SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 11
Descargar para leer sin conexión
124
R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007
Case-study
INTRODUÇÃO1
Em 2005, Dove, importante marca
da Unilever ligada a produtos de
higiene e beleza, veiculou no Brasil
uma interessante campanha publici-
tária. Mulheres sorridentes, escan-
carando sua felicidade e bem-estar
com a vida por meio de brincadeiras
– UM RELATÓRIO GLOBAL
Case preparado por
Carlos Frederico Lucio
CENTRAL DE CASES ESPM
A
A VERDADE
VERDADE SOBRE A
SOBRE A BELEZA
BELEZA
e gestos livres, exibindo seus cor-
pos numa praia ensolarada, para
o deleite daqueles que as queiram
admirar, ao som do ritmo alegre e
contagiante embaladas por Fernan-
da Abreu. Um convite mesmo
ao prazer, à diversão, à alegria.
Conduzida pelo lema “O sol nas-
ceu para todas”, a trilha sonora
Case-study
Imagens
cedidas
pela
Unilever
do
Brasil
125
MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
convida-as para um “verão sem
vergonha”, curtindo-se, amando-se,
sendo feliz na sua autenticidade.
Pela descrição feita, pode-se pen-
sar, à primeira vista, que se tratava
de mais uma peça publicitária
convencional, se não fosse por
um aspecto bastante inusitado: as
mulheres que protagonizavam a
cena descrita não se encaixavam,
nem de longe, no estereótipo tradi-
cional das modelos usualmente
presentes neste tipo de campanha.
De estaturas diversas, algumas baixi-
nhas, outras gordinhas, cabelos de
diversas texturas, pele exibindo
marcas do tempo e mesmo fora
dos padrões de perfeição estética,
ou ainda com sardas, algumas com
seios pequenos ou até mesmo volu-
mosos... enfim, mulheres diversas,
variadas, desiguais e, nem por isso,
sem deixar de ser belas. Uma ode
à diversidade humana. Absoluta-
mente felizes, saudáveis e fazendo
questão de exibir publicamente
essa felicidade.
NO CASO DO BRASIL, O FOCO
MAIS ACENTUADO RECAI SO-
BRE A LINHA DOVE VERÃO.
CONDUZIDA PELO LEMA “O
SOL NASCEU PARATODAS”, A
TRILHA SONORA CONVIDA-
AS PARA UM “VERÃO SEM
VERGONHA”.
NO CASO DO BRASIL, O FOCO
MAIS ACENTUADO RECAI SO-
BRE A LINHA DOVE VERÃO.
126
R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007
Case-study
Essa campanha, braço de uma estraté-
gia mundial da Unilever, intitulada
Campanha pela Real Beleza, trabalha,
em cada contexto sociocultural, al-
guns produtos diferentes. No caso do
Brasil, o foco mais acentuado recai
sobre a linha Dove Verão, uma vez
que esta é a estação em que as mulhe-
res mais temem exibir seus corpos,
quase sempre fora dos padrões pre-
conizadospelamídiaecobradospelas
convençõessociais.Ousada,inusitada
e ao mesmo tempo sensível aos an-
seios e desejos da mulher moderna,
a campanha representou um marco
na qualidade da veiculação publici-
tária. De uma certa forma, revela um
importante sintoma que há algum
tempo vem crescendo no cenário
empresarialepublicitário:acertezade
que ao vender um produto ligando-o
ao conceito (e atitude) de respeito e
valorização do bem-estar e da vida de
seu consumidor, a empresa passará a
assumir, por meio de sua marca, uma
presençamuitomaiseficaznavidadas
pessoas. Brincando com as palavras,
cumpriria efetivamente o seu papel
demarcarpresença.Valorizá-lascomo
elas são, e não apenas a partir de ima-
gens padronizadas por uma estética
imaginária e inatingível, é valorizar
suas vidas e valorizá-las integralmente
como pessoas. E nisso, a campanha é
extremamente bem-sucedida.
O SIGNIFICADO DA
ESTÉTICA CORPORAL
NA MODERNIDADE
Vivemos uma civilização do culto
ao corpo como valor imponente
OUSADA, INUSITADA EAO MESMOTEM-
PO SENSÍVEL AOS ANSEIOS E DESEJOS
DA MULHER MODERNA, A CAMPANHA
REPRESENTOU UM MARCO NA QUALI-
DADE DAVEICULAÇÃO PUBLICITÁRIA.
VALORIZAR A MULHER COMO ELA É, E NÃO
A PADRONIZAR POR UMA ESTÉTICA IMA-
GINÁRIA E INATINGÍVEL, É VALORIZAR SUA
VIDA. E NISSO, A CAMPANHA É EXTREMA-
MENTE BEM-SUCEDIDA.
de sociabilidade. Em dois trabalhos
recentes publicados no Brasil, espe-
cialistas em Antropologia (Golden-
berg 2002) e em análise de imagens
na publicidade (Hoff 2005) investi-
gam as repercussões desse valor na
criação de alguns mitos contem-
porâneos relativos ao corpo, em
especial no ambiente da mídia. Entre
eles, o fato de que alguns padrões
estéticos precisariam ser atingidos
pelos indivíduos sob pena da não
realização social plena. Encarcerada
nesta concepção, a própria idéia de
beleza física passa a se constituir
como um fragmento de um todo
mais complexo que é a existência
humana tornando metonimicamente
esta parte (o aspecto físico do belo)
pelo todo (a vida, o bem-estar, a sua
127
MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
UM TRUÍSMO MUITO PRESENTE
HOJE É A CONSTATAÇÃO DE
QUE A BELEZA VEICULADA PELA
MÍDIA NÃO É NEM NATURAL,
NEM ALCANÇÁVEL.
realização profissional e pessoal, a
segurançaetc.).Destamaneira,aexis-
tência física é que condicionaria as
demais formas de existência (moral,
profissional, espiritual...). E o que é
mais curioso: cada vez mais, ser belo
efetivamente parece importar menos
do que parecer belo. Além disso,
como se trata de uma sociedade de
consumo, em que o valor da posse
(ter) é a medida principal para o valor
da existência (ser), ter um corpo belo
passa a ser uma exigência imperativa
desta realização social.
Se isto é uma verdade para a so-
ciedade metropolitana em geral,
a questão da beleza física assume
proporções bem mais acentuadas
com relação ao universo feminino,
já que este, pelas próprias con-
venções sociais vigentes na atuali-
dade, é o público mais suscetível a
essas pressões. Um truísmo muito
presente hoje é a constatação de
que a beleza veiculada pela mídia
não é nem natural, nem alcançável.
Mulheres sempre magras, silhuetas
e rostos tão precisamente simétricos
como que traçados pelas hábeis
mãos do mais talentoso artista
plástico, expressando uma elegân-
cia próxima à perfeição platônica.
Além disso, esta imagem de beleza
“artificial” – porque construída por
técnicas estéticas e cosméticas,
sem mencionar as alimentares (de
salubridade duvidosa) – está quase
sempre associada a ideais de quali-
dade de vida, bem-estar, sucesso e,
por fim, à felicidade última. Tudo
NAS GRANDES METRÓPOLES, PODE-
SE ASSEVERAR QUE A ANGÚSTIA
PROVENIENTE DO CONFLITO ENTRE
A IMAGEM IDEAL DE CORPO, CONS-
TRUÍDA POR PADRÕES SOCIAIS E
REFORÇADA PELA MÍDIA, ESTÁ SE
TORNANDO UM DOS GRANDES
PROBLEMAS QUE AFLIGE A MULHER
MODERNA.
128
R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007
Case-study
se passa como se, ao atingir tal be-
leza, poder-se-ia atingir a plenitude
da felicidade. Ou o que muitas vezes
é pior: para se atingir a felicidade
plena, é preciso atingir tal perfeição
estética. Como resultado da difusão
generalizada em escala global desses
valores inalcançáveis e sua conse-
qüente frustração, no cenário de uma
sociedade em que, como se afirmou,
o culto ao corpo torna-se uma febre
cada vez mais consolidada, sobretudo
nas grandes metrópoles, pode-se as-
severar que a angústia proveniente
do conflito entre a imagem ideal de
corpoconstruídaporpadrõessociaise
reforçada pela mídia está se tornando
um dos grandes problemas que aflige
a mulher moderna.
A CONCEPÇÃO
DA CAMPANHA
Preocupada com as repercussões e
conseqüências concretas que estas
idéias têm sobre o universo feminino,
cujos personagens dificilmente se en-
caixam nesses estereótipos veiculados
pela mídia em geral, Dove resolveu
investigar a fundo esta questão, pro-
movendo um estudo para o entendi-
mento global sobre a relação entre as
mulheres, a beleza e o bem-estar. Ao
investigarempiricamenteosignificado
da beleza para as mulheres de hoje,
o estudo procurou um referencial
mais autêntico e satisfatório para se
falar e pensar a beleza como valor e
conceito. O propósito não era tanto
o de discutir o que é a beleza em si
(tarefa mais apropriada ao campo da
Estética, em Filosofia), mas o de averi-
guar os descompassos entre a imagem
(em especial a imagem desejada e/ou
veiculada pela mídia) e a realidade
efetivamente encontrada sobre a be-
leza.Foicombasenosresultadosdeste
estudo que Dove reuniu elementos
