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CCAS. Agenda lotada
e dezenas de artigos
publicados em 2012.




    https://www.facebook.com/pages/CCAS/269355233194146
CARTA AO LEITOR
O tempo passa muito rápido e nem nos damos conta de tudo aquilo que conseguimos realizar. 2012 foi um ano muito
importante para o CCAS, pois conseguimos fazer muitas coisas importantes a favor da agricultura sustentável – razão precípua
da existência de nosso conselho.


Nossos conselheiros – empenhados, competentes e que tem muito a contribuir para a agricultura sustentável – estiveram
presentes em vários eventos realizados em 2012 e redigiram muitos artigos ao longo do ano. Para tangibilizar nossa afirmação
organizamos esta publicação: um relato com a participação em eventos e com dezenas de artigos publicados.


Entre os diversos temas abordados por nossos articulistas estão: tecnologias e seus benefícios; produtos seguros e segurança
na agricultura; slow food; boas práticas agrícolas; gestão territorial; biodiversidade; código florestal; etc.


Desejamos uma leitura útil e prazerosa.


Dezembro 2012.

José Otávio Menten
Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável
SOBRE O CCAS
O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de
2011,com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados a
sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara,sobre o assunto.


O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade,
ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.


Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada,
que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam
por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas,
para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.


A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em
construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores,
pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da
sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa sejam colocados
a disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.



VISÃO
Valorizar e promover junto a sociedade a agricultura sustentável



MISSÃO
Promover e difundir a agricultura sustentável em todas as etapas de seu processo produtivo.


Zelar pela imagem do produtor rural brasileiro e de seus produtos derivados da agricultura sustentável, bem como pela: segu-
rança alimentar, educação no campo, meio ambiente, cidadania e qualidade de vida da população brasileira.


Promover e incentivar a educação, o uso de tecnologias que incrementem a produção agrícola e qualidade dos alimentos,
fibras e energia produzidas de forma sustentável.



VALORES
O CCAS pautará suas ações dentro dos mais elevados níveis de: ética, transparência, integridade, respeito a diversidade,
credibilidade e imparcialidade.


Valorizar os profissionais e demais agentes que atuem em benefício e defesa da agricultura sustentável.
CONSELHEIROS
              Aluízio Borém de Oliveira
                Angelo Zanaga Trapé
              Antônio Roque Dechen
                Claudio A. Spadotto
                Ciro AntonioRosolem
                   Coriolano Xavier
                 Décio Luiz Gazzoni
                  Dirceu N. Gassen
                   Eduardo Peixoto
                     Elbio Senna
                José Otavio Menten
               José Luiz TejonMegido
                Luiz Antonio Pinazza
             Luiz Carlos BheringNasser
            Luiz Carlos Corrêa Carvalho
                       Luiz Madi
                      Rumy Goto



 ASSESSORIA DE IMPRENSA
                Alfapress Comunicações
Tatiana Barro de Freitas – Consultora de Comunicação
            tatiana.freitas@alfapress.com.br

   Julia Teixeira – Coordenadora de Comunicação
             julia.teixeira@alfapress.combr

       Alex Mattiuzzo – Gerente de Operações
           alex.mattiuzzo@alfapress.com.br

                  Cid Luis – Diretor
             cid.luis@alfapress.com.br
ÍNDICE
JANEIRO
 OS RESULTADOS DO PARA E SEGURANÇA ALIMENTAR: CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E
 DA TOXICOLOGIA PARA SUA INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO..............................................................11

 ALIMENTOS SEGUROS................................................................................................................................13

 A SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE GRÃOS......................................................................................15

 SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA PAULISTA DE AGRICULTURA DE INTERESSE
 SOCIAL REGULAMENTADO ONTEM............................................................................................................17

 PRODUZIMOS ALIMENTOS SAUDÁVEIS.......................................................................................................18

 OS SETE DESAFIOS DO AGRIBUSINESS – A JORNADA DOS PRÓXIMOS 10 ANOS.....................................20



FEVEREIRO
 QUEM VIVER VERÁ......................................................................................................................................23

 TEMPESTADE EM COPO DE LARANJA........................................................................................................25



MARÇO
 SACOLINHA: SER OU NÃO SER...................................................................................................................28



ABRIL
 AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E AS TECNOLOGIAS.....................................................................................32

 CÓDIGO FLORESTAL: METAS E MÉTODOS..................................................................................................34

 DE SANTO A PECADOR, O MORANGO ÀS VEZES GERA DÚVIDA NA CABEÇA DO CONSUMIDOR...............36



MAIO
 PROJETO CULTIVIDA: UM PROJETO DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO RURAL BRASILEIRA.........................38
CALOR INSUPORTÁVEL E FOME..................................................................................................................40

 SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA: OBSTÁCULOS A SEREM VENCIDOS................................................42

 BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS E AMBIENTAIS E OS PROFISSIONAIS NA AGRICULTURA.........................44

 CÓDIGO FLORESTAL...................................................................................................................................45

 O SOLO É A PÁTRIA, CULTIVÁ-LO É ENGRANDECÊ-LA!...............................................................................46



JUNHO
 AGRICULTURA E BIODIVERSIDADE..............................................................................................................48

 DE QUEM É O AMBIENTE?..........................................................................................................................50

 O CANARINHO VOLTOU...............................................................................................................................52

 GESTÃO TERRITORIAL ESTRATÉGICA PARA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL.................................................54

 A 150 KM POR HORA.................................................................................................................................56

 A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA E A RIO+20..........................................................................58

 SEGURANÇA ALIMENTAR E AMBIENTAL NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA...........................................................60

 FUNDAÇÃO AGRISUS COMPELTA 11 ANOS DE APOIO A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL..............................62



JULHO
 ESQUENTA OU NÃO ESQUENTA? E O QUE A AGRICULTURA TEM COM ISSO? ............................................65

 TODOS OS OVOS NUMA CESTA SÓ............................................................................................................66

 QUANDO O CARNAVAL CHEGAR.................................................................................................................67

 SEGURANÇA NUTRICIONAL: A LIÇÃO COMPLETA.......................................................................................69

 SEGURANÇA DOS ALIMENTOS...................................................................................................................71



AGOSTO
 O JECA INFORMATIZADO............................................................................................................................74
OS GASES DO BOI: QUANTA BOBAGEM!.....................................................................................................76

 ONDE ATUAR PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA?.................................................................78

 A ARTE DO ENCANTAMENTO......................................................................................................................79

 BRASIL, MAIOR PRODUTOR DE SOJA?.......................................................................................................81

 BENEFÍCIOS DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS PARA A SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA.................83

 MANEJO DA FERRUGEM DA SOJA: CONTRUBUIÇÃO À SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO.....................85

 SUSTENTABILIDADE: COBERTURA VERDE PARA REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA........................88



SETEMBRO
 165 BILHÕES DE DÓLARES NO LIXO..........................................................................................................90

 SEGURANÇA NUTRICIONAL E CAPITAL HUMANO.......................................................................................92

 MOFO-BRANCO: IMPORTÂNCIA, DISSEMINAÇÃO E MANEJO DA DOENÇA EM LAVOURAS NO BRASIL......94



OUTUBRO
 BIODIESEL DE ALGAS – O QUÊ, PORQUÊ E PARA QUEM? ..........................................................................97

 O VELHO ARROZ COM FEIJÃO..................................................................................................................100

 OS OBSTÁCULOS A SEREM SUPERADOS PELO AGRO..............................................................................102

 QUANTO VALE O AMBIENTE?....................................................................................................................103

 SACOLINHA: VOTO E ATITUDE...................................................................................................................105

 SONHO, URGÊNCIA E ECONOMIA VERDE..................................................................................................107

 INTEGRAÇÃO LAVOURA E PECUÁRIA – ILP...............................................................................................109

 CÓDIGO FLORESTAL – CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.....................................110

 NÃO TEM SEGREDO, O MILHO VAI EXPLODIR!..........................................................................................112

 ENGENHEIRO AGRÔNOMO: AGRO SUSTENTÁVEL.....................................................................................114

 CERRADOS: UM BIOMA QUE PRECISA SER PRESERVADO........................................................................116
NOVEMBRO
 MONITORAMENTO DA SAÚDE DE AGRICULTORES E TRABALHADORES AGRÍCOLAS
 PONTECIALMENTE EXPOSTOS A AGROQUÍMICOS – UM DESAFIO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO .......118

 O BOI BANDIDO OU MOCINHO?................................................................................................................120

 MAIS LEI, MENOS EMPREGO, MENOS TÉCNICA, MENOR SUSTENTABILIDADE.........................................123

 COISAS DO SÉCULO XXI............................................................................................................................125

 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO AGRONEGÓCIO
 NOS PRÓXIMOS 10 ANOS.........................................................................................................................127

 SLOW FOOD: UM MOVIMENTO PELO ALIMENTO BOM, LIMPO E JUSTO..................................................129



DEZEMBRO
 INTEGRAÇÃO, LAVOURA-PECUÁRIA, FLORESTA?.....................................................................................132

 COORDENAÇÃO, LIDERANÇA E AMBIÇÃO................................................................................................134

 FILMES DE PVC, PROTEÇÃO E RISCO ......................................................................................................136



PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS
 EVENTO DE DIA DE CAMPO PROPÕE AÇÕES SUSTENTÁVEIS AOS...........................................................139

 CCAS PROMOVE EVENTO PARA PROMOTORES DE MATO GROSSO........................................................139

 CCAS PARTICIPA DO 1º ENCONTRO DO TRABALHADOR RURAL DE ARARAQUARA E REGIÃO.................140

 CCAS PARTICIPA DA 3ª EDIÇÃO DO CROP WORLD SOUTH AMERICA 2012.............................................140

 CCAS PARTICIPA DO ENCONTRO INTERNACIONAL DE MOFO BRANCO...................................................141

 CCAS PARTICIPA DO CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA........................................................141

 CCAS PARTICIPA DO 3º SIMPÓSIO SOBRE RESISTÊNCIA A PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS......................142

 CCAS DEBATE SOBRE OS DESAFIOS DA SOJA EM PASSO FUNDO/RS.....................................................142

 CCAS PARTICIPA DE DEBATE SOBRE ALIMENTAÇÃO MUNDIAL EM BRASÍLIA/DF.....................................143
JANEIRO
     OS RESULTADOS DO PARA E SEGURANÇA ALIMENTAR:
     CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TOXICOLOGIA PARA SUA
     INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO

     ALIMENTOS SEGUROS

     A SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE GRÃOS

     SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA PAULISTA DE AGRICULTURA DE
     INTERESSE SOCIAL REGULAMENTADO ONTEM

     PRODUZIMOS ALIMENTOS SAUDÁVEIS

     OS SETE DESAFIOS DO AGRIBUSINESS – A JORNADA DOS
     PRÓXIMOS 10 ANOS




10
OS RESULTADOS DO PARA E SEGURANÇA ALIMENTAR:
       CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TOXICOLOGIA PARA SUA
                INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO
 Por Prof. Dr. Angelo Zanaga Trapé; membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Coordenador da
                                              Área de Saúde Ambiental,
 Coordenador do Programa de Monitoramento de Populações Expostas a Agrotóxicos, Departamento de Saúde Coletiva,
                                      Faculdade de Ciências Médicas-Unicamp.




Em Dezembro de 2011 a ANVISA, divulgou os resultados do PARA, Programa de Análise de Resíduos
de Agrotóxicos em Alimentos Na divulgação feita em rede nacional pela mídia a ANVISA informou que
foram realizadas análises em 2488 amostras de diversos produtos da hortifruticultura para variados
ingredientes ativos (i.as.) que compõem os agrotóxicos.

Do total das amostras analisadas segundo a ANVISA, 28% ou seja, 694 apresentaram-se insatisfatórias
sendo que o pimentão foi o principal alimento com maior índice de amostras insatisfatórias, perto de
91%.

Para entendermos o significado do parâmetro “insatisfatório” da agência e podermos interpretar os
resultados de maneira científica é preciso que a base da avaliação seja a metodologia científica em Toxi-
cologia (disciplina da Ciência que estuda os efeitos dos agentes químicos em geral nos seres vivos).

A metodologia em Toxicologia tem como princípio básico para qualquer substância química (medica-
mentos, produtos industriais, metais pesados, agrotóxicos), a relação DOSE=RESPOSTA, ou seja,
para haver uma resposta nos organismos vivos seja ela benéfica ou não é necessário haver a absorção
de uma dose capaz de determinar alguma alteração do organismo boa ou ruim.
A Toxicologia moderna ainda mantém o ensinamento de Paracelsus, médico belga que iniciou os
conhecimentos científicos nessa disciplina há mais de 500anos: “A dose faz o remédio, a dose faz o
veneno”. Portanto não é qualquer dose ou resíduo de uma substância química, no caso os agrotóxicos,
que pode ser capaz de determinar alterações prejudiciais nos seres humanos seja de curto, médio ou
longo prazo. A Clínica e a Epidemiologia em Toxicologia nos ensinam isto.

No caso dos alimentos, as agências internacionais que regulam níveis de resíduos de substâncias
químicas em alimentos ingeridos “In natura” ou processados estabelecem há muitas décadas valores,
níveis aceitáveis dessas substâncias (conservantes, corantes, realçadores de sabor, agrotóxicos) sem
causar danos à saúde humana pelo consumo cotidiano desses alimentos durante a vida.

Para os alimentos analisados pelo PARA, o parâmetro que deve ser respeitado pela agência reguladora




                                                                                                                        11
ANVISA para que uma amostra seja “satisfatória” ou “insatisfatória” deve ser o limite máximo de resíduos
 de ingredientes ativos (i. as.) em um determinado alimento, os chamados LMRs, abaixo dos quais não
 há preocupação em termos de saúde pública.

 Voltando aos resultados do PARA de 2010, temos que 28% das amostras, ou seja, 694 foram consid-
 eradas “insatisfatórias” pela agência, porém quando analisamos cientificamente os dados vemos que
 deste total, somente 42 ou 1,7% das 2488 amostras tinham algum resíduo acima do parâmetro aceito
 internacionalmente, o limite máximo de resíduo, LMR. A maior parte 605 amostras ou 24,3% eram
 detecções de i.as. não registrados para aquela cultura, mas com registro para outras culturas no país.

 Avaliando os alimentos realçados pela agência e pela mídia, como os mais “contaminados”, temos o
 seguinte:

 1º) Pimentão- segundo ANVISA, 91% de 146 amostras “insatisfatórias”, porém 84,9% com detecção
 de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores
 estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima do LMR-0,00% segundo o
 relatório da ANVISA.

 2º) Morango- segundo ANVISA, 64,3% de 112 amostras “insatisfatórias”, porém 51,8% com detecção
 de i.As. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores
 estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima do LMR- 3 ou 2,7% segundo
 o relatório da ANVISA.

 3º) Pepino- segundo a ANVISA, 57,4% de 136 amostras “insatisfatórias”, porém 55,9% com detecção
 de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores
 estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima dos LMRs - 2 ou 1,5%.

 4º) Alface- segundo a ANVISA, 54,2% de 131 amostras “insatisfatórias, porém 51,9% com detecção de
 i.as. não registrados para a cultura, mas baixo dos LMRs quando comparadas com os valores estabe-
 lecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima dos LMRs- 0,00%.

 5º) Cenoura- segundo a ANVISA, 49,6% de 141 amostras “insatisfatórias”, porém 48,9% com de-
 tecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os
 valores estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima dos LMRs- 0,00%.

 Este problema é fitossanitário, de extensão de uso de um agrotóxico de uma cultura para outra(s) e não
 de saúde pública, pois o parâmetro que deveria ser respeitado pelo órgão regulador, o LMR não foi
 ultrapassado. Mesmo nos casos de culturas onde ocorreu detecção de resíduos acima dos LMRs pelo
 relatório, os valores são muito baixos e tem como unidades de valor miligramas do i.a., por Kilo do ali-
 mento. Do ponto de vista de saúde à luz do método em Toxicologia, principalmente DOSE=RESPOSTA,
 os valores são muito baixos não indicando riscos para a população consumidora desses alimentos em
 curto, médio ou longo prazo.

 Como conclusão, fazendo uma leitura dos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóx-
 icos em Alimentos-PARA da ANVISA, com base na metodologia científica que deve sustentar qualquer
 estudo, relatório, norma ou portaria, principalmente de uma agência reguladora nacional, podemos
 dizer que os alimentos analisados em 2010 mostraram uma adequada segurança química, indicando
 à população brasileira tranquilidade para o consumo desses alimentos.

 Janeiro/2012




12
ALIMENTOS SEGUROS
Por Décio Luiz Gazzoni, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Engenheiro Agrônomo, pes-
                                             quisador da Embrapa Soja.




Em meados de dezembro de 2011, a ANVISA liberou o resultado das análises de 2.488 amostras de
agrotóxicos em frutas e hortaliças, coletadas em pontos de comercialização, como parte do Programa
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Os resultados mostraram quão seguros
são os alimentos consumidos pelos brasileiros, pois apenas 5 amostras (0,2%) apresentavam limites
de resíduos acima do permitido. O leitor deve pensar que eu estou confundindo as coisas pois, na
divulgação efetuada pela mídia, 91% das análises de pimentão; 64% dos morangos; 57% do pepino;
54% da alface e 49% da cenoura foram consideradas “insatisfatórias” pela ANVISA.

Aí está o cerne da questão. Em Ciência não existe “insatisfatória”. Os três parâmetros da Ciência da
Toxicologia, que se aplicam ao caso são: 1) Dose Letal 50 (LD50) – é a dose que mata 50% das co-
baias em testes científicos; 2) Limite máximo de resíduos (LMR) - quantidade máxima de agrotóxico
legalmente aceito no alimento,em decorrência da aplicação adequada de uma substância química (se-
guindo todas as Boas Práticas Agronômicas), desde sua produção até o consumo; 3) Ingestão Diária
Aceitável (IDA) – quantidade máxima do agrotóxico que, ingerida diariamentedurante toda a vida, não
oferece risco à saúde, à luz dos conhecimentos científicos atuais. No caso do PARA, apenas 0,2% das
amostras ultrapassaram o LMR, estabelecido pela própria ANVISA.

Como se estabelece o LMR? É o valor máximo de resíduo de agrotóxico admitido legalmente em um
alimento que, levando em consideração a Ingestão Diária Aceitável (IDA), não oferece risco à saúde, à
luz dos conhecimentos atuais, mesmo se ingerido por toda a vida.

Como se estabelece a IDA? Em testes científicos, considera-se a maior dose que não causou alter-
ações metabólicas perceptíveis, nos organismos em teste. Estabelecida esta dose, ela é dividida pelo
fator 100, ou seja, a IDA representa apenas 1% da dose que não causou qualquer problema de saúde
em cobaias, nos experimentos científicos.

Vamos a um exemplo prático: Imaginando que um agrotóxico aplicado em maçã tenha LD50 muito alta
(seja altamente tóxico), equivalente a 500mg/kg de peso vivo e que o limite máximo de resíduo (LMR)
seja de 0,05mg/kg de maçã. Para atingir 50% de probabilidade de intoxicação de uma população de
peso médio de 70kg, seria necessário ingerir 35.000mg/pessoa. Como o resíduo é de 0,05mg/kg de
maçã, esta pessoa deverá consumir 700 toneladas de maçã. Se ela ingerir apenas maçãs, à razão de
2kg/dia, seriam necessários quase 1.000 anos para atingir a dose que, teoricamente, poderia conferir



                                                                                                                    13
50% de probabilidade de ser afetado pelo agrotóxico.

 Outro aspecto muito importante a ressaltar é o contínuo aprimoramento dos métodos de análise e
 dos equipamentos de detecção de resíduos, que permitem identificar substâncias na ordem de uma
 parte por trilhão (1ppt). Fazendo uma analogia, 1pptseria o equivalente a identificar a presença de uma
 determinada substância química, em que apenas uma gota dela foi lançada em uma piscina cheia
 de água, tendo esta piscina dimensões de 1.000 m de comprimento por 1.000 m de largura e com
 profundidade de 50 metros. Ou seja, quanto mais precisos forem os métodos de análise e detecção
 de resíduos de substâncias químicas, mais amostras serão consideradas “insatisfatórias”, o que não é
 um conceito científico, e não guarda qualquer correlação com impacto benéfico ou adverso desta sub-
 stância, sobre um organismo vivo. Dito de outra forma, esta classificação (satisfatória ou insatisfatória)
 é inútil, e não tem qualquer significado científico ou prático.

 Como conclusão, fazendo uma leitura dos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóx-
 icos em Alimentos-PARA da ANVISA, com base na metodologia científica que deve sustentar qualquer
 estudo, relatório, norma ou portaria, principalmente de uma agência reguladora nacional, podemos
 dizer que os alimentos analisados em 2011 mostraram uma adequada segurança química, indicando
 à população brasileira tranquilidade para o consumo desses alimentos.

 Janeiro/2012




14
A SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE GRÃOS
   Por Dirceu N. Gassen, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Engenheiro Agrônomo.




A evolução e as mudanças na agricultura dos últimos 20 anos, com o plantio direto, a biotecnologia, a
automatização de equipamentos, a agricultura de precisão e eficiência nos processos para o aumento
na produção, resultaram em avanços tão importantes quanto os que ocorreram em vários séculos,
incluindo o trator e a revolução verde.

Além da evolução na tecnologia, podem ser citadas as significativas mudanças políticas. No passado,
as nações controlavam a produção e os estoques, com o pensamento na subsistência familiar e na
garantia de disponibilidade de alimentos. As mudanças com a perestróica e o glasnost (reestruturação
e transparência), a abertura de mercados, a livre competição e a queda de tensões de guerras entre as
grandes potências, aceleraram as mudanças na agricultura.

