Medresumos 2016 neuroanatomia 07 - microscopia do mesencéfalo
1. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● NEUROANATOMIA
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ESTRUTURA DO MESENCÉFALO - MICROSCOPIA
O mesencéfalo é constituído por uma porção dorsal, o tecto do mesencéfalo, e outra ventral muito maior, o pedúnculo
cerebral, separados pelo aqueduto cerebral (aqueduto do mesencéfalo), canal que percorre longitudinalmente o mesencéfalo e que é
circundado por uma espessa camada de substância cinzenta central ou periaquedutal. Em cada pedúnculo cerebral distingue-se, a
partir da substância negra, uma parte ventral, a base do pedúnculo (formada de fibras longitudinais) e uma parte dorsal, o tegmento
do mesencéfalo, cuja estrutura assemelha-se à parte correspondente na ponte.
TECTO DO MESENCÉFALO
O tecto do mesencéfalo, nos mamíferos, é constituído de
quatro eminências, os colículos superiores (relacionados com os
órgãos da visão por meio dos corpos geniculados laterais do
diencéfalo) e os colículos inferiores (relacionados com a audição
por meio dos corpos geniculados mediais). Além deles, existe a
chamada área pré-tectal.
Colículo superior: é formado por uma série de camadas
superpostas constituídas alternadamente por substância
branca e cinzenta. Suas conexões são complexas,
destacando-se, entre elas:
Fibras oriundas da retina, que atingem o corpo geniculado lateral por meio do tracto óptico e por fim, por meio do
braço do colículo superior, chegam impulsos ao colículo superior.
Fibras oriundas do córtex occipital, que chegam ao colículo pela radiação óptica e braço do colículo superior.
Fibras que formam o tracto tecto-espinhal e terminam fazendo sinapse com neurônios motores da medula cervical.
OBS
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: O colículo superior é importante para certos reflexos que regulam o movimento dos olhos no sentido vertical. Para esta função,
existem fibras que ligam o colículo superior ao núcleo do nervo oculomotor, situado ventralmente no tegmento do mesencéfalo, bem
ao nível do colículo. Tumores do corpo pineal podem comprimir os colículos e causar a perda da capacidade de mover os olhos no
sentido vertical voluntária ou reflexamente.
Colículo inferior: constituído por uma massa bem delimitada de substância cinzenta, o núcleo do colículo inferior
(bilateralmente à substância cinzenta central). Esse núcleo recebe fibras auditivas dos núcleos cocleares que sobem pelo
lemnisco lateral e manda fibras ao corpo geniculado medial através do braço do colículo inferior. Algumas fibras cruzam de
um colículo para outro, formando a comissura do colículo inferior. Esse colículo é, portanto, um importante relé (interruptor de
seleção) das vias auditivas.
OBS
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: Não confundir lemnisco lateral (fibras que levam impulsos de núcleos cocleares da ponte ao colículo inferior) com lemnisco
medial (formado a partir das fibras arqueadas internas que derivam dos núcleos grácil e cuneiforme, ainda no bulbo). Devemos
perceber também que o braço do colículo superior é responsável por trazer informações do corpo geniculado lateral para o próprio
colículo. Enquanto que o braço do colículo inferior leva, do colículo inferior ao corpo geniculado medial, impulsos relacionados com a
via auditiva.
Área pré-tectal: também chamada de núcleo pré-tectal, é uma área de limites pouco definidos, situada na extremidade
rostral dos colículos superiores, no limite do mesencéfalo com o diencéfalo. Relaciona-se com o controle reflexo das pupilas
por se comunicar com o núcleo acessório do oculomotor (Edinger-Westphal) dos dois lados, estabelecendo conexões entre
eles e fibras oriundas da retina.
Arlindo Ugulino Netto.
