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Avanços e desafios para a infância e a adolescência no Brasil
ECA25anosESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Realização
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
 
Apoio
ANDI — Comunicação e Direitos
Gary Stahl — Representante do UNICEF no Brasil
Esperanza Vives — Representante adjunta do UNICEF no Brasil
Edith Asibey — Chefe de Comunicação e Parcerias do UNICEF no Brasil
Núcleo editorial
Edith Asibey, Mario Volpi, Ana Cristina Matos, Estela Caparelli (Coordenação
Editorial); Cristina Albuquerque e Caio Oliveira (Sobrevivência e Desenvolvimento
Infantil e HIV); Marcelo Mazzoli, Júlia Ribeiro, Carolina Velho e Pedro Ivo Alcantara
(Educação); Casimira Benge, Fabiana Gorenstein, Antonio Carlos Cabral (Proteção);
Mario Volpi, Noemi Pérez, Gabriela Goulart Mora (Cidadania dos Adolescentes);
Rogério Carlos Borges de Oliveira, Boris Diechtiareff, Jucilene Rocha, Emly Costa
(Dados Estatísticos); Antonio Augusto Silva e Miriam Pragita (Apoio Editorial, ANDI)
 
Produção editorial
Produção de conteúdos: Elisa Meirelles, Flávia Ribas e Gabriel Coaracy
Consultor de dados estatísticos: Sandro Monsueto
Projeto gráfico, diagramação e capa: Pablo Julio
Gráficos e ilustrações: Skopein
Capa: Ilustração de Samara Senna (15 anos), vencedora do concurso de ilustrações
para este relatório promovido pelo UNICEF
 
Agradecimentos: Aíla Oliveira Santana, Ana Flavia Flores, Benedito dos Santos,
Camila Teixeira, Immaculada Prieto, Isa Oliveira, João Batista Costa Saraiva, Karyna
Sposato, Leilá Leonardos, Liliane Garcez, Maria de Salete Silva, Mariana Almeida,
Nelson Leoni, Raquel Willadino Braga, Renata Bennet e Rodrigo Hübner Mendes.
www.unicef.org.br
www.facebook.com/unicefbra­sil
www.twitter.com/unicefbrasil
Instagram: @UnicefBrasil
O artigo apresentado nesta publicação representa a visão pessoal da autora e não
reflete necessariamente a posição do Fundo das Nações Unidas para a Infância.
Julho de 2015
ECA25anosESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Avanços
e desafios
para a infância
e a adolescência
no Brasil
Prefácio
Um Brasil para todas as crianças e todos os adolescentes. Sem exceção.
Gary Stahl
Introdução
Evolução do Perfil de Crianças e Adolescentes
Mortalidade Infantil
Educação
Registro Civil
Trabalho Infantil
HIV/aids e Sífilis
Medidas Socioeducativas
Homicídios
Artigo
Como o Estatuto da Criança e do Adolescente mudou a minha vida?
Aíla Oliveira Santana
5
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12
16
20
22
26
28
32
35
Índice
Um Brasil para todas as crianças
e todos os adolescentes.
Sem exceção.
Nos últimos 25 anos, o Brasil se tornou um país de renda média alta.
Cerca de 60% dos brasileiros aumentaram sua renda, segundo o Banco
Mundial. Ao todo, 36 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema. O
País se fortaleceu economicamente: saltou da 13ª para a 7ª posição no
ranking das maiores economias do mundo. Também ganhou uma face
mais urbana: a concentração da população nas cidades cresceu de 75%,
em 1991, para 84,8%, em 2013.
Nesse período, o País deixou para trás uma lei discriminatória, repressi-
va e segregacionista para a infância, o Código de Menores, e adotou o
Estatuto da Criança e do Adolescente. O então novo marco legal traduziu
os princípios da Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, e serviu
de referência para a América Latina por sua coerência com os direitos hu-
manos, com o respeito ao desenvolvimento de crianças e adolescentes e
pelo compromisso em tratar a infância com prioridade absoluta.
O legado desses 25 anos está marcado por importantes conquistas para
crianças e adolescentes. O Brasil é uma das nações que têm se destaca-
do por reduzir a mortalidade infantil. Com isso, superou a meta de redu-
ção da mortalidade infantil prevista nos Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM) antes mesmo do prazo estabelecido. Nesse período, todos
os indicadores relacionados à educação avançaram e o País está próximo
de assegurar 100% das crianças no ensino fundamental. Hoje, é um exem-
plo para outros países na estruturação e implementação de uma vigorosa
rede de proteção social, com políticas de referência como o Sistema Único
de Assistência Social (Suas) e o Bolsa Família.
