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Análise Psicológica (2004), 4 (XXII): 705-720




A expressão das formas indirectas de
racismo na infância (*)

                                                               DALILA XAVIER DE FRANÇA (**)
                                                              MARIA BENEDITA MONTEIRO (***)




A EXPRESSÃO DAS FORMAS INDIRECTAS DE                      tner & Dovidio, 1986; Katz & Hass, 1988; Kin-
        RACISMO NA INFÂNCIA                               der & Sears, 1981; McConahay & Hough, 1976;
                                                          Pettigrew & Meertens, 1995). A análise das for-
   Vários estudos realizados com adultos têm              mas mais subtis e indirectas de expressão do ra-
demonstrado que as formas de expressão do ra-             cismo e do preconceito nos adultos tem gerado
cismo na sociedade contemporânea estão se tor-            um amplo corpo teórico e metodológico na psi-
nando progressivamente mais subtis, mais indi-            cologia social. Contudo, há uma carência de es-
rectas e menos abertamente negativas do que               tudos que analisem as formas mais subtis e in-
eram até a primeira metade do século XX (Gaer-            directas de racismo na infância. Os estudos que
                                                          analisam o preconceito na infância afirmam que
                                                          após os sete anos de idade as crianças tornam-se
                                                          menos preconceituosas (e.g., Aboud, 1988; Big-
                                                          ler & Liben, 1993; Brown, 1995; Doyle & Aboud,
   (*) Este artigo decorre de investigações parcialmen-   1995; Doyle, Beaudet, & Aboud, 1988; Katz &
te financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecno-
logia (FCT) do Ministério da Ciência, no quadro do        Zalk, 1978; Williams, Best, Boswell, Mattson, &
Projecto “Social and cognitive factors of social iden-    Graves, 1975; Yee & Brown, 1992). Esta diminui-
tity construction and management in inter-ethnic rela-    ção no preconceito é explicada através da aqui-
tions: a developmental approach”, ref. POCTI/PSI/419      sição de novas estruturas cognitivas por parte da
70/2001, em curso no Centro de Investigação e de In-
tervenção Social (CIS/ISCTE).
                                                          criança e pelo amadurecimento das já existentes
   Qualquer contacto deve ser dirigido à primeira au-     (Aboud, 1988; Doyle & Aboud, 1995). Mas se isto
tora, para o seguinte endereço: Dalila Xavier de Fran-    é verdade (se o preconceito na infância é o resul-
ça, Departamento de Psicologia da Universidade Fe-        tado do insuficiente amadurecimento de estrutu-
deral de Sergipe, Estado de Sergipe, Brasil. E-mail:
                                                          ras afectivo-cognitivas), como então explicar a
dxfranca@msn.com
   (**) Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da   presença de atitudes preconceituosas, mais tarde,
Empresas (ISCTE), Centro de Investigação e de Inter-      nos adultos? A presente pesquisa visa demons-
venção Social (CIS/ISCTE), Coordenação para o Aper-       trar que, a partir de certa idade, as crianças, dife-
feiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES),        rentemente do que afirma a abordagem cognitiva
Universidade Federal de Sergipe (Brasil).
   (***) Instituto Superior de Ciências do Trabalho e     do desenvolvimento do preconceito na infância,
da Empresas (ISCTE), Centro de Investigação e de Inter-   não reduzem a expressão do preconceito, mas
venção Social (CIS/ISCTE).                                apenas mudam, em determinadas circunstâncias,

                                                                                                             705
o modo de expressão desse preconceito, tornan-            As teorias referidas anteriormente analisam os
do-se mais indirectas.                                 aspectos mais velados do racismo e os efeitos da
                                                       norma social anti-racista na expressão do racis-
  As novas formas de preconceito e racismo nos         mo, mas enfatizam pouco a importância da sali-
  adultos                                              ência contextual de resposta no racismo (à exce-
                                                       pção da teoria de Katz e Hass, 1988). Assim, de
    A teorização acerca das formas contemporâ-         entre as novas teorias sobre o racismo, uma nos
neas de expressão do preconceito e do racismo          interessa analisar em particular é a teoria do ra-
assume a natureza complexa e conflituosa destes        cismo aversivo. Esta teoria afirma que são os con-
fenómenos, bem como das suas consequências             textos de resposta que determinam as expressões
na vida social. Recordamos aqui algumas das mais       mais abertas ou mais veladas de racismo (Gaert-
salientes, de modo a virmos a levantar hipóteses       ner & Dovidio, 1986). De modo que, em contex-
sobre a natureza destes mesmos fenómenos na            to nos quais a resposta socialmente desejável não
infância.                                              está definida claramente, ou ainda em contextos
    A teoria do racismo ambivalente foi criada e       nos quais é possível encontrar uma justificação
desenvolvida por Katz, Wackenhut e Hass (1986),        não relacionada com a etnia ou a raça para ex-
que entendem o racismo como o resultado do con-        plicar uma resposta negativa em relação aos ne-
flito de atitudes e de sentimentos dos americanos      gros, o comportamento discriminatório pode ocor-
brancos em relação aos americanos negros, con-         rer (Dovidio & Gaertner, 1998; Gaertner & Do-
flito este motivado pela coexistência de senti-        vidio, 1986, 2000).
mentos de simpatia e de rejeição em relação aos           Gaertner e Dovidio (1986) designaram como
negros. Os negros seriam simultaneamente per-          racismo aversivo a forma de expressão de racis-
cebidos pelos brancos como desviantes e em des-        mo apresentada pelos indivíduos que possuem
vantagem social, o que geraria sentimentos con-        fortes valores igualitários. Segundo estes auto-
flitantes de aversão e de simpatia.                    res, em situações ou em face de acontecimentos
    A teoria do racismo simbólico (Kinder & Sears,     que tornam salientes atitudes negativas em rela-
1981; McConahay & Hough, 1976), por seu tur-           ção aos Negros, as pessoas que se julgam iguali-
no, afirma que as atitudes contra os negros de-        tárias tendem a repudiar ou a dissociar estes sen-
correm da percepção deste grupo como uma amea-         timentos de sua auto-imagem de igualitárias, e
ça aos valores do individualismo, sendo por isso       tentam agir evitando estes sentimentos.
uma ameaça simbólica. Segundo Kinder e Sears              Dovidio e Gaertner (1998) conduziram alguns
(1981, p. 416) «symbolic racism represents a form      estudos experimentais com o propósito de mos-
of resistance to change in the racial status quo       trar que em situações nas quais a norma anti-ra-
based on moral feelings that blacks violate such       cista é clara, os Negros são tratados tão favora-
traditional American values as individualism           velmente quanto os Brancos, pois discriminá-los
and self-reliance, the work ethic, obedience and       feriria a auto-imagem igualitária da pessoa.
discipline».                                              Gaertner (1973) testou estes pressupostos em
    Já a teoria do preconceito subtil (Pettigrew &     dois experimentos utilizando o paradigma do
Meertens, 1995) distingue duas formas de pre-          Helping Behaviour. No experimento 1, membros
conceito: o preconceito subtil e o preconceito fla-    do partido Liberal e do partido Conservador re-
grante. O preconceito flagrante é directo e explí-     ceberam chamadas telefónicas aparentemente erra-
cito. O preconceito subtil, por seu lado, tem co-      das que rapidamente se tornaram num pedido de
mo fundamento a defesa dos valores do indivi-          ajuda. Estas chamadas eram feitas por dois com-
dualismo da civilização ocidental, associada a cren-   parsas do experimentador, que podiam ser clara-
ças de que os membros dos grupos minoritários          mente identificados por seu sotaque como sendo
recebem benefícios imerecidos. As pessoas sub-         Branco ou Negro. Assim, o comparsa explicava
tis caracterizam-se por exagerarem as diferenças       que o seu carro estava avariado e que ele estava
culturais entre os membros do endogrupo e os           a tentar chamar o serviço de desempanagem de
membros do exogrupo, e pela recusa na expres-          um telefone público. Acrescentava ainda que já
são de reacções emocionais positivas em relação        não tinha maneira de fazer outra chamada e pe-
àqueles.                                               dia ao participante para o ajudar, telefonando ele

706
para o serviço de desempanagem. A variável ana-       mais caros ao Norte-Americanos brancos, de que
lisada era o comportamento de ajuda, expresso         recebem mais do que merecem e de que fazem
pelo facto do indivíduo telefonar ou não para um      exigências ilegítimas a fim de mudarem seu es-
suposto número de uma garagem, onde outro             tatuto racial. Nesta teoria, McConahay, Hardee e
comparsa do experimentador atendia a chamada.         Batts (1981) manipulam o efeito das normas so-
Os resultados indicaram que os Conservadores          ciais no racismo, através da presença da etnia da
prestaram menos ajuda aos Negros do que aos           entrevistadora na discriminação contra os Ne-
Brancos e que, embora os Liberais ajudassem o         gros, e sugerem que a presença da entrevistadora
Negro e o Branco igualmente, desligavam a cha-        negra induz a diminuição de respostas discrimi-
mada mais frequentemente ao Negro do que ao           natórias contra pessoas Negras ou seja, torna sa-
Branco.                                               liente a norma anti-racista. Segundo McConahay
   No experimento 2, Gaertner (1973) entrevis-        et al. (1981), a expressão do racismo depende de
tou outros membros dos partidos Liberal e Con-        quem pergunta e também do que é perguntado.
servador sobre o que eles achavam que fariam se          McConahay et al. (1981) realizaram estudos a
recebessem chamadas telefónicas erradas de um         fim de verificar em que medida as respostas dos
motorista Negro ou de um motorista Branco pe-         entrevistados são alteradas a fim de parecerem
dindo ajuda. Os resultados indicaram que a dis-       menos racistas perante si mesmos e perante os
posição expressa para ajudar a ‘vítima’ Negra         outros.
era igual à disposição expressa para ajudar a ‘ví-       No primeiro estudo, estudantes universitários
tima’ Branca, e que não existia qualquer diferen-     Brancos respondiam a um questionário de opi-
ça entre Liberais e Conservadores nesse compor-       nião. Os participantes foram distribuídos por duas
tamento. Gaertner (1973) concluiu que, quando a       condições que pretendiam maximizar ou minimi-
norma anti-racista está saliente, a discriminação     zar respostas preconceituosas para as escalas de
no comportamento de ajuda não se manifesta.           racismo moderno e tradicional. Na primeira con-
   Num estudo mais recente, Dovidio e Gaertner        dição, os questionários eram distribuídos e reco-
(2000) afirmam que, mesmo quando as directri-         lhidos por uma experimentadora Branca. Na ou-
zes normativas estão claras, os racistas aversivos    tra condição, era uma experimentadora Negra quem
podem lançar mão de factores não raciais para         distribuía e recebia os questionários. A hipótese
justificar uma resposta negativa em relação aos       subjacente à manipulação experimental era a de
Negros. Para demonstrar este pressuposto, Dovi-       que, diante da experimentadora Negra, os parti-
dio e Gaertner (2000) utilizaram uma situação de      cipantes tenderiam a mostrar-se menos racistas,
selecção de candidatos para um emprego, na qual       pois estariam mais motivados pela norma anti-ra-
os participantes avaliavam os supostos candida-       cista, do que perante a experimentadora Branca.
tos com base em extractos de entrevistas. Os ex-      Os resultados encontrados apoiaram estas hipó-
tractos de entrevistas apresentavam três condi-       teses. Estes resultados foram replicados num se-
ções: altas qualificações (um pré-teste indicou que   gundo estudo. McConahay et al. (1981) concluem
o candidato seria aceite em 85% dos casos); fra-      que a presença de uma entrevistadora Negra po-
cas qualificações (o candidato seria aceite em 15%    de tornar saliente a norma-antiracista.
dos casos) e qualificações moderadas (o candida-         Como salientam Vala, Brito e Lopes (1999),
to seria aceite em 50% dos casos). Os participan-     todas estas novas formas de expressão do racis-
tes avaliavam um candidato Branco ou um can-          mo têm em comum o facto de sustentarem que o
didato Negro. Segundo os autores, a discrimina-       racismo se manifesta hoje de uma forma indire-
ção contra os Negros só aconteceria num con-          cta ou encoberta, e que este carácter encoberto
texto em que houvesse uma justificação não ra-        reflecte as pressões da norma social anti-racista
cial, ou seja, no contexto de qualificação mode-      sobre as atitudes raciais dos indivíduos.
rada. Os resultados confirmaram esta hipótese.           Estudos feitos em Portugal também têm mos-
   Uma outra teoria que analisa os efeitos das        trado que as normas sociais actuam como variá-
normas sociais nas expressões do racismo é a          vel moderadora nas expressões de racismo (ver
teoria do Racismo Moderno (McConahay, 1986).          Gonçalves & Garcia-Marques, 2002; Lima & Va-
Esta teoria baseia-se no pressuposto de que exis-     la, 2002; Vala, Brito, & Lopes, 1999; Vala, Lima,
te a crença de que os Negros violam os valores        & Lopes, 2002). Os estudos feitos nos EUA por

                                                                                                      707
Crandall, Eshleman e O’Brien (2002) acrescen-          (1988) afirma que a criança evolui de uma fase
tam a este conjunto de pressupostos sobre os           de egocentrismo, donde decorre a impossibilida-
efeitos das normas sociais no racismo, o facto de      de de apreciar as diferenças quer individuais quer
que não importa analisar apenas as formas de pre-      grupais, para uma fase de sociocentrismo, em que
conceito que são anti-normativas ou condenadas         os julgamentos sociais são baseados nas opera-
(p.e.: o preconceito contra os Negros), mas tam-       ções de categorização e na percepção das seme-
bém os tipos de expressões preconceituosas que         lhanças e dessemelhanças entre grupos sociais, e
são aceites e patrocinadas pela sociedade (p.e.:       finalmente para uma fase de descentração, quan-
preconceito contra neonazis).                          do então podem atender simultaneamente a dife-
                                                       rentes perspectivas, tornando-se mais conscien-
  Racismo na infância                                  tes das qualidades internas dos indivíduos e não
                                                       sendo mais propensas aos enviezamentos cogni-
   Os estudos acima citados mostram que as ex-         tivos dos estereótipos (ver Piaget & Weil, 1951).
pressões do racismo se têm tornado mais indi-          O preconceito e o favoritismo endogrupal presen-
rectas, e que esta mudança tem relação com a           tes até aos 7-8 anos, bem como a redução do pre-
presença da norma anti-racista que impede a ex-        conceito que então ocorreria, seriam, assim, ex-
pressão do racismo mais flagrante, somada à pre-       plicados com base nas capacidades cognitivas da
sença de valores que enaltecem a igualdade de          criança em cada fase do desenvolvimento. Com
direitos entre as pessoas (Pettigrew & Meertens,       efeito, para Berk (1994), por volta dos 7 ou 8 anos
1995; Gaertner & Dovidio, 1986; Dovidio & Ga-          de idade, as crianças podem começar a racioci-
ertner, 1998, 2001). Entretanto, estes estudos fo-     nar em termos de tolerância, e reconhecem que
ram feitos com adultos, poucos estudos tendo si-       aqueles que estão em situação de desvantagem
do feitos nesta perspectiva com crianças.              devem ser tratados de maneira especial.
   Mas esta limitação pode dever-se à ideia lar-          Convém salientar que, nos estudos que susten-
gamente difundida na literatura sobre o precon-        tam esta perspectiva, utilizam-se medidas de ati-
ceito na infância, de que o preconceito apresen-       tudes e não de comportamento (e.g., Doyle & Aboud,
tado pelas crianças está mais associado a limita-      1995; Aboud, 1980; Doyle, Beaudet, & Aboud,
ções de suas capacidades cognitivas, tal como é        1988). De modo que estes estudos, analisam mais
proposto pela abordagem cognitiva do desenvol-         o preconceito do que a discriminação e o racis-
vimento (Aboud, 1988), do que pela aprendiza-          mo. Para além disso, essas medidas de atitudes
gem e interiorização de normas sociais num con-        são sempre explícitas, o que determina respostas
texto intergrupal. A abordagem cognitiva do de-        conformes com a norma social anti-racista. Este
senvolvimento (Bigler & Liben, 1993; Brown,            facto pode constituir uma explicação alternativa
1995; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Beaudet, &           para a suposta redução do preconceito nas crian-
Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Yee & Brown,           ças mais velhas: essas crianças não deixariam de
1992) afirma que, por volta dos 6 anos de idade,       exprimir preconceito mas, graças à interiorização
a criança apresenta índices elevados de favoritis-     das normas sociais dos adultos em relação à não
mo endogrupal, que aumentam até por volta dos          discriminação aberta dos Negros ou de outras mi-
oito anos. A partir dessa idade assistir-se-ia a uma   norias estigmatizadas, tornar-se-iam subtis ou ve-
redução do favoritismo endogrupal. Este fenó-          ladas na expressão de seu racismo.
meno, ou seja, este aumento do etnocentrismo              A presente investigação consiste em três estu-
até cerca dos 8 anos de idade, é designado por         dos que têm o objectivo de verificar o efeito da
muitos estudiosos como o “período crítico” do pre-     saliência das normas na expressão do racismo na
conceito (ver Aboud, 1988; Bigler & Liben, 1993;       infância e o processo de socialização da norma
Brown, 1995; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Be-           anti-racista em dois grupos de idade. Esperamos
audet, & Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Wil-          que, após os oito anos de idade, as crianças apre-
liams, Best, Boswell, Mattson, & Graves, 1975;         sentem discriminação apenas nas condições de
Yee & Brown, 1992).                                    baixa saliência da norma anti-racista, e que a partir
   Apropriando-se dos fundamentos da teoria do         desta idade tenham interiorizado a norma social
desenvolvimento cognitivo de Piaget e aplican-         dominante referente à discriminação racial. Es-
do-os às relações inter-étnicas e raciais, Aboud       pera-se, assim, que a partir dessa idade haja uma

