1) O documento discute estilos parentais e práticas educativas, identificando fatores de risco e protetivos para o desenvolvimento de problemas de comportamento em crianças e adolescentes.
2) É apresentada uma classificação das práticas educativas parentais em técnicas coercitivas e indutivas, discutindo seus efetos no desenvolvimento da criança.
3) Fatores como afetividade parental, determinantes das práticas parentais e sistemas de crenças dos pais também são abordados.
4. 4
Psicologia do Desenvolvimento
• Relações familiares = área de
pesquisa
• Temas:
–Interação entre pais e filhos
• Processos normativos do
desenvolvimento
• Etiologia de aspectos patológicos do
comportamento de crianças e
adolescentes
5. 5
Identificar e descrever
• A) As atitudes parentais:
– Crenças e valores que servem de base para
suas ações;
• B) As práticas educativas parentais:
– Estratégias específicas utilizadas em
diferentes contextos;
• C) Os estilos parentais:
– Conjunto de atitudes, práticas e expressões
que caracterizam a natureza das interações
pais-filhos nas diversas situações.
6. 6
Estudos
• Comportamento anti-social, o distúrbio de
conduta e a delinquência = mesma
variável
• Não surgem repentinamente na
adolescência
• São precedidos por comportamentos anti-
sociais na infância e tendem a
permanecer na idade adulta.
7. 7
Manifestação destes
comportamentos
• Altera-se ao longo do desenvolvimento
• Por exemplo:
– Criança anti-social – problemas na escola
– Adolescente – roubos
– Adulto – agressivo com o cônjuge e
negligente com os filhos
• Estas alterações → mudanças tanto em
nível individual (amadurecimento) como
em nível ambiental (oportunidades)
8. 8
Estudos
• Correlação estreita entre as
características dos pais ou
familiares e/ou dinâmica
familiar e o posterior
desenvolvimento de diversos
tipos de distúrbios de
comportamento.
10. 10
FATORES DE RISCO E
FATORES PROTETIVOS
PARA O
DESENVOLVIMENTO DE
PROBLEMAS DE
COMPORTAMENTO EM
CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
11. 11
Vulnerabilidade
Situações adversas
↓ ↓ ↓
diferentes respostas → adaptativas
↓
outras de maiores riscos
O tipo de resposta do indivíduo depende da
sua vulnerabilidade.
12. 12
Vulnerabilidade
• Predisposição para o desenvolvimento de
disfunções psicológicas ou de respostas
pouco adequadas à ocasião.
• Refere-se a uma variável individual.
• Opera sómente quando um risco está
presente.
• Risco – envolve o ambiente em que o
indivíduo está inserido.
13. 13
Fatores de Risco
• Condições que estão associadas a uma
alta probabilidade de ocorrência de
resultados negativos ou indesejáveis.
• Incluem comportamentos que podem
comprometer a saúde, o bem-estar ou o
desempenho social do indivíduo.
– Ex: criança em situação de risco = com
desenvolvimento fora de sua faixa etária e de
sua cultura.
14. 14
Fatores de Risco
• Características individuais:
– Sexo, variáveis demográficas, habilidades
sociais e intelectuais, história genética e
aspectos psicológicos;
• Características ambientais:
– Eventos estressantes de vida, área
residencial, apoio social, características
familiares e culturais.
15. 15
Eventos estressantes
• Quaisquer mudanças no
ambiente que normalmente
induzem a um alto grau de
tensão e interferem nos
padrões normais de resposta
do indivíduo.
16. 16
Fator de risco
• Para o desenvolvimento psicológico e
social:
– Baixo nível sócio-econômico
Para famílias pobres:
– Baixa remuneração parental,
– Baixa escolaridade,
– Famílias numerosas,
– Ausência de um dos pais.
17. 17
Fator de risco
• Para problemas de comportamento, como
delinquência ou distúrbio anti-social:
– Práticas parentais exercidas na família,
– Problemas de comportamento na infância,
– Comportamento anti-social em algum
membro da família,
– Abandono ou pouco envolvimento escolar.
18. 18
Fatores de risco
• Para problemas de comportamento, como
delinquência ou distúrbio anti-social →
• Variáveis familiares:
– Negligência parental,
– Padrões parentais inadequados de cuidado e
supervisão,
– Modelos inapropriados de responsabilidade
social e desempenho acadêmico
19. 19
Fatores protetivos
• São influências que modificam, melhoram
ou alteram a resposta dos indivíduos a
ambientes hostis (que predispõem a
consequências mal adaptativas).
