O documento descreve a rotina de uma família e o trabalho de uma enfermeira chamada Ana em um hospital. Ana tem dificuldades em sua vida pessoal, com seu marido cada vez mais ausente, mas encontra apoio em seu filho Luís. O documento também apresenta uma senhora chamada Raquel que visita o hospital diariamente para trazer conforto aos pacientes e funcionários.
1. LINHAS DO DESTINO
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A Deus, que me abençoa de várias formas.
A minha esposa, por todos esses anos de lutas.
A Nair, pela capa e incentivo.
A Sueli por ler meus rascunhos.
A todos, que contribuíram para um sonho virar realidade.
2. L.P.OWEN
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Capitulo 1
A ROTINA
O dia estava amanhecendo o movimento costumeiro de
todas as manhãs já era notado.
Enquanto Ana terminava de preparar a mesa para o café da
manhã, Luís colocava seu material escolar na bolsa.
Roberto, como sempre, estava pronto. O terno bem
alinhado. A camisa combinando com a gravata, os sapatos
limpos e engraxados, sem contar o perfume que exalava.
Da cozinha ouvia-se o ruído de mesa sendo arrumada e o
cheiro do café invadia o restante da casa.
- Querida, hoje meu dia vai ser corrido, terei reuniões e
devo chegar por volta das vinte horas - disse Roberto.
Ana e Luís nem se preocupavam em responder, porque
sabiam que chegaria muito mais tarde.
- Quantas matérias têm hoje meu filho? - Perguntou
Roberto.
3. LINHAS DO DESTINO
3
- Tenho cinco aulas - respondeu o garoto.
Luís sempre se questionava porque seu pai lhe perguntava
sobre seus afazeres se não tinha a menor intenção de ouvi-
lo. Sempre que iniciava a resposta seu pai já estava dando
um beijo de despedida em sua mãe, fechando a porta ao
sair.
Já fazia tempo que seu pai já não era mais o mesmo.
Lembrou-se do campinho que fizeram atrás da garagem. O
dia em que a grama fora colocada. A pintura das traves,
até o tempo de espera para que a grama fixasse no solo.
Apenas usado por duas ou três vezes.
Notou também que sua mãe já não desfrutava da
companhia do pai, que já estivesse acostumada não
ligando mais. No início chegou a ouvi-la chorar, mas o
tempo passou apenas via sua indiferença aumentar a cada
dia.
- Meu filho, você já terminou seu café? Estamos
atrasados!
4. L.P.OWEN
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Durante o trajeto, que durava aproximadamente 15
minutos até a escola, conversaram sobre vários assuntos.
Ana deixou Luís no portão de entrada da escola e seguiu
em direção ao centro da cidade a caminho do trabalho.
Não era nada fácil, mas gratificante. As pessoas de quem
cuidava estavam sofrendo, a única forma de aliviar suas
dores era tratá-las com muito carinho e respeito e isso ela
tinha de sobra.
No começo tinha pensado em desistir porque presenciara a
morte de um garoto. Pensou na dor da mãe e ficou muito
abalada.
Márcia, sua grande amiga, disse a ela que o melhor era
pensar nas pessoas que ela estava ajudando a salvar. Foi
por isso que Ana conseguiu superar essa fase.
Ana era uma mulher culta e de uma beleza que até
chegava a impressionar, seus cabelos castanho-escuros
contrastava com os olhos azuis em formato de amêndoa.
5. LINHAS DO DESTINO
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Com um corpo escultural, em seus 1,75m e 65kg, faziam-
na uma mulher admirada.
Sempre bem vestida com seu uniforme impecavelmente
limpo, com caimento perfeito, causava admiração em
todas as pessoas, até de suas colegas de trabalho.
Por mais que era admirada mantinha-se humilde, os
elogios não lhe subiam à cabeça.
Estudou enfermagem, uma de suas paixões. Quando
atendia algum enfermo sempre o fazia com muito carinho.
O sentimento de gratidão, que todos sentiam por ela, era
enorme.
Após trinta minutos dirigindo chegou finalmente no
estacionamento reservado para os funcionários do
hospital. Como sempre, cumprimentou o porteiro seu José
com seu sorriso contagiante.
Na sala reservada às enfermeiras, Márcia encontrou a
enfermeira Chefe, que a cumprimentou e imediatamente
6. L.P.OWEN
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entregou-lhe uma prancheta com os prontuários dos
enfermos que seriam medicados.
Normalmente tinham uma breve conversa, mas, neste dia,
o hospital estava com um volume de internações e
emergências muito elevado e não tiveram tempo nem
mesmo para um pequeno diálogo.
No corredor viu acompanhantes que choravam, outros que
andavam de um lado para o outro, não conseguindo
esconder a expectativa de alguma notícia do estado de
saúde de seus entes.
Nesse momento pedia a Deus que a ajudasse a diminuir o
sofrimento de seus semelhantes. Pedia forças para suportar
todas as dificuldades daquele dia.
Entrou no quarto do 1º paciente do dia para verificação de
rotina, era um garoto com oito anos de idade, que quebrou
o braço e permanecia em observação. Tinha caído de uma
altura de 3 metros ao subir em uma árvore para salvar seu
gato.
7. LINHAS DO DESTINO
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- Bom dia! - Disse sorrindo - Como está se sentindo Caio?
- Mais ou menos, estou com um pouco de dor. Quem é
você?
- Meu nome é Ana, vou cuidar de você e se precisar de
alguma coisa é só apertar esse botão ao seu lado e virei o
mais rápido que puder.
- Agora te darei um remédio para diminuir a dor. - Falou
sorrindo.
Enquanto preparava a medicação aproveitou para
conversar e distraí-lo um pouco.
- Você tem irmão?
- Só tenho uma irmã e o seu nome é Sara. Ela tem três
anos.
- Você ajuda a mamãe a cuidar dela?
- Às vezes sim, mas ela fica mais com minha mãe. –
Tomou o remédio fazendo uma careta de nojo.
- Prontinho Caio! Daqui a pouco o remédio fará efeito e a
dor vai sumir. Logo você estará bonzinho.
8. L.P.OWEN
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Neste momento no alto-falante, ouviu seu nome sendo
chamado. Sua presença era solicitada na sala de
emergências.
Ana despede-se de Caio e imediatamente sai para atender
ao chamado.
Quando chega, o ambiente que encontra é parecido com
um campo de guerra, um verdadeiro caos. Médicos e
enfermeiras se dividiram em equipes para atenderem
algumas pessoas envolvidas em um acidente grave entre
dois ônibus e três automóveis. Os feridos chegavam a todo
o momento.
Mal entrou na sala e o doutor Félix imediatamente
solicitou seu auxílio para atender uma garota que
apresentava pequenos cortes na cabeça, braço direito com
fratura exposta e perna esquerda também com fratura.
Estava em estado de choque e os médicos se desdobravam
para estabilizá-la.
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9
Olhou para a garota, viu um rosto com feições delicadas.
Apesar de estar suja de sangue, com alguns hematomas,
não pode deixar de perceber que era apenas uma
adolescente.
Assim que encostou junto à maca onde se encontrava a
garota, tomou as providências necessárias e iniciou o
atendimento com a atenção voltada a tudo que o doutor
Félix dizia.
Executava com grande perícia todos os procedimentos,
tinha tanto amor pela profissão e o fazia com muita
competência. À medida que o paciente era atendido
imediatamente a equipe se ocupava de outros casos menos
graves.
Após doze horas de trabalho intenso, com um sorriso nos
lábios pensou como a equipe fizera um ótimo trabalho.
Agora poderiam ir para casa com a sensação de dever
cumprido.
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Estava exausta de tanto ficar em pé, não via a hora de
chegar e tomar um banho de imersão. Enquanto fazia o
trajeto de volta, procurava se desligar de tanto sofrimento
pelos quais tantas pessoas estavam passando no hospital,
ouvindo um pouco de música.
Para relaxar gostava de ouvir músicas clássicas, elas
tinham o poder de transformar e transportar seus
pensamentos, aliviando suas tensões.
Ao chegar a casa, situada num bairro tranquilo, com ruas
arborizadas, calçadas gramadas, sem muros em volta, com
apenas roseiras e jardins bem cuidados dividindo os
terrenos. Subiu a escada em direção ao quarto de Luís,
como sempre fazia. Quando o beijou ouviu a pergunta de
sempre.
- Mamãe! Trouxe alguma surpresa?
- Não tive tempo de sair. Você poderia ao menos
perguntar como foi meu dia.
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- Está bem mamãe. Como foi seu dia? - Perguntou
sorrindo.
- Foi muito cansativo, mas compensador porque
conseguimos salvar muitas pessoas. Como foi o seu dia
filho?
- Tirando a escola foi tudo bom. – Respondeu como todos
os dias.
- Não diga isso filho é maravilhoso estudar e você vai
precisar dos estudos mais tarde para poder ter um bom
trabalho.
- Você estudou tanto e agora trabalha muito.
Ana não sabia o que responder estava exausta e Luís tinha
alguma razão, porque não davam atenção suficiente para
ele. De alguma maneira, estava influenciando em sua
educação.
Pediu um momento para o filho e foi tomar um banho. No
ambiente hospitalar existem diversos tipos de
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contaminação, apesar do uso de roupas diferentes, não
gostava de ficar muito tempo sem o banho.
Luís estava acostumado e esperou pacientemente.
Quando terminou, Ana sentou-se ao lado do filho. A
conversa foi iniciada com muita tranquilidade e franqueza.
- Meu filho! Disse com voz suave. Você tem toda razão de
reclamar, de dizer que não tem nossa atenção, que
trabalhamos muito e não conversamos o suficiente.
Precisamos mudar essa situação, então vamos por mão na
massa. A partir de agora, vamos nos falar mais, nem que
seja via tambor, ou fumaça. – Disse sorrindo.
Os dois riram um pouco, quando pararam, se abraçaram
permanecendo assim por longo tempo. Os únicos barulhos
que se ouvia eram de suas respirações e corações.
Fazia muito tempo que não se abraçavam assim. Luís
quebrou o silêncio.
- Sabe mamãe, eu te amo tanto. – Enquanto falava
apertava o abraço.
13. LINHAS DO DESTINO
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Aquelas palavras foram como alento para a alma de Ana
fazendo lágrimas rolar. Desejou responder, mas não
conseguiu, apenas abraçou-o mais forte.
- Sei que você esta passando por um momento delicado. –
Disse ele. - Papai não quer mais vir para casa só fica
arrumando desculpas. Estarei com você para o que
precisar. Seu trabalho é muito desgastante, mas não tem
problema, por mais difícil que seja teu dia e tudo pareça
difícil, estarei esperando.
Ana não aguentou, por mais forte que gostaria de
aparentar, não conseguiu segurar a emoção e chorou.
Mesmo sendo apenas um garoto com seus 14 anos, sentiu-
se segura e amada nos braços de seu filho.
Naquela noite nem viu a hora que seu marido chegou, mas
não deu importância, estava feliz porque tivera momentos
inesquecíveis com seu filho.
Na manhã seguinte Ana levantou-se, como de costume no
mesmo horário, tomou seu banho e preparou-se para ir
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trabalhar. Enquanto se maquiava, Roberto despediu-se e
saiu.
Quando descobriu que Luís, desta vez, estava preparando
seu café, apressou-se em descer para aproveitar esse
momento com o filho.
A mesa estava posta com muito carinho, apenas duas
xícaras colocadas, sorriu e aproveitou para conversarem.
Os assuntos foram variados, a conversa prolongou-se até a
porta do colégio. Despediram-se com um beijo e Ana
seguiu para um novo dia de trabalho. Feliz, sentia-se uma
nova mulher.
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Capitulo dois
UM ANJO NA TERRA
Dona Raquel, expressão serena, olhos castanhos-escuros
de brilho intenso e cabelos castanhos. Uma senhora de
aparência bondosa e gestos delicados. Todos os dias ela
passava pelo hospital para visitar as pessoas que lá
estavam.
Os funcionários conheciam e respeitavam seu trabalho.
Raquel sempre com uma palavra de amor e esperança para
quem às vezes não tinha e não esperava mais nada.
Como sempre, chegou com seu jeito calmo
cumprimentando todos como se fossem seus filhos, por
instinto, ela sabia quem mais precisava de uma palavra de
apoio.
- Bom dia dona Raquel, como a senhora está? - Perguntou
Márcia.
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- Estou bem minha querida. Você como está? –
Retribuindo o sorriso.
- Tudo ótimo. Graças a Deus. – Respondeu sem muita
convicção.
- Sabe minha querida. - Iniciou dona Raquel com seu jeito
especial - Muitas vezes acordamos com a sensação de que
não fizemos e não demos o melhor de nós. Ficamos
remoendo esse sentimento e não dividimos o fardo com
ninguém. Com o tempo ele fica tão pesado que mal
conseguimos suportá-lo. Digo com sinceridade, damos
apenas o que temos no momento e isso é o nosso melhor.
Sem saber como nem por que Márcia percebeu que dona
Raquel estava dizendo algo que há muito a fazia sofrer.
