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PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE TAPEROÁ-BA:
UMA HISTÓRIA DA COMUNIDADE PARA FICAR NA MEMÓRIA
Joélia Barreto de Melo Sacramento1
RESUMO:
O presente artigo trata da discussão sobre o Patrimônio Histórico edificado do município de Taperoá-BA,
interpretado no foco da memória como reflexo da identidade popular, pois Taperoá é uma das cidades do
Baixo Sul da Bahia com grande potencial histórico-cultural, arquitetônico e natural propício para o
desenvolvimento da atividade turística. O enfoque maior dado por este, é para as grandes, novas e
modernas construções que põem a baixo todas as antiguidades, pondo também em risco a identidade do
povo, já que ela está representada na cultura e na história acerca deste Patrimônio Arquitetônico. A
maioria das informações aqui contidas é retirada da experiência do povo, representados com atores no
processo de construção da história, ao longo dos anos, coletando dados que pudessem descrever Taperoá,
desde a sua criação, construção dos monumentos, dando detalhes do que se julga mais importante e de
maior significado cultural. Outro fator que contribui para a deterioração do patrimônio taperoense é a falta
de planejamento urbano que tem levado ao desaparecimento dos grandes casarões coloniais. O Turismo se
caracteriza pelos bens culturais e naturais de um lugar e depende de boa infra-estrutura para que seja
realmente explorado e pela falta de manutenção e divulgação dos recursos culturais, o turismo de Taperoá
não é desenvolvido, necessitando de ações planejadas que visem a sua ampla efetivação e geração de
renda da população.
Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico. Turismo. Memória.
ABSTRACT:
The present article deals with the quarrel on the built Historic site of the city of Taperoá-BA,
interpreted in the focus of the memory as reflected of the popular identity, therefore Taperoá is
one of the cities of the Low South of the Bahia with great description-cultural potential,
propitious natural architectural and for the development of the tourist activity. The approach
biggest given by this, is for the great, new and modern constructions that put low the all the
antiquity, also putting at risk the identity of the people, since it is represented in the culture and
history concerning this Patrimony Architectural. The majority of the information contained here
is removed of the experience of the people, represented with actors in the process of construction
of history, throughout the years, collecting given that they could describe Taperoá, since its
creation, construction of monuments, giving details of what it is judged more important and of
greater meant cultural. Another factor that contributes for the deterioration of the taperoense
patrimony is the lack of urban planning that has led to the disappearance of the great colonial
large houses. The Tourism if characterizes for the cultural and natural goods of a place and
1
Graduada em Turismo pela Faculdade Zacarias de Góes. Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino da Língua
Espanhola pela Faculdade de Tecnologia e Ciências.
depends on good infrastructure so that really it is explored and by the lack of maintenance and
spreading of the cultural resources, the tourism of Taperoá is not developed, needing planned
actions that aim at its ample effective and generation of income of the population.
Keywords: Patrimony Architectural. Tourism. Memory
1 INTRODUÇÃO
Este Artigo tem como tema: “Patrimônio Arquitetônico de Taperoá-BA: uma História
da Comunidade para ficar na Memória”, e surgiu a partir do seguinte questionamento: Qual a
importância do Patrimônio Histórico para o desenvolvimento do Turismo local? A finalidade é
refletir sobre os patrimônios históricos de Taperoá, seus bens culturais imóveis, e oportunidades
de desenvolvimento sustentável através da atividade turística.
Através deste trabalho, torna-se possível a reflexão sobre os conceitos do patrimônio
histórico e turismo em relação aos monumentos existentes em Taperoá, sua conservação e como
está sendo utilizado este patrimônio para o desenvolvimento do turismo. Bem como, estudar os
bens imóveis do município, conceituando o seu conjunto arquitetônico colonial, onde as
edificações constituem o centro da história da cidade, de seus povoados e distrito.
A defesa e conservação do patrimônio histórico, tem se tornado importante, pois nele
está a memória da comunidade onde está inserido. Para tanto, pautado no conhecimento teórico
sobre a história acerca do patrimônio histórico e arquitetônico de Taperoá-BA, requer um estudo
mais elaborado da identidade cultural do município. Percebe-se que a história da cidade tem se
perdido, já que os bens imóveis, representação material da cultura, têm sofrido modificações,
degradações, o que tem contribuído para o seu desaparecimento dentro da comunidade.
A atual situação do patrimônio arquitetônico de Taperoá, bem como, em muitos
outros municípios é de descaso, pois a cada momento que se passa, as edificações são
penalizadas, dando lugar a outras com mais modernidade, perdendo sua verdadeira identidade de
estrutura colonial. É importante lembrar que as ameaças ao patrimônio são ameaças à própria
existência da nação como uma entidade presente.
Repensar esses problemas é dar sentido a necessidade de criação e aperfeiçoamento
de políticas públicas participativas para promover um processo de valorização e proteção do
patrimônio auxiliando também na construção de um turismo sustentável, sendo que este,
desenvolvido de maneira responsável, pode trazer benefícios no que se refere a esfera política,
social, econômica e cultural, e a essa, daremos um enfoque maior, no momento de discussão
sobre o que representa cada edificação refletida na identidade do povo taperoense.
2 PATRIMÔNIO: DEFINIÇÃO
A cultura popular não é estática, bem como, todo o processo de evolução da
humanidade. As pessoas, as coisas, estão sempre se modificando, pois com o passar do tempo,
vai tomando uma forma diferenciada daquela inicial. Não seria de outra maneira com o
patrimônio cultural, pois ao longo dos séculos, passam por adaptações e mudanças gerais,
acompanhada da evolução social, do avanço tecnológico, e essa mudança será desenhada de
acordo com o perfil da comunidade onde está inserido, pois irão aparecer os reflexos do
pensamento, das ideologias, das crenças, dos símbolos e toda a ação e criação da comunidade
local, como afirma Pellegrini (1997, p. 90) “atualmente, o significado de patrimônio cultural é
muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humano”. Pois, é baseado
na ação do homem, que o bem cultural recebe alterações e adaptações, que na maioria das vezes,
leva-os a perder a sua verdadeira essência.
Representado pelos bens tangíveis e intangíveis, o Patrimônio Histórico, é marca
comum a toda a sociedade, por ser um reflexo do passado, presente no cotidiano das pessoas, por
serem acumulados de tradições e heranças, que passam a caracterizar o local criando uma
identidade própria, pautado na memória e no valor singular que representam para a sociedade.
Referendando esse pensamento é oportuno citar:
A expressão patrimônio cultural se aplica às coisas que cada grupo preserva, porque
nelas estão a sua sobrevivência. A noção de patrimônio engloba objetos, técnicas,
espaços, edificações, crenças, rituais, instrumentos, costumes, explicitados no cotidiano
das pessoas. (LUCENA 1991, p. 10).
Esses bens patrimoniais podem ser divididos em três grupos que são os elementos
naturais, os elementos de saber e os elementos culturais, que tem o seu surgimento dos dois
primeiros grupos.
[...] Primeiramente, arrola os elementos pertencentes à natureza, ao meio ambiente. São
os recursos naturais, que tornam o sítio habitável. [...] O segundo grupo de elementos
refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber e ao saber fazer. São os elementos não
tangíveis do Patrimônio Cultural. [...] o terceiro grupo de elementos é o mais importante
de todos porque reúne os chamados bens culturais que englobam toda sorte de coisas,
objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer.
(LEMOS, 2004, p. 8-10).
O primeiro grupo pode ser representado pelas paisagens naturais: florestas, rios,
dunas, praias, montes, entre outros e, em Taperoá, podem ser apreciados, os rios que margeiam o
município, com inúmeras cachoeiras, propícias para banho em suas piscinas naturais, os altos
montes, as serras, que servem de observatório para as Ilhas do Arquipélago de Tinharé, as matas
com árvores centenárias e toda sua biodiversidade.
O segundo tem a representação do conhecimento que o homem utiliza para
estabelecer-se na sociedade ao longo do tempo, como: técnicas e artes, entre outras. É nesta
categoria que estão inseridas as habilidades humanas, pelas quais se podem observar o manejo na
agricultura familiar, muito contemplada pelos taperoenses, por ser a principal atividade
econômica, as técnicas utilizadas na pesca artesanal e na criação de produtos manufaturados.
Já no terceiro grupo, os bens culturais que podem ser objetos e construções e, se
dividem em móveis e imóveis. Possíveis de serem colecionados, os bens móveis podem ser
compreendidos por tudo aquilo que se pode transmitir para outrem, movimentando-os como:
fotografias, músicas, selos, lendas. Os imóveis são considerados como igrejas, casas, praças, ruas,
enfim, as edificações. Sendo Taperoá representados nesta categoria, pelas construções coloniais,
ostentando o casario do centro histórico situado à Praça da Bandeira, e demais edificações
existentes no entorno, inclusive as religiosas.
O Patrimônio arquitetônico, dialogado no mais puro contexto, refere-se às
construções militares, civis e religiosas que caracterizam o espaço onde estão implantados,
delineando e representando a sociedade e sua história ao longo do tempo, pois remete a memória
do tempo em que foi construído, levando o indivíduo observador a retornar na história de maneira
a tentar entender os traços da época, o tipo de vida das pessoas que habitavam aquele lugar, que
por originalidade ou por tendência arquitetônica, erguiam tão singulares obras primas que mesmo
seguindo um padrão, já davam lugar ao ineditismo, com seus palacetes, sobrados, igrejas e
muitos outros.
2.1 A MEMÓRIA DA COMUNIDADE REFLETIDA NA IDENTIDADE POPULAR
Em seu conceito etimológico, baseado em Luft (2001, p. 452) “a memória é uma faculdade
de lembrar”, se configurando pela sua importância cognitiva no processo da aprendizagem. As
representações do passado e a lembrança das experiências vividas estão presentes na mente de cada
individuo, criando oportunidades de reflexão sobre o comportamento humano e aquisição de novos
conhecimentos.
A identidade de uma comunidade é fruto da lembrança dos fatos, dos atos, que
compõem a construção da história, e que através da memória está presente no cotidiano das
pessoas, marcando e reafirmando a cultura local, conhecendo e interpretando o modo de vida da
população. É necessário manter viva a lembrança, pois na medida em que se busca rememorar,
torna mais claro o sentimento de pertença, de propriedade, de participação. Segundo Lucena
(1991, p. 22), “a existência da memória viva pertence à realização da identidade. A memória é
construída pelos indivíduos a fim de que eles próprios produzam uma história de vida singular ou
plural”. A história da comunidade, agregada aos valores sociais, constituem a sua cultura, criando
a sua própria identidade, e é ela que vai definir e diferenciar cada grupo social.