A necessidade de evoluir e adaptar-se às demandas do mercado, com maior eficiência nos processos
de produção, resultaram em inovações tecnológicas e, em um novo perfil de agricultor e de negócios
na agricultura. A lógica predominante é a competição com os melhores em qualquer parte do mundo.
A agricultura deixa de ser um negócio de proprietários, protegida pelo Estado, para ser parte de uma
cadeia de produção de alimentos regida pelo mercado, pela qualidade dos produtos, com base na
adoção de boas práticas agrícolas. E o modelo preconizado é o da sustentabilidade com a rastreabi-
lidade.

A sustentabilidade objetiva a qualidade de vida, sem esgotamento de recursos naturais e sem gerar
contaminantes não assimiláveis pela natureza, reconhecendo a coexistência das gerações futuras.

A partir dos anos 90, a agricultura passou a ser um “livro aberto”, envolvendo a eficiência na produção,
menor impacto sobre o ambiente, padrões na qualidade dos produtos, comprometimentos sociais e a
certificação como estratégica de controle do consumidor.

A produção com base em boas práticas agrícolas preconizadas e padronizadas pela FAO é definida
como o núcleo da agricultura moderna, integrando num só conceito as exigências agronômicas e as
de mercado. Tem como objetivo obter produtos saudáveis, livres de contaminações químicas, físicas
ou biológicas, orientadas por diretrizes documentadas (certificáveis) e recomendações de caráter geral
contemplando todas as atividades e insumos relacionados aos sistemas de produção. Ou seja, fazer
as coisas bem e dar garantias disso.

A sustentabilidade na produção de grãos tem a sua base na rentabilidade e nos impactos sobre re-
cursos naturais e consequências sociais. O agricultor tem a propriedade da terra, porémdepende de



                                                                                                                    15
conhecimento, atitudes e parcerias para atender as demandas do mercado. O perfil do agricultor pro-
 prietário da terra e com o domínio dos seus recursos naturais mudou para um gestor da produção de
 alimentos e guardião da natureza. Hoje o agricultor deve ser um profissional habilitado para a gestão
 com apoio de especialistas comprometidos com a sustentabilidade na cadeia de produção de alimen-
 tos. Daí a evidência de que a rentabilidade em agricultura é resultado da aplicação de conhecimento
 por hectare. Envolvendo aspectos técnicos com metas no aumento da produção por unidade de área
 e na eficiência de uso dos recursos naturais.

 Janeiro/2012




16
SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA PAULISTA DE AGRICULTURA DE
        INTERESSE SOCIAL REGULAMENTADO ONTEM
      Sustentabilidade social no agro: acesso aos mercados
Por José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e
  Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.




A sustentabilidade é fator essencial no sucesso de qualquer empreendimento, inclusive no agro. Como
outras atividades profissionais, o lucro é necessário para que se tenha vida longa. Necessário, mas não
suficiente. Aspectos ambientais são, reconhecidamente, fundamentais.

A sustentabilidade social acaba de se expressar na criação do Programa Paulista da Agricultura de
Interesse Social, que foi regulamentado em solenidade realizada em 24 de janeiro (ontem), no Palácio
dos Bandeirantes, em São Paulo.

Os pequenos agricultores são os responsáveis por 70% da produção de alimentos no Brasil. São mil-
hões de agricultores que sabem produzir, mas tem dificuldades em comercializar a produção e auferir
lucros. A iniciativa do Governo do Estado de São Paulo de facilitar a aquisição de alimentos produzidos
pelos pequenos agricultores, para atender a demanda de instituições públicas, é um marco.

Hospitais, escolas, presídios, etc. têm que comprar alimentos diariamente, seguindo a legislação.
Através da Lei 14.591/20011 é possível comprar dos pequenos produtores sem licitação. Isto é uma
garantia de mercado. Todo agricultor, inclusive os pequenos, sabem que a primeira etapa para defini-
rem o que vão plantar, é saber se há procura pelo produto. Agora, sabendo que tem um mercado
seguro, podem planejar a produção.

Certamente será necessário aprimorar a assistência técnica. O produtor tem que se responsabilizar em
entregar para seus consumidores de acordo com a necessidade. Isto exige tecnologia e capacitação.
Agora, a assistência técnica tem que melhorar.

Janeiro/2012




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PRODUZIMOS ALIMENTOS SAUDÁVEIS
 Por José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e
     Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.




 A principal necessidade básica da humanidade é o alimento. Por esta razão, a SEGURANCA ALIMEN-
 TAR sempre foi prioridade. Todas as nações, povos e indivíduos se preocupam com a quantidade de
 alimento produzido e disponibilizado para o consumo. Entretanto, cada vez mais, também há preocu-
 pação com a qualidade do alimento consumido. Qualidade envolve tanto as características nutricionais
 como a sanidade dos alimentos.

 Por isso, ALIMENTO SEGURO também passou a ser prioridade. É possível promover a saúde aprimo-
 rando a alimentação. Este é um dos fatores responsáveis pela vida mais longa e saudável das pessoas.
 A dieta balanceada e constituída de alimentos adequados é cada vez mais assimilada. No Brasil há
 necessidade, por exemplo, de aumentar o consumo de frutas e hortaliças.

 Entretanto, notícias como a que foi divulgada recentemente no Jornal Nacional e no Fantástico sobre
 a qualidade dos alimentos, prejudica o consumo de hortifruti. A notícia foi baseada em Relatório da
 ANVISA/Ministério da Saúde. Ficou a imagem que as frutas e hortaliças disponibilizadas a população
 brasileira estão contaminadas por agrotóxicos e que são prejudiciais a saúde.

 É importante realizar o monitoramento de resíduos de defensivos agrícolas em alimentos. Mas é funda-
 mental interpretar os dados obtidos cientificamente e divulgar para a sociedade de forma conveniente.
 O que interessa para o consumidor é se os alimentos são saudáveis. Do ponto de vista toxicológico,
 preocupação deve existir apenas quando o resíduo estiver acima do limite estabelecido cientificamente.
 Existe ciência envolvida em todo o processo, desde o desenvolvimento dos defensivos agrícolas, pas-
 sando por rigorosos estudos sobre seus efeitos no homem, até sua aprovação pelo governo. Defensi-
 vos aprovados são seguros e, utilizados por agricultores bem preparados, contribuem para a produção
 de alimentos saudáveis.

 É isto que o monitoramento vem demonstrando e, infelizmente, foi distorcido. Apenas 3,6% das
 amostras analisadas no Brasil em 2010 estão com resíduos de defensivos acima do limite estabe-
 lecido. Estamos em condições semelhantes a da Europa, América do Norte e Ásia. Como o limite




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estabelecido é extremamente seguro, mesmo as amostras com resíduos acima do limite estabelecido,
por apresentarem valores muito baixos, não oferecem risco para a população.

Sob o ponto de vista químico, as frutas e hortaliças produzidas no Brasil são saudáveis. As notícias
veiculadas não devem interferir no consumo, assim como não devem servir de barreiras a exportação,
que deve se ampliar com a conquista de novos mercados.

Sob o ponto de vista agronômico, fica claro que devemos continuar aprimorando processos de
produção, incluindo mais assistência técnica, visando a incorporação de todas as boas práticas agrí-
colas geradas pela pesquisa brasileira e mundial.

Janeiro/2012




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OS SETE DESAFIOS DO AGRIBUSINESS – A JORNADA DOS
                       PRÓXIMOS 10 ANOS
 Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável
                (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão-ESPN.




 Com muito mais sensores sendo inventados e usados no mundo, passamos a auscultar, medir e sa-
 ber coisas que ignorávamos. Mais rastreabilidade, mais análise sensorial, lá vamos no agrobusiness
 com um dos desafios entre os sete, de significativa importância e predominância: o reino de avatar.
 Uma geração de clientes e consumidores cada vez mais sensíveis e sensibilizados pelas informações
 da sustentabilidade em todos os níveis. A Coca-Cola manda analisar os lotes de suco de laranja que
 recebe para processar seus refrigerantes e detecta resíduos de Carbendazin, por exemplo. Esse
 defensivo é usado para o controle da pinta preta na laranja. Ela fica antiestética, porém o aspecto de
 saudabilidade passa a contar. E se tem algo que a Coca-Cola e todos os processadores e redes de
 varejo do mundo não querem, é ter problemas com reclamações e riscos de saúde dos seus clientes.
 Portanto, estabelece-se a discussão: os técnicos vão debater se 0,03 ppm na laranja são nocivas ou
 não, por que o Japão aceita 3 ppm e a Europa 0,2 ppm e o que vão fazer com os Estados Unidos por
 ter na sua regra zero ou 0,01 ppm, o que é praticamente zero? Um desafio crescente é exatamente
 esse dos sensores e ampliação da sensibilidade e de baixíssimos limiares à questão da saúde humana
 e do planeta.

 O segundo desafio é sobre as terras agricultáveis. O mundo precisará dobrar sua oferta de alimentos
 e de energia renovável. Os dados da FAO dizem que 70% desse aumento virá da tecnologia, 10%
 da intensidade de ciclos agrícolas na mesma área e os restantes 20%, esses sim advindos de novas
 áreas agrícolas. Quer dizer, terra passou a valer ouro. A expansão de novas fronteiras ficou limitada e
 a relação de posse das terras agricultáveis muda de figura, sendo um dos ativos que mais valorizaram
 no mundo nos últimos cinco anos. O Brasil ao lado do Sudão, na África, são as duas reservas maiores
 do planeta, nesse quesito. O terceiro desafio é o da população: gente. Crescemos à proporção de
 quatro novos nascimentos por segundo. Seremos 9 bilhões, já somos 7 bilhões. E esse novo habitante
 está completamente conectado e interligado. A internet amplia a ética situacional do passado e, além
 das conexões via celular, computador, televisores, ela vem aí agora na nova internet das coisas. Quer
 dizer, no chuveiro, no micro-ondas, no fogão, no carro, etc. O quarto desafio é não só a produção
 alimentar, que deve dobrar, mas a qualidade da mesma. Matérias-primas produzidas a partir do campo
 passam a importar cada vez mais na análise percebida das marcas dos processadores e distribuidores
 de alimentos, fibras, energia, proteínas e demais derivados do agronegócio. Alimento e energia, sua
 produção, distribuição e percepção pelos mercados interconectados se transformam em um novo de-



20
safio para a gestão de toda a cadeia de valor, desde o antes, passando pelo dentro e pelo pós-porteira
das fazendas.

O quinto desafio é a inovação, a adoção, a gestão da tecnologia e seu ciclo de vida. O problema não é
mais contar com uma tecnologia avançada, a necessidade é que precisamos contar com mais do que
uma. Essa diversidade tecnológica de ponta vai exigir de agricultores, da indústria química, mecânica,
da genética e dos processadores um nível de diálogo on-line. A área acadêmica, a escola e a pes-
quisa pública não resistirão à ausência de velocidade, bem como a governança do agronegócio será
cada vez mais fundamentada nos conselhos setoriais. Na tecnologia, as reservas dos germoplasmas
locais serão fator de gestão de risco e de segurança ambiental, político e de interesse nacional. O
sexto desafio é a questão: quem será o produtor rural em 2022? Daqui a 10 anos, quem será, como
serão, quantos existirão? Quais os segmentos, os nichos? Quais as competências desse novo quadro
humano de produtores para os próximos 10 anos? O presente passou a ser o resultado do futuro.
O que já temos agora, quais os sinais que já captamos neste instante que nos revelam a jornada e a
janela do amanhã? Antever os movimentos é um desafio essencial para todos os agentes envolvidos
no agrobusiness e que será fundamental para a construção de brands que resistam ao tempo. Produto
é o que fazemos na indústria ou no campo, marca é aquilo que construímos na mente apaixonada dos
seres humanos. E se o produtor é esse universo a ser revisto, incluindo a imprevisibilidade cíclica do
mundo, no qual numa crise europeia, por exemplo, começamos a assistir a um êxodo ao contrário:
urbanos abandonam as cidades e iniciam novos negócios no campo; as velhas “quintas” passam a
ser vistas como fontes de qualidade de vida e também de empreendedorismo; se isso tudo configura
uma das questões que mais intrigam os atuais executivos gestores do agronegócio, entra aqui o sétimo
desafio: marketing. O velho e bom marketing: agronegócio sem marketing é só agro, sem negócio -
que significa colocar a mente humana de todos os stakeholders no centro das mesas de decisões dos
negócios e do agronegócio. O quanto sabemos desse exército de novos clientes oriundos da base
da pirâmide planetária? Desses atuais 7 bilhões, praticamente a metade é de novos entrantes. Se o
macarrão, por exemplo, tem penetração e capilaridade em 100% das residências do Brasil e somos
o terceiro maior mercado do mundo nas massas é agora com a ascensão da classe C, quase 100
milhões de consumidores ávidos pela vontade consumista, que começou ver a penetração das novas
massas recheadas. Do espaguete ao canelone é a jornada que já está em veloz penetração. E, da
mesma forma, nas carnes, leite, hortifruti, fibras, cana, cacau, arroz ou seringueiras.

Terra, pessoas, alimento e energia, o reino de avatar, tecnologia, o produtor do futuro e o marketing.
A síntese dos sete desafios do agrobusiness. Como será 2022? Dez anos à frente do nosso tempo?
O diálogo com a sociedade é fator sine qua non por parte de todos os agentes envolvidos no agronegó-
cio, e construir empresas com uma nova inteligência pedagógica passa a ser vital. Na educação antiga
éramos levados a primeiro pensar, depois fazer e, se desse um dia na vida, sentir. A expressão lúdica,
moderna, começa pela arte do fazer; ao fazer, sentimos e, ao sentir, pensamos. Essa prudência é sa-
grada para não cairmos nos grandes erros das decisões de líderes bem-intencionados, mas que caem
no pecado das distrações. A velocidade mudou, é quase instantânea. E todos esses sete macro-
desafios do agrobusiness precisam estar embalados pela altíssima velocidade de um novo híbrido: faz,
sente e pensa.

Janeiro/2012




                                                                                                     21
FEVEREIRO
             QUEM VIVER VERÁ

             TEMPESTADE EM COPO DE LARANJA




 FEVEREIRO




22
QUEM VIVER VERÁ
Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos
                        do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.




A epopéia do Código Florestal (PL 1876/99) parece estar chegando ao fim, depois de incendiar de-
bates em plenários, no campo e na mídia. Neste momento, vivemos a expectativa da sua votação
final. Depois de muita polêmica, o texto revisado pelos senadores (dezembro de 2011) saiu com várias
modificações, entre elas aspectos como: detalhamento sobre a recuperação das margens dos rios,
agora com faixas fixadas de 30 a 100 m para rios com mais de 10m de largura; fixação de APPs em
propriedades maiores (entre 30 e 100m); legislação específica para a agricultura familiar (com apoio
técnico e incentivo financeiro para preservar/recuperar a vegetação nativa).

O CCAS – Conselho Científico de Agricultura Sustentável foi ouvir as pessoas, tanto entre seus mem-
bros, como entre gestores do agronegócio, para sentir a percepção que ficou da nova Lei. Ouviram
informalmente produtores, executivos, pesquisadores, agrônomos -- e o balanço é mais ou menos o
seguinte: para o pequeno produtor, o Código representa a resolução de um passivo ambiental que
vem de anos (gerado em outro contexto econômico e legal) e que poderia, em tese, até inviabilizar sua
atividade, dependendo o alcance do rigor protecionista da lei. Entre os médios e grandes produtores
haverá a necessidade de se ajustar a uma legislação mais rigorosa, que se alinha a uma nova tendên-
cia de sustentabilidade -- bem mais ampla do que o simples preservacionismo de hoje e envolvendo
questões sociais, ambientais e econômicas. Ou seja, passamos a ter uma política bem mais clara com
relação à interação entre meio ambiente e agronegócio, sinalizando para a sociedade a busca por um
posicionamento de equilíbrio e responsabilidade ambiental na produção de alimentos, na perspectiva
de uma agricultura mais sustentável. Agora vem a pergunta: e se a lei não for aprovada?

Dar sobrevida à lei antiga é ficar com uma base legal ultrapassada, com gargalos de funcionalidade
jurídica e prática. Pode trazer a ideia de que há um vazio legal e os espertalhões de plantão podem se
aproveitar e ampliar a razia florestal -- como, aliás, já aconteceu antes, sem fiscalização eficiente ou com
fiscalização marcada por fins políticos ou mecanismos de troca de interesses. Tem mais: para os agri-
cultores com a cabeça no século XXI, que sabem do valor da proteção ambiental para a sobrevivência
do negócio, pode significar o fantasma de uma legislação tecnicamente incoerente, não isenta e não
obedecida por muitos. Um risco de descrédito legal, que pode inclusive inibir a exploração de novas
áreas (cerrado/pastagem).




                                                                                                                      23
Naturalmente, vamos encontrar opiniões de que o Código deveria ser mais restritivo do que a forma
 que tomou após a epopeia dos debates na sociedade e nas casas legislativas federais. Uma lei com
 menos ranço de “plantation” e de “neocolonialismo”, como advogam seus opositores mais combativos
 – tanto cidadãos como organizações da sociedade civil. Provavelmente, o tempo vai pedir um debate
 com maior profundidade no Brasil. Quem viver verá.

 Fevereiro/2012




24
TEMPESTADE EM COPO DE LARANJA
Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável
               (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão-ESPN.




Começamos o ano com a ameaça de termos parte da produção do suco cítrico brasileiro proibido de
ingressar nos Estados Unidos. Trata-se, neste caso, de uma “tempestade em copo de laranja”. Primeiro
que os Estados Unidos, representa 15% do consumo brasileiro. 85% da nossa produção vai para outros
mercados. Do ponto de vista da segurança alimentar, a produção brasileira segue os rígidos padrões inter-
nacionais e atuamos dentro da lei. Tanto internacional, como local. O fungicida Carbendazin atua contra a
pinta preta, que deixa a laranja não estética. O “codex alimentar” aceita universalmente em torno de 1.000
partes por bilhão dos resíduos desse químico. Exportamos para a Europa que tolera 200 partes; o Canadá
1.000. O Ministério da Agricultura do Brasil determina até 5.000 partes por bilhão e o Japão aceita até
3.000. Os Estados Unidos aceitavam da mesma forma até 2009, quando numa intervenção da EPA, a
agência ambiental, definiram tolerância zero nesse item.
Porém, continuaram recebendo as produções brasileiras, que apresentam em média indicadores em torno
de 30 partes por bilhão. A pulverização do Carbendazin foi proibida nos Estados Unidos, mas o tema não
foi incluído nos registros do Safety Concern, tanto é que o produto continua sendo usado pelos americanos
na produção de maçã, pêssego, morango e outros. A proibição foi exclusiva para a citricultura americana.

O assunto atual é que uma companhia processadora levantou a questão para o FDA, que lendo a nova
regra, informou que a tolerância era zero. Essa nota foi levantada e a indústria brasileira já esteve em reunião
com os técnicos americanos, para condução da questão em vias racionais. Isso quer dizer, aceitar dentro
das faixas atuais em torno de 30 partes por bilhão.

O mais grave da história, não é o aspecto técnico do assunto é o problema do ponto de vista de marketing.
O suco de laranja vem caindo á média de 1,6 % seu consumo nos últimos anos, e na década passada
caiu 25% nos Estados Unidos, o maior mercado consumidor do mundo, representando isoladamente 40%
do globo.

Claro que uma noticia dessas, correndo o mundo e envolvendo o público leigo sobre o assunto, só irá
ferir ainda mais as ações de retomada de mercado que o ramo já realiza agora junto aos consumidores.
Inclusive a CitrusBr que age com uma campanha de comunicação na Europa, sendo bem recebida: “I feel
orange”.

Sobre a possibilidade de não vendermos para os Estados Unidos, considero impossível, pois 80% do suco
americano é “blindado“ com a produção brasileira. A curto prazo haveria estoque para a oferta americana
continuar, mas a médio e longo prazo os efeitos de alta nos preços e a escassez da oferta versus a de-




                                                                                                                       25
manda, terminariam por paralisar a indústria daquele pais.

 Com certeza, trata-se de mais um tema onde a razão e o bom senso irão prevalecer. O que vale para a
 indústria citrícola é criar de fato o CONSENCITRUS, colocando seus agentes todos em harmonia, e con-
 tinuar vendendo mais, como o ocorrido em 2011, com negócios de cerca de US$ 2.200 bilhões, o recorde
 nos últimos 10 anos. Além disso, é vital aproximar o setor da ciência e da pesquisa brasileira objetivando
 sustentabilidade real e factível; continuar com maior ênfase fazendo marketing e melhorando o seu nível de
 diálogo com a sociedade, caso contrário sempre haverá o risco de “tempestades em copos de laranja“,
 terem a possibilidade de serem transformados em tsunamis na indústria.

 Fevereiro/2012




26
MARÇO
  SACOLINHA: SER OU NÃO SER




MARÇO




                              27
SACOLINHA: SER OU NÃO SER
 Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos
                         do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.




 Outro dia fui comprar chocolate no supermercado, como faço habitualmente.Daí veio a surpresa na
 velha rotina: “não temos sacolinha”, disse a jovem do checkout, escudada na lei que alvejou as sacolas
 plásticas descartáveisnesse comércio. O que se seguiu foi um desajeitado manejo das guloseimas
 durante o trânsito e outros afazeres, até chegarem ao destino – em estado de razoável viscosidade.
 Apesar do desconforto, e mesmo sendo defensor do arbítrio do consumidor, não vou aqui defender
 o direito das pessoas à conveniência absoluta, pois o mundo mudou e precisamos, todos, rever con-
 ceitos.

