonte além do vivido na Terra. Como acreditar nisso, quando tantos se
    deixam inv                                                              asfixia   energias   confiança?
    deixam invadir por uma onda de pessimismo, caindo num desânimo que asfixia as energias da confiança?

                                                  Manuel António Ribeiro
                                                         António

    Os desastres naturais e a persis-         vés do mito do imperativo absoluto
tência de uma terrível crise econó-           da revolução técnico-científica, ao
mica, deixando milhares de famílias           serviço de um Estado omnipresente
destroçadas pela praga do desem-              e das elites que o compõem e o
prego e da pobreza, lembram-nos,              perenizam.
de forma dramática, que a paixão                  Em nome das «verdades» da ci-
de Cristo assume um negro realismo            ência e da sacralização do lucro, vão
nas imagens da morte e do sofrimen-           sendo atingidos as liberdades indivi-
to, regularmente actualizadas.                duais e a dignidade da pessoa, ao
    Celebramos a Páscoa numa al-              mesmo tempo que se geram perver-
tura em que nos confrontamos com              sões insanáveis, como a corrupção
acontecimentos de tristeza e desola-          e as novas formas de exploração do
ção, sejam os que decorrem dos gri-           Homem pelo Homem. Este modelo
tos de dor, no Haiti como na Madei-           de progresso, cujos benefícios de
ra, no Chile como no Afeganistão e            revelaram efémeros e enganadores,
Turquia, sejam os que corporizam os           está agora a ser travestido na exal-
vergonhosos casos de pedofilia em             tação de uma tecnologia que
instituições católicas, ou que mos-           robotiza e serializa, mostrando como
tram o desespero dos que foram mais           a frieza da técnica está a impedir a
vitimados pela crise financeira.              eclosão de um mundo mais
                                              humanizado.
    A MÃO HUMANA
    Nuns casos, a destruição saiu à               INQUIETAÇÕES
                                                  INQUIETAÇÕES
rua pela força dos elementos da                   Os sinais de alarme estão a reti-
Natureza, lembrando ao Homem a                nir, de forma cada vez mais preocu-         pela voracidade dos media. Um
sua condição frágil, magnificamente           pante. A violência e o empobreci-           olhar atento poderá testemunhar re-
retratada por Camões nos versos de            mento crescente de vastas camadas           alidades bem luminosas a aconte-
«Os Lusíadas»: «Onde pode acolher-            populacionais formam uma mistura            cer diariamente.
se um fraco humano /Onde terá se-             explosiva que dinamita a esperança              A corrente de solidariedade na
gura a curta vida, /Que não se arme           no futuro.                                  sequência dos desastres ocorridos no
e se indigne o céu sereno /Contra                 Quando a vida da pessoa é               Haiti e na Madeira revelam bem que
um bicho da terra tão pequeno?»               subalternizada em nome da                   no coração humano não está
    Noutros casos, as forças da mor-          maximização de bens materiais, é            atrofiada a bondade. Muitas mais
te foram provocadas pela crise do             toda a Humanidade que se degra-             provas disso se verificam no anoni-
sistema neoliberal, assente numa ló-          da, pois a sede desenfreada de ri-          mato quotidiano. O estilo de vida
gica que está a sobrepor-se à pró-            quezas leva o Homem a fechar-se             simples, o espírito de partilha, a ca-
pria razão do homem. O aumento                sobre si mesmo, atrofiando o que há         pacidade de renunciar ao ter em
das assimetrias sociais, tornando os          de melhor em si: o amor, as relações        nome da felicidade do outro e uma
ricos cada vez mais ricos e os pobres         verdadeiras, a capacidade de se abrir       relação inteligentemente respeitosa
cada vez mais pobres, é a denúncia            aos outros e a Deus.                        com a Natureza são exemplos de
clara de um «progresso» que não põe                                                       gestos que fazem diminuir o sofri-
a pessoa humana no centro.                        SOLUÇÕES
                                                  SOLUÇÕES                                mento e que incrementam relações
    O messianismo secularizado, de-               Felizmente que, ao lado das fu-         humanas mais harmoniosas. Man-
pois de ter visto as consequências            nestas notícias diariamente propa-          da, por isso, o realismo que não po-
desastrosas do mito da crença no              ladas pela comunicação social, tam-         demos minimizar a gravidade do
progresso indefinidamente crescen-            bém há muitas alegrias celestes nes-        momento presente, acreditando in-
te, pretende agora afirmar-se atra-           ta terra, ainda que não detectáveis         genuamente que um mundo novo

    e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * página oficial na Internet: w
l
                    espiral                                                                                                                     5


                possa nascer da desordem actual.            Picasso, a nossa maior perda não é           lho não leva a desviar o olhar dos
                Mas também não devemos abando-              a morte, mas aquilo que morre em             lados terríveis da vida, mas faz ver
                nar a esperança numa sociedade              nós enquanto vivemos.                        nela uma luz capaz de ver para lá
                melhor, com a desculpa de que to-                                                        da espessa escuridão. Quando aco-
                das as utopias falharam. As previ-                               DA
                                                                VISÃO CRISTÃ DA HISTÓRIA                 lhemos o projecto de Deus, somos
                sões catastróficas em relação ao fu-            Os cristãos acreditam que conti-         capazes de fazer o impossível para
                turo, em vez de suscitarem alertas          nua a avançar na história o sonho            que outras pessoas encontrem ale-
                preventivos, vão-nos preparando             de Deus sobre a Humanidade e so-             gria de viver.
                psicologicamente para aceitar a             bre o cosmos. Esse sonho pareceu                A verdadeira obra de arte, aque-
                inevitabilidade da desgraça. Pelo           brutalmente interrompido na cruz,            la que faz reanimar em nós a vida
                contrário, a capacidade de encarar          mas foi aí que se manifestou verda-          que nem a morte pode dissolver,
                o porvir com esperança pode trans-          deiramente a força da vida para lá           constrói os seus alicerces no interior
                formar a presente crise numa bên-           da morte.                                    do coração, porque é aí que germi-
                ção mobilizadora de energias. As so-            O acontecimento pascal aviva-            nam        as    verdades        não
                luções a inventar não são fáceis, pois      nos a confiança de que a morte, que          percepcionáveis pela inteligência
                os excessos de liberalismo apelam           pertence ao tempo, não pode atin-            analítica. Como nos adverte Bento
                a um poder regulador, que só será           gir a vida que está para além do tem-        XVI, na conclusão da sua mensagem
                legítimo se estiver verdadeiramente         po. Não há nada de contraditório,            quaresmal, só o coração pode aco-
                ao serviço de todos, coisa que não          quando os cristãos, em nome desta            lher a justiça “maior” do Amor, essa
                está a acontecer nos dias de hoje.          esperança estimulante, se compro-            respiração pneumática que leva o
                    Todavia, as dificuldades tornam-        metem na transformação concreta              homem a sentir-se “mais devedor do
                se intransponíveis se deixarmos mor-        da sociedade, sem caírem no logro            que credor, porque recebeu mais do
                rer a confiança, já que, como intuiu        das consolações fáceis. O Evange-            que aquilo que poderia esperar”.


                 A FIDELIDADE DE DEUS: ELE CUMPRE A SUA PALAVRA
                                Uma reflexão de um grupo da Universidade Sénior de Castelo de Paiva, partilhada por Joaquim Soares
                    Leitura de Génesis (17, 1 – 27):        dência era necessária ao trabalho de         rerá a uma subtileza: é vontade de
                Deus faz uma aliança com Abrão,             pastores, à sobrevivência da tribo; a        Deus? Assim, pela posse da terra,
                que será pai de uma longa descen-           terra era indispensável às pastagens         torna-se uma tribo sedentária...
                dência e possuirá a terra que ocupa         – a riqueza da família, a força e a               Há depois o problema da suces-
                como estrangeiro. Contra todas as           defesa da tribo.                             são. Abraão reconhece que Sara está
                expectativas, Deus mantém a Sua                 Versículo 14 – A circuncisão era         de idade avançada. Entretanto exis-
                palavra. Isaac será herdeiro da             uma cerimónia praticada nos primei-          te Isaac. Intervenção de Deus? Sim.
                Abrão, que passou a chamar-se               ros oito dias da vida do menino. Sa-         O que se passa é obra de Deus, não
                Abraão, e continuador da Aliança            dismo do sofrimento? Marca a en-             é obra de homens. A terra, o filho,
                com Deus. A Aliança tem um aspec-           trada na vida que é sofrimento?              são frutos da iniciativa de Deus.
                to social – a descendência numero-              O sexo feminino era excluído des-             É preciso defender a Fé no Deus
                sa, a posse da terra; e um aspecto          te rito. Porquê? Uma excepção? Ig-           único, preservar a Fé numa socieda-
                pessoal e social – a circuncisão.           norância do aparelho genital? O              de rodeada por povos politeístas. Por
                    Versículo 1 – «Eu sou o Deus            aparelho sexual da mulher é interior         isso, impôs-se a circuncisão, que
                supremo.» Ou Omnipotente. Com               ao corpo?                                    implica a adesão pessoal, individu-
                os primeiros patriarcas, Deus é co-             A circuncisão, rito exterior, simbo-     al, da pessoa a Deus e à Lei. É uma
                nhecido exactamente pelo poder;             liza a outra, a interior, do coração.        identificação – o incircunciso seria
                com o povo de Israel, Deus mani-                Versículos 15 a 21 – Sara signifi-       erradicado dentre o povo.
                festa a Sua fidelidade às promessas.        ca princesa. Deus altera-lhe o nome                A mulher não e circuncidada,
                    Versículo 3 – Abrão adorou o            pelo mesmo motivo da alteração ao            porque são um só pelo casamento
                Senhor: «Anda na minha presença             nome do marido? Deus tira as dúvi-           (cf. Gn 2, 24 Transmite-se a ideia
                                                                                                          cf.
