SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 24
20/05/2013
O que deve fazer aquele que, no último momento, na hora
da morte, reconhece as suas faltas, mas não tem tempo
para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso?
Resposta dos Espíritos — O arrependimento apressa a
sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro
pela frente, que jamais se lhe fecha?
Texto retirado do „Livro dos Espíritos‟
(Livro Quarto – Cap. 2 – Item VI)
Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes nomes do
iluminismo, nasceu em Genebra, no ano de 1712. Não
conheceu sua mãe, pois devido a complicações do parto,
veio a falecer dias após seu nascimento. Quando completou
dez anos de idade, seu pai envolveu-se em uma discussão
com pessoa importante da cidade, e, com receio de
represálias, fugiu, deixando o filho para ser educado por um
tio. Segundo seus biógrafos, o fato de Rousseau não ter
Tornou-se, na vida adulta,
compositor auto-didata, teórico
político, filósofo e escritor.
Contribuiu amplamente para as
grandes reformas ocorridas na
América e na Europa, no século
XIX, com seus ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade, sendo
ainda um dos colaboradores da
famosa Enciclopedie, de Diderot e
D´Alembert. Escreveu vários livros,
influenciando diversas culturas e
gerações. Foi um daqueles homens
que não passam despercebidos,
pois possuía conhecimentos
bastante avançados para sua
época – visões que romperam com
os paradigmas vigentes, trazendo
Um de seus escritos, de
estrondoso sucesso, chama-se
„Emílio, ou Da Educação‟. Nesta
obra, Rousseau cria um
personagem fictício, de nome
Emilio e vai, no transcorrer de
seus escritos, contando ao leitor
sobre a forma como ele educa
este personagem. O objetivo de
Emílio é “formar um homem
livre; e o verdadeiro amor pelas
crianças…”.Hoje esta obra é
vista não apenas como uma
referência obrigatória para
todos os educadores [pais,
professores, etc], mas, acima
de tudo, como uma lição de
vida.
Entretanto, Rousseau, este mesmo homem, filósofo, escritor, teve seus cinco
filhos. E os abandonou, a todos, em orfanatos.
No prefácio de sua obra, o tradutor assim comenta:
“Como levar a sério um livro sobre a educação escrito por um homem que
abandonou os cinco filhos que teve com Thérese Levasseur? Esta questão
prévia, repetida pelos jovens leitores de ontem e de hoje, deve ser colocada,
não para ser ela própria levada a sério, mas para que nos desvencilhemos
dela de uma vez por todas. Rousseau é daqueles que acham que não há
covardia pior do que o abandono dos filhos que se teve o prazer de fazer.
Escreveu Rousseau em sua obra Emilio: “Um pai, quando gera e sustenta
filhos, só realiza com isso um terço de sua tarefa. Ele deve homens à sua
espécie, deve à sociedade homens sociáveis, deve cidadãos ao Estado.
Todo homem que pode pagar essa dívida tríplice e não paga é culpado, e
talvez ainda mais culpado quando só paga pela metade. Quem não pode
cumprir os deveres de pai não tem direito de tornar-se pai. Não há pobreza,
trabalhos nem respeito humanos que os dispensem de sustentar seus filhos
e de educá-los ele próprio.Leitores, podeis acreditar do que digo. Para quem
quer que tenha entranhas e desdenhe tão santos deveres, prevejo que por
muito tempo derramará por sua culpa lágrimas amargas e jamais se
Foi justamente por sentir-se culpado que Rousseau
escreveu Emilio (de 1757 a 1762). Não podemos
pretender que o livro não tenha nada para nos ensinar
porque seu autor não o colocou em prática. Para isso,
seria necessário inverter a cronologia e proibir a Rousseau
toda a oportunidade de um arrependimento sincero que
busca a reparação.
Afirmou o autor de Emílio:
“Não escrevo para desculpar meus erros, mas para
impedir meus leitores de os imitar”.
Jean-Jacques influenciou sobremaneira alguns pensadores,
tais como Johann Pestalozzi, fundador da escola de Yverdun,
na Suiça, mestre de Allan Kardec. Portanto, podemos dizer
que Rousseau é o avô espiritual de Kardec nas questões da
educação. Levando-se em conta de que o codificador da
Doutrina Espírita [assim como Pestalozzi] era pedagogo, logo
percebemos o quanto a obra Emílio foi importante para todos
os três e tantos outros. E se Rousseau influenciou
sobremaneira Kardec, nós outros, daqui deste lado do
Planeta, 155 anos após Kardec, somos também influenciados
por suas idéias fantásticas de educação através do amor e da
liberdade.
Sabemos ainda, através dos escritos do final da vida de Jean-
Jacques Rousseau, que ele tentou resgatar todos os seus
filhos dos orfanatos, porém não teve sucesso. Portanto, de
seu arrependimento e expiação vemos surgir a busca pela
reparação, se não diretamente aos prejudicados, através
O escritor Catullo da
Paixão Cearense, em
seu poema “A Dor e a
Alegria” afirma que “a
dor é como um
relâmpago; no escuro
assusta a gente, mas
alumeia os
caminhos.” Rousseau
aprendeu o verdadeiro
sentido desta frase,
trezentos anos antes de
ser pronunciada por
Catullo.
Na atualidade, enfrentamos muitos dilemas quando
analisamos a questão da culpa.
Cada vez mais tomamos consciência de como as teorias
individualistas ocidentais estão equivocadas no que se
refere à realidade do ser. Tanto através da lente Espírita,
como das ciências dita humanas, temos tido contato com
outra realidade: a de que pertencemos ao todo, influenciando
e sendo influenciados, num mar de experiências, onde tudo
se modifica, continuamente, através das relações. Não é
possível explicar o ser em separado do meio onde ele atua.
Não podemos deixar de considerar o tempo histórico e a
cultura onde está inserido, sob risco de cometermos erros
crassos, subtraindo influências importantes e, pior, não
reconhecendo sua real essência neste meio.
Com isso, já percebemos a urgência de um olhar mais
holístico, vislumbrando o sujeito com todas as suas faces.
O ser como sendo um sujeito bio-psico-sócio-espiritual,
pois é o que somos, sendo que o Espírito, o ser imortal,
criado simples e ignorante, com potencialidades de
