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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP
Escola de Artes, Ciências e Humanidades - EACH
Curso de Gestão de Políticas Públicas
Trabalho: Disciplina Formação Econômica e Social do Brasil II –
FESB II
O BRASIL ESTÁ SE DESINDUSTRIALIZANDO? - UMA
ANÁLISE DO DEBATE EM TORNO DO TEMA.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo o estudo da seguinte questão: O Brasil está
se desindustrializando? Dentro dos limites da proposta de elaboração do artigo como
atividade de avaliação final da disciplina Formação Econômica e Social do Brasil II –
FESB II, pretendeu-se realizar uma pequena introdução ao tema a partir de breve
revisão bibliográfica, inserindo-o na bibliografia comum ao último período histórico
analisado no curso (1985-2014). Este trabalho fez uso ainda de dados econômicos e
estatísticos que contribuíram para a elucidação do tema, auxiliando na compreensão da
teoria exposta.
Professores
Agnaldo Valentin
Wagner Pralon Mancuso
Leonardo Mendes de Campos
Nº USP: 6638916
São Paulo
2015
1
INTRODUÇÃO
O Brasil foi um dos poucos países que conseguiram atravessar a crise econômica
mundial de 2008 sem maiores danos para a sua estabilidade. Enquanto os países
desenvolvidos entravam em recessão com taxas negativas de crescimento e aumento do
desemprego, no Brasil, após breve período de estagnação, o Produto Interno Bruto
(PIB) voltou a crescer, assim como as taxas de ocupação da mão de obra1
.
No entanto, passados alguns anos, a economia brasileira encontra-se novamente
sob desconfiança. Os meios de comunicação alertam de forma recorrente para o
pequeno crescimento do PIB enquanto as projeções de atividade econômica são
reajustadas constantemente para patamares menores2
.
Por outro lado, os indicadores que medem os níveis de desemprego e da renda da
população mostravam até pouco tempo atrás uma situação de pleno emprego com
aumento da renda real. Assim como, desfruta-se de uma aparente melhora da condição
de vida em todo o país, assentada principalmente no aumento do poder de consumo dos
indivíduos (POCHMANN, 2012).
Entre as causas de tal contradição dos indicadores da economia nacional estaria
o processo de desindustrialização? Fenômeno identificado cada vez mais nas economias
dos países desenvolvidos, esse processo se caracteriza basicamente pela transferência da
mão de obra do setor industrial para o de serviços, que passa então a corresponder pela
maior parte dos empregos do país.
Dessa forma, dentro dos limites estabelecidos pela proposta de avaliação da
disciplina Formação Econômica e Social do Brasil II – FESB II, o presente trabalho tem
por objetivo buscar indícios que possam vir a responder a seguinte pergunta: O Brasil
está se desindustrializando?
1 BRASIL, BBC. Lula acertou ao falar que crise era 'marolinha', diz 'Le Monde', Estadão, 17/09/2009.
Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,lula-acertou-ao-falar-que-crise-era-
marolinha-diz-le-monde,436390>. Acesso em: 09/01/2015.
VIANNA, Rodrigo. A fama de Pochmann e o pernil de Delfim, Carta Capital, 18/02/2011. Disponível
em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/a-fama-de-pochmann-e-o-pernil-de-delfim>. Acesso em:
09/01/2015.
2 DRUMMOND, Carlos. Por que a indústria e o PIB desabam, Carta Capital, 12/08/2014. Disponível
em: <http://www.cartacapital.com.br/economia/porqueaindustriaeopibdesabam4522.html>. Acesso em:
03/01/2015.
DRUMMOND, Carlos. Crescer, a saída obrigatória para o governo, Carta Capital, 21/11/2014.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/825/saidaobrigatoria7268.html>. Acesso em:
03/01/2015.
2
Para cumprir com o pretendido, este estudo fez uso dos textos da bibliografia
comum ao último período histórico analisado na disciplina FESB II, ou seja, A república
democrática atual (1985-2014). De maneira complementar, pretendeu-se realizar uma
breve revisão bibliográfica em torno do tema específico da desindustrialização. Assim
como, fez-se uso de dados econômicos e estatísticos que colaboraram na compreensão
da teoria exposta.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: ASPECTOS ECONÔMICOS,
SOCIAIS E POLÍTICOS
Como mencionado na Introdução, tendo como base a bibliografia da disciplina
FESB II indicada para o período histórico que corresponde por A república democrática
atual (1985-2014), investigou-se os aspectos econômicos, sociais e políticos presentes
nos textos que possam contribuir para a compreensão do debate contemporâneo em
torno da desindustrialização brasileira.
A redemocratização
A década de 80 pode ser caracterizada como uma década perdida, segundo
Eduardo Modiano (MODIANO, 1995, p. 383). A política econômica brasileira deste
período é marcada por três diferentes planos de estabilização: Cruzado (1986), Bresser
(1987) e Verão (1989), ainda assim, nenhum deles ficaria conhecido por seu sucesso. O
que ficaria na memória dos brasileiros seria o descontrole inflacionário e a constante
ameaça da hiperinflação (MODIANO, 1995).
Os anos 80 marcam o fim do “milagre brasileiro”, época em que o Brasil teve
uma política industrial consistente, com crescimento econômico. A partir de então, a
participação da atividade industrial no PIB diminui gradualmente. No debate atual, este
momento é algumas vezes sugerido como o do início da desindustrialização brasileira
(OREIRO E FEIJÓ, 2010).
BIER, PAULANI e MESSENBERG (1987) associam a estabilidade da
economia que levara ao “milagre brasileiro” a dois pontos. Primeiro, com o contexto
externo de extrema pujança ligado ao crescimento da economia estadunidense. Assim, o
“milagre” seria fruto antes das condições da economia internacional, que do pleno
desenvolvimento interno dos fatores de produção capitalista, como se atesta a partir do
seguinte trecho, sobre a balança comercial do Brasil:
É a crise aguda dessa doença que acaba por contaminar o Brasil: a ilusão de um
preço de longo prazo normal e estável para as matérias-primas e insumos
3
industriais comercializáveis começa a se desvanecer (BIER, PAULANI e
MESSENBERG, 1987, p. 78).
Por outro lado, as medidas autoritárias do governo militar no controle da
economia nacional também são apontadas como contribuição para a estabilidade
econômica. Valendo-se de medidas ditatoriais, o governo passou a modernizar o sistema
financeiro nacional e a exercer controle sobre os sindicatos.
Em sua análise do período, conhecido também como o da redemocratização,
Brasilio Sallum Jr. pontua que as dificuldades que levaram à crise do poder dos
militares iniciam-se fora da política, na economia. Por detrás delas está a crise do
Estado Desenvolvimentista (SALLUM Jr., 1996, p. 63).
Segundo o autor, o Estado Desenvolvimentista era um pacto entre as classes
dirigentes – políticos adeptos do poder autoritário, proprietários e empresários – visando
o crescimento da economia brasileira. No entanto, com a crise do petróleo e a moratória
mexicana entre o final de 1970 e o início de 1980, o financiamento externo se torna
impossível, inviabilizando-se o projeto (SALLUM Jr., 1996, p. 65).
