O documento discute as ideias do historiador de arte Aby Warburg sobre memória e imagens. Warburg acreditava que as imagens são formas de memória social que são transmitidas e transformadas através do tempo. Ele criou o Atlas Mnemosyne, um conjunto de imagens que mostrava como formas visuais sobrevivem através dos séculos. O documento também discute como outros pensadores influenciaram as ideias de Warburg sobre a memória cultural e a sobrevivência de símbolos primitivos.
1. ABY WARBURG
Imagem, Memória e Interface
José Geraldo de Oliveira
zooliveira@uol.com.br
SEMINÁRIO COMPLEXIDADES E SIMPLICIDADES DA IMAGEM
Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura Visual
2. DISPOSITIVOS PARA PENSAR
• Pode-se pensar em imagens depois que
Mnemosyne alimentou as artes da
representação do mundo do pensamento do
mundo.
• As Artes da Memória introduziram uma
excitação do pensamento que se tornou
arte.
• A Ars Magna de Lulle é uma "máquina de
raciocínio" pensada para sintetizar todo o
conhecimento pelo raciocínio automatizado.
Discos de papelão concêntricos que giram,
multiplicandoas combinações possíveis e
construindo milhares de frases.
• O filosofo Catalão concebe uma máquina
lógica constituída por círculos concêntricos
contendo palavras que, dispostas numa
certa ordem, formavam perguntas e
respostas.
Ars Magna – Raymond Lulle - 1272
3. DISPOSITIVOS PARA PENSAR
Arvore da ciência – Raymond Lulle -1295
• Raymond Lulle introduz movimento nas
imagens e a abstração na especulação mental.
• A criação de combinações não-figurativas é
uma forma de alcançar o conhecimento por
meio de dispositivos simbólicos.
• Esta transição para uma “combinatória” pura é
um momento chave na mecanização do
conhecimento
Ars Brevis – Raymond Lulle -1308
4. • Giordano Bruno luta desde o
Século XVI para romper as
fronteiras inabaláveis que
separam, ainda hoje, a ciência
da consciência e da
imaginação.
• Os dispositivos de Giordano
Bruno antecipam a importante
guinada nas interações no
desenvolvimento da
Cibernética
Roda de memória –Umbris Idearum
Giordano Bruno - 1582Ars Brevis – Raymond Lulle -1308
• A Ars Magna pensada por
Raymond Lulle é elevada
por Giordano Bruno ao
status de link, onde
“aprende pensamentos”
foi transformado em
“aprender a pensar” para
nutrir hoje cultura digital.
DISPOSITIVOS PARA PENSAR
5. A MÁQUINA DE PENSAR
Roda de memória –Umbris Idearum
Giordano Bruno - 1582
O Homem e o macrocosmo
- Robert Fludd - 1574-1637
6. PERCURSO MENTAL
• No antigo Palácio da Memória, o
percurso mental ativa a máquina de
memória, que ativa a máquina de
imagem.
• O deslocamento cria imagens que
geram pensamento.
• Na Idade Média o deslocamento torna-
se físico nos caminhos de oração ou
nos jardins renascentistas.
• O caminhar convida à mobilidade do
olhar e ao mesmo tempo convida à
mobilidade das imagens.
• Hoje, vagar nas potencialidades digitais
torna-se um percurso divertido,
interativo e imersivo.
• Os Mind Maps (Mapas Mentais) criam
novas ferramentas de conhecimento.
7. MEMÓRIA ARTIFICIAL
Congesttorium Artificiose Memoriae [Johannes
Robech – 1520]. Sistema menemonico
• A "técnica de lugares" foi
usada até o Renascimento
em muitas variações.
• A abadia com suas
dependências e os
objetos a serem
colocados em lugares
diferentes do espaço
serão úteis como âncoras
mnemônicas [Memórias
artificiais] para as
diferentes etapas do
discurso, para lembrar os
representados.
Congesttorium Artificiose Memoriae [Johannes
Robech – 1520] – Diagramas dos links de memória
8. HOMO-NEXUS
Após a figura do Bruno Giordano - Articuli
Adversus Mathematicos. Praga 1588
• O homem, cuja razão de ser é a ligação
segundo Giordano Bruno, anuncia um tempo
talvez próximo, em que as invenções
bioinformáticas poderão conciliar a vida e a
matéria, organização e criação, poesia e
tecnociência.