O grupo social, reconhecido pela identidade coletiva, tem como papel fundamental,
garantir que a sua memória seja preservada. A identidade, referenciada na sua cultura, pode ser
representada pelos bens tangíveis e intangíveis, a forma de expressão, de culto, de arte, de viver.
Tudo isso é passível de destruição e esquecimento, se não for cuidado e conservado para as
gerações que ainda virão.
Pensar na destruição do patrimônio é refletir sobre uma memória que também tem
sido destruída, já que o conceito de Patrimônio está pautado no conceito de memória quando esse
patrimônio é valorizado e preservado. A destruição gerada pela falta de interesse e pelo descaso
da comunidade local afeta a memória do passado e também do futuro, já que o patrimônio
arquitetônico, como parte integrante do legado cultural, se caracteriza como forma edificada da
identidade de um povo. “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar
identidade, individual ou coletiva, [...] A memória, onde cresce a história, que por sua vez a
alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro”. (LE GOFF, 1996, p. 476-
477).
Representando a conservação do passado, a memória garante a identidade social que
está representada nos bens culturais, nos monumentos, que procuram trazer à lembrança os
acontecimentos de uma localidade. A preservação do patrimônio, entendida como forma de
perpetuação do legado cultural, depende de alguns fatores como o político, o econômico e o
social, pois envolvem os elementos representativos de uma sociedade. Necessitando ser mantido
o dialogo para a decisão acertada do que se deve ser preservado. Neste sentido, se não houver a
preocupação coletiva em garantir a permanência da cultura, a identidade coletiva se perderá, e as
gerações futuras ficarão alheias a uma história sem registros, sem poder ao menos compreender
os caminhos pelos quais sua comunidade pode percorrer.
A perda progressiva da memória individual no decorrer do tempo equivale à perda
progressiva da identidade individual. O mesmo acontece quando se lida com grupos
sociais ou coletivos: quando a memória social é reduzida, anulada ou abafada, a
sociedade perde a habilidade para manter o registro de sua própria história. A identidade
se extravia e os personagens perdem sua capacidade de interpretar seu papel no palco
social. (LUCENA, 1991. p. 22).
A reflexão sobre a memória individual e coletiva vem sofrendo sérios agravantes no
seio da comunidade taperoense, devido a falta de compreensão da grande maioria dos munícipes,
pois estes não entendem da importância que é a cultura local, não tem consciência da
representação histórica, social e até mesmo econômica. Uma enorme massa popular, com
formação e conceitos acadêmicos, bem como, empresários e pessoas comuns, de pouco
conhecimento científico, ignoram e desqualificam a sua própria identidade.
3 TAPEROÁ: BREVE HISTÓRICO
Taperoá é uma cidade localizada na Região do Baixo Sul da Bahia, com pouco mais
de 18.000 (dezoito mil) habitantes, fundada em 1561 e elevada a categoria de cidade em 1916,
quando houve a sua emancipação política. Historicamente situada na Capitania Hereditária de
São Jorge dos Ilhéus, contam que a primeira penetração em seu território ocorreu por dois
pescadores que desceram de canoa através do rio Jequié a procura da ilha de Tinharé, tocaram o
solo taperoense onde saltaram a procura de água. Porém, através de pesquisas feitas, concluem
que pela habitação de índios, originou-se uma aldeia chamada de São Miguel de Taperoguá,
fundada pelos jesuítas em 23 de novembro de 1561. A aldeia indígena tomaria o nome de
Taperoá, que vem da palavra tupi Taperoguá, que significa: morador das ruínas e destroços.
Dizem, os antigos moradores que a cidade recebeu esse nome, por causa de uma tapera que
existia próxima à fonte se São Brás, monumento que será ainda citado. (PINHEIRO, 1989).
O patrimônio histórico de Taperoá começou a ser constituído no mesmo ano de 1561,
onde foi erguida a primeira capela, invocando a São Miguel como padroeiro. Porém, sem
registros das causas, o templo foi demolido em 1620, e ainda neste ano, o Capitão Lucas Fonseca
Saraiva, fez construir no mesmo local, em cima da colina, a igreja de São Brás, já que este santo
o livrou de um mal na garganta e o beneficiário o quis homenagear. (PINHEIRO, 1989).
Em 1737, a capela de São Brás passou a pertencer à freguesia de Cairu e em 1813, já
pertencendo à Valença, foi separada e recebeu o título de curato, em 11 de outubro de 1819, é
desmembrado de Valença, ficando na área de Nova Boipeba, que é hoje Nilo Peçanha. Em 1838,
mais precisamente em 1º de junho, a freguesia de São Brás é criada e elevada à categoria de vila,
mediante a lei nº 67. Somente em 1º de abril de 1916 é que Taperoá teve a sua sede municipal
com foros de cidades, por força da lei estadual nº 1131, sendo administrada naquele período por
Manoel Magno Cesar de Oliveira. (PINHEIRO, 1989).
Por volta do século XVIII, desembarcou nas suas terras, cerca de cem famílias de
irlandeses, construindo a primeira colônia agrícola que se chamou de Santa Januária,
estabelecendo-se às margens do rio do Engenho, que mesmo recebendo ajuda governamental ela
não prosperou e o núcleo foi se desfalcando, permanecendo neste lugar apenas 12 irlandeses.
Mesmo antes dessa colônia, já havia a presença de portugueses e italianos que começaram a
edificar as residências com estrutura colonial e explorar os ramos de atividades agrícolas,
comerciais e madeireira, dentro do povoado. (PINHEIRO, 1989).
Os anos avançaram e as edificações foram tomando lugar dos terrenos vazios, a
cidade e seu entorno foram ganhando uma estrutura mais urbana, e com o passar do tempo já
existiam inúmeras ruas, ostentando seus casarões, e, no caminhar do tempo, se percebia o
aumento gradativo do número de pessoas. As construções de estradas e pontes, ligando um
município a outro, serviu para que esse crescente desenvolvimento pudesse ser constatado. A
cidade já contava com a Liga de Assistência Médica e, a partir da segunda metade do século XX,
muitos progressos aconteceram, como a construção de um campo de pouso, a implantação da
indústria de dendê, a Óleos de Palma S.A – OPALMA. Aconteceu também, a instalação da
primeira bomba de gasolina, seguido da construção da rodovia Valença – Taperoá, bem como,
outras estradas dentro do próprio município, o que facilitava o escoamento dos produtos agrícolas
para a cidade e, daí ser comercializado e enviado para Salvador pelos navios que atracavam no
porto, no Canal do Salgado.
Nas fotos abaixo, tiradas do alto da colina da Igreja de São Brás, percebe-se bem o
crescimento da cidade, as modificações ocorridas, ao longo dos oitenta anos de progresso, bem
como, se vê o avanço da terra em direção ao mar e muitas reformas das construções antigas
modificando-as para outras mais novas e não mais bonitas.
Figura 01: Vista parcial da cidade, tirada em 1929.
Fonte: Pinheiro (1989).
Figura 02: Vista parcial da cidade, tirada em 2009.
Fonte: Autora (2009).
A primeira foto, retirada do livro do saudoso poeta Osmar Pinheiro, ilustra a cidade
de Taperoá colonial, sem a sua praça principal, mas com toda a sua beleza arquitetônica. Já na
segunda foto, a visão é de uma cidade mais arborizada, mantendo ainda, alguns traços coloniais,
porém, escondida entre novidades e modernidades.
3.1 BENS CULTURAIS
Muitos atrativos podem ser visitados no município de Taperoá como bens culturais
imóveis, dos quais se podem citar: a Praça da Bandeira situada no centro da cidade, tendo um
obelisco onde constam informações do ano de fundação da cidade, a posição em relação ao nível
do mar, as coordenadas geográficas, entre outras. Tem registro do início da obra datada de 1944.
Em seu entorno estão concentrados os grandes casarões de relevante imponência, que em seu
conjunto arquitetônico configura-se como o centro histórico da cidade.
Figura 03: Foto Parcial da Praça da Bandeira, Obelisco central
Fonte: Autora (2009).
Outra obra, que se configura como a mais antiga e mais importante para a
comunidade é a Igreja de São Brás, construída em 1620 no ponto mais alto da cidade, tendo
acesso também pela Praça da Bandeira, através de 70 degraus. Do adro avista-se toda a cidade e a
ilha de Cairu. Trata-se de uma capela do século XVII, de relevante interesse arquitetônico, Na
época de sua construção tinha 16,80m e quando sofreu sua primeira reforma, no ano de 1857,
quando adquiriu traços do neoclássico em seu interior e teve um aumento para 20,20m. Depois
desse ano, passou duas vezes por melhoramentos, uma em 1951 e outra em 1956, quando fora
substituído todo o telhado, feito o serviço de ladrilho e piso cimentado do adro. Ainda neste ano,
o artista Miguel Araujo pintou os quadros, existentes nas laterais internas da igreja. (PINHEIRO,
1989).
Figura 04: Igreja de São Brás
Fonte: Queiroz (2009).
No século XVIII era construída a capela de Nossa Senhora da Boa Morte, situada no
povoado de Jordão, encontra-se edificada numa elevação na BA-001, que liga Taperoá à Nilo
Peçanha, tendo acesso por uma escadaria de 33 degraus. A sua construção foi iniciada em 1707
pelo português José Góes Pinto. Sua inauguração aconteceu com a primeira missa do galo do
Baixo Sul, ali celebrada em 25 de dezembro de 1707. Possui alpendre arqueado circundando os
dois lados da nave. Sofreu alterações, sendo a mais evidente a construção de uma torre em 1945.
Há em suas paredes os registros da história, que a cada melhoria realizada, procura-se mantê-los
para que possam as novas gerações terem conhecimento acerca dela, como também, servir de
base para pesquisas e estudos científicos mais detalhado, de onde também foram retiradas essas
informações.
Figura 05: Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte - Povoado de Jordão.
Fonte: Autora (2009).
Não se pode deixar de falar da Capela de Nossa Senhora D’Ajuda situada no distrito
de Camurugi, à margem da BA – 001, há 6 Km da sede da cidade, trata-se de uma capela rural
construída no ano de 1856. Sua fachada sofreu modificações em 1956, quando foram
incorporados detalhes neoclássicos. Conta com um antigo cemitério, onde pessoas de famílias
tradicionais foram ali sepultadas. Possui ainda, um antigo oratório ao ar livre, construído em
pedras rústicas, arrumadas umas sobre as outras, servindo de espaço para peregrinação dos fiéis,
que vão acender velas para os santos de devoção.