708
correspondência entre o comportamento adulto e         dois grupos etários: de 5 a 7 anos (46,5%) e de 8
o comportamento infantil, e que as crianças ape-       a 10 anos (53,5%).
nas exibam atitudes públicas de discriminação
em relação a grupos para os quais a discrimina-          Desenho
ção social é aceitável.
                                                          Utilizou-se um desenho factorial completo
  Overview of the studies                              de 2 (idade: 5 a 7 anos vs. 8 a 10 anos) X2 (alvo:
                                                       Branco vs. Negro) X2 (contexto: que não justifi-
    No primeiro estudo procurámos criar um con-        cava a discriminação vs. que justificava). As duas
texto normativo que justificasse a discriminação,      últimas variáveis foram intra-sujeitos. A variável
através de situações de desempenhos diferentes         dependente foi o número de doces distribuídos a
ou aparentemente diferentes entre alvos brancos        cada um dos alvos como recompensa pela ajuda
e negros. No segundo estudo, utilizámos um pa-         à criança-sujeito.
radigma semelhante a McConahay et al. (1981),
ou seja, utilizámos uma entrevistadora Negra, a          Procedimentos
fim de manipularmos um contexto no qual a nor-
ma anti-racista estivesse muito ou pouco salien-           As crianças foram entrevistadas individualmen-
te. No terceiro estudo investigámos a interiori-       te em escolas da rede pública e privada do Bra-
zação da norma anti-racista pelas crianças, a par-     sil. Utilizaram-se fotografias de crianças brancas
tir da correspondência entre as suas atitudes e as     e negras como material de estímulo, e ainda 4
do seu grupo de referência.                            pequenos tijolos e 6 doces de brinquedo.
                                                           A entrevistadora dava a seguinte instrução a
                                                       cada criança:
                                                             «Imagine que você está querendo cons-
                    ESTUDO 1
                                                             truir uma casa (para meninas) ou uma ga-
                                                             ragem de brinquedo (para meninos), e pre-
   Este estudo teve o objectivo de verificar o efei-
                                                             cisa de algumas crianças para o ajudar
to da saliência de um contexto igualitário (em
                                                             na tarefa de levar tijolos para a constru-
que a discriminação não é justificável), ou de um
                                                             ção. Você chama duas crianças para o aju-
contexto de diferenciação (em que a discrimina-
                                                             dar, e diz-lhes que lhes dará em troca al-
ção é justificável), na expressão de formas in-
                                                             guns doces.»
directas de racismo na infância, em dois grupos
de idade. Foram testadas as seguintes hipótese:           Assim, a entrevistadora colocava as fotogra-
1) O alvo Negro será mais discriminado do que o        fias de cada criança-alvo (uma Negra e uma Bran-
alvo Branco; 2) As crianças com menos de 8             ca, do mesmo sexo que a criança entrevistada)
anos de idade discriminarão o alvo Negro, inde-        sobre a mesa, e por baixo de cada fotografia, o
pendentemente dos contextos normativos e 3) A          número de tijolos (miniaturas de verdadeiros ti-
partir dos 8 anos de idade as crianças discrimina-     jolos) que cada criança carregou. Pedia então à
rão o alvo Negro apenas de modo indirecto ou           criança entrevistada que, em recompensa da sua
subtil, ou seja, apenas na condição em que a di-       ajuda, distribuísse os 6 doces de brinquedo pelos
ferenciação é justificável (desempenhos diferen-       dois alvos.
tes das duas crianças-alvo.                               A discriminação racial foi medida através da
                                                       média do número de doces dado a cada criança-
  Método                                               alvo em dois contextos de resposta: um contexto
                                                       que não justificava a discriminação e um outro
                                                       que poderia justificar a discriminação. No con-
  Participantes                                        texto que não justificava a discriminação, pedia-
                                                       se às crianças que distribuíssem os nove doces a
   Participaram na pesquisa 86 crianças brasilei-      alvos que tinham tido um desempenho igual na
ras Brancas, sendo 44 meninas (51,2%) e 42 me-         tarefa de construção (cada criança carregou dois
ninos (48,8%). As crianças foram distribuídas em       tijolos). No contexto que justificava a discrimi-

                                                                                                       709
nação, as crianças entrevistadas deveriam recom-      ça Negra foi atribuída uma idade média de 8.33
pensar os alvos em duas situações de desempe-         anos F(1,17)=0.05, n.s. A aparência física e a
nho aparentemente diferentes. Numa situação o         qualidade gráfica foram avaliadas numa escala
desempenho do alvo Branco era melhor do que o         de sete pontos, na qual sete correspondia ao grau
do alvo Negro (i.e., o alvo Branco carregava mais     mais positivo do atributo. Quanto à aparência fí-
tijolos do que o alvo Negro) e numa segunda si-       sica, a criança Branca obteve média de 6.06, en-
tuação o desempenho do alvo Negro era melhor          quanto a criança Negra obteve média de 6.22,
do que o do alvo Branco (i.e., o alvo Negro car-      F(1,17)=0.07, n.s. Com relação à qualidade grá-
regava mais tijolos do que o alvo Branco). Po-        fica, a fotografia da criança Branca obteve média
rém, o somatório dos desempenhos dos alvos Bran-      de 4.5, enquanto a fotografia da criança Negra
co e Negro nas quatro situações que eram apre-        obteve média de 3,9 F(1,17)=0.34, n.s.
sentadas aos participantes era igual (i.e., as cri-
anças brancas, no total, carregavam tantos tijolos       Verificação da compreensão das crianças acer-
como as crianças negras).                                ca da tarefa

  Pré-teste das fotografias                              Para verificar a compreensão das crianças acer-
                                                      ca da tarefa de distribuição de recompensas, fize-
   As fotografias utilizadas como estímulo foram      mos um teste t para amostras emparelhadas com
pré-testadas em relação à cor da pele, idade, apa-    as recompensas distribuídas aos alvos quando eles
rência física e qualidade gráfica. Para isto foram    levavam um, dois ou três blocos. Como podemos
apresentadas a 18 juizes (média de idade de 21,98     ver na Tabela 1, as crianças não realizaram a ta-
anos e desvio padrão de 5,55), tendo cada foto-       refa aleatoriamente; seguiram o critério do desem-
grafia sido avaliada por nove juizes. As fotogra-     penho dos alvos. Assim, em todas as idades, dis-
fias foram avaliadas como idênticas nos requisi-      tribuíram mais recompensas aos alvos que tive-
tos analisados, excepto quanto à cor da pele. Com     ram desempenhos melhores e menos recompen-
relação à cor da pele, a criança Negra foi consi-     sas aos alvos que tiveram desempenhos piores.
derada Negra por 89% dos juizes, e 11% disse-
ram que era Mulata (1 pessoa). Todos os juizes           Resultados
(100%) que avaliaram a criança Branca, a consi-
deraram Branca. À criança Branca foi atribuída          Primeiramente realizámos uma ANOVA a fim
uma idade média de 8.44 anos, enquanto à crian-       de verificarmos se havia efeito significativo do




                                               TABELA 1
Médias e desvios padrões (entre parênteses) das recompensas distribuídas em diferentes contextos
                              de desempenho em função da idade
                          Teste t para amostras emparelhadas p<.001

                                                  Desempenho dos alvos

      Idade          Alvos carregam um bloco     Alvos carregam dois blocos   Alvos carregam três blocos

  5 a 7 anos                   2.43                         2.94                         3.61
                              (0.60)                       (0.44)                       (0.73)

 8 a 10 anos                   2.31                         2.99                         3.64
                              (0.57)                       (0.40)                       (0.67)



710
TABELA 2
   Médias e desvios padrões (entre parênteses) das recompensas distribuídas aos alvos Negro e
                      Branco em função da idade e do contexto de resposta

           Contexto que não justifica a discriminação   Contexto que justifica a discriminação

 Alvo           5 a 7 anos          8 a 10 anos                5 a 7 anos          8 a 10 anos   Total

 Branco            3.24                 3.02                      3.12                3.16        3.13
                  (0.55)               (0.15)                    (0.51)              (0.58)      (0.37)

 Negro             2.84                 2.98                      2.98                2.90        2.92
                  (0.44)               (0.15)                    (0.39)              (0.37)      (0.28)




género dos participantes na distribuição de re-         diferenças entre as crianças mais novas e mais
compensa aos alvos. Os resultados indicam que           velhas não foram significativas, F(1,80)<1, n.s.
não existe efeito do género sobre a discrimina-         Tanto as crianças mais novas (M=3.12 vs.
ção, F(1, 80)<1, n.s. Em seguida, a fim de testar-      M=2.98) como as crianças mais velhas (M=3.16
mos as hipóteses, realizámos uma ANOVA com              vs. M=2.90) recompensam mais o Branco do que
medidas repetidas em que a variável independen-         o Negro nesta condição1 (ver Tabela 2).
te entre-participantes foi a idade das crianças, e
as variáveis independentes intra-participantes            Discussão
foram o alvo e o contexto de avaliação. Os resul-
tados indicam um efeito principal do alvo, F(1,80)=        Este estudo teve o objectivo de investigar o
9.30, p<.01. Este efeito indica que o alvo Negro        efeito do contexto de igualdade ou de diferencia-
foi discriminado (M=2.92, DP=0.28) em relação           ção sobre a expressão das formas indirectas de
ao alvo Branco (M=3.13, DP=0.37). Este resul-           racismo nas crianças, em função da idade. A dis-
tado, que confirma a primeira hipótese, foi no en-      criminação racial foi avaliada através da distri-
tanto qualificado por uma interacção tripla entre       buição de recompensas a alvos Branco e Negro
idade, alvo e contexto, F(1,80)=4.52, p<.05.            em dois contextos: um contexto que justificava a
   Para testarmos as nossas hipóteses realizámos        discriminação (diferenciação de desempenhos) e
comparações planeadas. Primeiramente testámos           outro que não justificava (igualdade de desempe-
se as recompensas distribuídas aos alvos Branco         nhos). Verificámos, como previsto na primeira hi-
e Negro pelas crianças mais novas (5 a 7 anos)          pótese, que as crianças discriminaram o alvo Ne-
se diferenciavam das recompensas distribuídas           gro em relação ao alvo Branco. Contudo, verifi-
pelas crianças mais velhas (8 a 10 anos) no con-        cámos também que este resultado depende da
texto que não justifica a discriminação (i.e., con-     idade das crianças e do tipo de contexto norma-
texto de desempenho igual, com saliência, por-          tivo de resposta. Enquanto as crianças entre os 5
tanto, da norma igualitária). Os resultados indi-       e 7 anos não são sensíveis ao contexto normativo
cam, de acordo com a hipótese, que a diferença          presente nas situações e discriminam sempre a
entre as crianças mais novas e mais velhas é signi-     criança-alvo Negra em relação à Branca, a partir
ficativa, F(1,80)=5.74, p=.01. Enquanto que as
crianças mais novas discriminam o alvo Negro
(M=2.84) em relação ao Branco (M=3.24); as
mais velhas são igualitárias (M=2.98 para o alvo
Negro e M=3.02 para o alvo Branco). Entretanto,
no contexto que justifica a discriminação, as             1
                                                              t(45)=2.02, p<.05.

                                                                                                          711
dos oito anos de idade as crianças deixaram de dis-     Método
criminar o Negro no contexto que não justifica a
discriminação, mas continuam a discriminá-lo num
contexto em que a discriminação pode ser justi-         Participantes
ficada por uma aparente diferenciação no desem-
penho dos alvos. Em outras palavras, as crianças         Participaram na pesquisa 71 crianças brancas
                                                      do sexo masculino, com idades compreendidas
mais velhas não reduzem incondicionalmente a
                                                      entre os cinco e os dez anos, sendo 42% de 5 a 7
discriminação, como pretendem as teorias de ba-
                                                      anos e 57% de 8 a 10 anos. A amostra foi reti-
se desenvolvimentista cognitiva, apoiando-se nas
                                                      rada de escolas privadas e públicas do Estado de
suas novas competências afectivo-cognitivas; mas
                                                      Sergipe (Brasil).
apenas se mostram racistas em contextos nos quais
elas acreditam que o seu comportamento discri-
minatório pode ser justificado por algum modo           Procedimentos
que não o da pertença racial dos alvos. Assim,           As crianças foram abordadas em sua sala de
enquanto as crianças mais novas expressam ra-         aula e convidadas a participar numa entrevista,
cismo quer de forma directa, quer de forma indi-      tendo sido entrevistadas individualmente por uma
recta, as crianças mais velhas apenas expressam       entrevistadora Negra. A entrevistadora começava
racismo de forma indirecta.                           por se apresentar à criança e em seguida explica-
   Para além do contexto justificativo de com-        va a instrução de pesquisa.
portamentos discriminatórios, como revelaram             A instrução tinha o seguinte conteúdo:
os estudos clássicos de Gaertner e Dovidio (Ga-
ertner, 1973; Dovidio & Gaertner, 2000) as for-              «Vou falar sobre dois meninos que querem
mas indirectas de racismo também podem ser ex-               comprar bicicletas. Cada um deles quer sua
pressas em contextos nos quais a norma anti-ra-              própria bicicleta. Eu resolvi ajudá-los pe-
cista não está claramente definida ou saliente (Do-          dindo contribuição para eles às crianças das
vidio & Gaertner, 1998; Gaertner & Dovidio, 1986,            escolas. Para contribuir você tem só que
2000). A fim de verificar a expressão das formas             colocar esse dinheiro (13 notas de brinque-
indirectas de racismo em contextos nos quais a               do de 1 Real = 0,35 Cêntimos cada) nesses
norma social anti-racista não está saliente reali-           mealheiros. Veja! Outras crianças já con-
zámos um segundo estudo.                                     tribuíram.» Então a entrevistadora balança
                                                             os dois mealheiros, produzindo ruído, para
                                                             tornar credível a informação que acaba de
                                                             dar. «Você dá quanto quiser e do jeito que
                   ESTUDO 2                                  quiser. O dinheiro que você der, vai ser trans-
                                                             formado em dinheiro de verdade e depois
   Este estudo teve o objectivo de verificar a in-           dado a eles.»
fluência da saliência de uma norma anti-racista          À frente da criança, sobre uma mesa, ficavam
sobre a expressão de racismo em crianças de dois      os dois mealheiros com cadeados e as treze cé-
grupos de idade. Na sequência dos objectivos          dulas de brinquedo de um real. Em um mealhei-
atrás delineados e do quadro teórico previamente      ro estava anexada a fotografia de uma criança bran-
desenvolvido, as seguintes hipóteses foram for-       ca e no outro a de uma criança negra. Os cadea-
muladas: a) As crianças de 5 a 7 anos de idade        dos tinham o propósito de dar a impressão de
discriminarão o alvo Negro em relação ao alvo         que a tarefa já havia sido feita por outras crian-
Branco, independentemente do grau de saliência        ças, e de dar à criança a impressão de confiden-
da norma anti-racista; b) Após os sete anos, as       cialidade na distribuição do dinheiro. A instru-
crianças vão expressar racismo de modo indire-        ção de que poderia distribuir o dinheiro da ma-
cto, ou seja, as crianças vão discriminar o alvo      neira que quisesse incluía a informação de que,
Negro apenas quando a norma anti-racista não          se não quisesse distribuir todo o dinheiro, tam-
estiver saliente.                                     bém poderia ficar com algum para si.