consistentes para formular a bem-su-
cedida Campanha pela Real Beleza.
Gerenciado pela Strategy One, uma
das mais sérias empresas de pesquisa
dos Estados Unidos, sediada em
Nova York, o estudo contou com a
colaboração de pesquisadores da
Universidade de Harvard, do Hospital
deMassachussettsedaLondonSchool
of Economics. Sua metodologia con-
sistiu de um extenso e denso trabalho
de campo, realizado em 10 países
(Estados Unidos, Canadá, Argentina,
Brasil, Portugal, França, Inglaterra,
Itália,PaísesBaixoseJapão),nosmeses
TÓPICOS COMO SAÚDE, RELA-
CIONAMENTOS DE DIVERSOS TI-
POS, BELEZA EAPARÊNCIA FÍSICA,
SUCESSOPROFISSIONALEFINAN-
CEIRO E RELIGIOSIDADE FORAM
OS MAIS ABORDADOS.
Imagens
cedidas
pela
Unilever
do
Brasil
129
MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
de fevereiro e março de 2004, em que
foram entrevistadas cerca de 3.200
mulheres, na faixa etária dos 18 aos
64 anos2
. Para que pudesse ganhar
consistência e melhor se adequar
aos distintos padrões estéticos nos
diferentes países analisados, além da
pesquisa de campo em si, o estudo
promoveu uma revisão da literatura
mundial sobre o assunto, examinando
pesquisas, ensaios e textos em geral,
até então existentes, em 22 idiomas
provenientes de 118 países, com o
objetivo de rever o conhecimento
público sobre o tema.
A REALIDADE MOSTRADA
PELO ESTUDO
Um dos resultados mais marcantes
desse estudo foi a constatação de
que, em todos os lugares pesquisa-
dos, as mulheres desejam uma
idéia de beleza que seja menos
estreita do que aquela que é veicu-
lada pela mídia. Desejam algo
mais próximo de suas realidades.
Este foi, portanto, o principal
indicador de que as hipóteses
iniciais que inspiraram o estudo
eram válidas.
Ao constatar que apenas metade das
mulheres entrevistadas relata que está
razoavelmentesatisfeitacomsuavidae
bem-estar social, a pesquisa procurou
investigar o que seria mais importante
em suas vidas. A partir daí, passou
a considerar os aspectos envolvidos
diretamente na concepção feminina
de beleza, não hipoteticamente, mas
com base nos depoimentos das entre-
vistadas. Tópicos como saúde, rela-
cionamentos de diversos tipos, beleza
eaparênciafísica,sucessoprofissional
e financeiro e religiosidade foram os
mais abordados. Vejamos a seguir
alguns destes resultados.
Em linhas gerais, o estudo revelou que
nos lugares pesquisados (e pelo grau
de sua representatividade, poder-se-ia
A NOVA BELEZA DEVE ENGLOBAR
DIVERSIDADE DE IDADE, ETNICI-
DADE E ASPECTOS FÍSICOS
VARIADOS.
130
R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007
Case-study
ESTADOS UNIDOS, MÉXICO E BRASIL LIDERAM
ORANKINGMUNDIALDECIRURGIAPLÁSTICA
NO MUNDO.
supor que no mundo todo) as mulhe-
res têm um relacionamento complexo
e às vezes difícil com a beleza. Uma
das descobertas relevantes do estudo
é que “beleza” é uma palavra difi-
cilmente empregada pelas mulheres
como suas (menos de 2% escolhem
se descrever como “belas”). Outro
aspecto importante é a identificação
entre os conceitos de beleza e atrativi-
dade física: as mulheres pesquisadas
tendem a classificar sua beleza e o seu
significado da mesma maneira com
que classificam sua atratividade física,
o que aponta para um vínculo estreito
entre os dois conceitos.
Uma outra constatação curiosa é que
mesmoquequaseametadedasmulhe-
res concorde fortemente que quando
se sente menos bela, se sente pior em
relação a si mesma de forma geral,
mais de 75% não se sentem à vontade
para se descreverem como belas. Do
mesmo modo, ainda que sintam que
não podem possuir beleza, a falta dela
ainda pode provocar um impacto
negativo em sua auto-estima.
Uma grande maioria das mulheres
está somente “um tanto” satisfeita
com sua beleza e atratividade física,
sendo a insatisfação em relação ao
peso e forma do corpo maior ainda.
Os dados mostram que a maioria
das mulheres está insatisfeita com
sua beleza e atratividade física. Para
elas o peso e a forma do corpo ainda
incomodam. As mulheres japonesas
têm o maior índice de insatisfação
física (59%), seguidas pelas brasileiras
(37%), inglesas e norte-americanas
ÍNDICE DE INSATISFAÇÃO FÍSICA
59%
37% 36%
27% 25%
JAP BRA ING E EUA ARG HOL
“TODA MULHER POSSUI ALGO
QUE SEJA BELO” E “UMA MULHER
PODE SER BELA COM QUALQUER
IDADE.”
131
MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
(36%), argentinas (27%) e holandesas
(25%). Tudo indica que esta situação
está relacionada a preceitos da cultura
popularqueconstróialgunsvaloresde
atratividade física, muito distantes do
que é possível encontrar na sociedade
industrial contemporânea. O estudo
revelou também que as mulheres têm
consciência disso e resistem a essa
imposição.Umdadorelevante,prove-
niente da Sociedade Internacional
de Cirurgia Plástica Estética revela
que Estados Unidos, México e Brasil
lideram o ranking mundial de cirurgia
plástica no mundo.
Mulheres concordam fortemente que
“osatributosdebelezafemininaganha-
ram uma definição muito estreita no
mundo atual.”Ao mesmo tempo, uma
vasta maioria também queria que a
beleza feminina fosse retratada na
mídia como se consistisse em mais
do que simples atratividade física, e
concorda que a mídia e a propaganda
estabelecem padrões irreais de beleza
que a maioria das mulheres jamais
conseguirá alcançar.
É possível, segundo o estudo, que
as mulheres respondam de maneira
muito positiva a uma idéia de beleza
feminina com múltiplas nuanças e
facetas. As mulheres entrevistadas
concordam fortemente que a beleza
inclui itens muito mais fortes e profun-
dos do que aquilo que uma pessoa é
em comparação com a presença pura
e simples da atratividade física. Para
elas, a beleza da mulher é derivada
muito mais de atributos como gen-
tileza, confiança, dignidade, humor
e inteligência.
Outra constatação interessante é que
qualquermulherpodeserdetentorade
beleza, sendo que muitas concordam
fortemente que “toda mulher possui
algoquesejabelo”eque“umamulher
pode ser bela com qualquer idade”.
As mulheres também exprimem um
desejodereivindicarestaidéiadeuma
MULHERES ENXERGAMA FELICIDADE
COMO O COMPONENTE MAIS IM-
PORTANTE DE BELEZA E CONCOR-
DAM QUE SE SENTEM MAIS BELAS
QUANDO ESTÃO FELIZES.
beleza com mais nuanças, variedade
e diversificação.
De maneira contundente, as mulheres
tambémassociamestaidéiaalternativa
de beleza com bem-estar.
Enxergam a felicidade como o com-
ponente mais importante de beleza e
concordamfortementeque“sesentem
mais belas quando estão felizes e rea-
lizadas em suas vidas”.
Uma outra revelação curiosa é o fato
de que as mulheres não somente
pensamqueabelezalevaàfelicidade,
mas vão mais longe: pensam que a
própria felicidade é a beleza.
PARA ELAS, A BELEZA DA MULHER É DERI-
VADA MUITO MAIS DE ATRIBUTOS COMO
GENTILEZA, CONFIANÇA, DIGNIDADE,
HUMOR E INTELIGÊNCIA.
AS MULHERES TAMBÉM EXPRIMEM UM
DESEJO DE REIVINDICAR ESTA IDÉIA DE
UMA BELEZA COM MAIS NUANÇAS,
VARIEDADE E DIVERSIFICAÇÃO.
132
R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007
Case-study
Finalmente, segundo os dados conclu-
sivosdoestudo,asmulheresexpressaram
odesejodequeesseentendimentomais
complexo das nuanças de beleza seja
reforçado através de representações
de mulheres na cultura popular. Nisso,
o papel da mídia é muito forte, já que
é uma das grandes responsáveis pela
veiculação desta imagem. Concor-
Com base nessas constatações, o
estudo revelou que seria necessário
que a publicidade provesse às
mulheres uma representação de be-
leza altamente desejável e ao mes-
mo tempo relativamente acessível
e passível de ser alcançada.
Na avaliação da própria Uni-
lever, Dove possui a vantagem
estratégica de ter sido pioneira
no entendimento desse espaço. A
pesquisa realizada identifica de
maneira clara os componentes da
nova beleza, incluindo felicidade,
relacionamentos, auto-realização e
auto-cuidado. Além disso, a nova
beleza deve englobar diversidade
de idade, etnicidade e aspectos
físicos variados. Assim, é preciso
expôr a atratividade física – e não
simplesmente a estética – como
essencial ao conceito dessa nova
beleza natural, autêntica e presente
na vida das mulheres. Sem esse
componente, a nova beleza irá per-
