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24-02-2014

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Period.: Diária

ID: 52529489

Pág: 24

Área: 27,28 x 30,68 cm²

Âmbito: Informação Geral

Corte: 1 de 3

Novo
aparelho
poderá evitar
aumento do
lixo espacial
D-Orbit quer trazer satélites espaciais de volta à Terra antes
de se transformarem em lixo espacial. Sucursal da empresa
virá para Portugal já em 2014 depois de concurso nacional
Nicolau Ferreira

A

multiplicação do
lixo espacial não
é uma ideia teórica. Em 2009, a
colisão acidental
entre um satélite
de comunicações
norte-americano
e um aparelho
russo inac tivo
produziu 2100 novos fragmentos
espaciais e foi a manifestação de
um receio enunciado 31 anos antes
por Donald Kessler, antigo cientista norte-americano da NASA. O
choque criou tantos fragmentos
novos que duplicou o risco de uma
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No extremo, a humanidade arriscase a deixar de ter acesso ao céu por
este estar repleto de lixo, fazendo
com que a aventura espacial se torne demasiado perigosa. Mas a D-Orbit, uma empresa fundada por um
engenheiro espacial italiano, está a
criar um aparelho para controlar este problema. A empresa recebeu um
prémio português em 2012 e vai instalar cá uma sucursal nos próximos
meses onde desenvolverá software
para o aparelho.
“Num futuro próximo, o ambiente
espacial vai ser como qualquer outro ambiente, como o solo, a água
e o ar — em que os humanos vão
ter negócios, viajarão em lazer, vão
andar a explorar e a investigar, e vão

divertir-se”, diz ao PÚBLICO Luca
Rossettini, presidente da empresa.
Mas há uma nuvem negra por cima
deste futuro risonho previsto pelo
italiano: “O aumento de satélites e
de detritos à volta da Terra pode levar a uma ‘reacção de colisão em
cadeia’ catastrófica.”
Donald Kessler, o cientista da
NASA, descreveu pela primeira vez
num artigo de 1978 esta ideia da
multiplicação do lixo e da prisão da
Terra, onde antecipava que em 30
ou 40 anos houvesse um acidente
como o de 2009. A ideia da empresa
de Luca Rossettini é evitar aquela
situação, colocando um dispositivo
em todos os satélites enviados para
o espaço. Quando a missão desses
satélites chegar ao fim, o dispositivo,
que tem um propulsor, comandaria
o aparelho para uma reentrada terrestre programada e rápida.

Deste modo, os satélites não ficariam a acumular-se no espaço, como
é o caso do Vanguard 1, o mais antigo
satélite que permanece a orbitar à
volta da Terra: foi lançado em Março
de 1958 pelos Estados Unidos, deixou
de comunicar em 1964 e viaja entre
os 654 e 3969 quilómetros de altitude. Se nenhum acidente acontecer,
estima-se que o Vanguard 1 só caia na
Terra dentro de 2000 anos.
Hoje, existem mais de 300 milhões de objectos dos mais variados
tamanhos a viajar a 30 mil quilómetros por hora. Muitos têm poucos
milímetros ou alguns centímetros,
à velocidade que viajam têm capacidades balísticas, mas nesta população também se incluem 900 satélites activos e 5100 reformados.
Nos próximos oito anos, outros
1200 satélites serão lançados para o
espaço, aumentando a probabilidade

1200
satélites irão ser construídos
nos próximos oito anos – são
um mercado potencial para a
empresa de Luca Rossettini

2%
é a estimativa do custo do
dispositivo criado pela D-Orbit
em relação ao preço final do
satélite
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24-02-2014

Cores: Cor

Period.: Diária

ID: 52529489

Pág: 25

Área: 27,41 x 30,32 cm²

Âmbito: Informação Geral

Corte: 2 de 3

DR

O dispositivo criado pela
D-Orbit para ser acoplado
aos satélites
presa criou o tal aparelho com um
propulsor que comanda o destino final dos satélites. Já testaram um protótipo em terra e, a 21 de Novembro
de 2013, um segundo protótipo foi
lançado com o satélite UNISAT-5, de
28 quilos, que funciona como uma
plataforma de lançamento de outros
satélites mais pequenos. “O lançamento e a inserção na órbita foram
bem-sucedidos”, conta o italiano.