712
Desenho                                             zes de lidar com os conceitos matemáticos bási-
                                                      cos para este tipo de tarefa.
   Utilizou-se um desenho factorial 2 (idade: 5 a
7 e 8 a 10 anos) X2 (saliência da norma anti-ra-
                                                        Resultados
cista: entrevistadora negra presente/ausente) X2
(alvos: branco/negro). As duas primeiras variá-
veis eram inter-participantes e a última era intra-     Manifestação do Racismo nas Crianças
-participantes.
   A variável “saliência da norma anti-racista” foi      Antes de começarmos as análises dos dados,
operacionalizada, através da presença versus au-      procedemos à substituição dos valores extremos
sência da entrevistadora: a norma anti-racista es-    da distribuição (superiores a três desvios-padrão
tava saliente quando a entrevistadora negra per-      em relação à média) pela média.
manecia o tempo todo junto da criança, acompa-           A hipótese principal do estudo era a de que,
nhando-a enquanto esta realizava a tarefa, e não      após os sete anos, as crianças iriam manifestar
estava saliente quando a entrevistadora se ausen-     racismo de modo indirecto, ou seja, iriam discri-
tava da sala após ter dado as instruções, deixan-     minar o alvo Negro apenas quando a norma anti-
do a criança realizar a tarefa em sigilo.             -racista não estivesse saliente. Assim, procede-
   Na condição em que a entrevistadora negra se       mos a uma ANOVA com medidas repetidas, con-
ausentava, era dada a seguinte instrução adicio-      siderando a idade e a saliência da norma anti-ra-
nal: «Eu queria que você ficasse aqui fazendo essa    cista como variáveis independentes inter-partici-
actividade enquanto eu vou lá fora tomar um           pantes e a recompensa dada ao alvo (Branco e
pouco de água. Você faz a actividade e fica me        Negro) como variável independente intra-par-
esperando, que eu volto já. Está bem?»                ticipantes: A variável dependente foi a média das
   A variável dependente foi o comportamento          recompensas atribuídas a cada um dos alvos.
de ajuda medido através da distribuição de re-           Os resultados indicam, que ocorre um efeito
cursos (que eram as 13 cédulas referidas no Pro-      principal do alvo, F(1,67)=3.19, p=.078. A crian-
                                                      ça Negra foi discriminada (M=5.81) em relação à
cedimento) para as duas crianças-alvo (Branco e
                                                      criança Branca (M=5.98). Observamos ainda, de
Negro), de modo que a variável dependente va-
                                                      acordo com as hipóteses, que ocorre um efeito
riou entre +13 (todos os recursos para o alvo Bran-
                                                      de interacção tripla do alvo, da saliência da nor-
co) e -13 (todos os recursos para o alvo Negro).
                                                      ma anti-racista e da idade F(1,67)=8.35, p=.005,
Para a manipulação do alvo foram utilizadas as
                                                      que qualifica o efeito principal do alvo (ver Ta-
fotografias de uma criança Negra e de uma crian-
                                                      bela 1). Para testar as hipóteses sobre os efeitos
ça Branca do sexo masculino, de cerca de 8 anos.      da idade e da saliência da norma anti-racista na
                                                      discriminação realizamos comparações planea-
  Verificação da Compreensão Aritmética das           das. A primeira hipótese previa que as crianças
  Crianças                                            de 5 a 7 anos discriminariam o alvo Negro inde-
                                                      pendente da saliência da norma anti-racista. Esta
   A fim de verificar a capacidade matemática de      hipótese é confirmada uma vez que, as diferen-
divisão das crianças, foi criada uma tarefa que       ças na distribuição de recompensas para o alvo
consistia em dividir igualmente dez cédulas de        Branco e para o alvo Negro não são influencia-
um real (de brinquedo) entre duas crianças, re-       das pela saliência da norma anti-racista, F(1,67)=
presentadas por desenhos de duas crianças, em         2.14, p=.15. A segunda hipótese previa que a
um cartão de aproximadamente 12X15cm (não             discriminação dos Negros, por parte das crianças
se fazia menção a características tais como cor       mais velhas, seria mais baixa quando a norma
da pele ou género das crianças desenhadas). Os        anti-racista estivesse saliente do que quando a
participantes em ambas as condições de idade          norma anti-racista não estivesse saliente. A aná-
distribuíram exactamente a mesma quantidade de        lise dos contrastes também confirma esta hipó-
recursos para cada alvo (5 para uma criança e 5       tese, F(1,67)=7.66, p=.007. Como podemos ver
para a outra). Este resultado indica que, indepen-    na Tabela 3, as crianças mais velhas discriminam
dentemente da idade, os participantes são capa-       o alvo negro quando a entrevistadora Negra está

                                                                                                      713
TABELA 3
  Médias e desvios padrão (entre parênteses) da distribuição de recompensas aos alvos Negro e
    Branco em função da idade, da cor da pele e da saliência da norma anti-racista (n =71)

                                       Saliência da norma anti-racista

              Não saliência (entrevistadora ausente)      Saliência (entrevistadora presente)

 Alvo           5 a 7 anos           8 a 10 anos              5 a 7 anos       8 a 10 anos       Total

 Branco            5.68                 6.47                    6.64               5.50           5.98
                  (1.37)               (0.84)                  (1.02)             (1.06)         (1.17)

 Negro             5.49                 5.88                    5.91               5.90           5.81
                  (0.88)               (1.10)                  (0.83)             (1.34)         (1.08)




ausente, mas quando a entrevistadora Negra está         pressarem o preconceito que, de facto, continu-
presente fazem favoritismo exogrupal.                   am a ter em relação às crianças Negras.
                                                           Uma das críticas relativas às teorias sobre as
  Discussão                                             formas indirectas de racismo consiste no facto de
                                                        os teóricos, apesar de afirmarem que o que gera
   O presente estudo teve o objectivo de verificar      a discriminação são as pressões da norma anti-
a influência da saliência de uma norma social           -racista sobre os indivíduos, não testarem este
anti-racista na expressão de racismo em crianças        pressuposto (Biernar, Vescio, Theno, & Crandall,
Brancas, considerando dois grupos etários. Con-         1996). A fim de analisar, precisamente, a relação
siderámos que a presença de uma entrevistadora          entre as normas racistas, implícitas e explícitas,
Negra tornaria saliente a norma anti-racista (McCo-     nos adultos e nas crianças e verificar a partir de
nahay et al., 1981) e que sua ausência, traduzin-       que idade as crianças interiorizam as normas ra-
do-se num comportamento sigiloso das crianças,          cistas implícitas, nas sociedades em que o grupo
produziria um contexto propício à discriminação         Branco é dominante, realizámos um terceiro es-
do alvo Negro. Formulámos a hipótese de que ape-        tudo. Em outras palavras, queremos saber se nas
nas as crianças mais velhas (8 a 10 anos), por já       idades em que as crianças exprimem o racismo
terem internalizado a norma anti-racista, fossem        de forma indirecta elas estão sob o efeito da von-
capazes de expressar racismo em função da va-           tade de se mostrarem igualitárias.
riação do contexto normativo.
   Os resultados indicaram que as crianças de 5 a
7 anos discriminam o alvo Negro, tal como pre-
visto nas hipóteses, independentemente do grau                             ESTUDO 3
de saliência da norma anti-racista. Já as crianças
de 8 a 10 anos, apresentam discriminação do al-            A principal característica das novas formas de
vo Negro apenas quando a entrevistadora está au-        racismo por parte dos membros de grupos domi-
sente. Ou seja, na situação em que estas crianças       nantes é a expressão subtil, indirecta ou velada
são motivadas pela norma anti-racista, decorren-        da discriminação. Este carácter velado e disfar-
te da presença da entrevistadora Negra, elas res-       çada comum às novas expressões do racismo re-
pondem com um comportamento de orientação               flecte as pressões da norma anti-racista. Entre-
igualitária, e não discriminatória. Contudo, a au-      tanto, poucos estudos têm analisado a partir de
sência da entrevistadora Negra, desactivando os         que momento as crianças interiorizam as normas
conteúdos da norma anti-racista, permite-lhes ex-       sociais que contrariam a expressão directa do ra-

714
cismo. Esse estudo é importante, na medida em         consistia em questionar as crianças acerca do co-
que permite verificar a hipótese de que a emer-       nhecimento que tinham sobre o significado de ca-
gência de formas subtis de discriminação deve         da um dos grupos. As crianças qualquer dos gru-
estar associada a uma interiorização, pelo menos      pos eram eliminadas. Após a definição dos gru-
parcial, da norma anti-racista. Com base neste        pos pedia-se às crianças que dissessem, através
pressuposto, e na sequência dos dois primeiros        de uma escala que variava de 1 (muito), 2 (tal-
estudos, em que foi possível verificar que as cri-    vez) a 3 (nada), o quanto gostavam das pessoas
anças Brancas, por volta dos 8 anos, deixavam
                                                      que pertenciam a cada um dos grupos.
de discriminar as crianças Negras de forma dire-
                                                         As mães emitiram suas avaliações sobre os mes-
cta e flagrante, enquanto passavam a discriminá-
las de uma forma indirecta e subtil (justificada      mos 11 grupos utilizados com as crianças. As mães
pelo contexto ou face à ausência da norma e do        respondiam à questão «Eu acho que... “Está
seu controlo), este estudo teve o objectivo de ve-    certo” (“talvez esteja certo”/“não está certo”) ter
rificar se a norma anti-racista dos adultos está      sentimentos negativos em relação a este grupo».
presente nas crianças do grupo Branco, por volta      A escala variava de 1 (não está certo ter sentimen-
dos 8 anos, mas não anteriormente. Formulámos,        tos negativos em relação a este grupo) a 3 (está
assim, a seguinte hipótese de que, a partir dos 8     certo ter sentimentos negativos em relação a este
anos, mas não entre os 5-7 anos, as crianças ten-     grupo).
derão a adoptar as normas do seu grupo de refe-
rência, ou seja, vão discriminar os grupos que as
                                                        Resultados
mães acham aceitável discriminar e não discri-
minarão os grupos que as mães não acham acei-
tável discriminar.
                                                        Normatividade do preconceito na avaliação
                                                        das mães
  Método
                                                         Para sabermos quais os grupos que seriam nor-
                                                      mativamente alvo de preconceito no contexto so-
  Participantes                                       cial estudado, utilizámos a percepção das mães
   Participaram na pesquisa 30 crianças Brancas,      sobre a aceitabilidade do preconceito em relação
sendo 15 de 5 a 7 anos e 15 de 8 a 10 anos, 70%       aos grupos investigados. As respostas das mães
do sexo masculino e 30% do sexo feminino.             foram comparadas com o valor 2 através de um
   Participaram também 30 mães Brancas, pro-          teste t. Assim, os grupos-alvo cujas médias fo-
venientes do mesmo grupo socio-económico que          ram iguais a 2 (“talvez esteja certo ter sentimen-
as crianças, que tinham filhos com idades entre       tos negativos em relação a este grupo”), ou signi-
os 5 e os 10 anos (53,3% dos filhos tinham 5 a 7      ficativamente superiores a 2 (“está certo ter sen-
anos e 46,7% tinham 8 a 10 anos). A média de          timentos negativos em relação a este grupo”),
idade das mães foi de 31,06 anos e o desvio           foram considerados normativamente alvos de pre-
padrão de 6,28.                                       conceito. Os grupos cujas médias foram signifi-
                                                      cativamente inferiores a 2 (“não está certo ter sen-
  Procedimento                                        timentos negativos em relação a este grupo”), fo-
                                                      ram aqueles em relação aos quais o preconceito é
   Seleccionámos da lista de grupos alvos de pre-
                                                      considerado anti-normativo. Podemos ver na Ta-
conceito estudados por Crandall, Eshleman e
O’Brien (2002), aqueles que considerámos que as       bela 4 que, de acordo com as mães, os grupos nor-
crianças poderiam conhecer. Compusemos então,         mativamente alvos de preconceito foram: políti-
uma lista com 11 grupos (doentes de SIDA, ho-         cos, pessoas racistas e homossexuais. Já os gru-
mossexuais, índios, motoristas barbeiros (condu-      pos em relação aos quais o preconceito é anti-nor-
tores de risco), negros, cegos, pessoas feias, gor-   mativo foram: cegos, índios, negros, pessoas feias,
dos, racistas, pessoas sujas e políticos). No pro-    pessoas gordas, doente de SIDA, condutores de
cesso de entrevista havia uma pergunta filtro que     risco e pessoas sujas.