der sua autoridade e legitimidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Umareflexãosobreabelezadocorpo,
no âmbito da pesquisa feita por Dove,
leva-nos a pensar na relação das pes-
soas (e aqui o foco é a mulher) com
seu próprio corpo. “Elo entre o indi-
víduo e o coletivo, capaz de fortalecer
os vínculos sociais tanto quanto a
própria saúde e beleza do indivíduo”
dam fortemente que gostariam de ver
mulheres de formas, tamanhos, idades
e etnias diferentes retratadas na mídia.
Elasafirmamqueadmiramasmodelos,
mas além delas, também querem ver
mulherescomumentebelasemulheres
ativas em suas vidas cotidianas. A be-
leza está na riqueza e na diversidade e
não na padronização.
FINALMENTE, SEGUNDO OS DADOS
CONCLUSIVOS DO ESTUDO, AS MU-
LHERES EXPRESSARAM O DESEJO DE QUE
ESSE ENTENDIMENTO MAIS COMPLEXO
DASNUANÇASDEBELEZASEJAREFORÇA-
DO ATRAVÉS DE REPRESENTAÇÕES DE
MULHERES NA CULTURA POPULAR.
Fotos:
divulgação
133
MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
(Sant’anna 2005:122); o corpo é a
condição e a principal marca da
presença do indivíduo no mundo. Esta
asserção pode nos levar a refletir sobre
as formas em que se dá esta presença e
essa singularidade. A historicidade do
corpo está repleta da historicidade do
próprio indivíduo. O corpo humano
assume, desta maneira, um caráter
menos biológico e mais social e, diria,
até mesmo existencial.
Uma das questões mais evidentes que
podem surgir destas considerações
é aquela que diz respeito à maneira
como se dá essa relação entre o que
o indivíduo e o coletivo, por meio da
comparação entre o que ele pensa,
acredita e percebe sobre o seu pró-
prio corpo e o que o grupo social,
no qual ele está inserido, pensa,
acreditaepercebe.Emqualquerépoca
e sociedade, conceitos e padrões de
beleza do corpo são freqüentemente
estabelecidos. Herdeiros da tradição
grega, para nossa cultura, a beleza do
corpo passa a ser uma manifestação
da própria beleza e equilíbrio do ser
como um todo: a beleza expressaria
saúde, enquanto que a feiúra, doença,
ou, no mínimo, desequilíbrio. E essas
idéias estão muito fortemente fixadas
no imaginário social3
.
Por outro lado, relacionados à pulsão
sexual,essespadrõesdebelezasãoas-
sociadosadeterminadaspossibilidades
de satisfação dessas mesmas pulsões,
o que, em última instância, remete
à própria satisfação pessoal. E isso
adquire força e importância maiores
numasociedadeemque,comoacon-
temporânea, a construção da imagem
tem um papel central na definição da
identidade do indivíduo.
Constatando que a imagem do belo
criada e veiculada por meio da mídia
não corresponde, de fato, àquela
presente no cotidiano das pessoas
(e ainda mais, a que desejariam ver
retratadas), o estudo encarregado por
HERDEIROS DATRADIÇÃO GREGA, PARA NOS-
SACULTURA,ABELEZADOCORPOPASSAASER
UMA MANIFESTAÇÃO DA PRÓPRIA BELEZA E
EQUILÍBRIO DO SER COMO UM TODO.
Dove, consolida a comprovação em-
pírica para esta hipótese, o que pode
levar a estratégias publicitárias mais
ousadas e atrativas. Desta maneira,
ao investigar a relação real e concreta
da mulher com sua própria beleza e
os ideais de beleza que possuem, in-
vestigou itens bem concretos e impor-
tantes, tais como: a sua relação com
suaprópriabeleza,suaauto-avaliação
da beleza e aparência física, seu grau
de satisfação pessoal com a sua be-
leza, sua aparência física e sua vida
em geral, suas percepções de como
a beleza é tratada na cultura popular;
sua visão do que faz as mulheres se
sentirem bonitas, suas visões sobre
beleza, atratividade física e o papel do
SATISFAÇÃO PESSOAL COM A SUA
BELEZA, SUA APARÊNCIA FÍSICA E
SUA VIDA EM GERAL, SUAS PER-
CEPÇÕES DE COMOA BELEZA É, É O
QUEFAZASMULHERESSESENTIREM
BONITAS.
134
R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007
Case-study
cuidadocomaaparênciaedacirurgia
plástica,suasopiniõessobreaverdade
sobreabeleza,suasvisõessobreoque
as mulheres querem, confrontando a
mídia e a verdade sobre a beleza.
O resultado desse trabalho foi a
produção de uma campanha ex-
tremamente criativa, simpática ao
público e que, de quebra, assume um
caráter de responsabilidade social da
marca que procura, ao anunciá-la
aos consumidores, transmitir uma
mensagem de valorização de sua
beleza natural e autêntica, diversa
e heterogênea, enfim, valorização
de sua própria vida. Se, de início,
as mulheres não conseguiam (como
constatou a pesquisa) associar a pala-
vra bonita consigo mesmas, o estudo
constatou que isso se devia ao fato
de elas não conseguirem valorizar o
lado natural da beleza, mas terem
como referência o lado padronizado
de uma beleza inatingível. Segura-
mente, um dos grandes ganhos da
Campanha pela Real Beleza tenha
sido o de levar as pessoas a refletirem
sobre esses (e, quiçá, outros) padrões
estabelecidos pela sociedade e veicu-
lados pela mídia.
O estudo demonstra claramente que
as mulheres que conseguem abraçar
um conceito mais amplo de beleza
são mais propícias a estarem satisfei-
tas com suas vidas e seu bem-estar.
Com certeza, esta perspectiva poderá
posicionar a marca Dove de maneira
única, singular, que acolhe as diversas
maneiras segundo as quais as mulhe-
res querem pensar e se sentir em
relação a elas mesmas. É, em última
instância, um instrumento poderoso
para ajudá-las a refletir sobre a sua
própria felicidade.
TEXTOS:
ETCOFF, Nancy et alli. A verdade sobre a beleza:
um relatório global. Descobertas de um estudo
global sobre mulheres, beleza e bem-estar.
Relatório para Dove. 2004. Publicado em:
http://www.realbeleza.com.br, acessado em
19/03/2007.
CUKIERT, Michele e PRISZKUKNIK, Léia. “Con-
siderações sobre o eu e o corpo em Lacan”.
Estudos de Psicologia. 2002. 7(1), 143-149.
GOLDENBERG, Miriam e RAMOS, Marcelo Silva.
“A civilização das formas: o corpo como valor”. In:
GOLDENBERG, Miriam (org.). Nu e vestido: dez
antropólogos revelam a cultura do corpo cario-
ca. Rio de Janeiro: Ed. Record. 2002.
1. A fundamentação estatística para esta
análise é baseada nas informações contidas em
Etcoff et alli, 2004.
2. Segundo o relatório Dove, a pesquisa de
campo, realizada por telefone, foi formulada em
inglês por uma das mais renomadas empresas
de pesquisa a distância, sediada em Londres, e
traduzida para outros 7 idiomas. Como cuidado
adicional, os tradutores locais revisaram as
traduções para assegurar suas consistência
em relação à entrevista original. Para outros
detalhes metodológicos da pesquisa, conferir o
relatório supracitado.
HOFF, Tânia. “O corpo imaginado na publici-
dade”. Cadernos de Pesquisa. Vol. 1. Núcleo
de Pesquisa em Comunicação e Práticas do
Consumo. São Paulo:ESPM. 2005.
LAZZARINI, Eliana Rigotto e CAMARGO VIANNA,
Therezinha. “O corpo em psicanálise”. Psicolo-
gia: teoria e pesquisa. Brasília. 22(2):241-50.
SANT´ANNA, Denise Bernuzzi de. “Horizontes do
Corpo”. In: BUENO, Maria Lúcia e CASTRO, Ana
Lúcia de. Corpo: território da cultura. São Paulo.
Anna Blume. 2005.
Para download do case acesse o site
www.espm.br, clique em Publicações e,
depois, em Central de Cases ESPM.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO:
A pesquisa feita por Dove constata que os padrões de beleza difundidos pela mídia
não estão em adequação com aqueles que as mulheres identificam como possíveis
e viáveis. Faça uma análise levantando quais as possíveis conseqüências desta
constatação para a vida das pessoas em geral.
Explique por que a Campanha pela Real Beleza posiciona Dove como uma marca de
vanguarda. (Procure analisar os vários aspectos envolvidos na questão.)
Na sua concepção, por que a Campanha pela Real Beleza representa um marco na
responsabilidade social na propaganda?
SITES
CONSULTADOS:
1)
2)
3)
NOTAS
3. Conferir a esse respeito as discussões feitas
por Hoff, 2005, baseada na concepção de corpo
no pensamento de Michel Foucault.
http://www.campaignforrealbeauty.com
http:///www.campanhapelarealbeleza.com.br
ESPM
CARLOS FREDERICO LUCIO
Mestre em Antropologia Social e
doutorandodoProgramadePós-Gra-
duação em Ciências Sociais do Insti-
tuto de Filosofia e Ciências Humanas
daUnicampéprofessordagraduação
e pós-graduação da ESPM.