                                                                                                          cf         24)?
                e sê perfeito», quer dizer: cumpre os       das a Abraão: de facto Sara gerará           de que a mulher é companheira pri-
                Meus preceitos, as Minhas ordens.           um filho – Isaac – o herdeiro das pro-       vilegiada do homem (ideia retoma-
                    Abrão, por indicação de Deus,           messas divinas.                              da de Gn 1, 27 27)?
                passa a chamar-se Abraão: ‘ab’ sig-             «…Deus desapareceu de junto de                Este casal em idade avançada
                nifica pai, e ‘raham’ multidão. É           Abraão» – realizada a missão, Deus           não desiste do que lhes é mais caro.
                encarregado de uma missão. Co-              remete-se ao silêncio.                       E Deus acompanha-os, alimenta o
                meçou assim o seu ‘mandato’.                    Quererá Abraão mudar o curso             sonho. Superam a crise. Isaac con-
                    A Aliança traduz-se em descen-          da vida, transformar o nomadismo             firma-lhes a bênção de Deus. Os
                dência e posse da terra. A descen-          em que até agora têm vivido? Recor-          seus esforços tiveram resposta.

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    Cinquenta anos alerta para servir com dedicação
              A luz que brilha, em girândolas de fulgor.    Pastoral da Pontifícia Universidade de Salamanca, onde
       O rosto de um homem, que percorreu caminhos,         me licenciei, apresentando uma tese sobre «Adolescen-
    Os mais variados, de Lardosa à Montanha Sagrada         tes – caminho para uma educação libertadora».
                                                                Já em Lisboa, licenciei-me em História, na Universi-
    O padre Afonso Ribeiro foi o meu herói, em peque-       dade Clássica, e em Ciências Literárias, na Universida-
nino. Queria ser como ele. Não consegui. Os seminári-       de Nova. E continuei a aventura da educação na forma-
os de Gavião, Alcains, Marvão e Portalegre foram luga-      ção de professores e na gestão das escolas, como presi-
res de encontro, formação, fé, amizades e cultura. Com      dente do Conselho Directivo da Escola Secundária de
os saudosos Eusébio e Tomás Farinha, subi ao altar, a       Santa Maria, em Sintra, e director executivo da Ferreira
12 de Julho de 1959: instante maravilha, rosa que ama-      de Castro, em Mem Martins. Procurei ajudar a construir
nhece, ideia que brilha e floresce.                         uma escola viva e solidária, em que se partilhavam ri-
    Fui secretário particular desse grande homem e bis-     quezas, alegrias e dores, esperanças e amores, porque
po, D. Agostinho de Moura. Era um amigo e um apelo          os jovens sentiam a aventura diária das aulas, visitas e
constante de Deus.                                          dos projectos, e viva e solidária porque os professores e
    Em 1960, começou a minha saga com os jovens, no         pais tinham o seu lugar determinante.
colégio diocesano de Santo António. Em 1965, fui no-            Em 1999, com os meus irmãos José e António e al-
meado director. Rompemos com velhas tradições, in-          guns amigos (Guilhermina, Augusto e Gina), a prestimosa
troduzimos a coeducação e a participação de todos na        ajuda do presidente, Joaquim Morão, e da população
responsabilidade. Nasceram amizades, desenvolveram-         local, lançamo-nos na grande aventura da construção
se segredos, brilhou o diálogo espontâneo e descobriu-      de um Lar, na nossa terra, Lardosa. Depois de grandes
se a beleza da comunidade educativa.                        lutas e sacrifícios, inaugurámos-lo em Novembro de
    Simultaneamente, vivi a aventura do escutismo. Fre-     2004, para gáudio e tranquilidade dos nossos idosos.
quentei campos de formação em Braga, França e Ingla-            E agora talvez possa dizer, com verdade, que deixei
terra. Como assistente diocesano, ajudei alancar os agru-   algumas marcas nas areias do tempo. Plantei árvores,
pamentos de Portalegre, Castelo Branco, Abrantes,           escrevi livros e tenho dois filhos admiráveis: Manuel Luís
Alpalhão, Gavião, Ponde de Sor, Tramagal, Mouriscas,        e Inês Maria, e uma esposa, Maria de Fátima (Fatinha),
Mação, Sertã, Proença-a-Nova, Alcaisn e Idanha-a-           afável, generosa e carregada de humanidade.
Nova. Já assistente-geral dos exploradores, realizámos,
em Portalegre, o XII Acampamento Nacional.                      A Fatinha faleceu no dia 28 de Setembro de 2009,
    Embrenhei-me também, a fundo, no movimento dos          vítima de cancro da mama. Suportou heroicamente a
Cursos de cristandade, dinamizando algumas dezenas          doença, durante sete anos.
nas dioceses de Lamego, Aveiro e Faro.                          Era uma mãe extremosa, amando e servindo os seus
    Quando em 1972 me dirigi a Segóvia, para frequen-       dois maravilhosos filhos, o Manuel e a Inês.
tar um Curso de Diálogo, estava longe de pensar no              Era uma esposa solícita, a minha alma gémea, atenta
impacto que iria ter na minha vida. O Movimento por         à minha missão de padre-professor. Para quê o celiba-
um Mundo Melhor procura a renovação das comunida-           to com uma mulher assim?
des, a partir da base e de uma educação personalizada           Era linda, generosa e carregada de humanidade.
e humanista. Já integrado na equipa nacional, animei            Estará, para sempre, no coração dos seus familiares
centenas de cursos por todo o país.                         e amigos.
    Há um tempo para tudo                                      E vou continuar a fazer, fazer melhor, «não atacando,
    Em 1974, fui para Madrid frequentar o Instituto de      não odiando, mas amando».                   Duar
                                                                                                           arte
                                                                                               Manuel Duarte Luís


                                                                              INTERPRETAR
                                                                SABER LER E INTERPRETAR
Celibato e Matrimónio                                           Como interpretar tudo isto? Com certeza que, à se-
    Na defesa do celibato obrigatório, a Igreja, além de    melhança do que se diz sobre o cortar a mão ou pé e
1Cor 7, escuda-se também em Mt 19, onde os discípu-         arrancar o olho, se eles forem ocasião de pecado ou
los, face a tantas exigências na vivência matrimonial,      escândalo (Mc 9, 42-50), também aquelas passagens
concluem que, então o melhor é não se casar. Jesus          não devem ser tomadas à letra, com fundamentalismo.
responde-lhes que isso é só para eunucos. E também no       Trata-se do estilo oriental hiperbólico, mediante o qual
relato do jovem rico, no mesmo capítulo de Mateus, con-     se tenta inculcar no ouvinte ou leitor a mensagem: evitar
cluído com uma pergunta de Pedro «Nós deixámos tudo         o mal, o pecado, o escândalo, mesmo com sacrifícios.
e seguimos-Te, qual será a nossa recompensa?», res-             Foi assim que o entenderam os Apóstolos, como se
ponde: «… sentar-vos-eis em doze tronos… E todo aquele      deduz da forma como vivenciaram estas mensagens, nas
que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mu-       suas vidas. Caso contrário, Pedro, já ordenado, teria de,
lher, filhos ou terras…»                                    pelo menos, ter cortado a língua com a qual renegou
l
   espiral                                                                                                           7



«O sacerdócio nunca foi um ónus»
                                        DEDICADO a vós      nidade familiar – esposa e três filhos – e todos eles já
                                          Maria Cristina,   com as respectivas esposas, ao serviço da sagrada cau-
             Pedro Miguel, Francisco João e José António,   sa, e nos mais diversos meios de acção e missão.
                de quem Deus fez, para felicidade minha,        Alegra-me, por isso, a grata notícia que recortei dos
                               e na tarde da minha vida,    jornais acerca do convite do bispo de Viseu, D. Ilídio
                       uma abençoada alvorada do Céu        Leandro, para um encontro com os sacerdotes da dio-
     Os últimos grãos de areia da minha ampulheta vão-      cese que pediram dispensa das ordens sacras. É que,
me lembrando que estou quase a ter 91 anos de idade,        tendo predominado – e em muito – a condição e cariz
com a gratíssima recordação de que o nosso saudoso e        de uma Igreja de poder, saber e de ter, é mais do que
sempre querido P e Filipe de Figueiredo foi comigo que
                    .                                       hora para se testemunhar a Igreja do ser: mais de ir-
teve uma das primeiras conversas sobre o sonho-projec-      mãos, e menos de senhores e de súbditos.