perfeição relativa e que vai, através de vidas sucessivas
evoluindo, é sua essência, o seu verdadeiro eu, com o
qual atua no mundo, através de sua porção biológica,
com mecanismos psicológicos característicos, dentro de
uma sociedade, em determinada cultura e em
determinado tempo histórico.
Quando ampliamos este nosso olhar, vamos
aproximando da realidade, e, com isso, podemos
melhorar nosso
entendimento, conseguindo, refletir melhor sobre
nossas ações e implicações destas
em nossas vidas e no meio onde atuamos.
Na cultura judaico-cristã, o medo dos fiéis alimentou, por séculos, o poder de
alguns, através do mecanismo da culpa. Neste contexto, já nascíamos
culpados, afinal somos descendentes de um erro imperdoável: nossos
ancestrais Adão e Eva que, num ato de muita insensatez, (pela visão religiosa
tradicional) abdicaram do maior presente de Deus – o paraíso na Terra -
trocando-o pelo fruto da árvore da sabedoria. Somos culpados por desejarmos
algo saber. Sendo assim, a ignorância seria o melhor remédio, aceitando
dogmas irrevogáveis e, inquestionáveis. Talvez aí pudéssemos fazer as
pazes com Deus, por determinado tempo, desde que ainda contribuíssemos
com algo, de preferência material, pela „Causa de Deus na Terra‟.
Mas a nossa história com a culpa não pára por aí. Mulheres judias nascem
impuras, afinal, menstruam e sequer podem orar como os homens, nos
templos. Depois do ano 234 dC, quando criou-se a instituição católica, a culpa
continuaria presente. Homens deveriam lutar nas „guerras santas‟, trazendo
ouro para a igreja e diminuindo o número de „infiéis‟, através da espada. Se
assim fizessem, poderiam dormir com a consciência tranqüila, pois estariam
quites com Deus.
Hoje, a questão da culpa tornou-se ainda mais abrangente, de acordo
com a ideologia vigente. No capitalismo, somos culpados se não juntamos
capital. O fracasso consiste em não ser sucesso em seus negócios, nos
estudos, na empresa, no consumo. Para as mulheres, mais que isso:
fracassadas são as que não conseguem manter o padrão de beleza das
Jean-Yeves Leloup, o padre francês, autor do
livro 'Normose, a Patologia da Normalidade',
criou um conceito bastante interessante para
definir o contexto atual. Chamou de “normose”
tudo o que é aceito socialmente como sendo
algo normal, mas que, porém, causa sofrimento,
patologias e até mesmo a morte. As relações
fluidas, o consumo exacerbado, a busca pelo
padrão de beleza ideal, pelo sucesso, pelo
poder, etc., faz com que boa parcela da
população sofra, gerando sintomas de difícil
solução. Somos culpados por não
conseguirmos atingir a meta proposta, dentro
deste padrão de normose atual. E, buscando
encobrir a culpa, usamos máscaras sociais
que nos fazem parecer. Parecemos não errar,
parecemos ter, parecemos ser. Mas só
parecemos. Todos erramos, nada possuímos
[uma vez que tudo pertence a Deus e pode
nos ser retirado a qualquer momento] e,
Salientamos ainda que, se por um lado temos a
questão da culpa como produto social, não é menos
verdadeiro que temos tido contato, há mais de dois
mil anos, com outras formas de pensamento que nos
trazem reflexões sobre a situação do apego à
matéria e o descaso com as questões do Espírito.
Portanto, embora mergulhados numa ideologia
marcante e opressora, não nos faltam opções
filosóficas e religiosas neste contexto para que
possamos analisar nosso modo de ser e agir no
mundo e suas possíveis conseqüências.
Culpa é a consciência de um erro cometido através de um
ato que provocou algum prejuízo [seja material ou moral] a
si mesmo ou a outrem. A consciência do erro traz-nos
sofrimento.
E tal sentimento pode ser vivenciado de duas formas:
saudável ou patologicamente.
Chamaremos de culpa saudável aquela que nos leva ao
arrependimento sincero e que, embora revestido de dor,
impulsiona o ser à reparação.
Na origem da palavra, arrependimento quer dizer mudança
de atitude, ou seja, atitude contrária, ou oposta, àquela
tomada anteriormente. Ela origina-se do grego - Metanóia
(Meta=Mudança, Nóia=Mente) - Arrependimento quer dizer,
portanto, mudança de mentalidade.
Pessoas que se mantém com a consciência adormecida,
ao acordarem resgatam dores maiores, acumuladas devido
à cegueira espiritual em que se comprazem. Importante
ressaltar que nenhum filho está às margens do Amor do
Pai Celestial. Todos temos, em diversas oportunidades e
em variados contextos, contato com as verdades do Mundo
Maior. Preciso é que a boa vontade surja no cenário, sob
risco de ficarmos derrapando na estrada evolutiva além do
necessário, colhendo dores tardias. É preciso que exista o
arrependimento sincero. Ou seja, a mudança de
mentalidade.
Diagnosticamos o erro e não desejamos mais praticá-lo-
arrependimento. Porém, não ficaremos apenas na luta pela
não repetição do mal cometido, sentindo a dor da expiação
[a dor sentida pela dor causada]. Iremos além: no terceiro
[e imprescindível] passo, seguiremos em direção à
Allan Kardec, no livro O Céu e o
Inferno, no código penal da vida
futura, afirma que "o
arrependimento, conquanto seja
o primeiro passo para a
regeneração, não basta por si
só; são precisas a expiação e a
reparação. (...)
Arrependimento, expiação e
reparação constituem,
portanto, as três condições
necessárias para apagar os
traços de uma falta e suas
conseqüências".
Na culpa patológica temos, como resultado, apenas o
remorso, num pensamento em circuito fechado, no qual o ser
acredita [erroneamente] que, ao sentir a dor repetida está
pagando pelo mal cometido, resgatando seus débitos. Triste
ilusão, em que a pessoa que sofre mantem-se num
monodeísmo, autoflagelando-se, sem conseguir libertar-se ou
evoluir. Trata-se, aqui de um processo de congelamento
evolutivo, uma trava psicológica que leva a sérias patologias
da mente e do corpo se não percebidas e alteradas em pouco
tempo.
No remorso o sujeito enclausura-se em sua dor, lamentando-
se, acreditando não ser merecedor de nada bom, desistindo