Por tudo isso, é justo comemorar os 25 anos do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Porém, a celebração apenas será completa se esse progres-
so alcançar todas as crianças e todos os adolescentes, sem exceção. A
presente análise mostra que, mesmo com uma trajetória de excepcionais
avanços, muitos meninos e meninas estão sendo deixados para trás.
Crianças indígenas, por exemplo, têm duas vezes mais risco de morrer
antes de completar 1 ano do que as outras crianças brasileiras. Mais de
3 milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola (Pnad, 2013).
Como mostra este relatório, a exclusão escolar afeta particularmente po-
bres, negros, indígenas e quilombolas. Muitos abandonam as salas de
aula para trabalhar e contribuir com a renda familiar ou porque têm algum
tipo de deficiência. Outros vivem nas periferias dos grandes centros urba-
nos, no Semiárido, na Amazônia e na zona rural.
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 5
Nesse cenário, a mais trágica face dessas violações de direitos são os homi-
cídios sistemáticos de adolescentes. Apenas em 2013, mais de 10 mil ado-
lescentes foram assassinados. Além disso, na maior parte dos casos, não se
conhecem os autores desses crimes, porque falta investigação, o que gera
um ciclo de impunidade que alimenta uma onda crescente de violência.
Os excelentes resultados obtidos nesses 25 anos ficam ofuscados pelo
número de mortes de adolescentes e jovens, um dos maiores do mundo,
ultrapassando inclusive as estatísticas de países em situação de guerra e
conflitos armados.
Pode-se observar um movimento de setores da sociedade querendo res-
ponsabilizar os adolescentes pela violência. Na verdade, as sentenças de
morte recaem todos os dias sobre adolescentes, particularmente os negros,
em todo o País.
O presente relatório sobre os 25 anos de aprovação do Estatuto da Criança
e do Adolescente pretende ser uma contribuição para identificar os resul-
tados obtidos nesse período. Representa, portanto, um reconhecimento
de que o País fez a coisa certa ao aprovar e implantar uma lei tão abran-
gente. No entanto, os dados e análises também apontam para a necessi-
dade de criação de políticas diferenciadas, capazes de promover a inclu-
são de meninos e meninas que ainda têm seus direitos violados. No caso
de homicídios de adolescentes, serve como uma chamada à urgência de
ações efetivas de enfrentamento da impunidade e do racismo.
Dessa forma, o UNICEF reitera, mais uma vez, seu compromisso de atuar
lado a lado do Brasil para a garantia dos direitos de todas as crianças e
todos os adolescentes brasileiros. Sem exceção.
Gary Stahl
Representante do UNICEF no Brasil
6  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
UM BRASIL PARA TODAS AS CRIANÇAS E TODOS OS ADOLESCENTES. SEM EXCEÇÃO.
Crianças e adolescentes que crescem hoje no Brasil fazem parte da primeira
geração nascida após a chamada revolução de prioridades. A Assembleia
Geral da ONU adotou em 1989 a Convenção sobre os Direitos da Criança,
que foi ratificada no ano seguinte pelo País. No Brasil, a Constituição (1988)
antecipou esse movimento internacional e garantiu, em seu artigo 227, a in-
fância e a adolescência como prioridade absoluta. Em 1990, o País inovou
mais uma vez com a tradução desses princípios em uma legislação mais
completa e detalhada, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Os 25 anos que antecederam a aprovação do ECA marcaram um cenário
muito diferente. O período da ditadura militar brasileira implementou no
País medidas, políticas e sistemas baseados na ideologia da segurança
nacional. “Menores abandonados” entraram na lista dos entraves à or-
dem pública e ao desenvolvimento. A eles se designou uma política de
bem-estar estruturada a partir dos tradicionais eixos da prevenção, da
proteção e da vigilância.
Por meio de uma lei específica destinada a crianças e adolescentes po-
bres, órfãos, abandonados, desvalidos, infratores, segregava-se esse gru-
po populacional sob uma doutrina que os caracterizava como pessoas em
situação irregular. A essa população era destinado o Código de Menores.
A influência dessa doutrina da situação irregular ainda pode ser percebi-
da em conceitos, atitudes e abordagens que veem crianças e adolescen-
tes pobres como incapazes e vítimas indefesas das vulnerabilidades so-
ciais e potenciais riscos para a harmonia social por sua possibilidade de
se tornarem infratores. Os excluídos eram então os “menores”.