Más contenido relacionado

Similar a dove.pdf

Corpo, saúde e beleza
Corpo, saúde e belezaCorpo, saúde e beleza
Corpo, saúde e belezaAmanda Cardoso
 
Ditaura da beleza
Ditaura da belezaDitaura da beleza
Ditaura da belezaFabio Cruz
 
Barbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumoBarbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumo3051995
 
Barbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumoBarbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumo3051995
 
7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta
7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta
7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planetal1mnkey106
 
Aula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologiasAula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologiasHomero Alves de Lima
 
Escape | Report: Sobre Meninas e Mulheres
Escape | Report: Sobre Meninas e MulheresEscape | Report: Sobre Meninas e Mulheres
Escape | Report: Sobre Meninas e Mulheresescapeplanejamento
 
Livro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZ
Livro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZLivro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZ
Livro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZumapaz
 
Corpo, cultura e movimento
Corpo, cultura e movimentoCorpo, cultura e movimento
Corpo, cultura e movimentoSilvia Arrelaro
 
O Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean Baudrillard
O Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean BaudrillardO Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean Baudrillard
O Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean BaudrillardAndreia Martins
 
Almanaque brasil socioambiental 2008
Almanaque brasil socioambiental 2008Almanaque brasil socioambiental 2008
Almanaque brasil socioambiental 2008Geraldo Oliveira
 

Similar a dove.pdf (20)

Corpo, saúde e beleza
Corpo, saúde e belezaCorpo, saúde e beleza
Corpo, saúde e beleza
 
Autoimagem e publicidade
Autoimagem e publicidade  Autoimagem e publicidade
Autoimagem e publicidade
 
ENEM.pptx
ENEM.pptxENEM.pptx
ENEM.pptx
 
Congresso comunicon
Congresso comuniconCongresso comunicon
Congresso comunicon
 
Identidade mulheres
Identidade mulheresIdentidade mulheres
Identidade mulheres
 
Congresso comunicon
Congresso comuniconCongresso comunicon
Congresso comunicon
 
Ditaura da beleza
Ditaura da belezaDitaura da beleza
Ditaura da beleza
 
Barbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumoBarbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumo
 
Barbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumoBarbie e-a-sociedade-de-consumo
Barbie e-a-sociedade-de-consumo
 
