Este documento discute o caso de uma criança de 9 anos de idade, Joana, que foi removida de uma situação de negligência familiar e colocada em um abrigo. Ela recebeu intervenção psicológica e pedagógica para melhorar suas habilidades de aprendizagem, bem-estar emocional e relacionamentos. Após um ano, os resultados mostraram uma evolução significativa nos níveis de estabilidade emocional, motivação para aprender e desempenho acadêmico.
Tenho 9 anos e estou no 2º ano. E agora? O papel da psicologia clínica na transformação cerebral
1. “Tenho 9 anos e estou no 2º ano! E agora?”: Papel
da psicologia clinica na transformação cerebral.
Carina Pinto(1), Andreia Baptista(2), Teresa Martins(3), Mauro Paulino(4), Manuel Matias(5)
Introdução
Joana (nome fictício), de 9 anos de idade, frequentava o segundo ano do
ensino básico. Fruto de uma relação conturbada e alvo de negligência
familiar, foi acolhida juntamente com a sua mãe e irmãos na Casa de Abrigo
“Nova Esperança”, onde permaneceu um ano.
Assumindo que, as relações estabelecidas ao longo da vida, são
fundamentais no desenvolvimento do ser humano e a aprendizagem
remete para um processo relacional potenciado pela afetividade, muitas
poderão ser as necessidades sentidas por esta criança. A relação terapêutica
assume um papel crucial e facilitador das aprendizagens e crenças,
relacionadas com o processo de desenvolvimento, uma vez que, através
dela, podemos conferir significado ao que a criança sente, compreender
quais as suas reais dificuldades e a forma como compreende o que aprende.
Desenho:
Primeira avaliação Reavaliação
Escrita:
Primeira avaliação Reavaliação
Motivação para a aprendizagem:
Primeira avaliação Reavaliação
1,2 Psicólogas Clinicas - Área da Violência Doméstica na Cooperativa Pelo Sonho É Que Vamos.
3 Psicóloga Clinica, Gabinete de intervenção e orientação psicológica e pedagógica
4 Psicólogo Forense no Gabinete Médico-Legal e Forense de Setúbal. Diretor da Intervenção na
Área da Violência Doméstica na Cooperativa Pelo Sonho É Que Vamos.
5 Presidente da Direção da Cooperativa Pelo Sonho É Que Vamos
Email de contato: carina.r.pinto@gmail.com
Metodologia
Procedeu-se a uma avaliação psicológica através dos seguintes
instrumentos: WISC III, desenho da família, desenho da casa, Bar-Ilan,
avaliação da linguagem oral, bateria de provas fonológicas e estabeleceu-se
um plano de intervenção aliando o acompanhamento psicológico a uma
intervenção pedagógica.
Procedimento:
Sessões semanais de psicologia com o objetivo de promover a aquisição de
estratégias de gestão emocional e de estratégias comportamentais
adequadas.
Sessões semanais de intervenção neuropsicológica para estimulação
cerebral, promoção da leitura e da escrita, promoção da consciência
fonológica. Elaboração de um programa de exercícios específicos com o
objetivo de melhorar a sua capacidade de concentração, visão espacial,
atenção, memória, raciocínio lógico e linguagem.
Ao fim de um ano procedeu-se à reavaliação global da criança.
Resultados
Os resultados da avaliação revelaram a presença de sinais de instabilidade
emocional, desmotivação em relação à escola, dificuldade no
estabelecimento de relações interpessoais e um funcionamento intelectual
situado na banda média-inferior que justifica as dificuldades de
aprendizagem reveladas.
Após a intervenção efetuada, verificou-se uma evolução significativa ao
nível das aprendizagens escolares e motivação para a aprendizagem,
nomeadamente na aquisição de competências ao nível da leitura e da
escrita e do desenho, bem como um aumento nos níveis de estabilidade
emocional.
Conclusão
O papel do outro desempenha uma importância fundamental no
desenvolvimento e processo de aprendizagem. O estabelecimento de um
relacionamento terapêutico, proporciona um “porto-seguro” para construir
e revelar-se a si mesma, ser aceite e compreendida nas suas diversas
dificuldades.
Através de uma intervenção baseada na afetividade e compreensão do
outro é possível obter resposta às necessidades da criança.
O bem-estar das crianças, deve ser uma temática central, na atualidade,
tendo em conta, não só todas as mudanças no sistema educativo, como no
sistema familiar. Não se trata apenas avaliar o funcionamento cognitivo e
equilíbrio emocional da criança, trata-se também de perceber as variáveis
que podem estar relacionadas, para que se encontrem estratégias
adequadas e facilitadoras da gestão do processo de aprendizagem e
emocional da criança.
WISC III:
Primeira avaliação Reavaliação
Resultado padronizados Resultados padronizados
Informação : 5 (< média da sua idade ) Informação : 7 (< média da sua idade )
Vocabulário: 7 (< média da sua idade ) Vocabulário: 9 (< média da sua idade )
Compreensão: 7 (< média da sua idade ) Compreensão: 9 (< média da sua idade )
Casa de Abrigo
“Nova Esperança”