Há 25 anos, o ECA transformou radicalmente essa realidade e garantiu, le-
galmente, os direitos a todas as crianças e todos os adolescentes. Sem ex-
ceção. Porém, fazer um balanço da evolução dos indicadores sociais duran-
te o período de vigência do Estatuto esbarra em algumas limitações ligadas
à falta de informação. Há falta de dados mais objetivos sobre situações de
exploração sexual, abuso, maus-tratos e outras formas de violência.
Mesmo diante dessas limitações, a análise da evolução dos indicadores
sociais da infância na vigência da nova lei apresenta resultados impor-
tantes. Seja influenciando de forma direta ou indireta a vida de meninos
e meninas, o Estatuto da Criança e do Adolescente é, definitivamente, um
marco importante para a história do País. A observação dessa trajetória
nos permite declarar que, a partir do ECA, o Brasil se tornou um lugar me-
lhor para as crianças e os adolescentes viverem.
Introdução
8  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Leis devem se adaptar às dinâmicas sociais. Por isso, o ECA vem sendo atu-
alizado nos últimos anos para responder a desafios emergentes. O Estatuto
foi sendo aperfeiçoado para melhor garantir direitos relacionados à adoção,
à convivência familiar e comunitária, à proteção contra a violência sexual e
à justiça juvenil, apenas para citar alguns exemplos.
Essa transformação foi positiva para meninas e meninos e, consequente-
mente, para o País como um todo. É o que mostra, por exemplo, a evolu-
ção do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). Entre 1991
e 2010, os indicadores relacionados a crianças e adolescentes, compa-
rados aos indicadores da população adulta ou geral, tiveram um grande
crescimento e influenciaram dimensões como a educação e a longevida-
de. Mais uma prova de que investir na infância e na adolescência tem um
impacto no fortalecimento de todo o País.
Entretanto, nem todas as crianças e adolescentes foram protegidos. Graves
desigualdades ainda ceifam a vida de meninas e meninos brasileiros e ne-
gam a eles seu direito de se desenvolver, independentemente de sua raça
ou etnia, condição física, social, gênero ou local onde vivem. Com esta aná-
lise, no contexto das celebrações dos 25 anos do Estatuto, o UNICEF preten-
de contribuir com o debate sobre os avanços na área da infância e adoles-
cência e os desafios que ainda existem para o País.
Acreditamos que este é um momento de reflexão e, sobretudo, de cele-
bração. Há evidências suficientes para comemorar o fato de que o Brasil
tomou a decisão certa ao aprovar uma lei que protege, promove e defen-
de um conjunto amplo de direitos humanos e de cidadania para assegurar
o desenvolvimento de crianças e adolescentes e, consequentemente, de
todo o País.
Mas esta também é uma oportunidade para refletir sobre as desigualda-
des que ainda impedem que cada criança e cada adolescente usufruam
igualmente de todos os direitos. É, sobretudo, uma oportunidade de agir
e transformar essa realidade para garantir direitos para todas as crianças
e todos os adolescentes. Dessa forma, o Brasil poderá continuar sendo
uma referência não só no campo legal, mas, principalmente, na vida real
de meninos e meninas.
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 9
Eles são cerca de 59,7 milhões, o equivalente à
população da Itália. Nos últimos 25 anos, a pro-
porção de crianças e adolescentes em relação à
população brasileira vem diminuindo em razão da
tendência de envelhecimento do País, na linha de
países com o perfil econômico do Brasil. De 1991
a 2010, a parcela de brasileiros de até 19 anos caiu
de 45% para 33% (Censo Demográfico, 2010).
Essa transformação demográfica encontra ex-
plicações na redução de duas taxas importan-
tes: a fecundidade e a mortalidade. Mas esse
movimento não é uniforme. Em 2010, a Região
Norte era a mais jovem do Brasil, seguida da
Nordeste. Sudeste e Sul possuíam o maior con-
tingente de pessoas mais velhas, ao passo que
a Região Centro-Oeste tinha estrutura interme-
diária, com distribuição etária próxima da mé-
dia do País. Essa diferença se explica, em parte,
pelas taxas de fecundidade das regiões Norte
e Nordeste, que ainda eram consideradas altas
até a década de 1980, e produzem efeitos até os
dias atuais (Censo Demográfico, 2010).
Nessas mais de duas décadas, cresceu o núme-
ro de pessoas autoidentificadas como negros e
pardos na população jovem. Hoje, mais da me-
tade da população de até 18 anos é formada por
afro-brasileiros. Da população indígena, de 784
mil pessoas, 31% — ou 246 mil — são meninos e
meninas (Censo Demográfico, 2010).