Ainda nesse segmento religioso, é necessário lembrar a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição, localizada à rua Gilberto Passos, s/n. Sua primeira missa solene, foi a de sua
inauguração em 08 de dezembro de 1929. De vez em quando, passava por alguns melhoramentos
e em 1987 iniciou uma reforma que derrubou as paredes internas, para ganhar mais espaço.
Recentemente, passou pela reforma total, modificando toda a sua estrutura histórica, dando lugar
a um moderno templo. (PINHEIRO, 1989)
Dentre o casario colonial de muita importância para cidade situado na Praça da
Bandeira está o Sobrado de D. Julieta Meirelles, construído em 1907, mas que conserva
elementos de arquitetura colonial. A fachada lateral caracteriza-se pela altura da porta central, que
também dá acesso à escadaria da igreja de São Brás. Posicionado a cerca de um metro acima do
nível da rua, possui dois pavimentos, caracterizado pela sua parte térrea, onde funcionam quatro
lojas, e na parte superior, que seria habitável, porém, encontra-se abandonada, pondo em risco a
segurança da população. Fica no centro da cidade, próxima à prefeitura Municipal.
Figura 06: Sobrado de D. Julieta Meirelles
Fonte: Autora (2009).
Outra casa imponente é a de nº 174, de propriedade do Sr. Victor Meirelles, de
relevante interesse arquitetônico, construída em um pavimento sobre porão parcial. Data
provavelmente de meados do século XIX, apresentando características típicas do sertão. Possui
três portas frontais, dando acesso a partes distintas da casa.
Situada ao lado da atual prefeitura, a Loja Álvares, é um edifício construído para fins
comerciais sendo inaugurado em 1878. Apresenta tratamento neoclássico e fachada revestida de
azulejo de origem portuguesa. A loja integra o Centro Histórico da cidade. Recentemente, parte
dos azulejos foi retirada, sem razão aparente, e todo o interior da loja passou por modificação.
Por muitos anos, serviu de loja de tecidos, sendo a única da cidade, da propriedade do senhor Ruy
Araújo, recentemente foi instalada a funerária da mesma família, hoje permanece fechada.
Figura 07: Loja Álvares
Fonte: Autoras (2009).
A Antiga Prefeitura, descrita como um prédio provavelmente do século XVIII, com
função residencial e que foi transformado em casa de Câmara e Cadeia, em 1847, com a
construção de mais um pavimento. Recentemente serviu às instalações do Instituto Zélia Gattai e
atualmente está ali instalada a sede da Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia
(AMUBS).
Figura 08: Casa de Câmara e Cadeia
Fonte: Autora (2009).
Ainda no entorno da Praça da Bandeira, está edificada a Farmácia Gratidão, instalada
na parte de baixo do sobrado, pertencente à família do saudoso João Ferreira Araujo, construído
por volta de 1910. Por muito tempo, foi considerado o maior distribuidor de remédio da
população. Continua ainda nos dias atuais, exercendo a mesma função, mantendo a mesma
estrutura e desenho arquitetônico original, na parte superior, no térreo, devido ao comércio ali
instalado tem passado por reformas e melhorias.
Na Rua Major Antonio Bittencourt, de propriedade da Srª. Luziânia Meirelles está
localizada uma casa reconhecida como vivenda urbana do início do século XIX. Possui um só
pavimento desenvolvido sobre vigas. A fachada lateral direita é marcada pela presença de
varandas, possui um recuo do nível da rua, com um grande jardim, ainda se preserva as grades
em ferro fundido, com os detalhes originais.
Ainda se preserva algumas casas rurais, das quais se podem citar o sobrado da
Fazenda Jenipapo, da Senhora Isabel Grizentti, situada à margem da BA – 001, próximo à sede de
Taperoá. A casa do final do século passado, apresentando influências do neoclássico. A
construção encontra-se implantada em terreno em declive, com parte inferior edificada sobre um
porão, utilizado como depósito.
Outro Sobrado rural é o da Fazenda Boa Sorte, localizado na BA-001, no trecho
Valença - Taperoá no distrito de Camurugi. Edificado nos meados do século XIX, apresenta
planta semelhante aos sobrados urbanos, apesar de ter a gaveta de secagem de cacau, possui
escada feita em pedra e, apesar já ter passado por restauração, continua com os traços originais,
soalho em madeira e conta ainda com toda mobília intocada.
Figura 09: Sobrado da Fazenda Boa Sorte,
Fonte: Autora (2009).
Finalmente, a casa da Fazenda Bela Vista, à rua Militão Cezar. Interessante casa rural
possivelmente do século XIX, situada à Beira Mar, em terreno plano. Caracteriza-se pela planta
quadrada, recoberto por telhado em pirâmide.
Dentre outras edificações, essas mencionadas acima são de grande valor histórico
para a comunidade, sabendo-se que algumas não foram citadas devido à falta de referencial
histórico, mas que de certa forma estão presentes e representam a memória do povo. Pensar nesse
tipo de patrimônio como gerador da atividade turística é dar significado a cada construção e a
história da comunidade acerca de cada uma delas. Dessa forma os benefícios para a cultura, para
a economia, para a preservação e proteção do patrimônio, serão muito mais nítidos. O turismo só
funciona, eficientemente, quando a comunidade é beneficiada com a atividade, porque quando a
comunidade conhece sua cultura e sua história, sabe imortalizar suas tradições, suas expressões,
seus costumes. Deve haver uma preservação ativa em relação ao patrimônio, que re-signifique
tanto as edificações históricas quanto os objetos que representam as características de um povo. O
bem patrimonial, assim, pode revitalizar, integrando espaços e necessidades da comunidade.
3.2 AS POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE
TAPEROÁ
A administração pública da cidade de Taperoá, ainda não tem tomado medidas
preventivas, quanto à preservação e restauração do patrimônio. Há apenas no PDU – Plano
Diretor Urbano do município, a lei nº 203/2004 da gestão do prefeito Paulo Vianna, da
Preservação e da Proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico, Cultural e Turístico,
que poderá ser garantido com a efetivação do Conselho de Desenvolvimento Urbano, e que, no
entanto, já foi aprovado pelo legislativo, como a lei nº 201/2004, mas ainda não está em
exercício.
Consta no artigo 14 da Lei de Preservação e Proteção do Patrimônio que alguns
imóveis, já passaram pelo tombamento total, junto ao Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural
da Bahia (IPAC), que podem ser discriminados como: Praça da Bandeira, Igreja de São Brás,
Edificação nº 12, Edificação nº 174, Loja Álvares, Sede da Fazenda Jenipapo, Igreja de Nossa
Senhora da Boa Morte e Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Todos estes, mesmo tombados,
são submetidos às modificações e restaurações sem a prévia aprovação, ou sem autorização do
órgão responsável.
O patrimônio arquitetônico do município de Taperoá corre o risco de ser perdido, pois
apesar de existir a lei que o protege, a maioria das edificações de valor histórico não está
registrado no livro de tombo da prefeitura. Sem contar que alguns de imponência relevante, já se
deterioraram e foram trocados por construções comerciais modernas. Muitos perderam sua
verdadeira essência, passando pelas modificações deixaram o aspecto rústico, de valor impagável
para a história, pois haviam nesses locais, sobrados de beleza singular, como o dos Meirelles,
situado à esquina da Rua Saul Oliveira, com três andares, decorado com pinturas originais de
grandes homens da elite brasileira, esculturas entre outros artefatos. Ainda outras edificações,
com adornos neoclássicos, que ruíram frente a falta de consciência e a ignorância popular.
No lugar desses espaços de história, foram construídos supermercados, lojas de
móveis e eletrodomésticos, de brinquedos, de roupas, tudo para promover a realização financeira,
satisfazendo o ego e perdendo em identidade. Nesse pensamento, Lucena (1991. p. 26) afirma
que “O tempo da modernidade significa o predomínio das relações do dinheiro, da máquina sobre
os outros vínculos e a perda sistemática das manifestações culturais”. Nisso se confirma que o
capitalismo, a necessidade humana de ganhar dinheiro e se sobrepor aos outros indivíduos, tem
levado a essas perdas históricas e culturais, sendo que as mesmas construções enquanto históricas
poderiam trazer muitos benefícios para a economia local, podendo ser espaços de visitação
turística, meios de hospedagem, e todo o município lucraria com isso, que ao contrario, a
realidade é bem diferente, poucos lucram, enquanto muitos continuam desempregados.
Um fator que muito tem agravado essa situação é a falta de planejamento urbano, pois
o centro comercial está instalado nessa área onde há a maior predominância do patrimônio,
levando os comerciantes a demolir as antigas construções, edificando outras mais amplas que
atendam as suas necessidades. Segundo Portuguez (2004, p. 42) “Nas cidades históricas, os
planejamentos turísticos, urbanísticos e de patrimônio cultural não podem continuar a ser
ignorados. São três pilares básicos para se obter uma recuperação urbana integrada...”, o que
mudaria a situação caótica, pois o maior fluxo de pessoas e veículos de todos os tamanhos
trafegam também nesse espaço. Muitas vezes provocando pequenos acidentes contra o
patrimônio. Uma observação que se pode ser feita nesse aspecto, é que na medida que o centro da
cidade, compreendida pela Praça da Bandeira, a Rua Marechal Deodoro e a Gilberto Passos, se
sufoca, com o acúmulo de casas comerciais, residenciais, edificações antigas, carros, pessoas e
animais, os bairros no entorno não se desenvolve, aumentando o nível de pobreza, de tendência
ao alcoolismo e a prostituição.
O processo de formação das cidades brasileiras favorece o adensamento de grandes
núcleos populosos, fazendo com que a ausência de planejamento urbano seja sentida em
cidades consideradas históricas ou não. [...] a falta de planejamento urbano engloba os
processos de favelização das encostas e entorno da cidade, o adensamento e a
descaracterização das edificações do Centro Histórico [...] (GRAMMONT, 2006, p.
457).
Há por um lado a falta de interesse do poder público, por não levar em conta o valor
histórico cultural e também não acreditar no desenvolvimento econômico como potencial
turístico, e dessa forma não toma providências quanto a conservação do patrimônio e, por outro
lado está o comodismo das pessoas, que, mesmo aquelas com conhecimento e consciência da
importância que tem esse patrimônio arquitetônico, acerca da memória e identidade do povo, não
tomam nenhuma atitude, no sentido de impedir a deterioração, ou mesmo na tentativa de
conscientizar a comunidade.