de lutar, de reparar para libertar-se. Não consegue perceber a
função do erro e da dor na evolução de si próprio, estagnando
em águas tormentosas, num continuo sofrer sem sentido. O
remorso o faz sofrer, porém, não o liberta. Está acomodado na
queixa e na lamentação. Mais amadurecido psicologicamente
Com o advento da Doutrina Espírita, adquirimos conhecimentos
importantes, tais como o da reencarnação. Aprendemos, através
dela, que vivemos vidas sucessivas, num continuum evolutivo,
onde as experiências surgem como ferramentas preciosas,
impulsionando o ser à melhoria constante. Neste processo, a dor
pode ser comparada com o advento da febre no vaso orgânico,
que assinala algum problema infeccioso que deverá ser
diagnosticado para que possa ser tratado. Na alma, a dor tem o
importante papel de nos alertar sobre algo moral que não vai
bem.
Precisamos sair da postura persecutória em que
freqüentemente nos alojamos, analisando a dor como uma
inimiga. Muito ao contrário, ela deve ser vista como
oportunidade de conhecimento, de entendimento de nós
mesmos, para uma possível melhoria íntima real.
O que acontece é que, viciados neste „mal sofrer‟, seguimos
acumulando remorsos, distante ainda do objetivo maior, que é o
A Doutrina Espírita auxilia-nos sobremaneira na compreensão de todo esse
processo, pois nos revela a anterioridade do Ser, onde muitas vezes está a
gênese dos desequilíbrios do hoje.
Passamos a nos compreender como senhores de nossas ações e
tendemos, portanto, à mudança, libertando-nos do remorso patológico,
aprendendo a viver com mais responsabilidade.
Outro ponto que gostaríamos de citar é sobre os novatos, os que chegam à
Doutrina Espírita e começam a beber em suas fontes. Logo percebem a
grandiosidade da Mensagem reveladora e em muitos casos, assustam-se e
se esquivam de saber mais, amedrontados com a possibilidade de nunca
conseguirem realizar seus ensinamentos.
Outros, que persistem um pouco mais, porém que ainda não
compreenderam a Mensagem em toda a sua extensão, iniciam um processo
autopunitivo complexo, sofrendo demasiadamente a dor oriunda de seu
passado complicado.
Um exemplo: pessoas que fazem uso de drogas [mesmo as chamadas
licitas], ao aprenderem o que ocorre com o corpo espiritual [perispírito],
podem passar a sentir tremendas dificuldades intimas.
É preciso que se saiba que não importa o tamanho do problema ou do erro,
mas nosso empenho sadio nas escolhas do hoje que redundarão num futuro
Não temos mais controle sobre o que já fizemos. Isso é passado. Mas
podemos controlar o nosso próprio futuro e isso realmente depende
de nós.
Os erros nos ajudam sobremaneira na compreensão sobre os novos
caminhos que devem ser trilhados. São importantíssimos para nossa
evolução. Não fará sentido para nós determinadas escolhas se não
soubermos o porque decidi-las. A fé precisa ser raciocinada.
Devemos saber por que precisamos mudar, como mudar e quando
mudar.
E mesmo que não consigamos nos reformar em determinados
aspectos, o que aprendemos é que precisamos tornar a tentar, tornar
a tentar e tornar a tentar... setenta vezes sete vezes, se preciso for...
E se não tivermos a oportunidade de reparar o mal que fizemos com
determinada pessoa, diretamente? Busquemos não repetir o erro e
amemos muito.
Disse o apóstolo que “O amor cobre uma multidão de pecados”. (I
Uma outra história, mais antiga que a de Rousseau, mas que
inspira nossos corações sobremaneira, fala sobre uma mulher
nascida em uma época difícil, na cidade de Magdala. Chamava-se
Maria. Contam-nos alguns evangelistas que carregava em seu
psiquismo a presença de sete demônios, tendo sido curada por
Jesus. Hoje, através da Doutrina Espírita, aprendemos que tais
„demônios‟ eram, na verdade, Espíritos ainda ignorantes, voltados
temporariamente ao mal.
Afastaram-se de Maria sob a imposição Moral do Mestre, entretanto
cabe-nos salientar que, se não voltaram a importuná-la, foi devido
aos méritos que ela acumulou, através de sua reforma interior.
Humberto de Campos, no livro Boa Nova, conta-nos, de forma
emocionante, a história do encontro entre Maria e Jesus. Ela,
curvada pelo peso de sua culpa, carregando no íntimo muitas dores
nascidas do remorso constante, abre seu coração atormentado.
Jesus, o Grande Sábio, aponta novos caminhos: “Ame, Maria. Ame
muito. Ame os filhos de outras mães... escolha a porta estreita...”.
Nada de acusações. Apenas um pedido: que amasse muito, sem nada
esperar de volta. Foi o que fez.
Após a crucificação de Jesus, decidiu seguir os discípulos na divulgação da
Boa Nova. Entretanto, aqueles homens encharcados de preconceitos,
negaram-lhe a companhia. Teve de ficar às margens do Tiberíades, em
lágrimas, cheia de saudades e dor.
Foi quando viu chegarem na cidade diversos leprosos, em busca do
Mestre. Não sabiam que Ele já não pertencia àquele mundo, queriam ouvir
Sua voz, ouvir Seus ensinamentos e, quem sabe, conseguir a tão almejada
cura.
Maria não hesitou. Buscou-os e, em todas as tardes passou a divulgar os
ensinamentos que houvera aprendido com o amigo nazareno. Porém, em
pouco tempo aquelas pessoas foram expulsas de Cafarnaum e ela, com o
melhor sentimento de que dispunha, acompanhou-os para longe dali.
Seguiu seus dias cuidando, diuturnamente, dos doentes, amparando-os,
tentando minimizar suas dores, sua fome, sua tristeza.
Entretanto, depois de algum tempo percebeu manchas róseas em sua
pele. Estava com hanseníase, também.
Sentindo que o final se abeirava,
decidiu procurar pela mãe de Jesus,
Maria, e por João - seus amigos
diletos. Seguiu para Éfeso, mas não
conseguiu adentrar a cidade, caindo
pouco antes de sua entrada.
Logo após seu desencarne, viu-se
novamente às margens do Mar da
Galileia, encostada em uma grande
árvore. Ao longe, aproxima-se Jesus,
com os braços abertos, a dizer-
lhe:“Maria, já passaste a porta
estreita!...Amaste muito! Vem! Eu te
espero aqui!”.
Disse o apóstolo que “O amor
cobre uma multidão de pecados”.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (20)

