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ISLAMIZAÇÃO EUROPÉIA - UMA QUESTÃO PARA A INTEGRAÇÃO.
“Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha”. Este provérbio está
corretíssimo ao afirmar que um não deve esperar pela ação do outro para que algo aconteça, pois
correm o risco de que nada realmente aconteça, portanto neste caso se o sujeito da oração quer
realmente estar na montanha ele deverá dirigir-se a ela.
Os recentes ataques terroristas na França traz força à discussão acerca da robusta imigração
e da integração ou da pouca integração mulçumana na sociedade europeia. Atualmente em países
como França, Reino Unido e Alemanha já são comuns manifestações populares contra a
islamização da Europa e com motivos potencializados neste momento imediatamente após os
atentados em Paris, pois as pessoas ainda estão sob influência das emoções, da raiva e do choque
que fomentam perigosamente sentimentos de rejeição e desconfiança em relação ao Islã., cuja
cultura é rígida em termos de autoridade e punições e o indivíduo necessita de maiores limitações e
consequências mais severas para estar em situação de adaptar seu comportamento à sociedade em
que vive. Um outro ponto que chama a atenção é a crescente percepção entre alguns liberais
europeus de que a continua imigração mulçumana pode estar destruindo os seculares valores
liberais europeus e por isso passa a representar uma ameaça à cultura europeia e possivelmente às
crenças cristãs do velho continente. Esta percepção é alimentada por declarações de alguns
muçulmanos radicais de que o Islã se tornará a principal religião em alguns países europeus, e o
código de leis do islamismo, a Charia, irá se sobrepor à democracia, despertando o medo da religião
diversa e desconhecida e principalmente das associações com a violência e morte que radicais de
ambos os lados fazem desta religião.
As manifestações contra a islamização ajudam a quebrar o tabu de se debater os altos custos
que os fluxos imigratórios de mulçumanos causam naquela sociedade. Segundo o jornalista
britânico Ed West a imigração não beneficiou de fato a economia de seu país, mas colocou uma
pressão sobre os serviços, danificou o tecido social e fez da Inglaterra um país mais violento e
desigual e infeliz, e chegou mesmo a ameaçar a sua própria democracia. Na Noruega, Dinamarca e
Holanda eleitores estão se voltando para os partidos que se opõem abertamente à imigração em
massa, são pessoas comuns que tem empregos regulares, que viajam para o exterior e tem amigos
de todas as raças e credos, mas que não querem ser uma minoria no seu próprio país.
Atualmente aproximadamente 6% da população europeia é mulçumana mas temos que
lembrar que muitos deles são cidadãos franceses, alemães, dinamarqueses, etc., e com direitos e
deveres, porém com pensamentos desalinhados com relação à cultura e aos princípios ocidentais,
vivem em guetos porque os europeus não os veem como europeus, os veem sob a ótica do
multiculturalismo que fragmenta a sociedade e incentiva o separatismo, e por outro lado estimula
que pessoas com os mesmos fundamentos culturais estejam juntas em suas zonas de conforto.
Digamos também que o imigrante chega à Europa não para ser europeu mas para ganhar dinheiro e
ter uma vida possivelmente mais digna. Isto tudo nos leva novamente ao pensamento inicial deste
texto, o dilema entre a montanha e Maomé, os europeus naturalmente afastam os mulçumanos de
seu convívio por conta das diferenças culturais enquanto os mulçumanos resistem em se fundirem
numa cultura ocidental, ou seja nem Maomé vai à montanha e muito menos a montanha a Maomé, e
assim o drama social se estabelece.
Com os ataques terroristas deste início de ano na França estabeleceu-se uma guerra contra o
Islã radical, porém como combater algo que não é visível ou marcado e que é carregado de
componentes imprevisíveis e inusitados? Como discernir o que é bom do que é mau? Generalizar e
dizer que toda a comunidade islâmica é potencialmente criminosa é simplesmente um erro. Pensar
no terrorismo islâmico como um adversário único e coeso engana e é perigoso. Os diferentes grupos
têm diferentes origens e objetivos, assim como as diásporas muçulmanas no Ocidente são
originárias de diferentes países e culturas. Muitos muçulmanos franceses, por exemplo, tem raízes
no Norte de África e carregam consigo as marcas e as consequências da colonização e da
independência, enquanto outros se ofendem com a proibição de uso de burcas em lugares públicos,
e nenhuma destas implicações se aplicam por exemplo à Grã-Bretanha. Pensar em muçulmanos
como um grupo homogêneo é ainda mais temerário por mais que alguns líderes partidários de
direita manipulem as opiniões dos eleitores para isso. A maioria não é extremista e muito menos
apoiam a violência.
