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A Leitura e a Contemporaneidade
SILVA, Ezequiel Teodoro da. A leitura no mundo contemporâneo. In:
RIBEIRO, Francisco Aurélio (org). Leitura e Literatura Infanto-Juvenil:
Ensaios Vitória: UEES, 1998. pp. 21-27.
Laelson José dos Santos
Esta Resenha é baseada no Ensaio do Professor Ezequiel Teodoro da Silva, da
Universidade de Campinas (UNICAMP) e inserido no livro Leitura e Literatura Infanto-
Juvenil, de Francisco Aurélio Ribeiro. No mesmo o autor apresenta informações sobre as
práticas de leitura no mundo contemporâneo buscando “encontrar o fenômeno das co-
ocorrências e das concorrências das linguagens” (p.22), nos meios de comunicação em
circulação.
Com a percepção clinica de um pesquisador, Silva inicia seu trabalho apresentando o
universo moderno com suas tecnologias expondo-os de modo a identificar o momento
histórico que será avaliado e o ambiente de ensino oferecido hoje à sociedade.
Sabemos que a pontuação histórica de um escritor pode ser informada pelos traços
deixados por este em sua obra. Não foi na era medieval nem no início ou meio do século XX
que surgiram os “video games, videotextos, videobares, videoeducação nas escolas,
videotreinamentos nas empresas...” (p.21), isto tudo faz parte de um momento moderno da era
tecnológica, é algo atualíssimo e que o autor pontua muito oportunamente para deixar
explícito o seu interesse em falar da era tecnológica e de seu uso na educação.
Sendo objeto de estudo de Silva a práticas de leitura no mundo contemporâneo, une-se
este a vários pesquisadores da área interessados em contribuir para o aperfeiçoamento de tais
práticas. Pesquisadores como Maria Lúcia Ribeiro, Alberto Manguel, Delia Lerner, Roger
Chartier e Tatiana Belinky apresentam seus pensamentos e alguns se coadunam com o do
autor.
O pensamento de Silva sobre os modos de leitura contemporânea também já foi visto
por Manguel, vejamos o que ele diz: “A atual cultura de imagens é superficialíssima, ao
contrário do que acontecia na idade média e na renascença, épocas também marcadas por ma
forte imagética” (p.11); em contrapartida Chartier defende que: “Estamos vivendo a primeira
transformação da técnica de produção de textos e essa mudança na forma e no suporte
influencia o próprio habito de ler” (Rev. Nova Escola). Reconhecidamente estes dois
pensadores estão preocupados com o uso das novas tecnologias, entretanto, não podemos
esquecer que todos os meios de transmissão de conhecimento são validos, independente da
forma que este chegue ao destinatário da mensagem. É o que diz Silva:
Eu não creio, por exemplo, que o livro, em função de suas características de
portabilidade e os seus propósitos de fruição estética, venha desaparecer
algum dia. Eu também não creio que a escrita (manuscrita ou impressa)
venha a ser desmerecida ou ultrapassada pela ostensividade, penetração e/ou
impregnação dos signos imagéticos na vida do homem de hoje. (p.22)
Assim como estamos vivendo este dilema dos efeitos da evolução das formas de
transmissão de conhecimentos, houve também quando Gutemberg desenvolveu a espetacular
prensa. Leia o que diz Schilling:
Em Oxford, na Inglaterra, mais ou menos pela mesma época, um pouco depois
da metade do século XV, a reação de estupor, esta real, não foi diferente.