O homem de bem, grande desafio
O homem de bem, grande desafioO homem de bem, grande desafio
O homem de bem, grande desafio
 
Bem aventurados os mansos e pacíficos
Bem aventurados os mansos e pacíficosBem aventurados os mansos e pacíficos
Bem aventurados os mansos e pacíficos
 
O maior mandamento
O maior mandamentoO maior mandamento
O maior mandamento
 
Palestra 22 a força do perdão
Palestra 22 a força do perdãoPalestra 22 a força do perdão
Palestra 22 a força do perdão
 
Injúrias E Violências
Injúrias E ViolênciasInjúrias E Violências
Injúrias E Violências
 
VISÃO ESPÍRITA DA MORTE
VISÃO ESPÍRITA DA MORTEVISÃO ESPÍRITA DA MORTE
VISÃO ESPÍRITA DA MORTE
 
OrfãOs
OrfãOsOrfãOs
OrfãOs
 
A dor na nossa evolução
A dor na nossa evoluçãoA dor na nossa evolução
A dor na nossa evolução
 
Que sua mão esquerda não saiba o que faz a direita
Que sua mão esquerda não saiba o que faz a direitaQue sua mão esquerda não saiba o que faz a direita
Que sua mão esquerda não saiba o que faz a direita
 
Missão dos Pais
Missão dos PaisMissão dos Pais
Missão dos Pais
 
Palestra ESE cap 8 bem aventurados puros
Palestra ESE cap 8 bem aventurados purosPalestra ESE cap 8 bem aventurados puros
Palestra ESE cap 8 bem aventurados puros
 
DOLOROSO REMÉDIO (O MAL E O REMÉDIO)
DOLOROSO REMÉDIO (O MAL E O REMÉDIO)DOLOROSO REMÉDIO (O MAL E O REMÉDIO)
DOLOROSO REMÉDIO (O MAL E O REMÉDIO)
 
Dia De Finados
Dia De FinadosDia De Finados
Dia De Finados
 
Perdão na visão espírita
Perdão na visão espíritaPerdão na visão espírita
Perdão na visão espírita
 
Capitulo XX - OS Obreiros do Senhor
Capitulo XX - OS  Obreiros do SenhorCapitulo XX - OS  Obreiros do Senhor
Capitulo XX - OS Obreiros do Senhor
 
Caridade na ótica espirita
Caridade na ótica espiritaCaridade na ótica espirita
Caridade na ótica espirita
 
Bem aventurados os puros de coração
Bem aventurados os puros de coraçãoBem aventurados os puros de coração
Bem aventurados os puros de coração
 
Cap 12 Amar os vossos Inimigos
Cap 12 Amar os vossos InimigosCap 12 Amar os vossos Inimigos
Cap 12 Amar os vossos Inimigos
 
Culpa
CulpaCulpa
Culpa
 
Motivos de Resignação
Motivos de ResignaçãoMotivos de Resignação
Motivos de Resignação
 

Destacado (20)

Palestra sobre Culpa
Palestra sobre Culpa   Palestra sobre Culpa
Palestra sobre Culpa
 
Sentimento de culpa
Sentimento de culpaSentimento de culpa
Sentimento de culpa
 
Lição 8 Complexo de culpa, o tormento da alma humana
Lição 8   Complexo de culpa, o tormento da alma humanaLição 8   Complexo de culpa, o tormento da alma humana
Lição 8 Complexo de culpa, o tormento da alma humana
 
Sentimiento de culpa
Sentimiento de culpaSentimiento de culpa
Sentimiento de culpa
 
Os tres momentos_da_culpa_slides
Os tres momentos_da_culpa_slidesOs tres momentos_da_culpa_slides
Os tres momentos_da_culpa_slides
 
Culpa x Arrependimento
Culpa x ArrependimentoCulpa x Arrependimento
Culpa x Arrependimento
 
2012-5-6-Palestra-A Importância do Perdão-Rosana De Rosa
2012-5-6-Palestra-A Importância do Perdão-Rosana De Rosa2012-5-6-Palestra-A Importância do Perdão-Rosana De Rosa
2012-5-6-Palestra-A Importância do Perdão-Rosana De Rosa
 
Perdão
PerdãoPerdão
Perdão
 
De que se queixa o homem
De que se queixa o homemDe que se queixa o homem
De que se queixa o homem
 
Prefacio - No Mundo Maior
Prefacio - No Mundo MaiorPrefacio - No Mundo Maior
Prefacio - No Mundo Maior
 
Imergir
ImergirImergir
Imergir
 
Lição 10 superando o complexo de inferioridade
Lição 10 superando o complexo de inferioridadeLição 10 superando o complexo de inferioridade
Lição 10 superando o complexo de inferioridade
 