Quando se aproximou, abraçou-a com ternura e começou a
chorar desesperadamente.
- Sei que você fez o melhor que podia. - Disse com voz
doce. - Não precisa culpar-se. Tenho a certeza absoluta,
quando vejo o quanto se dedica aos enfermos daqui.
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Portanto, pare de culpar-se. Continue fazendo o seu
melhor, mesmo que você não ache, o importante é que o
Papai do céu sabe que sim. – Antes de seguir seu caminho
completou. - Pode acreditar sou sua fã incondicional.
Aquelas palavras aliviaram o peso que Márcia estava
carregando há algum tempo.
Como sempre fazia, Raquel passou pela capela do
hospital, fez sua oração. Enquanto estava lá aproveitou
para agradecer e pedir novas graças para os enfermos.
Certa vez alguém lhe perguntou por que ela frequentava
tanto a capela. Respondeu apenas que fazia vários pedidos
para os enfermos. - Com um sorriso franco disse: - Eu
peço a Deus. Ele sabe que não tenho como pagar, mas
assim mesmo Ele sempre me atende. Volto para
agradecer.
Depois de alguns instantes levantou-se e foi cuidar dos
pacientes.
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Andando pelo corredor viu um homem sentado num
banco da sala reservada aos pacientes, que aguardavam
para internação. Foi em sua direção, ao chegar mais perto
disse sorrindo.
- Em que posso ajudar?
Carlos nem olhou para ela, apenas respondeu que ninguém
poderia ajudá-lo.
Raquel não era de desistir facilmente. Apesar da frieza
com que foi recebida, sentou-se ao seu lado e ali ficou
quieta. Imóvel como uma estátua.
Carlos - um homenzarrão - vendo que aquela pequena
senhora não estava disposta a desistir olhou para o lado e
resolveu conversar um pouco.
- Como a senhora se chama? - Perguntou ainda meio sem
jeito para conversar.
- Meu nome é Raquel e o seu?
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- O meu é Carlos. - Respondeu ainda meio desconfiado se
aquela mulher frágil pudesse resolver seu problema. “-
Quem ela pensa que é?” – Pensou.
Raquel não hesitou, falou com firmeza, porem com muito
carinho.
- Sei o que está pensando - Disse sorrindo.
- Se sabe então me diga? - Desafiou Carlos ainda amargo.
- O que essa mulher pode fazer por mim? - Disse ela
calmamente.
Mesmo sentindo o espanto de Carlos, continuou com o
monólogo sem olhar para seu interlocutor.
- Venho aqui todos os dias, conheci e a cada novo dia
conheço mais pessoas, cada uma com problema maior que
o do outro. Quando penso ter encontrado o maior
problema de todos, dou alguns passos, não demora muito,
acabo por conhecer um problema ainda maior.
Virando-se para Carlos e com a voz doce continuou.
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- Talvez o seu problema seja maior do que o que vi
ontem. – Continuou sua narração.
- Ao chegar aqui fiquei sabendo do caso do garoto
Gabriel, que está em coma devido a um atropelamento que
sofreu. – Carlos ouvia olhando para o chão, mas atento.
- Há suspeitas de estar paralítico. O que é pior, quando sair
do hospital, não tem ninguém que possa cuidar dele. –
Raquel falava tranquilamente.
- Tudo aconteceu porque o pai tinha ciúmes de sua mãe,
ao invés de ir trabalhar, ficou de tocaia aguardando que
algum homem viesse ao encontro de sua esposa.
- Não apareceu ninguém, porque não havia quem viesse
visitá-la. Ele entrou na casa interrogando-a, como não
conseguiu uma confissão matou sua amada em seguida se
matou.
- Quando o garoto soube do ocorrido fugiu da escola e foi
em disparada para casa. Ao atravessar a rua foi pego por
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um carro que estava em alta velocidade. - Não esperou
comentário algum somente continuou sua narrativa.
- Desculpe-me por incomodá-lo com o problema do
garoto, o senhor já tem a sua cruz, que também deve ser
pesada para ser carregada. – Finalizou - Ao invés de
ajudá-lo sou eu quem está desabafando.
Depois ficou calada novamente, como se já soubesse,
sentiu a mão de Carlos tocar na sua e o pedido de perdão
por ter sido tão rude.
Ela simplesmente ergueu a mão de Carlos, deu um beijo e
disse: - Fique com Deus. – Saiu tranquilamente.
Carlos ficou sentado por alguns instantes pensando no que
tinha acontecido, sobre seus problemas, agora com a saúde
precisando de cuidados, devido aos vários abusos
cometidos durante a sua vida, ficaria internado sem
previsão para sua alta.
A situação no trabalho ficou difícil com o agravamento de
seu quadro clínico resultando no seu afastamento.
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Sua esposa Olga fazia de tudo para ajudar no
orçamento, trabalhava como diarista, por vezes cozinhava,
lavava e passava para fora. Assim obtinha algum dinheiro
extra que servia para complementar o orçamento.
Estava tão mergulhado em seus pensamentos que não
notou a enfermeira e o enfermeiro à sua frente para levá-lo
para seu quarto onde ficaria internado para o tratamento.
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Capitulo três
UM NOVO RUMO
Ana pediu para Carlos sentar-se na cadeira de roda para
ser conduzido ao quarto. Nesse momento ele fez seu
pedido a Deus, para que o amparasse. Sem que Carlos
soubesse, Deus já tinha mandado seus Anjos para cuidar
dele.
Depois de acomodá-lo no quarto, Ana foi à sala de preparo
e iniciou os procedimentos de pré-operatório prescrito,
pelo médico, para o senhor Carlos.
Quando se preparava para retornar ao quarto de Carlos seu
telefone tocou.
- Alô – atendeu enquanto ajeitava tudo na bandeja.
- Tudo bem? – Quis saber Roberto.
- O que você quer? – Perguntou, mas tinha ideia sobre o
assunto.
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- Está ocupada? – A pergunta que sempre fazia para
poder ser breve.
- Sempre estou ocupada, você sabe disso, diga o que quer,
tenho um paciente para medicar.
- Gostaria de almoçar com você hoje, posso passar por aí?
Ana já sabia o que ele pretendia e concordou. Sua vontade
era acertar tudo o mais rápido possível.
Desligou o aparelho e ficou pensando por alguns instantes,
sabia que seria inevitável. Sentiu apenas alívio, voltou a
concentrar-se no trabalho e foi medicar Carlos.
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Capitulo quatro
UMA LINHA TÊNUE
No CTI Gabriel lutava por sua sobrevivência. Os
encarregados de seu tratamento estavam empenhados em
salvá-lo, para tanto, não mediam esforços. Quando ocorria
uma melhora no quadro clinico, por menor que fosse todos
vibravam.
Ao passar pelo CTI, Raquel, antes de entrar, vestiu a roupa
especial para ser utilizada no local e entrou. Em todos os
leitos fez suas preces. Disse algumas palavras de
esperança para cada um dos enfermos, mesmo para os que
estavam inconscientes e não poderiam ouvi-la.
Viu o leito agora vazio, onde há pouco tempo era ocupado
por um homem que lutara bravamente pela vida, mas
acabou falecendo. Lembrou-se e sentiu saudades do
grande guerreiro que dirigiu a ela as últimas palavras -
“obrigado por ter sido meu anjo durante esse tempo”.
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No leito de Gabriel, parou por mais tempo, segurou sua
mão e ficou assim por algum tempo fazendo suas preces
mentalmente. Antes de sair falou: - “Vamos Gabriel, já é
hora de acordar estamos esperando para cuidar de você”.
Saiu, foi visitar os que estavam nos quartos e enfermarias.
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Capitulo cinco
UM SUSTO
À hora do almoço Ana retirou seu avental e foi em direção
ao estacionamento para aguardar a chegada de Roberto. O
tempo passou como de costume, ele não apareceu.
Mesmo acostumada com seus atrasos resolveu ligar para
saber o motivo, mas não foi atendida. Seu horário já
estava esgotando. Resolveu tomar um lanche e voltar ao
trabalho.
Durante a tarde ligou varias vezes sem sucesso. Quando
tinha desistido, recebeu um recado sobre o acidente que
Roberto tinha sofrido e o hospital onde se encontrava
internado, mas foi informada de que passava bem.
Foi ao encontro de Márcia no final da tarde e pediu
autorização para ir até o hospital visitar seu marido.
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Capitulo seis
NOVO AMIGO
Antes de ir embora dona Raquel aproveitou para passar no
quarto do senhor Carlos encontrou um homem
completamente diferente daquele de algum tempo atrás.
Conversaram sobre vários assuntos e ela pôde conhecê-lo
melhor e passar a admirá-lo.
Quando se despediu teve a certeza de ter encontrado um
novo amigo.
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Capítulo sete
DESILUSÃO
Quando Ana chegou ao hospital para visitar Roberto, foi
ao quarto indicado. Acabou sendo recebida por uma garota
aparentemente muito mais nova que ela, que ao vê-la
vestida de branco, achou tratar - se de uma funcionária do
hospital.
Ao ser apresentada, a garota percebeu que era hora de
deixar os dois a sós para conversarem e saiu. Ana portou-
se como se não tivesse notado a presença de Lívia.
- Você está precisando de algo? - Perguntou Ana.
- Estou bem! Obrigado. - Disse sem jeito.
- Queria ter conversado antes com você - disse ele -
infelizmente ocorreu o acidente e não deu para
almoçarmos e esclarecer nossa situação.
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- Há quanto tempo vocês estão juntos? – Perguntou
sentindo vontade de quebrar-lhe o pescoço, mas mantendo
o controle.
- Faz algum tempo, um ano aproximadamente – respondeu
sem graça.
- Já tinha uma ideia da situação – disse ela com
tranquilidade.
- Vim somente saber como está para dizer ao Luís quando
chegar a casa. - Continuou como se falasse para um
estranho.
- Você está sendo bem cuidado. Quando estiver em
condições pode pedir o divórcio, assim acertamos tudo.
Saiu dali com vontade de chorar, tinha raiva, queria tê-lo
estrangulado com o tubo do soro ou dar-lhe uma injeção
para aumentar a dor.
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Capítulo oito
A NOTÍCIA
Luís fazia suas tarefas. Ficou surpreso quando viu sua mãe
chegando naquele horário.
- O que aconteceu mamãe? – Perguntou enquanto dava um
beijo de boas vindas.
- Tenho algo muito importante para falar com você,
gostaria que prestasse atenção – falou tranquilamente.
- Está certo que combinamos nos falar mais, mas não
precisa exagerar - disse Luís para alegrar mais o ambiente.
Quando viu que sua mãe não sorriu de sua piada percebeu
que o caso era mais serio do que imaginava, atendeu
imediatamente.
- Você sabe que o relacionamento entre mim e seu pai faz
algum tempo que não está bem. Hoje cedo ele ligou para
almoçarmos juntos, mas não apareceu. Quando cheguei de
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volta ao hospital fui informada que ele havia sofrido um
acidente e estava internado, mas não corria perigo.
- O almoço que teríamos seria para acertarmos nossa
situação e separarmos definitivamente.
- Sei que você ama seu pai e acho maravilhoso, não vou
ficar entre você e ele, mas vamos nos divorciar e espero
que compreenda.
Luís ouviu sua mãe com muita atenção. Já imaginava que
isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, porque fazia
muito tempo que seus pais não se beijavam de verdade.
Não demonstravam qualquer sentimento de carinho um
pelo outro. Era só aparência.
- Já esperava isso a qualquer momento. – Disse
demonstrando maturidade. - Entendo sua posição, mesmo
assim gostaria de ter uma conversa com ele para
acertarmos algumas coisas. Poderia levar-me para visitá-
lo?
33. LINHAS DO DESTINO
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Ana concordou. Deu-lhe um beijo e antes de deixar o
quarto e entrar no banho ouviu:
- Tenho uma coisa para falar com a senhora - disse Luís
aproveitando o momento.
Sua mãe apenas olhou para ele e aguardou.
- Sabe mamãe – iniciou preparando o caminho para fazer
o pedido - meu amigo Francisco tem uma cachorra. Ela
teve cria de seis filhotes...
- Ele te ofereceu um. - Interrompeu Ana.
- Disse-lhe que pediria sua permissão e depois falaria com
ele. – Deu uma pausa criando coragem. - Posso ficar com
um?
Luís ficava em casa sozinho, ela achou interessante ter
uma companhia, mas antes de dar permissão fez algumas
objeções.
- Então vamos definir algumas obrigações. – Sorrindo
continuou.
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- Você será responsável por todos os cuidados, banho,
comida, limpeza da sujeira que ele fizer, dos passeios e
etc. – Disse para terminar.
- Ele será sua responsabilidade. Combinado?
Luís respondeu afirmativamente. Ana perguntou quanto
custaria.
- Será um presente – Luís respondeu sorrindo.
- Qual a raça dele? - Perguntou ela.
- É um Lavrador, tenho certeza de que a senhora vai gostar
- respondeu Luís ao abraçá-la.