Como o pacto baseava-se no poder das classes dirigentes, as consequências da
crise econômica foram assumidas principalmente por assalariados, burocratas e as
empresas estatais. Antes um pilar importante das políticas desenvolvimentistas, aqueles
que compunham os quadros da administração pública passaram a depender da própria
sorte.
No meio empresarial, o antigo consenso se esvai e sugestões de políticas que
possam induzir novamente o desenvolvimento econômico passam a surgir. O mesmo
autor ainda aponta que é a partir de então que se inicia a polarização conhecida até o
presente entre duas correntes econômicas nacionais: de um lado, os neoliberais, de
outro, os nacional-desenvolvimentistas (SALLUM Jr., 1996, p. 82).
Como é observado até hoje, inclusive no debate em torno da desindustrialização
brasileira, os neoliberais são contra o financiamento das atividades econômicas estatais
e a intervenção do Estado na economia, afirmando a preponderância dos mecanismos de
mercado. Já os nacional-desenvolvimentistas acreditam no estímulo à atividade
econômica industrial por meio da reforma do sistema financeiro.
Entre a sociedade civil, a crise econômica levaria à mobilização contra o regime
autoritário dos principais prejudicados, os assalariados e o funcionalismo público, pela
4
primeira vez desde o início da ditadura. Será esse movimento que culminará nas
“Diretas Já”.
Como mostra Antônio Sérgio Rocha (2013, p. 48), inicialmente orquestrado
pelos políticos do Congresso com o apoio de governadores dos estados, o “Diretas Já”
se tornou um movimento de massa. Pressionado, o regime passa a recuar em suas
pretensões econômicas recessivas que prejudicavam a maior parte da população e em
suas políticas autoritárias que visavam manter o controle sobre os trabalhadores.
Conforme Rocha escreve sobre o despertar do movimento operário brasileiro,
concentrado no ABC paulista, no final dos anos 70:
Inicialmente uma luta dos trabalhadores contra o arrocho salarial, a contestação
frontal à política econômica do regime acarretada pelas greves levou o movimento
a uma escalada de enfrentamentos que, ao final, incluiu na pauta o fim da tutela do
Estado nos conflitos trabalhistas – em outros termos, nada menos que o desmonte
do próprio sindicalismo corporativista no país (ROCHA, 2013, p. 44)
No Congresso Nacional, o antigo partido Movimento Democrático Brasileiro -
MDB capitalizaria politicamente todo o movimento de oposição à ditadura militar em
sua proposta baseada em quatro pontos: volta ao Estado de direito, anistia política,
eleições diretas para presidência da República e uma nova Constituição (ROCHA,
2013,p. 37).
Dessa forma, confirma-se o quadro desenhado por Brasilio Sallum Jr. (1996),
que vê nas manifestações da sociedade civil contra o regime o ponto culminante de uma
sociedade de classes forjada pelo próprio autoritarismo. O movimento operário que
possibilitou o “milagre brasileiro” não poderia mais ser contido com repressão e
violência. Sendo assim, buscava sua autonomia através do sindicalismo.
O neoliberalismo brasileiro
Os anos 90 chegam sob a ameaça da instabilidade econômica e da dívida
externa. Como solução, o governo de Fernando Henrique Cardoso realiza uma série de
reformas visando o encolhimento do Estado e o controle da dívida pública soberana
(REZENDE, 2002).
Como destaca Flávio da Cunha Rezende, as reformas baseavam-se em dois
eixos, o ajuste fiscal e a mudança institucional:
Enquanto as reformas da primeira geração orientaram-se por iniciativas voltadas
ao ajuste fiscal, envolvendo cortes nos gastos públicos, reformas tributárias,
liberalização econômica e comercial, bem como desregulamentação e privatizações
5
em setores específicos; a segunda geração voltou-se para empreender mudanças
institucionais mais sólidas (REZENDE, 2002, p. 166).
Assim como na época, as medidas de liberalização econômica e comercial e
desregulamentação deste período são criticadas até hoje por terem contribuído para a
deterioração da indústria nacional. Identificadas com o neoliberalismo, essas políticas
permitiram a abertura comercial e a concorrência com produtos externos sem qualquer
contrapartida à proteção da indústria nacional (BRESSER-PEREIRA, 2010; MATTOS;
OREIRO E FEIJÓ, 2010).
A política neoliberal adotada durante o governo FHC só teria fim com a chegada
ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores - PT.
Como afirmam Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013, p. 31), a década de 90
ficaria marcada pela ação do Estado pautada pelos interesses do grande capital
financeiro internacional em detrimento da grande burguesia interna brasileira,
identificada com a indústria nacional.
O novo desenvolvimentismo
Segundo Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013), a subida ao poder do
Partido dos Trabalhadores só foi possível devido a uma ampla aliança identificada como
frente neodesenvolvimentista. Esta formada pelos seguintes segmentos sociais: a grande
burguesia brasileira, a baixa classe média, o operariado urbano e o campesinato.
Em oposição à frente neodesenvolvimentista, o campo neoliberal ortodoxo
identificado como “o grande capital financeiro internacional, a fração da burguesia
brasileira plenamente integrada a esse capital, a maior parte dos grandes proprietários de
terra e a alta classe média do setor público e do setor privado”, deixou de ter seus
interesses contemplados pelo governo pela primeira vez desde os anos 90 (BOITO Jr. E
BERRINGER, 2013, p. 31).
Portanto, representando os interesses da frente neodesenvolvimentista, o
governo do PT adota medidas políticas visando apoiar a indústria nacional. Assim,
realiza-se a expansão das empresas multinacionais brasileiras no exterior,
principalmente na América Latina e na África, ao mesmo tempo em que novos
empregos são gerados. Por outro lado, as políticas de redistribuição de renda e inclusão
social permitem às classes baixas melhorar de vida.
O artigo de André Singer, Raízes sociais e ideológicas do lulismo, tem como
objeto a ascensão promovida pelas políticas sociais no período. O autor entende que a
6
vitória de Lula para o segundo mandato, após o chamado “escândalo do mensalão”, se
deu com o apoio principalmente das classes baixas beneficiadas com as políticas
governamentais de aumento real do salário mínimo e de redistribuição de renda através
do Bolsa Família.
No entanto, apesar do relativo sucesso dos governos de Lula, Singer aponta que
há descontentamento com suas políticas sociais devido à desideologização que estariam
provocando. Segundo o autor, a população não identifica os avanços sociais
conquistados com as bandeiras da esquerda. Dessa forma, a população de baixa renda
não é capaz de se organizar politicamente em torno de suas próprias reivindicações.
Pelo contrário, ela é refém de lideranças passageiras (SINGER, 2009, p. 95).
Por seu lado, Marcio Pochmann (2012) avalia que o debate contemporâneo que
busca associar a ascensão socioeconômica de milhares de brasileiros à nova classe
média não tem sustentação nas evidências. Contrariamente ao que Amaury de Souza e
Bolívar Lamounier (2010) afirmam, para ele trata-se de ocultar o caráter de classe que
estaria por detrás do fenômeno.
Segundo Pochmann, os indivíduos identificados como membros da nova classe
média são, na verdade, trabalhadores com baixo nível educacional e pouca experiência
profissional, excluídos socialmente durante o predomínio dos governos de orientação
neoliberal dos anos 90. Como André Singer, Pochmann identifica esses indivíduos como
parte da massa que ascendeu socialmente durante os governo do PT devido as políticas
de redistribuição de renda e inclusão social, como o Bolsa Família.