Despoluir em três passos

da síndrome de Kessler acontecer, o
que também mudaria a vida na Terra, explica Luca Rossettini: “Além
de deixarmos de ter a possibilidade
de explorar o espaço, vamos perder
na Terra todos os serviços vindos de
lá: não haverá mais voos intercontinentais feitos por GPS, ou a previsão
meteorológica para a agricultura e a
produção alimentar, não haverá mais
Internet ou serviços telefónicos, especialmente para os países emergentes, não haverá mais monitorização
de incêndios, de sismos, etc.”
Luca Rossettini tirou a licenciatura
e mestrado em Engenharia Aeroespacial e um doutoramento em Propulsão Espacial Avançada. “Sempre quis
ser astronauta”, diz-nos. Entrou numa
candidatura para o conseguir, mas foi
excluído durante o processo. Depois,
voltou-se para o negócio espacial,
com o objectivo de tornar a utiliza-

ção do espaço sustentável para a humanidade. “Temos de ter a certeza de
que qualquer objecto enviado para o
espaço possa ser removido imediatamente quando deixa de ter utilidade,
é uma espécie de princípio básico de
sustentabilidade espacial com um impacto positivo tanto para a sociedade
como para os operadores de satélite”,
explica o empresário. “Apercebi-me
desta urgência quando ouvi dois astronautas a falarem em 2008 sobre
o aumento de avisos de emergência
que recebiam [nas missões] e a nova configuração de voo dos vaivéns
norte-americanos, nos últimos anos
em que estiveram activos, para se protegerem do lixo espacial.”
Em Março de 2011, depois de ter
feito um curso sobre negócios nos
Estados Unidos, fundou a D-Orbit,
que hoje tem escritórios na Itália e
na Califórnia, Estados Unidos. A em-

“Temos de ter a
certeza de que
qualquer objecto
enviado para o
espaço possa
ser removido
imediatamente
quando deixa de ter
utilidade”, diz Luca
Rossettini

Em Maio, a missão de Alice 2 — o
nome deste protótipo que foi para
o espaço em Novembro — estará
completa. O aparelho contém “o
comando redundante, o módulo
de controlo e duas versões diferentes de um dispositivo especial que
assegura a ignição correcta e segura
do motor”, explica o empresário,
acrescentando que assim que for
autorizado pela missão do satélite
onde Alice-2 está, vão iniciar os testes de activação do dispositivo.
A empresa ainda não diz quanto
é que o dispositivo irá custar, mas
pensa que irá ficar entre um e 2%
do custo dos satélites comerciais. “A
ESA publicou um estudo preliminar
e independente sobre os conceitos
da nossa tecnologia, demonstrando
como será a mais barata e a melhor
forma de mitigar o problema do lixo
espacial”, diz Luca Rossettini.
Mas este é apenas o primeiro de
três passos que o italiano já estabeleceu (pelo menos na sua cabeça) para
conseguir despoluir o espaço dos
satélites lançados. O segundo passo
irá depender do D-OrbitinKit, um
conceito que já apresentou à ESA no
final de 2012. “Basicamente, em vez
de se enviar naves ao espaço para
apanhar um satélite por nave, nós
propusemos uma única missão (com
uma grande nave) para retirar vários
satélites de uma só vez”, explica o
empresário.
Esta grande nave será uma espécie de polinizadora do dispositivo
D-OrbitinKit. “A nave principal deverá ter a bordo vários D-OrbitinKit
para os instalar, com ajuda de braços robóticos, nos satélites mortos”,
diz Luca Rossettini. Assim, a nave
iria, de satélite em satélite, colocar o dispositivo nestes aparelhos
mortos. O dispositivo
seria depois activado a partir da Terra e, por controlo
remoto, retirar-seiam estes satélites
do espaço. Para o
empresário, este
sistema seria muito
mais barato do que
se uma missão
só retirasse
do espaço
apenas um
satélite:

“Seria possível retirar vários satélites rapidamente, e de um modo
seguro e controlado.”
O terceiro passo, já no domínio
da ficção científica, necessitaria de
uma fábrica espacial. “No futuro
os satélites vão ser construídos no
espaço”, imagina Luca Rossettini.
Por isso, o melhor era ter uma fábrica, “talvez acoplada à Estação
Espacial Internacional”, onde os
novos satélites seriam construídos. Parte do material poderia
ser reciclado de antigos satélites
que, neste caso, não seriam destruídos caindo na Terra ou não ficariam perdidos numa órbita mais
distante da Terra, num cemitério
de satélites.