                                                                                                        715
Preconceito das crianças                                    A interiorização das normas relativas ao ra-
                                                              cismo
   A fim de verificar os grupos em relação aos
quais as crianças mais expressam preconceito,                  Para verificarmos quando (idade) e em que
realizámos, como para a amostra de adultos, um              condições (normatividade ou anti-normatividade
teste t contra 2 dos valores obtidos por cada um            do preconceito), as crianças reflectem abertamen-
dos grupos-alvo, utilizando os mesmos critérios             te as normas sociais de seu grupo de referência
de agrupamento dos valores da escala que foram              em relação ao racismo, compusemos os seguin-
utilizados na análise dos dados das mães: assim,            tes índices: um índice de ‘normatividade do pre-
os grupos-alvo cujas médias foram iguais a 2 (“tal-         conceito’ (das mães) e um índice do ‘preconcei-
vez”), ou significativamente superiores a 2 (“não           to’ (da criança). O grupo dos negros foi utilizado
gosto nada das pessoas deste grupo”), foram con-            como grupo de comparação, pois este é o grupo
siderados alvos de preconceito. Os grupos cujas             de interesse específico para a nossa pesquisa.
médias foram significativamente inferiores a 2              Para compor o índice de “normatividade do pre-
(“gosto muito das pessoas deste grupo”), foram              conceito” das mães, seleccionámos os três gru-
aqueles em relação aos quais as crianças não ex-            pos que as mães consideraram ser mais certo dis-
primem preconceito. A Tabela 4 mostra que os                criminar, ou seja, aqueles que poderiam ser alvo
homossexuais, doentes de SIDA, pessoas racis-               normativo de preconceito (políticos, homossexu-
tas, condutores de risco, pessoas sujas e pessoas           ais e pessoas racistas), e calculámos a sua média
gordas são os grupos-alvo de preconceito das cri-           simples. Utilizando o mesmo procedimento, cons-
anças, sendo o grupo dos políticos apenas ten-              truímos o índice de “preconceito” das crianças
dencialmente alvo e os grupos de índios, negros             para estes mesmos três grupos-alvo, de modo a
e cegos não são alvo de preconceito pelas crian-            proceder à comparação entre ambos os índices.
ças.                                                        Os testes t para amostras emparelhadas entre es-




                                                  TABELA 4
 Valores médios de normatividade do preconceito das mães e do preconceito das crianças para 11
                                grupos (N=30; teste t contra 2)

                        Normatividade do preconceito da mãe*                  Preconceito da criança**

 GRUPOS                      M             T            p                     M            T         p

 Cegos                     1.07         -20.15          .00                  1.63        -2.48      .02
 Índios                    1.10         -12.25          .00                  1.57        -4.29      .00
 Negros                    1.10         -16.16          .00                  1.60        -2.85      .01
 Pessoas feias             1.10         -16.16          .00                  1.87         -.85      .40
 Pessoas gordas            1.17         -12.04          .00                  1.93         -.42      .68
 Doente AIDS               1.43          -4.96          .00                  2.60         5.84      .00
 Motorista barbeiro        1.63          -3.00          .01                  2.40         3.03      .01
 Pessoas sujas             1.70          -2.52          .02                  2.30         3.07      .01
 Homossexuais              1.90           -.65          .52                  2.83        12.04      .00
 Pessoas racistas          2.57          5.46           .00                  2.57         4.96      .00
 Políticos                 2.73           6.89          .00                  1.72        -1.97      .06


* A escala variou de 1 a 3: quanto maior o valor, mais normativo é o preconceito contra o grupo.
** A escala variou de 1 a 3: quanto maior o valor maior o preconceito contra o grupo.


716
tes dois índices, por um lado, e entre as médias      índice de normatividade do preconceito das mães
de normatividade do preconceito das mães e do         (M=2.55, DP=0.43) e o índice de preconceito da
preconceito das crianças relativas ao grupo “ne-      criança (M=2.40, DP=.33; t(13)=-1.0, p=0.34), re-
gros”, por outro, foram calculados para os dois       lativos aos grupos contra os quais as mães acham
grupos etários.                                       certo ter preconceito.
   Os resultados (Gráfico 1) indicam que as cri-         No que diz respeito aos resultados relativos às
anças de 5 a 7 anos diferenciam-se de suas mães       crianças de 8 a 10 anos, podemos verificar que
quanto ao preconceito relativo ao grupo dos ne-       estas crianças não se diferenciam de suas mães
gros (t(14)=4,52, p<.001): Enquanto as crianças       quanto às suas atitudes em relação ao grupo dos
expressam preconceito contra este grupo (M=1,93,      negros t(14)=.695, p=.49. As mães acham que é
DP=0.79), suas mães acham que é anti-norma-           anti-normativo ter preconceito contra este grupo
tivo ter preconceito contra eles (M=1,06, DP=0.25).   (M=1.13, DP=0.35) e as crianças de 8 a 10 anos
Isto significa que as crianças desta idade ainda      não exprimem atitudes negativas contra eles (M=1.27,
não interiorizaram a norma expressa pelos adul-       DP=0.59). Isto mostra que as crianças desta idade
tos de referência, norma esta que impede a ex-        interiorizaram o padrão normativo de seu grupo
pressão directa do preconceito contra este grupo      de referência para emitir avaliações directas so-
e por isto expressam preconceito independente-        bre o grupo dos negros.
mente da normatividade expressa pela mãe. As             Quando, porém, estão em causa normas que
crianças de 5 a 7 anos, por outro lado, não se di-    favorecem o preconceito contra alguns grupos
ferenciaram de suas mães quando comparámos o          sociais, tal como acontece com os três grupos se-




                                               GRÁFICO 1
 Valores médios da normatividade do preconceito das mães e do preconceito das crianças em
                              função da idade das crianças




                                                                                                        717
leccionados para a análise preconceito (políticos,     apresentado pelas mães, não só em relação aos
homossexuais e pessoas racistas), ocorre um pa-        três grupos estigmatizados pelos adultos como
drão de semelhança entre as normas maternas e          em relação ao grupo dos negros. Podemos dizer,
as atitudes infantis que não se altera entre os 5 e    seguindo Crandall et al. (2002), que elas apre-
os 10 anos. Assim, tanto as crianças com 5-7 anos,     sentam o padrão de preconceito dos adultos, ou
como as crianças de 8 a 10 anos reflectem a nor-       seja, discriminam os grupos em relação aos quais
ma de suas mães t(14)=1,03, p=.31. Isto é, os gru-     é permitido discriminar e não discriminam os gru-
pos relativamente aos quais as mães acham nor-         pos em relação aos quais não é permitido discri-
mativo ter preconceito (M=2.27, DP=0.42) são           minar.
alvo de preconceito dos filhos (M=2.42, DP=0.43).
Assim, podemos dizer que estas crianças aceita-
ram ou interiorizaram as normas sociais relacio-                     DISCUSSÃO GERAL
nadas ao racismo. Podemos dizer ainda que esta
norma é aceita após os 7 anos de idade, período           Nos estudos das novas formas de racismo tem-
em que as crianças deixam de expressar precon-         -se verificado que a expressão subtil e indirecta
ceito contra os Negros de modo flagrante e pas-        comum a estas formas de racismo é reflexo das
sam a expressá-lo de modo subtil, como temos de-       pressões das normas sociais anti-racistas sobre
monstrado nos estudos anteriores.                      os indivíduos. Estes estudos foram realizados com
                                                       sujeitos adultos, mas não respondiam à questão
  Discussão                                            das possíveis etapas da interiorização, nas crian-
                                                       ças, deste tipo de normas, bem como das suas
    Este estudo teve o objectivo de verificar a par-   consequências na expressão do preconceito ra-
tir de que idade as crianças interiorizam a norma      cial por parte dos membros dos grupos maiori-
anti-racista dos adultos. Avaliámos a adopção da       tários e dominantes. O presente trabalho é com-
norma anti-racista através da percepção da nor-        posto de três estudos, com o objectivo de veri-
matividade do preconceito das mães relativa ao         ficar o efeito dos contextos normativos sobre a
grupo dos negros e do preconceito das crianças         expressão das novas formas de racismo nas cri-
em relação ao mesmo grupo.                             anças, considerando dois grupos de idade cru-
    Verificámos que na faixa etária de 5 a 7 anos      ciais para esta averiguação. Considerámos que a
as crianças ainda não adquiriram a norma anti-         manifestação das formas indirectas de racismo,
racista, uma vez que apresentam elevados índi-         sensivelmente a partir dos 8 anos, está relaciona-
ces de preconceito relativamente a muitos dos          da com a interiorização da norma anti-racista por
grupos investigados, incluindo o grupo dos Ne-         parte das crianças, precisamente por volta desta
gros, independentemente da orientação normati-         idade.
va dos adultos de referência. Este resultado pa-          O primeiro estudo mostrou que as crianças ex-
rece confirmar o fenómeno do “pico etnocêntri-         pressam racismo de forma velada, subtil ou indi-
co”, encontrado em outros estudos sobre precon-        recta, em contextos que justificam a discrimina-
ceito na infância (Aboud, 1988; Bigler & Liben,        ção. Este contexto foi criado com base na distri-
1993; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Beaudet, &           buição de recursos a crianças-alvo que apresen-
Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Williams, Best,        tavam desempenhos diferentes em uma tarefa. No
Boswell, Mattson, & Graves, 1975; Yee & Brown,         segundo estudo verificámos a expressão das for-
1992) sugerindo que as crianças desta idade dis-       mas indirectas de racismo considerando um con-
criminam os grupos de modo quase indiferencia-         texto em que a norma social anti-racista estives-
do, de modo que podemos concluir que elas ain-         se saliente ou não saliente. Neste estudo verifi-
da não adquiriram ou interiorizaram a norma an-        cámos que as crianças do grupo dominante ape-
ti-racista.                                            nas discriminam contra um alvo Negro quando a
    Já as crianças que têm mais de 7 anos de ida-      norma social anti-racista não está saliente, ou se-
de, mostraram, como previsto na hipótese, ter in-      ja, estas crianças expressam racismo de modo in-
teriorizado a norma anti-racista, adoptando as         directo. Finalmente, no terceiro estudo, verificá-
normas de seu grupo de referência. Essas crian-        mos que, a partir dos 8 anos de idade, as crianças
ças apresentam o mesmo padrão de preconceito           Brancas interiorizam a norma anti-racista e já

718
são pressionadas por esta norma para não apre-             Biernat, M., Vescio, T. K., Theno, S. A., & Crandall, C.
sentarem o comportamento discriminatório con-                  S. (1996). Values and prejudice: Toward under-
                                                               standing the impact of American values on out-
tra pessoas Negras, que estava presente entre os               group attitudes. In C. Seligman, J. M. Olson, & M.
5 e os 7 anos.                                                 P. Zanna (Eds.), The Psychology of Values: The On-
   Estes resultados põem em questão a interpre-                tario Symposium (vol. 8, pp. 153-189). New Jersey:
tação meramente cognitivista proposta por Aboud                LEA.
                                                           Brown, R. (1995). Prejudice: Its Social Psychology. Ox-
para explicar a redução do preconceito nas crian-              ford: Blackwell Publishers.
ças mais velhas, que já teriam atingido a fase da          Crandall, C. S., Eshleman, A., & O’Brien, L. (2002).
descentração, sendo por isso capazes de percebe-               Social norms and the expression and suppression of
rem uma diferenciação no interior das catego-                  prejudice the struggle for internalization. Journal
                                                               of Personality and Social Psychology, 82 (3), 359-
rias, o que lhes limitaria as atitudes estereotipa-            -378.
das e preconceituosas. De facto, e contraria-              Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (2001). Affirmative
mente ao que Aboud afirma, as crianças mais                    action, unintentional racial biases, and intergroup
velhas continuam a expressar comportamento dis-                relations. In M. A. Hogg, & D. Abrams (Eds.), In-
                                                               tergroup relations: Essential readings (pp. 178-187).
criminatório. Contudo, este comportamento ex-                  Philadelphia: Psychology Press.
pressa-se de modo indirecto, de modo a ficar imu-          Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (1998). On the nature
ne à crítica ou punição social, podendo ser obser-             of contemporary prejudice: the causes, consequen-
                                                               ces, and challenges of Aversive Racism. In J. L.
vado, quer em contextos que justificam a discri-
                                                               Eberhardt, & S. T. Fiske (Eds.), Confronting Ra-
minação por outro motivo que não a categoriza-                 cism: the problem and the responses (pp. 3-32). Ca-
ção racial, quer quando a norma explícita anti-ra-             lifornia: SAGE Publications.
cista reduz a sua saliência e deixa de exercer con-        Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (2000). Aversive racism
                                                               and selection decisions: 1989 and 1999. Psycholo-
trolo sobre os comportamentos das crianças.
                                                               gical Science, 11, 319-323.
   Com base nos resultados encontrados nos es-             Doyle, A. B., & Aboud, F. E. (1995). A longitudinal
tudos aqui apresentados, o responsável directo                 study of white children’s racial prejudice as a so-
pela mudança no modo de expressão do racismo,                  cial-cognitive development. Merrill-Palmer Quar-
                                                               terly, 41 (2), 210-229.
e não pela sua eliminação, parece ser o processo           Doyle, A. B., Beaudet, J., & Aboud, F. E. (1988). Deve-
de interiorização deste tipo de normas sociais e a             lopmental changes in the flexibility of children’s
capacidade de as gerir em função dos contextos,                ethnic attitudes. Journal of Cross-Cultural Psycho-
processo e capacidade estes que, como foi de-                  logy, 19, 3-18.
                                                           Gaertner, S. L. (1973). Helping behavior and racial dis-
monstrado no terceiro estudo, já está presente nas             crimination among Liberals and conservatives. Jour-
crianças mais velhas, sensivelmente a partir dos               nal of Personality and Social Psychology, 25 (3),
8 anos.                                                        335-341.
                                                           Gaertner, S. L., & Dovidio, J. F. (1986). The aversive
                                                               form of racism. In J. F. Dovidio, & S. L. Gaerner
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    MA: Addison-Wesley.
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                                                               Processes in racial discrimination: Differential
    and Bacon.                                                 weighting of conflicting information. Personality
Bigler, R. S., & Liben, L. S. (1993). A cognitive-deve-        and Social Psychology Bulletin, 28 (4), 460-471.
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                                                                                                                 719
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     crimination, and Racism (pp. 35-59). New York:
     Academic Press.                                               Realizamos três estudos com o objetivo de verificar
Kinder, D. R., & Sears, D. O. (1981). Prejudice and po-         o efeito idade na expressão das formas indiretas de ra-
     litics: symbolic racism versus racial threats to the       cismo em crianças brancas. No primeiro estudo, a dis-
     good life. Journal of Personality and Social Psy-          criminação racial foi avaliada através da distribuição
     chology, 40, 414-431.                                      de recompensas para alvos branco e negro em dois
Lima, M., & Vala, J. (2002). Individualismo meritocrá-          contextos, um que justificava e outro que não justifica-
     tico, diferenciação cultural e racismo. Análise So-        va a discriminação. Verificamos que a partir dos 7 anos
     cial, 27, 181-207.                                         as crianças discriminavam o alvo negro apenas no con-
McConahay, J. B. (1986). Modern racism, ambivance,              texto que justificava a discriminação. No segundo es-
     and the modern racism scale. In J. F. Dovidio, & S.        tudo, a discriminação foi medida através da distribui-
     L. Gaerner (Eds.), Prejudice, discrimination, and
                                                                ção de recursos em contextos de saliência e de não sa-
     racism: Theory and research (pp. 61-89). Orlando,
                                                                liência norma anti-racista. Observamos que crianças de
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McConahay, J. B., Hardee, B. B., & Batts, V. (1981).            5-7 anos discriminam o alvo Negro mesmo no contex-
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     who is asking and what is asked. Journal of Con-           10 anos só discriminam o alvo negro no contexto em
     flict Resolution, 25, 563-579.                             que a norma anti-racista não estava saliente. No ter-
McConahay, J. B., & Hough, J. C. Jr. (1976). Symbolic           ceiro estudo, verificamos que a partir dos 7 anos de ida-
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Piaget, J., & Weil, A. M. (1951). The development in
     children of the idea of the homeland and of rela-             Three studies were conducted in order to test the
     tions to other coutries. International Social Science      effect of age on White children’s indirect expressions
     Journal, 3, 561-578.                                       of racism. In the first study racial discrimination was
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     racismos em Portugal. Lisboa: ICS, Estudos e In-
                                                                both conditions while older children only discrimina-
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Williams, J. E., Best, D. L., Boswell, D. A., Mattson, L.       theories of new forms of racism and of the socialisa-
     A., & Graves, D. J. (1975). Preschool Racial Atti-         tion of prejudice.
     tude Measure II. Educational and Psychological                Key words: New racism, social norms, socialization
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Formas indiretas de racismo na infância