Neste cenário é de vital importância que a cultura seja separada da religião, já que há muitos
muçulmanos que além de não frequentarem mesquitas ignoram o que está escrito no Corão, e o
ponto em comum seria mesmo a forte influência no nível cultural, um exemplo disto é a forma
como a cultura mulçumana aceita e incorpora o sentimento de raiva, de agressividade e de vingança
em nome da honra, provando neste ponto o antagonismo com relação à cultura ocidental. A cultura
mulçumana é forte o que acaba tornando seus membros praticamente incapazes de se adaptarem a
outros valores.
Segundo o psicólogo dinamarquês Nicolai Sennels as culturas muçulmana e ocidental são
fundamentalmente muito diferentes e os muçulmanos precisariam fazer grandes mudanças em sua
identidade e em seus valores para chegar ao ponto de aceitar os valores das sociedades ocidentais.
“Mudar as estruturas básicas de sua própria personalidade é um processo psicológico e emocional
extremamente exigente. Aparentemente, poucos muçulmanos sentem-se motivados a este
empreendimento”, afirma o psicólogo.
Diante dos obstáculos à uma integração mulçumana na sociedade europeia, como afirmar
que realmente está ocorrendo uma islamização da Europa se as culturas não se fundem, não se
integram? Seria a cultura ocidental débil o bastante para ser tragada pela orgulhosa cultura
mulçumana? E ainda a realidade pode perfeitamente ser deturpada por percepções. Uma pesquisa
Ipsos-Mori, em 2014, descobriu que os franceses acreditam que 31% de seus compatriotas sejam
muçulmanos, porém o número real fica em torno de 8%, o mesmo ocorre em outros países como
por exemplo na Alemanha onde a percepção do tamanho da população mulçumana é de 19%
enquanto na realidade é de apenas 6% e na Bélgica o percentual real de mulçumanos é de 6%
porém a percepção atinge a marca dos 29%. O mesmo fenômeno acontece na Espanha (16% para
percepção e 2% para o real), na Itália (20% para percepção e 4% para o real) e no Reino Unido
(21% para percepção e 5% para o real). Tais percepções se mostram perigosas pois o público
europeu superestima demais a proporção de sua população muçulmana e com isso estimula o
xenofobismo, a ocorrência de manifestações contra uma eventual islamização, a crença de que os
processos imigratórios e de concessões de asilo ao consumirem grandes somas retiram
investimentos de outras áreas, o sentimento de que uma sociedade mais homogênea tem menos
problemas e que a situação de pobreza da comunidade mulçumana gera violência e insegurança,
enquanto na verdade a pobreza não é uma causa e sim uma consequência da baixa prioridade que
eles concedem à escolaridade juntamente com sua falta de motivação para planejar uma carreira. É
importante destacar também que as minorias mulçumanas não são 100% radicais, muito pelo
contrário, são na maioria cidadãos respeitáveis, dóceis e trabalhadores, embora pareça haver uma
falta de disposição de se integrar na sociedade europeia gerando uma tendência de viver numa
"sociedade paralela".
De toda forma desmistificar os motivos pelos quais os europeus consideram o Islã uma
ameaça é uma tarefa tão complicada e possível somente com a ajuda dos próprios mulçumanos,
quanto fazer com que os mulçumanos derrubem as barreiras que criaram para sua integração,
separando o alho do bugalho num complexo processo que exige a recuperação de uma confiança
que está profundamente abalada pelo terrorismo islâmico. A islamização não ocorrerá
unilateralmente pela força da cultura e religião mulçumana, por outro lado os europeus temerosos
precisam confiar no poder de seus valores democráticos para suplantar o medo do desconhecido que
só será vencido com um esforço paciente de integração de ambos os lado, e não de segregação.
Tanto para europeus quanto para mulçumanos é importante que se deem conta de que a montanha
não se moverá e portanto terão que fazer o papel de Maomé no provérbio, de ir até a montanha e
assim provar que é possível integrar respeitando as diferenças, minimizando as divergências e
enaltecendo a convivência harmoniosa, mas para tanto é necessário antes de tudo muito boa
vontade.