 A poluição está aumentando? Sim. A temperatura da terra está aumentando? Sim.Então, não há porque
 dinamitar atitudes de mudança contributivas, mesmo que tenham um balanço de eco-eficiência mais
 modesto. Se a margem de contribuição é positiva, ponto.

 O caso das sacolinhas plásticas dos supermercados é um ícone dessa questão. Primeiro a constitucio-
 nalidade da lei foi questionada, daí ela virou acordo setorial e depois ganhou uma espécie de moratória
 de dois meses, até o “dia D” da proscrição das sacolinhas.

 Enquanto acontecia tudo isso, o que mais se discutiu foi como serão as compras agora, ou se vai ter
 sacola biodegradável para todo mundo, se é pertinente cobrar por ela, qual seria o valor, ou como ficam
 as sacolas retornáveis. Muito pouco se debateu sobre o suposto ganho ambiental da medida.
 Ganho ambiental
 Calcula-se que em São Paulo são usadas mais de 600 milhões de sacolas descartáveis por mês. No
 Estado, estima-se um volume mensal de 2,5 a 3 bilhões de sacolas. Há quem fale em números meno-
 res, mais próximos à metade disso, mas não deixa de ser uma coisa simples que assume proporções
 gigantescas.

 Retirar esse volume de circulação representa ganhos ambientais? Aparentemente sim, principalmente
 pensando-se nas grandes metrópoles: redução do impacto das sacolas nas enchentes das cidades;
 redução da sua destinação inadequada para rios, lagos, mar e outros locais onde prejudique a fauna;
 e contribuição para a equação do aquecimento global, já que é um subproduto do petróleo – um dos
 causadores do aquecimento.




28
Como se vê, muito da percepção de impacto ambiental das sacolinhas vem do desperdício, do des-
carte incorreto e até de aspectos estruturais, como a inexistência de sistemas eficazes de coleta sele-
tiva de lixo.

Mas como é sempre mais fácil rotular um vilão do que olhar sistemicamente para o problema, a sacolinha
paga o pato (ela tem sim, a sua culpabilidade) e não se encaminham soluções mais abrangentes e
profundas para o meio ambiente, simplesmente porque não se pensa nelas.
Olhar sistêmico

Isso tudo vai custar alguma coisa para o consumidor? Provavelmente sim, pois ele pode ter alguma
despesa com sacolas retornáveis, ou na compra de sacos de lixo, ou na adoção de outras formas de
transporte dos gêneros que comprar. Contudo, não vamos esquecer que as tradicionais sacolinhas
tinham um custo de R$ 0,15 a 0,20 para o comércio e isso era naturalmente repassado aos consumi-
dores.
De outro lado, jáforam feitos estudos sobre o ciclo de vida e emissão de CO2 de sacolas de algodão,
ecobags, sacos de papel, papelão, sacolas plásticas tradicionais ou biodegradáveis e as opções de
material plástico não foram as de pior desempenho em consumo de matéria-prima e pegada de car-
bono.

Contudo, em eco-eficiência não é somente o olhar intrínseco ao produto que conta, mas sim uma visão
sistêmica que o analise em todas as suas interfaces na sociedade – da sua funcionalidade especifica
a extensões de uso e manejos de descarte.

A tecnologia pode fazer alguma coisa?

Ainda não, mas que ninguém duvide do poder da ciência.O poliuretano(plástico) é um dos materiais
mais versáteis e resistentes, desenvolvidos pelo homem. Hoje, ele está presente em tudo. Mas, por
seus aspectos de degradabilidade, de recurso festejado transformou-se em preocupação ambiental,
sem solução realista à vista.

Recentemente, uma expedição de estudantes de Yale, pesquisando plantas nas florestas tropicais do
Equador, sob a liderança do Prof. Scott Strobel, descobriu um fungo que tem a surpreendente capaci-
dade de digerir plásticos e sobrevive em ambientes anaeróbios (sem oxigênio).

O fungo recebeu o nome de PestalotiopsisMicrosporae a pesquisa sobre o processo de decom-
posição do plástico que ele induz já foi publicada pelos alunos da expedição. Talvez, um dia esse fungo
possa ser aplicado nas profundezas de aterros sanitários e neutralizar milhões de toneladas de plástico.
Mas, por enquanto, isso é apenas uma promessa; talvez um sonho.

Novos paradigmas
E assim voltamos ao nosso mundo da sacolinha. Chegamos a um ponto em que tudo o que represente
ganho ambiental tem que ser feito, tem que ser tentado, sem paixões e com a racionalidade da tec-
nologia. Nosso horizonte não é hoje, ou o ano que vem, mas sim os 9 bilhões de seres humanos que
habitarão o planeta, em cerca de 30 anos.E isso não tem negociação, é direito à vida.




                                                                                                       29
Nessa perspectiva, é imperativo mudar,edificar uma nova cultura e preparar um mundo novo. Assim
 contextualizado, o caso das sacolinhas torna-se emblemático e por isso digo: abaixo a sacolinha! Mas
 tem que fazer isso com transparência, democratização da informação, consciência e educação social.
 Sem isso não criaremos novos paradigmas e é disso que estamos precisando na questão ambiental.

 Março/2012




30
ABRIL
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E AS TECNOLOGIAS




ABRIL
CÓDIGO FLORESTAL: METAS E MÉTODOS

DE SANTO A PECADOR, O MORANGO ÀS VEZES GERA DÚVIDA NA
CABEÇA DO CONSUMIDOR




                                                        31
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E AS TECNOLOGIAS
                Por Aluízio Borém, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS).




 É perturbador saber que cerca de 900 milhões de pessoas se encontram famintas ou subnutridas. São
 também impressionantes os fatos de que a população mundial de 7,1 bilhões alcançará 9,1 bilhões no
 ano de 2050, correspondendo a um aumento de 43% em 42 anos, e que a oferta de alimentos vai ter
 que atingir quantidades bem superiores às atuais para atender a essa demanda. Diante desse quadro,
 a pressão sobre a agricultura para se produzir mais alimentos e de forma sustentável é enorme.

 A fome não é fato novo na história mundial. O risco de o crescimento populacional não ser acompan-
 hado pelo aumento da produção de alimentos foi estudado pelo economista inglês Thomas Robert
 Malthus (1768-1834) há aproximadamente 200 anos. As ousadas previsões de Malthus não se con-
 cretizaram até o presente comente em virtude do surgimento de novas fronteiras agrícolas e da inclusão
 de novas tecnologias ao sistema produtivo. Neste terceiro milênio, mais uma vez faz-se necessário o
 desenvolvimento de novas tecnologias para ajudar a agricultura a produzir alimentos de forma susten-
 tável e socialmente responsável.

 Um exemplo disso é a prática da Agricultura de Precisão, caracterizada pela aplicação de forma variada
 de fertilizantes, defensivos agrícolas e outros insumos, conforme as necessidades das diversas áreas
 da uma mesma lavoura. A Agricultura de Precisão se refere ao gerenciamento localizado de culturas
 e foi introduzida como prática em prol da produtividade. A tecnologia surgiu da observação de que os
 requisitos para aplicação de calcário variavam bastante para um mesmo talhão e que seria importante a
 aplicação diferenciada no campo, de forma que o calcário pudesse satisfazer a necessidade de cada
 local.

 Este conceito, embora tenha sido utilizado por algum tempo, foi abandonado quando os equipamentos
 de tração mecânica passaram a predominar na agricultura. Hoje com a disponibilidade de microcom-
 putadores, sensores e sistemas de rastreamento terrestres ou via satélites, a Agricultura de Precisão
 passou a ser comum em muitas lavouras, contribuindo para a sustentabilidade da agricultura.
 Com o aparecimento de sistemas de informações geográficas e de rastreamento via satélite, o conceito
 de gerenciamento localizado de culturas pode ser estendido para o monitoramento de outras opera-
 ções que não necessariamente aquelas de aplicações localizadas de insumos, mas também para o
 levantamento de mapas de fertilidade de solos, o monitoramento de colheitas, ou de outras operações
 mecanizadas. Hoje pode-se definir a Agricultura de Precisão como um conjunto de técnicas que per-
 mitem o gerenciamento localizado de culturas.




32
Uma outra tecnologia que muito tem contribuído para a sustentabilidade na agricultura é o Melhora-
mento Genético. O Melhoramento é a arte, ciência e negócio de alteração genética das plantas para
benefício do homem. Esta tecnologia tem desenvolvido variedades mais tolerantes aos diferentes
estresses bióticos que afetam as lavouras como pragas, doenças, secas, elevados níveis de alumínio
toxico no solo, dentre outras, que exigem menor aplicação de insumos. As variedades melhoradas
mais produtivas também tem sido apontadas como fator de sustentabilidade da agricultura, pois per-
mitem que uma mesma produção seja obtida em menor área, reduzindo a pressão pela adição de
novas áreas ao sistema de produção agrícola.

Outras tecnologias estão sendo aprimoradas e a expectativa é que elas terão cada vez maior relevância
na agricultura. Dentre estas pode-se citar a nanotecnologia, biotecnologia entre várias outras. Embora
os desafios para se alimentar o mundo sejam enormes, as perspectivas são ainda maiores, pois já
temos tecnologias para assegurar uma agricultura eficiente e ecologicamente responsável.

Abril/2012




                                                                                                     33
CÓDIGO FLORESTAL: METAS E MÉTODOS
 Por Ciro AntonioRosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul-
      dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).




 Toda a discussão sobre modificações no Código Florestal Brasileiro tem gerado mais calor que luz. A
 discussão tem sido, por vezes, parcial e superficial, sem refletir a realidade e a necessidade de nosso
 país e de nosso planeta.Afinal, qual o objetivo de um Código Florestal? Proteger o quê e para quem?
 Proteger de quem? Entendo que se procura preservar a água, o clima e, consequentemente, as es-
 pécies existentes e a biodiversidade. No entanto, o estabelecimento arbitrário de larguras para a mata
 ciliar e frações de propriedades agrícolas como previsto pode realmente ajudar na realização destes
 objetivos?

 É extremamente simplista dizer que problemas pontuais da agricultura poderiam ser acomodados, as-
 sim como não se pode dizer que os produtores de arroz e uva do Rio Grande do Sul, os produtores
 de maçã de Santa Catarina, os produtores de leite e café de Minas Gerais, entre outros, se constituem
 numa minoria cujos interesses seriam atendidos pela mudança no atual Código Florestal.Por outrolado,
 levantar a bandeira da impunidade para justificar a manutenção do atual código é, no mínimo, irrespon-
 sável, uma vez que a legislação brasileira permitiu e mesmo incentivou o desmatamento nestas áreas.

 Ora, de um lado temos que o próprio aquecimento atmosférico levará a perdas de 20 % ou mais na
 produtividade agrícola brasileira, dependendo da espécie, com aumento do risco e custos, além do
 deslocamento da produção para o Sul do País. Assim, dizer que é possível aumentar a produção
 brasileira de alimentos sem grandes esforços e sem aumento da área cultivada não passa de falácia.
 O aquecimento global não afetará apenas a agricultura. Afetará todas as espécies à medida que será
 modificada, além da temperatura, a distribuição de chuvas. Assim, como é possível discutir o código
 florestal sem incluir medidas de mitigação do efeito estufa? A modificação do manejo do solo para siste-
 mas em semeadura direta pode contribuir sobremaneira nesse sentido, uma vez que pode seqüestrar
 mais de uma tonelada de carbono por ano em um hectare. No Brasil isso passa de 50 milhões de
 toneladas de carbono por ano. Não é desprezível. A simples recomposição de uma mata, ciliar ou não,
 poderia fazer tanto? Isso tudo sem diminuir a área de produção de alimentos e sem expulsar pequenos
 agricultores de seu trabalho.

 Para a adequada conservação de áreas e espécies é necessário o levantamento de áreas representa-
 tivas, tendo em conta sua vocação e capacidade de suporte, através de um zoneamento agro-ecológi-
 co. E então sim, preservá-las. Do ponto de vista de preservação das espécies, a existência de parques




34
contínuos e corredores ecológicos é muito mais efetiva que fragmentos florestais deixados sem uso,
muitas vezes em áreas sem água disponível. Os parques podem ser mantidos pela sociedade ou ser-
em auto-financiados, como ocorre em outros países. Assim, a conta não cairia em apenas uma parcela
da sociedade, como no caso, absurdo, do atual Código Florestal. As reservas florestais, no momento,
não levam em conta a vocação da terra. Existe no Brasil zoneamento agro-ecológico para quase todas
as espécies, levando em conta a capacidade de uso da terra, um parâmetro técnico, objetivo, que, no
entanto, não vem sendo considerado nas discussões do novo Código.

Por exemplo, as matas ciliares, margeando os cursos d’água, vêm sendo exaustivamente discutidas.
Qual sua largura? Os valores existentes são completamente arbitrários, assim como os que vêm sendo
propostos. Independentemente de seu tamanho, a mata ciliar terá sua eficiência na proteção da água
muito afetada pela atividade praticada em seu entorno, seja urbana, seja agrícola. No caso da agricul-
tura, simplesmente não se leva em conta a atividade executada no entorno da mata ciliar. Por exemplo,
a extensão da mata ciliar poderia ser condicionada não à largura do curso d’água, mas sim ao tipo de
conservação do solo que se pratica no entorno. Essa sugestão pode acomodar os objetivos de preser-
vação e produção de alimentos, fibras e energia. Porque não vem sendo discutida?

Abril/2012




                                                                                                     35
DE SANTO A PECADOR, O MORANGO ÀS VEZES GERA DÚVIDA NA
                     CABEÇA DO CONSUMIDOR
 Por Luiz Carlos Bhering Nasser, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS); Pós-Doutor em Biolo-
                                         gia Ambiental e Professor do UniCEUB.




 O médico, neurocientista franco-canadense Dr. David Servan– Schreiber, que resistiu por décadas ao
 câncer no cérebro, confirmou e subscreveu as suas teses no que diz respeito ao benefício da nutrição e
 atividade psíquica na prevenção e acompanhamento dos tratamentos convencionais de câncer. Em seu
 livro “Anticâncer”, publicado em 2007 e traduzido para 40 línguas, relata que “frutas vermelhas como o
 morango, framboesa, mirtilo, amora e airela, contém ácido elágico (abundantes em morango e framboesa)
 e múltiplos polifenois. Eles estimulam os mecanismos de eliminação dos cancerígenos e inibem a an-
 giogênese (formação de vasos sanguíneos capilares). As antiocianinas e proantocianidinas que facilitam
 também a apoptose (suicídio celular) das células cancerosas. E cita ainda que o consumo destas frutas,
 mesmo congeladas, elas conservam as moléculas anticâncer”.

 É recomendado por órgãos responsáveis da área alimentar e nutricional a ingestão de 400 gramas de frutas
 e hortaliças por dia, podendo ser divididas em até cinco porções diárias- uma porção refere-se ao con-
 sumo de 10 moranguinhos. Apesar dessa recomendação e da disponibilidade do morango no mercado, o
 consumo do morango ainda é temido no Brasil. Isso se dá devido a algumas notícias que o denigrem, as-
 sim como outras hortaliças e frutas, quanto à possibilidade de contaminação biológica (cepas de bactérias
 patogênicas) ou química (resíduos químicos tóxicos) ao ser humano que o consome.

 Esses medos são gerados muitas vezes pela falta de esclarecimento ao consumidor. A maioria da produção
 de morangos nacional é proveniente dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio
 Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro,Goiás e Distrito Federal por agricultores altamente treinados por
 instituições de pesquisas e extensão dos estados em sistemas de produção seguros como, por exemplo,
 a Produção Integrada de Morango-PIMO, cujo modo de produzir garante a qualidade do produto, contribui
 para o desenvolvimento humano, considerando: segurança do trabalhador, legislação trabalhista,qualidade
 de vida dos produtores/comunidades e a conservação do meio ambiente. A PIMO alcançou recentemente
 esse sucesso e pode ser certificado por empresas técnicas credenciadas pelo INMETRO.

 Nesse processo de elaboração, à luz da ciência, atestam-se as normas previamente elaboradas com o
 produtor para o cultivo seguro do morango. Esse trabalho técnico de fomento à produção de alimentos
 seguros e certificados conta com a participação ativa das universidades brasileiras,empresas de pesquisa
 dos Estados/unidades, da Embrapa e é custeado e coordenado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e
 Abastecimento em parceria com o CNPq desde 2001.

 Abril/2012




36
MAIO
  PROJETO CULTIVIDA: UM PROJETO DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO
  RURAL BRASILEIRA

  CALOR INSUPORTÁVEL E FOME
MAIO
  SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA: OBSTÁCULOS A SEREM
  VENCIDOS

  BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS E AMBIENTAIS E OS
  PROFISSIONAIS NA AGRICULTURA

  CÓDIGO FLORESTAL

  O SOLO É A PÁTRIA, CULTIVÁ-LO É ENGRANDECÊ-LA!




                                                            37
PROJETO CULTIVIDA: UM PROJETO DE SAÚDE PARA A
                  POPULAÇÃO RURAL BRASILEIRA
 Um Programa de Monitoramento da Saúde de agricultores e família com exposição aos Defensivos
 Agrícolas




 Por Prof. Dr. Angelo Zanaga Trapé, Membro do conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS).
 Em março de 2012 foi lançado o Projeto Cultivida, de inciativa espontânea da empresa Iharaque ape-
 sar de não ter registros de impactos na saúde humana(intoxicações) por produtos registrados por ela
 no país, tomou essa iniciativa de organizar este projeto com o envolvimento de profissionais de várias
 áreas do conhecimento científico, tendo como objetivo a redução e eliminação dos casos de intoxica-
 ção por defensivos agrícolas em todo o país.

 Este projeto de abrangência nacional e com duração de no mínimo cinco anos, teve sua primeira etapa
 desenvolvida no município de Guaraciaba do Norte na região da Serra de Ibiapaba no final do mês de
 Março e irá percorrer 12 regiões por ano de vários estados brasileiros do Nordeste, Sul, Sudoeste e
 Centro Oeste.

 Prevê diversas ações com foco em três áreas de atuação:

 - Foco no bem estar e na saúde do trabalhador e sua família com investimentos em conscientização e
 orientações sobre diferentes problemas que afetam esta população tais como saúde da mulher e da
 criança através de especialistas da área médica e de atividades culturais.

 - Foco na atividade agrícola com aumento da rentabilidade por meio da aplicação das Boas Práticas
 Agrícolas.

 - Foco no treinamento e capacitação dos profissionais de saúde dos níveis local, regional e estadual
 do Sistema Único de Saúde(SUS) para a implantação de Programa de Monitoramento da Saúde de
 Populações Expostas a Defensivos Agrícolas realizado por profissionais de saúde com experiência em
 Toxicologia Clínica e Analítica.

 O objeto deste artigo é apresentar o escopo desta atividade de saúde relacionada a exposição popu-
 lacional aos defensivos agrícolas.

 O uso de defensivos na agricultura é intensivo e várias publicações têm apontado as intoxicações
 como um dos principais problemas de saúde, especialmente entre trabalhadores rurais.




38
As estatísticas oficiais apresentam um quadro que pode ter outra expressão que só é possível identifi-
car na medida em que tenhamos um setor de saúde pública com profissionais capacitados para o at-
endimento de uma pessoa exposta aos defensivos agrícolas e com instrumental diagnóstico adequado
para a definição do caso suspeito confirmando como intoxicado ou somente como exposto.

A Área de Saúde Ambiental da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp vem desenvolvendo um
Programa de Monitoramento da Saúde de Populações Expostas a Defensivos Agrícolas há mais de
duas décadas em toda a região metropolitana de Campinas com 42 municípios de também em 9 mu-
nicípios do sul de Minas Gerais.

A estrutura operacional e hierárquica deste Programa institucional, que tem se mostrado bastante efici-
ente e eficaz para ser reproduzido em outras regiões de outros estados do país, servirá de modelo para
a sua reprodução e implantação nas regiões de atuação do Projeto Cultivida.

O treinamento e capacitação orientam os distintos profissionais no encaminhamento de agricultores(as)
e familiares a realizarem pelo menos uma vez ao ano ou sempre que necessário uma triagem nos
Programas da Saúde da Família (PSFs) mediante uma ficha clínico epidemiológica, além de coleta de
sangue para dosagem das colinesterases, enzimas que podem se alterar na exposição aos inseticidas
organofosforados e/ou carbamatos. Esta análise laboratorial é realizada pelo nível regional de saúde.
Caso nesta triagem nos PSFs ou caso o exame laboratorial se apresentar alterado, o indivíduo é
encaminhado para uma consulta médica na qual faz-se uma avaliação rigorosa com outros exames
complementares laboratoriais para a confirmação ou não do caso suspeito e reencaminhamento para
o município de origem para acompanhamento e monitoramento.

Na primeira etapa ocorrida em Guaraciaba do Norte, CE foram capacitadas as agentes comunitárias
de saúde e técnicos do Programa da Saúde da Família(PSF) do município(nível local) e profissionais do
Centro de Referência da Saúde do Trabalhador (CEREST), incluindo um profissional médico, além de
profissionais do laboratório todos do município de Tianguá (nível regional) que serão referência para o
município de Guaraciaba do Norte como para outros 8 municípios que compõem a denominada cha-
pada da Serra de Ibiapaba.