Dizem que na primeira reunião da congregação docente feita naquela casa do
saber, em seguida à chegada da notícia do extraordinário acontecimento que se
dera em Mainz, a desolação fora geral. Os professores ingleses,
desconsolados, acreditaram que, com a vinda dos livros impressos, eles não
teriam mais função. No futuro, pensaram eles, qualquer um poderia adquirir
um livro e aprenderiam tudo por si mesmos. (educaterra.terra.com.br)
Não adianta olhar para trás querendo retroceder e pensar que o futuro nos devorará. O
impresso trouxe sua utilidade e não será esquecida nem cairá em desuso, entretanto, as novas
tecnologias são necessárias para implementar as anteriores; é o que Theodoro chama de “co-
ocorrência”. Não adianta fugir da diversificada possibilidade de aquisição do saber pensando
em perdas, como pensa Manguel:
É impossível interiorizar o texto que aparece na tela luminosa. Isso me faz
pensar que não lidamos com a informática com a maneira correta. Veja o caso
do CD-ROM. Insistimos em utilizá-lo como artifício para enriquecer a edição
de uma obra, quando o melhor recipiente para um texto é um livro
convencional. (p.14)
Não podemos acreditar que com os sofisticados servidores de informações que tem a
capacidade de acumular documentos com limites inimagináveis e retê-los por tempo
indeterminado, tenha sido conhecido de Manguel no momento de seu comentário, porém, a
sua visão acerca da percepção da informação na tela não tem sido empecilho para
compreensão do texto, Vejamos:
O essencial da leitura hoje passa pela tela do computador (...) A tecnologia
reforça a possibilidade de acesso ao texto literário, mas também faz com que
seja difícil aprender sua totalidade, seu sentido completo. É a mesma
superfície (uma tela) que exibe todos os tipos de texto no mundo eletrônico.
(CHARTIER, agosto, 2007, p.26)
Mas, também, não permite a continuidade da leitura, pelos atrativos que envolvem as
páginas. Enquanto se lê a obra, somos levados a aquisição de significados que acabam
desviando o leitor da linearidade da obra. Estas dificuldades devem ser corrigidas pelo
educador moderno. Não se pode permitir a exclusão de determinado conteúdo por não estar se
canalizando as fontes para o recipiente adequado. Chartier aconselha o uso do computador de
forma adequada para apresentar métodos pedagógicos eficientes, entretanto reconhece que o
despreparo de muitos professores pode estar sendo a causa da ineficiência de algumas
tecnologias. Sabe-se que a quantidade de textos disponíveis na multimídia é incontável, sendo
muitas vezes mutilados, remendados ou até inventados por indivíduo desqualificados; cabe
nesse momento a intermediação do professor para essa orientação. Sobre isso diz Chartier:
“Precisamos fornecer instrumentos críticos para controlar e corrigir informações na internet,
evitando que a máquina seja um veículo de falsificação.” (Agosto, 2007, p.25)
Silva afirma que: “Não há duvida que os textos feitos circular através de suporte
digitalizados alteram o tipo de absorção e o entendimento da informação pelo leitor.” (p.24)
Na verdade o que se faz necessário é compreender o uso correto dos conhecimentos
cognitivos do texto. Como diz a Professora Lúcia no Caderno FAFIRE: “Portanto, para que
um texto seja compreensível, ele tem que fornecer um modelo comum entre o autor e o leitor”
(Junho, 2003, p.49)
Os textos digitalizados nunca substituirão os impressos; através da literatura impressa,
trabalhamos a percepção e imaginação exercitando-as para interlocução e lembranças com
maior habilidade cognitiva; vemos o mesmo na teledramaturgia, com a transformação do
romance, o telespectador fica bitolado às percepções de um diretor de produção com seu
imaginário e sua realidade. Informa também das vantagens em ler um texto digitalizado, pois
no momento da leitura em tela, podem-se abrir outras páginas para pesquisas acerca de
significados e conteúdos estranhos ao leitor.
Voltando a questão do ensino, há na educação brasileira algumas dificuldades no
ensino-aprendizagem. Mesmo tendo atualmente um incentivo como nunca se viu antes na
educação brasileira, não se nota um aproveitamento a altura. Silva diz que: “... a escola vem
cumprindo muito mal essa responsabilidade.” (p.26) Isto parte do despreparo dos professores
em manejar novas tecnologias. É o que acontece em cidades em desenvolvimento acima da
média, chegam indústrias com equipamentos de ultima geração e os nativos não conseguem
dominar por não terem se preparados; na educação o material chegou e o trabalhador não
estava qualificado para usar.
Hoje o país não pode reclamar de instrumentos para o aperfeiçoamento do ensino,
diferente de épocas como as do Brasil colônia em que enquanto “... 720 brasileiros se
graduavam na Universidade de Coimbra, destino dos que buscavam formação superior (...)
apenas a Universidade do México formou 7.850 bacharéis e 473 doutores e licenciados.”