• São condições ou variáveis que diminuem
a probabilidade do indivíduo desenvolver
problemas.
20. 20
Fatores protetivos
• São a contra parte positiva
dos fatores de risco.
• Incluem características
individuais e ambientais.
21. 21
Fatores protetivos
• Três categorias:
• 1) atributos disposicionais da criança
– Atividades, dificuldades, autonomia, orientação social
positiva, auto-estima e preferências;
2) características familiares
- coesão, práticas efetivas, bom funcionamento
familiar, vínculo afetivo, apoio e monitoramento
parental;
3) apoio individual e/ou institucional
- para a criança e para a família.
22. 22
Família
• Fator protetivo e fator de risco.
• É o grupo social básico do
indivíduo.
• Relações entre pais e filhos =
enorme complexidade.
23. 23
Família
• Responsável pela socialização da criança:
• adquirem comportamentos, habilidades e
valores apropriados e desejáveis em sua
cultura;
• internalização de normas e regras →
desempenho social mais adaptado e a
aquisição de autonomia;
27. 27
Definição e Perspectivas Históricas
• Práticas educativas parentais –
influências filosóficas e
socioeconômicas.
• Filosofia:
• “natureza pecaminosa” X
“natureza virtuosa”
28. 28
“Natureza pecaminosa”
• Hobbes – teologia judaico-cristã.
• Salvação da alma da criança, por Deus,
com auxílio dos pais;
• Pais = inibir os desejos das crianças,
utilizando sua autoridade, para preservar
a ordem definida pela religião e pela
tradição cultural.
29. 29
“Natureza virtuosa”
• Rosseau
• O melhor é permitir à natureza seguir seu
curso;
• A intervenção no desenvolvimento da
criança poderia degenerá-la;
• Educadores = não darem nenhuma ordem
às crianças, mas deixarem que
aprendessem com sua própria
experiência.
30. 30
Influências sócio-econômicas
• Séc. XVIII – altas taxas de mortalidade
infantil:
–preocupação dos pais se iriam ou não
criar seus filhos e não como criá-los;
–como criar um filho, para que tivesse
uma vida longa;
–Evitavam estabelecer uma ligação
afetiva próxima e profunda com o
filho.
31. 31
Séc. XVIII e XIX
• Ética da Revolução Industrial:
• desenvolver
–o comportamento moral,
–a integridade,
–a honestidade,
–o espírito trabalhador e
–a cortesia no indivíduo.
32. 32
Início do Séc. XX
• Criação infantil – opinião e
supervisão médica:
• Objetivo de redução dos índices de
mortalidade – atenção à higiene e à
prevenção de doenças.
• Paralelo entre higiene física e higiene
mental = estabelecimento de hábitos
regulares.
33. 33
Séc. XX
• Valorização de outras necessidades
da criança, além da sobrevivência:
–Necessidades psicológicas, como
atenção e amor;
–Os pais precisaram modificar suas
atitudes e exigências em relação
aos filhos;
–respeitar os direitos das crianças →
postura excessivamente permissiva
35. 35
Classificação das Práticas
Educativas Parentais e seus Efeitos
sobre o Desenvolvimento
• Hoffman (1975, 1979):
• Técnicas coercitivas = aplicação ou a ameaça
de uso direto de força, punição física e privação
de privilégios;
• Técnicas indutivas = uso da explicação;
descrição de regras ou das consequências
físicas e emocionais do comportamento, para as
outras pessoas.
37. 37
Técnicas coercitivas
• Objetiva forçar a criança a
comportar-se de forma
apropriada.
• Forma = Verbalmente, por
ordens e comandos e
fisicamente (punição física).
41. 41
Punição
• Ponto de vista cognitivo: sanções
externas permitem que a criança
avalie seu comportamento.
• Processo de condicionamento –
inibe certos comportamentos →
gera ansiedade, medo e
hostilidade.
43. 43
Punição
• Ansiedade – dificuldade de perceber
“por que está sendo punida” e qual a
forma adequada de se comportar.
• Os efeitos da punição – limitados ao
tempo, ao lugar e ao agente punidor.
47. 47
“Punição psicológica”
• Privação de privilégios e de afeto.