Em todas as etapas do projeto o roteiro será sempre este, buscando articular todos os segmentos
do setor público de saúde das regiões, hierarquizando responsabilidades e funções e deixando a
perspectiva de continuidade de um Programa que esteja capacitado ao atendimento das pessoas
expostas aos defensivos atuando de maneira ativa, identificando precocemente qualquer sinal e/ou
sintoma que a pessoa exposta possa apresentar, além de apoiar e colaborar no monitoramento sobre
o uso seguro e correto dos defensivos agrícolas elemento fundamental na linha do cuidado integral à
saúde das populações expostas.

Se a exposição individual torna-se menor com procedimentos de proteção e segurança respeitados,
os riscos desses indivíduos ficam bastante reduzidos o que deve ser aliado a outras orientações técni-
cas no âmbito das Boas Práticas Agrícolas.

A implantação desta atividade programática contínua por parte dos municípios inseridos no projeto
Cultivida, permitirá a geração de dados fidedignos de saúde possibilitando um entendimento de qual
é o real impacto desta tecnologia na saúde da população exposta aos defensivos agrícolas em nível
nacional orientando ações de prevenção para alcançar o objetivo maior do Projeto de eliminar as intoxi-
cações por defensivos agrícolas na população rural brasileira.

Maio/2012



                                                                                                      39
CALOR INSUPORTÁVEL E FOME
 Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul-
       dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).




 O que temas aparentemente tão diferentes como aquecimento global e produção de alimentos podem
 ter em comum? Há algo que possa ser feito que resulte em melhorias nesses dois aspectos? Sugiro
 pensarmos em como a agricultura – uma das atividades econômicas mais importantes no Brasil - pode
 e deve contribuir para a solução desses dois problemas.

 Segurança alimentar, mais do que socorro emergencial às populações com deficiência nutricional, im-
 plica em se praticar uma agricultura que seja, ao mesmo tempo, econômica, competitiva e sustentável.
 Econômica porque é necessário assegurar renda aos que a praticam. Competitiva porque há que se
 produzir alimentos cada vez mais baratos, mais acessíveis às camadas mais carentes da população
 e, além disso, produzir os dólares imprescindíveis à economia brasileira. Sustentável porque é funda-
 mental que se pratique agricultura indefinidamente na mesma área, evitando o desmatamento desne-
 cessário. E somente se consegue isso praticando uma agricultura que não cause danos permanentes
 ao ambiente. De acordo com estimativas da FAO, nos próximos 20 anos será necessário dobrar a atual
 produção de alimentos, além da necessidade de se produzir agroenergia. Essa meta somente pode
 ser atingida por dois caminhos: aumentar a área cultivada ou aumentar a produtividade das terras já
 em cultivo. O aumento da área cultivada é praticamente impossível na maior parte do mundo, princi-
 palmente na Ásia, área mais populosa do planeta, pois todas as regiões agricultáveis já estão em uso.
 Pior, boa parte delas se encontra em risco de degradação. O Brasil é um dos poucos países do mundo
 onde existe área a ser ocupada, com regime de chuvas e temperaturas adequadas à agricultura. Mas o
 aumento da área cultivada implicaria em desmatamento, uma vez que a agricultura ocuparia terras atu-
 almente sob vegetação natural, o que, certamente, encontra restrições nos anseios dos ambientalistas.
 O segundo caminho é o aumento da produtividade, através do uso de variedades geneticamente mel-
 horadas, mais produtivas e através do melhor manejo do solo e dos cultivos, o que tornaria a agricultura
 competitiva, sustentável e econômica, ajudando a se satisfazer a crescente demanda por alimentos,
 tanto em quantidade como em qualidade, a demanda por matérias primas e por agroenergia.

 O aquecimento global tem como uma de suas causas a emissão atmosférica de gases, entre eles o
 CO2. A principal emissão desse gás vem da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o
 carvão, nos países mais desenvolvidos, mas a queima de vegetação e a agricultura tradicional também
 contribuem para o problema. Entretanto, o manejo do solo sem aração, sem revolvimento, ou seja, o
 sistema de manejo conhecido como semeadura direta fixa o carbono atmosférico na matéria orgânica
 do solo, pelo menos temporariamente. Estima-se que um hectare (área correspondente a um campo



40
de futebol) pode fixar em torno de 1 tonelada de carbono por ano na região sul do Brasil, se o solo
for bem manejado, se for praticada uma agricultura moderna, econômica, competitiva e sustentável.
Sim, porque o aumento da matéria orgânica do solo melhora suas propriedades, conservando melhor
a água e os nutrientes. Não é uma boa idéia transformar o carbono, que aqueceria o ambiente, em
alimentos, matérias primas e energia, contribuindo para a segurança alimentar, para a resolução do
problema da fome e de energia do planeta Terra?

Maio/2012




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SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA:
                           OBSTÁCULOS A SEREM VENCIDOS
 Por Ciro AntonioRosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul-
      dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).




 Um sistema de produção agrícola deve ser sustentável. Antes de mais nada deve ter: sustentabilidade
 econômica, o que permitirá, como consequência, investimentos para se conseguir sustentabilidade
 social e ambiental. Sistemas de produção com Integração Lavoura-Pecuária, ou mesmo Integração
 Lavoura-Pecuária-Floresta representam a evolução mais recente da agricultura. Embora muitos aspec-
 tos estejam ainda para serem descobertos, aprendidos, entendidos para a melhoria do sistema, muito
 já se fez. Nos primeiros tempos se utilizava como forrageira, principal produtora de palhas, quase unica-
 mente espécies de braquiárias. Atualmente se encontra uma variedade maior de espécies cultivadas,
 o que é positivo, já que trabalhar com apenas uma espécie acarreta maiores riscos a todo o sistema,
 tornando-o mais vulnerável. Embora a utilização de maior número de espécies se constitua numa
 evolução do sistema de produção em relação ao uso exclusivo da braquiária, com a diversificação, em
 geral, há necessidade de melhor qualidade de gerenciamento que os sistemas mais simples. Algumas
 vezes, a não adoção de algumas técnicas ou espécies em rotação se deve mais à deficiência de ger-
 enciamento e/ou máquinas do que ao clima, por exemplo. Um problema adicional é a instabilidade dos
 mercados e a falta de gerenciamento da comercialização a longo prazo. Desta forma, ou o agricultor
 se prende ao seu sistema de rotação, saindo do ótimo econômico, ou obedece ao mercado, saindo
 do ótimo gerenciamento do sistema. A falta de pessoas capacitadas para um bom gerenciamento do
 sistema tem sido um dos entraves ao seu desenvolvimento. Aliás, a falta de gente qualificada tem sido
 um obstáculo ao crescimento de diversas áreas de atividade no Brasil. Há necessidade de se con-
 vencer as Universidades brasileiras, principalmente as com vocação agrícola, a envolver mais gente e
 mais recursos na formação de pessoal qualificado no desenvolvimento e gerenciamento de sistemas
 de produção agrícola.

 Um entrave observado na maioria das propriedades que desenvolvem sistemas de produção agrícola
 com rotação de culturas e algum tipo de integração com a pecuária, é a dependência do uso de adubo
 nitrogenado para o sucesso do sistema. Na maior parte das propriedades pode se observar carência
 de nitrogênio no sistema. Mesmo com custos maiores, o resultado econômico do uso de maiores
 doses de nitrogênio pode ser vantajoso, afinal a integração nada mais é do que um melhor aproveita-
 mento dos recursos que estão disponíveis. Normalmente, uma propriedade que utilizaria num sistema
 convencional entre 60 a 80% dos seus recursos, passa a utilizar cerca de 90% a 95% de seus recursos
 num sistema integrado. Desta forma, um melhor entendimento da dinâmica do N nos sistemas seria



42
importante para se tentar melhorá-lo. Ainda, seria interessante que se viabilizasse o uso de mais legu-
minosas no sistema, procurando-se diminuir o custo e melhorar a sustentabilidade.

Cabe destacar que apesar de se classificar os sistemas de produção como Integração Lavoura-
Pecuária, os estabelecimentos agrícolas apresentam grandes diferenças nas espécies empregadas e
nas formas de manejo. De forma geral, é interessante o uso de uma espécie de alto valor agregado no
sistema, tais como algodão ou feijão. O problema é que a introdução destas espécies torna o sistema
mais complexo e de gestão mais difícil, além de se diminuir, por um ciclo, o aporte de palha.

Em muitas propriedades, mesmo conduzidas em alto nível tecnológico, muitas vezes contando com
assessorias específicas, ainda persistem procedimentos em que o mais básico da ciência agronômica
é, até certo ponto, negligenciado. Por exemplo, apesar do volume de resultados mostrando a falta de
resposta aos micronutrientes em diversas situações, o uso de zinco, manganês, boro, e por vezes out-
ros micronutrientes, ainda é generalizado. A análise de solo para fins de fertilidade nem sempre é feita
todos os anos, e raramente se encontra um resultado na profundidade de 20 a40 cm - o que ajudaria
no diagnóstico de, por exemplo, falta de enxofre. Mais, a quantidade de fertilizantes utilizada nem sem-
pre leva em conta o resultado da análise de terra.

Assim, embora não existam mais dúvidas quanto à necessidade, utilidade e benefícios da adoção de
sistemas de produção agrícola com rotação de culturas, se possível em semeadura direta e integração
com pecuária e/ou florestas, sua adoção mais generalizada ainda depende muito da pesquisa e do
ensino nesta área.

Maio/2012




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BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS E AMBIENTAIS E OS
                       PROFISSIONAIS NA AGRICULTURA
     PorClaudio A. Spadotto, diretor do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Gerente Geral da Embrapa
                                                        Gestão Territorial.




 Desenvolvimento responsável e na medida certa para o meio ambiente e para a sociedade são os
 grandes temas da atualidade. Nesse cenário, a atuação dos profissionais na agricultura torna-se priori-
 tariamente voltada para a interface entre as demandas das atividades produtivas, sejam elas agrícolas,
 pecuárias, florestais ou agroindustriais,e as necessidades de conservação dos recursos naturais mobi-
 lizados para a produção e as exigências de preservação dos ecossistemas e da qualidade ambiental.
 O grande desafio dos profissionais do setor nos próximos anos é conciliar a produção e sua rentabili-
 dade com os preceitos de responsabilidade social e ambiental. E, assim fazendo, colaborar na busca
 da sustentabilidade da agricultura brasileira.

 Para isso, além da qualificação técnica, outras competências ou habilidades são desejáveis nos profis-
 sionais, como as qualidades pessoais que levam à rapidez e flexibilidade na busca de resultados, a
 visão interdisciplinar integradora das especialidades e a capacidade de se comunicar.

 A relação agricultura e meio ambiente é tão próxima que para solucionar a grande maioria dos prob-
 lemas ambientais na agropecuária é necessário entender como funcionam os sistemas de produção.
 Como exemplos temos que as práticas de conservação de solo na área cultivada mantêm a sua
 porção mais fértil, além de reduzir a perda de água, evitando o assoreamento e a contaminação de
 lagos, açudes, riachos e rios. O manejo integrado de pragas leva ao uso mais racional dos defensivos
 agrícolas e o uso adequado desses produtos minimiza os problemas ambientais e de saúde ocupa-
 cional e pública. O aumento de produtividade nas atividades agrícolas, pecuárias e de reflorestamento
 homogêneo, com a adoção de boas práticas e sua integração, faz diminuir a pressão por abertura de
 novas áreas com desmatamento, contribuindo, assim, para a preservação dos ecossistemas.

 Maio/2012




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CÓDIGO FLORESTAL
Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável
               (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão-ESPN.




Chega de debate sobre o código florestal. Bom senso é concentrar o melhor das energias e do conhe-
cimento agrotropical brasileiro no pós-sancionamento da lei aprovada na câmara federal.

Os agricultores que plantaram dentro da lei e das orientações agronômicas de suas épocas não podem
ser chamados de desmatadores, e nem, de torturadores com a alcunha de “anistiados”! O agronegócio
comercial brasileiro é como regra preocupado com os aspectos ambientais e sociais, pois estão sub-
metidos às leis de mercado. E não são os supermercados e as agroindústrias processadoras de ma-
térias primas vegetais ou animais, que irão correr riscos de terem suas marcas prejudicadas, ou suas
vendas cortadas por estarem usando grãos, carnes, fibras ou energia oriunda de práticas predadoras.
Isso existe? Sim, mas não é mais a regra. Onde, porém, existe a fraude, o crime, o desmatamento ilícito
e o predadorismo, não empreendedorismo, mas o predadorismo contumaz?

Como regra isso tem a concentração de ocorrências nas terras ilegais, na grilagem, e nos que fazem
mau uso dos assentamentos e terras devolutas. Para a ilegalidade existe polícia e a mão pesada da
lei e da justiça. Para policiar precisa investir em maior vigilância, tecnologia, fiscalização e velocidade
nos processos, julgamento, combate à corrupção, e aplicação da lei. E, é exatamente ai, onde há
décadas reside o problema, que é histórico na realidade brasileira. Não é o gaúcho que abriu o cerrado
enfrentando, inclusive a ilegalidade, o crime e ainda hoje convivendo com a falta de estrutura fora das
porteiras das fazendas que está o inimigo do ambientalismo.

Presidenta Dilma, tire da frente essa quizumba dualista de conflito de egos, entre o time dos ambien-
talistas versus a galera dos ruralistas, e mande os órgãos colocarem a mão na massa. E essa mão
na massa significa dizer: “Ih agora, como é que nós vamos fazer para definir as normas gerais dos
programas de regularização ambiental PRA, previstos nos textos da lei, adequando regionalmente a
aplicação do código conforme as realidades locais do Brasil? Isso sim representa colocar foco no que
interessa, promover a agricultura de baixo carbono e a integração pecuária, lavoura e floresta, a defesa
da pesquisa genética tropical, e não àquilo que distrai a atenção do que é verdadeiramente a causa es-
tratégica do país. Não corrigimos o presente consertando o passado, e muito menos faremos o futuro
nos distraindo com as ilusões do presente.

Maio/2012




                                                                                                                       45
O SOLO É A PÁTRIA, CULTIVÁ-LO É ENGRANDECÊ-LA!

 Dia 15 de abril, dia nacional da conservação do solo.




 Por Antonio Roque Dechen, membro do Conselho Cientifico para Agricultura Sustentável (CCAS), En-
 genheiro Agrônomo, Vice-Reitor Executivo de Administação da USP e Professor da ESALQ,e Presi-
 dente da Fundação Agrisus.

 A revista O Solo, editada pelo Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, de 1909 a 1995, tinha como lema
 a frase “O Solo é a Pátria, cultivá-lo é engrandecê-la!”. Ao buscar a origem desta frase encontramos a
 referência no discurso de formatura da turma de 1910 daentão Escola Agrícola Prática de Piracicaba
 proferido por Arthur Torres Filho e publicado na Revista O Solo número 8, ano 1910.

 Ao ler e reler o substanciosodiscurso proferido para uma turma com 14 formandos com essa turma a
 Escola Prática Agrícola de Piracicaba completava o número de 74 Engenheiros Agrônomos formados
 no Estado de São Paulo destacam-se as referências à qualidade dos solos, sustentabilidade e quali-
 dade de vida.

 Hoje,passados 100 anos, a sustentabilidade com o foco ampliado para a temática ambiental, social e
 econômica continua presente no cotidiano da sociedade.

 Nas últimas décadas tivemos a oportunidade de vivenciar e acompanhar eventos nacionais e interna-
 cionais que possibilitaram a mudança do cenário da agricultura brasileira e principalmente inseriram o
 Brasil como player mundial na produção de alimentos.

 Assistimos a Revolução Verde de Norman Borlaug nos anos 70, a segunda revolução verde que foi
 a conquista do cerrado, graças à transferência dos resultados de pesquisa, o estabelecimento com
 sucesso da integração Floresta x Lavoura x Pecuária, e adoção do sistema de semeadura direta, a
 agricultura com ar e água limpos.

 Hoje, a sustentabilidade da produção agrícola e a adequação ambiental são indissociáveis, grandes
 avanços estão ocorrendo na agropecuária brasileira e para continuarmos crescendo e nos firmarmos
 nas posições de liderança da produção, o Brasil precisa também posicionar-se na liderança da implan-
 tação de ações de sustentabilidade e, para tanto, retomamos a frase do inicio deste texto: O Solo é a
 Pátria, cultivá-lo é engrandecê-la, porém nos ajustamos às demandas da sustentabilidade, devemos
 empenhar todos os nossos esforços para que possamos dizer com orgulho que: “O Solo é a Pátria,
 cultivá-lo e conservá-lo é engrandecê-la e garante a sustentabilidade e a vida”.



46
Maio/2012




JUNHO
   AGRICULTURA E BIODIVERSIDADE

   DE QUEM É O AMBIENTE?

   O CANARINHO VOLTOU

   GESTÃO TERRITORIAL ESTRATÉGICA PARA AGRICULTURA
   SUSTENTÁVEL

   A 150 KM POR HORA

   A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA E A RIO+20

   SEGURANÇA
JUNHO          ALIMENTAR E AMBIENTAL NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

   FUNDAÇÃO AGRISUS COMPELTA 11 ANOS DE APOIO A
   AGRICULTURA SUSTENTÁVEL




                                                            47
AGRICULTURA E BIODIVERSIDADE
 Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul-
       dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).




 Quando se discute biodiversidade, Amazônia, pecuária e agricultura são temas normalmente recor-
 rentes. A noção que se alardeia é a de que o desenvolvimento da agricultura e da pecuária ameaça a
 Amazônia, a biodiversidade do Brasil e a vida no mundo como conhecemos. Será?
 	
 Pesquisa publicada recentemente na revista científica Nature estudou a cadeia produtiva de 15 mil
 produtos e procurou determinar como o consumo em um país afeta a biodiversidade em cada local,
 mundialmente. Concluiu-se que aproximadamente 30% das ameaças à biodiversidade na Terra vem
 do comércio internacional. Neste ranking, o Brasil aparece como importador líquido de biodiversidade,
 ou seja, 76 espécies são impactadas pelos produtos importados pelo Brasil, enquanto que nossa
 produção para exportação impacta 35 espécies. O que isso significa? O Brasil é um grande exportador
 de commodities - produtos não industrializados ou semi-industrializados, como, por exemplo, os agrí-
 colas. Então, toda nossa agricultura pode impactar menos a biodiversidade do que nosso consumo.
 Em outras palavras: as cidades, onde se consome, podem impactar mais a biodiversidade do que o
 campo propriamente, onde se produz.
 	
 O trabalho é muito oportuno no momento em que se discute os vetos ao texto do Código Florestal
 Brasileiro, que certamente afetarão a produção de alimentos, a estrutura agrária e a renda, principal-
 mente de pequenos e médios produtores do Sul e Sudeste. Até que ponto vale pagar esse pesado
 preço social e econômico, uma vez que os hábitos de consumo da população podem ter maior im-
 pacto na biodiversidade? Até que ponto proibir os agricultores de produzir em suas áreas mais fér-
 teis, recuperando matas legalmente eliminadas, vai melhorar a biodiversidade do planeta? Perguntas
 para as quais não há resposta correta no momento. Mas há, sim, indicativos de que o impacto seria
 pequeno, se houver. Muito mais importantes seriam as mudanças nas cidades e no consumo, como
 mostra o estudo.
 	
 Passou da hora de se buscar diagnósticos melhores e, assim, desenvolver ferramentas adequadas
 para garantir a sustentabilidade da vida. Palpites e ideologias não podem gerar e nutrir leis que preju-
 diquem nossa renda, nossa economia, nossa sociedade. Alguém poderia, com segurança, apontar
 quantas e quais espécies foram extintas no Sul e Sudeste do Brasil em função da ocupação dos
 espaços pela agricultura? Mais importante no momento é saber como será afetado o equilíbrio es-




48
tabelecido nestas áreas nos últimos séculos, com a reimplantação de florestas. Ou seja, qual o real
benefício desse enorme sacrifício? Nova intervenção em áreas consolidadas não poderia gerar novos
problemas? É fundamental lembrar que a recomposição florestal, além de cara, exige o uso de insumos
modernos como fertilizantes e defensivos. O desenvolvimento agrícola, utilizando técnicas adequadas
em áreas já em uso, pode contribuir mais para manter a biodiversidade, uma vez que os alimentos,
matérias primas e agroenergia terão que ser produzidos em áreas já desmatadas ou não. O melhor
caminho é o aumento na produtividade com tecnologia, usando mais adequadamente as áreas agrí-
colas já consolidadas.

Junho/2012




                                                                                                  49
DE QUEM É O AMBIENTE?
 Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul-
       dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).




 É definida na Constituição Federal a função social da terra, que é cumprida quando os seguintes req-
 uisitos são atendidos: a) aproveitamento racional e adequado; b) utilização adequada dos recursos
 naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; c) observância das disposições que regulam as
 relações de trabalho e d) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

 A produção de matérias primas, alimentos e agroenergia, segundo técnicas agronômicas adequadas,
 cumpre a função social da terra, pois produz bens fundamentais à sociedade, respeita o ambiente e
 gera empregos e renda aos trabalhadores e agricultores. Isso vem ocorrendo, inclusive, em áreas des-
 matadas legalmente nos últimos séculos.

 Com o que se propõe na nova legislação, essas áreas deverão ter a floresta recomposta. Segundo
 consta, os agricultores deverão arcar com o custo do reflorestamento. Consequentemente, não haverá
 mais produção de outros bens nessas áreas, postos de trabalho desaparecerão e a renda do agricultor
 diminuirá. Como fica então a função social da terra, uma vez que será diminuído em diversos graus o
 bem-estar dos proprietários e trabalhadores?