Mais tarde conversaram por um bom tempo sobre onde
ficaria a casinha, que nome seria dado.
Apesar da separação eminente, ninguém estava
preocupado ou sentindo a falta de Roberto.
Combinaram para o final de semana a compra do material
necessário para o conforto do animal.
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O dia amanheceu bonito, o outono estava chegando ao
final. Apesar de ensolarado, a temperatura estava muito
agradável.
Os dois acordaram dispostos, saíram cedo para iniciarem
uma nova jornada.
- Levarei você na hora do almoço ao hospital onde seu pai
está depois você me liga para buscá-lo no término do meu
turno. - Disse antes de deixá-lo na escola e sair para o
trabalho.
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Capítulo nove
OUTRO DIA
Ana foi para o trabalho, o trânsito, como sempre, muito
intenso. As pessoas com os nervos à flor da pele e o dia
ainda estava no início.
Ela sabia que o ambiente hospitalar também é muito
estressante. Procurava melhorar seu ânimo antes de chegar
ao trabalho, para isso, a música clássica era excelente.
Ao chegar encontrou dona Raquel, as duas seguiram
conversando. O tema foi sobre o garoto Gabriel.
- Fiz uma visita ao garoto Gabriel e apesar de ainda estar
inconsciente, tenho a certeza de que logo estará recebendo
alta. – Disse Raquel com seu entusiasmo habitual.
- Também estou torcendo muito por ele. – Ana não pôde
deixar de se lembrar de Luís. - Acredito que logo estará de
alta.
37. LINHAS DO DESTINO
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As duas entraram no hospital. Raquel foi para a capela
fazer suas orações, Ana seguiu para a sala de enfermagem.
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Capítulo dez
O PASSADO
Ana foi em direção ao seu setor verificar os prontuários
médicos dos pacientes e iniciou pelo quarto 32.
Preparou os medicamentos indicados para o paciente e foi
em direção ao quarto indicado.
- Bom dia! - Disse Ana com um sorriso nos lábios.
- Bom dia! - Respondeu Carlos.
- Como está se sentindo hoje senhor Carlos?
- Estou melhor graças a Deus, mas vou sentir ainda mais
quando sair daqui, apesar de ser cuidado por uma bela
princesa. Contarei para o pessoal só para deixá-los
morrendo de inveja, vai ser ótimo. - Riu como uma
criança.
Carlos devia ter a idade de seu pai. Ana, ao ser chamada
de princesa lembrou-se dele e uma saudade tomou conta
de seu coração.
39. LINHAS DO DESTINO
39
Fazia uns cinco anos desde que falecera e desde então sua
mãe se mudara para o interior próximo ao seu irmão.
Raramente viam-se. Nem nos aniversários de Luís teve a
presença da mãe. Havia algo a ser resolvido por elas, mas
não sabia exatamente o que seria.
Desde pequena essa divisão em sua casa podia ser notada,
sua mãe sempre preocupada com o seu irmão e seu pai
fazia dela o seu xodó, nunca entendeu porque isso
aconteceu.
- “Talvez porque seus pais não estavam mais se
entendendo e para se agredirem cada um escolheu um
filho para servir de pretexto”. - Pensou.
Até algum tempo antes do falecimento de seu pai Ana e
seu irmão se davam bem, mas aos poucos sua mãe fez
com que seu irmão se afastasse. Através de chantagens
emocionais conseguiu transformá-lo em seu escravo.
Ao voltar à realidade olhou para seu Carlos e sentiu que
estava preocupado com ela.
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40
- O senhor fez lembrar-me de alguém muito importante.
- Disse Ana para deixá-lo mais tranquilo.
- Quem era essa pessoa importante? - Perguntou em tom
muito carinhoso.
- Meu pai. Ele costumava chamar-me de minha princesa,
foi por isso.
- Conte-me; como era ele?
- Era um homem bom, sempre sorrindo não importava o
que estivesse acontecendo, por isso não tinha rugas –
sorriu - dizia que sorria para economizar alguns músculos.
-Trabalhou muito para dar educação e sustento para mim e
meu irmão. Alguns anos atrás ele faleceu. Mas não é hora
de pensar em coisas tristes. O senhor vai ser operado, logo
vai ter alta. - Disse Ana com tanto entusiasmo que
contagiou Carlos.
- Gostaria que você conhecesse minhas três filhas.
Carmem a mais velha, Débora a do meio e Sílvia a mais
nova. A mais velha tem 23 anos, 15 e 13. Meu sonho era
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ter um filho, mas vieram três mulheres, então torci para ter
um neto e ganhei uma neta. Pode você acreditar nisso? -
Disse sorrindo. – Nasci para estar rodeado de mulheres.
Repentinamente voltou a ficar tenso.
- O que houve senhor Carlos? – Perguntou
carinhosamente.
- Não é nada apenas um pouco preocupado com a cirurgia
que vou fazer, preferiria ser o médico agora. - Os dois
riram novamente.
- Vou ficar bem, quero visitar o Gabriel quando puder dar
minhas voltas. - Sabe minha querida – Disse
confidenciando. - Quando vim para ser internado, estava
desesperado. Fiquei sabendo sobre o caso dele através de
dona Raquel que para me amparar mostrou que outros
tinham problemas e alguns bem maiores que o meu. Então
pedi a Deus por ele.
- Realmente dona Raquel é uma mulher maravilhosa com
quem adoro conversar, de ficar ao seu lado. Todos aqui a
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conhecem e a adoram. - Disse Ana com muita
admiração – Tenho certeza de que Deus ouviu suas
orações.
- Quem ela é, onde mora? – Perguntou Carlos.
Ana achou esta a mais difícil de todas as perguntas.
- Para ser sincera não posso responder, por incrível que
pareça, sempre conversamos sobre o pessoal de quem
cuidamos. No fim esquecemo-nos de perguntar essas
coisas – respondeu pensativa.
Ana ficou estarrecida por ter descoberto, somente agora,
algo tão importante. Conhecia dona Raquel há algum
tempo, conversava com ela várias vezes por semana, mas
não sabia praticamente nada sobre ela.
- Será que tem parente? - Disse Carlos em tom sério.
- Não sei. - Respondeu com um sentimento de culpa por
nunca tê-la convidado para um almoço.
Despediu-se de Carlos desejando-lhe sorte e saiu.
43. LINHAS DO DESTINO
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Capítulo onze
A LEMBRANÇA
Ao sair pensou em procurá-la e descobrir algo sobre ela,
onde morava, se tinha parentes enfim o que pudesse.
- Quantas pessoas passam por nossas vidas – pensou Ana
– e não sabemos nada sobre elas, sobre suas necessidades,
seus sonhos, medos, suas paixões, seus problemas.
Simplesmente não sabemos se apenas um abraço é o
suficiente para melhorar sua vida.
Lembrou-se de algo que vira na televisão sobre a
procissão do Sírio de Nazaré, aonde uma multidão vinha
segurando numa corda enorme que se estendia a partir do
Sírio de Nazaré. Cada fiel se desdobrava para segurar-se
nela. A multidão era tão grande que se compactavam
parecendo um bloco único de pessoas. Todos os que
porventura iam perdendo as forças e caiam exaustos pelo
caminho, eram imediatamente seguros pelos que estavam
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em melhores condições físicas. Nenhum era deixado
para traz num gesto de solidariedade e amor ao próximo.
- Quem sabe se nossa caminhada não é como essa corda
que segue o Sírio de Nazaré - pensou Ana -. Quem sabe os
que se aproximam de nós não são os que deveremos
segurar ou sermos seguros por eles. – Seguiu seu trabalho
pensando no assunto.
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Capitulo doze
UM OMBRO AMIGO
Ao retornar a sala de preparo de medicação encontrou
Márcia e percebeu que algo estava errado.
Márcia estava no canto, quando Ana chegou perto, tocou
em seu ombro, ela não conseguiu segurar e chorou.
Ana não disse nada apenas abraçou-a. Ficou calada ao seu
lado até que tivesse condições de dizer algo.
Depois de alguns minutos conseguiu acalmar-se e
conversar sobe o que acontecera.
- Você está melhor? - Perguntou Ana.
- Já passou. Obrigada por compreender.
- Sem problemas. Se precisar de algo que possa fazer é só
avisar.
- Obrigada já estou melhor. - Disse terminando de enxugar
as lágrimas.
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Ana notou que ela tinha um papel na mão, reconheceu
ser o resultado de um exame utilizado no hospital, mas
não fez comentário algum. Esperou que Márcia tomasse a
iniciativa de contar.
O silencio foi curto Márcia resolveu desabafar.
- Hoje recebi o resultado dos exames. Vou fazer uma
cirurgia para retirada de um nódulo no seio. O doutor
Guilherme disse que após a cirurgia vai fazer biopsia.
- Quando será a cirurgia?
- A internação será hoje à tarde. Provavelmente amanhã
cedo a cirurgia. Tudo vai depender dos resultados dos
exames.
- O que posso fazer por você?
- Se puder cuidar de mim durante seu turno ficaria muito
grata.
- Vou cuidar de você, pode estar certa disso. - Disse Ana
sorrindo.
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As duas ficaram conversando por algum tempo. Márcia
fez algumas confidências à Ana.
- Tenho um sonho de fazer uma viagem pela Itália para
conhecer a terra de meus ancestrais. Fiz algumas
economias para um curso e aprender a língua, até
pesquisei sobre os costumes, museus e as cidades que
pretendo visitar como Verona, Bérgamo entre outras.
Agora vou ter que adiar um pouco.
- Calma! Não fez a cirurgia e pensa em desistir da
viagem? – Disse Ana para dar ânimo à amiga. - Afinal
quantas pessoas que estavam em situações de muita
dificuldade, acabaram dando a volta por cima? - Você
mesma cuidou de muitas delas. - Completou – Então,
fique tranquilas que vai dar tudo certo.
Márcia e Ana estiveram unidas antes para tratar de pessoas
que precisavam de cuidados. Revezavam-se para que o
paciente não ficasse um minuto sem atendimento. Assim
puderam salvar muitas pessoas. Em várias ocasiões
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receberam demonstrações de carinho daqueles que um
dia necessitaram dos seus carinhos.
Algumas pessoas já tinham perguntado sobre o grau de
parentesco das duas, elas respondiam: - Apenas carne e
unha.
49. LINHAS DO DESTINO
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Capitulo treze
HORA DA VISITA
Luís estava à porta da escola quando Ana chegou.
- Como foi sua manhã mamãe? – Perguntou sorridente. -
Boa e a sua? Teve prova? Foi bem? – Antes que pudesse
fazer outra pergunta Luís respondeu.
- Deixa responder somente trinta e cinco perguntas por
vez. - Disse sorrindo.
- Desculpe-me. Vamos comer algo antes de irmos visitar
seu pai, porque depois não vai dar tempo. A Márcia
mandou um beijo pra você. – Completou.
- Obrigado! Como está ela?
- Hoje ficou sabendo que tem nódulo no seio, amanhã será
operada. Esta ansiosa.
- Vai dar tudo certo, tenho certeza de que ela vai dar a
volta por cima rapidinho.
- Deus te ouça Luís.
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Os dois entraram no restaurante. Luís pediu um lanche
natural e um suco de laranja, Ana gostou da ideia e
resolveu fazer o mesmo pedido.
Depois do lanche foram para o hospital. Ao chegarem,
receberam o cartão para visitantes.
- Agora é com você. Vou retornar para o trabalho,
qualquer problema é só ligar.
Deu um beijo no filho e saiu.
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Capitulo catorze
O FILHO CRESCEU
Roberto ao ver seu filho ficou contente. Perguntou como
estavam as coisas.
- Está tudo ótimo. - Falou com tranquilidade.
- Como você chegou aqui?
- Minha mãe me trouxe. Como você está? - Perguntou
Luís.
- Estou bem!
Roberto aproveitou para apresentar Lívia, sua namorada.
Comentou sobre o encontro que teve com Ana para
esclarecer a situação do casal.
Os dois ficaram conversando por longo tempo, Luís
aproveitou para resolver como seria o relacionamento
entre eles após a separação.
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Falou sobre o amor que sentia pelo pai, mas também
sobre a intenção de morar com sua mãe. Disse que não
teria problema algum para visitá-lo quando quisesse.
Roberto explicou tudo a respeito do relacionamento entre
ele e Ana. Falou sobre quando conheceu Lívia e se
apaixonou por ela.
- Eu e sua mãe merecemos uma nova chance de voltarmos
a ser felizes.
Luís apesar da pouca idade era um garoto maduro, fazia
algumas colocações que deixava os mais velhos de boca
aberta.
- Não quero julgar nada, desejo que vocês sejam felizes.
Para ser sincero, hoje foi o dia que mais tempo
conversando. – Sorriu e disse: - Quando quiser visitar-me
é só aparecer.
Luís ficou até o final do horário de visita. Quando se
despediram, seu pai abraçou-o e fez promessa de que as
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visitas seriam constantes. Seriam mais amigos do que
antes.
Mais uma vez Luís lembrou-se das manhãs quando seu pai
perguntava sobre sua vida, mas não escutava a resposta.