Por fim, o autor afirma que se entre os anos 1960 e 1980 o crescimento da renda
per capita e do emprego no Brasil eram sustentados pela atividade industrial, o
crescimento econômico de 2003 em diante apresenta um padrão de diferente. No século
XXI, o principal responsável pelo desenvolvimento econômico brasileiro é o setor de
serviços (POCHMANN, 2012, p. 16).
O CONCEITO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Antes de examinar-se o conceito de desindustrialização, convém justificar a
importância do estudo do fenômeno. Para isso, deve-se começar pelo questionamento
do valor da atividade industrial para a população e a economia de um país. Não se trata
aqui de negar seus aspectos negativos, amplamente documentados e conhecidos, por
7
exemplo, por meio de movimentos ambientalistas e trabalhistas. Mas cabe ressaltar sua
importância para o bem estar social e o desenvolvimento econômico de um Estado.
Os países que estiveram na origem da atividade industrial e, mais tarde, os que a
incorporaram como forma predominante de produção material alcançaram gradualmente
melhores condições de vida. Isso se deveu à introdução de técnicas de produção que
permitiram ganhos de produtividade do trabalho e o aumento da renda per capita da
população (MATTOS, p. 4).
No entanto, como afirma Fernando Augusto Mansor de Mattos em sua análise do
processo de industrialização:
O bem estar social criado por esse processo contínuo de ganhos de produtividade
dependerá da capacidade da atividade econômica em geral de mantê-los ou ampliá-
los e será função também da maneira pela qual eles serão distribuídos socialmente
(MATTOS, p. 3).
Orientando-se pelo pensamento econômico heterodoxo, que se preocupa em
avaliar para além do tamanho da riqueza gerada, a forma como ela é produzida numa
dada economia, é possível chegar as seguintes conclusões que qualificam a atividade
industrial ou manufatureira (OREIRO E FEIJÓ; ORSOLIN, 2013):
(i) Existe forte relação causal entre o crescimento da produção manufatureira e o
crescimento do PIB;
(ii) Existe forte relação causal entre o crescimento da produção manufatureira e o
aumento da produtividade nesse setor, como resultado de rendimentos dinâmicos de
escala;
(iii) Existe forte relação causal entre a velocidade de expansão do setor
manufatureiro e o aumento da produtividade fora desse setor (ORSOLIN, p. 14).
Portanto, a indústria contribui para o desenvolvimento econômico e o bem estar
social de um país ao aumentar a produtividade da economia como um todo, estimular a
atividade econômica entre os diferentes setores econômicos e, assim, criar empregos,
proporcionar o aumento da geração de riqueza e a oportunidade de sua distribuição
entre a sociedade (MATTOS, p. 3).
Uma vez definida a importância da atividade industrial para a economia de um
país, pode-se dimensionar o valor do estudo do fenômeno da desindustrialização.
Inicialmente observada apenas nos países desenvolvidos, a desindustrialização tem se
tornado comum também nos países em desenvolvimento. Daí a recente importância que
tem ganhado seu estudo no mundo acadêmico.
8
Rowthorn e Ramaswany são apontados como precursores no estudo da
desindustrialização. A definição dos autores, de que este processo se dá com a perda de
participação do emprego industrial na taxa de ocupação total de um país, é
recorrentemente citada. De forma complementar, Tregenna também costuma ser
mencionada por introduzir à definição anterior a necessidade de avaliação da perda de
participação da indústria no valor adicionado ao PIB do país (MATTOS; OREIRO E
FEIJÓ, 2010). Dessa forma, a desindustrialização de um país pode ser definida como:
Uma situação na qual tanto o emprego industrial como o valor adicionado da
indústria se reduzem como proporção do emprego total e do PIB, respectivamente
(OREIRO E FEIJÓ, p. 221).
No entanto, se a desindustrialização é muitas vezes apresentada como um
processo natural entre os países desenvolvidos devido às altas taxas de industrialização
e produtividade da economia que levam à produção de alta tecnologia e ao crescimento
da ocupação no setor de serviços, também pode vir a ocorrer a chamada “doença
holandesa”.
A doença holandesa é conhecida como um ponto de inflexão nas economias
industrializadas, pois ocorre um processo em direção à valorização de commodities e
produtos de baixo valor agregado. Sendo assim, a atividade industrial acaba por ser
economicamente desestimulada em benefício das exportações dos produtos anteriores.
Por fim, este processo contribui para a desindustrialização na medida em que os
produtos industrializados tendem a perder participação no valor adicionado ao PIB
(OREIRO E FEIJÓ, 2010, p.222).
ANÁLISE DOS DADOS
Baseando-se nos conceitos destacados anteriormente para a identificação da
ocorrência do processo de desindustrialização, realizou-se a coleta de amostras dos
seguintes dados referentes à economia brasileira:
• Valor adicionado ao PIB por setor da economia, em porcentagem, entre
os anos de 1947 e 2013 (Gráfico 1);
• População ocupada nas regiões metropolitanas (RMs) nos setores da
indústria de transformação e de serviços, pelo número de pessoas, entre os anos
de 1988 e 2002 (Gráfico 2);
• Exportações dos setores agropecuário e industrial, em milhões de dólares,
entre os anos de 1974 e 2007 (Gráfico 3).
9
Valor adicionado ao PIB por setor da economia (%) - Gráfico 1
Na comparação do valor adicionado ao PIB por setor da economia, gráfico
acima, observa-se que no período situado como A república democrática atual (1985-
2014) a indústria mostra tendência de queda desde o início. Entre 1985 e 1989, sua
participação oscila pouco, de 47,97% para 46,34%. Porém, apenas entre 89 e 90, o valor
adicionado ao PIB despenca 7,65%, caindo para 38,68%.
No princípio dos anos 90, o setor contraria a tendência de encolhimento com
leve recuperação, voltando ao patamar de 40% de participação em 1994. No entanto,
logo em seguida, apresenta queda de 12,47%, em 1995 (27,53%). A partir de então, o
valor adicionado pela atividade industrial ao PIB oscilará entre o mínimo de 25,66%
(1998) até chegar ao pico de 30% (2004), voltando a diminuir para 24,98% em 2013,
último ano da amostra.
Por outro lado, em oposição ao setor industrial, o setor de serviços tem
apresentado tendência ascendente desde o início de 1985. Somente entre os biênios de
1986-1987 (8,9%), 1988-1989 (11,72%) e 1991-1992 (8,57%) o valor adicionado ao
PIB subiu mais de 8%, elevando-se ao pico de 81,82% (1993). No entanto, há uma
queda abrupta de participação de 17,57% entre 1993 e 1994, para o patamar de 64,25%.
No restante da década de 90, os valores oscilam pouco até o máximo de 68,58% (1999).
Já no século XXI, o valor adicionado pelos serviços ao PIB se mantém estável,
com pequenas oscilações. A participação mínima é atingida em 2004 (62,97%), para em
seguida recuperar-se com elevação contínua até 69,32% em 2013, último ano da
amostra.
10
Por fim, entre os três setores da economia apresentados, o setor agropecuário é o
que apresenta maior estabilidade durante a república atual (1985-2014). Em todo o
período, o valor adicionado pela agropecuária ao PIB oscilou somente 7,31% - mínimo
de 5,32% (2010) e máximo de 12,61% (1985). Porém, apesar de se manter
relativamente estável, a participação do setor agropecuário diminuiu no conjunto da
amostra.