 Atualmente, os bens produzidos nessas áreas são consumidos ou comercializados, gerando trabalho e
 renda. Quem paga pelos bens é a sociedade, os cidadãos que consomem alimentos, fibras e energia.
 Nada mais justo, pois são eles que usufruem. Se eu necessito de arroz, compro arroz, se necessito de
 carro, compro carro, se vou abastecer o carro com álcool, compro álcool. Assim funciona a sociedade
 e a economia. Os bens têm um valor, segundo sua disponibilidade e necessidade, ou segundo a oferta
 e a demanda.

 Aí vem a questão: quem usufrui do ambiente? Ora, todos nós respiramos, sentimos frio, calor, depen-
 demos da biodiversidade para sustentar nossa vida no planeta Terra. Assim, como todos os cidadãos
 usufruem do ambiente, a sociedade usufrui dele. Do mesmo modo que o faz com outros bens.

 Seria então correto dizer que o ambiente pertence à sociedade? Talvez. Mas, neste caso, quem cuida
 dele? Se precisarmos de um serviço, normalmente ele é contratado e pago, como tantos outros bens.

 Agora vamos considerar que as áreas desmatadas nos últimos séculos, mesmo que legalmente, sejam
 reflorestadas, como indica a legislação proposta. Já vimos que a função social da terra nessas áreas



50
será prejudicada. Mas, além disso, quem deveria arcar com os custos da recomposição? Se o ambi-
ente é da sociedade, um bem público, quem deveria pagar por isso seria a sociedade, ou, no caso do
Brasil, o governo. Uma vez recomposta a floresta, alguém deverá cuidar. No caso, os agricultores. Ou
seja, os agricultores prestariam um serviço à sociedade, estariam fornecendo um bem a ser consumido
por ela e, portanto, deveriam receber por isso.
	
Se a sociedade arcar com os custos da recomposição florestal das áreas legalmente desmatadas, a
justiça será cumprida, assim como a Constituição Federal. Sim, porque o trabalho e a renda - gerada
atualmente por outros bens -, serão mantidos com os recursos advindos dos serviços prestados pelos
agricultores ao plantar e cuidar das florestas, os famosos serviços ambientais. Basta que a remunera-
ção dos cuidadores seja equivalente àquela que se obteria, por exemplo, ao valor do arrendamento na
região.