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  • 1. ISLAMIZAÇÃO EUROPÉIA - UMA QUESTÃO PARA A INTEGRAÇÃO. “Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha”. Este provérbio está corretíssimo ao afirmar que um não deve esperar pela ação do outro para que algo aconteça, pois correm o risco de que nada realmente aconteça, portanto neste caso se o sujeito da oração quer realmente estar na montanha ele deverá dirigir-se a ela. Os recentes ataques terroristas na França traz força à discussão acerca da robusta imigração e da integração ou da pouca integração mulçumana na sociedade europeia. Atualmente em países como França, Reino Unido e Alemanha já são comuns manifestações populares contra a islamização da Europa e com motivos potencializados neste momento imediatamente após os atentados em Paris, pois as pessoas ainda estão sob influência das emoções, da raiva e do choque que fomentam perigosamente sentimentos de rejeição e desconfiança em relação ao Islã., cuja cultura é rígida em termos de autoridade e punições e o indivíduo necessita de maiores limitações e consequências mais severas para estar em situação de adaptar seu comportamento à sociedade em que vive. Um outro ponto que chama a atenção é a crescente percepção entre alguns liberais europeus de que a continua imigração mulçumana pode estar destruindo os seculares valores liberais europeus e por isso passa a representar uma ameaça à cultura europeia e possivelmente às crenças cristãs do velho continente. Esta percepção é alimentada por declarações de alguns muçulmanos radicais de que o Islã se tornará a principal religião em alguns países europeus, e o código de leis do islamismo, a Charia, irá se sobrepor à democracia, despertando o medo da religião diversa e desconhecida e principalmente das associações com a violência e morte que radicais de ambos os lados fazem desta religião. As manifestações contra a islamização ajudam a quebrar o tabu de se debater os altos custos que os fluxos imigratórios de mulçumanos causam naquela sociedade. Segundo o jornalista britânico Ed West a imigração não beneficiou de fato a economia de seu país, mas colocou uma pressão sobre os serviços, danificou o tecido social e fez da Inglaterra um país mais violento e desigual e infeliz, e chegou mesmo a ameaçar a sua própria democracia. Na Noruega, Dinamarca e Holanda eleitores estão se voltando para os partidos que se opõem abertamente à imigração em massa, são pessoas comuns que tem empregos regulares, que viajam para o exterior e tem amigos de todas as raças e credos, mas que não querem ser uma minoria no seu próprio país. Atualmente aproximadamente 6% da população europeia é mulçumana mas temos que lembrar que muitos deles são cidadãos franceses, alemães, dinamarqueses, etc., e com direitos e deveres, porém com pensamentos desalinhados com relação à cultura e aos princípios ocidentais, vivem em guetos porque os europeus não os veem como europeus, os veem sob a ótica do multiculturalismo que fragmenta a sociedade e incentiva o separatismo, e por outro lado estimula
  • 2. que pessoas com os mesmos fundamentos culturais estejam juntas em suas zonas de conforto. Digamos também que o imigrante chega à Europa não para ser europeu mas para ganhar dinheiro e ter uma vida possivelmente mais digna. Isto tudo nos leva novamente ao pensamento inicial deste texto, o dilema entre a montanha e Maomé, os europeus naturalmente afastam os mulçumanos de seu convívio por conta das diferenças culturais enquanto os mulçumanos resistem em se fundirem numa cultura ocidental, ou seja nem Maomé vai à montanha e muito menos a montanha a Maomé, e assim o drama social se estabelece. Com os ataques terroristas deste início de ano na França estabeleceu-se uma guerra contra o Islã radical, porém como combater algo que não é visível ou marcado e que é carregado de componentes imprevisíveis e inusitados? Como discernir o que é bom do que é mau? Generalizar e dizer que toda a comunidade islâmica é potencialmente criminosa é simplesmente um erro. Pensar no terrorismo islâmico como um adversário único e coeso engana e é perigoso. Os diferentes grupos têm diferentes origens e objetivos, assim como as diásporas muçulmanas no Ocidente são originárias de diferentes países e culturas. Muitos muçulmanos franceses, por exemplo, tem raízes no Norte de África e carregam consigo as marcas e as consequências da colonização e da independência, enquanto outros se ofendem com a