População ocupada – Regiões Metropolitanas (RMs) por setor da economia
(por pessoa) – Gráfico 2
Quanto à população ocupada nas regiões metropolitanas do Brasil entre os
setores da indústria de transformação, de serviços e outras atividades, gráfico 2,
observa-se um equilíbrio no comportamento das variáveis ao longo do período da
amostra (1988-2002).
Destaca-se que o setor de serviços é o que emprega a maior parte da população.
No final dos anos 80, os serviços eram responsáveis por aproximadamente metade do
dos empregos nas regiões metropolitanas (47,42%). No início do século XXI, a marca é
ultrapassada com 54,46% do total.
Em comum, nota-se uma queda na taxa de ocupação entre 1990 e 1991 – de
16,98% na indústria de transformação e de 8,26% nos serviços. A partir daí, a ocupação
na indústria de transformação que era de 22,30% tende a diminuir gradualmente,
chegando ao mínimo de 16,03% em 2002. Enquanto isso, o setor de serviços recupera-
se e passa a crescer, chegando ao limite de 55,48% em 2002.
11
Exportações dos setores agropecuário e industrial (em milhões de dólares) - Gráfico 3
Concluindo, observa-se no gráfico 3 o comportamento das exportações dos
setores de agropecuária e de indústrias diversas em razão dos respectivos valores
exportados por cada um deles.
No período da república democrática atual (1985-2014) representado na
amostra, o valor das exportações do setor agropecuário oscila bastante enquanto o do
setor de indústrias diversas mantém-se estável com crescimento reduzido. Ambos os
setores se mantém abaixo do patamar de 2 bilhões de dólares em exportações até 1996.
No entanto, se em 1991 a diferença entre os valores exportados foi de apenas
270,3 milhões de dólares (29,81%), a partir de 1997 a agropecuária ultrapassa os dois
bilhões em exportações (US$ 3.062,9 bilhões), patamar que não é superado pela
indústria até o último ano da amostra (2007).
A partir de 1999, o valor obtido pelas exportações agropecuárias cresce
continuamente de forma acentuada, apenas com uma leve queda em 2005, chegando a
US$ 10.389,7 bilhões em 2007. Enquanto isso, para o mesmo ano, a indústria exporta
apenas US$ 1.853,9 bilhões, ou seja, uma diferença de 82,16% entre os valores
exportados.
CONCLUSÃO
Embora a análise dos dados da economia brasileira tenha sido limitada devido às
amostras temporais disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE não representarem o período histórico exato da república democrática atual,
encontraram-se indícios que podem oferecer respostas ao objetivo proposto por este
estudo.
12
Como apontado na literatura consultada, as décadas de 80 e 90 foram
extremamente ruins para a economia nacional e, particularmente, para a atividade
industrial. O valor adicionado ao PIB pelo setor caiu mais de 20% no período. Por outro
lado, a ocupação na indústria de transformação apresentou queda de 16,98% somente
entre 90 e 91, e depois permaneceu diminuindo.
Sendo assim, a partir da definição teórica elaborada por Rowthorn e Ramaswany
e Tregenna, conclui-se que o Brasil pode estar realmente se desindustrializando uma vez
que o valor adicionado ao PIB e a taxa de ocupação do setor industrial brasileiro vem
diminuindo. Além disso, ainda que não tenha sido objetivo deste estudo a identificação
da causa do fenômeno, a grande diferença entre o valor das exportações dos setores
agropecuário e industrial indica que pode tratar-se da “doença holandesa”.
13
BIBLIOGRAFIA
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brasileiro. Revista de Economia Política, Vol. 30, n. 2, Abr./Jun. 2010.
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busca de uma teorização compatível. Tese de mestrado: 2013.
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Parte 1, p. 163-207.
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Janeiro: Elsevier; Brasília: CNI, 2010.
15
ANEXOS
Fonte das tabelas: http://www.ipeadata.gov.br/
Valor
adicionado
ao PIB por
setor (%)
Data Agropecuário Industrial
1985 12,61 47,97
1986 12,09 47,20
1987 10,82 47,51
1988 11,39 46,76
1989 9,79 46,34
1990 8,10 38,69
1991 7,79 36,16
1992 7,72 38,70
1993 7,56 41,61
1994 9,85 40,00
1995 5,77 27,53
1996 5,51 25,98
1997 5,40 26,13
1998 5,52 25,66
1999 5,47 25,95
2000 5,60 27,73
2001 5,97 26,92
2002 6,62 27,05
2003 7,39 27,85
2004 6,91 30,11
2005 5,71 29,27
2006 5,48 28,75
2007 5,56 27,81
2008 5,91 27,90
2009 5,63 26,83
2010 5,30 28,07
2011 5,46 27,53
2012 5,32 26,02
2013 5,71 24,98
16
População ocupada
- RMs por setor da
economia (em
pessoas)
Data Total Indústria de Transformação Serviços
1985 168.331.265 41.116.795 80.229.787
1986 178.075.428 46.312.222 82.859.320
1987 184.564.268 47.788.722 86.262.984
1988 190.612.606 47.431.664 90.072.257
1989 196.026.964 48.745.324 91.794.820
1990 202.405.425 48.606.216 95.977.462
1991 180.974.768 40.351.759 88.050.196
1992 179.905.298 37.407.215 89.406.876
1993 182.432.537 37.309.706 91.356.883
1994 186.443.044 37.394.717 93.858.613
1995 191.842.949 37.857.763 97.662.467
1996 196.025.164 36.250.432 101.945.125
1997 196.596.138 34.790.805 103.589.131
1998 196.093.544 33.164.804 105.602.893
1999 196.622.731 32.262.928 107.113.294
2000 204.995.174 33.239.863 111.640.313
2001 208.164.583 33.627.307 113.369.797
2002 211.767.410 33.952.546 117.494.073
Exportações por setor
(em milhões de US$)
Data Indústrias Diversas
1985 452,2
1986 376,4
1987 539,6
1988 404,9
1989 524,7
1990 563,1
1991 636,1
1992 761,4
1993 781,3
1994 841,2
1995 832,3
1996 813,5
1997 883,1
1998 959,3
1999 1.053,0
2000 1.091,8
2001 1.037,1
17
2002 1.039,7
2003 921,5
2004 1.134,8
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Desindustrialização Brasileira

  • 1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP Escola de Artes, Ciências e Humanidades - EACH Curso de Gestão de Políticas Públicas Trabalho: Disciplina Formação Econômica e Social do Brasil II – FESB II O BRASIL ESTÁ SE DESINDUSTRIALIZANDO? - UMA ANÁLISE DO DEBATE EM TORNO DO TEMA. RESUMO O presente trabalho tem por objetivo o estudo da seguinte questão: O Brasil está se desindustrializando? Dentro dos limites da proposta de elaboração do artigo como atividade de avaliação final da disciplina Formação Econômica e Social do Brasil II – FESB II, pretendeu-se realizar uma pequena introdução ao tema a partir de breve revisão bibliográfica, inserindo-o na bibliografia comum ao último período histórico analisado no curso (1985-2014). Este trabalho fez uso ainda de dados econômicos e estatísticos que contribuíram para a elucidação do tema, auxiliando na compreensão da teoria exposta. Professores Agnaldo Valentin Wagner Pralon Mancuso Leonardo Mendes de Campos Nº USP: 6638916 São Paulo 2015 1