• Privação de afeto = ameaça de
rompimento de um forte laço
emocional entre os pais e a
criança
• Gera insegurança e ansiedade.
49. 49
Privação de afeto
Formas de expressão:
• Desaprovação;
• Indiferença;
• Isolamento da criança;
• Privação condicionada de amor
– “Eu não gosto de v. quando v. faz isso!”
• Ameaça da perda permanente de amor
– “Eu vou embora …”
53. 53
Técnicas indutivas
• Termo “indução” – Hoffman (1975,
1979, 1994) = uso da explicação;
• Modificar o comportamento por meio
da descrição de regras ou das
consequências físicas e emocionais
do comportamento, para as outras
pessoas.
55. 55
Processo de socialização
• Pais – estratégias disciplinares →
desejam que a criança se desenvolva e
se torne:
–independente de sanções externas,
–socialmente responsável,
–capaz de regular seu próprio
comportamento,
–internalize as normas sociais – sistema
de valores.
57. 57
Indução
• Facilita a internalização de normas
morais e sociais.
• Direciona a atenção da criança para
as consequências de seu
comportamento sobre as outras
pessoas (mais do que para a punição
em si mesma) e para as exigências
lógicas da situação.
58. 58
Técnicas indutivas
• Influenciam mais efetivamente
crianças e adolescentes –
internalização de valores dos pais (do
que métodos coercitivos).
• Controle parental firme na infância →
necessidade de poucas regras na
adolescência.
59. 59
Crianças pré-escolares
• Explicações complexas são pouco
efetivas (confundem a criança, não
facilitam a obediência, nem o
comportamento pró-social).
• Explicar brevemente as regras;
• Providenciar uma consequência firme
para o comportamento inadequado.
60. 60
Comportamento típico
• Disciplina indutiva =
Independência de sanções
externas, capacidade de empatia
e de sentir culpa.
• Disciplina coercitiva = Medo do
castigo externo e de punição.
62. 62
Práticas educativas inconsistentes
• Inconsistências dos pais:
• Um mesmo comportamento ora é
punido, ora é recompensado,
sem razão.
• Um pai recompensa, outro pai
pune, o mesmo comportamento.
63. 63
Práticas educativas inconsistentes
• Não fica claro quais padrões de
comportamento são esperados e
adequados
→ maior risco de desenvolver
distúrbio de conduta e
comportamento delinquente.
66. 66
Afetividade
• Afetividade = expressão emocional
de amor.
• Elemento importante na relação pais-
filhos.
• Práticas disciplinares efetivas – pais
envolvidos emocionalmente com os
filhos; ofereçam amor e apoio.
68. 68
Afetividade
• Filho – mais receptivo para as
técnicas disciplinares; segue o
exemplo dos pais; sente-se
emocionalmente seguro; é empático
com os outros.
• Facilita o desenvolvimento da
consciência e a internalização de
normas sociais.
70. 70
Afetividade
• Não quer dizer aprovação
incondicional.
• Falta de afetividade ou rejeição
parental:
– desajustamento social da criança;
– agressividade ou delinquência (quando
combinada com punição severa)
74. 74
• São as práticas parentais que
produzem o comportamento
da criança ou é o
comportamento da criança
que determina a prática de
socialização utilizada pelos
pais?
76. 76
Determinantes das Práticas
Parentais
• Modelo de influência recíproca é mais
aceito
• Hoffman (1994):
– as técnicas disciplinares antecedem o
comportamento da criança;
– Os pais possuem maior poder sobre estas;
– a criança deve se ajustar aos pais;
78. 78
Sistema de crenças dos pais
• Atribuição dos pais para o
comportamento dos filhos:
– acreditar que não são
completamente competentes ou
responsáveis – técnicas indutivas;
– acreditar que a criança previu e
causou intencionalmente – técnicas
coercitivas.
79. 79
Escolha da técnica educativa
• Depende da percepção de culpa da
criança sobre as consequências de
seu comportamento.
• Características dos pais, como
educação e valores pessoais, afetam
seus padrões disciplinares.
81. 81
Definição e Classificação dos
Estilos
• Dois parâmetros de
diferenciação dos estilos –
responsividade e exigência
82. 82
Responsividade
• Sincronicidade do comportamento de
filhos e cuidadores.
• Características:
– Reciprocidade,
– Comunicação,
– Afetividade,
– Apoio,
– Reconhecimento e respeito à individualidade
do filho.