NEUROANATOMIA 2016
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BASE DO PEDÚNCULO CEREBRAL
A base do pedúnculo é formada por fibras descendentes dos tractos córtico-espinhal, córtico-nuclear e córtico-pontino, que
formam um conjunto compacto nessa região (diferentemente do que ocorre quando estes passam na base da ponte). Em vista do
grande numero de fibras descendentes que percorrem a base dos pedúnculos cerebrais, lesões aí localizadas causam paralisias que
se manifestam do lado oposto da lesão.
SUBSTÂNCIA CINZENTA
SUBSTÂNCIA CINZENTA HOMÓLOGA (NÚCLEOS DOS NERVOS CRANIANOS)
No tegmento do mesencéfalo estão os núcleos dos pares cranianos III (oculomotor), IV (troclear) e V (trigêmeo). Desse
último, está apenas o núcleo do tracto mesencefálico, que continua da ponte e recebe informações proprioceptivas que entram pelo
nervo trigêmeo (informações estas que chegam, por exemplo, pelo nervo oftálmico, trazendo informações proprioceptivas da
conjuntiva do olho).
Núcleo do Nervo Troclear: situa-se ao nível do colículo inferior, em posição imediatamente ventral à substância cinzenta
central e dorsal ao fascículo longitudinal medial. Suas fibras saem de sua face dorsal, contornam lateralmente a substância
cinzenta central, cruzam (posteriormente a ela) e emergem na porção caudal do colículo inferior. Este nervo – o N. troclear
(IV) – apresenta, pois, duas peculiaridades: suas fibras são as únicas que saem da face dorsal do encéfalo e trata-se do
único nervo cujas fibras decussam antes de emergirem do sistema nervoso central. O nervo troclear inerva o músculo
oblíquo superior do olho.
Núcleo do Nervo Oculomotor (Complexo óculo-motor): localiza-se ao nível do colículo superior e aparece nos cortes
transversais em forma de V, estando intimamente relacionado com o fascículo longitudinal medial (com quem faz
comunicações com os outros nervos que controlam o bulbo ocular: IV e VI; e com o controle do movimento da cabeça: raiz
espinhal do nervo acessório). O complexo oculomotor pode ser funcionalmente dividido em uma parte somática e outra
visceral.
A parte somática contém neurônios motores responsáveis pela inervação dos músculos reto superior, reto inferior,
reto medial do olho e levantador da pálpebra. Na realidade, a parte somática do complexo oculomotor é constituída
de vários subnúcleos, cada um dos quais destina fibras motoras para inervação de um dos músculos acima
relacionados. Essas fibras – depois de um certo trajeto curvo em direção ventral, no qual muitas atravessam o
próprio núcleo rubro – emergem na fossa interpeduncular (no sulco medial do pedúnculo cerebral), constituindo o
nervo oculomotor.
A parte visceral do complexo oculomotor é chamado de núcleo de Edinger-Westphal. Esse núcleo contém
neurônios pré-ganglionares, cujas fibras fazem sinapses no gânglio ciliar e que estão relacionadas com a inervação
do músculo ciliar e músculo esfíncter da pupila, pertencendo então, ao sistema nervoso parassimpático.
SUBSTÂNCIA CINZENTA PRÓPRIA DO MESENCÉFALO
Nessa categoria, situam-se dois núcleos importantes, ambos relacionados com a atividade motora somática: o núcleo rubro
e a substância negra.
Núcleo Rubro (núcleo vermelho): é assim denominado em virtude da tonalidade ligeiramente rósea que apresenta nas
preparações a fresco. Cada núcleo rubro é abordado na sua extremidade caudal pelas fibras do pedúnculo cerebelar superior
que o envolve. Essas fibras vão penetrando no núcleo à medida que sobem, mas grande parte delas termina no tálamo. O
núcleo rubro participa do controle da motricidade somática. Recebe fibras do cerebelo e das áreas motoras do córtex
cerebral e dá origem ao tracto rubro-espinhal, através do qual influencia neurônios motores na medula, responsáveis pela
inervação da musculatura distal dos membros (realizando movimentos finos e delicados). O núcleo rubro liga-se também ao
complexo olivar inferior através das fibras rubro-olivares, que integram o circuito rubro-olivo-cerebelar.