Poucas são as pessoas conscientes do valor significativo das obras arquitetônicas do
município, que com todo o custo se dispõe a preservar, porque acreditam que representam parte
de suas vidas e não se desfazem das lembranças a elas atribuídas, como é o caso da senhora Ana
da Silva Campos Guimarães, conhecida por todos como Dona Naninha, que seguramente,
defende a permanência de seu antigo casarão na Fazenda Boa Sorte.
[...] Quando chegaram aqui, com a proposta de comprar aquele sobrado eu perguntei pra
Isabel, minha filha, se ela queria vender e ela disse que não venderia, porque é a relíquia
do pai dela, pois ali naquela casa muitas coisas boas aconteceram e é uma forma de
manter viva a lembrança daquele tempo. [...] tem dois anos que comemorei meu
aniversário de oitenta anos naquele casarão. (GUIMARÃES, 2009).
É notável o interesse da proprietária em manter viva a memória de sua família, que
inclusive a sua filha já tem uma consciência formada sobre a importância do monumento para a
história da sua vida. Pois estão implícitos os sentimentos, as lembranças de uma pessoa
importante para elas.
Ainda seguindo esse pensamento, a comunidade do Jordão, onde está construída a
Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte mantém viva a sua identidade, fazendo com que o referido
patrimônio, permaneça como a planta original, e nessa afirmação, o representante da
comunidade, diz: “Estamos o tempo todo tentando restaurar o que é necessário, porque todas as
pessoas da minha comunidade foram batizadas naquele templo e cresceram na fé ali, desde o meu
bisavô até a minha filha”. (PRAZERES 2009). Diante de um depoimento como este, fica claro
que só participando da história acerca do bem patrimonial é que se constrói um sentimento
identitário, de proteção e preservação.
3.3 A ATIVIDADE TURÍSTICA EM TAPEROÁ: GERAÇÃO DE RENDA E
SUSTENTABILIDADE
Para a realização do turismo é indispensável alguns elementos essenciais que lhe
servirão de atrativos, como o patrimônio natural, representado pelas paisagens naturais, praias,
rios, matas; patrimônios culturais, representados pelos monumentos históricos, museus,
manifestações artísticas; equipamentos e serviços como hotéis, restaurantes, transportes; e, infra-
estrutura de apoio, como sistema de comunicação, segurança, médico-hospitalar. É uma atividade
econômica que está ligada ao setor de serviços e oferece empregos diretos e indiretos, gerando
mão-de-obra e aumento na economia local. É com esse olhar que o presidente Lula, no Plano
Nacional de Turismo 2007/2010 diz que além de contribuir para tornar o Brasil mais conhecido
ao olhar estrangeiro, e ao nosso próprio, o turismo aciona uma gigantesca engrenagem de
oportunidades de trabalho e renda em diferentes pontos no nosso território.
O turismo exerce um papel de destaque na preservação da cultura, pois na medida em
que esta cultura é cenário de visitações e apreciações, a comunidade local terá a preocupação em
manter, em dar continuidade aos benefícios que este atrativo lhe permite. Camargo (2002, p. 93)
diz que “a parceria planejada e bem gerenciada entre patrimônio e turismo é uma alternativa
eficaz com a criação de novos postos de trabalho”. Ambos os lados se beneficiam, pois é só
através da beleza cultural, constituída como atrativo, que o turismo pode acontecer, gerando
emprego, renda, movimentando a economia. Já o bem cultural, valorizado através da atividade
turística, passa a receber mais cuidados, incentivos, e todo o meio de proteção necessária.
O turismo deve trabalhar com o espaço da comunidade existente, redescobrindo seus
valores, seus sentidos e suas riquezas culturais, para que possam ser valorizados, através dos
viajantes, que entrem em contato com a identidade de grupos sociais, detentores, de fato, dos
bens culturais de uma comunidade. A comunidade detentora dos atrativos turísticos deve está
envolvida nas atividades relacionadas à área, pois ela passa a ganhar em vários aspectos,
inclusive na economia. Para os visitantes os lucros serão qualificados como conhecimento, lazer,
diversão, já que, quando saem de sua terra natal, é com o propósito de vivenciar novas
experiências, com boa qualidade de serviço.
As atividades turísticas são seriamente dependentes do modo como as comunidades
desenvolvem suas relações com os turistas. Os turistas preferem os lugares onde as
pessoas são amistosas. E para que isso seja possível o desenvolvimento do turismo só
deve ser promovido incluindo as idéias e opiniões da comunidade local. Isso quer dizer
que a satisfação das necessidades locais pode permitir a satisfação das necessidades do
turista, uma filosofia de “ganha-ganha”, que é muito atraente. (FARIAS, 2003 apud
HALL, 2000, p. 30).
O turismo, em Taperoá, é uma das atividades econômicas, que ainda não teve início,
devido à falta de divulgação e manutenção dos seus atrativos. Com uma vasta história, e um
patrimônio natural, arquitetônico e cultural riquíssimo, o município perde em não receber
visitantes que só ajudaria na economia local. Ainda é preciso que a administração pública
redescubra o seu potencial e forneça uma infra-estrutura de acordo com as suas necessidades.
Bem como, necessita da participação comunitária, já que o turismo cultural vai tratar do modo de
vida das pessoas, se elas estão por fora do processo de construção do planejamento turístico, será
mais difícil a atividade turística que é ainda inexistente, criar raízes e se estabelecer de verdade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendendo que o termo patrimônio se configura pela sua abrangência de
significados, arrolam nesse sentido os aspectos naturais, culturais e de conhecimento, de modo
que, os aspectos culturais, fruto do imaginário, da experiência de vida, dos sentimentos e do agir
humano, transportam-se de uma geração para outra, ganhando traços e adaptações ao longo dos
anos. As edificações de acentuado valor histórico, guardam em si, muitas experiências de pessoas
que ali viveram e desfrutaram do conforto, por elas proporcionado, por essa e por outras razões, a
sociedade em qualquer parte do mundo deve perceber o Patrimônio arquitetônico, não apenas
como objeto de apreciação, ou mesmo como produto de desenvolvimento econômico através da
atividade turística, mas acima de tudo, como marco de realizações para as pessoas que viveram
em outras épocas, valorizando-os como parte da história da comunidade, pois cada pedra, cada
tijolo, cada madeira, significaram para seus construtores, moradores e admiradores, parte de uma
realização pessoal refletida na memória ainda visível nos dias atuais.
O Patrimônio Arquitetônico tem o seu lugar de destaque na vida comunitária, pois a
sensação de pertencimento e a afirmação da lembrança estão implícitas no cotidiano de cada ser,
enquanto indivíduo e mais ainda, enquanto grupo, por ser a memória coletiva uma peça
importante na construção da identidade popular. Nesse sentido, a ativa participação da
comunidade na conservação do seu patrimônio torna-se eficaz, garantindo a permanência da
cultura local, e a re-significação da sua história.
O patrimônio histórico edificado de Taperoá, caracterizado pelas construções
coloniais dos séculos XVIII e XIX, tem um valor singular na vida de quem os aprecia, embora,
nem toda a população taperoense tenha a mesma admiração pelas antigas obras arquitetônicas, é
incontestável a sua significação para a construção da história local. No entanto, tem sido notável
a perda constante das qualidades estéticas desses monumentos, com as agressões contra a história
representada por significativas obras. O reconhecimento do valor histórico, atribuído a cada
construção é um passo muito importante para uma discussão acerca da possível intervenção no
sentido de preservar a memória, restaurando e criando meios de proibir a destruição patrimonial,
instigando a necessidade eminente de garantir a manutenção da cultura popular e a identidade
taperoense.
Esse trato necessário às antiguidades locais se torna indispensável para o
desenvolvimento social, político e econômico através da atividade turística, que apesar de ainda
ser inexistente, mas em potencial, a partir da valorização e da divulgação desses recursos
históricos podem aumentar o fluxo de visitantes, gradativamente, como o passar do tempo e
assim, gerar renda e sustentabilidade, para a população local, como também, para o patrimônio,
criando oportunidades e efetivando as prestações de serviços criadas no interesse de atender a
demanda turística.
Para desenvolver o turismo a partir dos bens culturais e de outros bens que Taperoá
possui, é antes de tudo necessária a participação efetiva da comunidade no planejamento de todas
as ações, bem como na execução de todas as etapas, já que é a própria comunidade quem deve se
beneficiar, direta ou indiretamente, com o fortalecimento da economia local. Outro fator
importante, é que as pessoas envolvidas aumentam sua consciência no que diz respeito à
conservação, pois passa a compreender sua cultura, sua história e saber assim, imortalizar sua
identidade. Dessa maneira, a atividade turística pode ser eficiente em dois sentidos, o primeiro é
caracterizado pela melhoria da qualidade de vida na esfera econômica da população, e o segundo
é constituído pelo sentimento de pertença, pois os bens patrimoniais passam a significar a
inclusão social aumentando o orgulho em possuí-los criando o desejo de manter sua história e
perpetuar sua identidade.
REFERÊNCIAS
BAHIA. Prefeitura Municipal de Taperoá. Lei nº 203/2004, da preservação e proteção do
patrimônio histórico, artístico, arqueológico, cultural e turístico. Taperoá: Prefeitura
Municipal de Taperoá, 2004.
BRASIL. Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo 2007/2010 – Uma Viagem de
Inclusão. Brasília: Ministério do Turismo, 2006.
CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Aleph, 2002.
FARIAS, Gustavo V. A. A participação da comunidade no planejamento do turismo. Turismo
Tendências e Debates, Salvador, Ano V, nº 5, jan./dez. 2003, 2003.
GUIMARÃES, Ana da Silva Campos. Patrimônio Histórico de Taperoá. [dez. 2009].
Entrevistadora: Joélia B. M. Sacramento. Taperoá. Entrevista concedida para a concepção de
trabalho acadêmico.
GRAMMONT, Anna Maria de. Ouro Preto: problemas de um patrimônio histórico no início do
século XXI. Revista Científica Turismo Visão e Ação, Itajaí, v.8, nº 3, p.455-467, set./dez.,
2006.
LE GOFF, J. et al. História e Memória. 4 ed. Trad. Bernardo Leitão. Campinas, São Paulo:
UNICAMP, 1996.
LEMOS, Carlos A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção
Primeiros Passos; 51).
LUCENA, Célia. Linguagens da Memória. São Paulo: FDE 1991.
LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001.
PELLEGRINI, Américo. Ecologia, Cultura e Turismo. São Paulo: Papirus, 1997.
PINHEIRO, Osmar. Taperoá: Minha Terra, Minha Gente e sua Política. Salvador: Contemp,
1989.