(Revista Educação, 2007, p.44)
Silva encerra seu ensaio, apoiando o uso de tecnologias aliadas aos escritos, porém
temendo a perda dos espaços de leituras dos livros impressos. Afirma que a palavra escrita
não pode ser esquecida e que as novas tecnologias precisam ser absolvidas e repassadas de
maneira adequada pelos docentes.
O trabalho de Silva nos serve de raio-x de uma realidade atual. As tendências
modernas de percepção cognitivas, e imagéticas reconhecidamente precisam ser apreendidas
por educadores preocupados com um sistema produtor de tecnologias, hoje acessíveis a todas
as classes sociais. A aquisição de tecnologia e informação tem produzido uma mudança de
posicionamento intelectual de grande parte da população. Os instrumentos tecnológicos
precisam ser dominados e usados de forma correta, é ai que precisamos de profissionais de
qualidade para realizar esta tarefa. O educador não deve, porém excluir as formas
educacionais que tem mostrado resultados só pelo fato de surgirem novas maneiras de
trabalho.
É interessante equilibrar a aplicação de atividades de acordo com suas condições, isto
porque mesmo com tanta tecnologia, sabemos que há lugares onde esta não alcançou. Os
leitores atuais não seguem a linearidade que estamos acostumados, nesta visão que
reconhecemos a validade do trabalho deste autor para ajudar profissionais que pretendam
melhorar sua postura ante a modernidade.
Referências
RIBEIRO DE OLIVEIRA. Maria Lúcia, Leitura: Um Ato de Interação Comunicativa
e um Processo Inferencial, Cadernos FAFIRE,vol. 2, n.5 (maio/junho 2003)-Recife ISSN
16767349
MENAI, Tania. Revista Veja- Ler é poder-Entrevista: Alberto Manguel; Editora Abril;
07 de julho,1999; p. 11-15.
DOSSIE/Entrevista, Um réquim de luxo, Revista Educação. Ano 11-n. 121. Maio,
2007. pp.44-46
SCHILLING, Voltaire. O prelo Luminoso de Gutenberg,
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/gutemberg2.htm
ZAHAR, Cristina. Os livros resistirão às tecnologias digitais, Revista Nova Escola;
Ed.204; Agosto de 2007.

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A leitura e a contemporaneidade

  • 1. A Leitura e a Contemporaneidade SILVA, Ezequiel Teodoro da. A leitura no mundo contemporâneo. In: RIBEIRO, Francisco Aurélio (org). Leitura e Literatura Infanto-Juvenil: Ensaios Vitória: UEES, 1998. pp. 21-27. Laelson José dos Santos Esta Resenha é baseada no Ensaio do Professor Ezequiel Teodoro da Silva, da Universidade de Campinas (UNICAMP) e inserido no livro Leitura e Literatura Infanto- Juvenil, de Francisco Aurélio Ribeiro. No mesmo o autor apresenta informações sobre as práticas de leitura no mundo contemporâneo buscando “encontrar o fenômeno das co- ocorrências e das concorrências das linguagens” (p.22), nos meios de comunicação em circulação. Com a percepção clinica de um pesquisador, Silva inicia seu trabalho apresentando o universo moderno com suas tecnologias expondo-os de modo a identificar o momento histórico que será avaliado e o ambiente de ensino oferecido hoje à sociedade. Sabemos que a pontuação histórica de um escritor pode ser informada pelos traços deixados por este em sua obra. Não foi na era medieval nem no início ou meio do século XX que surgiram os “video games, videotextos, videobares, videoeducação nas escolas, videotreinamentos nas empresas...” (p.21), isto tudo faz parte de um momento moderno da era tecnológica, é algo atualíssimo e que o autor pontua muito oportunamente para deixar explícito o seu interesse em falar da era tecnológica e de seu uso na educação. Sendo objeto de estudo de Silva a práticas de leitura no mundo contemporâneo, une-se este a vários pesquisadores da área interessados em contribuir para o aperfeiçoamento de tais práticas. Pesquisadores como Maria Lúcia Ribeiro, Alberto Manguel, Delia Lerner, Roger Chartier e Tatiana Belinky apresentam seus pensamentos e alguns se coadunam com o do autor. O pensamento de Silva sobre os modos de leitura contemporânea também já foi visto por Manguel, vejamos o que ele diz: “A atual cultura de imagens é superficialíssima, ao contrário do que acontecia na idade média e