1 o evangelho a salvacao da ira 2
1 o evangelho a salvacao da ira 21 o evangelho a salvacao da ira 2
1 o evangelho a salvacao da ira 2
 
35 razões p não pecar
35 razões p não pecar35 razões p não pecar
35 razões p não pecar
 
O homem e a antropologia
O homem e a antropologiaO homem e a antropologia
O homem e a antropologia
 
Educação para a Solidariedade
Educação para a Solidariedade  Educação para a Solidariedade
Educação para a Solidariedade
 
Vínculos Afetivos e Solidariedade
Vínculos Afetivos e SolidariedadeVínculos Afetivos e Solidariedade
Vínculos Afetivos e Solidariedade
 
Pedi, buscai e batei
Pedi, buscai e batei Pedi, buscai e batei
Pedi, buscai e batei
 
Perdão
PerdãoPerdão
Perdão
 
Ira
IraIra
Ira
 

Similar a Culpa e arrependimento.

Huberto rohden novos rumos para a educação
Huberto rohden   novos rumos para a educaçãoHuberto rohden   novos rumos para a educação
Huberto rohden novos rumos para a educaçãoUniversalismo Cultura
 
Huberto Rohden - Novos Rumos para a Educação
Huberto Rohden - Novos Rumos para a EducaçãoHuberto Rohden - Novos Rumos para a Educação
Huberto Rohden - Novos Rumos para a Educaçãouniversalismo-7
 
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdfAUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdfVIEIRA RESENDE
 
Estudo do livro Roteiro lição 21
Estudo do livro Roteiro lição 21Estudo do livro Roteiro lição 21
Estudo do livro Roteiro lição 21Candice Gunther
 
Ramatis mensagens de luz
Ramatis   mensagens de luzRamatis   mensagens de luz
Ramatis mensagens de luzhavatar
 
07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf
07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf
07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdfMariaRosaLopes4
 
O comportamentalismo
O comportamentalismoO comportamentalismo
O comportamentalismoLaizi Santos
 
Jiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdf
Jiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdfJiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdf
Jiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdfHubertoRohden2
 
Da necessidade de um pensamento complexo
Da necessidade de um pensamento complexoDa necessidade de um pensamento complexo
Da necessidade de um pensamento complexoMarcos CAVALCANTI
 
Admiravel mundo novo
Admiravel mundo novoAdmiravel mundo novo
Admiravel mundo novoCafola Ms
 
O insuportável brilho da escola
O insuportável brilho da escolaO insuportável brilho da escola
O insuportável brilho da escolaCarlos Simões
 
A filosofia não é para os tímidos
A filosofia não é para os tímidosA filosofia não é para os tímidos
A filosofia não é para os tímidosFrater Ailton Carlos
 
jean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdf
jean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdfjean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdf
jean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdfElaineRomo5
 
O InefáVel Sentido Da Vida
O InefáVel Sentido Da VidaO InefáVel Sentido Da Vida
O InefáVel Sentido Da VidaJNR
 

Similar a Culpa e arrependimento. (20)

Huberto rohden novos rumos para a educação
Huberto rohden   novos rumos para a educaçãoHuberto rohden   novos rumos para a educação
Huberto rohden novos rumos para a educação
 
Huberto Rohden - Novos Rumos para a Educação
Huberto Rohden - Novos Rumos para a EducaçãoHuberto Rohden - Novos Rumos para a Educação
Huberto Rohden - Novos Rumos para a Educação
 
Edição n. 14 do CH Noticias - Agosto/2016
Edição n. 14 do CH Noticias - Agosto/2016Edição n. 14 do CH Noticias - Agosto/2016
Edição n. 14 do CH Noticias - Agosto/2016
 
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdfAUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
 
Estudo do livro Roteiro lição 21
Estudo do livro Roteiro lição 21Estudo do livro Roteiro lição 21
Estudo do livro Roteiro lição 21
 
Ramatis mensagens de luz
Ramatis   mensagens de luzRamatis   mensagens de luz
Ramatis mensagens de luz
 
07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf
07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf
07 Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.pdf
 
4 filosofos
4 filosofos4 filosofos
4 filosofos
 
O comportamentalismo
O comportamentalismoO comportamentalismo
O comportamentalismo
 
O que é iniciação Científica
O que é iniciação CientíficaO que é iniciação Científica
O que é iniciação Científica
 
Jiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdf
Jiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdfJiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdf
Jiddu Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade.pdf
 
Da necessidade de um pensamento complexo
Da necessidade de um pensamento complexoDa necessidade de um pensamento complexo
Da necessidade de um pensamento complexo
 
Admiravel mundo novo
Admiravel mundo novoAdmiravel mundo novo
Admiravel mundo novo
 
Falando de amor
Falando de amorFalando de amor
Falando de amor
 
O insuportável brilho da escola
O insuportável brilho da escolaO insuportável brilho da escola
O insuportável brilho da escola
 
A filosofia medieval
A filosofia medievalA filosofia medieval
A filosofia medieval
 
A filosofia não é para os tímidos
A filosofia não é para os tímidosA filosofia não é para os tímidos
A filosofia não é para os tímidos
 
jean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdf
jean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdfjean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdf
jean-jacques-rousseau-o-filosofo-da-liberdade-como-valor-supremopdf.pdf
 
O InefáVel Sentido Da Vida
O InefáVel Sentido Da VidaO InefáVel Sentido Da Vida
O InefáVel Sentido Da Vida
 
O InefáVel Sentido Da Vida
O InefáVel Sentido Da VidaO InefáVel Sentido Da Vida
O InefáVel Sentido Da Vida
 

Culpa e arrependimento.