83. 83
Exigência
• Disponibilidade dos pais para agirem
como agentes socializadores:
– Supervisão,
– Monitoramento do comportamento dos filhos,
– Estabelecimento de expectativas de
desempenho,
– Cobrança,
– Disciplina consistente.
85. 85
Pais autoritários
• Alta exigibilidade e baixa
aquiescência;
• Rígidos, impõem valores, regras e
punições – respeito às tradições;
• Relação unilateral – obediência à
hierarquia e conformismo;
86. 86
Pais indulgentes
• Alto nível de responsividade e
baixo nível de exigência;
• Tolerantes e afetivos,
complacentes;
• Dificuldades em impor limites;
87. 87
Pais negligentes
• Baixo nível de exigência e
responsividade;
• Pouco interesse em dar apoio
emocional aos filhos; não
demonstram afetos;
• Não se interessam pelas atividades e
sentimentos dos filhos;
88. 88
Pais autoritativos
• Alto grau de responsividade e de
exigência;
• Interação – conselhos, regras e normas;
• Controle afetivo e protetivo;
• Encorajamento da liberdade e da
autonomia; abertura ao diálogo;
• Reconhecem os interesses individuais da
criança, suas qualidades e competências;
91. 91
Pais autoritários
• Filhos – limite na capacidade de auto-
regulação :
→ alta competência acadêmica e
baixos índices de problemas de
comportamento ;
→ baixa auto-estima e auto-eficácia.
92. 92
Pais indulgentes
• Filhos:
• autonomia e boa auto-estima
• problemas de externalização
(hiperatividade, agressividade,
abuso de substâncias ilícitas e
delinquência)
93. 93
Pais negligentes
• Filhos:
• comprometimento do desenvolvimento
psicológico
→ prejuízo na competência social e
acadêmica;
→ depressão, ansiedade, somatizações
e problemas de externalização.
94. 94
Pais autoritativos
• Filhos = adaptação psicológica sadia:
– Maiores níveis de auto-estima;
– Autoconfiança;
– Autoconceito positivo;
– Competência social;
– Melhor rendimento escolar;
– baixo índice de depressão, ansiedade,
delinquência e abuso de drogas.
97. 97
Nível sócio-econômico (NSE)
• NSE baixo – mais restritivos e
autoritários, usam mais da força;
• NSE alto – mais permissivos ou
autoritativos;
• Diferenças mais pronunciadas em
relação aos filhos homens do que às
filhas.
98. 98
Escolaridade dos pais
Baixa escolaridade:
• Estilo mais autoritário;
• Poucos recursos pessoais dos
pais para lidarem com o
comportamento dos filhos;
• Repetem modelos autoritários de
seus pais (?).
99. 99
Influência dos pais
• Mais importantes para os
adolescentes de NSE mais alto do
que para os de NSE baixo;
• Classe média – menor número de
filhos – maior proximidade entre os
membros;
• Atualmente - cultura de maior
dependência dos filhos.
100. 100
Tipo de filiação
• Visão dos adolescentes:
• Biológica – estilo parental negligente
• Adotiva – estilo mais indulgente e
autoritativo
–Alto investimento afetivo; compensarem
estresses anteriores da criança;
insegurança pela valorização da
consanguinidade
101. 101
Idade dos filhos
• Quanto mais velhos, percebiam
os pais mais como autoritativos,
menos permissivos e autoritários
• Hipótese: diferenças na criação
de acordo com a ordem de
nascimento e a idade?
102. 102
Gênero da criança e dos pais
• Os jovens descrevem:
• Mãe – responsividade, compreensão
e aceitação
• Pai – julgador, menos disponível à
discussão de sentimentos, dúvidas e
problemas
103. 103
Gênero da criança
Os pais tendem a ser :
• mais autoritários ou negligentes
com os meninos;
• Mais autoritativos ou indulgentes
com as meninas.
104. 104
Estilo parental
Visão dos pais e dos filhos:
• Filhos – visão mais negativa das atitudes
parentais;
• Quanto maior a discrepância na visão
sobre o funcionamento familiar, menor é o
bem-estar psicológico dos adolescentes,
ao longo do tempo.
• Discrepâncias são maiores em períodos
de mudança – adolescência.
107. Referências
• HUTZ, C.S. (org.) Situações de Risco e
Vulnerabilidade na Infância e na
Adolescência – aspectos teóricos e
estratégias de intervenção. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2002.
107