• As Artes da Memória se relacionaram mais
com a uma pesquisa nexialista, com o nome
desta meta-ciência inventada pelo escritor de
ficção científica Van Vogt.
• O nexialista busca produzir uma ciência sem
fragmentações, que não seja a simples soma
de todas as ciências separadas, mas
superando-as numa interligação permanente.
Diagrama do Cosmo em Forma de Horóscopo [
Giordano Bruno- 1582]
9. NASCIMENTO DE UMA COSMOGONIA
A Escada de Jacob - Robert Fludd (1574-1637)
• Do interior do seu campo até o cosmo, o
homem tece os laços simbólicos.
• A partir do seu local de existência [Centro
do mundo], ele organiza em face à
desordem a orientação cardinal, o ritmo
natural e a rede de significados que os
ordena.
• Topografia e o espaço [metrologia]
irradiam a partir desse centro [espaço
íntimo] em torno do qual o universo
gravita, definindo uma imagem
geométrica do mundo e da cidade.
Uraltes Chymisches Werk - Abraham Eleazar 1735
10. ARQUEOLOGIA DE UMA INTERFACE ARTÍSTICA ANTROPOCENTRADA
• Entre o final do Sec. XVI e início do Sec. XVII
[Virada da era barroca], as diversas
experiências de dispositivos dinâmicos em
pintura [narração dinâmica, solicitação de
mobilidade do olhar] acelerão com a
colocação do universo em movimento.
• A leitura do universo está em plena
metamorfose e irá mudar durante muito
tempo a questão das representações.
Estúdio de Francesco I. Palazzo Vecchio - 1572
Andreas Cellarius 1705 Atlas Celarius 1660
11. CASSIANO DAL POZZO [MUSEO CARTACEO]
A primeira ilustração publicada por Ferrante
Imperato em Dell'Historia Naturale, Nápoles, 1599
12. TEATRO DA MEMÓRIA - Giulio Camillo
• O filósofo da
renascença propõe
[1550] um modelo
para um teatro onde
descreve centenas de
imagens, cuja posição
no teatro determina o
significado da
imagem.
• Imagens baseadas em
mitos e arquétipos,
filosofia, número,
estrelas e planetas.
14. • O [espaço teatral] seria ocupado por apenas
duas pessoas de cada vez [ Imersão e Espaço
intimista].
• A estrutura teria 49 degraus, onde estariam
presentes textos e imagens pendurados em
suas paredes.
• Ao penetrar no fluxo e nas direções
múltiplas que as informações suscitavam, o
praticante da Arte da Memória ingressaria
num mundo de transformação interior, no
sentido de um aperfeiçoamento crescente
que num primeiro momento seria de ordem
retórica, para posteriormente evoluir ao
“espiritual, mágico, divino”, um espetáculo
“imitável e memorável”
TEATRO DA MEMÓRIA - Giulio Camillo
15.
16. TEATRO DA MEMÓRIA - Giulio Camillo
L‘Idea del Teatro pode ser considerado
uma “tessitura” por entre textos, imagens,
idéias que remetem a imagem de um
“grande teatro da memória e da sapiência,
no qual textos e imagens se cruzam a todo
instante, enquanto revelam sentidos e
partem novamente” (...) “numa cintilação
momentânea, momento em que a imagem
tornar-se-ia signo do divino, ligar-se-ia à
essência celeste que ela encarna, e tornar-
se-ia intercambiável com essa essência
(ALMEIDA, 2005: 27-46).
17. Abraham Moritz Warburg [1866-1929]
• Historiador de arte
• Antropólogo
• Pai da iconologia moderna [disciplina sem nome].
• Um dos primeiros pensadores da complexidade
• Filólogo dos objetos e de suas imagens (Didi-
Huberman)
• Destrói a ideia de imagens evolucionista da
história cultural, declarando impraticáveis as
periodizações tradicionais.
18. Abraham Moritz Warburg [1866-1929]
• Sandro Botticelli.
• Observando quais formas clássicas
conseguiram sobreviver.
• Continuou a analisar as imagens que
são transferidas de uma cultura para
outra em diferentes espaços de tempo
sem, no entanto, permanecerem
inalteradas.