Agora era ele quem estava de saída.
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Capitulo quinze
AMIZADE
Raquel aproximou-se do leito de Gabriel e perguntou,
sabendo que não teria nenhuma resposta, mas isso não
importava:
- Como está meu garoto? - Sem esperar continuou.
- Está melhorando a cada dia. Logo você poderá
responder-me.
- Sei que é difícil. Tudo está tão confuso pra você, mas
quando voltar ficará tudo bem, estarei aqui para te ajudar.
Assim passava seus momentos, encorajando aqueles que
precisavam de apoio.
Todos tinham uma grande admiração por Raquel, mas não
faziam ideia de sua vida particular.
Quando chegava aos lugares, as pessoas logo notavam sua
presença, não pela aparência, mas pela paz, tranquilidade e
alegria de viver que transmitia.
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Seu semblante tinha uma luz própria e os olhos castanhos
possuíam um brilho que só os sonhadores possuem.
Apesar das marcas do tempo, seu rosto mantinha os traços
da juventude, de formato alongado, nariz levemente
arrebitado e os lábios bem definidos que fazia mais belo o
seu sorriso.
Certa vez alguém lhe perguntou como ela era quando mais
nova e como resposta apenas disse: “Mais jovem”.
De humor maravilhoso, por mais que a situação fosse
estressante não perdia a fibra e a delicadeza, tratando
todos com igualdade, mas com firmeza quando necessário.
Raquel saiu da UTI preocupada com Gabriel, apesar de ter
deixado o coma profundo, não estava de todo consciente.
Resolveu ir onde mais gostava de refletir – na Capela.
Enquanto orava sentiu a presença de alguém no banco de
trás, ao olhar viu Ana de joelhos e olhos fechados.
Resolveu aproximar-se.
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- No que posso ajudar minha querida? – Sabia que essa
pergunta abria muitas portas.
Ana não tinha visto dona Raquel na capela. Abriu os olhos
viu um sorriso por ela já conhecido e amado.
- Não tinha visto a senhora. Vim apenas conversar um
pouco com Deus. Estou preocupada com a Márcia. Segui
seu exemplo, vim fazer uma oração e pedir para que ela
fique curada. A senhora, o que a preocupa?
- Às vezes ao invés de pedir, venho agradecer e meditar
para tentar entender as coisas que nos preocupam. – Como
se buscasse na memória. - Ainda não vi a Márcia hoje, não
sabia que ela estava enferma.
- Ela vai fazer uma cirurgia amanha, então resolvi pedir
por ela.
- Seremos duas a pedir. Você quer iniciar? - Disse Raquel
sentando ao lado de Ana.
Depois da oração ficaram conversando. Ana contou sobre
sua separação.
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- Não tenha pressa, minha querida, seu grande amor está
apenas esperando o momento certo para te encontrar. –
Disse dona Raquel sorrindo.
Despediram-se. Ana voltou para o trabalho, ainda tinha
muito por fazer.
O início da noite estava agradável, às luzes davam um
colorido todo especial. Ana estava sentindo-se muito bem.
Concluiu que a separação foi a melhor escolha para
ambos.
Era uma mulher atraente, muitas vezes teve de usar a
diplomacia para desvencilhar-se dos galanteadores que
não paravam de importuná-la.
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Capitulo dezesseis
NOVO MEMBRO NA FAMÍLIA
Não via a hora de chegar em casa. O dia fora extenuante e
cheio de emoções. Agora necessitava recarregar a bateria e
um banho era o que mais queria.
Quando chegou em casa foi recebida com muito
entusiasmo por Luís. Estava muito contente por ter vindo
de ônibus para casa.
- Como foi sua tarde? – Falou alegremente.
- Bem obrigada. Qual o motivo da recepção?
Luís levantou-se foi até a lavanderia, quando retornou Ana
não se conteve quando viu aquele bichinho de olhos
meigos e brilhantes olhando para ela.
- Que coisa linda! Imediatamente pegou o filhote da mão
de Luís. - Ele é muito fofo!
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Como ele previra sua mãe ficou apaixonada pelo
cãozinho. Imediatamente ela abraçou-o, beijou-o, fez uma
tremenda festa.
- Que nome você vai dar? - Perguntou Ana.
- Qual a senhora prefere? - Replicou.
- O cachorro é seu. Você lembra? – Fez a mesma careta
que costumava fazer para repreendê-lo.
- Ele tem cara de Tobias. Que tal? – Ficou esperando a
bronca.
- Adorei! Realmente é a cara dele.
- Ufa! Pensei que não fosse gostar. - Aproveitando a
oportunidade perguntou.
- Está combinado, o nome dele será Tobias. Quando
poderemos ir comprar coleira, casinha e etc.?
- Vou tomar um banho, depois iremos. – Respondeu Ana.
Antes que deixasse os dois ouviu.
- Mamãe, eu te amo.
– Também te amo. – Respondeu feliz do alto da escada.
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Compraram casinha, caminha, comedouro, bebedouro,
enfim tudo o que Tobias não usaria.
Foram para um restaurante e jantaram felizes.
Luís comentou que a família, apesar de tudo, não tinha
diminuído.
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Capitulo dezessete
UMA BOA NOITE
Carlos, apesar das visitas que recebera estava ansioso.
Quando a enfermeira da noite chegou para medicá-lo
esqueceu um pouco dos problemas e conseguiu relaxar.
- Como esta se sentindo senhor Carlos? - Perguntou
Flávia.
- Ansioso para que tudo acabe logo.
- Fique tranquilo que vai dar tudo certo. Quando menos
esperar, já estará recebendo alta. - Antes de sair informou.
- Se precisar de algo é só tocar a campainha, vou estar
numa sala ao lado.
- Obrigado. – Foi a única coisa que se lembrou.
Carlos não soube o que tinha tomado, mas a ansiedade
diminuiu. Conseguiu dormir mais tranquilo.
Quando Flávia chegou ao quarto de Márcia e a
cumprimentou, o comentário foi espontâneo.
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- Já chegou com boa noite Cinderela? – Disse Márcia
sorrindo.
Flávia apenas sorriu, depois de medicar a chefe do
departamento, as duas conversaram por alguns instantes.
Não demorou muito e Márcia dormiu calmamente.
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Capitulo dezoito
O QUE SONHAMOS
Ana chegou mais cedo no hospital, queria estar ao lado da
amiga, como prometera, foi à primeira pessoa que Márcia
viu naquela manhã e ficou muito feliz por isso.
- Sonhei que estávamos viajando juntas para Itália,
pudemos ir a vários museus, conhecemos o Vaticano foi
maravilhoso. Disse Márcia.
- Agora é capaz de ser possível, já que estamos solteiras. –
Ana falou enquanto ajudava a amiga a preparar-se para a
cirurgia.
Enquanto esperavam as duas fizeram planos para o futuro.
Quando Rui, enfermeiro encarregado de transportar os
pacientes encontrou as duas colegas de trabalho, brincou
para descontrair.
- Bom dia! Por onde anda o paciente? – Fugiu? - Disse
sorrindo.
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- Sou eu seu bobo. - Respondeu Márcia.
- Pela primeira vez esta gata vai dar uma volta comigo.
- Claro que não, quem gosta de dar uma voltinha de maca?
- Riu mostrando uma de suas qualidades, o humor.
- Está nervosa? - Perguntou Rui.
- Claro que estou!
- Ainda bem que está nervosa, imagine se fosse o médico.
– Rui mostrou sua dentadura perfeita num sorriso
contagiante.
Ana desejou sorte para a amiga e acompanhou-a até que
atravessou a porta para a sala de preparo.
No corredor pensou em dona Raquel, na segurança que
transmitia a todos os que se aproximavam. Antes que
pudesse deixar o corredor viu Carlos, sendo trazido para
ser operado.
- Como vai princesa? Vão consertar meu coração, assim
vou poder amar mais. - Sorriu.
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- Boa sorte! Pode estar certo que vou esperar para cuidar
do pós-operatório, fazendo o senhor ficar bom logo.
- Então estamos combinados.
- Até daqui a pouco. - Disse Ana enquanto a maca
desaparecia.
Ana dirigiu-se para iniciar seu turno. Pacientes
necessitavam de seus cuidados. Começou a pensar
novamente em Dona Raquel.
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Capitulo dezenove
O CONVITE
Dona Raquel foi para a capela pedir a Deus saúde para
todos os enfermos.
- Não acredito! - Exclamou Ana ao ver dona Raquel que
até levou um susto. – Estava pensando na senhora.
- Como está, minha filha?
- Agora estou bem! - Disse alegre.
- Nossa! O que a faz tão feliz?
- Quero convidá-la para conhecer minha casa e passar o
dia com a gente. Não aceito o não como resposta.
- Desse jeito sou obrigada a dizer sim.
- Venho buscá-la amanhã as 09h00min horas, só preciso
saber onde mora.
- Para facilitar sua vida, me apanhe aqui no hospital, assim
aproveito e faço uma visita rápida para o pessoal.
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- Então está combinado. - Ana parecia uma criança de
tamanha felicidade.
Quando soube que a cirurgia de Márcia tinha terminado,
foi até o corredor que dava acesso a sala de cirurgia. Ficou
esperando que ela saísse.
Não demorou muito para que Rui passasse por ela levando
Márcia na maca em direção ao quarto.
Ana pegou sua mão, apesar de estar sob o efeito da
anestesia, Márcia ficou feliz de saber que sua amiga estava
esperando por ela.
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Capitulo vinte
O DESABAFO
Raquel visitava todos os enfermos, algumas vezes
contando casos engraçados, noutras, casos sérios. Desta
forma, conseguia fazer todos pensarem positivamente.
Assim ajudavam a si mesmos e aos médicos.
Nem sempre as coisas caminhavam como gostaria. Por
isso sofria calada. Depois de fazer sua ronda foi visitar um
paciente que aprendeu a admirar. Entrou no CTI não viu
melhora esperada no estado de Gabriel. Segurou a mão do
garoto, ficou quieta por algum tempo.
Em tom suave, mas firme, iniciou sua conversa solitária de
sempre.
- Às vezes temos que tomar uma decisão entre desistir ou
continuar. Sei que não depende só de nós, mas se
desejamos já é um grande passo para conseguimos.
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- Hoje, ao chegar aqui, pensei em encontrá-lo em
condições diferentes. Confesso que estou triste, porque
não sinto que queira sair dessa situação e tenha que
encarar a realidade.
- Muitas vezes desistimos porque acreditamos não ter
forças para superar os obstáculos, não damos a
oportunidade para Deus nos mostrar o que tem para nós.
- Posso dizer que depende apenas de você, basta querer.
Lembre-se que Deus não escolhe os capacitados, mas
capacita os escolhidos.
Fez suas orações deu um beijo na mão de Gabriel e saiu.
Após a cirurgia de coração, que tinha durado mais do que
deveria, Carlos foi levado para o CTI, até que pudesse ir
para o quarto novamente. Por ironia do destino estava ao
lado de Gabriel. Apenas uma divisória os separava.
No dia seguinte cedinho lá estava Raquel em companhia
daqueles que sempre esperavam sua visita. Ao entrar no
CTI viu Carlos em um dos leitos e foi até ele.
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Sentou-se ao lado de Carlos, calmamente começou a
conversar com ele. Falava sobre a melhora de sua
aparência, de sua saúde e a possibilidade de ter uma vida
mais saudável e feliz.
Fez suas preces, pediu para que ele rezasse também e
pedisse a Deus que o ajudasse a se restabelecer o mais
breve possível.
- As coisas estão se encaminhando para sua felicidade. -
Disse com um sorriso ao sair.
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Capitulo vinte e um
A NACIONALIDADE
No corredor, Raquel encontrou Ana, que sem o uniforme
estava mais bonita ainda. As duas foram fazer uma visita a
Márcia que já estava mais acordada do que a última vez.
- Bom dia! - Disse Ana sorrindo.
- Bom dia! Hoje não é seu dia de folga? - Perguntou
Márcia.
- A senhora não descansa, dona Raquel? – Completou.
- Vir aqui é estar com meus amigos e com aqueles que
precisam. Hoje vou passar o dia com a Ana. Na verdade
gostaria que você pudesse vir com a gente.
- Vou deixar para a próxima vez. - Respondeu.
Ficaram conversando por um bom tempo, depois se
despediram.
Ao saírem, foram contempladas com um dia
maravilhosamente ensolarado e temperatura agradável.
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Durante o caminho Ana falou sobre a vontade, dela e de
Márcia, de viajarem à Itália.
O que fez Raquel se lembrar de seu passado, retornar no
tempo e contar sua história.
Disse ter nascido na cidade de Pescara, situada na região
dos Abruzos, as margens do mar Adriático, Itália, mas
acabou vindo para o Brasil logo depois do seu nascimento,
por isso não conhecia o lugar.
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Capitulo vinte e dois
A CONCEPÇÃO
Antonieta, uma menina de 15 anos vive um drama ao
saber que o estupro que sofrera do filho do dono da
fazenda onde seu pai trabalhava como administrador
resultara em uma gravidez indesejada.