  • 2. INTRODUÇÃO O Brasil foi um dos poucos países que conseguiram atravessar a crise econômica mundial de 2008 sem maiores danos para a sua estabilidade. Enquanto os países desenvolvidos entravam em recessão com taxas negativas de crescimento e aumento do desemprego, no Brasil, após breve período de estagnação, o Produto Interno Bruto (PIB) voltou a crescer, assim como as taxas de ocupação da mão de obra1 . No entanto, passados alguns anos, a economia brasileira encontra-se novamente sob desconfiança. Os meios de comunicação alertam de forma recorrente para o pequeno crescimento do PIB enquanto as projeções de atividade econômica são reajustadas constantemente para patamares menores2 . Por outro lado, os indicadores que medem os níveis de desemprego e da renda da população mostravam até pouco tempo atrás uma situação de pleno emprego com aumento da renda real. Assim como, desfruta-se de uma aparente melhora da condição de vida em todo o país, assentada principalmente no aumento do poder de consumo dos indivíduos (POCHMANN, 2012). Entre as causas de tal contradição dos indicadores da economia nacional estaria o processo de desindustrialização? Fenômeno identificado cada vez mais nas economias dos países desenvolvidos, esse processo se caracteriza basicamente pela transferência da mão de obra do setor industrial para o de serviços, que passa então a corresponder pela maior parte dos empregos do país. Dessa forma, dentro dos limites estabelecidos pela proposta de avaliação da disciplina Formação Econômica e Social do Brasil II – FESB II, o presente trabalho tem por objetivo buscar indícios que possam vir a responder a seguinte pergunta: O Brasil está se desindustrializando? 1 BRASIL, BBC. Lula acertou ao falar que crise era 'marolinha', diz 'Le Monde', Estadão, 17/09/2009. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,lula-acertou-ao-falar-que-crise-era- marolinha-diz-le-monde,436390>. Acesso em: 09/01/2015. VIANNA, Rodrigo. A fama de Pochmann e o pernil de Delfim, Carta Capital, 18/02/2011. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/a-fama-de-pochmann-e-o-pernil-de-delfim>. Acesso em: 09/01/2015. 2 DRUMMOND, Carlos. Por que a indústria e o PIB desabam, Carta Capital, 12/08/2014. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/economia/porqueaindustriaeopibdesabam4522.html>. Acesso em: 03/01/2015. DRUMMOND, Carlos. Crescer, a saída obrigatória para o governo, Carta Capital, 21/11/2014. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/825/saidaobrigatoria7268.html>. Acesso em: 03/01/2015. 2
  • 3. Para cumprir com o pretendido, este estudo fez uso dos textos da bibliografia comum ao último período histórico analisado na disciplina FESB II, ou seja, A república democrática atual (1985-2014). De maneira complementar, pretendeu-se realizar uma breve revisão bibliográfica em torno do tema específico da desindustrialização. Assim como, fez-se uso de dados econômicos e estatísticos que colaboraram na compreensão da teoria exposta. DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: ASPECTOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E POLÍTICOS Como mencionado na Introdução, tendo como base a bibliografia da disciplina FESB II indicada para o período histórico que corresponde por A república democrática atual (1985-2014), investigou-se os aspectos econômicos, sociais e políticos presentes nos textos que possam contribuir para a compreensão do debate contemporâneo em torno da desindustrialização brasileira. A redemocratização A década de 80 pode ser caracterizada como uma década perdida, segundo Eduardo Modiano (MODIANO, 1995, p. 383). A política econômica brasileira deste período é marcada por três diferentes planos de estabilização: Cruzado (1986), Bresser (1987) e Verão (1989), ainda assim, nenhum deles ficaria conhecido por seu sucesso. O que ficaria na memória dos brasileiros seria o descontrole inflacionário e a constante ameaça da hiperinflação (MODIANO, 1995). Os anos 80 marcam o fim do “milagre brasileiro”, época em que o Brasil teve uma política industrial consistente, com crescimento econômico. A partir de então, a participação da atividade industrial no PIB diminui gradualmente. No debate atual, este momento é algumas vezes sugerido como o do início da desindustrialização brasileira (OREIRO E FEIJÓ, 2010). BIER, PAULANI e MESSENBERG (1987) associam a estabilidade da economia que levara ao “milagre brasileiro” a dois pontos. Primeiro, com o contexto externo de extrema pujança ligado ao crescimento da economia estadunidense. Assim, o “milagre” seria fruto antes das condições da economia internacional, que do pleno desenvolvimento interno dos fatores de produção capitalista, como se atesta a partir do seguinte trecho, sobre a balança comercial do Brasil: É a crise aguda dessa doença que acaba por contaminar o Brasil: a ilusão de um preço de longo prazo normal e estável para as matérias-primas e insumos 3
  • 4. industriais comercializáveis começa a se desvanecer (BIER, PAULANI e MESSENBERG, 1987, p. 78). Por outro lado, as medidas autoritárias do governo militar no controle da economia nacional também são apontadas como contribuição para a estabilidade econômica. Valendo-se de medidas ditatoriais, o governo passou a modernizar o sistema financeiro nacional e a exercer controle sobre os sindicatos. Em sua análise do período, conhecido também como o da redemocratização, Brasilio Sallum Jr. pontua que as dificuldades que levaram à crise do poder dos militares iniciam-se fora da política, na economia. Por detrás delas está a crise do Estado Desenvolvimentista (SALLUM Jr., 1996, p. 63). Segundo o autor, o Estado Desenvolvimentista era um pacto entre as classes dirigentes – políticos adeptos do poder autoritário, proprietários e empresários – visando o crescimento da economia brasileira. No entanto, com a crise do petróleo e a moratória mexicana entre o final de 1970 e o início de 1980, o financiamento externo se torna impossível, inviabilizando-se o projeto (SALLUM Jr., 1996, p. 65). Como o pacto baseava-se no poder das classes dirigentes, as consequências da crise econômica foram assumidas principalmente por assalariados, burocratas e as empresas estatais. Antes um pilar importante das políticas desenvolvimentistas, aqueles que compunham os quadros da administração pública passaram a depender da própria sorte. No meio empresarial, o antigo consenso se esvai e sugestões de políticas que possam induzir novamente o desenvolvimento econômico passam a surgir. O mesmo autor ainda aponta que é a partir de então que se inicia a polarização conhecida até o presente entre duas correntes econômicas nacionais: de um lado, os neoliberais, de outro, os nacional-desenvolvimentistas (SALLUM Jr., 1996, p. 82). Como é observado até hoje, inclusive no debate em torno da desindustrialização brasileira, os neoliberais são contra o financiamento das atividades econômicas estatais e a intervenção do Estado na economia, afirmando a preponderância dos mecanismos de mercado. Já os nacional-desenvolvimentistas acreditam no estímulo à atividade econômica industrial por meio da reforma do sistema financeiro. Entre a sociedade civil, a crise econômica levaria à mobilização contra o regime autoritário dos principais prejudicados, os assalariados e o funcionalismo público, pela 4
