A Estratégia Energético-Ambiental para
Lisboa baseia-se na recolha e tratamento
de dados quanto aos fluxos de energia, água
e materiais no Concelho de Lisboa e nas
condicionantes e perspectivas decorrentes
da situação nacional e internacional quanto
à Energia e ao Ambiente. Em particular,
põe em evidência a insustentabilidade económica, social e ambiental resultantes de
hábitos de vida, parque edificado e transportes
que não tiveram adequadamente em conta a qualidade do ar e do ambiente urbano e os sobrecustos em energia que provocaram. O modo de planear o uso do solo, nomeadamente quanto ao espaço público, ao parque edificado, aos transportes e acessibilidades deve ser cuidadosamente revisto nas suas interdependências e consequências.
2. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Ficha Técnica
Título
Estratégia Energético-Ambiental para LISBOA
Edição
LISBOA E-NOVA – AGÊNCIA MUNICIPAL DE ENERGIA - AMBIENTE DE LISBOA
Aprovado na Reunião de Câmara da Câmara Municipal de Lisboa de 3 de Dezembro de 2008
Autores
Lisboa E-Nova – Agência Municipal de Energia-Ambiente de Lisboa
Fotografias
Capa: Turismo de Lisboa
Turismo de Lisboa
Ficha Técnica
Lisboa E-Nova
Design Gráfico e Produção
Lisboa E-Nova
AddSolutions
Impressão
Impressa Municipal de Lisboa
Tiragem 3
1500 exemplares
Depósito Legal
ISBN: 978-972-99760-4-9
Agradecimentos
A todos os Especialistas e Instituições que contribuíram para os conteúdos deste
documento.
Informação Adicional
Lisboa E-Nova – Agência Municipal de Energia - Ambiente de Lisboa
Rua dos Fanqueiros, n.º 38, 1º, 1100-231 Lisboa
Tel. +351 218 847 010; Fax +351 218 847 029
www.lisboaenova.org; info@lisboaenova.org
3. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Prefácio
No presente mandato autárquico, em Dezembro de 2008, foi aprovada a Estratégia
Energético-Ambiental para Lisboa, desenvolvida e elaborada pela Lisboa E-Nova,
a qual enquadra a Estratégia Energético-Ambiental definida pela Comissão
Europeia e a Estratégia Nacional para a Energia, aprovada pelo Governo. Foi ainda
aprovada a revisão do Plano Director Municipal de Lisboa, que terá de incorporar
os princípios estabelecidos na Estratégia Energético-Ambiental.
A Estratégia Energético-Ambiental para Lisboa fixa metas de desempenho
energético-ambiental mais exigentes do que as fixadas a nível Europeu, ao antecipar
o cumprimento das metas europeias do triplo 20 previstas para 2020, e é inovadora,
determinada e clara quanto ao rumo a seguir, ao ajustar a monitorização dos
resultados aos ciclos políticos Municipais, estando o primeiro momento de avaliação
Prefácio
previsto para o final do próximo mandato autárquico em 2013.
A Estratégia Energético-Ambiental para Lisboa criou as Matrizes Energética, da Água
e dos Materiais para quantificar os fluxos induzidos pela cidade. Estas matrizes
apresentam o desempenho da cidade quantificando os fluxos energéticos e respectivas
emissões de CO2, os consumos de água e respectivos efluentes líquidos e ainda 5
os consumos de materiais e respectivos resíduos sólidos.
O Município de Lisboa está assim em condições de promover a melhoria da qualidade
do ar exterior, de reduzir o ruído originado pelo trânsito e de optimizar o desempenho
energético-ambiental do meio edificado, bem como da mobilidade urbana.
António Costa
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
4. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Prefácio Prefácio
A Estratégia Energético-Ambiental, desenvolvida pela Lisboa E-Nova e aprovada pela Definir e quantificar uma Estratégia Energético-Ambiental para Lisboa foi um
Câmara, estabelece metas de desempenho para a melhoria do balanço da energia, da dos objectivos da Lisboa E-Nova desde 2004. Para tal, aprofundou, actualizou
água e dos materiais, ou seja, promove a melhoria do Ambiente na Cidade. e quantificou os fluxos da energia, dos materiais e da água canalizada, induzidos pela
cidade, que sintetizou nas Matrizes Energética, da Água e dos Materiais. Estas
Alcançar as metas e melhorar o Ambiente na cidade só é possível com a concretização matrizes, actualizadas inicialmente com referência a 2004, constituem ferramentas
de um vasto conjunto de acções, nomeadamente as que incrementam a mancha essenciais de planeamento e gestão, e as suas contínuas actualizações permitirão
verde da cidade, favorecem os modos suaves de mobilidade, aumentam a eficiência aferir quantitativamente, e corrigir se necessário, a evolução do desempenho da
energética e a componente de energia renovável disponível e utilizam de forma racional cidade, em termos de consumo de Energia, de Água e de Materiais, bem como
os demais recursos não-renováveis. da emissão de poluentes e da produção e reciclagem de resíduos. Embora numa
primeira fase estas matrizes tenham sido realizadas à escala do Concelho de Lisboa,
Assim, estão em curso obras que visam a implementação do Plano Verde de Lisboa, pretende-se o seu alargamento aos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, incluindo
nomeadamente a conclusão do corredor verde Parque Eduardo VII–Monsanto, os fluxos inter-concelhios, de modo a obter-se uma visão integrada e quantificada das
Prefácio
Prefácio
a implementação de circuitos pedonais, a construção de uma rede integrada de vias suas interacções e da sua sustentabilidade.
cicláveis, a construção de infraestruturas para a agricultura urbana que incorpore
a compostagem dos resíduos orgânicos, a introdução na via pública de uma rede Para assegurar a qualidade de vida dos seus cidadãos, é importante que Lisboa tenha
de pontos de carregamento para veículos eléctricos, a instalação de sistemas que uma gestão adequada dos seus recursos e infra-estruturas, pelo que se definiram
permitem a produção descentralizada de electricidade por fontes de energia renováveis objectivos de desempenho que promovam o desenvolvimento sustentável da cidade.