Sem medo da crise
Portugal está na rota da D-Orbit já
no início de 2014. Tudo começou
com a participação de Luca Rossettini na Building Global Innovators, uma competição anual para
empresas tecnológicas e inovadoras, organizada em parceria entre
o MIT Portugal, o ISCTE e outros
parceiros, e com um investimento
da Caixa Geral de Depósitos. “É a
única competição que conheço do
lado de cá do oceano onde se pode
ganhar dinheiro a sério e não apenas uma pancadinha no ombro”,
diz Luca Rossettini, que adorou as
semanas que esteve em Lisboa, e
venceu na edição de 2012 um dos
quatro prémios de 100 mil euros.
A empresa pode duplicar o valor
se conseguir cumprir aquilo que
propôs.
Mas para receber este primeiro
montante, a D-Orbit terá de abrir
uma sucursal cá. O objectivo, diz o
empresário, é fazê-lo já no primeiro trimestre deste ano. O valor do
prémio permite iniciar a empresa
e contratar duas pessoas durante
pelo menos um ano — no site da
D-Orbit há oportunidades de trabalho. “No início, a D-Orbit PT vai
trabalhar no software especial para
ser utilizado na unidade de comando e controlo [do dispositivo]”, explica o empresário, acrescentando
que já entraram em contacto com
empresas portuguesas. “Decidimos desenvolver esta tecnologia
em Portugal porque [o país] é reconhecido pela sua forte indústria
em software espacial.”
A sucursal portuguesa também
irá fazer de ponte para o mercado emergente no Brasil e para o
mercado norte-americano. E a
crise em Portugal, é um factor a
considerar? “A crise não me assusta”, diz-nos Luca Rossettini. E
explica porquê: “Venho de Itália,
que não está longe de Portugal em
termos de crise. O meu mercado é
o mundo. Estamos a construir uma
tecnologia que não existe para resolver um problema que ainda não
foi abordado, num sector que está
a crescer a nível mundial três vezes
mais rápido do que a média.”
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País: Portugal

24-02-2014

Novo aparelho pode
evitar aumento
do lixo espacial
D-Orbit quer trazer
satélites à Terra antes de
transformação em lixo p24/25