Os momentos de terror, que passou algumas semanas
antes, quando foi surpreendida próximo do riacho, onde
costumava pescar todas às tardes, não saiam de seus
pensamentos.
Ao perceber que Giuseppe um rapaz de 20 anos vinha em
sua direção, sorriu e cumprimentou-o como sempre fizera,
mas ficou preocupada ao notar que o brilho no seu olhar
estava diferente.
Giuseppe sentou ao lado de Antonieta. Iniciou uma
conversa sem pé sem cabeça. Repentinamente, agarrou-a e
com o braço em volta do seu pescoço sacou uma faca.
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Colocou próximo ao seu rosto ameaçando-a. Disse caso
ela não fizesse o que ele queria, seria comida dos peixes
do lago.
A garota tentou desvencilhar-se, mas o rapaz era muito
forte com 1,90 m e 80 kg, não conseguiu, pois era muito
menor do que ele com 1,60 m e 50 kg.
Ele rasgou suas roupas com uma ferocidade e à medida
que ela tentava escapar era espancada com violência.
Lutou até perder suas forças. Mesmo quase desfalecida,
implorava para que ele não consumasse o ato, mas não foi
ouvida.
Foram momentos que ficaram gravados na sua mente. A
partir desse instante o ódio instalou-se imediatamente no
seu coração. Não conseguia tirar da sua mente as cenas
daquele homem alucinado em cima dela com os dentes
cerrados, os olhos vidrados, uma dor insuportável que
sentiu devido à violência com que foi penetrada.
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Quando terminou, ele prometeu que mataria toda sua
família se contasse para alguma pessoa.
Entrou várias vezes no lago para se lavar, mas não
conseguiu sentir-se limpa. Por mais que fizesse,
continuava com a mesma sensação de nojo.
As ameaças de Giuseppe foram muito claras, a segurança
de seus familiares estava em jogo. Ela não sabia o que
fazer.
A família de Giuseppe era muito poderosa na cidade. Se
contasse para qualquer pessoa seus pais poderiam sofrer
algum atentado. Caso seu pai viesse a descobrir, ele a
mataria.
A única pessoa em quem confiava era Angelina casada
com seu primo Carlo.
Moravam numa cidade não muito próxima. Normalmente
costumava visitá-la para conversar e pedir-lhe algum
conselho. Angelina era jovem, inteligente. Sabia como
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Capitulo vinte e três
O PLANO
Ao chegar na fazenda foi recebida com muito carinho e
alegria. Angelina ficava sozinha o dia todo. Quando
recebia uma visita, ficava muito feliz, principalmente sua
prima por quem tinha muito carinho.
Antonieta estava tão ansiosa para desabafar com alguma
pessoa que não deu tempo para que sua prima perguntasse
sobre seus pais.
Falou que estava com problemas sérios, precisava de ajuda
para solucioná-los, mas antes, queria ter a promessa que
ela guardaria segredo.
A seriedade de Antonieta fez Angelina compreender que
sua prima estava passando por uma situação muito difícil.
Resolveu concordar.
A garota contou entre choro, acesso de raiva, tudo o que
ocorrera. À medida que os fatos eram narrados, mais
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revoltada Angelina ficava com o cafajeste. As duas
planejaram a melhor maneira de solucionar o problema.
Angelina comentou seu plano para Antonieta. A garota foi
convencida da necessidade da inclusão e aprovação de
Carlo, não queria esconder nada dele, seria mais uma
pessoa a ajudá-las.
Quando foi perguntada sobre o que faria com o bebe,
Antonieta somente disse não querer ficar com ele, se
tivesse condições faria o aborto.
Angelina estremeceu com a palavra, já tivera alguns
espontâneos. Não conseguia mais engravidar. Tentou
acalmá-la para poder ganhar tempo, mas Antonieta não
estava disposta a mudar de ideia.
Apesar de entender o sentimento da prima disse que
poderia cuidar dele, sugeriu que ela não tomasse decisões
precipitadas.
79. LINHAS DO DESTINO
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Antonieta comentou sobre a desconfiança de sua mãe, mas
ela não sabia exatamente o que havia de errado ou, se
sabia, não fizera nenhum comentário ou pergunta.
Naquela tarde ao chegar em casa, Carlo encontrou
Angelina e Antonieta à sua espera.
Beijou a esposa, cumprimentou a visitante com um
caloroso abraço, afinal era a única de seus parentes que
costumava visitá-los.
- Como você cresceu, já está quase uma mulher! –
Exclamou Carlo sem saber dos acontecimentos.
Pediu licença e foi tomar um banho. Ao retornar foi em
direção a sala de jantar onde foi servido seu prato
predileto de espaguete com frango ensopado e uma jarra
de vinho produzido por ele.
- Você faz as orações. – Disse Carlo para Antonieta.
Conversaram sobre vários assuntos, dentre eles os
problemas da agricultura.
- Como está o tio? – Perguntou Carlo.
80. L.P.OWEN
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- Está ótimo, trabalhando muito. Como sempre
reclamando da situação, que está cada vez mais difícil.
Angelina comentou sobre os dias de solidão, a falta que
fazia uma companhia. À medida que o assunto prosseguia,
amadurecia a ideia de trazê-la para morar com eles.
Contou também sobre o desejo de morarem no Brasil após
as colheitas e venda da fazenda.
- O que esperam encontrar lá? Como vão viver? -
Antonieta perguntou por quê tinha vontade de ir para o
Brasil.
- Não será tão rápido assim. No começo moraremos com
amigos, trabalharemos na lavoura. - Carlo comentou.
- Teremos tanto trabalho para fazer que não sinta solidão.
Angelina falou sobre o ocorrido com Antonieta. A ira de
Carlo ia aumentando. Quando a narrativa de sua esposa
terminou levantou-se.
- Vou caçar esse animal e arrancarei sua pele. – Disse
tremendo de raiva.
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81
Tanto imploraram que ele acabou por ouvi-las. Para não
causar mais tragédia na família resolveu que acataria suas
ideias.
Angelina pediu permissão para que Antonieta viesse
morar com eles durante esses meses que antecederia a
viajem do casal. Carlo respondeu, que por ele não teria
problema, mas a palavra final seria dada pelos pais de
Antonieta.
Carlo pensou, na vontade de ter um filho, no sentimento
de culpa de sua esposa, nas vezes que a ouviu chorar
durante as madrugadas. A solidão que ela sentia enquanto
ele estava no trabalho.
- A viagem será longa, temos que sair cedo, para antes do
anoitecer, estarmos lá.
Quando ouviu as palavras do marido, abraçou-o, beijou-o.
Naquela noite entregou-se ao amor como nunca
acontecera antes.
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Na manhã seguinte ela acordou radiante e feliz. O dia
estava lindo, a temperatura agradável, Carlo preparou a
charrete deixando-a bem confortável, a caminhada seria
árdua.
Ao longo do caminho existiam algumas fazendas. A
estrada, ora passava entre as árvores, ora em locais de
difícil acesso, com alguns penhascos em suas margens.
As árvores floridas, a temperatura agradável indicava que
a primavera estava apenas começando.
No início da tarde pararam para um breve descanso.
83. LINHAS DO DESTINO
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Capitulo vinte e quatro
O PEDIDO
O sol escondia-se no horizonte quando desceram da
charrete e cumprimentaram os pais de Antonieta. Dona
Nina preparou um jantar especial para os recém-chegados.
Seu Gino e Carlo colocavam as notícias em dia enquanto
esperavam o jantar.
As mulheres foram todas para a cozinha, onde Angelina
conversou com dona Nina aproveitando o momento para
convencê-la a deixar, que sua filha morasse com o casal.
Não sentiu que tivesse o apoio de dona Nina, mas teve a
certeza que não criaria problemas.
Na sala o assunto em pauta era a situação, que estava
caminhando para mais uma crise. O dinheiro escasso e o
aumento do desemprego geravam uma grande incerteza
quanto ao futuro.
84. L.P.OWEN
84
Quando surgiu oportunidade, Carlo falou sobre o real
motivo de sua visita. O pedido feito ao senhor Gino que
sua filha morasse com o casal por algum tempo.
Falou sobre sua preocupação de deixar a esposa sozinha,
enquanto ele permanecia na lavoura.
Que sua esposa chorava pelos cantos, reclamando o fato
de não poder ter filhos.
Seu Gino não disse nada, o semblante não demonstrava
sentimento algum, fazendo com que tivesse dúvidas
quanto ao consentimento do tio. Isto fazia Carlo ficar mais
apreensivo.
O silêncio era total. Chegando a ser constrangedor. O
único som que se fazia ouvir era o dos passarinhos no
pomar procurando um lugar para dormir e as mulheres
conversando na cozinha.
Nesse momento Antonieta entrou na sala para perguntar se
o jantar poderia ser servido.
85. LINHAS DO DESTINO
85
Seu Gino olhou para a filha e notou a felicidade
estampada no seu rosto. Deu autorização para que fosse
servido o jantar.
Novamente o silêncio foi instalado. Seu Gino era uma
pessoa honesta de enorme coração, tranquilo, mas de
decisões muito bem pensadas.
O jantar transcorreu alegre, após os agradecimentos
costumeiros devoraram as delicias que dona Nina tinha
preparado.
Os assuntos eram variados. Em alguns momentos falavam
sobre colheita, noutro sobre a perspectiva da viagem de
Marco e Angelina para o Brasil.
Ao final do jantar seu Gino deu a notícia que todos
esperavam. Permitiu que sua filha fosse morar com eles.
No dia seguinte bem cedo já estavam a caminho de casa
novamente, tinham um longo caminho, mas estavam
felizes.
86. L.P.OWEN
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Capitulo vinte e cinco
O GRANDE MOMENTO
À medida que o tempo passava, o corpo de Antonieta
sofria algumas modificações importantes e sua revolta
aumentava.
Angelina passava o tempo conversando com a garota para
acalmá-la e levar até o final sua gravidez. Apesar da
contrariedade, da raiva que sentia atendeu sua prima, mas
sua decisão de não querer sequer ver a criança estava
mantida.
No final da tarde, de outono, Antonieta começou a sentir
as contrações anunciando a chegada do bebê.
A mais entusiasmada, era com certeza Angelina, que não
deixou por um segundo a garota.
Carlo ouviu o choro de uma criança que acabara de chegar
ao mundo.
87. LINHAS DO DESTINO
87
Capitulo vinte e seis
A CONFISSÃO
Ao chegarem, Ana viu um bilhete de Luís sobre a mesa,
nele estava escrito, que estava na casa de seu amigo
Júnior. Levou o Tobias para a mãe dele conhecê-lo.
Voltaria antes do almoço.
As duas riram com o bilhete e iniciaram a preparação do
almoço. Raquel continuou sua narração.
- Depois do meu nascimento fui entregue para um casal
que viera morar aqui no Brasil. Eles registraram-me como
sua filha. - Ana a ouvia em silêncio.
- Minha infância foi muito feliz. Éramos pobres, mas
havia amor entre nós. Quando papai Vitor morreu foi
terrível. Tinha saído para o trabalho na lavoura, onde era
meeiro, acabou não voltando. Teve um enfarto fulminante,
não conseguiram salvá-lo.
88. L.P.OWEN
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- Qual era sua idade nessa época? - Perguntou Ana
lembrando-se do seu sofrimento com a perda do pai.
- Tinha 15 anos. Depois de alguns meses minha mãe Sofia
começou a ter a saúde abalada. Não demorou e também
faleceu. – Deu uma pequena pausa para tomar fôlego e
continuou.
- Passei a morar sozinha numa casinha na cidade.
Trabalhei em serviços diversos como lavar e passar.
- Algum tempo depois acabei recebendo uma herança de
um casal que não conhecia até então. Descobri, tempos
depois, serem Carlo e Angelina, que infelizmente nunca
tive oportunidade de conhecer. Eles me deixaram além de
uma quantia razoável a casa onde moro atualmente, uma
carta onde contaram todo o drama de minha mãe.
- A senhora nunca se casou? - Perguntou Ana enxugando
uma lagrima que rolava pelo rosto.
Raquel apenas sorriu e respondeu com o bom humor que
era sua característica.
89. LINHAS DO DESTINO
89
- Amei uma pessoa, mas não era hora de estarmos juntos.
Não encontrei outra tampa. - Riram gostosamente.
- Eu também ainda não encontrei o meu príncipe – sorriu e
completou. – Pensei ter encontrado um, mas virou sapo.
- Apesar de morar sozinha acabei com um monte de filhos,
maridos, mães, avôs e avós. Comecei a cuidar de pessoas e
desde então não parei mais.
- O que aconteceu com sua mãe Antonieta?
- Durante muitos anos não tive notícias dela, ou melhor,
não sabia que ela existia. Somente depois do falecimento
de meus pais, quando recebi a carta fiquei sabendo de sua
existência, que vivia no Brasil, mas não sabia onde.
- Ela tinha casado com um rapaz que conhecera pouco
depois do meu nascimento. Viveram juntos 45 anos, mas
não tiveram filhos.