6
no espaço edificado existente e a construção de uma rede de distribuição de água Esta visão inspirou todos os projectos de intervenção e comunicação da Lisboa 7
reciclada para rega de espaços verdes e lavagem das ruas, entre outros objectivos. E-Nova. Os projectos de intervenção são motivados pela necessidade de identificar,
promover e generalizar a adopção de boas práticas ao nível do desenvolvimento da
A acção do Município não se confina apenas à realização das obras. É indispensável cidade. Os projectos de comunicação, ao nível do contacto directo com o cidadão,
a monitorização contínua dos resultados uma vez que permite a verificação do cumprimento motivam o diálogo entre estes e os especialistas nas respectivas áreas temáticas.
das metas assumidas pelo Município no âmbito da Estratégia Energético-Ambiental,
e a eventual correcção e melhoria das metodologias seguidas. Nesta Estratégia traçam-se objectivos concretos e quantificados para o
desenvolvimento sustentável da cidade, os quais foram calendarizados de acordo com
José Sá Fernandes
Vereador Ambiente, Espaços Verdes, Plano Verde, Higiene Urbana e Espaço Público
5. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
os mandatos autárquicos. Ao aceitarem ser julgados pelo cumprimento destes
objectivos calendarizados, no final do seu mandato, o Presidente da CML e a Vereação
a que preside, deram um invulgar exemplo político de compromisso e empenhamento na
concretização da Estratégia, de cuja formulação incumbiram a Lisboa E-Nova. Acresce
que, a nível europeu, a CML foi das primeiras a assumir objectivos calendarizados
que ultrapassam os objectivos europeus e nacionais e que anteciparam aqueles que
posteriormente foram consignados no Pacto dos Autarcas.
Fixados os objectivos e as respectivas datas, é agora fundamental assegurar
a definição de planos de acção e monitorizar as acções e resultados alcançados.
A colaboração que a Lisboa E-Nova recebeu dos seus associados e o exemplar apoio
Prefácio
e incentivo da CML foram decisivos para o trabalho já realizado. Reconhecê-lo é de
elementar justiça. A sua continuação é muito importante, para benefício da Cidade
e da sua sustentabilidade, face às mutações tecnológicas, económicas, sociais
e comportamentais que estamos a atravessar.
8
José Delgado Domingos
Presidente do Concelho de Administração da Lisboa E-Nova
Livia Tirone
Administradora Delegada da Lisboa E-Nova
6. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Índice
15 1. Sumário Executivo
18 2. Introdução
20 2.1 Condicionantes Físicas e Fundamentais
22 2.2 Energia
27 2.3 Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
32 2.4 Fluxos de Água em Lisboa
34 2.5 Fluxos de Materiais em Lisboa
38 2.6 Qualidade do Ar em Lisboa
40 2.7 Caracterização do Ruído em Lisboa
44 3. Perspectivas
50 4. Estratégia e Metas Energético-Ambientais para Lisboa
Índice
50 4.1 Enquadramento Político Externo
50 4.2 Enquadramento Político Nacional
51 4.3 Câmara Municipal de Lisboa – Pressupostos
52 4.4 Metas Calendarizadas para o Consumo de Energia
53 4.5 Metas Calendarizadas para o Consumo de Água e Materiais 11
53 4.5.1 Água
54 4.5.2 Materiais e Reciclagem
59 5. Participação Pública
63 6. Compromissos Políticos a Assumir pela Câmara Municipal de Lisboa
67 7. Trabalho Futuro
68 8. Referências
8. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
1. Sumário Executivo
A Estratégia Energético-Ambiental para energia primária até 2013, relativamente
Lisboa baseia-se na recolha e tratamento a 2002, visando a redução média
de dados quanto aos fluxos de energia, água anual de 1.85% através de uma
e materiais no Concelho de Lisboa e nas actuação prioritária no sector dos edifícios
condicionantes e perspectivas decorrentes e dos transportes rodoviários.
da situação nacional e internacional quanto
à Energia e ao Ambiente. Em particular, A Câmara Municipal de Lisboa define para
Sumário Executivo
põe em evidência a insustentabilidade eco- si própria objectivos mais exigentes que
nómica, social e ambiental resultantes de se traduzem numa redução média anual de
hábitos de vida, parque edificado e transpor- consumo de energia em 1.95%, de modo
tes que não tiveram adequadamente em a alcançar uma redução global de 9.4%. até
conta a qualidade do ar e do ambiente urbano ao final do mandato autárquico, em 2013.
e os sobrecustos em energia que
provocaram. O modo de planear o uso do Ao nível dos consumos de água, e em
solo, nomeadamente quanto ao espaço cooperação com a EPAL, foram fixadas as
público, ao parque edificado, aos transportes metas de redução das perdas em 15.6%
e acessibilidades deve ser cuidadosamente e do consumo global em 7.8% em 2013, 15
revisto nas suas interdependências relativamente a 2004. A utilização de águas
e consequências. recicladas, ainda incipiante, visa o objectivo
3
de 3,1 m /hab. ano até 2013.