to da nossa Fraternitas. Já colaborava com ele, ainda           Não admira, por isso, que o santo João Paulo II já
no exercício da sagrada ordem do Sacerdócio, e conti-       subscrevesse: um dia para se encontrarem «homens bons»
nuou a mobilizar-me depois que pedi – e rapidamente         teriam de se buscar entre muitos que «até já não pisam
me foi concedida – a «recondução ao estado laical».         o adro das igrejas». Ou mesmo entre muitos que, dizen-
    Recusei-me, então, a assinar o pedido de «dispensa      do-se das mais estranhas filosofias, crenças e culturas,
de ónus sacerdotal», como era da praxe, porque o sa-        «são cristãos que se ignoram», como os qualificou Jean
cerdócio nunca foi para mim um ónus, mas uma mis-           Guitton.
são. E em missão me mantive, por opção, como leigo              Tem sido, no leque variado das minhas múltiplas fren-
que voltei a ser, embora – e como ainda recentemente        tes de trabalho e de missão, também minha esta surpre-
se sublinhou em Jornadas sobre o Laicado – apesar dos       sa e graça: quanta gente boa e de bem, e sem outro
pronunciamentos e documentos conciliares tanto subli-       rótulo significativo senão só o de «fazer o bem», como o
nhassem a natureza do laicado e a missão dos leigos na      bom samaritano!...
Igreja, a verdade – e triste realidade – é que o laicado        Ao esgotar-se a última areia da minha ampulheta,
está por ganhar completa verdade.                           aos 91 anos, deixai-me que vos confidencie este meu
    Servi a Igreja, não hierarquia mas povo de Deus, em     testemunho leal, amigo e fraterno. É como se fosse a
doação total durante 30 anos, “pontificando” e olhan-       minha mensagem para o feliz e abençoado retiro, reali-
do do supedânio, como então ainda dos púlpitos, para        zado em Fátima, mas a que as minhas dificuldades de
a nave. E, depois, passei a olhar a Igreja, até agora,      deslocação impedem de participar.
mas anonimamente entre o povo da nave, olhando para             De longe – mas com o coração muito perto de vós –
o altar… E em que condições? As mesmas de qualquer          vos saúdo a todos, bem como a Maria Cristina, esta
cristão anónimo. Apenas por graça da Fé.                    abençoada samaritana que Deus me fez encontrar na
    Contudo, nunca me deixei de sentir em missão – e        vida há já 60 anos, e que tem sido, tanto ela como os
nas mais diferente frentes – ao serviço da mesma sagra-     meus filhos, a minha força para continuar a servir até ao
da causa, e com não menos generosidade e variedade          fim. São tantos os trabalhos que ainda tenho em mãos…
de sectores de trabalho do que antes.                           E uma surpresa: nas Misericórdias, deram o meu
    Com uma particularidade que foi para mim a maior        nome a um Centro de Documentação, Informação e
bênção: antes, era eu só; agora é toda a minha comu-        Estudos.                     Manuel Ferreira da Silva
                                                                                                                Silv


Jesus, etc. Sabemos que não o fez e, mesmo assim, foi       nem considerou o sexo como fonte de pecado e de todo
perdoado por Jesus.                                         o mal como, tantas vezes, homens da hierarquia da Igreja
    E deixaram os Apóstolos as mulheres esposas? Não.       pensam e fazem, porque impregnados de ideias
Jesus curou a sogra de Pedro, já apóstolo seguidor de       maniqueístas e quejandas! Pelo contrário, «Deus, vendo
Jesus (Mt 8,14): «E ela, levantando-se, pôs-se a servi-     toda a sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1, 31).
los.» Então Pedro era casado!                                   Mas voltemos a 1Cor, capítulos indicados. Depois
       PARECER       S. PAULO
    O PARECER DE S. PAULO                                   de falar de forma tão apaixonada sobre a virgindade,
    Paulo, em 1Cor 8 e 9, faz idêntico percurso, ao pro-    não é o mesmo Paulo que, traduzido por Ambrósio, diz:
por a virgindade como forma mais excelente (?) de vida,     «Numquid non habemus potestatem mulierem sororem
mas mostrando que depois, na vida real, ela é quase         circumducendi sicut et caeteri Apostoli, et fratres Domini
impossível. Nem outra coisa seria de esperar, pois, a       et Cephas? Aut ego solus, et Barnabas, non habemus
primeira comunicação bíblica de Deus com o Homem é          potestatem hoc operandi?» [«Não temos o direito de le-
a explicitação de algo que está gravado na própria na-      var connosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os
tureza da criatura: «Abençoando-os, Deus disse-lhes:        restantes Apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas? Ou
“Crescei e multiplicai-vos. (Gn1,28). Não os amaldiçoou     só eu e Barnabé é que não temos o direito de proceder
                                                                                         (continua na última página)
espiral Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix | Prac. Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816 QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com
VIDA FRATERNITA S
VIDA FRATERNITA                                              de Bouças/Cinfães), vítima de cancro nos intestinos. O
                                                             Amaral está no último ano do estágio profissional, no
    Dia 3 de Dezembro: 13.º aniversário de Encontros         Mestrado em Filosofia;
Vivenciais (Autoconhecimento, Sacramentos e Bem-                 dia 20: Manuel Paiva (Oliveira de Azeméis) dá con-
Aventuranças) na casa de Cristo Martins (Mem Martins);       ta da bênção e inauguração de um espaço solidário
    dia 14: «Continuamos em diálogo sincero e leal com       com o nome do pároco local, para fornecer refeições
o bispo de Angra. Os documentos para a dispensa che-         aos pobres e àqueles que, por desemprego, sofrem pe-
garão no próximo ano. Iniciarei Mestrado em Ciências         núrias. Faz parte da direcção do Centro Social Paro-
Sociais.» F.J.S.M., não sócio dos Açores.                    quial que promove a iniciativa. (…) E lançou um livro,
    Dia 2 de Janeiro: Maria de Lurdes Branco (esposa         cuja receita reverte para estas obras paroquiais;
de António J. Branco, de Chaves), fez já 8 operações;            dia 22: operação do Vasco (Porto) a um aneurisma
    dia 6: Primeiro contacto de João Tavares, de             na aorta, por cataterismo. Correu bem e a convales-
Carvalhais e residente no Brasil. Padre (comboniano)         cença aconteceu em toda a Quaresma;
dispensado e membro do MPC, congénere à nossa as-                dia 25: O presidente , Serafim Sousa, visitou o P e.
sociação. Contacto: padrescasados@grupos.com.br;             Guilhermino Saldanha em Chaves, onde se encontra
    dia 10: António M.M. de Sousa colocou pacemaker;         no Hotel Geriátrico. «O estado dele é muito melhor.
    dia 11: José Alves Rodrigues e São continuam como        Come por sua mão (esquerda ). Quando nos viu (...)
soureiro e presidente da APN (As. Port. Doentes              fez um sorriso de orelha a orelha (...). Ainda não fala.»
Neuromusculares); Manuel Sousa Gonçalves (Bagunte/               Dia 1 de Março: Ana Vaz T. B. da Silva, da Junqueira
V. do Conde) e Armando Marques da Silva referem o            (V. do Conde) comunicou que está viúva desde 8 de
mal-estar por causa da maleitas na próstata.                 Agosto. Manuel Baptista da Silva foi vítima de AVC;
    Dia 3 de Fevereiro: o filho de Lúcio e Bárbara Sousa
              Fevereiro:                                         dia 2: um postal de D. Serafim Ferreira e Silva (Fá-
(Cuba/Alentejo), Nuno, ordenado em 28.06.09, é pá-           tima) – «Rezo por vós. Talvez nos encontremos em Abril»;
roco em Mora;                                                    dia 9: José Sampaio Ferreira (Lisboa) continua com
    dia 4: faleceu o pai da Maria J. Bijóias, sogro do       a ventilação/oxigenação 16 a 18 horas diárias;
Fernando Félix (Massamá), após doença prolongada;                dia 24: Francisco Monteiro (Lisboa) tem andado com
        6:
    dia 6 faleceu o pai de António R. Amaral Pinto (Cruz     problemas de saúde e pede orações.