  • 1. Análise Psicológica (2004), 4 (XXII): 705-720 A expressão das formas indirectas de racismo na infância (*) DALILA XAVIER DE FRANÇA (**) MARIA BENEDITA MONTEIRO (***) A EXPRESSÃO DAS FORMAS INDIRECTAS DE tner & Dovidio, 1986; Katz & Hass, 1988; Kin- RACISMO NA INFÂNCIA der & Sears, 1981; McConahay & Hough, 1976; Pettigrew & Meertens, 1995). A análise das for- Vários estudos realizados com adultos têm mas mais subtis e indirectas de expressão do ra- demonstrado que as formas de expressão do ra- cismo e do preconceito nos adultos tem gerado cismo na sociedade contemporânea estão se tor- um amplo corpo teórico e metodológico na psi- nando progressivamente mais subtis, mais indi- cologia social. Contudo, há uma carência de es- rectas e menos abertamente negativas do que tudos que analisem as formas mais subtis e in- eram até a primeira metade do século XX (Gaer- directas de racismo na infância. Os estudos que analisam o preconceito na infância afirmam que após os sete anos de idade as crianças tornam-se menos preconceituosas (e.g., Aboud, 1988; Big- ler & Liben, 1993; Brown, 1995; Doyle & Aboud, (*) Este artigo decorre de investigações parcialmen- 1995; Doyle, Beaudet, & Aboud, 1988; Katz & te financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecno- logia (FCT) do Ministério da Ciência, no quadro do Zalk, 1978; Williams, Best, Boswell, Mattson, & Projecto “Social and cognitive factors of social iden- Graves, 1975; Yee & Brown, 1992). Esta diminui- tity construction and management in inter-ethnic rela- ção no preconceito é explicada através da aqui- tions: a developmental approach”, ref. POCTI/PSI/419 sição de novas estruturas cognitivas por parte da 70/2001, em curso no Centro de Investigação e de In- tervenção Social (CIS/ISCTE). criança e pelo amadurecimento das já existentes Qualquer contacto deve ser dirigido à primeira au- (Aboud, 1988; Doyle & Aboud, 1995). Mas se isto tora, para o seguinte endereço: Dalila Xavier de Fran- é verdade (se o preconceito na infância é o resul- ça, Departamento de Psicologia da Universidade Fe- tado do insuficiente amadurecimento de estrutu- deral de Sergipe, Estado de Sergipe, Brasil. E-mail: ras afectivo-cognitivas), como então explicar a dxfranca@msn.com (**) Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da presença de atitudes preconceituosas, mais tarde, Empresas (ISCTE), Centro de Investigação e de Inter- nos adultos? A presente pesquisa visa demons- venção Social (CIS/ISCTE), Coordenação para o Aper- trar que, a partir de certa idade, as crianças, dife- feiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), rentemente do que afirma a abordagem cognitiva Universidade Federal de Sergipe (Brasil). (***) Instituto Superior de Ciências do Trabalho e do desenvolvimento do preconceito na infância, da Empresas (ISCTE), Centro de Investigação e de Inter- não reduzem a expressão do preconceito, mas venção Social (CIS/ISCTE). apenas mudam, em determinadas circunstâncias, 705
  • 2. o modo de expressão desse preconceito, tornan- As teorias referidas anteriormente analisam os do-se mais indirectas. aspectos mais velados do racismo e os efeitos da norma social anti-racista na expressão do racis- As novas formas de preconceito e racismo nos mo, mas enfatizam pouco a importância da sali- adultos ência contextual de resposta no racismo (à exce- pção da teoria de Katz e Hass, 1988). Assim, de A teorização acerca das formas contemporâ- entre as novas teorias sobre o racismo, uma nos neas de expressão do preconceito e do racismo interessa analisar em particular é a teoria do ra- assume a natureza complexa e conflituosa destes cismo aversivo. Esta teoria afirma que são os con- fenómenos, bem como das suas consequências textos de resposta que determinam as expressões na vida social. Recordamos aqui algumas das mais mais abertas ou mais veladas de racismo (Gaert- salientes, de modo a virmos a levantar hipóteses ner & Dovidio, 1986). De modo que, em contex- sobre a natureza destes mesmos fenómenos na to nos quais a resposta socialmente desejável não infância. está definida claramente, ou ainda em contextos A teoria do racismo ambivalente foi criada e nos quais é possível encontrar uma justificação desenvolvida por Katz, Wackenhut e Hass (1986), não relacionada com a etnia ou a raça para ex- que entendem o racismo como o resultado do con- plicar uma resposta negativa em relação aos ne- flito de atitudes e de sentimentos dos americanos gros, o comportamento discriminatório pode ocor- brancos em relação aos americanos negros, con- rer (Dovidio & Gaertner, 1998; Gaertner & Do- flito este motivado pela coexistência de senti- vidio, 1986, 2000). mentos de simpatia e de rejeição em relação aos Gaertner e Dovidio (1986) designaram como negros. Os negros seriam simultaneamente per- racismo aversivo a forma de expressão de racis- cebidos pelos brancos como desviantes e em des- mo apresentada pelos indivíduos que possuem vantagem social, o que geraria sentimentos con- fortes valores igualitários. Segundo estes auto- flitantes de aversão e de simpatia. res, em situações ou em face de acontecimentos A teoria do racismo simbólico (Kinder & Sears, que tornam salientes atitudes negativas em rela- 1981; McConahay & Hough, 1976), por seu tur- ção aos Negros, as pessoas que se julgam iguali- no, afirma que as atitudes contra os negros de- tárias tendem a repudiar ou a dissociar estes sen- correm da percepção deste grupo como uma amea- timentos de sua auto-imagem de igualitárias, e ça aos valores do individualismo, sendo por isso tentam agir evitando estes sentimentos. uma ameaça simbólica. Segundo Kinder e Sears Dovidio e Gaertner (1998) conduziram alguns (1981, p. 416) «symbolic racism represents a form estudos experimentais com o propósito de mos- of resistance to change in the racial status quo trar que em situações nas quais a norma anti-ra- based on moral feelings that blacks violate such cista é clara, os Negros são tratados tão favora- traditional American values as individualism velmente quanto os Brancos, pois discriminá-los and self-reliance, the work ethic, obedience and feriria a auto-imagem igualitária da pessoa. discipline». Gaertner (1973) testou estes pressupostos em Já a teoria do preconceito subtil (Pettigrew & dois experimentos utilizando o paradigma do Meertens, 1995) distingue duas formas de pre- Helping Behaviour. No experimento 1, membros conceito: o preconceito subtil e o preconceito fla- do partido Liberal e do partido Conservador re- grante. O preconceito flagrante é directo e explí- ceberam chamadas telefónicas aparentemente erra- cito. O preconceito subtil, por seu lado, tem co- das que rapidamente se tornaram num pedido de mo fundamento a defesa dos valores do indivi- ajuda. Estas chamadas eram feitas por dois com- dualismo da civilização ocidental, associada a cren- parsas do experimentador, que podiam ser clara- ças de que os membros dos grupos minoritários mente identificados por seu sotaque como sendo recebem benefícios imerecidos. As pessoas sub- Branco ou Negro. Assim, o comparsa explicava tis caracterizam-se por exagerarem as diferenças que o seu carro estava avariado e que ele estava culturais entre os membros do endogrupo e os a tentar chamar o serviço de desempanagem de membros do exogrupo, e pela recusa na expres- um telefone público. Acrescentava ainda que já são de reacções emocionais positivas em relação não tinha maneira de fazer outra chamada e pe- àqueles. dia ao participante para o ajudar, telefonando ele 706
  • 3. para o serviço de desempanagem. A variável ana- mais caros ao Norte-Americanos brancos, de que lisada era o comportamento de ajuda, expresso recebem mais do que merecem e de que fazem pelo facto do indivíduo telefonar ou não para um exigências ilegítimas a fim de mudarem seu es- suposto número de uma garagem, onde outro tatuto racial. Nesta teoria, McConahay, Hardee e comparsa do experimentador atendia a chamada. Batts (1981) manipulam o efeito das normas so- Os resultados indicaram que os Conservadores ciais no racismo, através da presença da etnia da prestaram menos ajuda aos Negros do que aos entrevistadora na discriminação contra os Ne- Brancos e que, embora os Liberais ajudassem o gros, e sugerem que a presença da entrevistadora Negro e o Branco igualmente, desligavam a cha- negra induz a diminuição de respostas discrimi- mada mais frequentemente ao Negro do que ao natórias contra pessoas Negras ou seja, torna sa- Branco. liente a norma anti-racista. Segundo McConahay No experimento 2, Gaertner (1973) entrevis- et al. (1981), a expressão do racismo depende de tou outros membros dos partidos Liberal e Con- quem pergunta e também do que é perguntado. servador sobre o que eles achavam que fariam se McConahay et al. (1981) realizaram estudos a recebessem chamadas telefónicas erradas de um fim de verificar em que medida as respostas dos motorista Negro ou de um motorista Branco pe- entrevistados são alteradas a fim de parecerem dindo ajuda. Os resultados indicaram que a dis- menos racistas perante si mesmos e perante os posição expressa para ajudar a ‘vítima’ Negra outros. era igual à disposição expressa para ajudar a ‘ví- No primeiro estudo, estudantes universitários tima’ Branca, e que não existia qualquer diferen- Brancos respondiam a um questionário de opi- ça entre Liberais e Conservadores nesse compor- nião. Os participantes foram distribuídos por duas tamento. Gaertner (1973) concluiu que, quando a condições que pretendiam maximizar ou minimi- norma anti-racista está saliente, a discriminação zar respostas preconceituosas para as escalas de no comportamento de ajuda não se manifesta. racismo moderno e tradicional. Na primeira con- Num estudo mais recente, Dovidio e Gaertner dição, os questionários eram distribuídos e reco- (2000) afirmam que, mesmo quando as directri- lhidos por uma experimentadora Branca. Na ou- zes normativas estão claras, os racistas aversivos tra condição, era uma experimentadora Negra quem podem lançar mão de factores não raciais para distribuía e recebia os questionários. A hipótese justificar uma resposta negativa em relação aos subjacente à manipulação experimental era a de Negros. Para demonstrar este pressuposto, Dovi- que, diante da experimentadora Negra, os parti- dio e Gaertner (2000) utilizaram uma situação de cipantes tenderiam a mostrar-se menos racistas, selecção de candidatos para um emprego, na qual pois estariam mais motivados pela norma anti-ra- os participantes avaliavam os supostos candida- cista, do que perante a experimentadora Branca. tos com base em extractos de entrevistas. Os ex- Os resultados encontrados apoiaram estas hipó- tractos de entrevistas apresentavam três condi- teses. Estes resultados foram replicados num se- ções: altas qualificações (um pré-teste indicou que gundo estudo. McConahay et al. (1981) concluem o candidato seria aceite em 85% dos casos); fra- que a presença de uma entrevistadora Negra po- cas qualificações (o candidato seria aceite em 15% de tornar saliente a norma-antiracista. dos casos) e qualificações moderadas (o candida- Como salientam Vala, Brito e Lopes (1999), to seria aceite em 50% dos casos). Os participan- todas estas novas formas de expressão do racis- tes avaliavam um candidato Branco ou um can- mo têm em comum o facto de sustentarem que o didato Negro. Segundo os autores, a discrimina- racismo se manifesta hoje de uma forma indire- ção contra os Negros só aconteceria num con- cta ou encoberta, e que este carácter encoberto texto em que houvesse uma justificação não ra- reflecte as pressões da norma social anti-racista cial, ou seja, no contexto de qualificação mode- sobre as atitudes raciais dos indivíduos. rada. Os resultados confirmaram esta hipótese. Estudos feitos em Portugal também têm mos- Uma outra teoria que analisa os efeitos das trado que as normas sociais actuam como variá- normas sociais nas expressões do racismo é a vel moderadora nas expressões de racismo (ver teoria do Racismo Moderno (McConahay, 1986). Gonçalves & Garcia-Marques, 2002; Lima & Va- Esta teoria baseia-se no pressuposto de que exis- la, 2002; Vala, Brito, & Lopes, 1999; Vala, Lima, te a crença de que os Negros violam os valores & Lopes, 2002). Os estudos feitos nos EUA por 707
  • 4. Crandall, Eshleman e O’Brien (2002) acrescen- (1988) afirma que a criança evolui de uma fase tam a este conjunto de pressupostos sobre os de egocentrismo, donde decorre a impossibilida- efeitos das normas sociais no racismo, o facto de de de apreciar as diferenças quer individuais quer que não importa analisar apenas as formas de pre- grupais, para uma fase de sociocentrismo, em que conceito que são anti-normativas ou condenadas os julgamentos sociais são baseados nas opera- (p.e.: o preconceito contra os Negros), mas tam- ções de categorização e na percepção das seme- bém os tipos de expressões preconceituosas que lhanças e dessemelhanças entre grupos sociais, e são aceites e patrocinadas pela sociedade (p.e.: finalmente para uma fase de descentração, quan- preconceito contra neonazis). do então podem atender simultaneamente a dife- rentes perspectivas, tornando-se mais conscien- Racismo na infância tes das qualidades internas dos indivíduos e não sendo mais propensas aos enviezamentos cogni- Os estudos acima citados mostram que as ex- tivos dos estereótipos (ver Piaget & Weil, 1951). pressões do racismo se têm tornado mais indi- O preconceito e o favoritismo endogrupal presen- rectas, e que esta mudança tem relação com a tes até aos 7-8 anos, bem como a redução do pre- presença da norma anti-racista que impede a ex- conceito que então ocorreria, seriam, assim, ex- pressão do racismo mais flagrante, somada à pre- plicados com base nas capacidades cognitivas da sença de valores que enaltecem a igualdade de criança em cada fase do desenvolvimento. Com direitos entre as pessoas (Pettigrew & Meertens, efeito, para Berk (1994), por volta dos 7 ou 8 anos 1995; Gaertner & Dovidio, 1986; Dovidio & Ga- de idade, as crianças podem começar a racioci- ertner, 1998, 2001). Entretanto, estes estudos fo- nar em termos de tolerância, e reconhecem que ram feitos com adultos, poucos estudos tendo si- aqueles que estão em situação de desvantagem do feitos nesta perspectiva com crianças. devem ser tratados de maneira especial. Mas esta limitação pode dever-se à ideia lar- Convém salientar que, nos estudos que susten- gamente difundida na literatura sobre o precon- tam esta perspectiva, utilizam-se medidas de ati- ceito na infância, de que o preconceito apresen- tudes e não de comportamento (e.g., Doyle & Aboud, tado pelas crianças está mais associado a limita- 1995; Aboud, 1980; Doyle, Beaudet, & Aboud, ções de suas capacidades cognitivas, tal como é 1988). De modo que estes estudos, analisam mais proposto pela abordagem cognitiva do desenvol- o preconceito do que a discriminação e o racis- vimento (Aboud, 1988), do que pela aprendiza- mo. Para além disso, essas medidas de atitudes gem e interiorização de normas sociais num con- são sempre explícitas, o que determina respostas texto intergrupal. A abordagem cognitiva do de- conformes com a norma social anti-racista. Este senvolvimento (Bigler & Liben, 1993; Brown, facto pode constituir uma explicação alternativa 1995; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Beaudet, & para a suposta redução do preconceito nas crian- Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Yee & Brown, ças mais velhas: essas crianças não deixariam de 1992) afirma que, por volta dos 6 anos de idade, exprimir preconceito mas, graças à interiorização a criança apresenta índices elevados de favoritis- das normas sociais dos adultos em relação à não mo endogrupal, que aumentam até por volta dos discriminação aberta dos Negros ou de outras mi- oito anos. A partir dessa idade assistir-se-ia a uma norias estigmatizadas, tornar-se-iam subtis ou ve- redução do favoritismo endogrupal. Este fenó- ladas na expressão de seu racismo. meno, ou seja, este aumento do etnocentrismo A presente investigação consiste em três estu- até cerca dos 8 anos de idade, é designado por dos que têm o objectivo de verificar o efeito da muitos estudiosos como o “período crítico” do pre- saliência das normas na expressão do racismo na conceito (ver Aboud, 1988; Bigler & Liben, 1993; infância e o processo de socialização da norma Brown, 1995; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Be- anti-racista em dois grupos de idade. Esperamos audet, & Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Wil- que, após os oito anos de idade, as crianças apre- liams, Best, Boswell, Mattson, & Graves, 1975; sentem discriminação apenas nas condições de Yee & Brown, 1992). baixa saliência da norma anti-racista, e que a partir Apropriando-se dos fundamentos da teoria do desta idade tenham interiorizado a norma social desenvolvimento cognitivo de Piaget e aplican- dominante referente à discriminação racial. Es- do-os às relações inter-étnicas e raciais, Aboud pera-se, assim, que a partir dessa idade haja uma 708
