1. Música Medieval no Feminino
As Trobairitz – Condessa de Diá
Música sacra – Hildegard Von
Bingen
2. Contexto histórico
• Está a decorrer a Segunda Cruzada;
• Luis VII é o rei de França, casado com Leonor
da Aquitânia;
• No século XII A Provença é um condado
autónomo, fora do controlo do rei francês;
• Faz parte do território em que dominava a
Langue D’Oc, sendo o provençal um dialecto
do mesmo.
3.
4. Os Trovadores – Inserção na estrutura social
Norte da França – Terra da Langue Sul de França – Terra do Langue d’Oc
d’Oui/Oïl
Sistema feudal menos enraizado:
Sistema feudal perfeitamente • Criação de alguns feudos, e
organizado: desenvolvimento de pequenas “Cortes”
• Consolidação da estrutura social = centros administrativos e artísticos
hierarquizada entre suseranoservo. • Estilo de vida mais individualizado
• Centralização da vida dentro e • Manutenção da influência romana
próximo do feudo senhorial.
Existência de numerosas
Prática inexistência de terras livres, fora de integração feudal.
terras livres, devido à integração feudal Sucessão por morte origina
Direito de primogenitura a divisão equitativa do terreno pelos
aquando da sucessão por morte. sucessores.
Papel mais preponderante e activo da mulher
Tempos de paz = Prosperidade
5. Características dos Trovadores
Construção poética estilística:
Escola Simples Escola Hermética / Realista
Versificação simples e ausência de - Escola do Trobar clus -
construções estilísticas rebuscadas. Versificação complicada, com recurso a
Poesia acessível a mensagem poética expressões raras e de significado intrincado.
é clara e compreensível. Excesso de conceitos, agudeza de pensamentos
Florescimento do amor cortês e utilização de linguagem enigmática
Exemplos: Jaufre Rudel; Bernard de Exemplos: Peire d’Alvernha; Marcabru
Ventadorn; Condessa de Diá
-Escola do Trobar ric –
Predominância de valores sensoriais e de
imagens.
Poesia extremamente
ornamentada, preocupando-se mais com a
composição e sugestibilidade dos sons dos
vocábulos do que com a mensagem.
Exemplos: Raimbaut d’Aurenga; Arnaut Daniel
6. Poesia de “La Fin d’Amours” ou Poesia do Amor Cortês
Características:
Assente na perfeição moral e social do Homem.
Valorização de Lealdade Honra
Generosidade
Humildade
Coragem
Honestidade
Sabedoria
Poesia/Música Trovadoresca:
Utilização da Langue d’Oc como língua de comunicação e de escrita.
Elogio Impossível (exaltação da dama) com submissão humilde, paciente e absoluta.
Construção silábica das melodias das frases.
Adopção pontual de figuras melismáticas.
Melodia normalmente dentro do intervalo de 6ª, muito raramente ultrapassando uma 8ª.
Tipos de modos utilizados: Dórico (Ré), Hipodórico (Lá), Mixolídio (Sol) Hipomixolídio (Ré)
Incerteza quanto ao ritmo das canções
7. Formas poéticas:
Cansos
Sirventes: carácter satírico, de ataque político ou repreensão moralizadora.
Tenso: debate entre dois contendores acerca de uma questão amorosa.
Pastorella: envolvendo duas classes sociais, o nobre cavaleiro solicita os amores de uma
pastora.
Alba: mostra o descontentamento dos amantes que passam junto a noite e devem
separar-se ao amanhecer.
Planh: lamentação fúnebre pela morte de damas nobres
8. Trobairitz
• Ao contrário dos • A sua criação
trovadores, as trobairitz têm musical é amadora;
todas origem nobre; • Utilizavam a mesma
• Têm educação – sabem forma e estilo que os
ler, escrever e têm trovadores;
conhecimentos musicais;
• Compunham em
• Políticas favoráveis à sua
resposta às canções
posição social;
dos trovadores, das
• Educadas para seguir as
quais eram objecto.
normas da Corte e do Amor
Cortês.
9. Exploravam o campo amoroso, as
• Compunham suas relações com os trovadores e
por iniciativa outros nobres;
Contemplavam a sua própria situação
própria. na sociedade como mulheres;
Abordavam temas políticos e
religiosos.
•Apesar de usar as
mesmas formas Escrita mais pessoal
e intimista;
musicais, os seus
Questiona os
poemas era muito
estereótipos do Amor
diversos dos Cortês;
escritos pelos Ponto de vista
trovadores. feminino autêntico.
10. CONDESSA BEATRIZ DE DIÁ
Nasceu c.1140 – Morreu c. 1180
Localização: Provença, condado da Occitânia
Casada com Guillem I de Poitou (Poitiers)
Relação de “fin d’amours” com o trovador
Rimbaut de Orange (1146 – 1173)
Produção musical trovadoresca:
Inserção na Escola Simples
- 3 cansos (apenas texto)
- 1 canso (texto e notação musical) – “A chantar m’er de so qu'eu no volria”
11. Características da Poesia da Condessa de Diá
Equiparação ao papel do trovador enquanto sujeito activo da relação de amor cortês.