7º ano
7º ano7º ano
7º ano
 
7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta
7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta
7 Padrões De Beleza Feminina Inusitados Que Existem Ao Volta Do Planeta
 
Corpologia 2007
Corpologia 2007Corpologia 2007
Corpologia 2007
 
Os riscos da ditadura da beleza
Os riscos da ditadura da belezaOs riscos da ditadura da beleza
Os riscos da ditadura da beleza
 
O corpo da moda
O corpo da modaO corpo da moda
O corpo da moda
 
Aula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologiasAula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 04 de linguagens e códigos e suas tecnologias
 
Escape | Report: Sobre Meninas e Mulheres
Escape | Report: Sobre Meninas e MulheresEscape | Report: Sobre Meninas e Mulheres
Escape | Report: Sobre Meninas e Mulheres
 
Livro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZ
Livro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZLivro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZ
Livro "Aprendizagem Socioambiental em Livre Percurso" - UMAPAZ
 
Corpo, cultura e movimento
Corpo, cultura e movimentoCorpo, cultura e movimento
Corpo, cultura e movimento
 
O Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean Baudrillard
O Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean BaudrillardO Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean Baudrillard
O Mais Belo Objecto De Consumo. O Corpo. Jean Baudrillard
 
Almanaque brasil socioambiental 2008
Almanaque brasil socioambiental 2008Almanaque brasil socioambiental 2008
Almanaque brasil socioambiental 2008
 

Más de JonasDias35

Tecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptx
Tecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptxTecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptx
Tecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptxJonasDias35
 
3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx
3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx
3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptxJonasDias35
 
MBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptx
MBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptxMBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptx
MBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptxJonasDias35
 
arquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.ppt
arquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.pptarquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.ppt
arquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.pptJonasDias35
 
4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx
4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx
4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptxJonasDias35
 
Apresentao_em_slides.pdf
Apresentao_em_slides.pdfApresentao_em_slides.pdf
Apresentao_em_slides.pdfJonasDias35
 
SLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdf
SLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdfSLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdf
SLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdfJonasDias35
 
Diagrama de Pareto.pptx
Diagrama de Pareto.pptxDiagrama de Pareto.pptx
Diagrama de Pareto.pptxJonasDias35
 
Slides-prof.-Raphael.pdf
Slides-prof.-Raphael.pdfSlides-prof.-Raphael.pdf
Slides-prof.-Raphael.pdfJonasDias35
 
Teorias de Administração - 1ª aula.pdf
Teorias de Administração - 1ª aula.pdfTeorias de Administração - 1ª aula.pdf
Teorias de Administração - 1ª aula.pdfJonasDias35
 

Más de JonasDias35 (11)

Tecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptx
Tecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptxTecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptx
Tecnicas de vendas kaua kaua isaac (1).pptx trabalho 1000.pptx
 
278847192.pdf
278847192.pdf278847192.pdf
278847192.pdf
 
3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx
3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx
3.Metodologia GePlanes_Estrat Mapa Estratégico.pptx
 
MBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptx
MBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptxMBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptx
MBA Gestão Estratégica de Pessoas.pptx
 
arquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.ppt
arquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.pptarquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.ppt
arquivos_21AULAMODAISDETRANSPORTEa87484.ppt
 
4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx
4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx
4.Metodologia GePlanes_ind e meta.pptx
 
Apresentao_em_slides.pdf
Apresentao_em_slides.pdfApresentao_em_slides.pdf
Apresentao_em_slides.pdf
 
SLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdf
SLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdfSLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdf
SLIDES - CARVALHO-RABECHINI_prova final (1).pdf
 
Diagrama de Pareto.pptx
Diagrama de Pareto.pptxDiagrama de Pareto.pptx
Diagrama de Pareto.pptx
 
Slides-prof.-Raphael.pdf
Slides-prof.-Raphael.pdfSlides-prof.-Raphael.pdf
Slides-prof.-Raphael.pdf
 
Teorias de Administração - 1ª aula.pdf
Teorias de Administração - 1ª aula.pdfTeorias de Administração - 1ª aula.pdf
Teorias de Administração - 1ª aula.pdf
 