  • 2. O que deve fazer aquele que, no último momento, na hora da morte, reconhece as suas faltas, mas não tem tempo para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso? Resposta dos Espíritos — O arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha? Texto retirado do „Livro dos Espíritos‟ (Livro Quarto – Cap. 2 – Item VI)
  • 3. Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes nomes do iluminismo, nasceu em Genebra, no ano de 1712. Não conheceu sua mãe, pois devido a complicações do parto, veio a falecer dias após seu nascimento. Quando completou dez anos de idade, seu pai envolveu-se em uma discussão com pessoa importante da cidade, e, com receio de represálias, fugiu, deixando o filho para ser educado por um tio. Segundo seus biógrafos, o fato de Rousseau não ter
  • 4. Tornou-se, na vida adulta, compositor auto-didata, teórico político, filósofo e escritor. Contribuiu amplamente para as grandes reformas ocorridas na América e na Europa, no século XIX, com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, sendo ainda um dos colaboradores da famosa Enciclopedie, de Diderot e D´Alembert. Escreveu vários livros, influenciando diversas culturas e gerações. Foi um daqueles homens que não passam despercebidos, pois possuía conhecimentos bastante avançados para sua época – visões que romperam com os paradigmas vigentes, trazendo
  • 5. Um de seus escritos, de estrondoso sucesso, chama-se „Emílio, ou Da Educação‟. Nesta obra, Rousseau cria um personagem fictício, de nome Emilio e vai, no transcorrer de seus escritos, contando ao leitor sobre a forma como ele educa este personagem. O objetivo de Emílio é “formar um homem livre; e o verdadeiro amor pelas crianças…”.Hoje esta obra é vista não apenas como uma referência obrigatória para todos os educadores [pais, professores, etc], mas, acima de tudo, como uma lição de vida.
  • 6. Entretanto, Rousseau, este mesmo homem, filósofo, escritor, teve seus cinco filhos. E os abandonou, a todos, em orfanatos. No prefácio de sua obra, o tradutor assim comenta: “Como levar a sério um livro sobre a educação escrito por um homem que abandonou os cinco filhos que teve com Thérese Levasseur? Esta questão prévia, repetida pelos jovens leitores de ontem e de hoje, deve ser colocada, não para ser ela própria levada a sério, mas para que nos desvencilhemos dela de uma vez por todas. Rousseau é daqueles que acham que não há covardia pior do que o abandono dos filhos que se teve o prazer de fazer. Escreveu Rousseau em sua obra Emilio: “Um pai, quando gera e sustenta filhos, só realiza com isso um terço de sua tarefa. Ele deve homens à sua espécie, deve à sociedade homens sociáveis, deve cidadãos ao Estado. Todo homem que pode pagar essa dívida tríplice e não paga é culpado, e talvez ainda mais culpado quando só paga pela metade. Quem não pode cumprir os deveres de pai não tem direito de tornar-se pai. Não há pobreza, trabalhos nem respeito humanos que os dispensem de sustentar seus filhos e de educá-los ele próprio.Leitores, podeis acreditar do que digo. Para quem quer que tenha entranhas e desdenhe tão santos deveres, prevejo que por muito tempo derramará por sua culpa lágrimas amargas e jamais se
  • 7. Foi justamente por sentir-se culpado que Rousseau escreveu Emilio (de 1757 a 1762). Não podemos pretender que o livro não tenha nada para nos ensinar porque seu autor não o colocou em prática. Para isso, seria necessário inverter a cronologia e proibir a Rousseau toda a oportunidade de um arrependimento sincero que busca a reparação. Afirmou o autor de Emílio: “Não escrevo para desculpar meus erros, mas para impedir meus leitores de os imitar”.
  • 8. Jean-Jacques influenciou sobremaneira alguns pensadores, tais como Johann Pestalozzi, fundador da escola de Yverdun, na Suiça, mestre de Allan Kardec. Portanto, podemos dizer que Rousseau é o avô espiritual de Kardec nas questões da educação. Levando-se em conta de que o codificador da Doutrina Espírita [assim como Pestalozzi] era pedagogo, logo percebemos o quanto a obra Emílio foi importante para todos os três e tantos outros. E se Rousseau influenciou sobremaneira Kardec, nós outros, daqui deste lado do Planeta, 155 anos após Kardec, somos também influenciados por suas idéias fantásticas de educação através do amor e da liberdade. Sabemos ainda, através dos escritos do final da vida de Jean- Jacques Rousseau, que ele tentou resgatar todos os seus filhos dos orfanatos, porém não teve sucesso. Portanto, de seu arrependimento e expiação vemos surgir a busca pela reparação, se não diretamente aos prejudicados, através
  • 9. O escritor Catullo da Paixão Cearense, em seu poema “A Dor e a Alegria” afirma que “a dor é como um relâmpago; no escuro assusta a gente, mas alumeia os caminhos.” Rousseau aprendeu o verdadeiro sentido desta frase, trezentos anos antes de ser pronunciada por Catullo.
  • 10. Na atualidade, enfrentamos muitos dilemas quando analisamos a questão da culpa. Cada vez mais tomamos consciência de como as teorias individualistas ocidentais estão equivocadas no que se refere à realidade do ser. Tanto através da lente Espírita, como das ciências dita humanas, temos tido contato com outra realidade: a de que pertencemos ao todo, influenciando e sendo influenciados, num mar de experiências, onde tudo se modifica, continuamente, através das relações. Não é possível explicar o ser em separado do meio onde ele atua. Não podemos deixar de considerar o tempo histórico e a cultura onde está inserido, sob risco de cometermos erros crassos, subtraindo influências importantes e, pior, não reconhecendo sua real essência neste meio.