“Qu’el s’en tengra per erubut / Sol qu’a lui fezes cosseillier…”
(E que ele se considerasse feliz / Par apenas eu lhe servir de almofada
“Ieu l’autrei mon cor e m’amor / Mon sen, mon huoills e ma vida. »
“Estat ai greu cossirier”
Qu’ieu n’ai chausit un pro e gen, / Per cui pret meillur’e genssa, / Larc et adreig e
conoissen / On es sens e conoissenssa
(Que eu escolhi um valioso e cortês / Cujo valor melhora e aumenta / Generoso, recto
e prudente / Que tem juízo e sensatez)
“Ab joi et ab joven m’apais”
Utilização de linguagem mais ousada = Assunção de uma relação além do platónico
“Ben volria mon cavallier / Tener un ser en mos bratz nut…
“Estat ai greu cossirier”
Descrição de sentimentos pessoais intensos
“Ab joi et ab joven m’apais” (De alegria e juventude me sacio)
“Ab joi et ab joven m’apais”
“Cora.us tenrai en mon poder?/ (…) E qu’ie.us des un bais amoros
(Quando vos tenderei em meu poder? / (…) e poderia dar-vos um beijo apaixonado
« Estat ai greu cossirier »
12. Despreocupação face a más-línguas corteses
“Ni a nengun penssamen, / Car sai que son a mo dan / Fals lauzengier e truhán
/ E lor mals diz non m’esglaia:
(Nem me causa nenhuma preocupação / Saber que me querem mal / Os falsos
e os invejosos / E as suas palavras cruéis não me atemorizam”
“Fin ioi me don’ alegranssa”
Recriminação por parte do sujeito poético da perda do amado
“Estat ai en greu cossirier / Per un cavallier qu’ai agut (...) / Car ieu non li donei
m’amor...” (Tenho estado muito angustiada / Por um cavaleiro que foi meu (...) / Porque
não lhe dei o meu amor)
“Estat ai greu cossirier”
Características de escrita próprias e divergentes dos Trovadores:
- Escrita na 1ª pessoa
- Utilização do Vocativo
- Construção poética mais intimista -/- os Trovadores utilizavam uma
escrita mais generalista na transmissão do amor cortês.
13. A CHANTAR M’ER DE CO QU’EU NO VOLRIA Sentimentos
pessoais do SP
A CHANTAR M'ER DE CO QU'EU NO VOLRIA,
TANT ME RANCUR DE LUI CUI SUI AMIA
Reunião das
CAR EU L'AM MAIS QUE NULHA REN QUE SIA:
qualidades do
VAS LUI NO-M VAL MERCES NI CORTEZIA Declaração de
“Fin Amours”
NI MA BELTATZ NI MOS PRETZ NI MOS SENS: Amor
= Equiparação QU'ATRESSI-M SUI ENGANAD' E TRAHIA
ao trovador COM DEGR' ESSER, S'EU FOS DESAVINENS.
masculino
D'AISSÒ-M CONÒRT, CAR ANC NON FI FALHENSA,
AMICS, VAS VOS PER NULHA CAPTENENSA; Superação
Reconhecimento ANS VOS AM MAIS NON FETZ SEGUÌS VALENSA, dos amores
das suas próprias E PLATZ MI MOUT QUE EU D'AMAR VOS VENSA; dos mitos
virtudes, em LO MEUS AMICS, CAR ÈTZ LO PLUS VALENS; históricos
comparação com as MI FAITZ ORGÒLH EN DITZ ET EN PARVENSA
que faltam ao Amigo E SI ÈTZ FRANCS VAS TOTAS AUTRAS GENS.
Principal razão
MERAVELH ME COM VÒSTRE CÒRS S'ORGÒLHA,
AMICS, VAS ME, PER QU'AI RAZON QUE-M DÒLHA;
da tristeza do SP
NON ES GES DREITZ QU'AUTR'AMORS VOS MI TÒLHA,
PER NULHA REN QUE-US DIGA NI ACÒLHA.
E MEMBRE VOS QUALS FO-L COMENSAMENS
DE NÒSTR'AMOR! JA DÒMNEDEUS NON VÒLHA,
Exclamação a Deus
QU'EN MA COLPA SIA-L DEPARTIMENS.