   Celibato e Matrimónio (continuação)                           O celibato é uma instituição humana não intrínseca
desse modo?»] É, pois evidente, que, de tal forma Paulo      e obrigatoriamente ligado àquele ministério, como se
afirma que os Apóstolos eram casados com uma mu-             viu pelas citações feitas da Palavra de Deus.
lher irmã-cristã, que até salienta – na sua perspectiva de       É que não se trata de um preceito divino como o
virgindade – um certo escândalo para si por não só al-       «Crescei e multiplicai-vos», mas tão-somente de um dos
guns apóstolos, mas até os irmãos do Senhor (Tiago e         chamados “conselhos evangélicos”, que Jesus procla-
João?) e próprio Pedro serem e viverem casados.              mou para todo e qualquer discípulo Seu, à semelhança
    E é como se dissesse mais: eu, sendo apóstolo, se        das Bem-Aventuranças.
não sou casado é porque não quero. Nada mo proibia.              Face a carestia da Eucaristia, que a Igreja tinha por
Só que tenho tendência para ser eunuco, talvez devido        obrigação proporcionar a todo o Povo de Deus, não
à minha formação rabínica. Quem sabe se não seria            será isto um pecado contra o Espírito Santo? Não será
este o espinho, o anjo de Satanás, que atormentava a         reger-se por regras humanas, que nem sempre foram
vida de Paulo!                                               assim, e tantos distúrbios e escândalos têm causado aos
          DA
    USO DA IGREJA                                            fiéis, como ultimamente se tem visto? Como se pode
    No compêndio, com todas as aprovações canónicas          considerar pecado actos ou situações de vida que, se-
e adoptado pelo Seminário de Coimbra nos finais da           gundo cremos, na perspectiva de Deus e de Jesus, nun-
década de 1960, por onde estudámos a Primeira Carta          ca o foram nem nunca o serão: o amor e a família? Só
aos Coríntios, os autores, talvez libertos um pouco já,      se for pelo comportamento farisaico da exterioridade,
pelo Concílio, das camisas de força hermenêuticas an-        tão exorcizado por Jesus.
teriores, interpretam do seguinte modo: «4-6 … Una                  QUANT AO
                                                                       ANTO
                                                                 E QUANTO AO “DEIXÁMOS TUDO”?   TUDO”?
mujer hermana: una cristiana. Mujer…: puede tomarse              Também não será de levar tanto à letra. Não é ver-
en sentido próprio de esposa o de mujer en general. En       dade que eles continuavam com barcos disponíveis e a
el contexto cuadra mejor el primer sentido. Paulo podria     exercer a profissão de pescadores, mesmo após orde-
haberse casado y llevar consigo su mujer…» (LEAL, Juan       nados, e depois da Ressurreição de Jesus?
e outros, La Sagrada Escritura, Nuevo testamento II              Além das diversas referências aos barcos de traves-
Hechos de los Apóstoles y Cartas de S. Paulo, p. 405,        sia, com ou sem mar encapelado, não o prova, segun-
segunda edicion, B.A.C. Madrid 1965).                        do Jo 21, a aparição de Jesus Ressuscitado nas mar-
    E o que dizer do facto de Paulo afirmar, não só em       gens do Lago Tiberíades, após uma noite infrutífera de
1Tm 3 mas também em Tt 1, que entre as qualidades            pesca para Pedro e companheiros, com a bênção de
exigidas ao bispo, ao presbítero e ao diácono, é impor-      uma rede a abarrotar de tanto peixe que quase se ras-
tante que eles sejam homens de uma só esposa (unius          gava, numa segunda tentativa, às ordens do Mestre, que
uxoris virum), «pois se alguém não sabe governar a sua       foi necessário chamar os outros barcos?
casa, como cuidará da Igreja de Deus?»…                                                                    neves
                                                                                                  fernando neves

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  • 1. l espiral espiral boletim da associação FRATERNIT TERNITAS FRATERNITAS MOVIMENTO 1 10 anos N.º 38 - Janeiro / Março de 2010 vozes proféticas precisam-se Sousa Serafim de Sousa N os últimos dois meses, levantaram-se vozes di- versas a respeito dos sacerdotes que abando- naram o exercício das ordens. Felizmente no mês de Ja- preparação, muito estudo e muita reflexão em conjunto e em particular, dá-se o passo final, a ordenação. Ordenado presbítero ou até diácono, este sacramento neiro do ano em curso, tudo parece ter serenado e os imprime carácter. Nada o pode destruir, é indelével. Por telefonemas da comunicação social do mais diverso teor isso não gosto, não concordo com a expressão muito pararam. E tudo isto aconteceu porque um sacerdote usada no meio eclesiástico “redução ao estado laical” novo, com pouco mais de um ano de vida paroquial, se Acho esta expressão humilhante, e principalmente apaixonou por uma jovem de 18 anos. O sacerdote foi aniquilante. Usou-se, mas tem de deixar de se usar por entrevistado na televisão e deu mostras claras de uma não corresponder à realidade pura e simples. pessoa sensata e equilibrada. Nos tempos que correm, o povo de Deus já não se Por que é que tudo isto aconteceu? É sempre muito escandaliza com o casamento dos padres. Para as pes- fácil dizer que perdeu a vocação e por isso seguiu outro soas mais esclarecidas tanto lhes dá que os sacerdotes rumo. Ora eu não penso assim. Uma vocação é algo de sejam casados ou não. Querem, sim, ver gente capaz sagrado. Foi Deus quem chamou ao sacerdócio, come- de lhes transmitir o Evangelho da vida, a Palavra de Deus, çando pelo seminário menor até ao maior ou mesmo a celebração da Eucaristia e vivência cristã, sem pres- universidade. Depois de ordenado com vocação, com sas, sem rotina, onde se sinta bem a profundidade do fé e destinado ao serviço das almas ou do povo de Deus, amor a Deus e ao próximo. não se perde tudo isso de um momento para outro. A O sacerdote de que falei no princípio, se lhe conce- vocação continua, como todas as outras ideias ligadas dessem autorização para continuar como sacerdote ca- ao serviço da Igreja, que é o Corpo de Cristo. O que sado, com certeza poderia prestar relevantes serviços na acontece é que as circunstâncias da vida vão mudando. mesma ou noutras paróquias, formando, a partir da sua Muda o ambiente que nos rodeia, mudam as pessoas comunidade familiar, um pequeno núcleo que podia ser que nos acompanham, mudam também as nossas idei- excelente auxiliar na caminhada da fé. O mesmo acon- as e todos nós estamos num mundo onde a evolução é teceria com outros, que conheço, e a prestarem impor- contínua. Nós também evoluímos e mudamos. tantes serviços nas comunidades e serviços sociais. Diz o nosso povo :“Só os burros é que não mudam.” As regras da Igreja têm mudado ao longo dos tem- Eu costumo dizer :“A vocação ao sacerdócio é obra de pos e torna-se necessário que mudem também agora e Deus.” Deus chama quem quer, onde quer e como quer depressa, pois corremos o risco de as igrejas ficarem O chamado por Deus responde «sim» e depois de muita vazias e não mobilizarem ninguém. A mulher precisa de ter um papel na Igreja de acor- do com a sua dignidade. Afinal, o Cristianismo come- çou com o «sim» de uma mulher. Acabe-se com o que está obsoleto. Refresque-se a mente com novas formas de cativar e caminhar com Cristo. Ponha-se de lado a ideia de que só nós é que sabemos, pois o pulsar colec- tivo indica-nos que há outros modos, outros caminhos que atraem para Deus, Senhor do mundo e da vida ple- na. Juntos, homens e mulheres, poderemos ainda che- gar muito longe. Não vejam em mim um revoltado, ou visionário, mas apenas e só um homem de fé que olha o futuro com alguma apreensão, e peço ao Senhor que nos inspire a servi-Lo cada vez melhor.