PORTUGUEZ, Anderson Pereira (org.). Turismo, Memória e Patrimônio Cultural. São Paulo:
Roca, 2004.
PRAZERES, Ricardo Correia. Patrimônio Histórico de Taperoá. [dez. 2009]. Entrevistadora:
Joélia B. M. Sacramento. Taperoá. Entrevista concedida para a concepção de trabalho acadêmico.
QUEIROZ, Hélio. Taperoá Bahia – Igreja. Disponível em:<
http://www.panoramio.com/photo/17517454> Acesso em: 29 dez 2009.

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Patrimônio histórico de Taperoá e turismo

  • 1. PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE TAPEROÁ-BA: UMA HISTÓRIA DA COMUNIDADE PARA FICAR NA MEMÓRIA Joélia Barreto de Melo Sacramento1 RESUMO: O presente artigo trata da discussão sobre o Patrimônio Histórico edificado do município de Taperoá-BA, interpretado no foco da memória como reflexo da identidade popular, pois Taperoá é uma das cidades do Baixo Sul da Bahia com grande potencial histórico-cultural, arquitetônico e natural propício para o desenvolvimento da atividade turística. O enfoque maior dado por este, é para as grandes, novas e modernas construções que põem a baixo todas as antiguidades, pondo também em risco a identidade do povo, já que ela está representada na cultura e na história acerca deste Patrimônio Arquitetônico. A maioria das informações aqui contidas é retirada da experiência do povo, representados com atores no processo de construção da história, ao longo dos anos, coletando dados que pudessem descrever Taperoá, desde a sua criação, construção dos monumentos, dando detalhes do que se julga mais importante e de maior significado cultural. Outro fator que contribui para a deterioração do patrimônio taperoense é a falta de planejamento urbano que tem levado ao desaparecimento dos grandes casarões coloniais. O Turismo se caracteriza pelos bens culturais e naturais de um lugar e depende de boa infra-estrutura para que seja realmente explorado e pela falta de manutenção e divulgação dos recursos culturais, o turismo de Taperoá não é desenvolvido, necessitando de ações planejadas que visem a sua ampla efetivação e geração de renda da população. Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico. Turismo. Memória. ABSTRACT: The present article deals with the quarrel on the built Historic site of the city of Taperoá-BA, interpreted in the focus of the memory as reflected of the popular identity, therefore Taperoá is one of the cities of the Low South of the Bahia with great description-cultural potential, propitious natural architectural and for the development of the tourist activity. The approach biggest given by this, is for the great, new and modern constructions that put low the all the antiquity, also putting at risk the identity of the people, since it is represented in the culture and history concerning this Patrimony Architectural. The majority of the information contained here is removed of the experience of the people, represented with actors in the process of construction of history, throughout the years, collecting given that they could describe Taperoá, since its creation, construction of monuments, giving details of what it is judged more important and of greater meant cultural. Another factor that contributes for the deterioration of the taperoense patrimony is the lack of urban planning that has led to the disappearance of the great colonial large houses. The Tourism if characterizes for the cultural and natural goods of a place and 1 Graduada em Turismo pela Faculdade Zacarias de Góes. Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola pela Faculdade de Tecnologia e Ciências.
  • 2. depends on good infrastructure so that really it is explored and by the lack of maintenance and spreading of the cultural resources, the tourism of Taperoá is not developed, needing planned actions that aim at its ample effective and generation of income of the population. Keywords: Patrimony Architectural. Tourism. Memory 1 INTRODUÇÃO Este Artigo tem como tema: “Patrimônio Arquitetônico de Taperoá-BA: uma História da Comunidade para ficar na Memória”, e surgiu a partir do seguinte questionamento: Qual a importância do Patrimônio Histórico para o desenvolvimento do Turismo local? A finalidade é refletir sobre os patrimônios históricos de Taperoá, seus bens culturais imóveis, e oportunidades de desenvolvimento sustentável através da atividade turística. Através deste trabalho, torna-se possível a reflexão sobre os conceitos do patrimônio histórico e turismo em relação aos monumentos existentes em Taperoá, sua conservação e como está sendo utilizado este patrimônio para o desenvolvimento do turismo. Bem como, estudar os bens imóveis do município, conceituando o seu conjunto arquitetônico colonial, onde as edificações constituem o centro da história da cidade, de seus povoados e distrito. A defesa e conservação do patrimônio histórico, tem se tornado importante, pois nele está a memória da comunidade onde está inserido. Para tanto, pautado no conhecimento teórico sobre a história acerca do patrimônio histórico e arquitetônico de Taperoá-BA, requer um estudo mais elaborado da identidade cultural do município. Percebe-se que a história da cidade tem se perdido, já que os bens imóveis, representação material da cultura, têm sofrido modificações, degradações, o que tem contribuído para o seu desaparecimento dentro da comunidade. A atual situação do patrimônio arquitetônico de Taperoá, bem como, em muitos outros municípios é de descaso, pois a cada momento que se passa, as edificações são penalizadas, dando lugar a outras com mais modernidade, perdendo sua verdadeira identidade de estrutura colonial. É importante lembrar que as ameaças ao patrimônio são ameaças à própria existência da nação como uma entidade presente. Repensar esses problemas é dar sentido a necessidade de criação e aperfeiçoamento de políticas públicas participativas para promover um processo de valorização e proteção do patrimônio auxiliando também na construção de um turismo sustentável, sendo que este, desenvolvido de maneira responsável, pode trazer benefícios no que se refere a esfera política,
  • 3. social, econômica e cultural, e a essa, daremos um enfoque maior, no momento de discussão sobre o que representa cada edificação refletida na identidade do povo taperoense. 2 PATRIMÔNIO: DEFINIÇÃO A cultura popular não é estática, bem como, todo o processo de evolução da humanidade. As pessoas, as coisas, estão sempre se modificando, pois com o passar do tempo, vai tomando uma forma diferenciada daquela inicial. Não seria de outra maneira com o patrimônio cultural, pois ao longo dos séculos, passam por adaptações e mudanças gerais, acompanhada da evolução social, do avanço tecnológico, e essa mudança será desenhada de acordo com o perfil da comunidade onde está inserido, pois irão aparecer os reflexos do pensamento, das ideologias, das crenças, dos símbolos e toda a ação e criação da comunidade local, como afirma Pellegrini (1997, p. 90) “atualmente, o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros produtos do sentir, do pensar e do agir humano”. Pois, é baseado na ação do homem, que o bem cultural recebe alterações e adaptações, que na maioria das vezes, leva-os a perder a sua verdadeira essência. Representado pelos bens tangíveis e intangíveis, o Patrimônio Histórico, é marca comum a toda a sociedade, por ser um reflexo do passado, presente no cotidiano das pessoas, por serem acumulados de tradições e heranças, que passam a caracterizar o local criando uma identidade própria, pautado na memória e no valor singular que representam para a sociedade. Referendando esse pensamento é oportuno citar: A expressão patrimônio cultural se aplica às coisas que cada grupo preserva, porque nelas estão a sua sobrevivência. A noção de patrimônio engloba objetos, técnicas, espaços, edificações, crenças, rituais, instrumentos, costumes, explicitados no cotidiano das pessoas. (LUCENA 1991, p. 10). Esses bens patrimoniais podem ser divididos em três grupos que são os elementos naturais, os elementos de saber e os elementos culturais, que tem o seu surgimento dos dois primeiros grupos. [...] Primeiramente, arrola os elementos pertencentes à natureza, ao meio ambiente. São os recursos naturais, que tornam o sítio habitável. [...] O segundo grupo de elementos refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber e ao saber fazer. São os elementos não tangíveis do Patrimônio Cultural. [...] o terceiro grupo de elementos é o mais importante de todos porque reúne os chamados bens culturais que englobam toda sorte de coisas,
  • 4. objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer. (LEMOS, 2004, p. 8-10). O primeiro grupo pode ser representado pelas paisagens naturais: florestas, rios, dunas, praias, montes, entre outros e, em Taperoá, podem ser apreciados, os rios que margeiam o município, com inúmeras cachoeiras, propícias para banho em suas piscinas naturais, os altos montes, as serras, que servem de observatório para as Ilhas do Arquipélago de Tinharé, as matas com árvores centenárias e toda sua biodiversidade. O segundo tem a representação do conhecimento que o homem utiliza para estabelecer-se na sociedade ao longo do tempo, como: técnicas e artes, entre outras. É nesta categoria que estão inseridas as habilidades humanas, pelas quais se podem observar o manejo na agricultura familiar, muito contemplada pelos taperoenses, por ser a principal atividade econômica, as técnicas utilizadas na pesca artesanal e na criação de produtos manufaturados. Já no terceiro grupo, os bens culturais que podem ser objetos e construções e, se dividem em móveis e imóveis. Possíveis de serem colecionados, os bens móveis podem ser compreendidos por tudo aquilo que se pode transmitir para outrem, movimentando-os como: fotografias, músicas, selos, lendas. Os imóveis são considerados como igrejas, casas, praças, ruas, enfim, as edificações. Sendo Taperoá representados nesta categoria, pelas construções coloniais, ostentando o casario do centro histórico situado à Praça da Bandeira, e demais edificações existentes no entorno, inclusive as religiosas. O Patrimônio arquitetônico, dialogado no mais puro contexto, refere-se às construções militares, civis e religiosas que caracterizam o espaço onde estão implantados, delineando e representando a sociedade e sua história ao longo do tempo, pois remete a memória do tempo em que foi construído, levando o indivíduo observador a retornar na história de maneira a tentar entender os traços da época, o tipo de vida das pessoas que habitavam aquele lugar, que por originalidade ou por tendência arquitetônica, erguiam tão singulares obras primas que mesmo seguindo um padrão, já davam lugar ao ineditismo, com seus palacetes, sobrados, igrejas e muitos outros. 2.1 A MEMÓRIA DA COMUNIDADE REFLETIDA NA IDENTIDADE POPULAR Em seu conceito etimológico, baseado em Luft (2001, p. 452) “a memória é uma faculdade de lembrar”, se configurando pela sua importância cognitiva no processo da aprendizagem. As