na renascença, épocas também marcadas por ma forte imagética” (p.11); em contrapartida Chartier defende que: “Estamos vivendo a primeira transformação da técnica de produção de textos e essa mudança na forma e no suporte influencia o próprio habito de ler” (Rev. Nova Escola). Reconhecidamente estes dois pensadores estão preocupados com o uso das novas tecnologias, entretanto, não podemos esquecer que todos os meios de transmissão de conhecimento são validos, independente da forma que este chegue ao destinatário da mensagem. É o que diz Silva: Eu não creio, por exemplo, que o livro, em função de suas características de portabilidade e os seus propósitos de fruição estética, venha desaparecer algum dia. Eu também não creio que a escrita (manuscrita ou impressa) venha a ser desmerecida ou ultrapassada pela ostensividade, penetração e/ou impregnação dos signos imagéticos na vida do homem de hoje. (p.22)
  • 2. Assim como estamos vivendo este dilema dos efeitos da evolução das formas de transmissão de conhecimentos, houve também quando Gutemberg desenvolveu a espetacular prensa. Leia o que diz Schilling: Em Oxford, na Inglaterra, mais ou menos pela mesma época, um pouco depois da metade do século XV, a reação de estupor, esta real, não foi diferente. Dizem que na primeira reunião da congregação docente feita naquela casa do saber, em seguida à chegada da notícia do extraordinário acontecimento que se dera em Mainz, a desolação fora geral. Os professores ingleses, desconsolados, acreditaram que, com a vinda dos livros impressos, eles não teriam mais função. No futuro, pensaram eles, qualquer um poderia adquirir um livro e aprenderiam tudo por si mesmos. (educaterra.terra.com.br) Não adianta olhar para trás querendo retroceder e pensar que o futuro nos devorará. O impresso trouxe sua utilidade e não será esquecida nem cairá em desuso, entretanto, as novas tecnologias são necessárias para implementar as anteriores; é o que Theodoro chama de “co- ocorrência”. Não adianta fugir da diversificada possibilidade de aquisição do saber pensando em perdas, como pensa Manguel: É impossível interiorizar o texto que aparece na tela luminosa. Isso me faz pensar que não lidamos com a informática com a maneira correta. Veja o caso do CD-ROM. Insistimos em utilizá-lo como artifício para enriquecer a edição de uma obra, quando o melhor recipiente para um texto é um livro convencional. (p.14) Não podemos acreditar que com os sofisticados servidores de informações que tem a capacidade de acumular documentos com limites inimagináveis e retê-los por tempo indeterminado, tenha sido conhecido de Manguel no momento de seu comentário, porém, a sua visão acerca da percepção da informação na tela não tem sido empecilho para compreensão do texto, Vejamos: O essencial da leitura hoje passa pela tela do computador (...) A tecnologia reforça a possibilidade de acesso ao texto literário, mas também faz com que seja difícil aprender sua totalidade, seu sentido completo. É a mesma superfície (uma tela) que exibe todos os tipos de texto no mundo eletrônico. (CHARTIER, agosto, 2007, p.26) Mas, também, não permite a continuidade da leitura, pelos atrativos que envolvem as páginas. Enquanto se lê a obra, somos levados a aquisição de significados que acabam desviando o leitor da linearidade da obra. Estas dificuldades devem ser corrigidas pelo educador moderno. Não se pode permitir a exclusão de determinado conteúdo por não estar se canalizando as fontes para o recipiente adequado. Chartier aconselha o uso do computador de forma adequada para apresentar métodos pedagógicos eficientes, entretanto reconhece que o despreparo de muitos professores pode estar sendo a causa da ineficiência de algumas tecnologias. Sabe-se que a quantidade de textos disponíveis na multimídia é incontável, sendo muitas vezes mutilados, remendados ou até inventados por indivíduo desqualificados; cabe nesse momento a intermediação do professor para essa orientação. Sobre isso diz Chartier:
  • 3. “Precisamos fornecer instrumentos críticos para controlar e corrigir informações na internet, evitando que a máquina seja um veículo de falsificação.” (Agosto, 2007, p.25) Silva afirma que: “Não há duvida que os textos feitos circular através de suporte digitalizados alteram o tipo de absorção e o entendimento da informação pelo leitor.” (p.24) Na verdade o que se faz necessário é compreender o uso correto dos conhecimentos cognitivos do texto. Como diz a Professora Lúcia no Caderno FAFIRE: “Portanto, para que um texto seja compreensível, ele tem que fornecer um modelo comum entre o autor e o leitor” (Junho, 2003, p.49) Os textos digitalizados nunca substituirão os impressos; através da literatura impressa, trabalhamos a percepção e imaginação exercitando-as para interlocução e lembranças com maior habilidade cognitiva; vemos o mesmo na teledramaturgia, com a transformação do romance, o telespectador fica bitolado às percepções de um diretor de produção com seu imaginário e sua realidade. Informa também das vantagens em ler um texto digitalizado, pois no momento da leitura em tela, podem-se abrir outras páginas para pesquisas acerca de significados e conteúdos estranhos ao leitor. Voltando a questão do ensino, há na educação brasileira algumas dificuldades no ensino-aprendizagem. Mesmo tendo atualmente um incentivo como nunca se viu antes na educação brasileira, não se nota um aproveitamento a altura. Silva diz que: “... a escola vem cumprindo muito mal essa responsabilidade.” (p.26) Isto parte do despreparo dos professores em manejar novas tecnologias. É o que acontece em cidades em desenvolvimento acima da média, chegam indústrias com equipamentos de ultima geração e os nativos não conseguem dominar por não terem se preparados; na educação o material chegou e o trabalhador não estava qualificado para usar. Hoje o país não pode reclamar de instrumentos para o aperfeiçoamento do ensino, diferente de épocas como as do Brasil colônia em que enquanto “... 720 brasileiros se graduavam na Universidade de Coimbra, destino dos que buscavam formação superior (...) apenas a Universidade do México formou 7.850 bacharéis e 473 doutores e licenciados.” (Revista Educação, 2007, p.44) Silva encerra seu ensaio, apoiando o uso de tecnologias aliadas aos escritos, porém temendo a perda dos espaços de leituras dos livros impressos. Afirma que a palavra escrita não pode ser esquecida e que as novas tecnologias precisam ser absolvidas e repassadas de maneira adequada pelos docentes. O trabalho de Silva nos serve de raio-x de uma realidade atual. As tendências modernas de percepção cognitivas, e imagéticas reconhecidamente precisam ser apreendidas por educadores preocupados com um sistema produtor de tecnologias, hoje acessíveis a todas as classes sociais. A aquisição de tecnologia e informação tem produzido uma mudança de posicionamento intelectual de grande parte da população. Os instrumentos tecnológicos precisam ser dominados e usados de forma correta, é ai que precisamos de profissionais de qualidade para realizar esta tarefa. O educador não deve, porém excluir as formas
  • 4. educacionais que tem mostrado resultados só pelo fato de surgirem novas maneiras de trabalho. É interessante equilibrar a aplicação de atividades de acordo com suas condições, isto porque mesmo com tanta tecnologia, sabemos que há lugares onde esta não alcançou. Os leitores atuais não seguem a linearidade que estamos acostumados, nesta visão que reconhecemos a validade do trabalho deste autor para ajudar profissionais que pretendam melhorar sua postura ante a modernidade. Referências RIBEIRO DE OLIVEIRA. Maria Lúcia, Leitura: Um Ato de Interação Comunicativa e um Processo Inferencial, Cadernos FAFIRE,vol. 2, n.5 (maio/junho 2003)-Recife ISSN 16767349 MENAI, Tania. Revista Veja- Ler é poder-Entrevista: Alberto Manguel; Editora Abril; 07 de julho,1999; p. 11-15. DOSSIE/Entrevista, Um réquim de luxo, Revista Educação. Ano 11-n. 121. Maio, 2007. pp.44-46 SCHILLING, Voltaire. O prelo Luminoso de Gutenberg, http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/gutemberg2.htm ZAHAR, Cristina. Os livros resistirão às tecnologias digitais, Revista Nova Escola; Ed.204; Agosto de 2007.