  • 2. 2 espiral O ESCÂNDALO De coração aberto, D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, acolheu os seus padres dispensados do exercício do ministério ordenado. Na Igreja de Viseu, o histórico dia 19 de Dezembro de 2009, em que o seu pastor, atento aos sinais dos «Gostaria «Gostaria tempos, acolhe 17 dos 29 convidados, dos quais cinco que faltaram por impossibilidade, é um marco já inapagável. No encontro, de verdade e amor, a passagem bíblica ninguém se 1Cor 7, 9 («Melius est nubi quam uri: É melhor casar do que ficar abrasado»), sem que tivesse sido citada, foi sentisse à festejada no íntimo dos padres dispensados do exercício arte, parte, que do ministério sacerdotal, dispensa que a quase totalida- de tinha pedido na convicção de que o casamento é um me direito natural e inalienável de todo o ser humano, que ajudásseis.» também é vocação. pos e como, em conjunto, poderíamos colaborar e con- CONVITE PROFÉTICO tribuir (…) sobretudo para nos conhecermos e para es- D. Ilídio, cerca de um mês antes, na carta de convite tarmos juntos durante uma manhã.» para este encontro, sem dúvida com a ternura e inspira- Estavam preparados os nossos corações para o «sim» ção que o Espírito nele insuflara, afirmava que, sendo ao convite e dado o mote para o primeiro encontro, que bispo de Viseu há pouco mais de três anos, gostaria de iria ser um conclave a terminar com um almoço de con- se encontrar com todas as pessoas a quem fora envia- vívio: «somente o bispo com aqueles que, da nossa dio- do. Este Homem compreensivo e irmão lembra e pro- cese ou de outra mas a viverem aqui, foram e estão põe: «Um grupo que me estimula e desafia (…) é o gru- dispensados do exercício do ministério ordenado.» po dos que, como eu, foram ordenados sacerdotes (…) Destes, alguns fizeram outras opções, não deixando de DO CORAÇÃO DO PASTOR PAST ASTOR amar e servir, não amando e servindo menos, mas en- Na primeira e maior parte do encontro, uns, desco- tendendo que não poderiam continuar a fazê-lo de de- nhecidos, outros, que há muito se não encontravam terminada forma. Assim, conscientemente, optaram por porque residentes em vários pontos do país, mas todos, outro modo de ser e viver a sua vocação e a sua forma incluindo o anfitrião que nos recebia na sua residência e de estar na Igreja e no Mundo. Eu gostaria que (…) nos que fora o Seminário de vários dos presentes, com mui- encontrássemos e partilhássemos (…) reflectíssemos jun- to em comum, com grande à-vontade, apresentaram- tos sobre que Sociedade e que Igreja para os novos tem- se, falaram do seu currículo, das suas experiências de Encontro dos movimentos laicais, em Fátima Convocados pela Comissão Episcopal do Laicado e dos leigos no mundo, em resposta às necessidades des- Família, reuniram-se, em Fátima, no Centro Pastoral te e em conformidade com a missão da Igreja. Paulo VI e Casa Senhora do Carmo, de 5 a 7 de Feve- Para enriquecer o debate e iluminar as questões em reiro, muitos dos responsáveis dos movimentos e obras apreço, várias intervenções se fizeram ouvir, nomeada- laicais de Portugal. mente a de D. António Carrilho, presidente da Comis- A direcção da Associação Fraternitas Movimento, são Episcopal do Laicado e Família, do teólogo João correspondendo ao convite formulado, esteve presente. Duque e dos dirigentes nacionais Alexandra Viana Lo- O objectivo prioritário do encontro era a discussão pes e Pedro Duarte Silva. da proposta de Estatutos da futura Conferência Nacio- A voz da Fraternitas fez-se ouvir nos trabalhos de gru- nal do Apostolado dos Leigos (CNAL), cujas finalidades, po e plenários, assinalando, no entanto, a sua especifi- de acordo com o seu articulado estatutário, são: cidade no enquadramento eclesial: movimento de pa- – promover a comunhão entre os seus membros, e dres casados dispensados do exercício do ministério. entre estes e as estruturas eclesiais do apostolado dos Estando presente, deu-se a conhecer, contribuindo tam- leigos; bém para a comunhão na diversidade da nossa Igreja – – fomentar o discernimento comum das realidades Corpo Místico de Cristo. contemporâneas e dos desafios da sua evangelização; – contribuir para uma maior coordenação no serviço António Duarte António Duar arte
  • 3. l espiral 3 vida sacerdotal, profissional, familiar, eclesial, social… «na prática, o que qualquer leigo bem preparado pode A todos o pastor escutou atentamente, provocou res- fazer, peço que o façam e dêem sugestões os que cá postas, com a evidente intenção de conhecer-nos e, ain- vivem; sois formadores muito especiais, porque prepa- da mais notório, com a satisfação de estar connosco. rados». É de supor que o bispo de Viseu, nos seus escla- Confidenciou-nos os seus planos para este Ano Sacer- recimentos e decisões, foi até ao limite máximo da aber- dotal, em que não faz visitas pastorais às paróquias, para tura legítima a que pode chegar um bispo na sua dioce- poder visitar grupos arciprestais de padres e leigos e com se. eles celebrar a corresponsabilidade. O Pai na Fé passou a focar, de maneira clarividente, MENSAGEM QUE FICA MENSAGEM a nossa situação e relação na Igreja e com o bispo, Chegara a hora do almoço que D. Ilídio quis ofere- «nem sempre serena e próxima, também as normas da cer e, no caso, bem se lhe poderia chamar almoço de Igreja por vezes são frias e distantes» – reconheceu –, Natal, porque era na época e, sobretudo, era após re- mas, porque olha para mais além e quer aplicar a força flexões que mais nos tinham aproximado do Jesus-Amor. terapêutica da Boa Nova, eleva-nos à contemplação do No final, acordou-se continuar com outros encontros de coração de Deus e do Seu Reino, onde somos família e reflexão, podendo o próximo ser em Maio ou Junho, «quer cada um reconciliado consigo e com o seu passa- tendo-se abordado alguns tópicos que poderão sinteti- do». zar-se: Palavra de Deus e Concílio Vaticano ll versus Dirige-se, seguida e preferencialmente, a parte dos normas do Direito. ouvintes para os interpelar: «Queria estar convosco, so- Estamos em crer que, no íntimo de cada um, conti- bretudo, com os que vivem cá». Elucida que, na dioce- nuou a reflexão sobre o «escândalo ao contrário», as se, decorre o terceiro ano em que o Plano Pastoral é de consequências nefastas que constatamos na Igreja e na preparação para o Sínodo Diocesano, que decorrerá sociedade, e maneiras de reparar tudo isto. O subscritor de 2010 a 2015, para reflectir sobre o Concílio Vatica- destas notas, porque, no dia imediato, viu necessidade no II, celebrando-se em 2015/2016 os 50 anos do de enviar um e-mail ao seu prelado, incluiu o que se mesmo concílio. E conclui a interpelação: «Gostaria que segue: ninguém se sentisse à parte, que me ajudásseis.» «(…) o meu profundo agradecimento ao Pai na Fé De maneira contundente, e que tem a ver com a nos- desta diocese pelo encontro e palavras amigas de aco- sa «condição marginal na acção pastoral» (confessada, lhimento reconciliador e perspectivadoras de melhor fu- numa entrevista do ano, pelo cardeal Tarcísio Bertone, turo eclesial, que ontem nos proporcionou. Maravilho- secretário de Estado do Vaticano) a que temos sido vo- so! Rezo ao Espírito Santo para que Roma se Lhe abra e tados, reconheceu o que há de negativo e infeliz na ex- altere a disciplina em causa, não por mim, caduco, que pressão «redução ao estado laical», chapa inalterada já não aspiro a mais, mas por alguns sacerdotes dispen- nos rescritos que a Santa Sé nos tem enviado. Toda esta sados meus conhecidos, de competência e santidade marginalização porque havia o medo do “escândalo” indubitáveis, que, readmitidos ao exercício, tanto bem do Povo de Deus – referiu o nosso bispo –, apontou o proporcionariam ao faminto Povo de Deus. Julgo que o descabimento e corrigiu: «Hoje, o escândalo é ao con- contrário será escandalizar este mesmo Povo.» trário, por saber que há desaproveitamento»(…), por isso, Luís Cunha “Ah, se a Igreja ouvisse melhor as mulheres’’ Anne Soupa, jorna- «Houve períodos da História em que voz das mulhe- lista, biblista e teóloga res era muito mais ouvida. Na Idade Média, a palavra feminista católica, aca- de uma Hildegarda de Bingen, de uma Angela di Foligno, ba de fundar, junto com teve forte repercussão. Depois, mais tarde, Teresa d’Ávila, outros amigos, a cuja voz chegou até Roma...», afirma numa entrevista à Conférence des revista francesa Panorama, de Janeiro passado. «Todos Baptisé(e)s de France e todas temos uma parte feminina que acolhe a palavra (Conferência de Bapti- divina, que se deixa penetrar por ela. Também temos zados/as da França). uma parte masculina que vai à frente, que abre as por- Em 2008, ela ficou conhecida mundialmente ao criar o tas. Se a parte feminina fosse mais ouvida, acho que a “Comité de la Jupe” [Comitê da Saia] para contestar, Igreja estaria melhor. Sem dúvidas, os homens, na Igre- até mesmo no tribunal da Igreja, uma afirmação machista ja, estariam melhor, ousariam talvez mais facilmente abrir do cardeal arcebispo de Paris, Andrés Vingt-Trois: «O as portas ao lado feminino da sua própria espiritualida- importante não é ter uma saia, mas ter alguma coisa na de. E as mulheres também estariam melhor, às quais se cabeça» (6 de Novembro de 2008), que lhe pareceu impõe às vezes – em particular na vida religiosa – um indigna e reveladora do modo de pensar de um certo modelo muito calcado sobre os homens, que nem sem- número de padres com relação às mulheres. pre lhes permite realizar a sua feminilidade.» .