A Estratégia visa estabilizar e inverter
as tendências negativas, visando No sector dos materiais são definidas metas
simultaneamente superar os objectivos para a redução do consumo de materiais,
fixados oficialmente tanto a nível nacional que não são directamente integráveis na
para 2015, como europeu para 2020, tecnosfera e na biosfera, da ordem dos
relativos ao consumo de energia, 10% até 2013, relativamente a 2004.
emissões de GEE e utilização de energias
renováveis. A recolha selectiva de materiais, que em
2006 representava 0.15t/hab. ano, deverá
A nível energético, a Estratégia propõe atingir 0,19t/hab. ano em 2013, ou seja um
ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA a redução em 8.9% do consumo de aumento superior a 29%.
10. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
2. Introdução
A Lisboa E-Nova - Agência Municipal de entre municípios, de que são exemplo públicas de ameaças e riscos. Em termos
Energia e Ambiente, que sucedeu à AMERLIS, o Pacto dos Autarcas (Covenant of Mayors) de medidas concretas e no que se refere
é uma associação sem fins lucrativos que e a Declaração da Rede Eurocities. A nível in- ao Concelho de Lisboa as implicações
tem a Câmara Municipal de Lisboa como ternacional merece relevo o CUD (Connected de tais ressalvas são pequenas. Fica
um dos principais associados, entre Urban Development), criado no âmbito da porém a observação de que as perversões
os quais se encontram as empresas Clinton Global Initiative. Actualmente restrita e contradições a que pode levar o
e instituições mais significativas que operam a 7 cidades (S. Francisco, Seul, Amesterdão, actual climatismo 2 são susceptíveis de
no Concelho de Lisboa. São os associados Lisboa, Hamburgo, Madrid e Birmingham). infirmar, por descrédito das justificações
Introdução
Introdução
que financiam os trabalhos, através das alarmistas, a implementação de medidas
suas quotas e do patrocínio de projectos, Os compromissos da CML ao assumir absolutamente cruciais ditadas pela
e é a eles que a Lisboa E-Nova presta contas o Pacto dos Autarcas e a Declaração dependência energética,a poluição que
em Assembleia-Geral. da Eurocities são menos exigentes que provoca e a degradação ambiental.
os assumidos no âmbito da sua própria
18 A Estratégia Energético-Ambiental para Estratégia. A Lisboa E-Nova propôs à CML 19
Lisboa sintetiza um trabalho de vários anos a sua adesão devido aos objectivos que
de recolha e tratamento de dados quanto o Pacto visa, embora discorde de argumen-
aos fluxos de energia, água e materiais tos invocados pelos proponentes quanto
no Concelho de Lisboa. Tal trabalho ao aquecimento global ou decorrentes do
é anterior ao anúncio de políticas e iniciativas “Stern Review” para o governo britânico1.
suscitadas pelas alterações climáticas ou A ressalva procura estabelecer com clareza
ao Protocolo de Quioto, tanto ao nível da a separação entre factos e conhecimentos
Comissão Europeia como do nosso país. científicos fundamentais, da utilização
Nesse âmbito, ou com essa motivação, abusiva que deles tem sido feita por
surgiram ou reforçaram-se várias iniciativas razões político-ideológicas com a finalidade
a nível europeu de associação e cooperação de influenciar políticas e percepções
11. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
2.1 Condicionantes Físicas e Fundamentais
Condicionantes Físicas e Fundamentais
Condicionantes Físicas e Fundamentais
É banal afirmar que vivemos num mundo um fluxo de energia; que em todos os mais importante, entre outras razões porque que tais reservas não são utilizáveis se
dominado pela Ciência e pela Tecnologia, nas fluxos de energia há sempre uma parte o seu espectro de absorção de radiação a energia obtida pelo seu uso for inferior
3
quais depositamos as maiores expectativas que se degrada sob a forma de calor; e que é muito mais amplo que o do CO .2 à energia gasta para a obter, seja qual for
para a solução dos enormes desafios que nós próprios, como todos os seres vivos, o preço a que a energia se encontra. As várias
a humanidade enfrenta sem cuidar de só existimos porque um fluxo contínuo Como qualquer acção exige um fluxo de “pegadas ecológicas”, hoje tão populares,
saber se essa mesma Ciência não aponta já de energia nos atravessa. Essa energia energia e a energia é uma entidade física são também variantes simplificadas e por
claros limites ao que dela podemos esperar. metabolizável tem origem na fotossíntese, rigorosamente quantificável pode calcular- vezes facilitadas dessa fundamental análise
Esquecemos com demasiada facilidade que efectuada pelas plantas, num certo intervalo -se um custo em energia para qualquer sistémica que segue os fluxos quantificados
o desenvolvimento pode ser constante mas de temperaturas, utilizando CO2 e radiação bem ou serviço, tanto na natureza como na de matéria e energia.
com limites assimptóticos e que existem solar. vida social ou económica. Estabelecer esse
na Ciência princípios mais fundamentais do custo é objecto da “Análise Energética de Esta perspectiva permite olhar com acrescido
Sem CO2 não existe vida.