  • 5. correspondência entre o comportamento adulto e dois grupos etários: de 5 a 7 anos (46,5%) e de 8 o comportamento infantil, e que as crianças ape- a 10 anos (53,5%). nas exibam atitudes públicas de discriminação em relação a grupos para os quais a discrimina- Desenho ção social é aceitável. Utilizou-se um desenho factorial completo Overview of the studies de 2 (idade: 5 a 7 anos vs. 8 a 10 anos) X2 (alvo: Branco vs. Negro) X2 (contexto: que não justifi- No primeiro estudo procurámos criar um con- cava a discriminação vs. que justificava). As duas texto normativo que justificasse a discriminação, últimas variáveis foram intra-sujeitos. A variável através de situações de desempenhos diferentes dependente foi o número de doces distribuídos a ou aparentemente diferentes entre alvos brancos cada um dos alvos como recompensa pela ajuda e negros. No segundo estudo, utilizámos um pa- à criança-sujeito. radigma semelhante a McConahay et al. (1981), ou seja, utilizámos uma entrevistadora Negra, a Procedimentos fim de manipularmos um contexto no qual a nor- ma anti-racista estivesse muito ou pouco salien- As crianças foram entrevistadas individualmen- te. No terceiro estudo investigámos a interiori- te em escolas da rede pública e privada do Bra- zação da norma anti-racista pelas crianças, a par- sil. Utilizaram-se fotografias de crianças brancas tir da correspondência entre as suas atitudes e as e negras como material de estímulo, e ainda 4 do seu grupo de referência. pequenos tijolos e 6 doces de brinquedo. A entrevistadora dava a seguinte instrução a cada criança: «Imagine que você está querendo cons- ESTUDO 1 truir uma casa (para meninas) ou uma ga- ragem de brinquedo (para meninos), e pre- Este estudo teve o objectivo de verificar o efei- cisa de algumas crianças para o ajudar to da saliência de um contexto igualitário (em na tarefa de levar tijolos para a constru- que a discriminação não é justificável), ou de um ção. Você chama duas crianças para o aju- contexto de diferenciação (em que a discrimina- dar, e diz-lhes que lhes dará em troca al- ção é justificável), na expressão de formas in- guns doces.» directas de racismo na infância, em dois grupos de idade. Foram testadas as seguintes hipótese: Assim, a entrevistadora colocava as fotogra- 1) O alvo Negro será mais discriminado do que o fias de cada criança-alvo (uma Negra e uma Bran- alvo Branco; 2) As crianças com menos de 8 ca, do mesmo sexo que a criança entrevistada) anos de idade discriminarão o alvo Negro, inde- sobre a mesa, e por baixo de cada fotografia, o pendentemente dos contextos normativos e 3) A número de tijolos (miniaturas de verdadeiros ti- partir dos 8 anos de idade as crianças discrimina- jolos) que cada criança carregou. Pedia então à rão o alvo Negro apenas de modo indirecto ou criança entrevistada que, em recompensa da sua subtil, ou seja, apenas na condição em que a di- ajuda, distribuísse os 6 doces de brinquedo pelos ferenciação é justificável (desempenhos diferen- dois alvos. tes das duas crianças-alvo. A discriminação racial foi medida através da média do número de doces dado a cada criança- Método alvo em dois contextos de resposta: um contexto que não justificava a discriminação e um outro que poderia justificar a discriminação. No con- Participantes texto que não justificava a discriminação, pedia- se às crianças que distribuíssem os nove doces a Participaram na pesquisa 86 crianças brasilei- alvos que tinham tido um desempenho igual na ras Brancas, sendo 44 meninas (51,2%) e 42 me- tarefa de construção (cada criança carregou dois ninos (48,8%). As crianças foram distribuídas em tijolos). No contexto que justificava a discrimi- 709
  • 6. nação, as crianças entrevistadas deveriam recom- ça Negra foi atribuída uma idade média de 8.33 pensar os alvos em duas situações de desempe- anos F(1,17)=0.05, n.s. A aparência física e a nho aparentemente diferentes. Numa situação o qualidade gráfica foram avaliadas numa escala desempenho do alvo Branco era melhor do que o de sete pontos, na qual sete correspondia ao grau do alvo Negro (i.e., o alvo Branco carregava mais mais positivo do atributo. Quanto à aparência fí- tijolos do que o alvo Negro) e numa segunda si- sica, a criança Branca obteve média de 6.06, en- tuação o desempenho do alvo Negro era melhor quanto a criança Negra obteve média de 6.22, do que o do alvo Branco (i.e., o alvo Negro car- F(1,17)=0.07, n.s. Com relação à qualidade grá- regava mais tijolos do que o alvo Branco). Po- fica, a fotografia da criança Branca obteve média rém, o somatório dos desempenhos dos alvos Bran- de 4.5, enquanto a fotografia da criança Negra co e Negro nas quatro situações que eram apre- obteve média de 3,9 F(1,17)=0.34, n.s. sentadas aos participantes era igual (i.e., as cri- anças brancas, no total, carregavam tantos tijolos Verificação da compreensão das crianças acer- como as crianças negras). ca da tarefa Pré-teste das fotografias Para verificar a compreensão das crianças acer- ca da tarefa de distribuição de recompensas, fize- As fotografias utilizadas como estímulo foram mos um teste t para amostras emparelhadas com pré-testadas em relação à cor da pele, idade, apa- as recompensas distribuídas aos alvos quando eles rência física e qualidade gráfica. Para isto foram levavam um, dois ou três blocos. Como podemos apresentadas a 18 juizes (média de idade de 21,98 ver na Tabela 1, as crianças não realizaram a ta- anos e desvio padrão de 5,55), tendo cada foto- refa aleatoriamente; seguiram o critério do desem- grafia sido avaliada por nove juizes. As fotogra- penho dos alvos. Assim, em todas as idades, dis- fias foram avaliadas como idênticas nos requisi- tribuíram mais recompensas aos alvos que tive- tos analisados, excepto quanto à cor da pele. Com ram desempenhos melhores e menos recompen- relação à cor da pele, a criança Negra foi consi- sas aos alvos que tiveram desempenhos piores. derada Negra por 89% dos juizes, e 11% disse- ram que era Mulata (1 pessoa). Todos os juizes Resultados (100%) que avaliaram a criança Branca, a consi- deraram Branca. À criança Branca foi atribuída Primeiramente realizámos uma ANOVA a fim uma idade média de 8.44 anos, enquanto à crian- de verificarmos se havia efeito significativo do TABELA 1 Médias e desvios padrões (entre parênteses) das recompensas distribuídas em diferentes contextos de desempenho em função da idade Teste t para amostras emparelhadas p<.001 Desempenho dos alvos Idade Alvos carregam um bloco Alvos carregam dois blocos Alvos carregam três blocos 5 a 7 anos 2.43 2.94 3.61 (0.60) (0.44) (0.73) 8 a 10 anos 2.31 2.99 3.64 (0.57) (0.40) (0.67) 710
  • 7. TABELA 2 Médias e desvios padrões (entre parênteses) das recompensas distribuídas aos alvos Negro e Branco em função da idade e do contexto de resposta Contexto que não justifica a discriminação Contexto que justifica a discriminação Alvo 5 a 7 anos 8 a 10 anos 5 a 7 anos 8 a 10 anos Total Branco 3.24 3.02 3.12 3.16 3.13 (0.55) (0.15) (0.51) (0.58) (0.37) Negro 2.84 2.98 2.98 2.90 2.92 (0.44) (0.15) (0.39) (0.37) (0.28) género dos participantes na distribuição de re- diferenças entre as crianças mais novas e mais compensa aos alvos. Os resultados indicam que velhas não foram significativas, F(1,80)<1, n.s. não existe efeito do género sobre a discrimina- Tanto as crianças mais novas (M=3.12 vs. ção, F(1, 80)<1, n.s. Em seguida, a fim de testar- M=2.98) como as crianças mais velhas (M=3.16 mos as hipóteses, realizámos uma ANOVA com vs. M=2.90) recompensam mais o Branco do que medidas repetidas em que a variável independen- o Negro nesta condição1 (ver Tabela 2). te entre-participantes foi a idade das crianças, e as variáveis independentes intra-participantes Discussão foram o alvo e o contexto de avaliação. Os resul- tados indicam um efeito principal do alvo, F(1,80)= Este estudo teve o objectivo de investigar o 9.30, p<.01. Este efeito indica que o alvo Negro efeito do contexto de igualdade ou de diferencia- foi discriminado (M=2.92, DP=0.28) em relação ção sobre a expressão das formas indirectas de ao alvo Branco (M=3.13, DP=0.37). Este resul- racismo nas crianças, em função da idade. A dis- tado, que confirma a primeira hipótese, foi no en- criminação racial foi avaliada através da distri- tanto qualificado por uma interacção tripla entre buição de recompensas a alvos Branco e Negro idade, alvo e contexto, F(1,80)=4.52, p<.05. em dois contextos: um contexto que justificava a Para testarmos as nossas hipóteses realizámos discriminação (diferenciação de desempenhos) e comparações planeadas. Primeiramente testámos outro que não justificava (igualdade de desempe- se as recompensas distribuídas aos alvos Branco nhos). Verificámos, como previsto na primeira hi- e Negro pelas crianças mais novas (5 a 7 anos) pótese, que as crianças discriminaram o alvo Ne- se diferenciavam das recompensas distribuídas gro em relação ao alvo Branco. Contudo, verifi- pelas crianças mais velhas (8 a 10 anos) no con- cámos também que este resultado depende da texto que não justifica a discriminação (i.e., con- idade das crianças e do tipo de contexto norma- texto de desempenho igual, com saliência, por- tivo de resposta. Enquanto as crianças entre os 5 tanto, da norma igualitária). Os resultados indi- e 7 anos não são sensíveis ao contexto normativo cam, de acordo com a hipótese, que a diferença presente nas situações e discriminam sempre a entre as crianças mais novas e mais velhas é signi- criança-alvo Negra em relação à Branca, a partir ficativa, F(1,80)=5.74, p=.01. Enquanto que as crianças mais novas discriminam o alvo Negro (M=2.84) em relação ao Branco (M=3.24); as mais velhas são igualitárias (M=2.98 para o alvo Negro e M=3.02 para o alvo Branco). Entretanto, no contexto que justifica a discriminação, as 1 t(45)=2.02, p<.05. 711
  • 8. dos oito anos de idade as crianças deixaram de dis- Método criminar o Negro no contexto que não justifica a discriminação, mas continuam a discriminá-lo num contexto em que a discriminação pode ser justi- Participantes ficada por uma aparente diferenciação no desem- penho dos alvos. Em outras palavras, as crianças Participaram na pesquisa 71 crianças brancas do sexo masculino, com idades compreendidas mais velhas não reduzem incondicionalmente a entre os cinco e os dez anos, sendo 42% de 5 a 7 discriminação, como pretendem as teorias de ba- anos e 57% de 8 a 10 anos. A amostra foi reti- se desenvolvimentista cognitiva, apoiando-se nas rada de escolas privadas e públicas do Estado de suas novas competências afectivo-cognitivas; mas Sergipe (Brasil). apenas se mostram racistas em contextos nos quais elas acreditam que o seu comportamento discri- minatório pode ser justificado por algum modo Procedimentos que não o da pertença racial dos alvos. Assim, As crianças foram abordadas em sua sala de enquanto as crianças mais novas expressam ra- aula e convidadas a participar numa entrevista, cismo quer de forma directa, quer de forma indi- tendo sido entrevistadas individualmente por uma recta, as crianças mais velhas apenas expressam entrevistadora Negra. A entrevistadora começava racismo de forma indirecta. por se apresentar à criança e em seguida explica- Para além do contexto justificativo de com- va a instrução de pesquisa. portamentos discriminatórios, como revelaram A instrução tinha o seguinte conteúdo: os estudos clássicos de Gaertner e Dovidio (Ga- ertner, 1973; Dovidio & Gaertner, 2000) as for- «Vou falar sobre dois meninos que querem mas indirectas de racismo também podem ser ex- comprar bicicletas. Cada um deles quer sua pressas em contextos nos quais a norma anti-ra- própria bicicleta. Eu resolvi ajudá-los pe- cista não está claramente definida ou saliente (Do- dindo contribuição para eles às crianças das vidio & Gaertner, 1998; Gaertner & Dovidio, 1986, escolas. Para contribuir você tem só que 2000). A fim de verificar a expressão das formas colocar esse dinheiro (13 notas de brinque- indirectas de racismo em contextos nos quais a do de 1 Real = 0,35 Cêntimos cada) nesses norma social anti-racista não está saliente reali- mealheiros. Veja! Outras crianças já con- zámos um segundo estudo. tribuíram.» Então a entrevistadora balança os dois mealheiros, produzindo ruído, para tornar credível a informação que acaba de dar. «Você dá quanto quiser e do jeito que ESTUDO 2 quiser. O dinheiro que você der, vai ser trans- formado em dinheiro de verdade e depois Este estudo teve o objectivo de verificar a in- dado a eles.» fluência da saliência de uma norma anti-racista À frente da criança, sobre uma mesa, ficavam sobre a expressão de racismo em crianças de dois os dois mealheiros com cadeados e as treze cé- grupos de idade. Na sequência dos objectivos dulas de brinquedo de um real. Em um mealhei- atrás delineados e do quadro teórico previamente ro estava anexada a fotografia de uma criança bran- desenvolvido, as seguintes hipóteses foram for- ca e no outro a de uma criança negra. Os cadea- muladas: a) As crianças de 5 a 7 anos de idade dos tinham o propósito de dar a impressão de discriminarão o alvo Negro em relação ao alvo que a tarefa já havia sido feita por outras crian- Branco, independentemente do grau de saliência ças, e de dar à criança a impressão de confiden- da norma anti-racista; b) Após os sete anos, as cialidade na distribuição do dinheiro. A instru- crianças vão expressar racismo de modo indire- ção de que poderia distribuir o dinheiro da ma- cto, ou seja, as crianças vão discriminar o alvo neira que quisesse incluía a informação de que, Negro apenas quando a norma anti-racista não se não quisesse distribuir todo o dinheiro, tam- estiver saliente. bém poderia ficar com algum para si. 712