14. Qualidades do
PROEZA GRANS, QU'EL VÒSTRE CÒRS S'AIZINA
Amigo – tanto
valoriza como E LO RICS PRÈTZ QU'AVÈTZ M'EN ATAÏMA;
mostra o receio QU'UNA NON SAI, LONHDANA NI VEZINA,
de o perder por SI VÒL AMAR, VAS VOS NO SI' ACLINA;
Evidência de uma
causa delas MAS VOS, AMICS, ÈTZ BEN TANT CONOISSENS relação mais
QUE BEN DEVÈTZ CONÒISSER LA PLUS FINA: intensa entre SP e
Qualidade do E MEMBRE VOS DE NÒSTRE COVINENS. o Amado
Amigo - lógica
reivindicativa
VALER MI DEU MOS PRÈTZ E MOS PARATGES Pontos de apoio
E MA BEUTATZ, E PLUS MOS FINS CORATGES; moral na
PER QU'EU VOS MAN, LAI ON ES VÒSTR'ESTATGES, reconstrução
ESTA CHANSON, QUE ME SIA MESSATGES, pessoal do SP
Pedido de E VÒLH SABER, LO MEUS BÈLS AMICS GENS,
explicações PER QUE VOS M'ÈTZ TANT FÈRS NI TANT SALVATGES;
NO SAI SI S'ES ORGÒLHS O MALS TALENTS.
Reivindicação
MAS AITAN PLUS VÒLH LI DIGAS, MESSATGES do
QU'EN TRÒP D'ORGÒLH AN GRAN DAN MAINTAS GENS. sentimento
perdido
15. A chantar m’er de co qu’eu no volria
Estrutura métrica:
I) aaaabab, II) ccccbcb, III) ffffbfb, IV) ggggbgb, V) hhhhbhb; Tornada) hb
Estrutura melódica: ABABCDB
A Chantar m’er de so qu’ieu nos volria
A B Modo de Composição: Dórico
Dominante: Lá
A B
Nota(s) no final de cada
período: Ré, Ré, Mi, Mi
C D
Nota mais grave: Dó central
Nota mais aguda: Dó
B
Intervalo característico: Ré-Lá
16. Hildegard Von Bingen
• Nasceu a 1098 - morreu a 1179;
• Monja beneditina, foi Abadessa do Convento
de Disibodenberg;
• Aos 43 anos de vida viu as suas visões
reconhecidas como verdadeiras e escreveu-as
na sua primeira obra Scivias;
• Cerca do ano de 1147 funda um novo
convento em Rupertsberg;
17. • Para além de visionária, tem conhecimentos na
área da medicina, da natureza e música.
• Tem presença política, tendo trocado
correspondência com proeminentes figuras
políticas da época;
• As suas visões tiveram um papel muito
importante na sua vida - influenciam as suas
decisões, a sua maneira de ver o mundo e até a
sua saúde;
• A música é o outro foco da sua vida, visto que
Hildegard acredita que esta é expressão da fé e
do Divino – Palavra de Deus = Canção de Deus.
18. A Música de Hildegard
• Música sempre melódica e monódica;
• Utiliza um registo mais vasto do que o habitual no
canto gregoriano – duas ou até três oitavas;
• Utiliza os modos com muita liberdade – utiliza
principalmente o modo frígio;
• Utiliza intervalos maiores do que o comum no
canto gregoriano;
• Uma marca distintiva das suas composições é o
salto de quinta ascendente;
19. • Constrói a melodia muitas vezes através de
graus disjuntos;
• Utiliza várias vezes melismas, principalmente
em palavras de importância no texto;
• Utiliza na mesma peça vários motivos
melódicos distintos e um fragmento melódico
(tema) recorrente;
• Os seus textos são sempre em latim. Os versos
são brancos e a métrica é desigual;
• É provável que tenha utilizado
acompanhamento de instrumentos.
20. • Compõe para vozes femininas, no
contexto de um mosteiro apenas para
mulheres;
• Explora temas poucos usuais na música
sacra:
–Temas femininos;
–O corpo feminino;
–Louva a mulher tanto como virgem
como mulher fértil;
–A relação do corpo com a alma.
21. • Toda a sua música tem intuito pedagógico e
moral.
“Na música, a criação devolve ao seu
criador o júbilo e a sua exaltação e dá graças pela
sua própria existência.”
Hildegard von Bingen
• Para Hildegard, a música une o corpo à alma, o
terreno ao divino.
22. Ordo Virtutum Symphonia armonie celestium
revelationum
(A Ordem das Virtudes) (Sinfonia da Harmonia das Revelações
Celestes)
• Peça dramatizada; • Colecção de peças litúrgicas;
• Trata a queda de uma • Para uso nas orações diárias
alma e a sua procura por e celebrações religiosas;
absolvição; •Temáticas principais:
• Personagens: • Encarnação de Cristo;
•Alma; • A relação entre a
humanidade e a natureza;
•Virtudes; • Admiração das mulheres
•Diabo. santas.
23. Ordo Virtutum
• Obra • Ilustração musical do conteúdo
moralizante, onde se textual:
desenrola a batalha • Tessitura instável da Alma;
entre as virtudes e o • Passagem de registo agudo
Diabo pela Alma; indicam sentimentos nobres;
• Apresentação das • Registo grave retracta
virtudes com solos desespero ou aflição;
alternados com • Passagens melismáticas na
passagens de coro – descrição das Virtudes –
Humildade indicada ilustração do seu carácter
como a Rainha das transcendente;
Virtudes; • Grande variedade de melodias
e registos entre as
• Papel do demónio é Virtudes, caracterizando cada
falado e não cantado. uma delas.