Junho/2012




                                                                                                    51
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  • 1. CCAS. Agenda lotada e dezenas de artigos publicados em 2012. https://www.facebook.com/pages/CCAS/269355233194146
  • 2.
  • 3. CARTA AO LEITOR O tempo passa muito rápido e nem nos damos conta de tudo aquilo que conseguimos realizar. 2012 foi um ano muito importante para o CCAS, pois conseguimos fazer muitas coisas importantes a favor da agricultura sustentável – razão precípua da existência de nosso conselho. Nossos conselheiros – empenhados, competentes e que tem muito a contribuir para a agricultura sustentável – estiveram presentes em vários eventos realizados em 2012 e redigiram muitos artigos ao longo do ano. Para tangibilizar nossa afirmação organizamos esta publicação: um relato com a participação em eventos e com dezenas de artigos publicados. Entre os diversos temas abordados por nossos articulistas estão: tecnologias e seus benefícios; produtos seguros e segurança na agricultura; slow food; boas práticas agrícolas; gestão territorial; biodiversidade; código florestal; etc. Desejamos uma leitura útil e prazerosa. Dezembro 2012. José Otávio Menten Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável
  • 4. SOBRE O CCAS O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011,com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados a sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara,sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa sejam colocados a disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. VISÃO Valorizar e promover junto a sociedade a agricultura sustentável MISSÃO Promover e difundir a agricultura sustentável em todas as etapas de seu processo produtivo. Zelar pela imagem do produtor rural brasileiro e de seus produtos derivados da agricultura sustentável, bem como pela: segu- rança alimentar, educação no campo, meio ambiente, cidadania e qualidade de vida da população brasileira. Promover e incentivar a educação, o uso de tecnologias que incrementem a produção agrícola e qualidade dos alimentos, fibras e energia produzidas de forma sustentável. VALORES O CCAS pautará suas ações dentro dos mais elevados níveis de: ética, transparência, integridade, respeito a diversidade, credibilidade e imparcialidade. Valorizar os profissionais e demais agentes que atuem em benefício e defesa da agricultura sustentável.
  • 5. CONSELHEIROS Aluízio Borém de Oliveira Angelo Zanaga Trapé Antônio Roque Dechen Claudio A. Spadotto Ciro AntonioRosolem Coriolano Xavier Décio Luiz Gazzoni Dirceu N. Gassen Eduardo Peixoto Elbio Senna José Otavio Menten José Luiz TejonMegido Luiz Antonio Pinazza Luiz Carlos BheringNasser Luiz Carlos Corrêa Carvalho Luiz Madi Rumy Goto ASSESSORIA DE IMPRENSA Alfapress Comunicações Tatiana Barro de Freitas – Consultora de Comunicação tatiana.freitas@alfapress.com.br Julia Teixeira – Coordenadora de Comunicação julia.teixeira@alfapress.combr Alex Mattiuzzo – Gerente de Operações alex.mattiuzzo@alfapress.com.br Cid Luis – Diretor cid.luis@alfapress.com.br
  • 6. ÍNDICE JANEIRO OS RESULTADOS DO PARA E SEGURANÇA ALIMENTAR: CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TOXICOLOGIA PARA SUA INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO..............................................................11 ALIMENTOS SEGUROS................................................................................................................................13 A SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE GRÃOS......................................................................................15 SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA PAULISTA DE AGRICULTURA DE INTERESSE SOCIAL REGULAMENTADO ONTEM............................................................................................................17 PRODUZIMOS ALIMENTOS SAUDÁVEIS.......................................................................................................18 OS SETE DESAFIOS DO AGRIBUSINESS – A JORNADA DOS PRÓXIMOS 10 ANOS.....................................20 FEVEREIRO QUEM VIVER VERÁ......................................................................................................................................23 TEMPESTADE EM COPO DE LARANJA........................................................................................................25 MARÇO SACOLINHA: SER OU NÃO SER...................................................................................................................28 ABRIL AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E AS TECNOLOGIAS.....................................................................................32 CÓDIGO FLORESTAL: METAS E MÉTODOS..................................................................................................34 DE SANTO A PECADOR, O MORANGO ÀS VEZES GERA DÚVIDA NA CABEÇA DO CONSUMIDOR...............36 MAIO PROJETO CULTIVIDA: UM PROJETO DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO RURAL BRASILEIRA.........................38
  • 7. CALOR INSUPORTÁVEL E FOME..................................................................................................................40 SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA: OBSTÁCULOS A SEREM VENCIDOS................................................42 BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS E AMBIENTAIS E OS PROFISSIONAIS NA AGRICULTURA.........................44 CÓDIGO FLORESTAL...................................................................................................................................45 O SOLO É A PÁTRIA, CULTIVÁ-LO É ENGRANDECÊ-LA!...............................................................................46 JUNHO AGRICULTURA E BIODIVERSIDADE..............................................................................................................48 DE QUEM É O AMBIENTE?..........................................................................................................................50 O CANARINHO VOLTOU...............................................................................................................................52 GESTÃO TERRITORIAL ESTRATÉGICA PARA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL.................................................54 A 150 KM POR HORA.................................................................................................................................56 A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA E A RIO+20..........................................................................58 SEGURANÇA ALIMENTAR E AMBIENTAL NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA...........................................................60 FUNDAÇÃO AGRISUS COMPELTA 11 ANOS DE APOIO A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL..............................62 JULHO ESQUENTA OU NÃO ESQUENTA? E O QUE A AGRICULTURA TEM COM ISSO? ............................................65 TODOS OS OVOS NUMA CESTA SÓ............................................................................................................66 QUANDO O CARNAVAL CHEGAR.................................................................................................................67 SEGURANÇA NUTRICIONAL: A LIÇÃO COMPLETA.......................................................................................69 SEGURANÇA DOS ALIMENTOS...................................................................................................................71 AGOSTO O JECA INFORMATIZADO............................................................................................................................74
  • 8. OS GASES DO BOI: QUANTA BOBAGEM!.....................................................................................................76 ONDE ATUAR PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA?.................................................................78 A ARTE DO ENCANTAMENTO......................................................................................................................79 BRASIL, MAIOR PRODUTOR DE SOJA?.......................................................................................................81 BENEFÍCIOS DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS PARA A SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA.................83 MANEJO DA FERRUGEM DA SOJA: CONTRUBUIÇÃO À SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO.....................85 SUSTENTABILIDADE: COBERTURA VERDE PARA REDUÇÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA........................88 SETEMBRO 165 BILHÕES DE DÓLARES NO LIXO..........................................................................................................90 SEGURANÇA NUTRICIONAL E CAPITAL HUMANO.......................................................................................92 MOFO-BRANCO: IMPORTÂNCIA, DISSEMINAÇÃO E MANEJO DA DOENÇA EM LAVOURAS NO BRASIL......94 OUTUBRO BIODIESEL DE ALGAS – O QUÊ, PORQUÊ E PARA QUEM? ..........................................................................97 O VELHO ARROZ COM FEIJÃO..................................................................................................................100 OS OBSTÁCULOS A SEREM SUPERADOS PELO AGRO..............................................................................102 QUANTO VALE O AMBIENTE?....................................................................................................................103 SACOLINHA: VOTO E ATITUDE...................................................................................................................105 SONHO, URGÊNCIA E ECONOMIA VERDE..................................................................................................107 INTEGRAÇÃO LAVOURA E PECUÁRIA – ILP...............................................................................................109 CÓDIGO FLORESTAL – CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.....................................110 NÃO TEM SEGREDO, O MILHO VAI EXPLODIR!..........................................................................................112 ENGENHEIRO AGRÔNOMO: AGRO SUSTENTÁVEL.....................................................................................114 CERRADOS: UM BIOMA QUE PRECISA SER PRESERVADO........................................................................116
  • 9. NOVEMBRO MONITORAMENTO DA SAÚDE DE AGRICULTORES E TRABALHADORES AGRÍCOLAS PONTECIALMENTE EXPOSTOS A AGROQUÍMICOS – UM DESAFIO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO .......118 O BOI BANDIDO OU MOCINHO?................................................................................................................120 MAIS LEI, MENOS EMPREGO, MENOS TÉCNICA, MENOR SUSTENTABILIDADE.........................................123 COISAS DO SÉCULO XXI............................................................................................................................125 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO AGRONEGÓCIO NOS PRÓXIMOS 10 ANOS.........................................................................................................................127 SLOW FOOD: UM MOVIMENTO PELO ALIMENTO BOM, LIMPO E JUSTO..................................................129 DEZEMBRO INTEGRAÇÃO, LAVOURA-PECUÁRIA, FLORESTA?.....................................................................................132 COORDENAÇÃO, LIDERANÇA E AMBIÇÃO................................................................................................134 FILMES DE PVC, PROTEÇÃO E RISCO ......................................................................................................136 PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS EVENTO DE DIA DE CAMPO PROPÕE AÇÕES SUSTENTÁVEIS AOS...........................................................139 CCAS PROMOVE EVENTO PARA PROMOTORES DE MATO GROSSO........................................................139 CCAS PARTICIPA DO 1º ENCONTRO DO TRABALHADOR RURAL DE ARARAQUARA E REGIÃO.................140 CCAS PARTICIPA DA 3ª EDIÇÃO DO CROP WORLD SOUTH AMERICA 2012.............................................140 CCAS PARTICIPA DO ENCONTRO INTERNACIONAL DE MOFO BRANCO...................................................141 CCAS PARTICIPA DO CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA........................................................141 CCAS PARTICIPA DO 3º SIMPÓSIO SOBRE RESISTÊNCIA A PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS......................142 CCAS DEBATE SOBRE OS DESAFIOS DA SOJA EM PASSO FUNDO/RS.....................................................142 CCAS PARTICIPA DE DEBATE SOBRE ALIMENTAÇÃO MUNDIAL EM BRASÍLIA/DF.....................................143
  • 10. JANEIRO OS RESULTADOS DO PARA E SEGURANÇA ALIMENTAR: CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TOXICOLOGIA PARA SUA INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO ALIMENTOS SEGUROS A SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE GRÃOS SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA PAULISTA DE AGRICULTURA DE INTERESSE SOCIAL REGULAMENTADO ONTEM PRODUZIMOS ALIMENTOS SAUDÁVEIS OS SETE DESAFIOS DO AGRIBUSINESS – A JORNADA DOS PRÓXIMOS 10 ANOS 10
  • 11. OS RESULTADOS DO PARA E SEGURANÇA ALIMENTAR: CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TOXICOLOGIA PARA SUA INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO Por Prof. Dr. Angelo Zanaga Trapé; membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Coordenador da Área de Saúde Ambiental, Coordenador do Programa de Monitoramento de Populações Expostas a Agrotóxicos, Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Ciências Médicas-Unicamp. Em Dezembro de 2011 a ANVISA, divulgou os resultados do PARA, Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos Na divulgação feita em rede nacional pela mídia a ANVISA informou que foram realizadas análises em 2488 amostras de diversos produtos da hortifruticultura para variados ingredientes ativos (i.as.) que compõem os agrotóxicos. Do total das amostras analisadas segundo a ANVISA, 28% ou seja, 694 apresentaram-se insatisfatórias sendo que o pimentão foi o principal alimento com maior índice de amostras insatisfatórias, perto de 91%. Para entendermos o significado do parâmetro “insatisfatório” da agência e podermos interpretar os resultados de maneira científica é preciso que a base da avaliação seja a metodologia científica em Toxi- cologia (disciplina da Ciência que estuda os efeitos dos agentes químicos em geral nos seres vivos). A metodologia em Toxicologia tem como princípio básico para qualquer substância química (medica- mentos, produtos industriais, metais pesados, agrotóxicos), a relação DOSE=RESPOSTA, ou seja, para haver uma resposta nos organismos vivos seja ela benéfica ou não é necessário haver a absorção de uma dose capaz de determinar alguma alteração do organismo boa ou ruim. A Toxicologia moderna ainda mantém o ensinamento de Paracelsus, médico belga que iniciou os conhecimentos científicos nessa disciplina há mais de 500anos: “A dose faz o remédio, a dose faz o veneno”. Portanto não é qualquer dose ou resíduo de uma substância química, no caso os agrotóxicos, que pode ser capaz de determinar alterações prejudiciais nos seres humanos seja de curto, médio ou longo prazo. A Clínica e a Epidemiologia em Toxicologia nos ensinam isto. No caso dos alimentos, as agências internacionais que regulam níveis de resíduos de substâncias químicas em alimentos ingeridos “In natura” ou processados estabelecem há muitas décadas valores, níveis aceitáveis dessas substâncias (conservantes, corantes, realçadores de sabor, agrotóxicos) sem causar danos à saúde humana pelo consumo cotidiano desses alimentos durante a vida. Para os alimentos analisados pelo PARA, o parâmetro que deve ser respeitado pela agência reguladora 11
  • 12. ANVISA para que uma amostra seja “satisfatória” ou “insatisfatória” deve ser o limite máximo de resíduos de ingredientes ativos (i. as.) em um determinado alimento, os chamados LMRs, abaixo dos quais não há preocupação em termos de saúde pública. Voltando aos resultados do PARA de 2010, temos que 28% das amostras, ou seja, 694 foram consid- eradas “insatisfatórias” pela agência, porém quando analisamos cientificamente os dados vemos que deste total, somente 42 ou 1,7% das 2488 amostras tinham algum resíduo acima do parâmetro aceito internacionalmente, o limite máximo de resíduo, LMR. A maior parte 605 amostras ou 24,3% eram detecções de i.as. não registrados para aquela cultura, mas com registro para outras culturas no país. Avaliando os alimentos realçados pela agência e pela mídia, como os mais “contaminados”, temos o seguinte: 1º) Pimentão- segundo ANVISA, 91% de 146 amostras “insatisfatórias”, porém 84,9% com detecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima do LMR-0,00% segundo o relatório da ANVISA. 2º) Morango- segundo ANVISA, 64,3% de 112 amostras “insatisfatórias”, porém 51,8% com detecção de i.As. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima do LMR- 3 ou 2,7% segundo o relatório da ANVISA. 3º) Pepino- segundo a ANVISA, 57,4% de 136 amostras “insatisfatórias”, porém 55,9% com detecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima dos LMRs - 2 ou 1,5%. 4º) Alface- segundo a ANVISA, 54,2% de 131 amostras “insatisfatórias, porém 51,9% com detecção de i.as. não registrados para a cultura, mas baixo dos LMRs quando comparadas com os valores estabe- lecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima dos LMRs- 0,00%. 5º) Cenoura- segundo a ANVISA, 49,6% de 141 amostras “insatisfatórias”, porém 48,9% com de- tecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs quando comparadas com os valores estabelecidos para culturas semelhantes. Amostras com detecção acima dos LMRs- 0,00%. Este problema é fitossanitário, de extensão de uso de um agrotóxico de uma cultura para outra(s) e não de saúde pública, pois o parâmetro que deveria ser respeitado pelo órgão regulador, o LMR não foi ultrapassado. Mesmo nos casos de culturas onde ocorreu detecção de resíduos acima dos LMRs pelo relatório, os valores são muito baixos e tem como unidades de valor miligramas do i.a., por Kilo do ali- mento. Do ponto de vista de saúde à luz do método em Toxicologia, principalmente DOSE=RESPOSTA, os valores são muito baixos não indicando riscos para a população consumidora desses alimentos em curto, médio ou longo prazo. Como conclusão, fazendo uma leitura dos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóx- icos em Alimentos-PARA da ANVISA, com base na metodologia científica que deve sustentar qualquer estudo, relatório, norma ou portaria, principalmente de uma agência reguladora nacional, podemos dizer que os alimentos analisados em 2010 mostraram uma adequada segurança química, indicando à população brasileira tranquilidade para o consumo desses alimentos. Janeiro/2012 12
  • 13. ALIMENTOS SEGUROS Por Décio Luiz Gazzoni, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Engenheiro Agrônomo, pes- quisador da Embrapa Soja. Em meados de dezembro de 2011, a ANVISA liberou o resultado das análises de 2.488 amostras de agrotóxicos em frutas e hortaliças, coletadas em pontos de comercialização, como parte do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Os resultados mostraram quão seguros são os alimentos consumidos pelos brasileiros, pois apenas 5 amostras (0,2%) apresentavam limites de resíduos acima do permitido. O leitor deve pensar que eu estou confundindo as coisas pois, na divulgação efetuada pela mídia, 91% das análises de pimentão; 64% dos morangos; 57% do pepino; 54% da alface e 49% da cenoura foram consideradas “insatisfatórias” pela ANVISA. Aí está o cerne da questão. Em Ciência não existe “insatisfatória”. Os três parâmetros da Ciência da Toxicologia, que se aplicam ao caso são: 1) Dose Letal 50 (LD50) – é a dose que mata 50% das co- baias em testes científicos; 2) Limite máximo de resíduos (LMR) - quantidade máxima de agrotóxico legalmente aceito no alimento,em decorrência da aplicação adequada de uma substância química (se- guindo todas as Boas Práticas Agronômicas), desde sua produção até o consumo; 3) Ingestão Diária Aceitável (IDA) – quantidade máxima do agrotóxico que, ingerida diariamentedurante toda a vida, não oferece risco à saúde, à luz dos conhecimentos científicos atuais. No caso do PARA, apenas 0,2% das amostras ultrapassaram o LMR, estabelecido pela própria ANVISA. Como se estabelece o LMR? É o valor máximo de resíduo de agrotóxico admitido legalmente em um alimento que, levando em consideração a Ingestão Diária Aceitável (IDA), não oferece risco à saúde, à luz dos conhecimentos atuais, mesmo se ingerido por toda a vida. Como se estabelece a IDA? Em testes científicos, considera-se a maior dose que não causou alter- ações metabólicas perceptíveis, nos organismos em teste. Estabelecida esta dose, ela é dividida pelo fator 100, ou seja, a IDA representa apenas 1% da dose que não causou qualquer problema de saúde em cobaias, nos experimentos científicos. Vamos a um exemplo prático: Imaginando que um agrotóxico aplicado em maçã tenha LD50 muito alta (seja altamente tóxico), equivalente a 500mg/kg de peso vivo e que o limite máximo de resíduo (LMR) seja de 0,05mg/kg de maçã. Para atingir 50% de probabilidade de intoxicação de uma população de peso médio de 70kg, seria necessário ingerir 35.000mg/pessoa. Como o resíduo é de 0,05mg/kg de maçã, esta pessoa deverá consumir 700 toneladas de maçã. Se ela ingerir apenas maçãs, à razão de 2kg/dia, seriam necessários quase 1.000 anos para atingir a dose que, teoricamente, poderia conferir 13
  • 14. 50% de probabilidade de ser afetado pelo agrotóxico. Outro aspecto muito importante a ressaltar é o contínuo aprimoramento dos métodos de análise e dos equipamentos de detecção de resíduos, que permitem identificar substâncias na ordem de uma parte por trilhão (1ppt). Fazendo uma analogia, 1pptseria o equivalente a identificar a presença de uma determinada substância química, em que apenas uma gota dela foi lançada em uma piscina cheia de água, tendo esta piscina dimensões de 1.000 m de comprimento por 1.000 m de largura e com profundidade de 50 metros. Ou seja, quanto mais precisos forem os métodos de análise e detecção de resíduos de substâncias químicas, mais amostras serão consideradas “insatisfatórias”, o que não é um conceito científico, e não guarda qualquer correlação com impacto benéfico ou adverso desta sub- stância, sobre um organismo vivo. Dito de outra forma, esta classificação (satisfatória ou insatisfatória) é inútil, e não tem qualquer significado científico ou prático. Como conclusão, fazendo uma leitura dos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóx- icos em Alimentos-PARA da ANVISA, com base na metodologia científica que deve sustentar qualquer estudo, relatório, norma ou portaria, principalmente de uma agência reguladora nacional, podemos dizer que os alimentos analisados em 2011 mostraram uma adequada segurança química, indicando à população brasileira tranquilidade para o consumo desses alimentos. Janeiro/2012 14
  • 15. A SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE GRÃOS Por Dirceu N. Gassen, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Engenheiro Agrônomo. A evolução e as mudanças na agricultura dos últimos 20 anos, com o plantio direto, a biotecnologia, a automatização de equipamentos, a agricultura de precisão e eficiência nos processos para o aumento na produção, resultaram em avanços tão importantes quanto os que ocorreram em vários séculos, incluindo o trator e a revolução verde. Além da evolução na tecnologia, podem ser citadas as significativas mudanças políticas. No passado, as nações controlavam a produção e os estoques, com o pensamento na subsistência familiar e na garantia de disponibilidade de alimentos. As mudanças com a perestróica e o glasnost (reestruturação e transparência), a abertura de mercados, a livre competição e a queda de tensões de guerras entre as grandes potências, aceleraram as mudanças na agricultura. A necessidade de evoluir e adaptar-se às demandas do mercado, com maior eficiência nos processos de produção, resultaram em inovações tecnológicas e, em um novo perfil de agricultor e de negócios na agricultura. A lógica predominante é a competição com os melhores em qualquer parte do mundo. A agricultura deixa de ser um negócio de proprietários, protegida pelo Estado, para ser parte de uma cadeia de produção de alimentos regida pelo mercado, pela qualidade dos produtos, com base na adoção de boas práticas agrícolas. E o modelo preconizado é o da sustentabilidade com a rastreabi- lidade. A sustentabilidade objetiva a qualidade de vida, sem esgotamento de recursos naturais e sem gerar contaminantes não assimiláveis pela natureza, reconhecendo a coexistência das gerações futuras. A partir dos anos 90, a agricultura passou a ser um “livro aberto”, envolvendo a eficiência na produção, menor impacto sobre o ambiente, padrões na qualidade dos produtos, comprometimentos sociais e a certificação como estratégica de controle do consumidor. A produção com base em boas práticas agrícolas preconizadas e padronizadas pela FAO é definida como o núcleo da agricultura moderna, integrando num só conceito as exigências agronômicas e as de mercado. Tem como objetivo obter produtos saudáveis, livres de contaminações químicas, físicas ou biológicas, orientadas por diretrizes documentadas (certificáveis) e recomendações de caráter geral contemplando todas as atividades e insumos relacionados aos sistemas de produção. Ou seja, fazer as coisas bem e dar garantias disso. A sustentabilidade na produção de grãos tem a sua base na rentabilidade e nos impactos sobre re- cursos naturais e consequências sociais. O agricultor tem a propriedade da terra, porémdepende de 15
  • 16. conhecimento, atitudes e parcerias para atender as demandas do mercado. O perfil do agricultor pro- prietário da terra e com o domínio dos seus recursos naturais mudou para um gestor da produção de alimentos e guardião da natureza. Hoje o agricultor deve ser um profissional habilitado para a gestão com apoio de especialistas comprometidos com a sustentabilidade na cadeia de produção de alimen- tos. Daí a evidência de que a rentabilidade em agricultura é resultado da aplicação de conhecimento por hectare. Envolvendo aspectos técnicos com metas no aumento da produção por unidade de área e na eficiência de uso dos recursos naturais. Janeiro/2012 16
  • 17. SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA PAULISTA DE AGRICULTURA DE INTERESSE SOCIAL REGULAMENTADO ONTEM Sustentabilidade social no agro: acesso aos mercados Por José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ. A sustentabilidade é fator essencial no sucesso de qualquer empreendimento, inclusive no agro. Como outras atividades profissionais, o lucro é necessário para que se tenha vida longa. Necessário, mas não suficiente. Aspectos ambientais são, reconhecidamente, fundamentais. A sustentabilidade social acaba de se expressar na criação do Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social, que foi regulamentado em solenidade realizada em 24 de janeiro (ontem), no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. Os pequenos agricultores são os responsáveis por 70% da produção de alimentos no Brasil. São mil- hões de agricultores que sabem produzir, mas tem dificuldades em comercializar a produção e auferir lucros. A iniciativa do Governo do Estado de São Paulo de facilitar a aquisição de alimentos produzidos pelos pequenos agricultores, para atender a demanda de instituições públicas, é um marco. Hospitais, escolas, presídios, etc. têm que comprar alimentos diariamente, seguindo a legislação. Através da Lei 14.591/20011 é possível comprar dos pequenos produtores sem licitação. Isto é uma garantia de mercado. Todo agricultor, inclusive os pequenos, sabem que a primeira etapa para defini- rem o que vão plantar, é saber se há procura pelo produto. Agora, sabendo que tem um mercado seguro, podem planejar a produção. Certamente será necessário aprimorar a assistência técnica. O produtor tem que se responsabilizar em entregar para seus consumidores de acordo com a necessidade. Isto exige tecnologia e capacitação. Agora, a assistência técnica tem que melhorar. Janeiro/2012 17
  • 18. PRODUZIMOS ALIMENTOS SAUDÁVEIS Por José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ. A principal necessidade básica da humanidade é o alimento. Por esta razão, a SEGURANCA ALIMEN- TAR sempre foi prioridade. Todas as nações, povos e indivíduos se preocupam com a quantidade de alimento produzido e disponibilizado para o consumo. Entretanto, cada vez mais, também há preocu- pação com a qualidade do alimento consumido. Qualidade envolve tanto as características nutricionais como a sanidade dos alimentos. Por isso, ALIMENTO SEGURO também passou a ser prioridade. É possível promover a saúde aprimo- rando a alimentação. Este é um dos fatores responsáveis pela vida mais longa e saudável das pessoas. A dieta balanceada e constituída de alimentos adequados é cada vez mais assimilada. No Brasil há necessidade, por exemplo, de aumentar o consumo de frutas e hortaliças. Entretanto, notícias como a que foi divulgada recentemente no Jornal Nacional e no Fantástico sobre a qualidade dos alimentos, prejudica o consumo de hortifruti. A notícia foi baseada em Relatório da ANVISA/Ministério da Saúde. Ficou a imagem que as frutas e hortaliças disponibilizadas a população brasileira estão contaminadas por agrotóxicos e que são prejudiciais a saúde. É importante realizar o monitoramento de resíduos de defensivos agrícolas em alimentos. Mas é funda- mental interpretar os dados obtidos cientificamente e divulgar para a sociedade de forma conveniente. O que interessa para o consumidor é se os alimentos são saudáveis. Do ponto de vista toxicológico, preocupação deve existir apenas quando o resíduo estiver acima do limite estabelecido cientificamente. Existe ciência envolvida em todo o processo, desde o desenvolvimento dos defensivos agrícolas, pas- sando por rigorosos estudos sobre seus efeitos no homem, até sua aprovação pelo governo. Defensi- vos aprovados são seguros e, utilizados por agricultores bem preparados, contribuem para a produção de alimentos saudáveis. É isto que o monitoramento vem demonstrando e, infelizmente, foi distorcido. Apenas 3,6% das amostras analisadas no Brasil em 2010 estão com resíduos de defensivos acima do limite estabe- lecido. Estamos em condições semelhantes a da Europa, América do Norte e Ásia. Como o limite 18