  • 9. Desenho zes de lidar com os conceitos matemáticos bási- cos para este tipo de tarefa. Utilizou-se um desenho factorial 2 (idade: 5 a 7 e 8 a 10 anos) X2 (saliência da norma anti-ra- Resultados cista: entrevistadora negra presente/ausente) X2 (alvos: branco/negro). As duas primeiras variá- veis eram inter-participantes e a última era intra- Manifestação do Racismo nas Crianças -participantes. A variável “saliência da norma anti-racista” foi Antes de começarmos as análises dos dados, operacionalizada, através da presença versus au- procedemos à substituição dos valores extremos sência da entrevistadora: a norma anti-racista es- da distribuição (superiores a três desvios-padrão tava saliente quando a entrevistadora negra per- em relação à média) pela média. manecia o tempo todo junto da criança, acompa- A hipótese principal do estudo era a de que, nhando-a enquanto esta realizava a tarefa, e não após os sete anos, as crianças iriam manifestar estava saliente quando a entrevistadora se ausen- racismo de modo indirecto, ou seja, iriam discri- tava da sala após ter dado as instruções, deixan- minar o alvo Negro apenas quando a norma anti- do a criança realizar a tarefa em sigilo. -racista não estivesse saliente. Assim, procede- Na condição em que a entrevistadora negra se mos a uma ANOVA com medidas repetidas, con- ausentava, era dada a seguinte instrução adicio- siderando a idade e a saliência da norma anti-ra- nal: «Eu queria que você ficasse aqui fazendo essa cista como variáveis independentes inter-partici- actividade enquanto eu vou lá fora tomar um pantes e a recompensa dada ao alvo (Branco e pouco de água. Você faz a actividade e fica me Negro) como variável independente intra-par- esperando, que eu volto já. Está bem?» ticipantes: A variável dependente foi a média das A variável dependente foi o comportamento recompensas atribuídas a cada um dos alvos. de ajuda medido através da distribuição de re- Os resultados indicam, que ocorre um efeito cursos (que eram as 13 cédulas referidas no Pro- principal do alvo, F(1,67)=3.19, p=.078. A crian- ça Negra foi discriminada (M=5.81) em relação à cedimento) para as duas crianças-alvo (Branco e criança Branca (M=5.98). Observamos ainda, de Negro), de modo que a variável dependente va- acordo com as hipóteses, que ocorre um efeito riou entre +13 (todos os recursos para o alvo Bran- de interacção tripla do alvo, da saliência da nor- co) e -13 (todos os recursos para o alvo Negro). ma anti-racista e da idade F(1,67)=8.35, p=.005, Para a manipulação do alvo foram utilizadas as que qualifica o efeito principal do alvo (ver Ta- fotografias de uma criança Negra e de uma crian- bela 1). Para testar as hipóteses sobre os efeitos ça Branca do sexo masculino, de cerca de 8 anos. da idade e da saliência da norma anti-racista na discriminação realizamos comparações planea- Verificação da Compreensão Aritmética das das. A primeira hipótese previa que as crianças Crianças de 5 a 7 anos discriminariam o alvo Negro inde- pendente da saliência da norma anti-racista. Esta A fim de verificar a capacidade matemática de hipótese é confirmada uma vez que, as diferen- divisão das crianças, foi criada uma tarefa que ças na distribuição de recompensas para o alvo consistia em dividir igualmente dez cédulas de Branco e para o alvo Negro não são influencia- um real (de brinquedo) entre duas crianças, re- das pela saliência da norma anti-racista, F(1,67)= presentadas por desenhos de duas crianças, em 2.14, p=.15. A segunda hipótese previa que a um cartão de aproximadamente 12X15cm (não discriminação dos Negros, por parte das crianças se fazia menção a características tais como cor mais velhas, seria mais baixa quando a norma da pele ou género das crianças desenhadas). Os anti-racista estivesse saliente do que quando a participantes em ambas as condições de idade norma anti-racista não estivesse saliente. A aná- distribuíram exactamente a mesma quantidade de lise dos contrastes também confirma esta hipó- recursos para cada alvo (5 para uma criança e 5 tese, F(1,67)=7.66, p=.007. Como podemos ver para a outra). Este resultado indica que, indepen- na Tabela 3, as crianças mais velhas discriminam dentemente da idade, os participantes são capa- o alvo negro quando a entrevistadora Negra está 713
  • 10. TABELA 3 Médias e desvios padrão (entre parênteses) da distribuição de recompensas aos alvos Negro e Branco em função da idade, da cor da pele e da saliência da norma anti-racista (n =71) Saliência da norma anti-racista Não saliência (entrevistadora ausente) Saliência (entrevistadora presente) Alvo 5 a 7 anos 8 a 10 anos 5 a 7 anos 8 a 10 anos Total Branco 5.68 6.47 6.64 5.50 5.98 (1.37) (0.84) (1.02) (1.06) (1.17) Negro 5.49 5.88 5.91 5.90 5.81 (0.88) (1.10) (0.83) (1.34) (1.08) ausente, mas quando a entrevistadora Negra está pressarem o preconceito que, de facto, continu- presente fazem favoritismo exogrupal. am a ter em relação às crianças Negras. Uma das críticas relativas às teorias sobre as Discussão formas indirectas de racismo consiste no facto de os teóricos, apesar de afirmarem que o que gera O presente estudo teve o objectivo de verificar a discriminação são as pressões da norma anti- a influência da saliência de uma norma social -racista sobre os indivíduos, não testarem este anti-racista na expressão de racismo em crianças pressuposto (Biernar, Vescio, Theno, & Crandall, Brancas, considerando dois grupos etários. Con- 1996). A fim de analisar, precisamente, a relação siderámos que a presença de uma entrevistadora entre as normas racistas, implícitas e explícitas, Negra tornaria saliente a norma anti-racista (McCo- nos adultos e nas crianças e verificar a partir de nahay et al., 1981) e que sua ausência, traduzin- que idade as crianças interiorizam as normas ra- do-se num comportamento sigiloso das crianças, cistas implícitas, nas sociedades em que o grupo produziria um contexto propício à discriminação Branco é dominante, realizámos um terceiro es- do alvo Negro. Formulámos a hipótese de que ape- tudo. Em outras palavras, queremos saber se nas nas as crianças mais velhas (8 a 10 anos), por já idades em que as crianças exprimem o racismo terem internalizado a norma anti-racista, fossem de forma indirecta elas estão sob o efeito da von- capazes de expressar racismo em função da va- tade de se mostrarem igualitárias. riação do contexto normativo. Os resultados indicaram que as crianças de 5 a 7 anos discriminam o alvo Negro, tal como pre- visto nas hipóteses, independentemente do grau ESTUDO 3 de saliência da norma anti-racista. Já as crianças de 8 a 10 anos, apresentam discriminação do al- A principal característica das novas formas de vo Negro apenas quando a entrevistadora está au- racismo por parte dos membros de grupos domi- sente. Ou seja, na situação em que estas crianças nantes é a expressão subtil, indirecta ou velada são motivadas pela norma anti-racista, decorren- da discriminação. Este carácter velado e disfar- te da presença da entrevistadora Negra, elas res- çada comum às novas expressões do racismo re- pondem com um comportamento de orientação flecte as pressões da norma anti-racista. Entre- igualitária, e não discriminatória. Contudo, a au- tanto, poucos estudos têm analisado a partir de sência da entrevistadora Negra, desactivando os que momento as crianças interiorizam as normas conteúdos da norma anti-racista, permite-lhes ex- sociais que contrariam a expressão directa do ra- 714
  • 11. cismo. Esse estudo é importante, na medida em consistia em questionar as crianças acerca do co- que permite verificar a hipótese de que a emer- nhecimento que tinham sobre o significado de ca- gência de formas subtis de discriminação deve da um dos grupos. As crianças qualquer dos gru- estar associada a uma interiorização, pelo menos pos eram eliminadas. Após a definição dos gru- parcial, da norma anti-racista. Com base neste pos pedia-se às crianças que dissessem, através pressuposto, e na sequência dos dois primeiros de uma escala que variava de 1 (muito), 2 (tal- estudos, em que foi possível verificar que as cri- vez) a 3 (nada), o quanto gostavam das pessoas anças Brancas, por volta dos 8 anos, deixavam que pertenciam a cada um dos grupos. de discriminar as crianças Negras de forma dire- As mães emitiram suas avaliações sobre os mes- cta e flagrante, enquanto passavam a discriminá- las de uma forma indirecta e subtil (justificada mos 11 grupos utilizados com as crianças. As mães pelo contexto ou face à ausência da norma e do respondiam à questão «Eu acho que... “Está seu controlo), este estudo teve o objectivo de ve- certo” (“talvez esteja certo”/“não está certo”) ter rificar se a norma anti-racista dos adultos está sentimentos negativos em relação a este grupo». presente nas crianças do grupo Branco, por volta A escala variava de 1 (não está certo ter sentimen- dos 8 anos, mas não anteriormente. Formulámos, tos negativos em relação a este grupo) a 3 (está assim, a seguinte hipótese de que, a partir dos 8 certo ter sentimentos negativos em relação a este anos, mas não entre os 5-7 anos, as crianças ten- grupo). derão a adoptar as normas do seu grupo de refe- rência, ou seja, vão discriminar os grupos que as Resultados mães acham aceitável discriminar e não discri- minarão os grupos que as mães não acham acei- tável discriminar. Normatividade do preconceito na avaliação das mães Método Para sabermos quais os grupos que seriam nor- mativamente alvo de preconceito no contexto so- Participantes cial estudado, utilizámos a percepção das mães Participaram na pesquisa 30 crianças Brancas, sobre a aceitabilidade do preconceito em relação sendo 15 de 5 a 7 anos e 15 de 8 a 10 anos, 70% aos grupos investigados. As respostas das mães do sexo masculino e 30% do sexo feminino. foram comparadas com o valor 2 através de um Participaram também 30 mães Brancas, pro- teste t. Assim, os grupos-alvo cujas médias fo- venientes do mesmo grupo socio-económico que ram iguais a 2 (“talvez esteja certo ter sentimen- as crianças, que tinham filhos com idades entre tos negativos em relação a este grupo”), ou signi- os 5 e os 10 anos (53,3% dos filhos tinham 5 a 7 ficativamente superiores a 2 (“está certo ter sen- anos e 46,7% tinham 8 a 10 anos). A média de timentos negativos em relação a este grupo”), idade das mães foi de 31,06 anos e o desvio foram considerados normativamente alvos de pre- padrão de 6,28. conceito. Os grupos cujas médias foram signifi- cativamente inferiores a 2 (“não está certo ter sen- Procedimento timentos negativos em relação a este grupo”), fo- ram aqueles em relação aos quais o preconceito é Seleccionámos da lista de grupos alvos de pre- considerado anti-normativo. Podemos ver na Ta- conceito estudados por Crandall, Eshleman e O’Brien (2002), aqueles que considerámos que as bela 4 que, de acordo com as mães, os grupos nor- crianças poderiam conhecer. Compusemos então, mativamente alvos de preconceito foram: políti- uma lista com 11 grupos (doentes de SIDA, ho- cos, pessoas racistas e homossexuais. Já os gru- mossexuais, índios, motoristas barbeiros (condu- pos em relação aos quais o preconceito é anti-nor- tores de risco), negros, cegos, pessoas feias, gor- mativo foram: cegos, índios, negros, pessoas feias, dos, racistas, pessoas sujas e políticos). No pro- pessoas gordas, doente de SIDA, condutores de cesso de entrevista havia uma pergunta filtro que risco e pessoas sujas. 715
  • 12. Preconceito das crianças A interiorização das normas relativas ao ra- cismo A fim de verificar os grupos em relação aos quais as crianças mais expressam preconceito, Para verificarmos quando (idade) e em que realizámos, como para a amostra de adultos, um condições (normatividade ou anti-normatividade teste t contra 2 dos valores obtidos por cada um do preconceito), as crianças reflectem abertamen- dos grupos-alvo, utilizando os mesmos critérios te as normas sociais de seu grupo de referência de agrupamento dos valores da escala que foram em relação ao racismo, compusemos os seguin- utilizados na análise dos dados das mães: assim, tes índices: um índice de ‘normatividade do pre- os grupos-alvo cujas médias foram iguais a 2 (“tal- conceito’ (das mães) e um índice do ‘preconcei- vez”), ou significativamente superiores a 2 (“não to’ (da criança). O grupo dos negros foi utilizado gosto nada das pessoas deste grupo”), foram con- como grupo de comparação, pois este é o grupo siderados alvos de preconceito. Os grupos cujas de interesse específico para a nossa pesquisa. médias foram significativamente inferiores a 2 Para compor o índice de “normatividade do pre- (“gosto muito das pessoas deste grupo”), foram conceito” das mães, seleccionámos os três gru- aqueles em relação aos quais as crianças não ex- pos que as mães consideraram ser mais certo dis- primem preconceito. A Tabela 4 mostra que os criminar, ou seja, aqueles que poderiam ser alvo homossexuais, doentes de SIDA, pessoas racis- normativo de preconceito (políticos, homossexu- tas, condutores de risco, pessoas sujas e pessoas ais e pessoas racistas), e calculámos a sua média gordas são os grupos-alvo de preconceito das cri- simples. Utilizando o mesmo procedimento, cons- anças, sendo o grupo dos políticos apenas ten- truímos o índice de “preconceito” das crianças dencialmente alvo e os grupos de índios, negros para estes mesmos três grupos-alvo, de modo a e cegos não são alvo de preconceito pelas crian- proceder à comparação entre ambos os índices. ças. Os testes t para amostras emparelhadas entre es- TABELA 4 Valores médios de normatividade do preconceito das mães e do preconceito das crianças para 11 grupos (N=30; teste t contra 2) Normatividade do preconceito da mãe* Preconceito da criança** GRUPOS M T p M T p Cegos 1.07 -20.15 .00 1.63 -2.48 .02 Índios 1.10 -12.25 .00 1.57 -4.29 .00 Negros 1.10 -16.16 .00 1.60 -2.85 .01 Pessoas feias 1.10 -16.16 .00 1.87 -.85 .40 Pessoas gordas 1.17 -12.04 .00 1.93 -.42 .68 Doente AIDS 1.43 -4.96 .00 2.60 5.84 .00 Motorista barbeiro 1.63 -3.00 .01 2.40 3.03 .01 Pessoas sujas 1.70 -2.52 .02 2.30 3.07 .01 Homossexuais 1.90 -.65 .52 2.83 12.04 .00 Pessoas racistas 2.57 5.46 .00 2.57 4.96 .00 Políticos 2.73 6.89 .00 1.72 -1.97 .06 * A escala variou de 1 a 3: quanto maior o valor, mais normativo é o preconceito contra o grupo. ** A escala variou de 1 a 3: quanto maior o valor maior o preconceito contra o grupo. 716