dove.pdf

  • 1. 124 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 Case-study INTRODUÇÃO1 Em 2005, Dove, importante marca da Unilever ligada a produtos de higiene e beleza, veiculou no Brasil uma interessante campanha publici- tária. Mulheres sorridentes, escan- carando sua felicidade e bem-estar com a vida por meio de brincadeiras – UM RELATÓRIO GLOBAL Case preparado por Carlos Frederico Lucio CENTRAL DE CASES ESPM A A VERDADE VERDADE SOBRE A SOBRE A BELEZA BELEZA e gestos livres, exibindo seus cor- pos numa praia ensolarada, para o deleite daqueles que as queiram admirar, ao som do ritmo alegre e contagiante embaladas por Fernan- da Abreu. Um convite mesmo ao prazer, à diversão, à alegria. Conduzida pelo lema “O sol nas- ceu para todas”, a trilha sonora Case-study Imagens cedidas pela Unilever do Brasil
  • 2. 125 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M convida-as para um “verão sem vergonha”, curtindo-se, amando-se, sendo feliz na sua autenticidade. Pela descrição feita, pode-se pen- sar, à primeira vista, que se tratava de mais uma peça publicitária convencional, se não fosse por um aspecto bastante inusitado: as mulheres que protagonizavam a cena descrita não se encaixavam, nem de longe, no estereótipo tradi- cional das modelos usualmente presentes neste tipo de campanha. De estaturas diversas, algumas baixi- nhas, outras gordinhas, cabelos de diversas texturas, pele exibindo marcas do tempo e mesmo fora dos padrões de perfeição estética, ou ainda com sardas, algumas com seios pequenos ou até mesmo volu- mosos... enfim, mulheres diversas, variadas, desiguais e, nem por isso, sem deixar de ser belas. Uma ode à diversidade humana. Absoluta- mente felizes, saudáveis e fazendo questão de exibir publicamente essa felicidade. NO CASO DO BRASIL, O FOCO MAIS ACENTUADO RECAI SO- BRE A LINHA DOVE VERÃO. CONDUZIDA PELO LEMA “O SOL NASCEU PARATODAS”, A TRILHA SONORA CONVIDA- AS PARA UM “VERÃO SEM VERGONHA”. NO CASO DO BRASIL, O FOCO MAIS ACENTUADO RECAI SO- BRE A LINHA DOVE VERÃO.
  • 3. 126 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 Case-study Essa campanha, braço de uma estraté- gia mundial da Unilever, intitulada Campanha pela Real Beleza, trabalha, em cada contexto sociocultural, al- guns produtos diferentes. No caso do Brasil, o foco mais acentuado recai sobre a linha Dove Verão, uma vez que esta é a estação em que as mulhe- res mais temem exibir seus corpos, quase sempre fora dos padrões pre- conizadospelamídiaecobradospelas convençõessociais.Ousada,inusitada e ao mesmo tempo sensível aos an- seios e desejos da mulher moderna, a campanha representou um marco na qualidade da veiculação publici- tária. De uma certa forma, revela um importante sintoma que há algum tempo vem crescendo no cenário empresarialepublicitário:acertezade que ao vender um produto ligando-o ao conceito (e atitude) de respeito e valorização do bem-estar e da vida de seu consumidor, a empresa passará a assumir, por meio de sua marca, uma presençamuitomaiseficaznavidadas pessoas. Brincando com as palavras, cumpriria efetivamente o seu papel demarcarpresença.Valorizá-lascomo elas são, e não apenas a partir de ima- gens padronizadas por uma estética imaginária e inatingível, é valorizar suas vidas e valorizá-las integralmente como pessoas. E nisso, a campanha é extremamente bem-sucedida. O SIGNIFICADO DA ESTÉTICA CORPORAL NA MODERNIDADE Vivemos uma civilização do culto ao corpo como valor imponente OUSADA, INUSITADA EAO MESMOTEM- PO SENSÍVEL AOS ANSEIOS E DESEJOS DA MULHER MODERNA, A CAMPANHA REPRESENTOU UM MARCO NA QUALI- DADE DAVEICULAÇÃO PUBLICITÁRIA. VALORIZAR A MULHER COMO ELA É, E NÃO A PADRONIZAR POR UMA ESTÉTICA IMA- GINÁRIA E INATINGÍVEL, É VALORIZAR SUA VIDA. E NISSO, A CAMPANHA É EXTREMA- MENTE BEM-SUCEDIDA. de sociabilidade. Em dois trabalhos recentes publicados no Brasil, espe- cialistas em Antropologia (Golden- berg 2002) e em análise de imagens na publicidade (Hoff 2005) investi- gam as repercussões desse valor na criação de alguns mitos contem- porâneos relativos ao corpo, em especial no ambiente da mídia. Entre eles, o fato de que alguns padrões estéticos precisariam ser atingidos pelos indivíduos sob pena da não realização social plena. Encarcerada nesta concepção, a própria idéia de beleza física passa a se constituir como um fragmento de um todo mais complexo que é a existência humana tornando metonimicamente esta parte (o aspecto físico do belo) pelo todo (a vida, o bem-estar, a sua
  • 4. 127 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M UM TRUÍSMO MUITO PRESENTE HOJE É A CONSTATAÇÃO DE QUE A BELEZA VEICULADA PELA MÍDIA NÃO É NEM NATURAL, NEM ALCANÇÁVEL. realização profissional e pessoal, a segurançaetc.).Destamaneira,aexis- tência física é que condicionaria as demais formas de existência (moral, profissional, espiritual...). E o que é mais curioso: cada vez mais, ser belo efetivamente parece importar menos do que parecer belo. Além disso, como se trata de uma sociedade de consumo, em que o valor da posse (ter) é a medida principal para o valor da existência (ser), ter um corpo belo passa a ser uma exigência imperativa desta realização social. Se isto é uma verdade para a so- ciedade metropolitana em geral, a questão da beleza física assume proporções bem mais acentuadas com relação ao universo feminino, já que este, pelas próprias con- venções sociais vigentes na atuali- dade, é o público mais suscetível a essas pressões. Um truísmo muito presente hoje é a constatação de que a beleza veiculada pela mídia não é nem natural, nem alcançável. Mulheres sempre magras, silhuetas e rostos tão precisamente simétricos como que traçados pelas hábeis mãos do mais talentoso artista plástico, expressando uma elegân- cia próxima à perfeição platônica. Além disso, esta imagem de beleza “artificial” – porque construída por técnicas estéticas e cosméticas, sem mencionar as alimentares (de salubridade duvidosa) – está quase sempre associada a ideais de quali- dade de vida, bem-estar, sucesso e, por fim, à felicidade última. Tudo NAS GRANDES METRÓPOLES, PODE- SE ASSEVERAR QUE A ANGÚSTIA PROVENIENTE DO CONFLITO ENTRE A IMAGEM IDEAL DE CORPO, CONS- TRUÍDA POR PADRÕES SOCIAIS E REFORÇADA PELA MÍDIA, ESTÁ SE TORNANDO UM DOS GRANDES PROBLEMAS QUE AFLIGE A MULHER MODERNA.
  • 5. 128 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 Case-study se passa como se, ao atingir tal be- leza, poder-se-ia atingir a plenitude da felicidade. Ou o que muitas vezes é pior: para se atingir a felicidade plena, é preciso atingir tal perfeição estética. Como resultado da difusão generalizada em escala global desses valores inalcançáveis e sua conse- qüente frustração, no cenário de uma sociedade em que, como se afirmou, o culto ao corpo torna-se uma febre cada vez mais consolidada, sobretudo nas grandes metrópoles, pode-se as- severar que a angústia proveniente do conflito entre a imagem ideal de corpoconstruídaporpadrõessociaise reforçada pela mídia está se tornando um dos grandes problemas que aflige a mulher moderna. A CONCEPÇÃO DA CAMPANHA Preocupada com as repercussões e conseqüências concretas que estas idéias têm sobre o universo feminino, cujos personagens dificilmente se en- caixam nesses estereótipos veiculados pela mídia em geral, Dove resolveu investigar a fundo esta questão, pro- movendo um estudo para o entendi- mento global sobre a relação entre as mulheres, a beleza e o bem-estar. Ao investigarempiricamenteosignificado da beleza para as mulheres de hoje, o estudo procurou um referencial mais autêntico e satisfatório para se falar e pensar a beleza como valor e conceito. O propósito não era tanto o de discutir o que é a beleza em si (tarefa mais apropriada ao campo da Estética, em Filosofia), mas o de averi- guar os descompassos entre a imagem (em especial a imagem desejada e/ou veiculada pela mídia) e a realidade efetivamente encontrada sobre a be- leza.Foicombasenosresultadosdeste estudo que Dove reuniu elementos consistentes para formular a bem-su- cedida Campanha pela Real Beleza. Gerenciado pela Strategy One, uma das mais sérias empresas de pesquisa dos Estados Unidos, sediada em Nova York, o estudo contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade de Harvard, do Hospital deMassachussettsedaLondonSchool of Economics. Sua metodologia con- sistiu de um extenso e denso trabalho de campo, realizado em 10 países (Estados Unidos, Canadá, Argentina, Brasil, Portugal, França, Inglaterra, Itália,PaísesBaixoseJapão),nosmeses TÓPICOS COMO SAÚDE, RELA- CIONAMENTOS DE DIVERSOS TI- POS, BELEZA EAPARÊNCIA FÍSICA, SUCESSOPROFISSIONALEFINAN- CEIRO E RELIGIOSIDADE FORAM OS MAIS ABORDADOS. Imagens cedidas pela Unilever do Brasil