  • 11. Com isso, já percebemos a urgência de um olhar mais holístico, vislumbrando o sujeito com todas as suas faces. O ser como sendo um sujeito bio-psico-sócio-espiritual, pois é o que somos, sendo que o Espírito, o ser imortal, criado simples e ignorante, com potencialidades de perfeição relativa e que vai, através de vidas sucessivas evoluindo, é sua essência, o seu verdadeiro eu, com o qual atua no mundo, através de sua porção biológica, com mecanismos psicológicos característicos, dentro de uma sociedade, em determinada cultura e em determinado tempo histórico. Quando ampliamos este nosso olhar, vamos aproximando da realidade, e, com isso, podemos melhorar nosso entendimento, conseguindo, refletir melhor sobre nossas ações e implicações destas em nossas vidas e no meio onde atuamos.
  • 12. Na cultura judaico-cristã, o medo dos fiéis alimentou, por séculos, o poder de alguns, através do mecanismo da culpa. Neste contexto, já nascíamos culpados, afinal somos descendentes de um erro imperdoável: nossos ancestrais Adão e Eva que, num ato de muita insensatez, (pela visão religiosa tradicional) abdicaram do maior presente de Deus – o paraíso na Terra - trocando-o pelo fruto da árvore da sabedoria. Somos culpados por desejarmos algo saber. Sendo assim, a ignorância seria o melhor remédio, aceitando dogmas irrevogáveis e, inquestionáveis. Talvez aí pudéssemos fazer as pazes com Deus, por determinado tempo, desde que ainda contribuíssemos com algo, de preferência material, pela „Causa de Deus na Terra‟. Mas a nossa história com a culpa não pára por aí. Mulheres judias nascem impuras, afinal, menstruam e sequer podem orar como os homens, nos templos. Depois do ano 234 dC, quando criou-se a instituição católica, a culpa continuaria presente. Homens deveriam lutar nas „guerras santas‟, trazendo ouro para a igreja e diminuindo o número de „infiéis‟, através da espada. Se assim fizessem, poderiam dormir com a consciência tranqüila, pois estariam quites com Deus. Hoje, a questão da culpa tornou-se ainda mais abrangente, de acordo com a ideologia vigente. No capitalismo, somos culpados se não juntamos capital. O fracasso consiste em não ser sucesso em seus negócios, nos estudos, na empresa, no consumo. Para as mulheres, mais que isso: fracassadas são as que não conseguem manter o padrão de beleza das
  • 13. Jean-Yeves Leloup, o padre francês, autor do livro 'Normose, a Patologia da Normalidade', criou um conceito bastante interessante para definir o contexto atual. Chamou de “normose” tudo o que é aceito socialmente como sendo algo normal, mas que, porém, causa sofrimento, patologias e até mesmo a morte. As relações fluidas, o consumo exacerbado, a busca pelo padrão de beleza ideal, pelo sucesso, pelo poder, etc., faz com que boa parcela da população sofra, gerando sintomas de difícil solução. Somos culpados por não conseguirmos atingir a meta proposta, dentro deste padrão de normose atual. E, buscando encobrir a culpa, usamos máscaras sociais que nos fazem parecer. Parecemos não errar, parecemos ter, parecemos ser. Mas só parecemos. Todos erramos, nada possuímos [uma vez que tudo pertence a Deus e pode nos ser retirado a qualquer momento] e,
  • 14. Salientamos ainda que, se por um lado temos a questão da culpa como produto social, não é menos verdadeiro que temos tido contato, há mais de dois mil anos, com outras formas de pensamento que nos trazem reflexões sobre a situação do apego à matéria e o descaso com as questões do Espírito. Portanto, embora mergulhados numa ideologia marcante e opressora, não nos faltam opções filosóficas e religiosas neste contexto para que possamos analisar nosso modo de ser e agir no mundo e suas possíveis conseqüências.
  • 15. Culpa é a consciência de um erro cometido através de um ato que provocou algum prejuízo [seja material ou moral] a si mesmo ou a outrem. A consciência do erro traz-nos sofrimento. E tal sentimento pode ser vivenciado de duas formas: saudável ou patologicamente. Chamaremos de culpa saudável aquela que nos leva ao arrependimento sincero e que, embora revestido de dor, impulsiona o ser à reparação. Na origem da palavra, arrependimento quer dizer mudança de atitude, ou seja, atitude contrária, ou oposta, àquela tomada anteriormente. Ela origina-se do grego - Metanóia (Meta=Mudança, Nóia=Mente) - Arrependimento quer dizer, portanto, mudança de mentalidade.
  • 16. Pessoas que se mantém com a consciência adormecida, ao acordarem resgatam dores maiores, acumuladas devido à cegueira espiritual em que se comprazem. Importante ressaltar que nenhum filho está às margens do Amor do Pai Celestial. Todos temos, em diversas oportunidades e em variados contextos, contato com as verdades do Mundo Maior. Preciso é que a boa vontade surja no cenário, sob risco de ficarmos derrapando na estrada evolutiva além do necessário, colhendo dores tardias. É preciso que exista o arrependimento sincero. Ou seja, a mudança de mentalidade. Diagnosticamos o erro e não desejamos mais praticá-lo- arrependimento. Porém, não ficaremos apenas na luta pela não repetição do mal cometido, sentindo a dor da expiação [a dor sentida pela dor causada]. Iremos além: no terceiro [e imprescindível] passo, seguiremos em direção à
  • 17. Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, no código penal da vida futura, afirma que "o arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. (...) Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências".
  • 18. Na culpa patológica temos, como resultado, apenas o remorso, num pensamento em circuito fechado, no qual o ser acredita [erroneamente] que, ao sentir a dor repetida está pagando pelo mal cometido, resgatando seus débitos. Triste ilusão, em que a pessoa que sofre mantem-se num monodeísmo, autoflagelando-se, sem conseguir libertar-se ou evoluir. Trata-se, aqui de um processo de congelamento evolutivo, uma trava psicológica que leva a sérias patologias da mente e do corpo se não percebidas e alteradas em pouco tempo. No remorso o sujeito enclausura-se em sua dor, lamentando- se, acreditando não ser merecedor de nada bom, desistindo de lutar, de reparar para libertar-se. Não consegue perceber a função do erro e da dor na evolução de si próprio, estagnando em águas tormentosas, num continuo sofrer sem sentido. O remorso o faz sofrer, porém, não o liberta. Está acomodado na queixa e na lamentação. Mais amadurecido psicologicamente