que outros, no sentido em que cada nova Sistemas”, uma área disciplinar, há mais de realismo a questão do pico do petróleo
descoberta não os pode violar. Para o mundo 20 anos, posteriormente alargada ao cálculo e da exaustão das reservas e antever com
20 macroscópico, em que esta proposta se Para a maioria das plantas o CO2 aumenta do consumo e emissão dos fluxos materiais mais segurança o que poderá ser o futuro. 21
enquadra e onde o tempo não é reversível, a fotossíntese, tal como a temperatura envolvidos, nomeadamente CO2. Esta nova Este tema foi objecto de conferências
as leis de Newton e as da Termodinâmica o faz, até um valor que depende da planta em metodologia, designada por “Análise do Ciclo recentes promovidas pela CCDR-LVT
são inultrapassáveis e irrevogáveis por acto causa. No tempo do Império Romano a vinha de Vida”, é instrumento indispensável quando e não será aqui aprofundado, pois existe
legislativo ou vontade humana, pelo que cultivava-se até Northumberland (no que se pretende analisar e planear tendo em conta muita bibliografia relevante4. Limitamo-nos
a única abordagem realista ao futuro tem é hoje o Reino Unido). Na Holanda, aumentava- as Leis Físicas Fundamentais. Foi ela que a recordar o óbvio consenso de que terminou
de passar pelo seu entendimento e pelas -se a produtividade nas estufas de flores antecipou as contradições de muitas políticas o tempo da energia barata e a extrair ilações
suas consequências nos actos que se queimando gás natural para enriquecer de fomento dos biocombustíveis para reduzir há muito óbvias5 mas para as quais só muito
praticam ou planeiam. a atmosfera em CO2. O CO2 foi também o CO2 ou a dependência dos combustíveis recentemente se despertou com a subida
importante para que a temperatura da Terra fósseis. É também ela que mostra do preço do petróleo, a crise dos mercados
A Termodinâmica lembra-nos que qualquer a tornasse habitável, muito embora o vapor o efectivo limite das reservas de combustíveis financeiros e as suas consequências na
acção sobre o mundo que nos cerca exige de água desempenhe um papel muitíssimo fósseis, a qual se traduz na evidência de economia.
12. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
2.2 Energia
Sem energia não há desenvolvimento também que estamos muito, muito longe, O termo intensidade energética é utilizado
económico nem melhoria da qualidade de de aproveitar toda a que era possível. frequentemente com dois significados.
vida. Em 2006 Portugal importou mais de Um refere-se à capitação do consumo
6
85% da energia consumida, sobretudo Como os termos “eficiência energética” IE=Tep/habitante . O outro à intensidade
combustíveis fósseis, os quais representam e “intensidade energética da economia” energética da economia, a qual exprime
um peso crescente e preocupante na ocorrem com frequência na discussão deste o quociente IEE=Tep/PIB, sendo o PIB
balança de pagamentos. tema, com interpretações frequentemente expresso em valores monetários corrigidos
incorrectas e contraditórias, é importante pela inflação (i.e. a preços constantes).
Entre nós, tem sido ideia dominante que definir com rigor o seu significado e o sentido
o consumo de energia por habitante é muito em que são aqui utilizadas. Assim, quando
Energia
Energia
Em qualquer dos índices os Tep tanto se
baixo comparado com o valor médio na UE. falamos de eficiência energética usamos podem referir à energia primária como
Esta convicção contribuiu para a ilusão como referência o mínimo de energia que à energia útil. Energia primária é a energia
de que o aumento do consumo per capita é necessário gastar para obter uma efectivamente despendida, enquanto que
só poderia ser uma evolução positiva. finalidade útil predeterminada. Este mínimo, energia útil é a energia que efectivamente
22 Foi esquecido, porém, que a energia que pode ser rigorosamente estabelecido produziu o efeito desejado, muitas vezes 23
7
importada tem de ser paga e que esse com base na Termodinâmica, é inalcançável considerada sinónimo de energia final .
pagamento só pode ser gerado pela na prática e por isso serve apenas para
riqueza acrescentada à energia que se referência. Tomando-o como referência Sob o ponto de vista económico, o índice
consumiu. Ignorou-se também que apenas atribuímos-lhe o valor de 100% de mais importante é a intensidade energética
uma pequena parte (inferior a 30%) da eficiência energética. Comparando todos da economia.
energia utilizada teve um resultado útil. os processos, equipamentos, etc., em que
A restante foi libertada sob a forma de utilizamos energia para obter algo, esses Este índice aumentou continuamente em
calor e constitui uma agressão ambiental. processos terão eficiências quantificáveis Portugal desde 1973. Nos últimos anos
A 2.ª Lei da Termodinâmica esclarece que não e podem ser comparados entre si. Quando e de acordo com o EUROSTAT a evolução no
é fisicamente possível aproveitar, sob forma falamos de eficiência energética é a esta consumo de energia primária apresenta-se
útil, toda a energia libertada mas indica-nos que nos referimos. na Figura 1.
13. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
a Dinamarca ou mesmo os EUA e mais 10,6% inferior ao da Dinamarca mas, em
280
recentemente a China, para não referir contrapartida, consumia mais do dobro para
gerar a mesma unidade de riqueza .
9
muitos outros, a evolução da nossa
260
Portugal intensidade energética é alarmante.
Irlanda
Esta tendência, já demonstrada quando se
240
Dir-se-á que esta evolução se deveu a uma comparava Portugal com os outros países
Espanha
Espanha 10
considerável melhoria do rendimento e da da então CEE aquando da sua adesão,
220
Portugal qualidade de vida, à qual globalmente se nunca se inverteu.