  • 5. primeira vez desde o início da ditadura. Será esse movimento que culminará nas “Diretas Já”. Como mostra Antônio Sérgio Rocha (2013, p. 48), inicialmente orquestrado pelos políticos do Congresso com o apoio de governadores dos estados, o “Diretas Já” se tornou um movimento de massa. Pressionado, o regime passa a recuar em suas pretensões econômicas recessivas que prejudicavam a maior parte da população e em suas políticas autoritárias que visavam manter o controle sobre os trabalhadores. Conforme Rocha escreve sobre o despertar do movimento operário brasileiro, concentrado no ABC paulista, no final dos anos 70: Inicialmente uma luta dos trabalhadores contra o arrocho salarial, a contestação frontal à política econômica do regime acarretada pelas greves levou o movimento a uma escalada de enfrentamentos que, ao final, incluiu na pauta o fim da tutela do Estado nos conflitos trabalhistas – em outros termos, nada menos que o desmonte do próprio sindicalismo corporativista no país (ROCHA, 2013, p. 44) No Congresso Nacional, o antigo partido Movimento Democrático Brasileiro - MDB capitalizaria politicamente todo o movimento de oposição à ditadura militar em sua proposta baseada em quatro pontos: volta ao Estado de direito, anistia política, eleições diretas para presidência da República e uma nova Constituição (ROCHA, 2013,p. 37). Dessa forma, confirma-se o quadro desenhado por Brasilio Sallum Jr. (1996), que vê nas manifestações da sociedade civil contra o regime o ponto culminante de uma sociedade de classes forjada pelo próprio autoritarismo. O movimento operário que possibilitou o “milagre brasileiro” não poderia mais ser contido com repressão e violência. Sendo assim, buscava sua autonomia através do sindicalismo. O neoliberalismo brasileiro Os anos 90 chegam sob a ameaça da instabilidade econômica e da dívida externa. Como solução, o governo de Fernando Henrique Cardoso realiza uma série de reformas visando o encolhimento do Estado e o controle da dívida pública soberana (REZENDE, 2002). Como destaca Flávio da Cunha Rezende, as reformas baseavam-se em dois eixos, o ajuste fiscal e a mudança institucional: Enquanto as reformas da primeira geração orientaram-se por iniciativas voltadas ao ajuste fiscal, envolvendo cortes nos gastos públicos, reformas tributárias, liberalização econômica e comercial, bem como desregulamentação e privatizações 5
  • 6. em setores específicos; a segunda geração voltou-se para empreender mudanças institucionais mais sólidas (REZENDE, 2002, p. 166). Assim como na época, as medidas de liberalização econômica e comercial e desregulamentação deste período são criticadas até hoje por terem contribuído para a deterioração da indústria nacional. Identificadas com o neoliberalismo, essas políticas permitiram a abertura comercial e a concorrência com produtos externos sem qualquer contrapartida à proteção da indústria nacional (BRESSER-PEREIRA, 2010; MATTOS; OREIRO E FEIJÓ, 2010). A política neoliberal adotada durante o governo FHC só teria fim com a chegada ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores - PT. Como afirmam Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013, p. 31), a década de 90 ficaria marcada pela ação do Estado pautada pelos interesses do grande capital financeiro internacional em detrimento da grande burguesia interna brasileira, identificada com a indústria nacional. O novo desenvolvimentismo Segundo Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013), a subida ao poder do Partido dos Trabalhadores só foi possível devido a uma ampla aliança identificada como frente neodesenvolvimentista. Esta formada pelos seguintes segmentos sociais: a grande burguesia brasileira, a baixa classe média, o operariado urbano e o campesinato. Em oposição à frente neodesenvolvimentista, o campo neoliberal ortodoxo identificado como “o grande capital financeiro internacional, a fração da burguesia brasileira plenamente integrada a esse capital, a maior parte dos grandes proprietários de terra e a alta classe média do setor público e do setor privado”, deixou de ter seus interesses contemplados pelo governo pela primeira vez desde os anos 90 (BOITO Jr. E BERRINGER, 2013, p. 31). Portanto, representando os interesses da frente neodesenvolvimentista, o governo do PT adota medidas políticas visando apoiar a indústria nacional. Assim, realiza-se a expansão das empresas multinacionais brasileiras no exterior, principalmente na América Latina e na África, ao mesmo tempo em que novos empregos são gerados. Por outro lado, as políticas de redistribuição de renda e inclusão social permitem às classes baixas melhorar de vida. O artigo de André Singer, Raízes sociais e ideológicas do lulismo, tem como objeto a ascensão promovida pelas políticas sociais no período. O autor entende que a 6
  • 7. vitória de Lula para o segundo mandato, após o chamado “escândalo do mensalão”, se deu com o apoio principalmente das classes baixas beneficiadas com as políticas governamentais de aumento real do salário mínimo e de redistribuição de renda através do Bolsa Família. No entanto, apesar do relativo sucesso dos governos de Lula, Singer aponta que há descontentamento com suas políticas sociais devido à desideologização que estariam provocando. Segundo o autor, a população não identifica os avanços sociais conquistados com as bandeiras da esquerda. Dessa forma, a população de baixa renda não é capaz de se organizar politicamente em torno de suas próprias reivindicações. Pelo contrário, ela é refém de lideranças passageiras (SINGER, 2009, p. 95). Por seu lado, Marcio Pochmann (2012) avalia que o debate contemporâneo que busca associar a ascensão socioeconômica de milhares de brasileiros à nova classe média não tem sustentação nas evidências. Contrariamente ao que Amaury de Souza e Bolívar Lamounier (2010) afirmam, para ele trata-se de ocultar o caráter de classe que estaria por detrás do fenômeno. Segundo Pochmann, os indivíduos identificados como membros da nova classe média são, na verdade, trabalhadores com baixo nível educacional e pouca experiência profissional, excluídos socialmente durante o predomínio dos governos de orientação neoliberal dos anos 90. Como André Singer, Pochmann identifica esses indivíduos como parte da massa que ascendeu socialmente durante os governo do PT devido as políticas de redistribuição de renda e inclusão social, como o Bolsa Família. Por fim, o autor afirma que se entre os anos 1960 e 1980 o crescimento da renda per capita e do emprego no Brasil eram sustentados pela atividade industrial, o crescimento econômico de 2003 em diante apresenta um padrão de diferente. No século XXI, o principal responsável pelo desenvolvimento econômico brasileiro é o setor de serviços (POCHMANN, 2012, p. 16). O CONCEITO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO Antes de examinar-se o conceito de desindustrialização, convém justificar a importância do estudo do fenômeno. Para isso, deve-se começar pelo questionamento do valor da atividade industrial para a população e a economia de um país. Não se trata aqui de negar seus aspectos negativos, amplamente documentados e conhecidos, por 7