  • 5. representações do passado e a lembrança das experiências vividas estão presentes na mente de cada individuo, criando oportunidades de reflexão sobre o comportamento humano e aquisição de novos conhecimentos. A identidade de uma comunidade é fruto da lembrança dos fatos, dos atos, que compõem a construção da história, e que através da memória está presente no cotidiano das pessoas, marcando e reafirmando a cultura local, conhecendo e interpretando o modo de vida da população. É necessário manter viva a lembrança, pois na medida em que se busca rememorar, torna mais claro o sentimento de pertença, de propriedade, de participação. Segundo Lucena (1991, p. 22), “a existência da memória viva pertence à realização da identidade. A memória é construída pelos indivíduos a fim de que eles próprios produzam uma história de vida singular ou plural”. A história da comunidade, agregada aos valores sociais, constituem a sua cultura, criando a sua própria identidade, e é ela que vai definir e diferenciar cada grupo social. O grupo social, reconhecido pela identidade coletiva, tem como papel fundamental, garantir que a sua memória seja preservada. A identidade, referenciada na sua cultura, pode ser representada pelos bens tangíveis e intangíveis, a forma de expressão, de culto, de arte, de viver. Tudo isso é passível de destruição e esquecimento, se não for cuidado e conservado para as gerações que ainda virão. Pensar na destruição do patrimônio é refletir sobre uma memória que também tem sido destruída, já que o conceito de Patrimônio está pautado no conceito de memória quando esse patrimônio é valorizado e preservado. A destruição gerada pela falta de interesse e pelo descaso da comunidade local afeta a memória do passado e também do futuro, já que o patrimônio arquitetônico, como parte integrante do legado cultural, se caracteriza como forma edificada da identidade de um povo. “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, [...] A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro”. (LE GOFF, 1996, p. 476- 477). Representando a conservação do passado, a memória garante a identidade social que está representada nos bens culturais, nos monumentos, que procuram trazer à lembrança os acontecimentos de uma localidade. A preservação do patrimônio, entendida como forma de perpetuação do legado cultural, depende de alguns fatores como o político, o econômico e o social, pois envolvem os elementos representativos de uma sociedade. Necessitando ser mantido
  • 6. o dialogo para a decisão acertada do que se deve ser preservado. Neste sentido, se não houver a preocupação coletiva em garantir a permanência da cultura, a identidade coletiva se perderá, e as gerações futuras ficarão alheias a uma história sem registros, sem poder ao menos compreender os caminhos pelos quais sua comunidade pode percorrer. A perda progressiva da memória individual no decorrer do tempo equivale à perda progressiva da identidade individual. O mesmo acontece quando se lida com grupos sociais ou coletivos: quando a memória social é reduzida, anulada ou abafada, a sociedade perde a habilidade para manter o registro de sua própria história. A identidade se extravia e os personagens perdem sua capacidade de interpretar seu papel no palco social. (LUCENA, 1991. p. 22). A reflexão sobre a memória individual e coletiva vem sofrendo sérios agravantes no seio da comunidade taperoense, devido a falta de compreensão da grande maioria dos munícipes, pois estes não entendem da importância que é a cultura local, não tem consciência da representação histórica, social e até mesmo econômica. Uma enorme massa popular, com formação e conceitos acadêmicos, bem como, empresários e pessoas comuns, de pouco conhecimento científico, ignoram e desqualificam a sua própria identidade. 3 TAPEROÁ: BREVE HISTÓRICO Taperoá é uma cidade localizada na Região do Baixo Sul da Bahia, com pouco mais de 18.000 (dezoito mil) habitantes, fundada em 1561 e elevada a categoria de cidade em 1916, quando houve a sua emancipação política. Historicamente situada na Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus, contam que a primeira penetração em seu território ocorreu por dois pescadores que desceram de canoa através do rio Jequié a procura da ilha de Tinharé, tocaram o solo taperoense onde saltaram a procura de água. Porém, através de pesquisas feitas, concluem que pela habitação de índios, originou-se uma aldeia chamada de São Miguel de Taperoguá, fundada pelos jesuítas em 23 de novembro de 1561. A aldeia indígena tomaria o nome de Taperoá, que vem da palavra tupi Taperoguá, que significa: morador das ruínas e destroços. Dizem, os antigos moradores que a cidade recebeu esse nome, por causa de uma tapera que existia próxima à fonte se São Brás, monumento que será ainda citado. (PINHEIRO, 1989). O patrimônio histórico de Taperoá começou a ser constituído no mesmo ano de 1561, onde foi erguida a primeira capela, invocando a São Miguel como padroeiro. Porém, sem registros das causas, o templo foi demolido em 1620, e ainda neste ano, o Capitão Lucas Fonseca
  • 7. Saraiva, fez construir no mesmo local, em cima da colina, a igreja de São Brás, já que este santo o livrou de um mal na garganta e o beneficiário o quis homenagear. (PINHEIRO, 1989). Em 1737, a capela de São Brás passou a pertencer à freguesia de Cairu e em 1813, já pertencendo à Valença, foi separada e recebeu o título de curato, em 11 de outubro de 1819, é desmembrado de Valença, ficando na área de Nova Boipeba, que é hoje Nilo Peçanha. Em 1838, mais precisamente em 1º de junho, a freguesia de São Brás é criada e elevada à categoria de vila, mediante a lei nº 67. Somente em 1º de abril de 1916 é que Taperoá teve a sua sede municipal com foros de cidades, por força da lei estadual nº 1131, sendo administrada naquele período por Manoel Magno Cesar de Oliveira. (PINHEIRO, 1989). Por volta do século XVIII, desembarcou nas suas terras, cerca de cem famílias de irlandeses, construindo a primeira colônia agrícola que se chamou de Santa Januária, estabelecendo-se às margens do rio do Engenho, que mesmo recebendo ajuda governamental ela não prosperou e o núcleo foi se desfalcando, permanecendo neste lugar apenas 12 irlandeses. Mesmo antes dessa colônia, já havia a presença de portugueses e italianos que começaram a edificar as residências com estrutura colonial e explorar os ramos de atividades agrícolas, comerciais e madeireira, dentro do povoado. (PINHEIRO, 1989). Os anos avançaram e as edificações foram tomando lugar dos terrenos vazios, a cidade e seu entorno foram ganhando uma estrutura mais urbana, e com o passar do tempo já existiam inúmeras ruas, ostentando seus casarões, e, no caminhar do tempo, se percebia o aumento gradativo do número de pessoas. As construções de estradas e pontes, ligando um município a outro, serviu para que esse crescente desenvolvimento pudesse ser constatado. A cidade já contava com a Liga de Assistência Médica e, a partir da segunda metade do século XX, muitos progressos aconteceram, como a construção de um campo de pouso, a implantação da indústria de dendê, a Óleos de Palma S.A – OPALMA. Aconteceu também, a instalação da primeira bomba de gasolina, seguido da construção da rodovia Valença – Taperoá, bem como, outras estradas dentro do próprio município, o que facilitava o escoamento dos produtos agrícolas para a cidade e, daí ser comercializado e enviado para Salvador pelos navios que atracavam no porto, no Canal do Salgado. Nas fotos abaixo, tiradas do alto da colina da Igreja de São Brás, percebe-se bem o crescimento da cidade, as modificações ocorridas, ao longo dos oitenta anos de progresso, bem
  • 8. como, se vê o avanço da terra em direção ao mar e muitas reformas das construções antigas modificando-as para outras mais novas e não mais bonitas. Figura 01: Vista parcial da cidade, tirada em 1929. Fonte: Pinheiro (1989). Figura 02: Vista parcial da cidade, tirada em 2009. Fonte: Autora (2009). A primeira foto, retirada do livro do saudoso poeta Osmar Pinheiro, ilustra a cidade de Taperoá colonial, sem a sua praça principal, mas com toda a sua beleza arquitetônica. Já na segunda foto, a visão é de uma cidade mais arborizada, mantendo ainda, alguns traços coloniais, porém, escondida entre novidades e modernidades. 3.1 BENS CULTURAIS Muitos atrativos podem ser visitados no município de Taperoá como bens culturais imóveis, dos quais se podem citar: a Praça da Bandeira situada no centro da cidade, tendo um obelisco onde constam informações do ano de fundação da cidade, a posição em relação ao nível do mar, as coordenadas geográficas, entre outras. Tem registro do início da obra datada de 1944.
  • 9. Em seu entorno estão concentrados os grandes casarões de relevante imponência, que em seu conjunto arquitetônico configura-se como o centro histórico da cidade. Figura 03: Foto Parcial da Praça da Bandeira, Obelisco central Fonte: Autora (2009). Outra obra, que se configura como a mais antiga e mais importante para a comunidade é a Igreja de São Brás, construída em 1620 no ponto mais alto da cidade, tendo acesso também pela Praça da Bandeira, através de 70 degraus. Do adro avista-se toda a cidade e a ilha de Cairu. Trata-se de uma capela do século XVII, de relevante interesse arquitetônico, Na época de sua construção tinha 16,80m e quando sofreu sua primeira reforma, no ano de 1857, quando adquiriu traços do neoclássico em seu interior e teve um aumento para 20,20m. Depois desse ano, passou duas vezes por melhoramentos, uma em 1951 e outra em 1956, quando fora substituído todo o telhado, feito o serviço de ladrilho e piso cimentado do adro. Ainda neste ano, o artista Miguel Araujo pintou os quadros, existentes nas laterais internas da igreja. (PINHEIRO, 1989). Figura 04: Igreja de São Brás Fonte: Queiroz (2009).
  • 10. No século XVIII era construída a capela de Nossa Senhora da Boa Morte, situada no povoado de Jordão, encontra-se edificada numa elevação na BA-001, que liga Taperoá à Nilo Peçanha, tendo acesso por uma escadaria de 33 degraus. A sua construção foi iniciada em 1707 pelo português José Góes Pinto. Sua inauguração aconteceu com a primeira missa do galo do Baixo Sul, ali celebrada em 25 de dezembro de 1707. Possui alpendre arqueado circundando os dois lados da nave. Sofreu alterações, sendo a mais evidente a construção de uma torre em 1945. Há em suas paredes os registros da história, que a cada melhoria realizada, procura-se mantê-los para que possam as novas gerações terem conhecimento acerca dela, como também, servir de base para pesquisas e estudos científicos mais detalhado, de onde também foram retiradas essas informações. Figura 05: Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte - Povoado de Jordão. Fonte: Autora (2009). Não se pode deixar de falar da Capela de Nossa Senhora D’Ajuda situada no distrito de Camurugi, à margem da BA – 001, há 6 Km da sede da cidade, trata-se de uma capela rural construída no ano de 1856. Sua fachada sofreu modificações em 1956, quando foram incorporados detalhes neoclássicos. Conta com um antigo cemitério, onde pessoas de famílias tradicionais foram ali sepultadas. Possui ainda, um antigo oratório ao ar livre, construído em pedras rústicas, arrumadas umas sobre as outras, servindo de espaço para peregrinação dos fiéis, que vão acender velas para os santos de devoção. Ainda nesse segmento religioso, é necessário lembrar a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, localizada à rua Gilberto Passos, s/n. Sua primeira missa solene, foi a de sua inauguração em 08 de dezembro de 1929. De vez em quando, passava por alguns melhoramentos e em 1987 iniciou uma reforma que derrubou as paredes internas, para ganhar mais espaço.