  • 4. 4 espiral PÁSCOA,ESPERANÇA ESTIMULANTE Tal como a Primavera nos confirma a revitalização cíclica da Natureza, a celebração anual da Páscoa reafirma a Primavera confirma revitalização Natureza, celebração reafirma confiança emergência for ort mort Ressurreição utopia confiança na emergência da vida mais forte do que a mor te. A mensagem da Ressurreição é essa utopia que horizonte Terr erra. tantos dilata a insatisfação humana até um horizonte além do vivido na Terra. Como acreditar nisso, quando tantos se deixam inv asfixia energias confiança? deixam invadir por uma onda de pessimismo, caindo num desânimo que asfixia as energias da confiança? Manuel António Ribeiro António Os desastres naturais e a persis- vés do mito do imperativo absoluto tência de uma terrível crise econó- da revolução técnico-científica, ao mica, deixando milhares de famílias serviço de um Estado omnipresente destroçadas pela praga do desem- e das elites que o compõem e o prego e da pobreza, lembram-nos, perenizam. de forma dramática, que a paixão Em nome das «verdades» da ci- de Cristo assume um negro realismo ência e da sacralização do lucro, vão nas imagens da morte e do sofrimen- sendo atingidos as liberdades indivi- to, regularmente actualizadas. duais e a dignidade da pessoa, ao Celebramos a Páscoa numa al- mesmo tempo que se geram perver- tura em que nos confrontamos com sões insanáveis, como a corrupção acontecimentos de tristeza e desola- e as novas formas de exploração do ção, sejam os que decorrem dos gri- Homem pelo Homem. Este modelo tos de dor, no Haiti como na Madei- de progresso, cujos benefícios de ra, no Chile como no Afeganistão e revelaram efémeros e enganadores, Turquia, sejam os que corporizam os está agora a ser travestido na exal- vergonhosos casos de pedofilia em tação de uma tecnologia que instituições católicas, ou que mos- robotiza e serializa, mostrando como tram o desespero dos que foram mais a frieza da técnica está a impedir a vitimados pela crise financeira. eclosão de um mundo mais humanizado. A MÃO HUMANA Nuns casos, a destruição saiu à INQUIETAÇÕES INQUIETAÇÕES rua pela força dos elementos da Os sinais de alarme estão a reti- Natureza, lembrando ao Homem a nir, de forma cada vez mais preocu- pela voracidade dos media. Um sua condição frágil, magnificamente pante. A violência e o empobreci- olhar atento poderá testemunhar re- retratada por Camões nos versos de mento crescente de vastas camadas alidades bem luminosas a aconte- «Os Lusíadas»: «Onde pode acolher- populacionais formam uma mistura cer diariamente. se um fraco humano /Onde terá se- explosiva que dinamita a esperança A corrente de solidariedade na gura a curta vida, /Que não se arme no futuro. sequência dos desastres ocorridos no e se indigne o céu sereno /Contra Quando a vida da pessoa é Haiti e na Madeira revelam bem que um bicho da terra tão pequeno?» subalternizada em nome da no coração humano não está Noutros casos, as forças da mor- maximização de bens materiais, é atrofiada a bondade. Muitas mais te foram provocadas pela crise do toda a Humanidade que se degra- provas disso se verificam no anoni- sistema neoliberal, assente numa ló- da, pois a sede desenfreada de ri- mato quotidiano. O estilo de vida gica que está a sobrepor-se à pró- quezas leva o Homem a fechar-se simples, o espírito de partilha, a ca- pria razão do homem. O aumento sobre si mesmo, atrofiando o que há pacidade de renunciar ao ter em das assimetrias sociais, tornando os de melhor em si: o amor, as relações nome da felicidade do outro e uma ricos cada vez mais ricos e os pobres verdadeiras, a capacidade de se abrir relação inteligentemente respeitosa cada vez mais pobres, é a denúncia aos outros e a Deus. com a Natureza são exemplos de clara de um «progresso» que não põe gestos que fazem diminuir o sofri- a pessoa humana no centro. SOLUÇÕES SOLUÇÕES mento e que incrementam relações O messianismo secularizado, de- Felizmente que, ao lado das fu- humanas mais harmoniosas. Man- pois de ter visto as consequências nestas notícias diariamente propa- da, por isso, o realismo que não po- desastrosas do mito da crença no ladas pela comunicação social, tam- demos minimizar a gravidade do progresso indefinidamente crescen- bém há muitas alegrias celestes nes- momento presente, acreditando in- te, pretende agora afirmar-se atra- ta terra, ainda que não detectáveis genuamente que um mundo novo e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * página oficial na Internet: w
  • 5. l espiral 5 possa nascer da desordem actual. Picasso, a nossa maior perda não é lho não leva a desviar o olhar dos Mas também não devemos abando- a morte, mas aquilo que morre em lados terríveis da vida, mas faz ver nar a esperança numa sociedade nós enquanto vivemos. nela uma luz capaz de ver para lá melhor, com a desculpa de que to- da espessa escuridão. Quando aco- das as utopias falharam. As previ- DA VISÃO CRISTÃ DA HISTÓRIA lhemos o projecto de Deus, somos sões catastróficas em relação ao fu- Os cristãos acreditam que conti- capazes de fazer o impossível para turo, em vez de suscitarem alertas nua a avançar na história o sonho que outras pessoas encontrem ale- preventivos, vão-nos preparando de Deus sobre a Humanidade e so- gria de viver. psicologicamente para aceitar a bre o cosmos. Esse sonho pareceu A verdadeira obra de arte, aque- inevitabilidade da desgraça. Pelo brutalmente interrompido na cruz, la que faz reanimar em nós a vida contrário, a capacidade de encarar mas foi aí que se manifestou verda- que nem a morte pode dissolver, o porvir com esperança pode trans- deiramente a força da vida para lá constrói os seus alicerces no interior formar a presente crise numa bên- da morte. do coração, porque é aí que germi- ção mobilizadora de energias. As so- O acontecimento pascal aviva- nam as verdades não luções a inventar não são fáceis, pois nos a confiança de que a morte, que percepcionáveis pela inteligência os excessos de liberalismo apelam pertence ao tempo, não pode atin- analítica. Como nos adverte Bento a um poder regulador, que só será gir a vida que está para além do tem- XVI, na conclusão da sua mensagem legítimo se estiver verdadeiramente po. Não há nada de contraditório, quaresmal, só o coração pode aco- ao serviço de todos, coisa que não quando os cristãos, em nome desta lher a justiça “maior” do Amor, essa está a acontecer nos dias de hoje. esperança estimulante, se compro- respiração pneumática que leva o Todavia, as dificuldades tornam- metem na transformação concreta homem a sentir-se “mais devedor do se intransponíveis se deixarmos mor- da sociedade, sem caírem no logro que credor, porque recebeu mais do rer a confiança, já que, como intuiu das consolações fáceis. O Evange- que aquilo que poderia esperar”. A FIDELIDADE DE DEUS: ELE CUMPRE A SUA PALAVRA Uma reflexão de um grupo da Universidade Sénior de Castelo de Paiva, partilhada por Joaquim Soares Leitura de Génesis (17, 1 – 27): dência era necessária ao trabalho de rerá a uma subtileza: é vontade de Deus faz uma aliança com Abrão, pastores, à sobrevivência da tribo; a Deus? Assim, pela posse da terra, que será pai de uma longa descen- terra era indispensável às pastagens torna-se uma tribo sedentária... dência e possuirá a terra que ocupa – a riqueza da família, a força e a Há depois o problema da suces- como estrangeiro. Contra todas as defesa da tribo. são. Abraão reconhece que Sara está expectativas, Deus mantém a Sua Versículo 14 – A circuncisão era de idade avançada. Entretanto exis- palavra. Isaac será herdeiro da uma cerimónia praticada nos primei- te Isaac. Intervenção de Deus? Sim. Abrão, que passou a chamar-se ros oito dias da vida do menino. Sa- O que se passa é obra de Deus, não Abraão, e continuador da Aliança dismo do sofrimento? Marca a en- é obra de homens. A terra, o filho, com Deus. A Aliança tem um aspec- trada na vida que é sofrimento? são frutos da iniciativa de Deus. to social – a descendência numero- O sexo feminino era excluído des- É preciso defender a Fé no Deus sa, a posse da terra; e um aspecto te rito. Porquê? Uma excepção? Ig- único, preservar a Fé numa socieda- pessoal e social – a circuncisão. norância do aparelho genital? O de rodeada por povos politeístas. Por Versículo 1 – «Eu sou o Deus aparelho sexual da mulher é interior isso, impôs-se a circuncisão, que supremo.» Ou Omnipotente. Com ao corpo? implica a adesão pessoal, individu- os primeiros patriarcas, Deus é co- A circuncisão, rito exterior, simbo- al, da pessoa a Deus e à Lei. É uma nhecido exactamente pelo poder; liza a outra, a interior, do coração. identificação – o incircunciso seria com o povo de Israel, Deus mani- Versículos 15 a 21 – Sara signifi- erradicado dentre o povo. festa a Sua fidelidade às promessas. ca princesa. Deus altera-lhe o nome A mulher não e circuncidada, Versículo 3 – Abrão adorou o pelo mesmo motivo da alteração ao porque são um só pelo casamento Senhor: «Anda na minha presença nome do marido? Deus tira as dúvi- (cf. Gn 2, 24 Transmite-se a ideia cf. cf 24)? e sê perfeito», quer dizer: cumpre os das a Abraão: de facto Sara gerará de que a mulher é companheira pri- Meus preceitos, as Minhas ordens. um filho – Isaac – o herdeiro das pro- vilegiada do homem (ideia retoma- Abrão, por indicação de Deus, messas divinas. da de Gn 1, 27 27)? passa a chamar-se Abraão: ‘ab’ sig- «…Deus desapareceu de junto de Este casal em idade avançada nifica pai, e ‘raham’ multidão. É Abraão» – realizada a missão, Deus não desiste do que lhes é mais caro. encarregado de uma missão. Co- remete-se ao silêncio. E Deus acompanha-os, alimenta o meçou assim o seu ‘mandato’. Quererá Abraão mudar o curso sonho. Superam a crise. Isaac con- A Aliança traduz-se em descen- da vida, transformar o nomadismo firma-lhes a bênção de Deus. Os dência e posse da terra. A descen- em que até agora têm vivido? Recor- seus esforços tiveram resposta. www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesouraria@fraternitas.pt