  • 13. tes dois índices, por um lado, e entre as médias índice de normatividade do preconceito das mães de normatividade do preconceito das mães e do (M=2.55, DP=0.43) e o índice de preconceito da preconceito das crianças relativas ao grupo “ne- criança (M=2.40, DP=.33; t(13)=-1.0, p=0.34), re- gros”, por outro, foram calculados para os dois lativos aos grupos contra os quais as mães acham grupos etários. certo ter preconceito. Os resultados (Gráfico 1) indicam que as cri- No que diz respeito aos resultados relativos às anças de 5 a 7 anos diferenciam-se de suas mães crianças de 8 a 10 anos, podemos verificar que quanto ao preconceito relativo ao grupo dos ne- estas crianças não se diferenciam de suas mães gros (t(14)=4,52, p<.001): Enquanto as crianças quanto às suas atitudes em relação ao grupo dos expressam preconceito contra este grupo (M=1,93, negros t(14)=.695, p=.49. As mães acham que é DP=0.79), suas mães acham que é anti-norma- anti-normativo ter preconceito contra este grupo tivo ter preconceito contra eles (M=1,06, DP=0.25). (M=1.13, DP=0.35) e as crianças de 8 a 10 anos Isto significa que as crianças desta idade ainda não exprimem atitudes negativas contra eles (M=1.27, não interiorizaram a norma expressa pelos adul- DP=0.59). Isto mostra que as crianças desta idade tos de referência, norma esta que impede a ex- interiorizaram o padrão normativo de seu grupo pressão directa do preconceito contra este grupo de referência para emitir avaliações directas so- e por isto expressam preconceito independente- bre o grupo dos negros. mente da normatividade expressa pela mãe. As Quando, porém, estão em causa normas que crianças de 5 a 7 anos, por outro lado, não se di- favorecem o preconceito contra alguns grupos ferenciaram de suas mães quando comparámos o sociais, tal como acontece com os três grupos se- GRÁFICO 1 Valores médios da normatividade do preconceito das mães e do preconceito das crianças em função da idade das crianças 717
  • 14. leccionados para a análise preconceito (políticos, apresentado pelas mães, não só em relação aos homossexuais e pessoas racistas), ocorre um pa- três grupos estigmatizados pelos adultos como drão de semelhança entre as normas maternas e em relação ao grupo dos negros. Podemos dizer, as atitudes infantis que não se altera entre os 5 e seguindo Crandall et al. (2002), que elas apre- os 10 anos. Assim, tanto as crianças com 5-7 anos, sentam o padrão de preconceito dos adultos, ou como as crianças de 8 a 10 anos reflectem a nor- seja, discriminam os grupos em relação aos quais ma de suas mães t(14)=1,03, p=.31. Isto é, os gru- é permitido discriminar e não discriminam os gru- pos relativamente aos quais as mães acham nor- pos em relação aos quais não é permitido discri- mativo ter preconceito (M=2.27, DP=0.42) são minar. alvo de preconceito dos filhos (M=2.42, DP=0.43). Assim, podemos dizer que estas crianças aceita- ram ou interiorizaram as normas sociais relacio- DISCUSSÃO GERAL nadas ao racismo. Podemos dizer ainda que esta norma é aceita após os 7 anos de idade, período Nos estudos das novas formas de racismo tem- em que as crianças deixam de expressar precon- -se verificado que a expressão subtil e indirecta ceito contra os Negros de modo flagrante e pas- comum a estas formas de racismo é reflexo das sam a expressá-lo de modo subtil, como temos de- pressões das normas sociais anti-racistas sobre monstrado nos estudos anteriores. os indivíduos. Estes estudos foram realizados com sujeitos adultos, mas não respondiam à questão Discussão das possíveis etapas da interiorização, nas crian- ças, deste tipo de normas, bem como das suas Este estudo teve o objectivo de verificar a par- consequências na expressão do preconceito ra- tir de que idade as crianças interiorizam a norma cial por parte dos membros dos grupos maiori- anti-racista dos adultos. Avaliámos a adopção da tários e dominantes. O presente trabalho é com- norma anti-racista através da percepção da nor- posto de três estudos, com o objectivo de veri- matividade do preconceito das mães relativa ao ficar o efeito dos contextos normativos sobre a grupo dos negros e do preconceito das crianças expressão das novas formas de racismo nas cri- em relação ao mesmo grupo. anças, considerando dois grupos de idade cru- Verificámos que na faixa etária de 5 a 7 anos ciais para esta averiguação. Considerámos que a as crianças ainda não adquiriram a norma anti- manifestação das formas indirectas de racismo, racista, uma vez que apresentam elevados índi- sensivelmente a partir dos 8 anos, está relaciona- ces de preconceito relativamente a muitos dos da com a interiorização da norma anti-racista por grupos investigados, incluindo o grupo dos Ne- parte das crianças, precisamente por volta desta gros, independentemente da orientação normati- idade. va dos adultos de referência. Este resultado pa- O primeiro estudo mostrou que as crianças ex- rece confirmar o fenómeno do “pico etnocêntri- pressam racismo de forma velada, subtil ou indi- co”, encontrado em outros estudos sobre precon- recta, em contextos que justificam a discrimina- ceito na infância (Aboud, 1988; Bigler & Liben, ção. Este contexto foi criado com base na distri- 1993; Doyle & Aboud, 1995; Doyle, Beaudet, & buição de recursos a crianças-alvo que apresen- Aboud, 1988; Katz & Zalk, 1978; Williams, Best, tavam desempenhos diferentes em uma tarefa. No Boswell, Mattson, & Graves, 1975; Yee & Brown, segundo estudo verificámos a expressão das for- 1992) sugerindo que as crianças desta idade dis- mas indirectas de racismo considerando um con- criminam os grupos de modo quase indiferencia- texto em que a norma social anti-racista estives- do, de modo que podemos concluir que elas ain- se saliente ou não saliente. Neste estudo verifi- da não adquiriram ou interiorizaram a norma an- cámos que as crianças do grupo dominante ape- ti-racista. nas discriminam contra um alvo Negro quando a Já as crianças que têm mais de 7 anos de ida- norma social anti-racista não está saliente, ou se- de, mostraram, como previsto na hipótese, ter in- ja, estas crianças expressam racismo de modo in- teriorizado a norma anti-racista, adoptando as directo. Finalmente, no terceiro estudo, verificá- normas de seu grupo de referência. Essas crian- mos que, a partir dos 8 anos de idade, as crianças ças apresentam o mesmo padrão de preconceito Brancas interiorizam a norma anti-racista e já 718
  • 15. são pressionadas por esta norma para não apre- Biernat, M., Vescio, T. K., Theno, S. A., & Crandall, C. sentarem o comportamento discriminatório con- S. (1996). Values and prejudice: Toward under- standing the impact of American values on out- tra pessoas Negras, que estava presente entre os group attitudes. In C. Seligman, J. M. Olson, & M. 5 e os 7 anos. P. Zanna (Eds.), The Psychology of Values: The On- Estes resultados põem em questão a interpre- tario Symposium (vol. 8, pp. 153-189). New Jersey: tação meramente cognitivista proposta por Aboud LEA. Brown, R. (1995). Prejudice: Its Social Psychology. Ox- para explicar a redução do preconceito nas crian- ford: Blackwell Publishers. ças mais velhas, que já teriam atingido a fase da Crandall, C. S., Eshleman, A., & O’Brien, L. (2002). descentração, sendo por isso capazes de percebe- Social norms and the expression and suppression of rem uma diferenciação no interior das catego- prejudice the struggle for internalization. Journal of Personality and Social Psychology, 82 (3), 359- rias, o que lhes limitaria as atitudes estereotipa- -378. das e preconceituosas. De facto, e contraria- Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (2001). Affirmative mente ao que Aboud afirma, as crianças mais action, unintentional racial biases, and intergroup velhas continuam a expressar comportamento dis- relations. In M. A. Hogg, & D. Abrams (Eds.), In- tergroup relations: Essential readings (pp. 178-187). criminatório. Contudo, este comportamento ex- Philadelphia: Psychology Press. pressa-se de modo indirecto, de modo a ficar imu- Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (1998). On the nature ne à crítica ou punição social, podendo ser obser- of contemporary prejudice: the causes, consequen- ces, and challenges of Aversive Racism. In J. L. vado, quer em contextos que justificam a discri- Eberhardt, & S. T. Fiske (Eds.), Confronting Ra- minação por outro motivo que não a categoriza- cism: the problem and the responses (pp. 3-32). Ca- ção racial, quer quando a norma explícita anti-ra- lifornia: SAGE Publications. cista reduz a sua saliência e deixa de exercer con- Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (2000). Aversive racism and selection decisions: 1989 and 1999. Psycholo- trolo sobre os comportamentos das crianças. gical Science, 11, 319-323. Com base nos resultados encontrados nos es- Doyle, A. B., & Aboud, F. E. (1995). A longitudinal tudos aqui apresentados, o responsável directo study of white children’s racial prejudice as a so- pela mudança no modo de expressão do racismo, cial-cognitive development. Merrill-Palmer Quar- terly, 41 (2), 210-229. e não pela sua eliminação, parece ser o processo Doyle, A. B., Beaudet, J., & Aboud, F. E. (1988). Deve- de interiorização deste tipo de normas sociais e a lopmental changes in the flexibility of children’s capacidade de as gerir em função dos contextos, ethnic attitudes. Journal of Cross-Cultural Psycho- processo e capacidade estes que, como foi de- logy, 19, 3-18. Gaertner, S. L. (1973). Helping behavior and racial dis- monstrado no terceiro estudo, já está presente nas crimination among Liberals and conservatives. Jour- crianças mais velhas, sensivelmente a partir dos nal of Personality and Social Psychology, 25 (3), 8 anos. 335-341. Gaertner, S. L., & Dovidio, J. F. (1986). The aversive form of racism. In J. F. Dovidio, & S. L. Gaerner (Eds.), Prejudice, discrimination, and racism: Theo- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ry and research (pp. 61-89). Orlando, FL: Acade- mic Press. Aboud, F. E. (1980). A test of ethnocentrism with young Gaertner, S. L., & Dovidio, J. F. (2000). Reducing inter- children. Canadian Journal of Behavioural Scien- group bias: The common intergroup identity mo- ce, 12, 195-209. del. Philadelphia: Psychology Press. Aboud, F. E. (1988). Children & Prejudice. Oxford: Ba- Gonçalves, A. I. S., & Garcia-Marques, T. (2002). Ma- sil Blackwell. nifestação aversiva de racismo: dissociando cren- Allport, G. W. (1954). The nature of prejudice. Reading, ças individuais e crenças culturais. Psicologia, 16 (2), 411-424. MA: Addison-Wesley. Hodson, G., Dovidio, J. F., & Gaertner, S. L. (2002). Berk, L. E. (1994). Child Development. London: Allyn Processes in racial discrimination: Differential and Bacon. weighting of conflicting information. Personality Bigler, R. S., & Liben, L. S. (1993). A cognitive-deve- and Social Psychology Bulletin, 28 (4), 460-471. lopmental approach to racial stereotyping and re- Katz, P. A., & Zalk, S. R. (1978). Modifications of chil- constructive memory in euro-american children. Chil- dren’s racial attitudes. Developmental Psychology, dren Development, 64, 1507-1518. 14, 447-461. 719
  • 16. Katz, I., & Hass, R. G. (1988). Racial ambivalence and Yee, M. D., & Brown, R. (1992). Self-evaluations and american value conflict: correlational and priming intergroup attitudes in children aged three to nine. studies of dual cognitive structures. Journal of Per- Child Development, 63, 619-629. sonality and Social Psychology, 55 (6), 893-905. Katz, I., Wackenhut, J., & Hass, R. G. (1986). Racial ambivalence, value duality, and behavior. In J. F. Dovidio, & S. L. Gaertner (Eds.), Prejudice, Dis- RESUMO crimination, and Racism (pp. 35-59). New York: Academic Press. Realizamos três estudos com o objetivo de verificar Kinder, D. R., & Sears, D. O. (1981). Prejudice and po- o efeito idade na expressão das formas indiretas de ra- litics: symbolic racism versus racial threats to the cismo em crianças brancas. No primeiro estudo, a dis- good life. Journal of Personality and Social Psy- criminação racial foi avaliada através da distribuição chology, 40, 414-431. de recompensas para alvos branco e negro em dois Lima, M., & Vala, J. (2002). Individualismo meritocrá- contextos, um que justificava e outro que não justifica- tico, diferenciação cultural e racismo. Análise So- va a discriminação. Verificamos que a partir dos 7 anos cial, 27, 181-207. as crianças discriminavam o alvo negro apenas no con- McConahay, J. B. (1986). Modern racism, ambivance, texto que justificava a discriminação. No segundo es- and the modern racism scale. In J. F. Dovidio, & S. tudo, a discriminação foi medida através da distribui- L. Gaerner (Eds.), Prejudice, discrimination, and ção de recursos em contextos de saliência e de não sa- racism: Theory and research (pp. 61-89). Orlando, liência norma anti-racista. Observamos que crianças de FL: Academic Press. McConahay, J. B., Hardee, B. B., & Batts, V. (1981). 5-7 anos discriminam o alvo Negro mesmo no contex- Has racism declined in America? It depends upon to de saliência da norma anti-racista. Já crianças de 8- who is asking and what is asked. Journal of Con- 10 anos só discriminam o alvo negro no contexto em flict Resolution, 25, 563-579. que a norma anti-racista não estava saliente. No ter- McConahay, J. B., & Hough, J. C. Jr. (1976). Symbolic ceiro estudo, verificamos que a partir dos 7 anos de ida- racism. Journal of Social Issues, 32, 23-45. de as crianças interiorizam as normas relativas ao ra- Monteiro, M. B., Lima, M. L., & Vala, J. (1991). Iden- cismo do seu grupo de referência. Os resultados são dis- tidade social. Um conceito chave ou uma panaceia cutidos com base nas teorias das novas formas de ra- universal. Sociologia: Problemas e Práticas, 9, 107-120. cismo e da socialização do preconceito. Mouro, C., Monteiro, M. B., & Guinote, A. (2002). Palavras-chave: Novos racismos, normas sociais, so- Estatuto identidade étnica e percepção de variabili- cialização do preconceito. dade nas crianças. Psicologia, 16 (2), 387-411. Pettigrew, T. F., & Meertens, R. W. (1995). Subtle and blatant prejudice in western Europe. European Journal of Social Psychology, 25, 57-75. ABSTRACT Piaget, J., & Weil, A. M. (1951). The development in children of the idea of the homeland and of rela- Three studies were conducted in order to test the tions to other coutries. International Social Science effect of age on White children’s indirect expressions Journal, 3, 561-578. of racism. In the first study racial discrimination was Sachdev, I., & Bourhis, R. Y. (1991). Power and status assessed through a task of reward distribution to a diferential in minority and majority group relations. White and a Black target in two contexts in which dis- European Journal of Social Psychology, 21, 1-24. crimination was or was not justified. Results showed Sherif, M. (1967). Social interaction: process and pro- that children older than seven only discriminated ducts. Chicago: Aldine. against the Black target when this discrimination was Tajfel, H. (1978). Differentiation between social groups: justified. In the second study discrimination was asses- Studies in the social psychology of intergroup be- sed through a task of resource allocation in conditions haviour. London: Academic Press. of high or low salience of the anti-racist norm. Chil- Vala, J., Brito, R., & Lopes, D. (1999). Expressões dos dren of 5 to 7 discriminated against the Black target in racismos em Portugal. Lisboa: ICS, Estudos e In- both conditions while older children only discrimina- vestigações. Vala, J., Lima, M., & Lopes, D. (2002). Social values, ted in the anti-racist norm low salience condition. In prejudice and solidarity in the European Union. In the third study norm socialisation was assessed by com- W. Arts, & L. Halmann (Eds.), European Social paring mothers’ and children’s patterns of racism. Re- Values at the end of the milenium. Leiden: Brill. sults of the three studies are discussed in terms of the Williams, J. E., Best, D. L., Boswell, D. A., Mattson, L. theories of new forms of racism and of the socialisa- A., & Graves, D. J. (1975). Preschool Racial Atti- tion of prejudice. tude Measure II. Educational and Psychological Key words: New racism, social norms, socialization Measurement, 35, 3-18. of prejudice. 720