  • 19. estabelecido é extremamente seguro, mesmo as amostras com resíduos acima do limite estabelecido, por apresentarem valores muito baixos, não oferecem risco para a população. Sob o ponto de vista químico, as frutas e hortaliças produzidas no Brasil são saudáveis. As notícias veiculadas não devem interferir no consumo, assim como não devem servir de barreiras a exportação, que deve se ampliar com a conquista de novos mercados. Sob o ponto de vista agronômico, fica claro que devemos continuar aprimorando processos de produção, incluindo mais assistência técnica, visando a incorporação de todas as boas práticas agrí- colas geradas pela pesquisa brasileira e mundial. Janeiro/2012 19
  • 20. OS SETE DESAFIOS DO AGRIBUSINESS – A JORNADA DOS PRÓXIMOS 10 ANOS Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão-ESPN. Com muito mais sensores sendo inventados e usados no mundo, passamos a auscultar, medir e sa- ber coisas que ignorávamos. Mais rastreabilidade, mais análise sensorial, lá vamos no agrobusiness com um dos desafios entre os sete, de significativa importância e predominância: o reino de avatar. Uma geração de clientes e consumidores cada vez mais sensíveis e sensibilizados pelas informações da sustentabilidade em todos os níveis. A Coca-Cola manda analisar os lotes de suco de laranja que recebe para processar seus refrigerantes e detecta resíduos de Carbendazin, por exemplo. Esse defensivo é usado para o controle da pinta preta na laranja. Ela fica antiestética, porém o aspecto de saudabilidade passa a contar. E se tem algo que a Coca-Cola e todos os processadores e redes de varejo do mundo não querem, é ter problemas com reclamações e riscos de saúde dos seus clientes. Portanto, estabelece-se a discussão: os técnicos vão debater se 0,03 ppm na laranja são nocivas ou não, por que o Japão aceita 3 ppm e a Europa 0,2 ppm e o que vão fazer com os Estados Unidos por ter na sua regra zero ou 0,01 ppm, o que é praticamente zero? Um desafio crescente é exatamente esse dos sensores e ampliação da sensibilidade e de baixíssimos limiares à questão da saúde humana e do planeta. O segundo desafio é sobre as terras agricultáveis. O mundo precisará dobrar sua oferta de alimentos e de energia renovável. Os dados da FAO dizem que 70% desse aumento virá da tecnologia, 10% da intensidade de ciclos agrícolas na mesma área e os restantes 20%, esses sim advindos de novas áreas agrícolas. Quer dizer, terra passou a valer ouro. A expansão de novas fronteiras ficou limitada e a relação de posse das terras agricultáveis muda de figura, sendo um dos ativos que mais valorizaram no mundo nos últimos cinco anos. O Brasil ao lado do Sudão, na África, são as duas reservas maiores do planeta, nesse quesito. O terceiro desafio é o da população: gente. Crescemos à proporção de quatro novos nascimentos por segundo. Seremos 9 bilhões, já somos 7 bilhões. E esse novo habitante está completamente conectado e interligado. A internet amplia a ética situacional do passado e, além das conexões via celular, computador, televisores, ela vem aí agora na nova internet das coisas. Quer dizer, no chuveiro, no micro-ondas, no fogão, no carro, etc. O quarto desafio é não só a produção alimentar, que deve dobrar, mas a qualidade da mesma. Matérias-primas produzidas a partir do campo passam a importar cada vez mais na análise percebida das marcas dos processadores e distribuidores de alimentos, fibras, energia, proteínas e demais derivados do agronegócio. Alimento e energia, sua produção, distribuição e percepção pelos mercados interconectados se transformam em um novo de- 20
  • 21. safio para a gestão de toda a cadeia de valor, desde o antes, passando pelo dentro e pelo pós-porteira das fazendas. O quinto desafio é a inovação, a adoção, a gestão da tecnologia e seu ciclo de vida. O problema não é mais contar com uma tecnologia avançada, a necessidade é que precisamos contar com mais do que uma. Essa diversidade tecnológica de ponta vai exigir de agricultores, da indústria química, mecânica, da genética e dos processadores um nível de diálogo on-line. A área acadêmica, a escola e a pes- quisa pública não resistirão à ausência de velocidade, bem como a governança do agronegócio será cada vez mais fundamentada nos conselhos setoriais. Na tecnologia, as reservas dos germoplasmas locais serão fator de gestão de risco e de segurança ambiental, político e de interesse nacional. O sexto desafio é a questão: quem será o produtor rural em 2022? Daqui a 10 anos, quem será, como serão, quantos existirão? Quais os segmentos, os nichos? Quais as competências desse novo quadro humano de produtores para os próximos 10 anos? O presente passou a ser o resultado do futuro. O que já temos agora, quais os sinais que já captamos neste instante que nos revelam a jornada e a janela do amanhã? Antever os movimentos é um desafio essencial para todos os agentes envolvidos no agrobusiness e que será fundamental para a construção de brands que resistam ao tempo. Produto é o que fazemos na indústria ou no campo, marca é aquilo que construímos na mente apaixonada dos seres humanos. E se o produtor é esse universo a ser revisto, incluindo a imprevisibilidade cíclica do mundo, no qual numa crise europeia, por exemplo, começamos a assistir a um êxodo ao contrário: urbanos abandonam as cidades e iniciam novos negócios no campo; as velhas “quintas” passam a ser vistas como fontes de qualidade de vida e também de empreendedorismo; se isso tudo configura uma das questões que mais intrigam os atuais executivos gestores do agronegócio, entra aqui o sétimo desafio: marketing. O velho e bom marketing: agronegócio sem marketing é só agro, sem negócio - que significa colocar a mente humana de todos os stakeholders no centro das mesas de decisões dos negócios e do agronegócio. O quanto sabemos desse exército de novos clientes oriundos da base da pirâmide planetária? Desses atuais 7 bilhões, praticamente a metade é de novos entrantes. Se o macarrão, por exemplo, tem penetração e capilaridade em 100% das residências do Brasil e somos o terceiro maior mercado do mundo nas massas é agora com a ascensão da classe C, quase 100 milhões de consumidores ávidos pela vontade consumista, que começou ver a penetração das novas massas recheadas. Do espaguete ao canelone é a jornada que já está em veloz penetração. E, da mesma forma, nas carnes, leite, hortifruti, fibras, cana, cacau, arroz ou seringueiras. Terra, pessoas, alimento e energia, o reino de avatar, tecnologia, o produtor do futuro e o marketing. A síntese dos sete desafios do agrobusiness. Como será 2022? Dez anos à frente do nosso tempo? O diálogo com a sociedade é fator sine qua non por parte de todos os agentes envolvidos no agronegó- cio, e construir empresas com uma nova inteligência pedagógica passa a ser vital. Na educação antiga éramos levados a primeiro pensar, depois fazer e, se desse um dia na vida, sentir. A expressão lúdica, moderna, começa pela arte do fazer; ao fazer, sentimos e, ao sentir, pensamos. Essa prudência é sa- grada para não cairmos nos grandes erros das decisões de líderes bem-intencionados, mas que caem no pecado das distrações. A velocidade mudou, é quase instantânea. E todos esses sete macro- desafios do agrobusiness precisam estar embalados pela altíssima velocidade de um novo híbrido: faz, sente e pensa. Janeiro/2012 21
  • 22. FEVEREIRO QUEM VIVER VERÁ TEMPESTADE EM COPO DE LARANJA FEVEREIRO 22
  • 23. QUEM VIVER VERÁ Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. A epopéia do Código Florestal (PL 1876/99) parece estar chegando ao fim, depois de incendiar de- bates em plenários, no campo e na mídia. Neste momento, vivemos a expectativa da sua votação final. Depois de muita polêmica, o texto revisado pelos senadores (dezembro de 2011) saiu com várias modificações, entre elas aspectos como: detalhamento sobre a recuperação das margens dos rios, agora com faixas fixadas de 30 a 100 m para rios com mais de 10m de largura; fixação de APPs em propriedades maiores (entre 30 e 100m); legislação específica para a agricultura familiar (com apoio técnico e incentivo financeiro para preservar/recuperar a vegetação nativa). O CCAS – Conselho Científico de Agricultura Sustentável foi ouvir as pessoas, tanto entre seus mem- bros, como entre gestores do agronegócio, para sentir a percepção que ficou da nova Lei. Ouviram informalmente produtores, executivos, pesquisadores, agrônomos -- e o balanço é mais ou menos o seguinte: para o pequeno produtor, o Código representa a resolução de um passivo ambiental que vem de anos (gerado em outro contexto econômico e legal) e que poderia, em tese, até inviabilizar sua atividade, dependendo o alcance do rigor protecionista da lei. Entre os médios e grandes produtores haverá a necessidade de se ajustar a uma legislação mais rigorosa, que se alinha a uma nova tendên- cia de sustentabilidade -- bem mais ampla do que o simples preservacionismo de hoje e envolvendo questões sociais, ambientais e econômicas. Ou seja, passamos a ter uma política bem mais clara com relação à interação entre meio ambiente e agronegócio, sinalizando para a sociedade a busca por um posicionamento de equilíbrio e responsabilidade ambiental na produção de alimentos, na perspectiva de uma agricultura mais sustentável. Agora vem a pergunta: e se a lei não for aprovada? Dar sobrevida à lei antiga é ficar com uma base legal ultrapassada, com gargalos de funcionalidade jurídica e prática. Pode trazer a ideia de que há um vazio legal e os espertalhões de plantão podem se aproveitar e ampliar a razia florestal -- como, aliás, já aconteceu antes, sem fiscalização eficiente ou com fiscalização marcada por fins políticos ou mecanismos de troca de interesses. Tem mais: para os agri- cultores com a cabeça no século XXI, que sabem do valor da proteção ambiental para a sobrevivência do negócio, pode significar o fantasma de uma legislação tecnicamente incoerente, não isenta e não obedecida por muitos. Um risco de descrédito legal, que pode inclusive inibir a exploração de novas áreas (cerrado/pastagem). 23
  • 24. Naturalmente, vamos encontrar opiniões de que o Código deveria ser mais restritivo do que a forma que tomou após a epopeia dos debates na sociedade e nas casas legislativas federais. Uma lei com menos ranço de “plantation” e de “neocolonialismo”, como advogam seus opositores mais combativos – tanto cidadãos como organizações da sociedade civil. Provavelmente, o tempo vai pedir um debate com maior profundidade no Brasil. Quem viver verá. Fevereiro/2012 24
  • 25. TEMPESTADE EM COPO DE LARANJA Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão-ESPN. Começamos o ano com a ameaça de termos parte da produção do suco cítrico brasileiro proibido de ingressar nos Estados Unidos. Trata-se, neste caso, de uma “tempestade em copo de laranja”. Primeiro que os Estados Unidos, representa 15% do consumo brasileiro. 85% da nossa produção vai para outros mercados. Do ponto de vista da segurança alimentar, a produção brasileira segue os rígidos padrões inter- nacionais e atuamos dentro da lei. Tanto internacional, como local. O fungicida Carbendazin atua contra a pinta preta, que deixa a laranja não estética. O “codex alimentar” aceita universalmente em torno de 1.000 partes por bilhão dos resíduos desse químico. Exportamos para a Europa que tolera 200 partes; o Canadá 1.000. O Ministério da Agricultura do Brasil determina até 5.000 partes por bilhão e o Japão aceita até 3.000. Os Estados Unidos aceitavam da mesma forma até 2009, quando numa intervenção da EPA, a agência ambiental, definiram tolerância zero nesse item. Porém, continuaram recebendo as produções brasileiras, que apresentam em média indicadores em torno de 30 partes por bilhão. A pulverização do Carbendazin foi proibida nos Estados Unidos, mas o tema não foi incluído nos registros do Safety Concern, tanto é que o produto continua sendo usado pelos americanos na produção de maçã, pêssego, morango e outros. A proibição foi exclusiva para a citricultura americana. O assunto atual é que uma companhia processadora levantou a questão para o FDA, que lendo a nova regra, informou que a tolerância era zero. Essa nota foi levantada e a indústria brasileira já esteve em reunião com os técnicos americanos, para condução da questão em vias racionais. Isso quer dizer, aceitar dentro das faixas atuais em torno de 30 partes por bilhão. O mais grave da história, não é o aspecto técnico do assunto é o problema do ponto de vista de marketing. O suco de laranja vem caindo á média de 1,6 % seu consumo nos últimos anos, e na década passada caiu 25% nos Estados Unidos, o maior mercado consumidor do mundo, representando isoladamente 40% do globo. Claro que uma noticia dessas, correndo o mundo e envolvendo o público leigo sobre o assunto, só irá ferir ainda mais as ações de retomada de mercado que o ramo já realiza agora junto aos consumidores. Inclusive a CitrusBr que age com uma campanha de comunicação na Europa, sendo bem recebida: “I feel orange”. Sobre a possibilidade de não vendermos para os Estados Unidos, considero impossível, pois 80% do suco americano é “blindado“ com a produção brasileira. A curto prazo haveria estoque para a oferta americana continuar, mas a médio e longo prazo os efeitos de alta nos preços e a escassez da oferta versus a de- 25
  • 26. manda, terminariam por paralisar a indústria daquele pais. Com certeza, trata-se de mais um tema onde a razão e o bom senso irão prevalecer. O que vale para a indústria citrícola é criar de fato o CONSENCITRUS, colocando seus agentes todos em harmonia, e con- tinuar vendendo mais, como o ocorrido em 2011, com negócios de cerca de US$ 2.200 bilhões, o recorde nos últimos 10 anos. Além disso, é vital aproximar o setor da ciência e da pesquisa brasileira objetivando sustentabilidade real e factível; continuar com maior ênfase fazendo marketing e melhorando o seu nível de diálogo com a sociedade, caso contrário sempre haverá o risco de “tempestades em copos de laranja“, terem a possibilidade de serem transformados em tsunamis na indústria. Fevereiro/2012 26
  • 27. MARÇO SACOLINHA: SER OU NÃO SER MARÇO 27
  • 28. SACOLINHA: SER OU NÃO SER Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing. Outro dia fui comprar chocolate no supermercado, como faço habitualmente.Daí veio a surpresa na velha rotina: “não temos sacolinha”, disse a jovem do checkout, escudada na lei que alvejou as sacolas plásticas descartáveisnesse comércio. O que se seguiu foi um desajeitado manejo das guloseimas durante o trânsito e outros afazeres, até chegarem ao destino – em estado de razoável viscosidade. Apesar do desconforto, e mesmo sendo defensor do arbítrio do consumidor, não vou aqui defender o direito das pessoas à conveniência absoluta, pois o mundo mudou e precisamos, todos, rever con- ceitos. A poluição está aumentando? Sim. A temperatura da terra está aumentando? Sim.Então, não há porque dinamitar atitudes de mudança contributivas, mesmo que tenham um balanço de eco-eficiência mais modesto. Se a margem de contribuição é positiva, ponto. O caso das sacolinhas plásticas dos supermercados é um ícone dessa questão. Primeiro a constitucio- nalidade da lei foi questionada, daí ela virou acordo setorial e depois ganhou uma espécie de moratória de dois meses, até o “dia D” da proscrição das sacolinhas. Enquanto acontecia tudo isso, o que mais se discutiu foi como serão as compras agora, ou se vai ter sacola biodegradável para todo mundo, se é pertinente cobrar por ela, qual seria o valor, ou como ficam as sacolas retornáveis. Muito pouco se debateu sobre o suposto ganho ambiental da medida. Ganho ambiental Calcula-se que em São Paulo são usadas mais de 600 milhões de sacolas descartáveis por mês. No Estado, estima-se um volume mensal de 2,5 a 3 bilhões de sacolas. Há quem fale em números meno- res, mais próximos à metade disso, mas não deixa de ser uma coisa simples que assume proporções gigantescas. Retirar esse volume de circulação representa ganhos ambientais? Aparentemente sim, principalmente pensando-se nas grandes metrópoles: redução do impacto das sacolas nas enchentes das cidades; redução da sua destinação inadequada para rios, lagos, mar e outros locais onde prejudique a fauna; e contribuição para a equação do aquecimento global, já que é um subproduto do petróleo – um dos causadores do aquecimento. 28
  • 29. Como se vê, muito da percepção de impacto ambiental das sacolinhas vem do desperdício, do des- carte incorreto e até de aspectos estruturais, como a inexistência de sistemas eficazes de coleta sele- tiva de lixo. Mas como é sempre mais fácil rotular um vilão do que olhar sistemicamente para o problema, a sacolinha paga o pato (ela tem sim, a sua culpabilidade) e não se encaminham soluções mais abrangentes e profundas para o meio ambiente, simplesmente porque não se pensa nelas. Olhar sistêmico Isso tudo vai custar alguma coisa para o consumidor? Provavelmente sim, pois ele pode ter alguma despesa com sacolas retornáveis, ou na compra de sacos de lixo, ou na adoção de outras formas de transporte dos gêneros que comprar. Contudo, não vamos esquecer que as tradicionais sacolinhas tinham um custo de R$ 0,15 a 0,20 para o comércio e isso era naturalmente repassado aos consumi- dores. De outro lado, jáforam feitos estudos sobre o ciclo de vida e emissão de CO2 de sacolas de algodão, ecobags, sacos de papel, papelão, sacolas plásticas tradicionais ou biodegradáveis e as opções de material plástico não foram as de pior desempenho em consumo de matéria-prima e pegada de car- bono. Contudo, em eco-eficiência não é somente o olhar intrínseco ao produto que conta, mas sim uma visão sistêmica que o analise em todas as suas interfaces na sociedade – da sua funcionalidade especifica a extensões de uso e manejos de descarte. A tecnologia pode fazer alguma coisa? Ainda não, mas que ninguém duvide do poder da ciência.O poliuretano(plástico) é um dos materiais mais versáteis e resistentes, desenvolvidos pelo homem. Hoje, ele está presente em tudo. Mas, por seus aspectos de degradabilidade, de recurso festejado transformou-se em preocupação ambiental, sem solução realista à vista. Recentemente, uma expedição de estudantes de Yale, pesquisando plantas nas florestas tropicais do Equador, sob a liderança do Prof. Scott Strobel, descobriu um fungo que tem a surpreendente capaci- dade de digerir plásticos e sobrevive em ambientes anaeróbios (sem oxigênio). O fungo recebeu o nome de PestalotiopsisMicrosporae a pesquisa sobre o processo de decom- posição do plástico que ele induz já foi publicada pelos alunos da expedição. Talvez, um dia esse fungo possa ser aplicado nas profundezas de aterros sanitários e neutralizar milhões de toneladas de plástico. Mas, por enquanto, isso é apenas uma promessa; talvez um sonho. Novos paradigmas E assim voltamos ao nosso mundo da sacolinha. Chegamos a um ponto em que tudo o que represente ganho ambiental tem que ser feito, tem que ser tentado, sem paixões e com a racionalidade da tec- nologia. Nosso horizonte não é hoje, ou o ano que vem, mas sim os 9 bilhões de seres humanos que habitarão o planeta, em cerca de 30 anos.E isso não tem negociação, é direito à vida. 29
  • 30. Nessa perspectiva, é imperativo mudar,edificar uma nova cultura e preparar um mundo novo. Assim contextualizado, o caso das sacolinhas torna-se emblemático e por isso digo: abaixo a sacolinha! Mas tem que fazer isso com transparência, democratização da informação, consciência e educação social. Sem isso não criaremos novos paradigmas e é disso que estamos precisando na questão ambiental. Março/2012 30
  • 31. ABRIL AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E AS TECNOLOGIAS ABRIL CÓDIGO FLORESTAL: METAS E MÉTODOS DE SANTO A PECADOR, O MORANGO ÀS VEZES GERA DÚVIDA NA CABEÇA DO CONSUMIDOR 31
  • 32. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E AS TECNOLOGIAS Por Aluízio Borém, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS). É perturbador saber que cerca de 900 milhões de pessoas se encontram famintas ou subnutridas. São também impressionantes os fatos de que a população mundial de 7,1 bilhões alcançará 9,1 bilhões no ano de 2050, correspondendo a um aumento de 43% em 42 anos, e que a oferta de alimentos vai ter que atingir quantidades bem superiores às atuais para atender a essa demanda. Diante desse quadro, a pressão sobre a agricultura para se produzir mais alimentos e de forma sustentável é enorme. A fome não é fato novo na história mundial. O risco de o crescimento populacional não ser acompan- hado pelo aumento da produção de alimentos foi estudado pelo economista inglês Thomas Robert Malthus (1768-1834) há aproximadamente 200 anos. As ousadas previsões de Malthus não se con- cretizaram até o presente comente em virtude do surgimento de novas fronteiras agrícolas e da inclusão de novas tecnologias ao sistema produtivo. Neste terceiro milênio, mais uma vez faz-se necessário o desenvolvimento de novas tecnologias para ajudar a agricultura a produzir alimentos de forma susten- tável e socialmente responsável. Um exemplo disso é a prática da Agricultura de Precisão, caracterizada pela aplicação de forma variada de fertilizantes, defensivos agrícolas e outros insumos, conforme as necessidades das diversas áreas da uma mesma lavoura. A Agricultura de Precisão se refere ao gerenciamento localizado de culturas e foi introduzida como prática em prol da produtividade. A tecnologia surgiu da observação de que os requisitos para aplicação de calcário variavam bastante para um mesmo talhão e que seria importante a aplicação diferenciada no campo, de forma que o calcário pudesse satisfazer a necessidade de cada local. Este conceito, embora tenha sido utilizado por algum tempo, foi abandonado quando os equipamentos de tração mecânica passaram a predominar na agricultura. Hoje com a disponibilidade de microcom- putadores, sensores e sistemas de rastreamento terrestres ou via satélites, a Agricultura de Precisão passou a ser comum em muitas lavouras, contribuindo para a sustentabilidade da agricultura. Com o aparecimento de sistemas de informações geográficas e de rastreamento via satélite, o conceito de gerenciamento localizado de culturas pode ser estendido para o monitoramento de outras opera- ções que não necessariamente aquelas de aplicações localizadas de insumos, mas também para o levantamento de mapas de fertilidade de solos, o monitoramento de colheitas, ou de outras operações mecanizadas. Hoje pode-se definir a Agricultura de Precisão como um conjunto de técnicas que per- mitem o gerenciamento localizado de culturas. 32
  • 33. Uma outra tecnologia que muito tem contribuído para a sustentabilidade na agricultura é o Melhora- mento Genético. O Melhoramento é a arte, ciência e negócio de alteração genética das plantas para benefício do homem. Esta tecnologia tem desenvolvido variedades mais tolerantes aos diferentes estresses bióticos que afetam as lavouras como pragas, doenças, secas, elevados níveis de alumínio toxico no solo, dentre outras, que exigem menor aplicação de insumos. As variedades melhoradas mais produtivas também tem sido apontadas como fator de sustentabilidade da agricultura, pois per- mitem que uma mesma produção seja obtida em menor área, reduzindo a pressão pela adição de novas áreas ao sistema de produção agrícola. Outras tecnologias estão sendo aprimoradas e a expectativa é que elas terão cada vez maior relevância na agricultura. Dentre estas pode-se citar a nanotecnologia, biotecnologia entre várias outras. Embora os desafios para se alimentar o mundo sejam enormes, as perspectivas são ainda maiores, pois já temos tecnologias para assegurar uma agricultura eficiente e ecologicamente responsável. Abril/2012 33
  • 34. CÓDIGO FLORESTAL: METAS E MÉTODOS Por Ciro AntonioRosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul- dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu). Toda a discussão sobre modificações no Código Florestal Brasileiro tem gerado mais calor que luz. A discussão tem sido, por vezes, parcial e superficial, sem refletir a realidade e a necessidade de nosso país e de nosso planeta.Afinal, qual o objetivo de um Código Florestal? Proteger o quê e para quem? Proteger de quem? Entendo que se procura preservar a água, o clima e, consequentemente, as es- pécies existentes e a biodiversidade. No entanto, o estabelecimento arbitrário de larguras para a mata ciliar e frações de propriedades agrícolas como previsto pode realmente ajudar na realização destes objetivos? É extremamente simplista dizer que problemas pontuais da agricultura poderiam ser acomodados, as- sim como não se pode dizer que os produtores de arroz e uva do Rio Grande do Sul, os produtores de maçã de Santa Catarina, os produtores de leite e café de Minas Gerais, entre outros, se constituem numa minoria cujos interesses seriam atendidos pela mudança no atual Código Florestal.Por outrolado, levantar a bandeira da impunidade para justificar a manutenção do atual código é, no mínimo, irrespon- sável, uma vez que a legislação brasileira permitiu e mesmo incentivou o desmatamento nestas áreas. Ora, de um lado temos que o próprio aquecimento atmosférico levará a perdas de 20 % ou mais na produtividade agrícola brasileira, dependendo da espécie, com aumento do risco e custos, além do deslocamento da produção para o Sul do País. Assim, dizer que é possível aumentar a produção brasileira de alimentos sem grandes esforços e sem aumento da área cultivada não passa de falácia. O aquecimento global não afetará apenas a agricultura. Afetará todas as espécies à medida que será modificada, além da temperatura, a distribuição de chuvas. Assim, como é possível discutir o código florestal sem incluir medidas de mitigação do efeito estufa? A modificação do manejo do solo para siste- mas em semeadura direta pode contribuir sobremaneira nesse sentido, uma vez que pode seqüestrar mais de uma tonelada de carbono por ano em um hectare. No Brasil isso passa de 50 milhões de toneladas de carbono por ano. Não é desprezível. A simples recomposição de uma mata, ciliar ou não, poderia fazer tanto? Isso tudo sem diminuir a área de produção de alimentos e sem expulsar pequenos agricultores de seu trabalho. Para a adequada conservação de áreas e espécies é necessário o levantamento de áreas representa- tivas, tendo em conta sua vocação e capacidade de suporte, através de um zoneamento agro-ecológi- co. E então sim, preservá-las. Do ponto de vista de preservação das espécies, a existência de parques 34
  • 35. contínuos e corredores ecológicos é muito mais efetiva que fragmentos florestais deixados sem uso, muitas vezes em áreas sem água disponível. Os parques podem ser mantidos pela sociedade ou ser- em auto-financiados, como ocorre em outros países. Assim, a conta não cairia em apenas uma parcela da sociedade, como no caso, absurdo, do atual Código Florestal. As reservas florestais, no momento, não levam em conta a vocação da terra. Existe no Brasil zoneamento agro-ecológico para quase todas as espécies, levando em conta a capacidade de uso da terra, um parâmetro técnico, objetivo, que, no entanto, não vem sendo considerado nas discussões do novo Código. Por exemplo, as matas ciliares, margeando os cursos d’água, vêm sendo exaustivamente discutidas. Qual sua largura? Os valores existentes são completamente arbitrários, assim como os que vêm sendo propostos. Independentemente de seu tamanho, a mata ciliar terá sua eficiência na proteção da água muito afetada pela atividade praticada em seu entorno, seja urbana, seja agrícola. No caso da agricul- tura, simplesmente não se leva em conta a atividade executada no entorno da mata ciliar. Por exemplo, a extensão da mata ciliar poderia ser condicionada não à largura do curso d’água, mas sim ao tipo de conservação do solo que se pratica no entorno. Essa sugestão pode acomodar os objetivos de preser- vação e produção de alimentos, fibras e energia. Porque não vem sendo discutida? Abril/2012 35
  • 36. DE SANTO A PECADOR, O MORANGO ÀS VEZES GERA DÚVIDA NA CABEÇA DO CONSUMIDOR Por Luiz Carlos Bhering Nasser, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS); Pós-Doutor em Biolo- gia Ambiental e Professor do UniCEUB. O médico, neurocientista franco-canadense Dr. David Servan– Schreiber, que resistiu por décadas ao câncer no cérebro, confirmou e subscreveu as suas teses no que diz respeito ao benefício da nutrição e atividade psíquica na prevenção e acompanhamento dos tratamentos convencionais de câncer. Em seu livro “Anticâncer”, publicado em 2007 e traduzido para 40 línguas, relata que “frutas vermelhas como o morango, framboesa, mirtilo, amora e airela, contém ácido elágico (abundantes em morango e framboesa) e múltiplos polifenois. Eles estimulam os mecanismos de eliminação dos cancerígenos e inibem a an- giogênese (formação de vasos sanguíneos capilares). As antiocianinas e proantocianidinas que facilitam também a apoptose (suicídio celular) das células cancerosas. E cita ainda que o consumo destas frutas, mesmo congeladas, elas conservam as moléculas anticâncer”. É recomendado por órgãos responsáveis da área alimentar e nutricional a ingestão de 400 gramas de frutas e hortaliças por dia, podendo ser divididas em até cinco porções diárias- uma porção refere-se ao con- sumo de 10 moranguinhos. Apesar dessa recomendação e da disponibilidade do morango no mercado, o consumo do morango ainda é temido no Brasil. Isso se dá devido a algumas notícias que o denigrem, as- sim como outras hortaliças e frutas, quanto à possibilidade de contaminação biológica (cepas de bactérias patogênicas) ou química (resíduos químicos tóxicos) ao ser humano que o consome. Esses medos são gerados muitas vezes pela falta de esclarecimento ao consumidor. A maioria da produção de morangos nacional é proveniente dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro,Goiás e Distrito Federal por agricultores altamente treinados por instituições de pesquisas e extensão dos estados em sistemas de produção seguros como, por exemplo, a Produção Integrada de Morango-PIMO, cujo modo de produzir garante a qualidade do produto, contribui para o desenvolvimento humano, considerando: segurança do trabalhador, legislação trabalhista,qualidade de vida dos produtores/comunidades e a conservação do meio ambiente. A PIMO alcançou recentemente esse sucesso e pode ser certificado por empresas técnicas credenciadas pelo INMETRO. Nesse processo de elaboração, à luz da ciência, atestam-se as normas previamente elaboradas com o produtor para o cultivo seguro do morango. Esse trabalho técnico de fomento à produção de alimentos seguros e certificados conta com a participação ativa das universidades brasileiras,empresas de pesquisa dos Estados/unidades, da Embrapa e é custeado e coordenado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento em parceria com o CNPq desde 2001. Abril/2012 36