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  • 1. Tiragem: 35772 País: Portugal 24-02-2014 Cores: Cor Period.: Diária ID: 52529489 Pág: 24 Área: 27,28 x 30,68 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Novo aparelho poderá evitar aumento do lixo espacial D-Orbit quer trazer satélites espaciais de volta à Terra antes de se transformarem em lixo espacial. Sucursal da empresa virá para Portugal já em 2014 depois de concurso nacional Nicolau Ferreira A multiplicação do lixo espacial não é uma ideia teórica. Em 2009, a colisão acidental entre um satélite de comunicações norte-americano e um aparelho russo inac tivo produziu 2100 novos fragmentos espaciais e foi a manifestação de um receio enunciado 31 anos antes por Donald Kessler, antigo cientista norte-americano da NASA. O choque criou tantos fragmentos novos que duplicou o risco de uma nova colisão entre satélites artificiais numa altitude entre os 600 e os 1300 quilómetros, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA). Este aumento de fragmentos à volta da Terra facilita novas colisões, que produzirão novos fragmentos. No extremo, a humanidade arriscase a deixar de ter acesso ao céu por este estar repleto de lixo, fazendo com que a aventura espacial se torne demasiado perigosa. Mas a D-Orbit, uma empresa fundada por um engenheiro espacial italiano, está a criar um aparelho para controlar este problema. A empresa recebeu um prémio português em 2012 e vai instalar cá uma sucursal nos próximos meses onde desenvolverá software para o aparelho. “Num futuro próximo, o ambiente espacial vai ser como qualquer outro ambiente, como o solo, a água e o ar — em que os humanos vão ter negócios, viajarão em lazer, vão andar a explorar e a investigar, e vão divertir-se”, diz ao PÚBLICO Luca Rossettini, presidente da empresa. Mas há uma nuvem negra por cima deste futuro risonho previsto pelo italiano: “O aumento de satélites e de detritos à volta da Terra pode levar a uma ‘reacção de colisão em cadeia’ catastrófica.” Donald Kessler, o cientista da NASA, descreveu pela primeira vez num artigo de 1978 esta ideia da multiplicação do lixo e da prisão da Terra, onde antecipava que em 30 ou 40 anos houvesse um acidente como o de 2009. A ideia da empresa de Luca Rossettini é evitar aquela situação, colocando um dispositivo em todos os satélites enviados para o espaço. Quando a missão desses satélites chegar ao fim, o dispositivo, que tem um propulsor, comandaria o aparelho para uma reentrada terrestre programada e rápida. Deste modo, os satélites não ficariam a acumular-se no espaço, como é o caso do Vanguard 1, o mais antigo satélite que permanece a orbitar à volta da Terra: foi lançado em Março de 1958 pelos Estados Unidos, deixou de comunicar em 1964 e viaja entre os 654 e 3969 quilómetros de altitude. Se nenhum acidente acontecer, estima-se que o Vanguard 1 só caia na Terra dentro de 2000 anos. Hoje, existem mais de 300 milhões de objectos dos mais variados tamanhos a viajar a 30 mil quilómetros por hora. Muitos têm poucos milímetros ou alguns centímetros, à velocidade que viajam têm capacidades balísticas, mas nesta população também se incluem 900 satélites activos e 5100 reformados. Nos próximos oito anos, outros 1200 satélites serão lançados para o espaço, aumentando a probabilidade 1200 satélites irão ser construídos nos próximos oito anos – são um mercado potencial para a empresa de Luca Rossettini 2% é a estimativa do custo do dispositivo criado pela D-Orbit em relação ao preço final do satélite
  • 2. Tiragem: 35772 País: Portugal 24-02-2014 Cores: Cor Period.: Diária ID: 52529489 Pág: 25 Área: 27,41 x 30,32 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 DR O dispositivo criado pela D-Orbit para ser acoplado aos satélites presa criou o tal aparelho com um propulsor que comanda o destino final dos satélites. Já testaram um protótipo em terra e, a 21 de Novembro de 2013, um segundo protótipo foi lançado com o satélite UNISAT-5, de 28 quilos, que funciona como uma plataforma de lançamento de outros satélites mais pequenos. “O lançamento e a inserção na órbita foram bem-sucedidos”, conta o italiano. Despoluir em três passos da síndrome de Kessler acontecer, o que também mudaria a vida na Terra, explica Luca Rossettini: “Além de deixarmos de ter a possibilidade de explorar o espaço, vamos perder na Terra todos os serviços vindos de lá: não haverá mais voos intercontinentais feitos por GPS, ou a previsão meteorológica para a agricultura e a produção alimentar, não haverá mais Internet ou serviços telefónicos, especialmente para os países emergentes, não haverá mais monitorização de incêndios, de sismos, etc.” Luca Rossettini tirou a licenciatura e mestrado em Engenharia Aeroespacial e um doutoramento em Propulsão Espacial Avançada. “Sempre quis ser astronauta”, diz-nos. Entrou numa candidatura para o conseguir, mas foi excluído durante o processo. Depois, voltou-se para o negócio espacial, com o objectivo de tornar a utiliza- ção do espaço sustentável para a humanidade. “Temos de ter a certeza de que qualquer objecto enviado para o espaço possa ser removido imediatamente quando deixa de ter utilidade, é uma espécie de princípio básico de sustentabilidade espacial com um impacto positivo