200
aspirava. É verdade, sem dúvida, mas de uma
Energia
Energia
Euro 15 forma que não é sustentável, como é cada Ano Portugal Dinamarca
180 vez mais evidente com a quase estagnação 2002 2,51 2,74
da economia e o crescente endividamento 2003 2,43 2,79
8
160 Irlanda externo. Esta evolução era previsível 2004 2,49 2,83
Austria e não deixa de ser significativo que 2005 2,53 2,83
24 140 a maioria das medidas preconizadas no “Plano 25
Tabela 1. Comparação entre a capitação tep/hab. de
Dinamarca Energético Nacional” (1982/83) tenham Portugal e da Dinamarca
(Fonte: EUROSTAT)
120 agora ressurgido a propósito do “Plano
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Nacional para as Alterações Climáticas”
ou do “Plano Nacional de Acção para Reduzir a intensidade energética da eco-
Fig. 1. Evolução da intensidade energética da economia na EU 15, em kpe/1000 Euro ao valor do Euro em 1995.
(Fonte: EUROSTAT) a Eficiência Energética”. Quando se desculpa nomia significa reduzir o consumo de energia
a degradação da intensidade energética da mantendo o valor acrescentado ou aumentar
economia com a baixa capitação do consumo o valor acrescentado para a mesma
é esclarecedor comparar essa evolução quantidade de energia. Reduzir o consumo
Esta evolução significa, globalmente, que petrolífero (1973/74) e que a tendência
com a da Dinamarca. Portugal, em 2005 (de significa aumentar a eficiência energética
a nossa capacidade de acrescentar valor também não se inverteu após o segundo
acordo com o EUROSTAT) tinha um consumo do processo em que a energia é utilizada.
económico à energia consumida se degradou choque (1978/79). Se comparamos
de energia primária per capita cerca de O nosso sector industrial fez assinaláveis
continuamente desde o primeiro choque aevolução com o Japão, a Irlanda,
14. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
2.3. Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
progressos neste sentido desde a entrada Embora a energia utilizada termine Tendo em conta os conceitos anteriores relativos a 2000 e 2001, desenvolvido
Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
11
de Portugal na UE . Em contrapartida, praticamente toda sob a forma de calor a Lisboa E-Nova preocupou-se, desde pelo DCEA-FCT da Universidade Nova
houve uma assinalável deterioração disperso no ambiente o facto é que a sua o início, em estabelecer quantitativamente de Lisboa, a Inventar e a CCDR-LVT em
nos transportes e no que designamos produção, a partir de combustíveis fósseis, os fluxos de energia no Concelho de Lisboa, 2006. Os principais resultados estão
12
genericamente por urbanismo . tem sempre associada a emissão de a que posteriormente acrescentou os de sintetizados nas tabelas (Tabela 2 e 3)
poluentes atmosféricos, sólidos e gasosos, CO . a seguir apresentadas.
2
Aumentar o valor acrescentado significa muito importantes (partículas, NOx, metais
maior incorporação de conhecimento ou pesa-dos, etc., consoante o combustível). Os pormenores da metodologia encontram- No actual contexto de preocupação pelas
de elementos valorativos. Por exemplo, de -se descritos na Matriz Energética de alterações climáticas importa sublinhar
Energia
pouco vale conseguir o mínimo possível de A disponibilidade de energia barata teve Lisboa14, estudo revisto em 2008 em que o balanço foi efectuado contabilizando
consumo de energia em produtos cerâmicos também um profundo impacto na termos de metodologia e consistência de a energia primária e as emissões e consumos
se em nada se distinguirem dos produzidos arquitectura e no urbanismo. Fez com que dados, nomeadamente quanto ao sector provocados por Lisboa e não estritamente
em massa por uma mão-de-obra mais barata se passasse de uma arquitectura adequada dos transportes, em que foram adoptados as emissões e consumos verificados no
e com recursos naturais em combustíveis. ao clima para um clima fabricado para os valores obtidos no estudo “Planos interior do concelho. Esta diferença não
15
26 Se, em contrapartida, se tratar de a arquitectura, utilizando energia à custa e programas para a melhoria da qualidade é despicienda . 27
produtos de design a valorização trazida da degradação do ambiente exterior. do ar na Região de Lisboa e Vale do Tejo”,
pelo design pode largamente ultrapassar as
desvantagens de uma eventual ineficiência
energética. Também o valor acrescentado
por um programa informático de sucesso
pode tornar irrelevante o consumo de
energia que provocou.
A ineficiência energética tem um efeito
13
directo na degradação do ambiente .
15. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Tabela 2. Matriz energética (energia primária) do Concelho de Lisboa [tep]. Tabela 3. Matriz emissões CO2 do Concelho de Lisboa [tCO2].
(Fonte: Lisboa E-Nova. (2005) “Matriz Energética de Lisboa-actualização”, www.lisboaenova.org, Lisboa, 2008.) (Fonte: Lisboa E-Nova. (2005) “Matriz Energética de Lisboa”, (trabalho interno de revisão), Lisboa, 2008.)
Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
Formas de Energia - Primária (tep) Formas de Energia - Primária (tep)
Electricidade (EP)
Electricidade (EP)
Gás Natural
Gás Natural
Tipologias de utilização Tipologias de utilização
Fluel óleo
Gás Auto
Fluel óleo
Gás Auto
Gasolina
Gasolina
Gasóleo
Gasóleo
Outros
Outros
TOTAL
TOTAL
GPL
GPL
Hotelaria/Restauração 69020 0 0 0 10750 258 172 0 80200 Hotelaria/Restauração 284060 0 0 0 25249 682 557 0 310549
Banca e Seguros 69600 0 0 0 1634 0 0 9 71243 Banca e Seguros 286447 0 0 0 3838 0 0 1 290286
Administração Pública 56100 0 0 0 1720 172 86 172 57250 Administração Pública 286771 0 0 0 4040 454 279 17 231561
Serviços Saúde 26390 0 0 0 6450 86 1204 0 34130 Serviços Saúde 108611 0 0 0 15150 227 3902 0 127890
Educação 35670 0 0 0 1978 86 0 9 37743 Educação 146804 0 0 0 4646 227 0 1 157678
Outros 276660 0 0 0 15050 10062 8600 5590 315962 Outros 1138629 0 0 0 35349 26582 27869 563 1228992
Sub-total parcial (serviços) 532440 0 0 0 37582 10664 10061,92 5779 596527 Sub-total parcial (serviços) 2191323 0 0 0 88272 28173 32606 563 2340956
Aquecimento de água 8120 0 0 0 50138 0 0 58258 Aquecimento de água 33419 0 0 0 121290 0 0 154708
Edifícios Edifícios
Frio doméstico 58290 0 0 0 0 0 0 58290 Frio doméstico 239900 0 0 0 0 0 0 239900
Aquecimento ambiente 44370 0 0 0 6364 0 0 50734 Aquecimento ambiente 182610 0 0 0 15395 0 0 198005
Preparação de refeições 12470 0 0 0 26488 0 0 38958 Preparação de refeições 51322 0 0 0 64077 0 0 115399
Residencial Residencial
Iluminação 31610 0 0 0 0 0 0 31610 Iluminação 130095 0 0 0 0 0 0 130095
Lavagem mecânica 18850 0 0 0 0 0 0 18850 Lavagem mecânica 77580 0 0 0 0 0 0 77580
Outros 27840 0 0 0 0 0 0 27840 Outros 114579 0 0 0 0 0 0 114579
Sub-total parcial (residencial) 201550 0 0 0 82989 0 0 284539 Sub-total parcial (residencial) 829504 0 0 0 200762 0 0 1030266
Sub-total (edifícios) 733990 0 0 0 131235 10061,92 5779 881066 Sub-total (edifícios) 3020827 0 0 0 317475 35606 583 3371491
Rodovário 0 2060 400295 263322 0 0 0 0 665677 Rodovário 0 5443 1241883 764016 0 0 0 0 2011342
Ferroviário 34220 0 0 0 0 0 0 0 34220 Ferroviário 140837 0 0 0 0 0 0 0 140837
Transportes Transportes
Fluvial 0 0 2580 0 0 0 0 0 2580 Fluvial 0 0 8004 0 0 0 0 0 8004
28 Sub-total (transportes) 34220 2060 402875 263322 0 0 0 0 702477 Sub-total (transportes) 140837 5443 1249887 764016 0 0 0 0 2160183 29
Indústria 43210 0 0 0 2408 91417 2064 344 139443 Indústria 177836 0 0 0 0 19 6689 35 184579
Outros 21170 0 0 0 0 0 602 860 22632 Outros 87128 0 0 0 0 0 1951 87 89165
TOTAL 832590 2060 402875 263322 225060 12728 6983 1745619 TOTAL 3426628 5443 1249887 764016 317492 41246 704 5805416
Fig. 2. Desagregação do consumo de energia primária Fig. 3. Desagregação das emissões de CO2 associadas
pelas diferentes tipologias de utilização. às diferentes tipologias de utilização.
(Fonte: Lisboa E-Nova. (2005) “Matriz Energética de Lisboa- (Fonte: Lisboa E-Nova. (2005) “Matriz Energética de Lisboa”,
actualização”, www.lisboaenova.org, Lisboa, 2008.) (trabalho interno de revisão), Lisboa, 2008.)
16. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Em resumo
Em termos globais, e utilizando a metodologia comparativamente muito baixos. Quanto Lisboa em 2002 foi responsável por 7% preliminares mostram que o consumo global
Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
Fluxos de Energia e de CO2 em Lisboa
corrente, a posição de Portugal quanto às emissões por unidade de PIB, elas são do consumo nacional de energia primária, aumentou, bem como a diferença para
a emissões de CO por habitante é apenas o reflexo da má intensidade energética da equivalente a 1,7 milhões de toneladas a média do país, realçando a responsabilidade
2
preocupante pelas multas a que ficou economia (IEE) já referida. de petróleo. O consumo por habitante foi que Lisboa tem em dar o exemplo na
sujeito. Isto porque os máximos globais de de 3,1 Tep por habitante, enquanto que imprescindível estabilização e seguidamente
emissão aceites a nível da UE, no âmbito
16
a média nacional foi de 2,5 Tep. Resultados da inversão da tendência negativa assinalada.