  • 8. exemplo, por meio de movimentos ambientalistas e trabalhistas. Mas cabe ressaltar sua importância para o bem estar social e o desenvolvimento econômico de um Estado. Os países que estiveram na origem da atividade industrial e, mais tarde, os que a incorporaram como forma predominante de produção material alcançaram gradualmente melhores condições de vida. Isso se deveu à introdução de técnicas de produção que permitiram ganhos de produtividade do trabalho e o aumento da renda per capita da população (MATTOS, p. 4). No entanto, como afirma Fernando Augusto Mansor de Mattos em sua análise do processo de industrialização: O bem estar social criado por esse processo contínuo de ganhos de produtividade dependerá da capacidade da atividade econômica em geral de mantê-los ou ampliá- los e será função também da maneira pela qual eles serão distribuídos socialmente (MATTOS, p. 3). Orientando-se pelo pensamento econômico heterodoxo, que se preocupa em avaliar para além do tamanho da riqueza gerada, a forma como ela é produzida numa dada economia, é possível chegar as seguintes conclusões que qualificam a atividade industrial ou manufatureira (OREIRO E FEIJÓ; ORSOLIN, 2013): (i) Existe forte relação causal entre o crescimento da produção manufatureira e o crescimento do PIB; (ii) Existe forte relação causal entre o crescimento da produção manufatureira e o aumento da produtividade nesse setor, como resultado de rendimentos dinâmicos de escala; (iii) Existe forte relação causal entre a velocidade de expansão do setor manufatureiro e o aumento da produtividade fora desse setor (ORSOLIN, p. 14). Portanto, a indústria contribui para o desenvolvimento econômico e o bem estar social de um país ao aumentar a produtividade da economia como um todo, estimular a atividade econômica entre os diferentes setores econômicos e, assim, criar empregos, proporcionar o aumento da geração de riqueza e a oportunidade de sua distribuição entre a sociedade (MATTOS, p. 3). Uma vez definida a importância da atividade industrial para a economia de um país, pode-se dimensionar o valor do estudo do fenômeno da desindustrialização. Inicialmente observada apenas nos países desenvolvidos, a desindustrialização tem se tornado comum também nos países em desenvolvimento. Daí a recente importância que tem ganhado seu estudo no mundo acadêmico. 8
  • 9. Rowthorn e Ramaswany são apontados como precursores no estudo da desindustrialização. A definição dos autores, de que este processo se dá com a perda de participação do emprego industrial na taxa de ocupação total de um país, é recorrentemente citada. De forma complementar, Tregenna também costuma ser mencionada por introduzir à definição anterior a necessidade de avaliação da perda de participação da indústria no valor adicionado ao PIB do país (MATTOS; OREIRO E FEIJÓ, 2010). Dessa forma, a desindustrialização de um país pode ser definida como: Uma situação na qual tanto o emprego industrial como o valor adicionado da indústria se reduzem como proporção do emprego total e do PIB, respectivamente (OREIRO E FEIJÓ, p. 221). No entanto, se a desindustrialização é muitas vezes apresentada como um processo natural entre os países desenvolvidos devido às altas taxas de industrialização e produtividade da economia que levam à produção de alta tecnologia e ao crescimento da ocupação no setor de serviços, também pode vir a ocorrer a chamada “doença holandesa”. A doença holandesa é conhecida como um ponto de inflexão nas economias industrializadas, pois ocorre um processo em direção à valorização de commodities e produtos de baixo valor agregado. Sendo assim, a atividade industrial acaba por ser economicamente desestimulada em benefício das exportações dos produtos anteriores. Por fim, este processo contribui para a desindustrialização na medida em que os produtos industrializados tendem a perder participação no valor adicionado ao PIB (OREIRO E FEIJÓ, 2010, p.222). ANÁLISE DOS DADOS Baseando-se nos conceitos destacados anteriormente para a identificação da ocorrência do processo de desindustrialização, realizou-se a coleta de amostras dos seguintes dados referentes à economia brasileira: • Valor adicionado ao PIB por setor da economia, em porcentagem, entre os anos de 1947 e 2013 (Gráfico 1); • População ocupada nas regiões metropolitanas (RMs) nos setores da indústria de transformação e de serviços, pelo número de pessoas, entre os anos de 1988 e 2002 (Gráfico 2); • Exportações dos setores agropecuário e industrial, em milhões de dólares, entre os anos de 1974 e 2007 (Gráfico 3). 9
  • 10. Valor adicionado ao PIB por setor da economia (%) - Gráfico 1 Na comparação do valor adicionado ao PIB por setor da economia, gráfico acima, observa-se que no período situado como A república democrática atual (1985- 2014) a indústria mostra tendência de queda desde o início. Entre 1985 e 1989, sua participação oscila pouco, de 47,97% para 46,34%. Porém, apenas entre 89 e 90, o valor adicionado ao PIB despenca 7,65%, caindo para 38,68%. No princípio dos anos 90, o setor contraria a tendência de encolhimento com leve recuperação, voltando ao patamar de 40% de participação em 1994. No entanto, logo em seguida, apresenta queda de 12,47%, em 1995 (27,53%). A partir de então, o valor adicionado pela atividade industrial ao PIB oscilará entre o mínimo de 25,66% (1998) até chegar ao pico de 30% (2004), voltando a diminuir para 24,98% em 2013, último ano da amostra. Por outro lado, em oposição ao setor industrial, o setor de serviços tem apresentado tendência ascendente desde o início de 1985. Somente entre os biênios de 1986-1987 (8,9%), 1988-1989 (11,72%) e 1991-1992 (8,57%) o valor adicionado ao PIB subiu mais de 8%, elevando-se ao pico de 81,82% (1993). No entanto, há uma queda abrupta de participação de 17,57% entre 1993 e 1994, para o patamar de 64,25%. No restante da década de 90, os valores oscilam pouco até o máximo de 68,58% (1999). Já no século XXI, o valor adicionado pelos serviços ao PIB se mantém estável, com pequenas oscilações. A participação mínima é atingida em 2004 (62,97%), para em seguida recuperar-se com elevação contínua até 69,32% em 2013, último ano da amostra. 10
  • 11. Por fim, entre os três setores da economia apresentados, o setor agropecuário é o que apresenta maior estabilidade durante a república atual (1985-2014). Em todo o período, o valor adicionado pela agropecuária ao PIB oscilou somente 7,31% - mínimo de 5,32% (2010) e máximo de 12,61% (1985). Porém, apesar de se manter relativamente estável, a participação do setor agropecuário diminuiu no conjunto da amostra. População ocupada – Regiões Metropolitanas (RMs) por setor da economia (por pessoa) – Gráfico 2 Quanto à população ocupada nas regiões metropolitanas do Brasil entre os setores da indústria de transformação, de serviços e outras atividades, gráfico 2, observa-se um equilíbrio no comportamento das variáveis ao longo do período da amostra (1988-2002). Destaca-se que o setor de serviços é o que emprega a maior parte da população. No final dos anos 80, os serviços eram responsáveis por aproximadamente metade do dos empregos nas regiões metropolitanas (47,42%). No início do século XXI, a marca é ultrapassada com 54,46% do total. Em comum, nota-se uma queda na taxa de ocupação entre 1990 e 1991 – de 16,98% na indústria de transformação e de 8,26% nos serviços. A partir daí, a ocupação na indústria de transformação que era de 22,30% tende a diminuir gradualmente, chegando ao mínimo de 16,03% em 2002. Enquanto isso, o setor de serviços recupera- se e passa a crescer, chegando ao limite de 55,48% em 2002. 11