  • 37. MAIO PROJETO CULTIVIDA: UM PROJETO DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO RURAL BRASILEIRA CALOR INSUPORTÁVEL E FOME MAIO SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA: OBSTÁCULOS A SEREM VENCIDOS BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS E AMBIENTAIS E OS PROFISSIONAIS NA AGRICULTURA CÓDIGO FLORESTAL O SOLO É A PÁTRIA, CULTIVÁ-LO É ENGRANDECÊ-LA! 37
  • 38. PROJETO CULTIVIDA: UM PROJETO DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO RURAL BRASILEIRA Um Programa de Monitoramento da Saúde de agricultores e família com exposição aos Defensivos Agrícolas Por Prof. Dr. Angelo Zanaga Trapé, Membro do conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS). Em março de 2012 foi lançado o Projeto Cultivida, de inciativa espontânea da empresa Iharaque ape- sar de não ter registros de impactos na saúde humana(intoxicações) por produtos registrados por ela no país, tomou essa iniciativa de organizar este projeto com o envolvimento de profissionais de várias áreas do conhecimento científico, tendo como objetivo a redução e eliminação dos casos de intoxica- ção por defensivos agrícolas em todo o país. Este projeto de abrangência nacional e com duração de no mínimo cinco anos, teve sua primeira etapa desenvolvida no município de Guaraciaba do Norte na região da Serra de Ibiapaba no final do mês de Março e irá percorrer 12 regiões por ano de vários estados brasileiros do Nordeste, Sul, Sudoeste e Centro Oeste. Prevê diversas ações com foco em três áreas de atuação: - Foco no bem estar e na saúde do trabalhador e sua família com investimentos em conscientização e orientações sobre diferentes problemas que afetam esta população tais como saúde da mulher e da criança através de especialistas da área médica e de atividades culturais. - Foco na atividade agrícola com aumento da rentabilidade por meio da aplicação das Boas Práticas Agrícolas. - Foco no treinamento e capacitação dos profissionais de saúde dos níveis local, regional e estadual do Sistema Único de Saúde(SUS) para a implantação de Programa de Monitoramento da Saúde de Populações Expostas a Defensivos Agrícolas realizado por profissionais de saúde com experiência em Toxicologia Clínica e Analítica. O objeto deste artigo é apresentar o escopo desta atividade de saúde relacionada a exposição popu- lacional aos defensivos agrícolas. O uso de defensivos na agricultura é intensivo e várias publicações têm apontado as intoxicações como um dos principais problemas de saúde, especialmente entre trabalhadores rurais. 38
  • 39. As estatísticas oficiais apresentam um quadro que pode ter outra expressão que só é possível identifi- car na medida em que tenhamos um setor de saúde pública com profissionais capacitados para o at- endimento de uma pessoa exposta aos defensivos agrícolas e com instrumental diagnóstico adequado para a definição do caso suspeito confirmando como intoxicado ou somente como exposto. A Área de Saúde Ambiental da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp vem desenvolvendo um Programa de Monitoramento da Saúde de Populações Expostas a Defensivos Agrícolas há mais de duas décadas em toda a região metropolitana de Campinas com 42 municípios de também em 9 mu- nicípios do sul de Minas Gerais. A estrutura operacional e hierárquica deste Programa institucional, que tem se mostrado bastante efici- ente e eficaz para ser reproduzido em outras regiões de outros estados do país, servirá de modelo para a sua reprodução e implantação nas regiões de atuação do Projeto Cultivida. O treinamento e capacitação orientam os distintos profissionais no encaminhamento de agricultores(as) e familiares a realizarem pelo menos uma vez ao ano ou sempre que necessário uma triagem nos Programas da Saúde da Família (PSFs) mediante uma ficha clínico epidemiológica, além de coleta de sangue para dosagem das colinesterases, enzimas que podem se alterar na exposição aos inseticidas organofosforados e/ou carbamatos. Esta análise laboratorial é realizada pelo nível regional de saúde. Caso nesta triagem nos PSFs ou caso o exame laboratorial se apresentar alterado, o indivíduo é encaminhado para uma consulta médica na qual faz-se uma avaliação rigorosa com outros exames complementares laboratoriais para a confirmação ou não do caso suspeito e reencaminhamento para o município de origem para acompanhamento e monitoramento. Na primeira etapa ocorrida em Guaraciaba do Norte, CE foram capacitadas as agentes comunitárias de saúde e técnicos do Programa da Saúde da Família(PSF) do município(nível local) e profissionais do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador (CEREST), incluindo um profissional médico, além de profissionais do laboratório todos do município de Tianguá (nível regional) que serão referência para o município de Guaraciaba do Norte como para outros 8 municípios que compõem a denominada cha- pada da Serra de Ibiapaba. Em todas as etapas do projeto o roteiro será sempre este, buscando articular todos os segmentos do setor público de saúde das regiões, hierarquizando responsabilidades e funções e deixando a perspectiva de continuidade de um Programa que esteja capacitado ao atendimento das pessoas expostas aos defensivos atuando de maneira ativa, identificando precocemente qualquer sinal e/ou sintoma que a pessoa exposta possa apresentar, além de apoiar e colaborar no monitoramento sobre o uso seguro e correto dos defensivos agrícolas elemento fundamental na linha do cuidado integral à saúde das populações expostas. Se a exposição individual torna-se menor com procedimentos de proteção e segurança respeitados, os riscos desses indivíduos ficam bastante reduzidos o que deve ser aliado a outras orientações técni- cas no âmbito das Boas Práticas Agrícolas. A implantação desta atividade programática contínua por parte dos municípios inseridos no projeto Cultivida, permitirá a geração de dados fidedignos de saúde possibilitando um entendimento de qual é o real impacto desta tecnologia na saúde da população exposta aos defensivos agrícolas em nível nacional orientando ações de prevenção para alcançar o objetivo maior do Projeto de eliminar as intoxi- cações por defensivos agrícolas na população rural brasileira. Maio/2012 39
  • 40. CALOR INSUPORTÁVEL E FOME Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul- dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu). O que temas aparentemente tão diferentes como aquecimento global e produção de alimentos podem ter em comum? Há algo que possa ser feito que resulte em melhorias nesses dois aspectos? Sugiro pensarmos em como a agricultura – uma das atividades econômicas mais importantes no Brasil - pode e deve contribuir para a solução desses dois problemas. Segurança alimentar, mais do que socorro emergencial às populações com deficiência nutricional, im- plica em se praticar uma agricultura que seja, ao mesmo tempo, econômica, competitiva e sustentável. Econômica porque é necessário assegurar renda aos que a praticam. Competitiva porque há que se produzir alimentos cada vez mais baratos, mais acessíveis às camadas mais carentes da população e, além disso, produzir os dólares imprescindíveis à economia brasileira. Sustentável porque é funda- mental que se pratique agricultura indefinidamente na mesma área, evitando o desmatamento desne- cessário. E somente se consegue isso praticando uma agricultura que não cause danos permanentes ao ambiente. De acordo com estimativas da FAO, nos próximos 20 anos será necessário dobrar a atual produção de alimentos, além da necessidade de se produzir agroenergia. Essa meta somente pode ser atingida por dois caminhos: aumentar a área cultivada ou aumentar a produtividade das terras já em cultivo. O aumento da área cultivada é praticamente impossível na maior parte do mundo, princi- palmente na Ásia, área mais populosa do planeta, pois todas as regiões agricultáveis já estão em uso. Pior, boa parte delas se encontra em risco de degradação. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde existe área a ser ocupada, com regime de chuvas e temperaturas adequadas à agricultura. Mas o aumento da área cultivada implicaria em desmatamento, uma vez que a agricultura ocuparia terras atu- almente sob vegetação natural, o que, certamente, encontra restrições nos anseios dos ambientalistas. O segundo caminho é o aumento da produtividade, através do uso de variedades geneticamente mel- horadas, mais produtivas e através do melhor manejo do solo e dos cultivos, o que tornaria a agricultura competitiva, sustentável e econômica, ajudando a se satisfazer a crescente demanda por alimentos, tanto em quantidade como em qualidade, a demanda por matérias primas e por agroenergia. O aquecimento global tem como uma de suas causas a emissão atmosférica de gases, entre eles o CO2. A principal emissão desse gás vem da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, nos países mais desenvolvidos, mas a queima de vegetação e a agricultura tradicional também contribuem para o problema. Entretanto, o manejo do solo sem aração, sem revolvimento, ou seja, o sistema de manejo conhecido como semeadura direta fixa o carbono atmosférico na matéria orgânica do solo, pelo menos temporariamente. Estima-se que um hectare (área correspondente a um campo 40
  • 41. de futebol) pode fixar em torno de 1 tonelada de carbono por ano na região sul do Brasil, se o solo for bem manejado, se for praticada uma agricultura moderna, econômica, competitiva e sustentável. Sim, porque o aumento da matéria orgânica do solo melhora suas propriedades, conservando melhor a água e os nutrientes. Não é uma boa idéia transformar o carbono, que aqueceria o ambiente, em alimentos, matérias primas e energia, contribuindo para a segurança alimentar, para a resolução do problema da fome e de energia do planeta Terra? Maio/2012 41
  • 42. SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA: OBSTÁCULOS A SEREM VENCIDOS Por Ciro AntonioRosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul- dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu). Um sistema de produção agrícola deve ser sustentável. Antes de mais nada deve ter: sustentabilidade econômica, o que permitirá, como consequência, investimentos para se conseguir sustentabilidade social e ambiental. Sistemas de produção com Integração Lavoura-Pecuária, ou mesmo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta representam a evolução mais recente da agricultura. Embora muitos aspec- tos estejam ainda para serem descobertos, aprendidos, entendidos para a melhoria do sistema, muito já se fez. Nos primeiros tempos se utilizava como forrageira, principal produtora de palhas, quase unica- mente espécies de braquiárias. Atualmente se encontra uma variedade maior de espécies cultivadas, o que é positivo, já que trabalhar com apenas uma espécie acarreta maiores riscos a todo o sistema, tornando-o mais vulnerável. Embora a utilização de maior número de espécies se constitua numa evolução do sistema de produção em relação ao uso exclusivo da braquiária, com a diversificação, em geral, há necessidade de melhor qualidade de gerenciamento que os sistemas mais simples. Algumas vezes, a não adoção de algumas técnicas ou espécies em rotação se deve mais à deficiência de ger- enciamento e/ou máquinas do que ao clima, por exemplo. Um problema adicional é a instabilidade dos mercados e a falta de gerenciamento da comercialização a longo prazo. Desta forma, ou o agricultor se prende ao seu sistema de rotação, saindo do ótimo econômico, ou obedece ao mercado, saindo do ótimo gerenciamento do sistema. A falta de pessoas capacitadas para um bom gerenciamento do sistema tem sido um dos entraves ao seu desenvolvimento. Aliás, a falta de gente qualificada tem sido um obstáculo ao crescimento de diversas áreas de atividade no Brasil. Há necessidade de se con- vencer as Universidades brasileiras, principalmente as com vocação agrícola, a envolver mais gente e mais recursos na formação de pessoal qualificado no desenvolvimento e gerenciamento de sistemas de produção agrícola. Um entrave observado na maioria das propriedades que desenvolvem sistemas de produção agrícola com rotação de culturas e algum tipo de integração com a pecuária, é a dependência do uso de adubo nitrogenado para o sucesso do sistema. Na maior parte das propriedades pode se observar carência de nitrogênio no sistema. Mesmo com custos maiores, o resultado econômico do uso de maiores doses de nitrogênio pode ser vantajoso, afinal a integração nada mais é do que um melhor aproveita- mento dos recursos que estão disponíveis. Normalmente, uma propriedade que utilizaria num sistema convencional entre 60 a 80% dos seus recursos, passa a utilizar cerca de 90% a 95% de seus recursos num sistema integrado. Desta forma, um melhor entendimento da dinâmica do N nos sistemas seria 42
  • 43. importante para se tentar melhorá-lo. Ainda, seria interessante que se viabilizasse o uso de mais legu- minosas no sistema, procurando-se diminuir o custo e melhorar a sustentabilidade. Cabe destacar que apesar de se classificar os sistemas de produção como Integração Lavoura- Pecuária, os estabelecimentos agrícolas apresentam grandes diferenças nas espécies empregadas e nas formas de manejo. De forma geral, é interessante o uso de uma espécie de alto valor agregado no sistema, tais como algodão ou feijão. O problema é que a introdução destas espécies torna o sistema mais complexo e de gestão mais difícil, além de se diminuir, por um ciclo, o aporte de palha. Em muitas propriedades, mesmo conduzidas em alto nível tecnológico, muitas vezes contando com assessorias específicas, ainda persistem procedimentos em que o mais básico da ciência agronômica é, até certo ponto, negligenciado. Por exemplo, apesar do volume de resultados mostrando a falta de resposta aos micronutrientes em diversas situações, o uso de zinco, manganês, boro, e por vezes out- ros micronutrientes, ainda é generalizado. A análise de solo para fins de fertilidade nem sempre é feita todos os anos, e raramente se encontra um resultado na profundidade de 20 a40 cm - o que ajudaria no diagnóstico de, por exemplo, falta de enxofre. Mais, a quantidade de fertilizantes utilizada nem sem- pre leva em conta o resultado da análise de terra. Assim, embora não existam mais dúvidas quanto à necessidade, utilidade e benefícios da adoção de sistemas de produção agrícola com rotação de culturas, se possível em semeadura direta e integração com pecuária e/ou florestas, sua adoção mais generalizada ainda depende muito da pesquisa e do ensino nesta área. Maio/2012 43
  • 44. BOAS PRÁTICAS AGRONÔMICAS E AMBIENTAIS E OS PROFISSIONAIS NA AGRICULTURA PorClaudio A. Spadotto, diretor do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Gerente Geral da Embrapa Gestão Territorial. Desenvolvimento responsável e na medida certa para o meio ambiente e para a sociedade são os grandes temas da atualidade. Nesse cenário, a atuação dos profissionais na agricultura torna-se priori- tariamente voltada para a interface entre as demandas das atividades produtivas, sejam elas agrícolas, pecuárias, florestais ou agroindustriais,e as necessidades de conservação dos recursos naturais mobi- lizados para a produção e as exigências de preservação dos ecossistemas e da qualidade ambiental. O grande desafio dos profissionais do setor nos próximos anos é conciliar a produção e sua rentabili- dade com os preceitos de responsabilidade social e ambiental. E, assim fazendo, colaborar na busca da sustentabilidade da agricultura brasileira. Para isso, além da qualificação técnica, outras competências ou habilidades são desejáveis nos profis- sionais, como as qualidades pessoais que levam à rapidez e flexibilidade na busca de resultados, a visão interdisciplinar integradora das especialidades e a capacidade de se comunicar. A relação agricultura e meio ambiente é tão próxima que para solucionar a grande maioria dos prob- lemas ambientais na agropecuária é necessário entender como funcionam os sistemas de produção. Como exemplos temos que as práticas de conservação de solo na área cultivada mantêm a sua porção mais fértil, além de reduzir a perda de água, evitando o assoreamento e a contaminação de lagos, açudes, riachos e rios. O manejo integrado de pragas leva ao uso mais racional dos defensivos agrícolas e o uso adequado desses produtos minimiza os problemas ambientais e de saúde ocupa- cional e pública. O aumento de produtividade nas atividades agrícolas, pecuárias e de reflorestamento homogêneo, com a adoção de boas práticas e sua integração, faz diminuir a pressão por abertura de novas áreas com desmatamento, contribuindo, assim, para a preservação dos ecossistemas. Maio/2012 44
  • 45. CÓDIGO FLORESTAL Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão-ESPN. Chega de debate sobre o código florestal. Bom senso é concentrar o melhor das energias e do conhe- cimento agrotropical brasileiro no pós-sancionamento da lei aprovada na câmara federal. Os agricultores que plantaram dentro da lei e das orientações agronômicas de suas épocas não podem ser chamados de desmatadores, e nem, de torturadores com a alcunha de “anistiados”! O agronegócio comercial brasileiro é como regra preocupado com os aspectos ambientais e sociais, pois estão sub- metidos às leis de mercado. E não são os supermercados e as agroindústrias processadoras de ma- térias primas vegetais ou animais, que irão correr riscos de terem suas marcas prejudicadas, ou suas vendas cortadas por estarem usando grãos, carnes, fibras ou energia oriunda de práticas predadoras. Isso existe? Sim, mas não é mais a regra. Onde, porém, existe a fraude, o crime, o desmatamento ilícito e o predadorismo, não empreendedorismo, mas o predadorismo contumaz? Como regra isso tem a concentração de ocorrências nas terras ilegais, na grilagem, e nos que fazem mau uso dos assentamentos e terras devolutas. Para a ilegalidade existe polícia e a mão pesada da lei e da justiça. Para policiar precisa investir em maior vigilância, tecnologia, fiscalização e velocidade nos processos, julgamento, combate à corrupção, e aplicação da lei. E, é exatamente ai, onde há décadas reside o problema, que é histórico na realidade brasileira. Não é o gaúcho que abriu o cerrado enfrentando, inclusive a ilegalidade, o crime e ainda hoje convivendo com a falta de estrutura fora das porteiras das fazendas que está o inimigo do ambientalismo. Presidenta Dilma, tire da frente essa quizumba dualista de conflito de egos, entre o time dos ambien- talistas versus a galera dos ruralistas, e mande os órgãos colocarem a mão na massa. E essa mão na massa significa dizer: “Ih agora, como é que nós vamos fazer para definir as normas gerais dos programas de regularização ambiental PRA, previstos nos textos da lei, adequando regionalmente a aplicação do código conforme as realidades locais do Brasil? Isso sim representa colocar foco no que interessa, promover a agricultura de baixo carbono e a integração pecuária, lavoura e floresta, a defesa da pesquisa genética tropical, e não àquilo que distrai a atenção do que é verdadeiramente a causa es- tratégica do país. Não corrigimos o presente consertando o passado, e muito menos faremos o futuro nos distraindo com as ilusões do presente. Maio/2012 45
  • 46. O SOLO É A PÁTRIA, CULTIVÁ-LO É ENGRANDECÊ-LA! Dia 15 de abril, dia nacional da conservação do solo. Por Antonio Roque Dechen, membro do Conselho Cientifico para Agricultura Sustentável (CCAS), En- genheiro Agrônomo, Vice-Reitor Executivo de Administação da USP e Professor da ESALQ,e Presi- dente da Fundação Agrisus. A revista O Solo, editada pelo Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, de 1909 a 1995, tinha como lema a frase “O Solo é a Pátria, cultivá-lo é engrandecê-la!”. Ao buscar a origem desta frase encontramos a referência no discurso de formatura da turma de 1910 daentão Escola Agrícola Prática de Piracicaba proferido por Arthur Torres Filho e publicado na Revista O Solo número 8, ano 1910. Ao ler e reler o substanciosodiscurso proferido para uma turma com 14 formandos com essa turma a Escola Prática Agrícola de Piracicaba completava o número de 74 Engenheiros Agrônomos formados no Estado de São Paulo destacam-se as referências à qualidade dos solos, sustentabilidade e quali- dade de vida. Hoje,passados 100 anos, a sustentabilidade com o foco ampliado para a temática ambiental, social e econômica continua presente no cotidiano da sociedade. Nas últimas décadas tivemos a oportunidade de vivenciar e acompanhar eventos nacionais e interna- cionais que possibilitaram a mudança do cenário da agricultura brasileira e principalmente inseriram o Brasil como player mundial na produção de alimentos. Assistimos a Revolução Verde de Norman Borlaug nos anos 70, a segunda revolução verde que foi a conquista do cerrado, graças à transferência dos resultados de pesquisa, o estabelecimento com sucesso da integração Floresta x Lavoura x Pecuária, e adoção do sistema de semeadura direta, a agricultura com ar e água limpos. Hoje, a sustentabilidade da produção agrícola e a adequação ambiental são indissociáveis, grandes avanços estão ocorrendo na agropecuária brasileira e para continuarmos crescendo e nos firmarmos nas posições de liderança da produção, o Brasil precisa também posicionar-se na liderança da implan- tação de ações de sustentabilidade e, para tanto, retomamos a frase do inicio deste texto: O Solo é a Pátria, cultivá-lo é engrandecê-la, porém nos ajustamos às demandas da sustentabilidade, devemos empenhar todos os nossos esforços para que possamos dizer com orgulho que: “O Solo é a Pátria, cultivá-lo e conservá-lo é engrandecê-la e garante a sustentabilidade e a vida”. 46
  • 47. Maio/2012 JUNHO AGRICULTURA E BIODIVERSIDADE DE QUEM É O AMBIENTE? O CANARINHO VOLTOU GESTÃO TERRITORIAL ESTRATÉGICA PARA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL A 150 KM POR HORA A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA E A RIO+20 SEGURANÇA JUNHO ALIMENTAR E AMBIENTAL NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FUNDAÇÃO AGRISUS COMPELTA 11 ANOS DE APOIO A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL 47
  • 48. AGRICULTURA E BIODIVERSIDADE Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul- dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu). Quando se discute biodiversidade, Amazônia, pecuária e agricultura são temas normalmente recor- rentes. A noção que se alardeia é a de que o desenvolvimento da agricultura e da pecuária ameaça a Amazônia, a biodiversidade do Brasil e a vida no mundo como conhecemos. Será? Pesquisa publicada recentemente na revista científica Nature estudou a cadeia produtiva de 15 mil produtos e procurou determinar como o consumo em um país afeta a biodiversidade em cada local, mundialmente. Concluiu-se que aproximadamente 30% das ameaças à biodiversidade na Terra vem do comércio internacional. Neste ranking, o Brasil aparece como importador líquido de biodiversidade, ou seja, 76 espécies são impactadas pelos produtos importados pelo Brasil, enquanto que nossa produção para exportação impacta 35 espécies. O que isso significa? O Brasil é um grande exportador de commodities - produtos não industrializados ou semi-industrializados, como, por exemplo, os agrí- colas. Então, toda nossa agricultura pode impactar menos a biodiversidade do que nosso consumo. Em outras palavras: as cidades, onde se consome, podem impactar mais a biodiversidade do que o campo propriamente, onde se produz. O trabalho é muito oportuno no momento em que se discute os vetos ao texto do Código Florestal Brasileiro, que certamente afetarão a produção de alimentos, a estrutura agrária e a renda, principal- mente de pequenos e médios produtores do Sul e Sudeste. Até que ponto vale pagar esse pesado preço social e econômico, uma vez que os hábitos de consumo da população podem ter maior im- pacto na biodiversidade? Até que ponto proibir os agricultores de produzir em suas áreas mais fér- teis, recuperando matas legalmente eliminadas, vai melhorar a biodiversidade do planeta? Perguntas para as quais não há resposta correta no momento. Mas há, sim, indicativos de que o impacto seria pequeno, se houver. Muito mais importantes seriam as mudanças nas cidades e no consumo, como mostra o estudo. Passou da hora de se buscar diagnósticos melhores e, assim, desenvolver ferramentas adequadas para garantir a sustentabilidade da vida. Palpites e ideologias não podem gerar e nutrir leis que preju- diquem nossa renda, nossa economia, nossa sociedade. Alguém poderia, com segurança, apontar quantas e quais espécies foram extintas no Sul e Sudeste do Brasil em função da ocupação dos espaços pela agricultura? Mais importante no momento é saber como será afetado o equilíbrio es- 48
  • 49. tabelecido nestas áreas nos últimos séculos, com a reimplantação de florestas. Ou seja, qual o real benefício desse enorme sacrifício? Nova intervenção em áreas consolidadas não poderia gerar novos problemas? É fundamental lembrar que a recomposição florestal, além de cara, exige o uso de insumos modernos como fertilizantes e defensivos. O desenvolvimento agrícola, utilizando técnicas adequadas em áreas já em uso, pode contribuir mais para manter a biodiversidade, uma vez que os alimentos, matérias primas e agroenergia terão que ser produzidos em áreas já desmatadas ou não. O melhor caminho é o aumento na produtividade com tecnologia, usando mais adequadamente as áreas agrí- colas já consolidadas. Junho/2012 49
  • 50. DE QUEM É O AMBIENTE? Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Facul- dade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu). É definida na Constituição Federal a função social da terra, que é cumprida quando os seguintes req- uisitos são atendidos: a) aproveitamento racional e adequado; b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; c) observância das disposições que regulam as relações de trabalho e d) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. A produção de matérias primas, alimentos e agroenergia, segundo técnicas agronômicas adequadas, cumpre a função social da terra, pois produz bens fundamentais à sociedade, respeita o ambiente e gera empregos e renda aos trabalhadores e agricultores. Isso vem ocorrendo, inclusive, em áreas des- matadas legalmente nos últimos séculos. Com o que se propõe na nova legislação, essas áreas deverão ter a floresta recomposta. Segundo consta, os agricultores deverão arcar com o custo do reflorestamento. Consequentemente, não haverá mais produção de outros bens nessas áreas, postos de trabalho desaparecerão e a renda do agricultor diminuirá. Como fica então a função social da terra, uma vez que será diminuído em diversos graus o bem-estar dos proprietários e trabalhadores? Atualmente, os bens produzidos nessas áreas são consumidos ou comercializados, gerando trabalho e renda. Quem paga pelos bens é a sociedade, os cidadãos que consomem alimentos, fibras e energia. Nada mais justo, pois são eles que usufruem. Se eu necessito de arroz, compro arroz, se necessito de carro, compro carro, se vou abastecer o carro com álcool, compro álcool. Assim funciona a sociedade e a economia. Os bens têm um valor, segundo sua disponibilidade e necessidade, ou segundo a oferta e a demanda. Aí vem a questão: quem usufrui do ambiente? Ora, todos nós respiramos, sentimos frio, calor, depen- demos da biodiversidade para sustentar nossa vida no planeta Terra. Assim, como todos os cidadãos usufruem do ambiente, a sociedade usufrui dele. Do mesmo modo que o faz com outros bens. Seria então correto dizer que o ambiente pertence à sociedade? Talvez. Mas, neste caso, quem cuida dele? Se precisarmos de um serviço, normalmente ele é contratado e pago, como tantos outros bens. Agora vamos considerar que as áreas desmatadas nos últimos séculos, mesmo que legalmente, sejam reflorestadas, como indica a legislação proposta. Já vimos que a função social da terra nessas áreas 50
  • 51. será prejudicada. Mas, além disso, quem deveria arcar com os custos da recomposição? Se o ambi- ente é da sociedade, um bem público, quem deveria pagar por isso seria a sociedade, ou, no caso do Brasil, o governo. Uma vez recomposta a floresta, alguém deverá cuidar. No caso, os agricultores. Ou seja, os agricultores prestariam um serviço à sociedade, estariam fornecendo um bem a ser consumido por ela e, portanto, deveriam receber por isso. Se a sociedade arcar com os custos da recomposição florestal das áreas legalmente desmatadas, a justiça será cumprida, assim como a Constituição Federal. Sim, porque o trabalho e a renda - gerada atualmente por outros bens -, serão mantidos com os recursos advindos dos serviços prestados pelos agricultores ao plantar e cuidar das florestas, os famosos serviços ambientais. Basta que a remunera- ção dos cuidadores seja equivalente àquela que se obteria, por exemplo, ao valor do arrendamento na região. Junho/2012 51