- A senhora chegou a encontrá-la?
- Sim cuidei dela durante alguns anos.
90. L.P.OWEN
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- Ela descobriu que era sua mãe? - Ana estava com os
olhos marejados pensando na saudade que sua mãe fazia.
Apesar das desavenças, gostaria de poder conviver mais
com ela.
- Como sempre fiz, após a morte de meus pais adotivos,
visitava orfanatos, asilos, hospitais. Numa dessas visitas a
um asilo vi uma senhora que me fazia sentir algo diferente
tínhamos os traços parecidos, mas nunca pensei na
possibilidade de ser minha mãe. Como nunca me
preocupei com isso, não me passou pela cabeça que
pudesse ser ela.
- Ela tinha diabetes, por isso, outros tipos de complicações
na saúde apareceram. Sua visão estava a cada dia pior, sua
circulação também. Um dia ao chegar para visitá-la no
asilo, fiquei sabendo que tinha sido levada e estava
internada no hospital onde você trabalha.
91. LINHAS DO DESTINO
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- Todos os dias fazia minha visita pra ela. Quando
perguntei quem mais a teria visitado. Fui informada que
não havia, nem no asilo.
- Como era a única pessoa que a visitava, um dia ao
chegar, fui autorizada a ficar o tempo que quisesse porque
ela teria apenas algumas horas então fui até ela e perguntei
se queria que trouxesse um padre para se confessar.
- Olhou-me, com voz suave disse.
- “Venha mais perto, minha filha, porque gostaria que
você presenciasse minha confissão a Deus”.
- Segurou minha mão e começou a contar sobre as coisas
que tinha passado ao longo dos anos. Sobre a solidão que
sentira durante vários anos até o dia que nos encontramos.
- Contou sobre seus pais, sua infância, onde moravam,
tudo o que lembrou. Começou sua confissão.
- “Quero iniciar, pedindo perdão a Deus, porque não tinha
entendido seus desígnios. Pedir perdão a Deus, por não ter
92. L.P.OWEN
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aproveitado a chance de cuidar de alguém tão especial
que Ele me deu”.
- “Agora, na sua infinita misericórdia, me concedeu este
momento de resgatar o que tinha perdido. - Gostaria de
além de pedir perdão a Deus, pedir perdão para você,
minha filha, pelo mal que fiz. – Lágrimas rolavam pelo
seu rosto”.
- “Quando ainda sequer tinha nascido. De não tê-la amado
como deveria. De abandoná-la, dando-a para que outros
pudessem criá-la. Enganei-me, porque depois, descobri
que tinha morrido naquele instante. Passei a sentir sua
falta. Lamentei durante toda minha vida não ter a presença
de um anjo que me fora dado por Deus”.
- “Gostaria de te pedir perdão por tudo, te dizer que desde
a primeira vez que te revi senti meu coração bater
diferente. Não importa o que aconteça, a única coisa que
gostaria de saber se você me perdoa”.
93. LINHAS DO DESTINO
93
- Quando a abracei, antes mesmo de conseguir dizer, que
não tinha nada a perdoar, ela segurou minha mão com
mais força e fechou os olhos.
- Foi assim que nos despedimos. A última página de nossa
história tinha sido escrita ali.
- Além de mim, algumas poucas pessoas do asilo foram ao
velório, mas não vi ninguém diferente, nenhum parente.
Nesse momento Ana não conseguiu segurar a emoção e
começou a soluçar como uma criança.
Depois de algum tempo, já refeita, contou sobre os
problemas de relacionamento com sua mãe.
Raquel abraçou-a com ternura e comentou.
- Faça uma visita para sua mãe, conversem, na maioria das
vezes, os motivos são sempre banais, mal-entendido. Nada
que não possa ser resolvido simplesmente deixando o
orgulho de lado. – Concluiu – O orgulho é um dos
motivos para as desavenças.
As duas ficaram abraçadas por um bom tempo.
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O almoço estava quase pronto quando Luís chegou
fazendo a maior bagunça com Tobias.
- Olá mamãe! - Disse Luís sorrindo segurando Tobias pela
coleira.
Quando viu que tinha visita ficou meio sem jeito, mas foi
socorrido por Ana.
- Esta é Raquel, todos os dias ela vai ao hospital para
visitar os doentes.
- Muito prazer disse Luís.
- O prazer é todo meu. - Raquel sorriu. - Quem é esse
cãozinho lindo?
- Esse é o Tobias o mais novo morador desta casa. –
Comentou com orgulho.
- Mas ele é muito lindo, tem uma cara meiga.
O almoço estava delicioso e muito agradável e Ana ficou
reparando no jeito, no som de sua voz quando falava a
conversa que tinha com Luís, enfim todos os trejeitos dela
era exatamente como todos diziam no hospital.
95. LINHAS DO DESTINO
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- “Raquel iluminava o ambiente”. – Pensou.
Luís ficou meio enciumado quando seu cãozinho Tobias
pulou no colo de Raquel e não quis mais sair.
Após o almoço foram para a sala. Ana contou um pouco
de sua vida, as coisas que aconteceram em seu casamento
e como terminou.
Conversaram durante um longo tempo, quando
perceberam já estava anoitecendo.
- Nossa! – Exclamou Raquel – As horas passaram.
- Nem eu. - Completou Ana. - Foi tão bom o dia, fazia
muito tempo que não passava por momentos tão
agradáveis.
- Também senti como muito tempo não sentia. Adorei
estar aqui, estava tudo perfeito, mas agora está na hora de
ir, tenho que me preparar para a semana.
Ana prontificou-se a levá-la para casa. Convidou Luís para
ir junto.
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Capitulo vinte e sete
UM LUGAR AGRADÁVEL
A noite estava muito agradável, as luzes da cidade
atrapalhavam o brilho das estrelas e da lua. O céu estava
muito limpo, a temperatura tinha baixado um pouco, mas
ainda continuava agradável.
O trajeto foi tranquilo, ao chegarem, Raquel convidou Ana
e Luís para conhecerem sua casa e tomarem um café.
Era uma casa simples com o portão de madeira, pintado na
cor verde musgo. O jardim bem cuidado, com flores de
diversas cores e qualidades, enfeitava toda frente
construída com tijolo aparente.
Caminharam alguns metros por entre as flores e plantas.
Uma varanda surgiu como um passe de mágica. Sob uma
janela a namoradeira de balanço. Ao lado uma mesinha
com uma toalha branca e um vaso com algumas flores do
jardim davam um toque especial ao ambiente.
97. LINHAS DO DESTINO
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Na entrada, algumas fotos colocadas sobre um móvel
chamaram a atenção de Ana.
Raquel aproveitou para mostrar seus pais adotivos e num
local especial a foto de Antonieta. Ana percebeu o quão
especial era Raquel. Deu um abraço tão apertado na
amiga, que ela ficou sem saber o por quê. Percebeu que
era algo importante para Ana e retribui o gesto de carinho.
A simpatia que Ana sentia por Raquel também passou a
ter por Antonieta. Era algo inexplicável, desde quando
Raquel contou sua história, sentiu um profundo respeito
por elas.
Os três sentaram na sala, enquanto conversavam,
apreciavam o delicioso sabor do café preparado pela
anfitriã.
Quando iam saindo, Ana comentou.
- Você nem imagina quanto adorei esse dia. - Disse
sorrindo.
- Também adorei. – Respondeu Raquel.
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Capitulo vinte e oito
SEGUINDO O CONSELHO
Na manhã seguinte, depois de tomarem um café da manhã
bem reforçado, saíram em direção à estrada que levava a
cidade onde sua mãe morava.
Não era tão distante, com o trânsito livre poderiam chegar
em pouco mais de duas horas.
O dia estava ensolarado, mas a temperatura continuava
agradavelmente em torno de 20ºC.
A estrada, apesar de sinuosa, era bem sinalizada e bem
conservada, tornando a viagem agradável.
O ar da serra fazia os pulmões absorverem um pouco mais
de Oxigênio. Ao chegarem na cidade, mesmo depois de
algum tempo, Ana não notou nenhuma mudança.
Sua mãe morava numa chácara dentro da cidade, com
árvores frutíferas de várias espécies, jardim bem cuidado e
99. LINHAS DO DESTINO
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um terreno espaçoso onde as galinhas, patos e pássaros de
diversas espécies dividiam aquele pequeno paraíso.
A casa era ampla, com varanda em toda volta. Havia redes
de descanso presas entre a parede e as colunas que
sustentavam o telhado. Ao fundo uma piscina cercada por
um gramado muito bem tratado. Outra coisa que chamava
a atenção era a horta plantada ao lado da casa.
Quando ouviu o barulho de carro parando na porta, dona
Marta olhou pela janela. Ao ver Ana, largou tudo, correu
ao seu encontro.
Dona Marta era uma mulher de beleza incontestável,
inteligente, com personalidade forte.
Tinha o dom da arte manual, em tudo o que fazia tinha o
seu bom gosto.
Como sempre, mantinha o cuidado com sua aparência.
O local apesar de toda a beleza era simples.
100. L.P.OWEN
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Ana ao ver sua mãe vindo em sua direção, tão bela e
graciosa, sentiu orgulho de ser sua filha. Ao se abraçarem,
não conseguiam conter as lágrimas.
- Estava com muita saudade de você, mamãe, por isso vim
ver-te. – Disse Ana chorando.
Marta não aguentou a emoção e chorou.
Lembrando-se do tempo quando Ana era pequena.
Somente depois de alguns minutos conseguiu responder.
- Eu também estava com muita saudade de você minha
filha. Você não imagina a felicidade de poder te abraçar,
dizer que te amo mais do que eu mesma.
- Quando te vi entrando por aquele portão voltei alguns
anos da minha vida de tão parecida que somos. Talvez,
seja por isso que brigamos e sofremos depois.
As duas conversaram sobre vários assuntos. Luís, que até
então, não tinha cumprimentado a avó deu e recebeu um
abraço caloroso.
101. LINHAS DO DESTINO
101
Depois dos cumprimentos foram à casa vizinha, onde
Fábio, seu irmão e a esposa Leila moravam. Foi mais um
momento de felicidade, de abraços e choro.
Como nos bons tempos a paz reinou naquele lar. Luís
conheceu melhor seu tio.
- Só está faltando aqui Tobias. - Disse Luís.
- Quem é o Tobias? - Perguntaram os três ao mesmo
tempo.
- É o mais novo morador de casa. – Explicou Ana - Um
cão Lavrador, muito gracioso.
Contou também sobre sua separação de Roberto, a cirurgia
de Márcia, enfim colocou todos os assuntos em dia.
Quase ao mesmo tempo Marta, Fábio e Leila deram a
noticia sobre a vinda do bebe. Leila estava grávida há dez
semanas, como era o primeiro filho estavam ansiosos por
sua chegada.
A conversa estava animada, mas o tempo era implacável,
passava como uma velocidade inacreditável.
102. L.P.OWEN
102
Ao final da tarde quando já iam sair Ana perguntou a
sua mãe se gostaria de passar alguns dias com ela.
Marta ficou em dúvida, por causa dos animais que
mantinha na chácara. Eles eram sua companhia. Fábio se
propôs a cuidar de tudo enquanto estivesse fora.
- OK! Minha filha, me de alguns instantes para colocar
algumas roupas na mala e iremos.
103. LINHAS DO DESTINO
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Capitulo vinte e nove
DESCOBRINDO O SEGREDO
A felicidade de Marta era visível, desde o falecimento de
seu marido não voltara a São Paulo, cidade onde nascera e
amava.
Uma cidade grandiosa sob todos os aspectos maus e bons.
A maior cidade do Brasil e da América Latina. Isso fazia
sentir-se orgulhosa.
Depois de todos os preparativos iniciaram o regresso. Ana
não escondia a felicidade de ter sua mãe por perto.
Neste momento, lembrou-se do que Raquel dissera, sobre
os motivos que levavam as pessoas a brigarem, perderem
a amizade o amor.
- “A maior parte das brigas acontecem porque queremos
que a outra pessoa faça o que falamos, não aceitamos o
seu ponto de vista, isso é o mesmo que estarmos colados
104. L.P.OWEN
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de frente para o outro e quisermos dar um passo à
frente, não conseguiremos”.
Ana percebeu o motivo pelo qual brigara com sua mãe “o
orgulho” de não ceder em nada. Quando teve a iniciativa
de dar um passo a traz resolveram-se todas as diferenças.
105. LINHAS DO DESTINO
105
Capitulo trinta
UM DILEMA
Raquel foi ao hospital visitar o pessoal. Assim que entrou
foi direto à capela, fez suas orações. Em seguida foi ao
Centro de Tratamento Intensivo. Ao entrar, teve algumas
surpresas.
Carlos tinha sido transferido para o quarto, Gabriel, saído
do coma, também seria transferido para um quarto.
Quando Raquel chamou seu nome, o garoto sorriu como
se reconhecesse quem o chamava.
- Como você está Gabriel? - Perguntou sem esperar pela
resposta.
- Meu nome é Raquel, visito você sempre que posso.