  • 11. Recentemente, passou pela reforma total, modificando toda a sua estrutura histórica, dando lugar a um moderno templo. (PINHEIRO, 1989) Dentre o casario colonial de muita importância para cidade situado na Praça da Bandeira está o Sobrado de D. Julieta Meirelles, construído em 1907, mas que conserva elementos de arquitetura colonial. A fachada lateral caracteriza-se pela altura da porta central, que também dá acesso à escadaria da igreja de São Brás. Posicionado a cerca de um metro acima do nível da rua, possui dois pavimentos, caracterizado pela sua parte térrea, onde funcionam quatro lojas, e na parte superior, que seria habitável, porém, encontra-se abandonada, pondo em risco a segurança da população. Fica no centro da cidade, próxima à prefeitura Municipal. Figura 06: Sobrado de D. Julieta Meirelles Fonte: Autora (2009). Outra casa imponente é a de nº 174, de propriedade do Sr. Victor Meirelles, de relevante interesse arquitetônico, construída em um pavimento sobre porão parcial. Data provavelmente de meados do século XIX, apresentando características típicas do sertão. Possui três portas frontais, dando acesso a partes distintas da casa. Situada ao lado da atual prefeitura, a Loja Álvares, é um edifício construído para fins comerciais sendo inaugurado em 1878. Apresenta tratamento neoclássico e fachada revestida de azulejo de origem portuguesa. A loja integra o Centro Histórico da cidade. Recentemente, parte dos azulejos foi retirada, sem razão aparente, e todo o interior da loja passou por modificação. Por muitos anos, serviu de loja de tecidos, sendo a única da cidade, da propriedade do senhor Ruy Araújo, recentemente foi instalada a funerária da mesma família, hoje permanece fechada.
  • 12. Figura 07: Loja Álvares Fonte: Autoras (2009). A Antiga Prefeitura, descrita como um prédio provavelmente do século XVIII, com função residencial e que foi transformado em casa de Câmara e Cadeia, em 1847, com a construção de mais um pavimento. Recentemente serviu às instalações do Instituto Zélia Gattai e atualmente está ali instalada a sede da Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia (AMUBS). Figura 08: Casa de Câmara e Cadeia Fonte: Autora (2009). Ainda no entorno da Praça da Bandeira, está edificada a Farmácia Gratidão, instalada na parte de baixo do sobrado, pertencente à família do saudoso João Ferreira Araujo, construído por volta de 1910. Por muito tempo, foi considerado o maior distribuidor de remédio da população. Continua ainda nos dias atuais, exercendo a mesma função, mantendo a mesma estrutura e desenho arquitetônico original, na parte superior, no térreo, devido ao comércio ali instalado tem passado por reformas e melhorias. Na Rua Major Antonio Bittencourt, de propriedade da Srª. Luziânia Meirelles está localizada uma casa reconhecida como vivenda urbana do início do século XIX. Possui um só pavimento desenvolvido sobre vigas. A fachada lateral direita é marcada pela presença de
  • 13. varandas, possui um recuo do nível da rua, com um grande jardim, ainda se preserva as grades em ferro fundido, com os detalhes originais. Ainda se preserva algumas casas rurais, das quais se podem citar o sobrado da Fazenda Jenipapo, da Senhora Isabel Grizentti, situada à margem da BA – 001, próximo à sede de Taperoá. A casa do final do século passado, apresentando influências do neoclássico. A construção encontra-se implantada em terreno em declive, com parte inferior edificada sobre um porão, utilizado como depósito. Outro Sobrado rural é o da Fazenda Boa Sorte, localizado na BA-001, no trecho Valença - Taperoá no distrito de Camurugi. Edificado nos meados do século XIX, apresenta planta semelhante aos sobrados urbanos, apesar de ter a gaveta de secagem de cacau, possui escada feita em pedra e, apesar já ter passado por restauração, continua com os traços originais, soalho em madeira e conta ainda com toda mobília intocada. Figura 09: Sobrado da Fazenda Boa Sorte, Fonte: Autora (2009). Finalmente, a casa da Fazenda Bela Vista, à rua Militão Cezar. Interessante casa rural possivelmente do século XIX, situada à Beira Mar, em terreno plano. Caracteriza-se pela planta quadrada, recoberto por telhado em pirâmide. Dentre outras edificações, essas mencionadas acima são de grande valor histórico para a comunidade, sabendo-se que algumas não foram citadas devido à falta de referencial histórico, mas que de certa forma estão presentes e representam a memória do povo. Pensar nesse tipo de patrimônio como gerador da atividade turística é dar significado a cada construção e a história da comunidade acerca de cada uma delas. Dessa forma os benefícios para a cultura, para a economia, para a preservação e proteção do patrimônio, serão muito mais nítidos. O turismo só
  • 14. funciona, eficientemente, quando a comunidade é beneficiada com a atividade, porque quando a comunidade conhece sua cultura e sua história, sabe imortalizar suas tradições, suas expressões, seus costumes. Deve haver uma preservação ativa em relação ao patrimônio, que re-signifique tanto as edificações históricas quanto os objetos que representam as características de um povo. O bem patrimonial, assim, pode revitalizar, integrando espaços e necessidades da comunidade. 3.2 AS POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE TAPEROÁ A administração pública da cidade de Taperoá, ainda não tem tomado medidas preventivas, quanto à preservação e restauração do patrimônio. Há apenas no PDU – Plano Diretor Urbano do município, a lei nº 203/2004 da gestão do prefeito Paulo Vianna, da Preservação e da Proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico, Cultural e Turístico, que poderá ser garantido com a efetivação do Conselho de Desenvolvimento Urbano, e que, no entanto, já foi aprovado pelo legislativo, como a lei nº 201/2004, mas ainda não está em exercício. Consta no artigo 14 da Lei de Preservação e Proteção do Patrimônio que alguns imóveis, já passaram pelo tombamento total, junto ao Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), que podem ser discriminados como: Praça da Bandeira, Igreja de São Brás, Edificação nº 12, Edificação nº 174, Loja Álvares, Sede da Fazenda Jenipapo, Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte e Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Todos estes, mesmo tombados, são submetidos às modificações e restaurações sem a prévia aprovação, ou sem autorização do órgão responsável. O patrimônio arquitetônico do município de Taperoá corre o risco de ser perdido, pois apesar de existir a lei que o protege, a maioria das edificações de valor histórico não está registrado no livro de tombo da prefeitura. Sem contar que alguns de imponência relevante, já se deterioraram e foram trocados por construções comerciais modernas. Muitos perderam sua verdadeira essência, passando pelas modificações deixaram o aspecto rústico, de valor impagável para a história, pois haviam nesses locais, sobrados de beleza singular, como o dos Meirelles, situado à esquina da Rua Saul Oliveira, com três andares, decorado com pinturas originais de grandes homens da elite brasileira, esculturas entre outros artefatos. Ainda outras edificações, com adornos neoclássicos, que ruíram frente a falta de consciência e a ignorância popular.
  • 15. No lugar desses espaços de história, foram construídos supermercados, lojas de móveis e eletrodomésticos, de brinquedos, de roupas, tudo para promover a realização financeira, satisfazendo o ego e perdendo em identidade. Nesse pensamento, Lucena (1991. p. 26) afirma que “O tempo da modernidade significa o predomínio das relações do dinheiro, da máquina sobre os outros vínculos e a perda sistemática das manifestações culturais”. Nisso se confirma que o capitalismo, a necessidade humana de ganhar dinheiro e se sobrepor aos outros indivíduos, tem levado a essas perdas históricas e culturais, sendo que as mesmas construções enquanto históricas poderiam trazer muitos benefícios para a economia local, podendo ser espaços de visitação turística, meios de hospedagem, e todo o município lucraria com isso, que ao contrario, a realidade é bem diferente, poucos lucram, enquanto muitos continuam desempregados. Um fator que muito tem agravado essa situação é a falta de planejamento urbano, pois o centro comercial está instalado nessa área onde há a maior predominância do patrimônio, levando os comerciantes a demolir as antigas construções, edificando outras mais amplas que atendam as suas necessidades. Segundo Portuguez (2004, p. 42) “Nas cidades históricas, os planejamentos turísticos, urbanísticos e de patrimônio cultural não podem continuar a ser ignorados. São três pilares básicos para se obter uma recuperação urbana integrada...”, o que mudaria a situação caótica, pois o maior fluxo de pessoas e veículos de todos os tamanhos trafegam também nesse espaço. Muitas vezes provocando pequenos acidentes contra o patrimônio. Uma observação que se pode ser feita nesse aspecto, é que na medida que o centro da cidade, compreendida pela Praça da Bandeira, a Rua Marechal Deodoro e a Gilberto Passos, se sufoca, com o acúmulo de casas comerciais, residenciais, edificações antigas, carros, pessoas e animais, os bairros no entorno não se desenvolve, aumentando o nível de pobreza, de tendência ao alcoolismo e a prostituição. O processo de formação das cidades brasileiras favorece o adensamento de grandes núcleos populosos, fazendo com que a ausência de planejamento urbano seja sentida em cidades consideradas históricas ou não. [...] a falta de planejamento urbano engloba os processos de favelização das encostas e entorno da cidade, o adensamento e a descaracterização das edificações do Centro Histórico [...] (GRAMMONT, 2006, p. 457). Há por um lado a falta de interesse do poder público, por não levar em conta o valor histórico cultural e também não acreditar no desenvolvimento econômico como potencial turístico, e dessa forma não toma providências quanto a conservação do patrimônio e, por outro