  • 6. 6 espiral Cinquenta anos alerta para servir com dedicação A luz que brilha, em girândolas de fulgor. Pastoral da Pontifícia Universidade de Salamanca, onde O rosto de um homem, que percorreu caminhos, me licenciei, apresentando uma tese sobre «Adolescen- Os mais variados, de Lardosa à Montanha Sagrada tes – caminho para uma educação libertadora». Já em Lisboa, licenciei-me em História, na Universi- O padre Afonso Ribeiro foi o meu herói, em peque- dade Clássica, e em Ciências Literárias, na Universida- nino. Queria ser como ele. Não consegui. Os seminári- de Nova. E continuei a aventura da educação na forma- os de Gavião, Alcains, Marvão e Portalegre foram luga- ção de professores e na gestão das escolas, como presi- res de encontro, formação, fé, amizades e cultura. Com dente do Conselho Directivo da Escola Secundária de os saudosos Eusébio e Tomás Farinha, subi ao altar, a Santa Maria, em Sintra, e director executivo da Ferreira 12 de Julho de 1959: instante maravilha, rosa que ama- de Castro, em Mem Martins. Procurei ajudar a construir nhece, ideia que brilha e floresce. uma escola viva e solidária, em que se partilhavam ri- Fui secretário particular desse grande homem e bis- quezas, alegrias e dores, esperanças e amores, porque po, D. Agostinho de Moura. Era um amigo e um apelo os jovens sentiam a aventura diária das aulas, visitas e constante de Deus. dos projectos, e viva e solidária porque os professores e Em 1960, começou a minha saga com os jovens, no pais tinham o seu lugar determinante. colégio diocesano de Santo António. Em 1965, fui no- Em 1999, com os meus irmãos José e António e al- meado director. Rompemos com velhas tradições, in- guns amigos (Guilhermina, Augusto e Gina), a prestimosa troduzimos a coeducação e a participação de todos na ajuda do presidente, Joaquim Morão, e da população responsabilidade. Nasceram amizades, desenvolveram- local, lançamo-nos na grande aventura da construção se segredos, brilhou o diálogo espontâneo e descobriu- de um Lar, na nossa terra, Lardosa. Depois de grandes se a beleza da comunidade educativa. lutas e sacrifícios, inaugurámos-lo em Novembro de Simultaneamente, vivi a aventura do escutismo. Fre- 2004, para gáudio e tranquilidade dos nossos idosos. quentei campos de formação em Braga, França e Ingla- E agora talvez possa dizer, com verdade, que deixei terra. Como assistente diocesano, ajudei alancar os agru- algumas marcas nas areias do tempo. Plantei árvores, pamentos de Portalegre, Castelo Branco, Abrantes, escrevi livros e tenho dois filhos admiráveis: Manuel Luís Alpalhão, Gavião, Ponde de Sor, Tramagal, Mouriscas, e Inês Maria, e uma esposa, Maria de Fátima (Fatinha), Mação, Sertã, Proença-a-Nova, Alcaisn e Idanha-a- afável, generosa e carregada de humanidade. Nova. Já assistente-geral dos exploradores, realizámos, em Portalegre, o XII Acampamento Nacional. A Fatinha faleceu no dia 28 de Setembro de 2009, Embrenhei-me também, a fundo, no movimento dos vítima de cancro da mama. Suportou heroicamente a Cursos de cristandade, dinamizando algumas dezenas doença, durante sete anos. nas dioceses de Lamego, Aveiro e Faro. Era uma mãe extremosa, amando e servindo os seus Quando em 1972 me dirigi a Segóvia, para frequen- dois maravilhosos filhos, o Manuel e a Inês. tar um Curso de Diálogo, estava longe de pensar no Era uma esposa solícita, a minha alma gémea, atenta impacto que iria ter na minha vida. O Movimento por à minha missão de padre-professor. Para quê o celiba- um Mundo Melhor procura a renovação das comunida- to com uma mulher assim? des, a partir da base e de uma educação personalizada Era linda, generosa e carregada de humanidade. e humanista. Já integrado na equipa nacional, animei Estará, para sempre, no coração dos seus familiares centenas de cursos por todo o país. e amigos. Há um tempo para tudo E vou continuar a fazer, fazer melhor, «não atacando, Em 1974, fui para Madrid frequentar o Instituto de não odiando, mas amando». Duar arte Manuel Duarte Luís INTERPRETAR SABER LER E INTERPRETAR Celibato e Matrimónio Como interpretar tudo isto? Com certeza que, à se- Na defesa do celibato obrigatório, a Igreja, além de melhança do que se diz sobre o cortar a mão ou pé e 1Cor 7, escuda-se também em Mt 19, onde os discípu- arrancar o olho, se eles forem ocasião de pecado ou los, face a tantas exigências na vivência matrimonial, escândalo (Mc 9, 42-50), também aquelas passagens concluem que, então o melhor é não se casar. Jesus não devem ser tomadas à letra, com fundamentalismo. responde-lhes que isso é só para eunucos. E também no Trata-se do estilo oriental hiperbólico, mediante o qual relato do jovem rico, no mesmo capítulo de Mateus, con- se tenta inculcar no ouvinte ou leitor a mensagem: evitar cluído com uma pergunta de Pedro «Nós deixámos tudo o mal, o pecado, o escândalo, mesmo com sacrifícios. e seguimos-Te, qual será a nossa recompensa?», res- Foi assim que o entenderam os Apóstolos, como se ponde: «… sentar-vos-eis em doze tronos… E todo aquele deduz da forma como vivenciaram estas mensagens, nas que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mu- suas vidas. Caso contrário, Pedro, já ordenado, teria de, lher, filhos ou terras…» pelo menos, ter cortado a língua com a qual renegou
  • 7. l espiral 7 «O sacerdócio nunca foi um ónus» DEDICADO a vós nidade familiar – esposa e três filhos – e todos eles já Maria Cristina, com as respectivas esposas, ao serviço da sagrada cau- Pedro Miguel, Francisco João e José António, sa, e nos mais diversos meios de acção e missão. de quem Deus fez, para felicidade minha, Alegra-me, por isso, a grata notícia que recortei dos e na tarde da minha vida, jornais acerca do convite do bispo de Viseu, D. Ilídio uma abençoada alvorada do Céu Leandro, para um encontro com os sacerdotes da dio- Os últimos grãos de areia da minha ampulheta vão- cese que pediram dispensa das ordens sacras. É que, me lembrando que estou quase a ter 91 anos de idade, tendo predominado – e em muito – a condição e cariz com a gratíssima recordação de que o nosso saudoso e de uma Igreja de poder, saber e de ter, é mais do que sempre querido P e Filipe de Figueiredo foi comigo que . hora para se testemunhar a Igreja do ser: mais de ir- teve uma das primeiras conversas sobre o sonho-projec- mãos, e menos de senhores e de súbditos. to da nossa Fraternitas. Já colaborava com ele, ainda Não admira, por isso, que o santo João Paulo II já no exercício da sagrada ordem do Sacerdócio, e conti- subscrevesse: um dia para se encontrarem «homens bons» nuou a mobilizar-me depois que pedi – e rapidamente teriam de se buscar entre muitos que «até já não pisam me foi concedida – a «recondução ao estado laical». o adro das igrejas». Ou mesmo entre muitos que, dizen- Recusei-me, então, a assinar o pedido de «dispensa do-se das mais estranhas filosofias, crenças e culturas, de ónus sacerdotal», como era da praxe, porque o sa- «são cristãos que se ignoram», como os qualificou Jean cerdócio nunca foi para mim um ónus, mas uma mis- Guitton. são. E em missão me mantive, por opção, como leigo Tem sido, no leque variado das minhas múltiplas fren- que voltei a ser, embora – e como ainda recentemente tes de trabalho e de missão, também minha esta surpre- se sublinhou em Jornadas sobre o Laicado – apesar dos sa e graça: quanta gente boa e de bem, e sem outro pronunciamentos e documentos conciliares tanto subli- rótulo significativo senão só o de «fazer o bem», como o nhassem a natureza do laicado e a missão dos leigos na bom samaritano!... Igreja, a verdade – e triste realidade – é que o laicado Ao esgotar-se a última areia da minha ampulheta, está por ganhar completa verdade. aos 91 anos, deixai-me que vos confidencie este meu Servi a Igreja, não hierarquia mas povo de Deus, em testemunho