- Obrigado. - Disse o garoto.
- Você precisa se esforçar, se quiser melhorar, só assim
sairá mais rápido daqui, também gostaria de te apresentar
uma pessoa muito especial, ele tem torcido por você.
106. L.P.OWEN
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Repentinamente Gabriel muda de assunto
completamente.
- O que aconteceu com meus pais? - Perguntou com olhar
fixo nos olhos de Raquel aguardando uma resposta.
Nesse momento ela não sabia o que responder, não tinha
ideia sobre o que haviam contado para ele. Procurou com
olhar pelo médico responsável, mas ele estava ocupado em
outra sala, como não havia tempo para confirmações,
resolveu perguntar-lhe sobre o que Gabriel sabia.
- Sei que estou aqui deitado com um montão de coisas
ligadas, quando pergunto por quê minha mãe não vem
visitar-me eles dizem que ainda não pode vir.
Raquel descobriu o que mais temia, não tinham dito nada
sobre os acontecimentos, mas não sabia se poderia agravar
seu estado de saúde contando a verdade. Pensou em como
ganhar algum tempo para poder certificar-se do real estado
do garoto.
107. LINHAS DO DESTINO
107
- Vou procurar a pessoa responsável para saber o que
aconteceu, depois volto para falar o que descobri. – Em
tom de cumplicidade perguntou - Você está de acordo?
Depois da resposta afirmativa, deu um beijo no garoto,
saiu o mais rápido que pôde para falar com o médico
responsável por seu tratamento.
Instante depois conversava com o doutor Robson e ele
confirmou o que ela temia, caso Gabriel soubesse do
ocorrido com sua família, poderia ter complicações no seu
quadro. Por hora deveriam manter alguma restrição sobre
o que dizer para ele.
- O que faremos? – Disse procurando achar uma solução.
- Não podemos simplesmente ignorar suas perguntas.
- Ele tem saudades de sua mãe e está com medo de ficar
sozinho.
- Para ser sincero - respondeu o doutor - não sei como
lidar com essa questão.
108. L.P.OWEN
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- Será transferido para o quarto, à medida que seu
estado melhorar poderá começar a prepará-lo para
conhecer a verdade. - Disse ela com convicção.
- Contar-lhe por etapas, para ganhamos mais tempo. –
Concordou o doutor.
Raquel teve uma ideia e resolveu contar para o doutor que
achou excelente.
- OK! Vou tentar acalmá-lo, a partir de amanhã falarei aos
poucos com ele.
Raquel despediu-se do médico e voltou para dar a boa
noticia a Gabriel.
- Falei com o doutor e ele informou que está preocupado
em achar um quarto para você, depois vai verificar o que
aconteceu com seus pais e me informar. – Novamente em
tom de confidência.
- Vamos combinar o seguinte – Disse baixinho - prometo
que vou cuidar de você até que tudo se resolva você me
promete que vai fazer o possível para sarar logo.
109. LINHAS DO DESTINO
109
Gabriel concordou. O acordo foi firmado com um aperto
de mão. Nesse momento o garoto sentiu uma sensação
diferente.
- Você é quem segurava minha mão? - Perguntou
repentinamente.
- Você se lembra do que dizia para você? – Falou com
suavidade.
- Lembro de alguém me segurando, falando comigo, me
dizendo algo que não conseguia entender, mas sabia que
eram coisas boas. Sentia que algo me segurava não me
deixava ir aonde eu queria.
- Para onde você queria ir?
- Não sei exatamente, mas às vezes me sentia muito triste,
com medo. De repente tudo parecia mudar me sentia feliz.
– Continuou sério - Em alguns momentos pensava na
minha mãe. Ela me abraçava me acalmava.
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Raquel sentiu seus olhos marejarem. Como previra ele
seria o grande mensageiro de Deus para uma pessoa que
tinha muito por ensinar e aprender.
- Deixa dar a boa notícia para um amigo que também torce
por você.
111. LINHAS DO DESTINO
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Capitulo trinta e um
A RECEITA
Raquel saiu com a sensação de que a Providência já
começara a agir. Ao passar pelo quarto, onde Márcia
estava, entrou e cumprimentou-a.
- Olá minha filha! Como você está?
- Estou melhorando a cada dia. – Notou a alegria
estampada no rosto de Raquel. – Pelo visto a senhora esta
muito feliz.
- Quando vocês estão bem, eu também estou. –
Respondeu.
- Como foi o dia de vocês ontem? – Referiu-se a visita na
casa de Ana. – Espero, que tenha sido divertido.
- Foi muito bom, conversamos, ela contou sobre a vida
dela, eu sobre a minha Ana disse que vocês planejam fazer
uma viagem à Itália.
112. L.P.OWEN
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- A senhora sempre levantando o astral da gente. -
Disse Márcia ao perceber o que ela pretendia.
- É por isso e para isso que vivo. - Sorriu maliciosamente,
- Gostaria de oferecer um almoço pra vocês na minha
casa, mostrar alguns objetos que tenho da Itália, creio que
vão gostar.
- Desde quando a conheci adotei-a como minha segunda
mãe, Ana como uma irmã que nunca tive. – Segurando a
mão de Raquel continuou - Às vezes penso por que temos
mais afinidades com as pessoas que conhecemos fora de
casa do que com nossos familiares.
- É simples! - Respondeu Raquel. - Começamos a crescer,
nosso orgulho acaba crescendo com a gente. Ao invés de
conversarmos, discutimos.
- Você precisa ter alta logo, minha filha, afinal tem muitas
pessoas precisando do seu carinho.
113. LINHAS DO DESTINO
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- Prometo que vou perturbar o doutor Guilherme até que
ele me dê alta. Também não vejo a hora de poder trabalhar
novamente.
- Agora preciso ir andando. – Disse Raquel - Prometi
procurar um lugar para o Gabriel, alguém para fazer
companhia para ele.
– Tenho a impressão de que a senhora já tem alguém em
mente. – Interrompeu Márcia sorrindo.
Raquel piscou e saiu. Antes que ela se afastasse muito
ouviu “Eu te amo”.
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Capitulo trinta e dois
LADO A LADO
Quando chegou ao quarto de Carlos ele estava recostado
no travesseiro. Ela percebeu que algo estava errado. Ele
estava com o semblante triste demonstrando preocupação.
Novamente sentou-se ao seu lado, ali permaneceu quieta
sem dizer absolutamente nada.
Carlos tentou sorrir, melhorar sua aparência, mas foi
surpreendido por uma frase bastante curiosa.
- Como está sua aparência por dentro? - Perguntou Raquel
olhando-o de soslaio.
- Está bem. - Respondeu sem jeito.
- O que aconteceu para te deixar tão triste por fora? – Sua
voz era doce.
- Estar aqui, de não arranjar um emprego, de não poder dar
uma condição melhor de vida para minha família.
115. LINHAS DO DESTINO
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- O que é uma condição melhor de vida? – Ela emendou
outras perguntas - será que não é estar ao lado de quem se
ama? - Poder ajudar outras pessoas, mesmo que seja com
um abraço, uma conversa, manter a família unida e feliz?
Carlos ficou admirado de ver como a vida pode ser
simplificada. Dona Raquel sempre mostrava o que poderia
ser feito.
- Na verdade vim aqui para verificar se o senhor permite
que alojemos o Gabriel nesse quarto. Ele precisa sair do
CTI, então, achei bom para o senhor ter alguém com quem
conversar.
- Por mim não há problema algum, afinal terei quem
perturbar. – Disse mais alegre.
- Falarei com o doutor Robson para providenciar a
transferência mais rápida possível.
Quando Rui chegou com a maca para levar Gabriel para o
quarto, imediatamente, foi fazendo festa com ele.
116. L.P.OWEN
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- Como vai meu camarada, vamos dar uma volta na
minha máquina envenenada?
Gabriel apenas sorriu timidamente.
- Vou mostrar o corredor mais legal para fazer racha, verá
que é uma beleza. - Da até para dar uns cavalos de pau.
- Prefiro continuar quase inteiro. - Disse Gabriel sorrindo.
- Então vamos lá. Você prefere com ou sem emoção?
- Prefiro com tranquilidade e segurança. – Respondeu sem
hesitar.
- Então aqui vamos nós. Tirem as macas, as cadeiras de
rodas da frente por que estamos passando.
Gabriel ria com as palhaçadas de Rui, que procurava
tranquilizar todos os enfermos. Por isso sempre recebia
elogios e presentes, mas como ele dizia era palhaço por
natureza. Gostava de fazer as brincadeiras apenas em troca
de um simples sorriso.
Ao chegarem no quarto, Carlos já estava esperando. Rui
foi dizendo.
117. LINHAS DO DESTINO
117
- Acabou o seu sossego senhor Carlos, agora terá mais um
hóspede. Espero que não ronque alto, não goste de ouvir
música num volume muito alto.
- Acredito que ele não goste de música alta, mas sim de
músicas boas. – Carlos emendou sorrindo.
- Não acredite nisso, porque as informações que obtive
eram de que ele gosta dessas músicas barulhentas.
Gabriel ainda um pouco acanhado não disse nada apenas
sorriu. Depois de acomodar o garoto Rui foi se
despedindo.
- Bem minha missão já está cumprida agora é com os
senhores. Por favor, não troquem os frascos de soro nem é
permitido usar o suporte como cabide.
Todos riram o ambiente ficou mais alegre quando Raquel
chegou para perguntar se estava tudo bem o quarto parecia
um campo de futebol em final de campeonato. Ela sabia
que essa convivência seria boa para ambos.
118. L.P.OWEN
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Capitulo trinta e três
O INÍCIO DA AMIZADE
Quando todos saíram e ficaram apenas os dois. Carlos
iniciou a conversa, a princípio timidamente, mas aos
poucos foi fluindo naturalmente.
- Não tivemos tempo para apresentações, meu nome é
Carlos, muito prazer.
- O meu é Gabriel. O que aconteceu para estar aqui no
hospital?
- Fiz muitas bobagens na minha vida, ficava com raiva de
tudo, vivia de cara feia. Não que esteja mais bonita agora.
Acabei tendo um problema, foi necessário fazer uma
cirurgia no coração. Agora estou recuperando-me. O
doutor falou para eu parar de ser teimoso e tudo estará
resolvido, mas não consigo preciso de alguém que me
policie.
- O senhor tem filhos?
119. LINHAS DO DESTINO
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- Sim tenho três filhas, mas já estão casadas. Você é
casado Gabriel?
- Claro que não. Tenho apenas onze anos.
- Hoje em dia é moda casar tão cedo, então, achei que
fosse casado.
Gabriel ria a todo instante, nascia ali um vínculo afetivo
muito forte. O tempo era preenchido com bom humor, tão
bom que a melhora dos dois era vista em cada momento
que o médico passava para consulta.
Numa das conversas Carlos perguntou o que estava
acontecendo, porque notara que o garoto ficou triste de
uma hora para outra. Gabriel procurou dissimular, mas
Carlos sabia exatamente o que era.
- Você não gostaria de conversar um pouco a respeito? –
Carlos procurou não forçar.
Depois de alguns instantes o silêncio foi quebrado.
- Agora pouco me lembrei do que ocorreu antes do meu
acidente. Estava na escola quando algum conhecido veio
120. L.P.OWEN
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me chamar porque meu pai tinha matado minha mãe
por ciúmes, em seguida se matou. Todos aqui esconderam
de mim a verdade, por isso ninguém falava nada sobre o
que aconteceu. Quando perguntei mudaram de assunto.
Agora descobri que já não posso mais fazer nada pela
minha mãe, que estou aqui sem saber o que será daqui
para frente.
- Não tenho ideia de como você esta se sentindo, mas sei o
que é sentir saudades, afinal antes de ser pai já era filho.
Mesmo hoje, ainda tenho muita saudade de minha mãe,
mas procuro lembrar de coisas alegres que fizemos. De
coisas que ela fazia para me agradar. Assim a saudade
diminui e continuo seguindo pra frente. – Continuou - É
difícil agora que tudo é tão recente. Com o tempo não será
mais essa saudade dolorida, mas somente saudade. Se
precisar de um amigo para te ajudar a suportar esses
momentos pode contar comigo afinal é para isso que os
amigos servem. – Concluiu - Acredito que não te
121. LINHAS DO DESTINO
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contaram antes para que você pudesse lutar para sarar o
mais rápido possível. Ser o homem que a sua mãe sempre
imaginou que será.
- Não sei o que será daqui para frente, meus pais já não
existem, não conheço parente próximo, não sei o que
fazer.
- Vamos fazer o seguinte você se preocupa em sarar,
depois nos vamos verificar o que podemos fazer. Caso
você queira, poderá morar em minha casa até você casar,
como fizeram minhas filhas.
O garoto ficou mais tranquilo depois da conversa com
Carlos o assunto que se seguiu foi sobre esporte.
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Capitulo trinta e quatro
A DECLARAÇÃO
Márcia sentia-se cada vez mais forte, quando o doutor
Guilherme, para brincar com ela, fez alguns comentários
misteriosos, achou não estar tão bem quanto julgava.