  • 16. lado está o comodismo das pessoas, que, mesmo aquelas com conhecimento e consciência da importância que tem esse patrimônio arquitetônico, acerca da memória e identidade do povo, não tomam nenhuma atitude, no sentido de impedir a deterioração, ou mesmo na tentativa de conscientizar a comunidade. Poucas são as pessoas conscientes do valor significativo das obras arquitetônicas do município, que com todo o custo se dispõe a preservar, porque acreditam que representam parte de suas vidas e não se desfazem das lembranças a elas atribuídas, como é o caso da senhora Ana da Silva Campos Guimarães, conhecida por todos como Dona Naninha, que seguramente, defende a permanência de seu antigo casarão na Fazenda Boa Sorte. [...] Quando chegaram aqui, com a proposta de comprar aquele sobrado eu perguntei pra Isabel, minha filha, se ela queria vender e ela disse que não venderia, porque é a relíquia do pai dela, pois ali naquela casa muitas coisas boas aconteceram e é uma forma de manter viva a lembrança daquele tempo. [...] tem dois anos que comemorei meu aniversário de oitenta anos naquele casarão. (GUIMARÃES, 2009). É notável o interesse da proprietária em manter viva a memória de sua família, que inclusive a sua filha já tem uma consciência formada sobre a importância do monumento para a história da sua vida. Pois estão implícitos os sentimentos, as lembranças de uma pessoa importante para elas. Ainda seguindo esse pensamento, a comunidade do Jordão, onde está construída a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte mantém viva a sua identidade, fazendo com que o referido patrimônio, permaneça como a planta original, e nessa afirmação, o representante da comunidade, diz: “Estamos o tempo todo tentando restaurar o que é necessário, porque todas as pessoas da minha comunidade foram batizadas naquele templo e cresceram na fé ali, desde o meu bisavô até a minha filha”. (PRAZERES 2009). Diante de um depoimento como este, fica claro que só participando da história acerca do bem patrimonial é que se constrói um sentimento identitário, de proteção e preservação. 3.3 A ATIVIDADE TURÍSTICA EM TAPEROÁ: GERAÇÃO DE RENDA E SUSTENTABILIDADE Para a realização do turismo é indispensável alguns elementos essenciais que lhe servirão de atrativos, como o patrimônio natural, representado pelas paisagens naturais, praias, rios, matas; patrimônios culturais, representados pelos monumentos históricos, museus,
  • 17. manifestações artísticas; equipamentos e serviços como hotéis, restaurantes, transportes; e, infra- estrutura de apoio, como sistema de comunicação, segurança, médico-hospitalar. É uma atividade econômica que está ligada ao setor de serviços e oferece empregos diretos e indiretos, gerando mão-de-obra e aumento na economia local. É com esse olhar que o presidente Lula, no Plano Nacional de Turismo 2007/2010 diz que além de contribuir para tornar o Brasil mais conhecido ao olhar estrangeiro, e ao nosso próprio, o turismo aciona uma gigantesca engrenagem de oportunidades de trabalho e renda em diferentes pontos no nosso território. O turismo exerce um papel de destaque na preservação da cultura, pois na medida em que esta cultura é cenário de visitações e apreciações, a comunidade local terá a preocupação em manter, em dar continuidade aos benefícios que este atrativo lhe permite. Camargo (2002, p. 93) diz que “a parceria planejada e bem gerenciada entre patrimônio e turismo é uma alternativa eficaz com a criação de novos postos de trabalho”. Ambos os lados se beneficiam, pois é só através da beleza cultural, constituída como atrativo, que o turismo pode acontecer, gerando emprego, renda, movimentando a economia. Já o bem cultural, valorizado através da atividade turística, passa a receber mais cuidados, incentivos, e todo o meio de proteção necessária. O turismo deve trabalhar com o espaço da comunidade existente, redescobrindo seus valores, seus sentidos e suas riquezas culturais, para que possam ser valorizados, através dos viajantes, que entrem em contato com a identidade de grupos sociais, detentores, de fato, dos bens culturais de uma comunidade. A comunidade detentora dos atrativos turísticos deve está envolvida nas atividades relacionadas à área, pois ela passa a ganhar em vários aspectos, inclusive na economia. Para os visitantes os lucros serão qualificados como conhecimento, lazer, diversão, já que, quando saem de sua terra natal, é com o propósito de vivenciar novas experiências, com boa qualidade de serviço. As atividades turísticas são seriamente dependentes do modo como as comunidades desenvolvem suas relações com os turistas. Os turistas preferem os lugares onde as pessoas são amistosas. E para que isso seja possível o desenvolvimento do turismo só deve ser promovido incluindo as idéias e opiniões da comunidade local. Isso quer dizer que a satisfação das necessidades locais pode permitir a satisfação das necessidades do turista, uma filosofia de “ganha-ganha”, que é muito atraente. (FARIAS, 2003 apud HALL, 2000, p. 30). O turismo, em Taperoá, é uma das atividades econômicas, que ainda não teve início, devido à falta de divulgação e manutenção dos seus atrativos. Com uma vasta história, e um
  • 18. patrimônio natural, arquitetônico e cultural riquíssimo, o município perde em não receber visitantes que só ajudaria na economia local. Ainda é preciso que a administração pública redescubra o seu potencial e forneça uma infra-estrutura de acordo com as suas necessidades. Bem como, necessita da participação comunitária, já que o turismo cultural vai tratar do modo de vida das pessoas, se elas estão por fora do processo de construção do planejamento turístico, será mais difícil a atividade turística que é ainda inexistente, criar raízes e se estabelecer de verdade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreendendo que o termo patrimônio se configura pela sua abrangência de significados, arrolam nesse sentido os aspectos naturais, culturais e de conhecimento, de modo que, os aspectos culturais, fruto do imaginário, da experiência de vida, dos sentimentos e do agir humano, transportam-se de uma geração para outra, ganhando traços e adaptações ao longo dos anos. As edificações de acentuado valor histórico, guardam em si, muitas experiências de pessoas que ali viveram e desfrutaram do conforto, por elas proporcionado, por essa e por outras razões, a sociedade em qualquer parte do mundo deve perceber o Patrimônio arquitetônico, não apenas como objeto de apreciação, ou mesmo como produto de desenvolvimento econômico através da atividade turística, mas acima de tudo, como marco de realizações para as pessoas que viveram em outras épocas, valorizando-os como parte da história da comunidade, pois cada pedra, cada tijolo, cada madeira, significaram para seus construtores, moradores e admiradores, parte de uma realização pessoal refletida na memória ainda visível nos dias atuais. O Patrimônio Arquitetônico tem o seu lugar de destaque na vida comunitária, pois a sensação de pertencimento e a afirmação da lembrança estão implícitas no cotidiano de cada ser, enquanto indivíduo e mais ainda, enquanto grupo, por ser a memória coletiva uma peça importante na construção da identidade popular. Nesse sentido, a ativa participação da comunidade na conservação do seu patrimônio torna-se eficaz, garantindo a permanência da cultura local, e a re-significação da sua história. O patrimônio histórico edificado de Taperoá, caracterizado pelas construções coloniais dos séculos XVIII e XIX, tem um valor singular na vida de quem os aprecia, embora, nem toda a população taperoense tenha a mesma admiração pelas antigas obras arquitetônicas, é incontestável a sua significação para a construção da história local. No entanto, tem sido notável a perda constante das qualidades estéticas desses monumentos, com as agressões contra a história
  • 19. representada por significativas obras. O reconhecimento do valor histórico, atribuído a cada construção é um passo muito importante para uma discussão acerca da possível intervenção no sentido de preservar a memória, restaurando e criando meios de proibir a destruição patrimonial, instigando a necessidade eminente de garantir a manutenção da cultura popular e a identidade taperoense. Esse trato necessário às antiguidades locais se torna indispensável para o desenvolvimento social, político e econômico através da atividade turística, que apesar de ainda ser inexistente, mas em potencial, a partir da valorização e da divulgação desses recursos históricos podem aumentar o fluxo de visitantes, gradativamente, como o passar do tempo e assim, gerar renda e sustentabilidade, para a população local, como também, para o patrimônio, criando oportunidades e efetivando as prestações de serviços criadas no interesse de atender a demanda turística. Para desenvolver o turismo a partir dos bens culturais e de outros bens que Taperoá possui, é antes de tudo necessária a participação efetiva da comunidade no planejamento de todas as ações, bem como na execução de todas as etapas, já que é a própria comunidade quem deve se beneficiar, direta ou indiretamente, com o fortalecimento da economia local. Outro fator importante, é que as pessoas envolvidas aumentam sua consciência no que diz respeito à conservação, pois passa a compreender sua cultura, sua história e saber assim, imortalizar sua identidade. Dessa maneira, a atividade turística pode ser eficiente em dois sentidos, o primeiro é caracterizado pela melhoria da qualidade de vida na esfera econômica da população, e o segundo é constituído pelo sentimento de pertença, pois os bens patrimoniais passam a significar a inclusão social aumentando o orgulho em possuí-los criando o desejo de manter sua história e perpetuar sua identidade. REFERÊNCIAS
  • 20. BAHIA. Prefeitura Municipal de Taperoá. Lei nº 203/2004, da preservação e proteção do patrimônio histórico, artístico, arqueológico, cultural e turístico. Taperoá: Prefeitura Municipal de Taperoá, 2004. BRASIL. Ministério do Turismo. Plano Nacional de Turismo 2007/2010 – Uma Viagem de Inclusão. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Aleph, 2002. FARIAS, Gustavo V. A. A participação da comunidade no planejamento do turismo. Turismo Tendências e Debates, Salvador, Ano V, nº 5, jan./dez. 2003, 2003. GUIMARÃES, Ana da Silva Campos. Patrimônio Histórico de Taperoá. [dez. 2009]. Entrevistadora: Joélia B. M. Sacramento. Taperoá. Entrevista concedida para a concepção de trabalho acadêmico. GRAMMONT, Anna Maria de. Ouro Preto: problemas de um patrimônio histórico no início do século XXI. Revista Científica Turismo Visão e Ação, Itajaí, v.8, nº 3, p.455-467, set./dez., 2006. LE GOFF, J. et al. História e Memória. 4 ed. Trad. Bernardo Leitão. Campinas, São Paulo: UNICAMP, 1996. LEMOS, Carlos A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção Primeiros Passos; 51). LUCENA, Célia. Linguagens da Memória. São Paulo: FDE 1991. LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001. PELLEGRINI, Américo. Ecologia, Cultura e Turismo. São Paulo: Papirus, 1997. PINHEIRO, Osmar. Taperoá: Minha Terra, Minha Gente e sua Política. Salvador: Contemp, 1989. PORTUGUEZ, Anderson Pereira (org.). Turismo, Memória e Patrimônio Cultural. São Paulo: Roca, 2004. PRAZERES, Ricardo Correia. Patrimônio Histórico de Taperoá. [dez. 2009]. Entrevistadora: Joélia B. M. Sacramento. Taperoá. Entrevista concedida para a concepção de trabalho acadêmico. QUEIROZ, Hélio. Taperoá Bahia – Igreja. Disponível em:< http://www.panoramio.com/photo/17517454> Acesso em: 29 dez 2009.