  • 6. 129 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M de fevereiro e março de 2004, em que foram entrevistadas cerca de 3.200 mulheres, na faixa etária dos 18 aos 64 anos2 . Para que pudesse ganhar consistência e melhor se adequar aos distintos padrões estéticos nos diferentes países analisados, além da pesquisa de campo em si, o estudo promoveu uma revisão da literatura mundial sobre o assunto, examinando pesquisas, ensaios e textos em geral, até então existentes, em 22 idiomas provenientes de 118 países, com o objetivo de rever o conhecimento público sobre o tema. A REALIDADE MOSTRADA PELO ESTUDO Um dos resultados mais marcantes desse estudo foi a constatação de que, em todos os lugares pesquisa- dos, as mulheres desejam uma idéia de beleza que seja menos estreita do que aquela que é veicu- lada pela mídia. Desejam algo mais próximo de suas realidades. Este foi, portanto, o principal indicador de que as hipóteses iniciais que inspiraram o estudo eram válidas. Ao constatar que apenas metade das mulheres entrevistadas relata que está razoavelmentesatisfeitacomsuavidae bem-estar social, a pesquisa procurou investigar o que seria mais importante em suas vidas. A partir daí, passou a considerar os aspectos envolvidos diretamente na concepção feminina de beleza, não hipoteticamente, mas com base nos depoimentos das entre- vistadas. Tópicos como saúde, rela- cionamentos de diversos tipos, beleza eaparênciafísica,sucessoprofissional e financeiro e religiosidade foram os mais abordados. Vejamos a seguir alguns destes resultados. Em linhas gerais, o estudo revelou que nos lugares pesquisados (e pelo grau de sua representatividade, poder-se-ia A NOVA BELEZA DEVE ENGLOBAR DIVERSIDADE DE IDADE, ETNICI- DADE E ASPECTOS FÍSICOS VARIADOS.
  • 7. 130 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 Case-study ESTADOS UNIDOS, MÉXICO E BRASIL LIDERAM ORANKINGMUNDIALDECIRURGIAPLÁSTICA NO MUNDO. supor que no mundo todo) as mulhe- res têm um relacionamento complexo e às vezes difícil com a beleza. Uma das descobertas relevantes do estudo é que “beleza” é uma palavra difi- cilmente empregada pelas mulheres como suas (menos de 2% escolhem se descrever como “belas”). Outro aspecto importante é a identificação entre os conceitos de beleza e atrativi- dade física: as mulheres pesquisadas tendem a classificar sua beleza e o seu significado da mesma maneira com que classificam sua atratividade física, o que aponta para um vínculo estreito entre os dois conceitos. Uma outra constatação curiosa é que mesmoquequaseametadedasmulhe- res concorde fortemente que quando se sente menos bela, se sente pior em relação a si mesma de forma geral, mais de 75% não se sentem à vontade para se descreverem como belas. Do mesmo modo, ainda que sintam que não podem possuir beleza, a falta dela ainda pode provocar um impacto negativo em sua auto-estima. Uma grande maioria das mulheres está somente “um tanto” satisfeita com sua beleza e atratividade física, sendo a insatisfação em relação ao peso e forma do corpo maior ainda. Os dados mostram que a maioria das mulheres está insatisfeita com sua beleza e atratividade física. Para elas o peso e a forma do corpo ainda incomodam. As mulheres japonesas têm o maior índice de insatisfação física (59%), seguidas pelas brasileiras (37%), inglesas e norte-americanas ÍNDICE DE INSATISFAÇÃO FÍSICA 59% 37% 36% 27% 25% JAP BRA ING E EUA ARG HOL “TODA MULHER POSSUI ALGO QUE SEJA BELO” E “UMA MULHER PODE SER BELA COM QUALQUER IDADE.”
  • 8. 131 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M (36%), argentinas (27%) e holandesas (25%). Tudo indica que esta situação está relacionada a preceitos da cultura popularqueconstróialgunsvaloresde atratividade física, muito distantes do que é possível encontrar na sociedade industrial contemporânea. O estudo revelou também que as mulheres têm consciência disso e resistem a essa imposição.Umdadorelevante,prove- niente da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética revela que Estados Unidos, México e Brasil lideram o ranking mundial de cirurgia plástica no mundo. Mulheres concordam fortemente que “osatributosdebelezafemininaganha- ram uma definição muito estreita no mundo atual.”Ao mesmo tempo, uma vasta maioria também queria que a beleza feminina fosse retratada na mídia como se consistisse em mais do que simples atratividade física, e concorda que a mídia e a propaganda estabelecem padrões irreais de beleza que a maioria das mulheres jamais conseguirá alcançar. É possível, segundo o estudo, que as mulheres respondam de maneira muito positiva a uma idéia de beleza feminina com múltiplas nuanças e facetas. As mulheres entrevistadas concordam fortemente que a beleza inclui itens muito mais fortes e profun- dos do que aquilo que uma pessoa é em comparação com a presença pura e simples da atratividade física. Para elas, a beleza da mulher é derivada muito mais de atributos como gen- tileza, confiança, dignidade, humor e inteligência. Outra constatação interessante é que qualquermulherpodeserdetentorade beleza, sendo que muitas concordam fortemente que “toda mulher possui algoquesejabelo”eque“umamulher pode ser bela com qualquer idade”. As mulheres também exprimem um desejodereivindicarestaidéiadeuma MULHERES ENXERGAMA FELICIDADE COMO O COMPONENTE MAIS IM- PORTANTE DE BELEZA E CONCOR- DAM QUE SE SENTEM MAIS BELAS QUANDO ESTÃO FELIZES. beleza com mais nuanças, variedade e diversificação. De maneira contundente, as mulheres tambémassociamestaidéiaalternativa de beleza com bem-estar. Enxergam a felicidade como o com- ponente mais importante de beleza e concordamfortementeque“sesentem mais belas quando estão felizes e rea- lizadas em suas vidas”. Uma outra revelação curiosa é o fato de que as mulheres não somente pensamqueabelezalevaàfelicidade, mas vão mais longe: pensam que a própria felicidade é a beleza. PARA ELAS, A BELEZA DA MULHER É DERI- VADA MUITO MAIS DE ATRIBUTOS COMO GENTILEZA, CONFIANÇA, DIGNIDADE, HUMOR E INTELIGÊNCIA. AS MULHERES TAMBÉM EXPRIMEM UM DESEJO DE REIVINDICAR ESTA IDÉIA DE UMA BELEZA COM MAIS NUANÇAS, VARIEDADE E DIVERSIFICAÇÃO.
  • 9. 132 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 Case-study Finalmente, segundo os dados conclu- sivosdoestudo,asmulheresexpressaram odesejodequeesseentendimentomais complexo das nuanças de beleza seja reforçado através de representações de mulheres na cultura popular. Nisso, o papel da mídia é muito forte, já que é uma das grandes responsáveis pela veiculação desta imagem. Concor- Com base nessas constatações, o estudo revelou que seria necessário que a publicidade provesse às mulheres uma representação de be- leza altamente desejável e ao mes- mo tempo relativamente acessível e passível de ser alcançada. Na avaliação da própria Uni- lever, Dove possui a vantagem estratégica de ter sido pioneira no entendimento desse espaço. A pesquisa realizada identifica de maneira clara os componentes da nova beleza, incluindo felicidade, relacionamentos, auto-realização e auto-cuidado. Além disso, a nova beleza deve englobar diversidade de idade, etnicidade e aspectos físicos variados. Assim, é preciso expôr a atratividade física – e não simplesmente a estética – como essencial ao conceito dessa nova beleza natural, autêntica e presente na vida das mulheres. Sem esse componente, a nova beleza irá per- der sua autoridade e legitimidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Umareflexãosobreabelezadocorpo, no âmbito da pesquisa feita por Dove, leva-nos a pensar na relação das pes- soas (e aqui o foco é a mulher) com seu próprio corpo. “Elo entre o indi- víduo e o coletivo, capaz de fortalecer os vínculos sociais tanto quanto a própria saúde e beleza do indivíduo” dam fortemente que gostariam de ver mulheres de formas, tamanhos, idades e etnias diferentes retratadas na mídia. Elasafirmamqueadmiramasmodelos, mas além delas, também querem ver mulherescomumentebelasemulheres ativas em suas vidas cotidianas. A be- leza está na riqueza e na diversidade e não na padronização. FINALMENTE, SEGUNDO OS DADOS CONCLUSIVOS DO ESTUDO, AS MU- LHERES EXPRESSARAM O DESEJO DE QUE ESSE ENTENDIMENTO MAIS COMPLEXO DASNUANÇASDEBELEZASEJAREFORÇA- DO ATRAVÉS DE REPRESENTAÇÕES DE MULHERES NA CULTURA POPULAR. Fotos: divulgação