do protocolo de Quioto , foram valores
Emissões de GEE per capita, em 2005
Emissões de GEE per capita, em 2005 Emissões de GEE por unidade de PIB ppc, em 2005
Emissões de GEE por unidade de PIB ppc, em 2005
Luxemburgo
Luxemburgo Estónia
Estónia
Irlanda
Irlanda Polónia
Polónia
Estónia
Estónia Rep. Checa
Rep. Checa
República Checa
República Checa Eslováquia
Eslováquia
Bélgica
Bélgica Chipre
Chipre
Chipre
Chipre Grécia
Grécia
Finlândia
Finlândia Hungria
Hungria
Holanda
Holanda Lituânia
Lituânia
Grécia
Grécia Eslovénia
Eslovénia
Alemanha
Alemanha Irlanda
Irlanda
Dinamarca
Dinamarca Bélgica
Bélgica
30 Áustria
Áustria Finlândia
Finlândia 31
Reino Unido
Reino Unido Luxemburgo
Luxemburgo
UE - - 15
UE 15 Portugal
Portugal
UE - - 25
UE 25 Alemanha
Alemanha
Polónia
Polónia UE - - 25
UE 25
Espanha
Espanha Malta
Malta
Eslovénia
Eslovénia Holanda
Holanda
Itália
Itália Espanha
Espanha
Eslováquia
Eslováquia Letónia
Letónia
França
França UE - - 15
UE 15
Portugal
Portugal Itália
Itália
Hungria
Hungria Dinamarca
Dinamarca
Malta
Malta Reino Unido
Reino Unido
Suécia
Suécia Áustria
Áustria
Lituânia
Lituânia França
França
Letónia
Letónia Suécia
Suécia
00 55 10
10 15
15 20
20 25
25 30
30 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2
t t CO equivalente por habitante
CO equivalente por habitante t t CO equivalente por milhares de PPC
CO equivalente por milhares de PPC
Fonte: APA, 2007; EUROSTAT, 2007; EEA, 2007
Fonte: APA, 2007; EUROSTAT, 2007; EEA, 2007
Fig. 4 e 5. Emissões de GEE (gases com efeito estufa) per capita à esquerda (t CO2eq./habitante) e por unidade de PIB
(t CO2eq./milhares Euros), à direita, em 2005.
2 2
(Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente. (2007) “Relatório do Estado do Ambiente 2006”.) Fonte: http://nssdc.gsfc.nasa.gov/planetary/image/earth_night.jpg
17. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
2.4 Fluxos de Água em Lisboa
17 3
A Matriz da Água , elaborada pela Lisboa do total (30,9 milhões de m ), seguido do Em termos de águas residuais, 21 milhões
3
E-Nova, identifica, com dados de 2004, consumo no comércio e indústrias, com 19% de m são águas residuais domésticas, não
3
todos os fluxos de água canalizada que (14,3 milhões de m ) e da Câmara Municipal interceptadas pela rede. Dos cerca de 59
3
entram e saem da cidade. Sempre que de Lisboa, com 12% do total (9,2 milhões milhões de m de água residual tratada,
Fluxos de Água em Lisboa
Fluxos de Água em Lisboa
3 3
possível tais dados foram desagregados por de m ). 43 milhões de m foram produzidas no
tipo de utilizador e de utilização. O consumo Con-celho de Lisboa sendo os restantes 16
3
total de água foi estimado em cerca de No sector doméstico é nas actividades milhões de m provenientes de outros Municípios.
3
74,5 milhões de m , o que corresponde sanitárias e de higiene que se utiliza o maior A Estação de Tratamento de Águas Residuais
a 13% do consumo total do sector urbano volume de água, sendo a maior parcela para (ETAR) de Alcântara tratou cerca de 55% do
em Portugal Continental. chuveiros (49%), seguida das descargas dos volume total, seguida das ETARs de Chelas
autoclismos (22%) e da utilização das torneiras e Beirolas, com 23% e 22% respectivamente.
Este consumo corresponde, em termos de da casa de banho (8%).
consumo médio urbano diário per capita, Tendo em conta este cenário é possível
a 367 L/hab/dia, valor superior à média de Dentro do sector não doméstico, para além identificar as principais áreas e oportunidades
32 Portugal Continental, que é de 208 L/hab/ da Câmara Municipal de Lisboa (28%), a maior de intervenção, com vista à optimização do 33
dia, e à média europeia de 272 L/hab/dia. percentagem de água potável destina-se desempenho energético-ambiental da cidade:
à restauração e hotelaria (12%),
Como se pode verificar o principal destino aos escritórios (9%) e às instituições • combate às perdas na rede de
é o consumo doméstico, representando 42% e organismos públicos (8%). abastecimento de água;
• gestão da procura com especial destaque
Dentro deste contexto é importante realçar para políticas que promovam a redução da
que em 2004 entraram efectivamente no procura de água potável;
3
Concelho de Lisboa cerca de 127 milhões de m , • e a reutilização de águas cinzentas e águas
3
Fig. 6, 7 e 8. Consumos de água potável no Concelho dos quais 33 milhões de m foram entregues pluviais para usos não potáveis.
de Lisboa e descriminação do consumo doméstico em 3
baixo. a outros municípios e 19,5 milhões de m
(Fonte: Lisboa E-Nova. (2006) “Matriz da Água de Lisboa”, Di-
foram contabilizados como perdas na rede.
visão de Imprensa Municipal da Câmara Municipal de Lisboa,
Lisboa, 2006)
18. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
2.5 Fluxos de Materiais em Lisboa
A Matriz dos Materiais de Lisboa18, O consumo de recursos não renováveis Neste padrão de consumos, 65% dos Relativamente à acumulação em stock, ou
também elaborada com dados de 2004, representa cerca de 80% do consumo total recursos referem-se a minerais não seja aos materiais cujo tempo de vida útil
baseia-se na metodologia de Contabilização de materiais da cidade de Lisboa, sendo metálicos (na sua maioria materiais de na economia é superior a um ano, podem-se
Fluxos de Materiais em Lisboa
Fluxos de Materiais em Lisboa
de Fluxos de Materiais disseminada pelo a fracção renovável, correspondente construção), 11% são combustíveis fósseis contabilizar cerca de 9 milhões de toneladas
EUROSTAT, permitindo quantificar os a biomassa (nomeadamente produtos e 4% referem-se a minerais metálicos. de materiais, 64% dos quais com um tempo
fluxos de materiais que são gerados pelas alimentares e madeira), cerca de 20% médio de vida superior a 30 anos
actividades que têm lugar na cidade. Os (essencialmente materiais de construção).
dados de entrada foram desagregados por Este resultado sugere que se está a verificar
tipo de material, sector, utilizador e tempo um crescimento da acumulação de materiais
de residência (ou período de vida útil). Os na cidade apesar do “emagrecimento” da cidade
fluxos de saída, maioritariamente resíduos, em número de habitantes nos últimos anos.
foram desagregados de acordo com o seu Os principais resultados da Matriz dos
destino ou modo de tratamento. Materiais de Lisboa são apresentados na
tabela 4.