tanto para a sociedade como para os operadores de satélite”, explica o empresário. “Apercebi-me desta urgência quando ouvi dois astronautas a falarem em 2008 sobre o aumento de avisos de emergência que recebiam [nas missões] e a nova configuração de voo dos vaivéns norte-americanos, nos últimos anos em que estiveram activos, para se protegerem do lixo espacial.” Em Março de 2011, depois de ter feito um curso sobre negócios nos Estados Unidos, fundou a D-Orbit, que hoje tem escritórios na Itália e na Califórnia, Estados Unidos. A em- “Temos de ter a certeza de que qualquer objecto enviado para o espaço possa ser removido imediatamente quando deixa de ter utilidade”, diz Luca Rossettini Em Maio, a missão de Alice 2 — o nome deste protótipo que foi para o espaço em Novembro — estará completa. O aparelho contém “o comando redundante, o módulo de controlo e duas versões diferentes de um dispositivo especial que assegura a ignição correcta e segura do motor”, explica o empresário, acrescentando que assim que for autorizado pela missão do satélite onde Alice-2 está, vão iniciar os testes de activação do dispositivo. A empresa ainda não diz quanto é que o dispositivo irá custar, mas pensa que irá ficar entre um e 2% do custo dos satélites comerciais. “A ESA publicou um estudo preliminar e independente sobre os conceitos da nossa tecnologia, demonstrando como será a mais barata e a melhor forma de mitigar o problema do lixo espacial”, diz Luca Rossettini. Mas este é apenas o primeiro de três passos que o italiano já estabeleceu (pelo menos na sua cabeça) para conseguir despoluir o espaço dos satélites lançados. O segundo passo irá depender do D-OrbitinKit, um conceito que já apresentou à ESA no final de 2012. “Basicamente, em vez de se enviar naves ao espaço para apanhar um satélite por nave, nós propusemos uma única missão (com uma grande nave) para retirar vários satélites de uma só vez”, explica o empresário. Esta grande nave será uma espécie de polinizadora do dispositivo D-OrbitinKit. “A nave principal deverá ter a bordo vários D-OrbitinKit para os instalar, com ajuda de braços robóticos, nos satélites mortos”, diz Luca Rossettini. Assim, a nave iria, de satélite em satélite, colocar o dispositivo nestes aparelhos mortos. O dispositivo seria depois activado a partir da Terra e, por controlo remoto, retirar-seiam estes satélites do espaço. Para o empresário, este sistema seria muito mais barato do que se uma missão só retirasse do espaço apenas um satélite: “Seria possível retirar vários satélites rapidamente, e de um modo seguro e controlado.” O terceiro passo, já no domínio da ficção científica, necessitaria de uma fábrica espacial. “No futuro os satélites vão ser construídos no espaço”, imagina Luca Rossettini. Por isso, o melhor era ter uma fábrica, “talvez acoplada à Estação Espacial Internacional”, onde os novos satélites seriam construídos. Parte do material poderia ser reciclado de antigos satélites que, neste caso, não seriam destruídos caindo na Terra ou não ficariam perdidos numa órbita mais distante da Terra, num cemitério de satélites. Sem medo da crise Portugal está na rota da D-Orbit já no início de 2014. Tudo começou com a participação de Luca Rossettini na Building Global Innovators, uma competição anual para empresas tecnológicas e inovadoras, organizada em parceria entre o MIT Portugal, o ISCTE e outros parceiros, e com um investimento da Caixa Geral de Depósitos. “É a única competição que conheço do lado de cá do oceano onde se pode ganhar dinheiro a sério e não apenas uma pancadinha no ombro”, diz Luca Rossettini, que adorou as semanas que esteve em Lisboa, e venceu na edição de 2012 um dos quatro prémios de 100 mil euros. A empresa pode duplicar o valor se conseguir cumprir aquilo que propôs. Mas para receber este primeiro montante, a D-Orbit terá de abrir uma sucursal cá. O objectivo, diz o empresário, é fazê-lo já no primeiro trimestre deste ano. O valor do prémio permite iniciar a empresa e contratar duas pessoas durante pelo menos um ano — no site da D-Orbit há oportunidades de trabalho. “No início, a D-Orbit PT vai trabalhar no software especial para ser utilizado na unidade de comando e controlo [do dispositivo]”, explica o empresário, acrescentando que já entraram em contacto com empresas portuguesas. “Decidimos desenvolver esta tecnologia em Portugal porque [o país] é reconhecido pela sua forte indústria em software espacial.” A sucursal portuguesa também irá fazer de ponte para o mercado emergente no Brasil e para o mercado norte-americano. E a crise em Portugal, é um factor a considerar? “A crise não me assusta”, diz-nos Luca Rossettini. E explica porquê: “Venho de Itália, que não está longe de Portugal em termos de crise. O meu mercado é o mundo. Estamos a construir uma tecnologia que não existe para resolver um problema que ainda não foi abordado, num sector que está a crescer a nível mundial três vezes mais rápido do que a média.”
  • 3. Tiragem: 35772 País: Portugal 24-02-2014 Novo aparelho pode evitar aumento do lixo espacial D-Orbit quer trazer satélites à Terra antes de transformação em lixo p24/25 Cores: Cor Period.: Diária ID: 52529489 Pág: 48 Área: 10,77 x 3,76 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3