  • 10. 133 MARÇO/ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M (Sant’anna 2005:122); o corpo é a condição e a principal marca da presença do indivíduo no mundo. Esta asserção pode nos levar a refletir sobre as formas em que se dá esta presença e essa singularidade. A historicidade do corpo está repleta da historicidade do próprio indivíduo. O corpo humano assume, desta maneira, um caráter menos biológico e mais social e, diria, até mesmo existencial. Uma das questões mais evidentes que podem surgir destas considerações é aquela que diz respeito à maneira como se dá essa relação entre o que o indivíduo e o coletivo, por meio da comparação entre o que ele pensa, acredita e percebe sobre o seu pró- prio corpo e o que o grupo social, no qual ele está inserido, pensa, acreditaepercebe.Emqualquerépoca e sociedade, conceitos e padrões de beleza do corpo são freqüentemente estabelecidos. Herdeiros da tradição grega, para nossa cultura, a beleza do corpo passa a ser uma manifestação da própria beleza e equilíbrio do ser como um todo: a beleza expressaria saúde, enquanto que a feiúra, doença, ou, no mínimo, desequilíbrio. E essas idéias estão muito fortemente fixadas no imaginário social3 . Por outro lado, relacionados à pulsão sexual,essespadrõesdebelezasãoas- sociadosadeterminadaspossibilidades de satisfação dessas mesmas pulsões, o que, em última instância, remete à própria satisfação pessoal. E isso adquire força e importância maiores numasociedadeemque,comoacon- temporânea, a construção da imagem tem um papel central na definição da identidade do indivíduo. Constatando que a imagem do belo criada e veiculada por meio da mídia não corresponde, de fato, àquela presente no cotidiano das pessoas (e ainda mais, a que desejariam ver retratadas), o estudo encarregado por HERDEIROS DATRADIÇÃO GREGA, PARA NOS- SACULTURA,ABELEZADOCORPOPASSAASER UMA MANIFESTAÇÃO DA PRÓPRIA BELEZA E EQUILÍBRIO DO SER COMO UM TODO. Dove, consolida a comprovação em- pírica para esta hipótese, o que pode levar a estratégias publicitárias mais ousadas e atrativas. Desta maneira, ao investigar a relação real e concreta da mulher com sua própria beleza e os ideais de beleza que possuem, in- vestigou itens bem concretos e impor- tantes, tais como: a sua relação com suaprópriabeleza,suaauto-avaliação da beleza e aparência física, seu grau de satisfação pessoal com a sua be- leza, sua aparência física e sua vida em geral, suas percepções de como a beleza é tratada na cultura popular; sua visão do que faz as mulheres se sentirem bonitas, suas visões sobre beleza, atratividade física e o papel do SATISFAÇÃO PESSOAL COM A SUA BELEZA, SUA APARÊNCIA FÍSICA E SUA VIDA EM GERAL, SUAS PER- CEPÇÕES DE COMOA BELEZA É, É O QUEFAZASMULHERESSESENTIREM BONITAS.
  • 11. 134 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO/ABRIL DE 2007 Case-study cuidadocomaaparênciaedacirurgia plástica,suasopiniõessobreaverdade sobreabeleza,suasvisõessobreoque as mulheres querem, confrontando a mídia e a verdade sobre a beleza. O resultado desse trabalho foi a produção de uma campanha ex- tremamente criativa, simpática ao público e que, de quebra, assume um caráter de responsabilidade social da marca que procura, ao anunciá-la aos consumidores, transmitir uma mensagem de valorização de sua beleza natural e autêntica, diversa e heterogênea, enfim, valorização de sua própria vida. Se, de início, as mulheres não conseguiam (como constatou a pesquisa) associar a pala- vra bonita consigo mesmas, o estudo constatou que isso se devia ao fato de elas não conseguirem valorizar o lado natural da beleza, mas terem como referência o lado padronizado de uma beleza inatingível. Segura- mente, um dos grandes ganhos da Campanha pela Real Beleza tenha sido o de levar as pessoas a refletirem sobre esses (e, quiçá, outros) padrões estabelecidos pela sociedade e veicu- lados pela mídia. O estudo demonstra claramente que as mulheres que conseguem abraçar um conceito mais amplo de beleza são mais propícias a estarem satisfei- tas com suas vidas e seu bem-estar. Com certeza, esta perspectiva poderá posicionar a marca Dove de maneira única, singular, que acolhe as diversas maneiras segundo as quais as mulhe- res querem pensar e se sentir em relação a elas mesmas. É, em última instância, um instrumento poderoso para ajudá-las a refletir sobre a sua própria felicidade. TEXTOS: ETCOFF, Nancy et alli. A verdade sobre a beleza: um relatório global. Descobertas de um estudo global sobre mulheres, beleza e bem-estar. Relatório para Dove. 2004. Publicado em: http://www.realbeleza.com.br, acessado em 19/03/2007. CUKIERT, Michele e PRISZKUKNIK, Léia. “Con- siderações sobre o eu e o corpo em Lacan”. Estudos de Psicologia. 2002. 7(1), 143-149. GOLDENBERG, Miriam e RAMOS, Marcelo Silva. “A civilização das formas: o corpo como valor”. In: GOLDENBERG, Miriam (org.). Nu e vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo cario- ca. Rio de Janeiro: Ed. Record. 2002. 1. A fundamentação estatística para esta análise é baseada nas informações contidas em Etcoff et alli, 2004. 2. Segundo o relatório Dove, a pesquisa de campo, realizada por telefone, foi formulada em inglês por uma das mais renomadas empresas de pesquisa a distância, sediada em Londres, e traduzida para outros 7 idiomas. Como cuidado adicional, os tradutores locais revisaram as traduções para assegurar suas consistência em relação à entrevista original. Para outros detalhes metodológicos da pesquisa, conferir o relatório supracitado. HOFF, Tânia. “O corpo imaginado na publici- dade”. Cadernos de Pesquisa. Vol. 1. Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Práticas do Consumo. São Paulo:ESPM. 2005. LAZZARINI, Eliana Rigotto e CAMARGO VIANNA, Therezinha. “O corpo em psicanálise”. Psicolo- gia: teoria e pesquisa. Brasília. 22(2):241-50. SANT´ANNA, Denise Bernuzzi de. “Horizontes do Corpo”. In: BUENO, Maria Lúcia e CASTRO, Ana Lúcia de. Corpo: território da cultura. São Paulo. Anna Blume. 2005. Para download do case acesse o site www.espm.br, clique em Publicações e, depois, em Central de Cases ESPM. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO: A pesquisa feita por Dove constata que os padrões de beleza difundidos pela mídia não estão em adequação com aqueles que as mulheres identificam como possíveis e viáveis. Faça uma análise levantando quais as possíveis conseqüências desta constatação para a vida das pessoas em geral. Explique por que a Campanha pela Real Beleza posiciona Dove como uma marca de vanguarda. (Procure analisar os vários aspectos envolvidos na questão.) Na sua concepção, por que a Campanha pela Real Beleza representa um marco na responsabilidade social na propaganda? SITES CONSULTADOS: 1) 2) 3) NOTAS 3. Conferir a esse respeito as discussões feitas por Hoff, 2005, baseada na concepção de corpo no pensamento de Michel Foucault. http://www.campaignforrealbeauty.com http:///www.campanhapelarealbeleza.com.br ESPM CARLOS FREDERICO LUCIO Mestre em Antropologia Social e doutorandodoProgramadePós-Gra- duação em Ciências Sociais do Insti- tuto de Filosofia e Ciências Humanas daUnicampéprofessordagraduação e pós-graduação da ESPM.