34 Em termos globais são consumidos 11 milhões 35
Fig. 10. Distribuição do tipo de materiais consumidos.
de toneladas de materiais por ano na (Fonte: Lisboa E-Nova. (2007). “Matriz dos Materiais de Lisboa”,
cidade de Lisboa, o que representa cerca Fig. 9. Distribuição do tipo de materiais consumidos.
Divisão de Imprensa Municipal da Câmara Municipal de Lisboa,
Lisboa, 2007.)
de 7% dos materiais consumidos no país, (Fonte: Lisboa E-Nova. (2007). “Matriz dos Materiais de
Lisboa”, Divisão de Imprensa Municipal da Câmara Municipal
e em termos de consumos per capita de Lisboa, Lisboa, 2007.) Listando os 10 produtos mais consumidos em
o valor é 54,1 kg/hab.dia, valor superior Lisboa, em unidades de massa, verifica-se que
à média nacional de 42,9 kg/hab.dia. os produtos relacionados com a alimentação
assumem o primeiro lugar, seguindo-se os
combustíveis para transporte e os bens
de equipamento para a habitação e artigos
pessoais (como mobiliário, vestuário, calçado
e têxteis para o lar).
19. ESTRATÉGIA ENERGÉTICO-AMBIENTAL PARA LISBOA
Tabela 4. Fluxos de Materiais Globais da Cidade de Lisboa (un.:1000t)
(Fonte: Lisboa E-Nova. (2007). “Matriz dos Materiais de Lisboa”, Divisão de Imprensa Municipal da Câmara Municipal de Lisboa,
Lisboa, 2007.)
Fluxos de Materiais em Lisboa
Fluxos de Materiais em Lisboa
Categoria material Entrada Saída Acumulação
Biomassa agrícola 1499 117
Biomassa florestral 540 300
Biomassa
Biomassa pescas 11 0
Sub-total Biomassa 2050 431 732
CF em Produtos 206
Combustíveis
994 Fig.11. Distribuição dos resíduos produzidos por tipo Fig. 12. Distribuição dos resíduos por destino final.
Combústiveis rodoviários
FÓsseis
1245 de materiais. (Fonte: Lisboa E-Nova. (2007). “Matriz dos Materiais de Lis-
Electricidade 0 (Fonte: Lisboa E-Nova. (2007). “Matriz dos Materiais de Lis- boa”, Divisão de Imprensa Municipal da Câmara Municipal de
boa”, Divisão de Imprensa Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 2007.)
Sub-total CF 1200 172
Lisboa, Lisboa, 2007.)
Metais 434 14 430
De construção 7168 338
Industriais 85 34
valorização energética através de queima através da implementação alargada de medidas
Minerais não
metálicos Ind&Constr 8 11 e 12% tiveram como destino a deposição em que favoreçam:
Sub-total MNM 7261 383 7240 aterro.
36 • a optimização da procura de materiais, 37
Não especificado 289 107 276
TOTAL 11234 2180 8850
Entre outros aspectos relevantes este reduzindo a utilização de recursos naturais
documento sugere que a cidade pode ser não renováveis;
encarada, no imediato, como uma fonte de • a reutilização, reciclagem e valorização em
Analisando os fluxos de saída, o valor total A biomassa, que inclui os resíduos orgânicos,
materiais, pelo facto de o meio edificado e de os maior grau dos materiais já acumulados na
de resíduos gerados pelos consumidores em a madeira, o papel e parte dos têxteis rejeitados
bens duráveis poderem ser encarados, no seu cidade;
Lisboa é cerca de 630 mil toneladas (ano pelos consumidores, é a categoria de resíduo
fim de vida, como fonte de muitos materiais
2004). As estimativas indicam ainda que com maior expressão em Lisboa. A categoria • e a optimização da oferta, promovendo
úteis à economia.
nesse ano foram produzidas cerca de 330 dos combustíveis fósseis é essencialmente o consumo de materiais produzidos de
mil toneladas de resíduos de construção constituída por produtos plásticos. Os resultados da aplicação da ferramenta uma forma mais sustentável (menos
e demolição, foram transportadas pelas águas de Contabilidade dos Fluxos de Materiais intensivos em produtos químicos e água),
residuais cerca de 14 mil toneladas de carga Pode ainda verificar-se, pela Figura 12, que apontam diversas oportunidades estratégicas tendo particularmente em conta a saúde
sólida e foram emitidas para a atmosfera cerca em termos de destino final 43% foi alvo de que podem contribuir para a melhoria do dos cidadãos e a protecção de todos os
de 1,2 milhões de toneladas de substâncias. reciclagem, 45% foram aproveitados para desempenho energético-ambiental da cidade ecossistemas exitentes no meio urbano.