Objeto de Estudo
19. • Se interessava pelaanálise das relações
complexas entre o artista e o seu
meio, com destaque para aspectos
como o papel do contratante na
produção artística e a relação dos
artistas com os modelos literários
circulantes, especialmente no que diz
respeito ao exame dos mecanismos de
transmissão e de sobrevivência
cultural da Antiguidade.
Objeto de Estudo
Abraham Moritz Warburg [1866-1929]
20. • Uma reminiscência ou sobrevivência só tem sentido se serve
para produzir algo, se serve como pavio em cada recordação
provocando com justeza. Um risco da antiguidade convocado
no momento adequado pode servir de explosivo para detonar
uma situação atual esclerosada. Para isso pode servir a
antiguidade (Walter Benjamin).
Isadora Duncan [1877- 1927 ]
21.
22. • A correspondência entre Warburg com Franz Boas lança luz sobre o diálogo entre a
história da arte e a antropologia realizado nas primeiras décadas do Século XX .
• Um momento crucial na história das duas disciplinas.
• A correspondência confirma a profundidade e o alcance da participação de Warburg
na antropologia cultural e a sua propensão em apagar as fronteiras entre a
antropologia cultural e a história da arte.
23. KULTURWISSENSCHAFTLICHE BIBLIOTHEK WARBURG
[Biblioteca Warburg de Ciência da Cultura]
MNHMOΣYNH
• Personificação da memória e mãe
das nove Musas.
• Nome que Warburg atribuíra a um
projeto ambicioso: um atlas
iconográfico que catalogasse e
reconstruísse a memória visual do
Ocidente, em sua cadeia de
PATHOSFORMELN.
[ Dante Gabriel Rosseti - 1876-1881 ]
• Forma do patético
• Subterrâneo [sismografia e sismos]
• Estado de coisas humanas vivas que
recortam nossa existência, dialogando
entre elas e conosco.
• Ascende a história da arte a uma
dimensão antropológica fundamental.
• Sintoma – movimento no corpo.
24. KULTURWISSENSCHAFTLICHE BIBLIOTHEK WARBURG
[Biblioteca Warburg de Ciência da Cultura]
MNHMOΣYNH
• Concebida como um Itinerarium Mentis que conduz a um
longo caminho possível, mas numa direção predeterminada.
[Salvatore Settis]
[ Dante Gabriel Rosseti - 1876-1881 ]
25. [Friedrich Nietzsch
]
Pathos dionisíaco
[Energia natural,
instintiva e pagã]
[Jacob Burckhardt]
Ethos apolíneo
[inteligência
organizada]
[Charles R. Darwin]
A expressão das
emoções, nos
homens e nos
animais
[Sigumund Freud]
Sintoma
[Edward Tylor]
Teoria das
sobrevivências
culturais
HORIZONTES REFERENCIAIS
26. ATLAS MNEMOSYNE [1924]
[…] Pretende, com o seu material de imagens, ilustrar esse
processo, que se poderia designar como uma tentativa de
introjeção na alma dos valores expressivos pré-formados na
representação da vida em movimento (WARBURG, 2015: 365).
27. [O rastro, o deslocamento, a antítese]
[O presente, enquanto lugar, memória e
tecido de passados múltiplos]
[a formação do sintoma constitui mais um interpretante [...]
desdobrar os modelos temporais, corporais e semióticos]
Ethos apolíneo [Inteligência organizada]
Pathos dionisíaco [Energia natural, instintiva e pagã]
28. ATLAS MNEMOSYNE [1924]
• Uma história de arte sem
palavras
• Histórias de fantasmas para
gente grande
A ciência que abre caminho
conserva e dá curso a uma
estrutura rítmica na qual os
monstros da fantasia se
transformam em guias da vida
que decidem o futuro
(WARBURG, 2015: 365).
O Valentino vestito di nuovo – anzi… d’antico
Lettura iconografica della campagna Fall/Winter 2013 della
Maison Valentino
Bianca Fasiolo
29.
30.
31. • A ideia de imagem e interface já
estão colocada.
• A memória pode ser um
elemento novo.
• Warburg é a chave, já que para
ele as imagens são sempre
formas de uma memória social,
elementos dos imaginário.