- Bom dia Márcia, como tem passado? – Ele estava feliz
em poder cuidar do seu grande amor.
- Muito bem doutor, mas com vontade de voltar a
trabalhar, afinal não nasci para ficar doente, mas para
cuidar deles.
- Sei disso, mas ainda vai demorar um pouco.
- Por quê? - Perguntou assustada. - Algum problema?
- Sim! – Respondeu com um sorriso nos lábios. - Um
problema de ordem técnica. – Tomando coragem falou.
- Vai ter alta agora, com a condição de permitir que a leve
para jantar, antes que diga, isso é uma chantagem, não
aceito não como resposta.
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- Claro que aceito! – A comida hospitalar é sem gosto.
- Agora você sabe como os enfermos se sentem quando
vamos cuidar deles. – Disse Guilherme.
- É verdade, vou lembrar-me desses dias e procurar fazer
melhor ainda do que fazia.
- O jantar fica marcado para terça-feira, se não se importa.
Na quarta vou a um congresso, ficarei fora durante uma
semana. - Disse ele.
- Gosta de comida italiana? – Perguntou sorrindo.
– Amo!
- Então está combinado.
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Capitulo trinta e cinco
UM PRÍNCIPE DE MACA
Ana chegou feliz para o trabalho. Não via a hora de dar
um beijo em Márcia e Raquel. Contar todas as novidades
do final de semana, mas quando foi ao quarto, onde
Márcia estava, foi surpreendida com a presença de outra
paciente. Depois de informar-se descobriu que ela
recebera alta, já estava a caminho de casa.
Apesar da surpresa ficou ainda mais feliz, quando
encontrou dona Raquel no corredor convidou-a para
almoçarem juntas, queria contar sobre os novos
acontecimentos.
À medida que o tempo passava o trabalho aumentava. O
número de pacientes atendidos era muito grande. Não
dava tempo nem para tomar um copo de água. Eram
pessoas que chegavam precisando de cuidados especiais,
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outras apenas para serem medicadas. Enfim era uma
bagunça organizada e gratificante.
Sua mãe, agora em companhia de seu filho, fazia com que
ela se sentisse mais segura. Caso ocorresse qualquer
problema ela poderia resolver ou ligar, além disso, Luís
sentia mais proteção. Ainda mais agora, que a amizade dos
dois tinha sido fortalecida depois que a avó confessou
estar com muita saudade dele, no tempo em que estavam
separados.
Pouco antes da hora do almoço, chegou uma viatura do
resgate trazendo um paciente em estado grave. Vítima de
colisão, não havia morrido porque seu carro tinha todos os
itens de segurança. Mesmo assim, requeria cuidados
especiais. O carro ficara completamente destruído indo
direto para o ferro velho.
Ao chegar à sala de emergência, Ana pôde ver um homem
com seus 1,90 m de altura pesando aproximadamente 90
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kg, todo ensanguentado, com suspeita de fraturas
múltiplas de costela e fêmur, entre outras coisas.
Já tinha sido atendido pelo pessoal que o socorrera.
No momento, estava sendo atendido pela equipe médica
do hospital.
A atenção que todos dedicavam era de dar orgulho a
qualquer um da equipe. Logo que foi medicado e limpo,
conduziram-no para fazer exames mais detalhados.
Felizmente não havia nenhum tipo de problema interno. O
maior seria a cirurgia no fêmur para colocação de alguns
pinos, os restantes eram pequenos cortes ocasionados por
vidros e outros materiais.
A cirurgia foi coordenada pelo doutor Mota e os
resultados foram excelentes. Após o término, o médico foi
até a sala de espera para comunicar aos familiares o estado
de saúde do paciente, mas para sua surpresa não havia
ninguém.
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Quando Ana soube do ocorrido ficou preocupada e curiosa
ao mesmo tempo. Foi ao setor de internação para saber se
havia algum parente do paciente na recepção, mas
lembrou-se, que não sabia o nome dele, resolveu perguntar
para a atendente.
- Bom dia Sílvia! - Disse com seu sorriso estonteante.
- Olá Ana! Como vai? Faz tempo que não nos vemos. O
que posso fazer por você?
- É verdade, faz muito tempo, estamos sempre correndo.
Preciso saber algumas informações a respeito do paciente
que foi trazido pelo pessoal do resgate.
- Um minuto e dou-te.
Ana estava tão preocupada com o trabalho que havia
esquecido o horário. Quando sentiu um toque se virou
para olhar, viu Raquel.
- Eu estava procurando por você, então, avisaram-me onde
você estava. – Disse Raquel.
Quando Ana olhou para o relógio ficou desesperada.
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- Nossa nem havia percebido que já é esse horário.
Tenho que verificar os dados de um paciente a senhora
está com muita fome?
- Claro que não, se você estiver muito ocupada almoçamos
outro dia sem problema algum.
- Hoje as coisas complicaram muito. Acredito que só farei
um lanche, mas tenho tanto para contar, te agradecer o
conselho que me deu para ir falar com minha mãe ela veio
passar uns dias aqui comigo. – Estava radiante quando
comentou.
- Fico feliz por você. Sei que será mais feliz ainda, afinal a
felicidade sempre está à procura de nós, ou melhor, está
dentro de nós.
Raquel deu um beijo carinhoso em Ana e saiu.
Sílvia apareceu com a ficha de informação do homem
internado. Ao pegá-la Ana verificou que se tratava de um
homem de 40 anos, divorciado, seu nome Paulo A. Silva.
Procurou outros dados que constavam na ficha como
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telefone, endereço, para comunicar-se com algum familiar.
O telefone que constava era residencial.
- Alô! Quem fala? – Ana perguntou, uma voz feminina
respondeu.
- Aqui é Doralice quem quer saber?
- Meu nome é Ana, gostaria de falar com algum parente
do senhor Paulo.
- O senhor Paulo não tem parente aqui só no litoral.
- Como posso falar com eles?
- Posso ligar para o senhor João, ele entrará em contato
com você.
- Se você puder te agradeço.
- Um minuto que vou pegar papel e lápis para anotar seu
telefone e endereço.
Depois de despedir-se de Ana, com o endereço do hospital
em mãos, Dora, imediatamente ligou para o senhor João,
informou o que tinha acontecido com Paulo.
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Já fazia tempo que João vinha a São Paulo, desde que
Paulo havia construído a casa da praia e convidou-o a
morar lá. Como era um sonho de muito tempo, não pensou
duas vezes.
Agora voltaria a cidade onde vivera grande parte se sua
existência. Conhecia o hospital, não teria dificuldades para
chegar. O que não sabia é que ele tinha mudado.
Acostumou-se com o sossego do litoral, visitar uma cidade
tão populosa tão cheia de vida se tornara algo assustador,
mas não media esforços quando o assunto era Paulo.
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Capitulo trinta e seis
AS NOVIDADES
O dia passou tão rápido, que Ana não teve tempo para o
lanche. Ao assinar o relatório, resolveu passar na casa de
Márcia para ver como ela estava. Foi ao estacionamento,
ao entrar em seu automóvel colocou uma música suave
para relaxar. O início da noite estava agradável, mas o
trânsito estava como sempre muito intenso.
Quando, pelo interfone, ouviu a voz de outra pessoa, Ana
lembrou que Márcia tinha saído naquele dia do hospital,
precisava de alguém para os afazeres domésticos.
- Eu sabia que vinha me ver. – Disse Márcia quando a
amiga entrou.
- Que saudade eu senti de você parece que o dia não
passava. Tinha certeza de que viria, por isso fiquei mais
ansiosa.
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- Tive tanto trabalho e não deu tempo para nada.
Tenho tantas novidades que não sei por onde começo.
- Experimente começar pelo início. - Disse rindo.
- No sábado quando estive com dona Raquel, conversamos
sobre diversos assuntos. Um foi sobre o relacionamento
que estava tendo com minha mãe. Ela disse algo que ficou
gravado na minha mente. No dia seguinte resolvi procurar
minha mãe para me desculpar, no fim fizemos as pazes,
acertamos todos os conflitos. Como dona Raquel diz tudo
é questão de uma boa conversa. Hoje o dia estava tão
corrido que não consegui almoçar, acabei fazendo um
lanche. – Com olhar de moleca perguntou - Você o que
me conta, estou vendo um brilho diferente nos seus olhos.
- O Guilherme vem jantar aqui amanhã.
– Já tirou até o título de doutor dele? - Emendou Ana - Ele
te pediu em namoro?
- Ainda não, mas acredito que pedirá afinal mais dica do
que dei impossível. Ele queria ir num restaurante, mas
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enfaixada, vai ter que me dar comidinha na boca, assim
achei melhor que fosse aqui.
- Você está com segundas intenções em jantar aqui,
porque não parece que você está com faixa. Tomara que
tudo dê certo. Já faz muito tempo que estão na paquera,
vocês se merecem.
- Quase ia esquecendo – comentou Ana - hoje foi
internado um homem daqueles de balançar a estrutura de
qualquer mulher e adivinhe... Solteiríssimo. Ele foi
operado. Foi muito bem cuidado, é claro!
- Pelo brilho dos seus olhos, já começou balançando você.
- Márcia sorriu. – Será muito bem tratado se depender de
você.
- Digamos que minha autoestima está um pouco em baixa.
Mas adoraria cuidar dele. - Quando olhou o relógio. Levou
um susto, já era tarde. Levantou-se para sair.
- Nossa! Como as horas estão passando. O papo está bom,
mas tenho que ir, amanhã o dia será cheio. Preciso
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conversar com minha mãe e o Luís para saber como
foi o dia deles.
- OK! Antes que me esqueça preciso que você venha
trocar os curativos. – Disse Márcia.
- Só me ligar quando você quiser estarei à disposição.
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Capitulo trinta e sete
A SEPARAÇÃO
Gabriel superava as expectativas, sua recuperação era
muito boa e o dia da alta estava mais próximo do que se
imaginava.
Carlos sabia que o garoto teria um futuro muito melhor do
que tivera até o momento. Apesar da morte dos pais.
Soube que ele presenciara sua mãe sendo espancada pelo
pai, por ciúmes. O que deveria ser um lar era um inferno.
Gabriel contou-lhe que muitas vezes, quando chegava em
casa, cenas dignas de horror eram vistas. Um festival de
pancadaria, ele sem poder fazer nada apenas sofria.
Prometera a sua mãe que teria uma profissão, ganharia
muito dinheiro e daria a ela uma vida mais feliz longe de
tudo. O que ele não sabia era que o destino tinha reservado
outros caminhos para todos, que não poderia cumprir sua
promessa.
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Carlos muitas vezes ao imaginar o que passava no
pensamento de seu amigo, de tudo quanto sofrera, de toda
raiva que provavelmente sentia do pai por ter feito isso
com sua vida e de sua mãe, chegou a chorar. Não entendia
por que aconteciam essas coisas, por que o destino era tão
cruel em deixar uma criança passar sozinha por tudo isso,
sem ninguém que amenizasse a sua dor, pra consolar e
amparar. Perdido em seus pensamentos quase não reparou
na pessoa que abria a porta do quarto.
Rui acabara de chegar com uma cadeira de roda e quando
cumprimentaram os dois, o comentário feito por Carlos foi
instantâneo.
- Lá vem o taxista.
- O que é isso senhor Carlos? Sou o maior piloto de maca
e cadeira de rodas do pedaço. Minha fama já atravessou os
muros do complexo hospitalar e esta conquistando outras
fronteiras.
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- Realmente sua habilidade é reconhecida por todos, mas
pensando bem, preferimos ir andando que é muito mais
seguro. – Completou.
- Não se preocupe com nada, pode deixar comigo, sei tudo
sobre pilotar VSM.
– V o quê? – Perguntaram ao mesmo tempo.
- Veículos sem motores.
- Quem vai ser o felizardo a ter mais emoção por hoje? -
Perguntou Carlos.
- Desta vez, é o senhor mesmo seu Carlos.
- Não sei por que não mantive minha boca calada. - A
risada foi generalizada, Gabriel ria tanto que quase não
conseguia falar.
- Por que devo sentar nessa cadeira maluca?
- Não quer dar uma volta?
- Claro que não Rui.
- O senhor está de alta, já pode ir para casa.
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O que deveria ser uma felicidade para Carlos
transformou-se em pesadelo, porque não queria deixar
Gabriel sozinho.
- Deve ter acontecido algum engano. - Disse indignado.
Nesse momento entra dona Raquel, como sempre fazia sua
visita matinal.
- Bom dia para todos! – Disse ela.
- Hoje não está sendo um bom dia. Está dando alta sem
meu consentimento. – Resmungou Carlos.
- Se o senhor está bom o melhor é ir para casa, porque lá
seu restabelecimento total será mais rápido. Há outras
pessoas necessitando de atendimento.
- Sei disso, mas gostaria de sair no mesmo dia que o
Gabriel.
- As coisas nem sempre são como queremos, mas como
tem que ser. Tenho certeza que o Gabriel vai se esforçar
também para sair rapidamente. O senhor poderá visitá-lo
quando quiser.