leal, amigo e fraterno. É como se fosse a doação total durante 30 anos, “pontificando” e olhan- minha mensagem para o feliz e abençoado retiro, reali- do do supedânio, como então ainda dos púlpitos, para zado em Fátima, mas a que as minhas dificuldades de a nave. E, depois, passei a olhar a Igreja, até agora, deslocação impedem de participar. mas anonimamente entre o povo da nave, olhando para De longe – mas com o coração muito perto de vós – o altar… E em que condições? As mesmas de qualquer vos saúdo a todos, bem como a Maria Cristina, esta cristão anónimo. Apenas por graça da Fé. abençoada samaritana que Deus me fez encontrar na Contudo, nunca me deixei de sentir em missão – e vida há já 60 anos, e que tem sido, tanto ela como os nas mais diferente frentes – ao serviço da mesma sagra- meus filhos, a minha força para continuar a servir até ao da causa, e com não menos generosidade e variedade fim. São tantos os trabalhos que ainda tenho em mãos… de sectores de trabalho do que antes. E uma surpresa: nas Misericórdias, deram o meu Com uma particularidade que foi para mim a maior nome a um Centro de Documentação, Informação e bênção: antes, era eu só; agora é toda a minha comu- Estudos. Manuel Ferreira da Silva Silv Jesus, etc. Sabemos que não o fez e, mesmo assim, foi nem considerou o sexo como fonte de pecado e de todo perdoado por Jesus. o mal como, tantas vezes, homens da hierarquia da Igreja E deixaram os Apóstolos as mulheres esposas? Não. pensam e fazem, porque impregnados de ideias Jesus curou a sogra de Pedro, já apóstolo seguidor de maniqueístas e quejandas! Pelo contrário, «Deus, vendo Jesus (Mt 8,14): «E ela, levantando-se, pôs-se a servi- toda a sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1, 31). los.» Então Pedro era casado! Mas voltemos a 1Cor, capítulos indicados. Depois PARECER S. PAULO O PARECER DE S. PAULO de falar de forma tão apaixonada sobre a virgindade, Paulo, em 1Cor 8 e 9, faz idêntico percurso, ao pro- não é o mesmo Paulo que, traduzido por Ambrósio, diz: por a virgindade como forma mais excelente (?) de vida, «Numquid non habemus potestatem mulierem sororem mas mostrando que depois, na vida real, ela é quase circumducendi sicut et caeteri Apostoli, et fratres Domini impossível. Nem outra coisa seria de esperar, pois, a et Cephas? Aut ego solus, et Barnabas, non habemus primeira comunicação bíblica de Deus com o Homem é potestatem hoc operandi?» [«Não temos o direito de le- a explicitação de algo que está gravado na própria na- var connosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os tureza da criatura: «Abençoando-os, Deus disse-lhes: restantes Apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas? Ou “Crescei e multiplicai-vos. (Gn1,28). Não os amaldiçoou só eu e Barnabé é que não temos o direito de proceder (continua na última página)
  • 8. espiral Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | Redacção: Fernando Félix | Prac. Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816 QUELUZ | E-mail: fernfelix@gmail.com VIDA FRATERNITA S VIDA FRATERNITA de Bouças/Cinfães), vítima de cancro nos intestinos. O Amaral está no último ano do estágio profissional, no Dia 3 de Dezembro: 13.º aniversário de Encontros Mestrado em Filosofia; Vivenciais (Autoconhecimento, Sacramentos e Bem- dia 20: Manuel Paiva (Oliveira de Azeméis) dá con- Aventuranças) na casa de Cristo Martins (Mem Martins); ta da bênção e inauguração de um espaço solidário dia 14: «Continuamos em diálogo sincero e leal com com o nome do pároco local, para fornecer refeições o bispo de Angra. Os documentos para a dispensa che- aos pobres e àqueles que, por desemprego, sofrem pe- garão no próximo ano. Iniciarei Mestrado em Ciências núrias. Faz parte da direcção do Centro Social Paro- Sociais.» F.J.S.M., não sócio dos Açores. quial que promove a iniciativa. (…) E lançou um livro, Dia 2 de Janeiro: Maria de Lurdes Branco (esposa cuja receita reverte para estas obras paroquiais; de António J. Branco, de Chaves), fez já 8 operações; dia 22: operação do Vasco (Porto) a um aneurisma dia 6: Primeiro contacto de João Tavares, de na aorta, por cataterismo. Correu bem e a convales- Carvalhais e residente no Brasil. Padre (comboniano) cença aconteceu em toda a Quaresma; dispensado e membro do MPC, congénere à nossa as- dia 25: O presidente , Serafim Sousa, visitou o P e. sociação. Contacto: padrescasados@grupos.com.br; Guilhermino Saldanha em Chaves, onde se encontra dia 10: António M.M. de Sousa colocou pacemaker; no Hotel Geriátrico. «O estado dele é muito melhor. dia 11: José Alves Rodrigues e São continuam como Come por sua mão (esquerda ). Quando nos viu (...) soureiro e presidente da APN (As. Port. Doentes fez um sorriso de orelha a orelha (...). Ainda não fala.» Neuromusculares); Manuel Sousa Gonçalves (Bagunte/ Dia 1 de Março: Ana Vaz T. B. da Silva, da Junqueira V. do Conde) e Armando Marques da Silva referem o (V. do Conde) comunicou que está viúva desde 8 de mal-estar por causa da maleitas na próstata. Agosto. Manuel Baptista da Silva foi vítima de AVC; Dia 3 de Fevereiro: o filho de Lúcio e Bárbara Sousa Fevereiro: dia 2: um postal de D. Serafim Ferreira e Silva (Fá- (Cuba/Alentejo), Nuno, ordenado em 28.06.09, é pá- tima) – «Rezo por vós. Talvez nos encontremos em Abril»; roco em Mora; dia 9: José Sampaio Ferreira (Lisboa) continua com dia 4: faleceu o pai da Maria J. Bijóias, sogro do a ventilação/oxigenação 16 a 18 horas diárias; Fernando Félix (Massamá), após doença prolongada; dia 24: Francisco Monteiro (Lisboa) tem andado com 6: dia 6 faleceu o pai de António R. Amaral Pinto (Cruz problemas de saúde e pede orações. Celibato e Matrimónio (continuação) O celibato é uma instituição humana não intrínseca desse modo?»] É, pois evidente, que, de tal forma Paulo e obrigatoriamente ligado àquele ministério, como se afirma que os Apóstolos eram casados com uma mu- viu pelas citações feitas da Palavra de Deus. lher irmã-cristã, que até salienta – na sua perspectiva de É que não se trata de um preceito divino como o virgindade – um certo escândalo para si por não só al- «Crescei e multiplicai-vos», mas tão-somente de um dos guns apóstolos, mas até os irmãos do Senhor (Tiago e chamados “conselhos evangélicos”, que Jesus procla- João?) e próprio Pedro serem e viverem casados. mou para todo e qualquer discípulo Seu, à semelhança E é como se dissesse mais: eu, sendo apóstolo, se das Bem-Aventuranças. não sou casado é porque não quero. Nada mo proibia. Face a carestia da Eucaristia, que a Igreja tinha por Só que tenho tendência para ser eunuco, talvez devido obrigação proporcionar a todo o Povo de Deus, não à minha formação rabínica. Quem sabe se não seria será isto um pecado contra o Espírito Santo? Não será este o espinho, o anjo de Satanás, que atormentava a reger-se por regras humanas, que nem sempre foram vida de Paulo! assim, e tantos distúrbios e escândalos têm causado aos DA USO DA IGREJA fiéis, como ultimamente se tem visto? Como se pode No compêndio, com todas as aprovações canónicas considerar pecado actos ou situações de vida que, se- e adoptado pelo Seminário de Coimbra nos finais da gundo cremos, na perspectiva de Deus e de Jesus, nun- década de 1960, por onde estudámos a Primeira Carta ca o foram nem nunca o serão: o amor e a família? Só aos Coríntios, os autores, talvez libertos um pouco já, se for pelo comportamento farisaico da exterioridade, pelo Concílio, das camisas de força hermenêuticas an- tão exorcizado por Jesus. teriores, interpretam do seguinte modo: «4-6 … Una QUANT AO ANTO E QUANTO AO “DEIXÁMOS TUDO”? TUDO”? mujer hermana: una cristiana. Mujer…: puede tomarse Também não será de levar tanto à letra. Não é ver- en sentido próprio de esposa o de mujer en general. En dade que eles continuavam com barcos disponíveis e a el contexto cuadra mejor el primer sentido. Paulo podria exercer a profissão de pescadores, mesmo após orde- haberse casado y llevar consigo su mujer…» (LEAL, Juan nados, e depois da Ressurreição de Jesus? e outros, La Sagrada Escritura, Nuevo testamento II Além das diversas referências aos barcos de traves- Hechos de los Apóstoles y Cartas de S. Paulo, p. 405, sia, com ou sem mar encapelado, não o prova, segun- segunda edicion, B.A.C. Madrid 1965). do Jo 21, a aparição de Jesus Ressuscitado nas mar- E o que dizer do facto de Paulo afirmar, não só em gens do Lago Tiberíades, após uma noite infrutífera de 1Tm 3 mas também em Tt 1, que entre as qualidades pesca para Pedro e companheiros, com a bênção de exigidas ao bispo, ao presbítero e ao diácono, é impor- uma rede a abarrotar de tanto peixe que quase se ras- tante que eles sejam homens de uma só esposa (unius gava, numa segunda tentativa, às ordens do Mestre, que uxoris virum), «pois se alguém não sabe governar a sua foi necessário chamar os outros barcos? casa, como cuidará da Igreja de Deus?»… neves fernando neves