• As imagens = Memórias artísticas
e emocionais.
• Ambas combinadas.
• O atlas é um conjunto de
elementos (sintomas) que
formam uma constelação.
32. Renascimento
• Época de migrações
internacionais das
imagens.
• O mais avançado
exemplo histórico do
funcionamento da
memória cultural e
das sobrevivências
primitivas.
• Teoria da Memória
Social ou Coletiva.
• O regresso de formas
outrora impressas e
que a memória
coletiva ao mesmo
tempo conserva e
transforma.
33.
34. Os deuses, quando ditam um castigo
mortal, enviam como verdugo a
serpente.
Esse conceito da serpente como poder
destrutivo infernal é associado a um
castigo mortal.
• A escultura mostra uma cobra que
sufoca o sacerdote e os seus filhos.
• O sofrimento humano. O pai se
sacrifica pelos filhos.
Laocoonte- Sec I- Museu do Vaticano.
Atanadoro, Hagessandro e Polidoro
35.
36. (...) cultura é sempre um processo
de Nachleben, quer dizer, de
transmissão, de recepção e de
polarização. Compreendemos por
que Warburg devia fatalmente
concentrar sua atenção no
problema dos símbolos e da
existência na memória social
(Giorgio Agamben).
MEMÓRIA
ATLAS MNEMOSYNE – Painel 7 –
Sentimento Vitorioso
Apoteose de Napoleão
[Andrea Appiniani.
[1808] Milão. Palácio
Real. Foi destruído na
segunda Guerra mundial]
Arco de Constantino e Coliseu
Minerva victrix
Ostia
Gemma Augustea –
10 Dc
37. • Como Eisenstein, Warburg compreendeu
que uma imagem é sempre um organismo
complexo e o resultado de uma montagem
de espaços e elementos heterogêneos.
• Anunciação [Palestina]
• Paisagem da Toscana
• No espaço de uma história do Novo
Testamento, vemos o retrato de santo
Antonio de Florença, que viveu no século
XIX.
• Os eventos mais "no presente", ou seja, os
gestos humanos, são eles próprios
montagens temporais.
• Era preciso que seu método pudesse dar
conta de tal natureza de montagem (ana-
tópica e ana-crônica) nas imagens.
• As imagens compreendidas como
MONTAGEM
ATLAS MNEMOSYNE – Painel 42 – Expressão do
sofrimento em inversão energética
39. A montagem – pelo menos
no sentido que aqui nos
interessa – não é a criação
artificial de uma
continuidade temporal a
partir de “planos”
descontínuos agenciados
em sequências. É, pelo
contrário, um modo de
desdobrar visualmente as
descontinuidades do
tempo da obra em toda a
sequência da história (DIDI-
HUBERMAN, 2002: 474).
MONTAGEM
ATLAS MNEMOSYNE – Painel 58 – Cosmologia em Durero
40. PENSANDO UMA INTERFACE ARQUEOLÓGICA
• Os inúmeros locais ocupados pelas Artes
da Memória ao longo de 2500 anos, ao
mesmo tempo muito concretos e
também muito fluidos
• Terão sido torre Palácio da Memoria,
jardins dos saberes, cidades solares ou
cósmicas, montes sagrados, teatro do
mundo, lanternas mágicas, teatro
cinematográfico e, a partir de agora,
teatros virtuais e estes novos espaços de
representações com seus ícones, suas
janelas, seus portais, seus laços e os seus
hipertextos.
• Virtualidade, mas também digitalização,
hipertexto, arborescência e interatividade
se associando para parir as novas formas
de criação.
41. PENSANDO UMA INTERFACE ARQUEOLÓGICA
• O conceito de arqueologia está
associado com a história e a
memória.
• Introduz a ideia de capas
sobrepostas.
• Podemos dizer uma arqueologia
móvel, articulada, as capas não
configuram uma cadeia de espaço e
tempo sucessivos e sobrepostos, mas
que pode se mover e combinar, e,
portanto, pensar além do seu valor
testemunhal ou de recordações.
• Seriam memórias ativas ( Sempre
emocionais).
42. “Deus está nos detalhes”
OBRIGADO
José Geraldo de Oliveira
zooliveira@uol.com.br