Substância Negra: situada entre o tegmento e a base do pedúnculo cerebral, a substância negra é um núcleo compacto
formado por neurônios que apresentam a peculiaridade de conter inclusões de melanina (produto derivado da tirosina e
fenilalanina). Isso faz com que esse núcleo apresente nas preparações a fresco uma coloração escura. Uma característica
importante da maioria dos neurônios da substância negra é que eles utilizam como neurotransmissor a dopamina (também
derivada da tirosina e fenilalanina), ou seja, são neurônios dopaminérgicos. A substância negra faz conexões com o corpo
estriado, através das fibras nigro-estriatais e estriato-nigrais, sendo as primeiras dopaminérgicas. Degenerações dos
neurônios dopaminérgicos da substância negra casam uma diminuição de dopamina no corpo estriado, provocando as
graves perturbações motoras que caracterizam a chamada Síndrome de Parkinson.
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SUBSTÂNCIA BRANCA
Assim como na ponte, a maioria dos feixes de fibras descendentes do mesencéfalo não passa pelo tegmento, mas pela base
do pedúnculo cerebral, o qual já estudamos. Já as fibras ascendentes percorrem o tegmento e representam a continuação dos
segmentos que sobem da ponte: os quatro lemniscos e o pedúnculo cerebelar superior. Este, ao nível do colículo inferior, cruza com o
lado oposto na decussação do pedúnculo cerebelar superior e sobe envolvendo o núcleo rubro.
Ao nível do colículo inferior, os quatro lemniscos aparecem agrupados em uma só faixa na parte lateral do tegmento, em uma
sequência médio-lateral, se dispõem os lemniscos medial, espinhal, trigeminal e lateral. Este último, pertencente às vias auditivas,
termina no núcleo do colículo inferior, enquanto os demais sobem e aparecem ao nível do colículo superior em uma faixa disposta
lateralmente ao núcleo rubro. Nesse nível, nota-se também o braço do colículo inferior, cujas fibras sobem para terminar no corpo
geniculado medial.
Em toda extensão do tegmento mesencefálico, nota-se, próximo ao plano mediano, o fascículo longitudinal medial, que
constitui o feixe de associação do tronco encefálico.
CORRELAÇÕES CLÍNICAS
Lesões da base do pedúnculo cerebral (Síndrome de Weber)
Uma lesão da base do pedúnculo cerebral geralmente compromete o tracto córtico-espinhal e as fibras do nervo oculomotor.
Da lesão do nervo oculomotor, resultam os seguintes sintomas do mesmo lado da lesão:
Impossibilidade de mover o bulbo ocular para cima, para baixo ou em direção medial por paralisia dos músculos retos
superior, inferior e medial;
Diplopia: visualização de dois campos visuais distintos;
Desvio do bulbo ocular em direção lateral (estrabismo divergente), por ação do músculo reto lateral (inervado pelo N.
abducente) não contrabalanceada pelo reto medial;
Ptose palpebral (queda da pálpebra), decorrente da paralisia do músculo levantador da pálpebra;
Dilatação da pupila (midríase) por ação do músculo dilatador da pupila (inervado pelo SN simpático), não contrabalanceado
pelo M. constrictor da pupila cuja inervação parassimpática foi lesada.
Lesão do tegmento do mesencéfalo (Síndrome de Benedikt)
Uma lesão no tegmento do mesencéfalo pode facilmente acometer o nervo oculomotor, o núcleo rubro e os lemniscos
medial, espinhal e trigeminal, resultando nos sintomas descritos a seguir:
Lesão do oculomotor: estrabismo divergente;
Lesão dos lemniscos medial, espinhal e trigeminal: anestesia da metade oposta do corpo, inclusive da cabeça (por
acometimento do lemnisco trigeminal);
Lesão do núcleo rubro: tremores e movimentos anormais do lado oposto à lesão.