  • 19. Com o advento da Doutrina Espírita, adquirimos conhecimentos importantes, tais como o da reencarnação. Aprendemos, através dela, que vivemos vidas sucessivas, num continuum evolutivo, onde as experiências surgem como ferramentas preciosas, impulsionando o ser à melhoria constante. Neste processo, a dor pode ser comparada com o advento da febre no vaso orgânico, que assinala algum problema infeccioso que deverá ser diagnosticado para que possa ser tratado. Na alma, a dor tem o importante papel de nos alertar sobre algo moral que não vai bem. Precisamos sair da postura persecutória em que freqüentemente nos alojamos, analisando a dor como uma inimiga. Muito ao contrário, ela deve ser vista como oportunidade de conhecimento, de entendimento de nós mesmos, para uma possível melhoria íntima real. O que acontece é que, viciados neste „mal sofrer‟, seguimos acumulando remorsos, distante ainda do objetivo maior, que é o
  • 20. A Doutrina Espírita auxilia-nos sobremaneira na compreensão de todo esse processo, pois nos revela a anterioridade do Ser, onde muitas vezes está a gênese dos desequilíbrios do hoje. Passamos a nos compreender como senhores de nossas ações e tendemos, portanto, à mudança, libertando-nos do remorso patológico, aprendendo a viver com mais responsabilidade. Outro ponto que gostaríamos de citar é sobre os novatos, os que chegam à Doutrina Espírita e começam a beber em suas fontes. Logo percebem a grandiosidade da Mensagem reveladora e em muitos casos, assustam-se e se esquivam de saber mais, amedrontados com a possibilidade de nunca conseguirem realizar seus ensinamentos. Outros, que persistem um pouco mais, porém que ainda não compreenderam a Mensagem em toda a sua extensão, iniciam um processo autopunitivo complexo, sofrendo demasiadamente a dor oriunda de seu passado complicado. Um exemplo: pessoas que fazem uso de drogas [mesmo as chamadas licitas], ao aprenderem o que ocorre com o corpo espiritual [perispírito], podem passar a sentir tremendas dificuldades intimas. É preciso que se saiba que não importa o tamanho do problema ou do erro, mas nosso empenho sadio nas escolhas do hoje que redundarão num futuro
  • 21. Não temos mais controle sobre o que já fizemos. Isso é passado. Mas podemos controlar o nosso próprio futuro e isso realmente depende de nós. Os erros nos ajudam sobremaneira na compreensão sobre os novos caminhos que devem ser trilhados. São importantíssimos para nossa evolução. Não fará sentido para nós determinadas escolhas se não soubermos o porque decidi-las. A fé precisa ser raciocinada. Devemos saber por que precisamos mudar, como mudar e quando mudar. E mesmo que não consigamos nos reformar em determinados aspectos, o que aprendemos é que precisamos tornar a tentar, tornar a tentar e tornar a tentar... setenta vezes sete vezes, se preciso for... E se não tivermos a oportunidade de reparar o mal que fizemos com determinada pessoa, diretamente? Busquemos não repetir o erro e amemos muito. Disse o apóstolo que “O amor cobre uma multidão de pecados”. (I
  • 22. Uma outra história, mais antiga que a de Rousseau, mas que inspira nossos corações sobremaneira, fala sobre uma mulher nascida em uma época difícil, na cidade de Magdala. Chamava-se Maria. Contam-nos alguns evangelistas que carregava em seu psiquismo a presença de sete demônios, tendo sido curada por Jesus. Hoje, através da Doutrina Espírita, aprendemos que tais „demônios‟ eram, na verdade, Espíritos ainda ignorantes, voltados temporariamente ao mal. Afastaram-se de Maria sob a imposição Moral do Mestre, entretanto cabe-nos salientar que, se não voltaram a importuná-la, foi devido aos méritos que ela acumulou, através de sua reforma interior. Humberto de Campos, no livro Boa Nova, conta-nos, de forma emocionante, a história do encontro entre Maria e Jesus. Ela, curvada pelo peso de sua culpa, carregando no íntimo muitas dores nascidas do remorso constante, abre seu coração atormentado. Jesus, o Grande Sábio, aponta novos caminhos: “Ame, Maria. Ame muito. Ame os filhos de outras mães... escolha a porta estreita...”.
  • 23. Nada de acusações. Apenas um pedido: que amasse muito, sem nada esperar de volta. Foi o que fez. Após a crucificação de Jesus, decidiu seguir os discípulos na divulgação da Boa Nova. Entretanto, aqueles homens encharcados de preconceitos, negaram-lhe a companhia. Teve de ficar às margens do Tiberíades, em lágrimas, cheia de saudades e dor. Foi quando viu chegarem na cidade diversos leprosos, em busca do Mestre. Não sabiam que Ele já não pertencia àquele mundo, queriam ouvir Sua voz, ouvir Seus ensinamentos e, quem sabe, conseguir a tão almejada cura. Maria não hesitou. Buscou-os e, em todas as tardes passou a divulgar os ensinamentos que houvera aprendido com o amigo nazareno. Porém, em pouco tempo aquelas pessoas foram expulsas de Cafarnaum e ela, com o melhor sentimento de que dispunha, acompanhou-os para longe dali. Seguiu seus dias cuidando, diuturnamente, dos doentes, amparando-os, tentando minimizar suas dores, sua fome, sua tristeza. Entretanto, depois de algum tempo percebeu manchas róseas em sua pele. Estava com hanseníase, também.
  • 24. Sentindo que o final se abeirava, decidiu procurar pela mãe de Jesus, Maria, e por João - seus amigos diletos. Seguiu para Éfeso, mas não conseguiu adentrar a cidade, caindo pouco antes de sua entrada. Logo após seu desencarne, viu-se novamente às margens do Mar da Galileia, encostada em uma grande árvore. Ao longe, aproxima-se Jesus, com os braços abertos, a dizer- lhe:“Maria, já passaste a porta estreita!...Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!”. Disse o apóstolo que “O amor cobre uma multidão de pecados”.