  • 12. Exportações dos setores agropecuário e industrial (em milhões de dólares) - Gráfico 3 Concluindo, observa-se no gráfico 3 o comportamento das exportações dos setores de agropecuária e de indústrias diversas em razão dos respectivos valores exportados por cada um deles. No período da república democrática atual (1985-2014) representado na amostra, o valor das exportações do setor agropecuário oscila bastante enquanto o do setor de indústrias diversas mantém-se estável com crescimento reduzido. Ambos os setores se mantém abaixo do patamar de 2 bilhões de dólares em exportações até 1996. No entanto, se em 1991 a diferença entre os valores exportados foi de apenas 270,3 milhões de dólares (29,81%), a partir de 1997 a agropecuária ultrapassa os dois bilhões em exportações (US$ 3.062,9 bilhões), patamar que não é superado pela indústria até o último ano da amostra (2007). A partir de 1999, o valor obtido pelas exportações agropecuárias cresce continuamente de forma acentuada, apenas com uma leve queda em 2005, chegando a US$ 10.389,7 bilhões em 2007. Enquanto isso, para o mesmo ano, a indústria exporta apenas US$ 1.853,9 bilhões, ou seja, uma diferença de 82,16% entre os valores exportados. CONCLUSÃO Embora a análise dos dados da economia brasileira tenha sido limitada devido às amostras temporais disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE não representarem o período histórico exato da república democrática atual, encontraram-se indícios que podem oferecer respostas ao objetivo proposto por este estudo. 12
  • 13. Como apontado na literatura consultada, as décadas de 80 e 90 foram extremamente ruins para a economia nacional e, particularmente, para a atividade industrial. O valor adicionado ao PIB pelo setor caiu mais de 20% no período. Por outro lado, a ocupação na indústria de transformação apresentou queda de 16,98% somente entre 90 e 91, e depois permaneceu diminuindo. Sendo assim, a partir da definição teórica elaborada por Rowthorn e Ramaswany e Tregenna, conclui-se que o Brasil pode estar realmente se desindustrializando uma vez que o valor adicionado ao PIB e a taxa de ocupação do setor industrial brasileiro vem diminuindo. Além disso, ainda que não tenha sido objetivo deste estudo a identificação da causa do fenômeno, a grande diferença entre o valor das exportações dos setores agropecuário e industrial indica que pode tratar-se da “doença holandesa”. 13
  • 14. BIBLIOGRAFIA BIER, Amaury G., PAULANI, Leda e MESSENBERG, Roberto. O Heterodoxo e o pós-moderno: o cruzado em conflito. São Paulo: Paz e Terra, 1987, Caps. 2 e 3, p. 69- 123. BOITO Jr, Armando; BERRINGER, Tatiana. Brasil: classes sociais, neodesenvolvimentismo e política externa nos governos Lula e Dilma. Revista de Sociologia e Política, Vol, 21, No. 47, 2013. BRESSER-PEREIRA, L. C. ; MARCONI, Nelson . Existe doença holandesa no Brasil ?. In: Luiz Carlos Bresser Pereira. (Org.). Doença holandesa e indústria. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, v. , p. 207-230. HANONES, Fabiane Fernandes. Desindustrialização no Brasil: Um processo natural ou precoce do seu desenvolvimento econômico?. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC: 2012. MATTOS, F. A. M. Está ocorrendo desindustrialização no Brasil?. MODIANO, Eduardo. A ópera dos três cruzados: 1985-1989. In: ABREU, Marcelo de Paiva (Org.). A ordem do progresso: cem anos de política econômica republicana. 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990. (Cap. 13, p. 347-385). NASSIF, A. Há evidências de desindustrialização no Brasil? Revista de Economia Política, vol. 28, n.1, pp. 72-96, Jan./Mar., 2008. OREIRO, J.L; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de Economia Política, Vol. 30, n. 2, Abr./Jun. 2010. ORSOLIN, Gustavo Trombini (Des)industrialização e Evolução Econômica: em busca de uma teorização compatível. Tese de mestrado: 2013. 14
  • 15. POCHMANN, Marcio. Nova classe média?: O trabalho na base da pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2012. REZENDE, F. C. As reformas e as transformações no papel do Estado: o Brasil em perspectiva comparada. In: ABRUCIO, Fernando Luiz e LOUREIRO, Maria Rita (Orgs.). O estado numa era de reformas: os anos FHC. Brasília: MP/SEGES, 2002, Parte 1, p. 163-207. ROCHA, A. S. C..Genealogia da constituinte: do autoritarismo à democratização. Revista Lua Nova, No. 88, 2013, p. 29-87. SALLUM Jr., Brasilio. Labirintos: dos generais à nova república. São Paulo: Editora Hucitec, 1996, capítulo 2. SINGER, André. Raízes sociais e ideológicas do lulismo. Novos Estudos CEBRAP, No. 85, 2009. SOUZA, Amaury de; LAMOUNIER, Bolívar. A classe média brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier; Brasília: CNI, 2010. 15
  • 16. ANEXOS Fonte das tabelas: http://www.ipeadata.gov.br/ Valor adicionado ao PIB por setor (%) Data Agropecuário Industrial 1985 12,61 47,97 1986 12,09 47,20 1987 10,82 47,51 1988 11,39 46,76 1989 9,79 46,34 1990 8,10 38,69 1991 7,79 36,16 1992 7,72 38,70 1993 7,56 41,61 1994 9,85 40,00 1995 5,77 27,53 1996 5,51 25,98 1997 5,40 26,13 1998 5,52 25,66 1999 5,47 25,95 2000 5,60 27,73 2001 5,97 26,92 2002 6,62 27,05 2003 7,39 27,85 2004 6,91 30,11 2005 5,71 29,27 2006 5,48 28,75 2007 5,56 27,81 2008 5,91 27,90 2009 5,63 26,83 2010 5,30 28,07 2011 5,46 27,53 2012 5,32 26,02 2013 5,71 24,98 16
  • 17. População ocupada - RMs por setor da economia (em pessoas) Data Total Indústria de Transformação Serviços 1985 168.331.265 41.116.795 80.229.787 1986 178.075.428 46.312.222 82.859.320 1987 184.564.268 47.788.722 86.262.984 1988 190.612.606 47.431.664 90.072.257 1989 196.026.964 48.745.324 91.794.820 1990 202.405.425 48.606.216 95.977.462 1991 180.974.768 40.351.759 88.050.196 1992 179.905.298 37.407.215 89.406.876 1993 182.432.537 37.309.706 91.356.883 1994 186.443.044 37.394.717 93.858.613 1995 191.842.949 37.857.763 97.662.467 1996 196.025.164 36.250.432 101.945.125 1997 196.596.138 34.790.805 103.589.131 1998 196.093.544 33.164.804 105.602.893 1999 196.622.731 32.262.928 107.113.294 2000 204.995.174 33.239.863 111.640.313 2001 208.164.583 33.627.307 113.369.797 2002 211.767.410 33.952.546 117.494.073 Exportações por setor (em milhões de US$) Data Indústrias Diversas 1985 452,2 1986 376,4 1987 539,6 1988 404,9 1989 524,7 1990 563,1 1991 636,1 1992 761,4 1993 781,3 1994 841,2 1995 832,3 1996 813,5 1997 883,1 1998 959,3 1999 1.053,0 2000 1.091,8 2001 1.037,1 17
  • 18. 2002 1.039,7 2003 921,5 2004 1.134,8 2005 1.314,0 2006 1.601,3 2007 1.853,9 18