proibição de uso de burcas em lugares públicos, e nenhuma destas implicações se aplicam por exemplo à Grã-Bretanha. Pensar em muçulmanos como um grupo homogêneo é ainda mais temerário por mais que alguns líderes partidários de direita manipulem as opiniões dos eleitores para isso. A maioria não é extremista e muito menos apoiam a violência. Neste cenário é de vital importância que a cultura seja separada da religião, já que há muitos muçulmanos que além de não frequentarem mesquitas ignoram o que está escrito no Corão, e o ponto em comum seria mesmo a forte influência no nível cultural, um exemplo disto é a forma como a cultura mulçumana aceita e incorpora o sentimento de raiva, de agressividade e de vingança em nome da honra, provando neste ponto o antagonismo com relação à cultura ocidental. A cultura mulçumana é forte o que acaba tornando seus membros praticamente incapazes de se adaptarem a outros valores. Segundo o psicólogo dinamarquês Nicolai Sennels as culturas muçulmana e ocidental são fundamentalmente muito diferentes e os muçulmanos precisariam fazer grandes mudanças em sua identidade e em seus valores para chegar ao ponto de aceitar os valores das sociedades ocidentais. “Mudar as estruturas básicas de sua própria personalidade é um processo psicológico e emocional extremamente exigente. Aparentemente, poucos muçulmanos sentem-se motivados a este empreendimento”, afirma o psicólogo. Diante dos obstáculos à uma integração mulçumana na sociedade europeia, como afirmar
  • 3. que realmente está ocorrendo uma islamização da Europa se as culturas não se fundem, não se integram? Seria a cultura ocidental débil o bastante para ser tragada pela orgulhosa cultura mulçumana? E ainda a realidade pode perfeitamente ser deturpada por percepções. Uma pesquisa Ipsos-Mori, em 2014, descobriu que os franceses acreditam que 31% de seus compatriotas sejam muçulmanos, porém o número real fica em torno de 8%, o mesmo ocorre em outros países como por exemplo na Alemanha onde a percepção do tamanho da população mulçumana é de 19% enquanto na realidade é de apenas 6% e na Bélgica o percentual real de mulçumanos é de 6% porém a percepção atinge a marca dos 29%. O mesmo fenômeno acontece na Espanha (16% para percepção e 2% para o real), na Itália (20% para percepção e 4% para o real) e no Reino Unido (21% para percepção e 5% para o real). Tais percepções se mostram perigosas pois o público europeu superestima demais a proporção de sua população muçulmana e com isso estimula o xenofobismo, a ocorrência de manifestações contra uma eventual islamização, a crença de que os processos imigratórios e de concessões de asilo ao consumirem grandes somas retiram investimentos de outras áreas, o sentimento de que uma sociedade mais homogênea tem menos problemas e que a situação de pobreza da comunidade mulçumana gera violência e insegurança, enquanto na verdade a pobreza não é uma causa e sim uma consequência da baixa prioridade que eles concedem à escolaridade juntamente com sua falta de motivação para planejar uma carreira. É importante destacar também que as minorias mulçumanas não são 100% radicais, muito pelo contrário, são na maioria cidadãos respeitáveis, dóceis e trabalhadores, embora pareça haver uma falta de disposição de se integrar na sociedade europeia gerando uma tendência de viver numa "sociedade paralela". De toda forma desmistificar os motivos pelos quais os europeus consideram o Islã uma ameaça é uma tarefa tão complicada e possível somente com a ajuda dos próprios mulçumanos, quanto fazer com que os mulçumanos derrubem as barreiras que criaram para sua integração, separando o alho do bugalho num complexo processo que exige a recuperação de uma confiança que está profundamente abalada pelo terrorismo islâmico. A islamização não ocorrerá unilateralmente pela força da cultura e religião mulçumana, por outro lado os europeus temerosos precisam confiar no poder de seus valores democráticos para suplantar o medo do desconhecido que só será vencido com um esforço paciente de integração de ambos os lado, e não de segregação. Tanto para europeus quanto para mulçumanos é importante que se deem conta de que a montanha não se moverá e portanto terão que fazer o papel de Maomé no provérbio, de ir até a montanha e assim provar que é possível integrar respeitando as diferenças, minimizando as divergências e enaltecendo a convivência harmoniosa, mas para tanto é necessário antes de tudo muito boa vontade.