A maior distribuição de renda também benefi-
ciou essa população: o percentual de meninos e
meninas que viviam em domicílios pobres caiu
de 70% em 1991 para 52% em 2010. Desde a pro-
mulgação do ECA, as crianças e os adolescentes
brasileiros são mais urbanos. A população nes-
sa faixa etária vivendo em áreas urbanas cres-
ceu de 72% para quase 82% entre 1991 e 2010
(Censo Demográfico, 2010).
Essas diferenças demográficas vêm acompa-
nhadas de melhoras nos indicadores relaciona-
dos a crianças e adolescentes, como a queda na
mortalidade infantil, aumento do acesso à esco-
la e redução da pobreza. Por sua vez, esses indi-
cadores tiveram também impacto na melhora do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasi-
leiro, o que demonstra a importância do inves-
timento na infância para a melhoria das condi-
ções de vida do País como um todo.
No entanto, os avanços não atingiram todas as
crianças e todos os adolescentes da mesma for-
ma. O Brasil é ainda um dos países mais desi-
guais do mundo1
. Por exemplo, enquanto 37%
das crianças e dos adolescentes brancos viviam
na pobreza em 2010, esse percentual se amplia-
va para 61% entre os negros e pardos. Essas de-
sigualdades geram barreiras para a garantia dos
direitos de crianças e adolescentes. Para supe-
rá-las, é necessário, sobretudo, adotar políticas
públicas capazes de combater as desigualdades
geográficas, sociais e étnicas do País e de cele-
brar a riqueza de sua diversidade.
1. World Bank, 2015 — http://data.worldbank.org
Evolução do Perfil
de Crianças e Adolescentes
O que mudou no perfil de meninos
e meninas brasileiros.
10  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Crescendo em um país mais velho
Em 2010, o Brasil passou por um momento único de bônus
demográfico. Com a queda na taxa de natalidade e o aumento
na expectativa de vida, a população em idade ativa atingiu
seu ponto máximo. Passado esse ápice, a pirâmide etária
começa a ser inverter. A população de jovens até 19 anos vem
diminuindo no País e o percentual de idosos está aumentando.
Há no Brasil cerca de 59,7 milhões
de meninos e meninas de até 18 anos.
Perfil etário da população (1991)
Perfil etário da população (2010)
GRÁFICO 1
GRÁFICO 2
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 11
Evolução do Perfil de Crianças e Adolescentes
Fonte: Censo Demográfico (IBGE).
Fonte: Censo Demográfico (IBGE).
Fonte: Censo Demográfico, 2010.
59.666.499
Perfil dos adolescentes
Perfil etário da População (2010)
Fonte: Censo Demográfico (IBGE).
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MulheresHomens
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Fonte: Censo Demográfico (IBGE).
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Perfil dos adolescentes
Perfil etário da População (2010)
Fonte: Censo Demográfico (IBGE).
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MulheresHomens
100 ou mais
90 a 94 anos
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35 a 39 anos
25 a 29 anos
15 a 19 anos
5 a 9 anos
0 a 4 anos
O Brasil é uma das nações que têm se destacado
por reduzir significativamente a mortalidade in-
fantil (de até 1 ano) e na infância (de até 5 anos).
Esse é, sem dúvida, um dos principais avanços
na área da infância a ser celebrado nesses 25
anos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Entre 1990 e 2012, a taxa de mortalidade infantil
caiu 68,4%, chegando a 14,9 mortes para cada
1.000 nascidos vivos, de acordo com o Ministé-
rio da Saúde1
. Essa taxa está bastante próxima
do nível considerado aceitável pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 mortes por
1.000 nascidos vivos.
Com isso, o País superou a meta de redução da
mortalidade infantil prevista nos Objetivos de De-
senvolvimento do Milênio (ODM) antes mesmo
do prazo estabelecido. Outro fator a ser come-
morado é a redução das disparidades regionais
nessa área. A Região Nordeste, onde a situação
de mortalidade na infância era crítica há 25 anos,
teve a mais acentuada queda no período.
Até o final da década de 1990, o Brasil enfrentava
o desafio de reduzir as mortes de crianças com
menos de 5 anos. Naquele momento, vidas eram
perdidas por doenças que hoje são facilmente
evitáveis, como as infecciosas e as parasitárias.
Essa situação foi enfrentada de diversas formas.
Há 25 anos, a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) garantiu o acesso universal à saúde. Com
ele, foram criadas e fortalecidas várias políticas e
programas. O modelo de atenção básica centra-
do na Estratégia de Saúde da Família foi um dos
fatores que mais contribuíram para melhorar as
condições de vida e saúde das crianças. Com o
programa, foi oferecido um melhor atendimen-
to pré-natal às gestantes e mais cuidado com as
crianças nos seus primeiros anos.
Além disso, tiveram impacto positivo na redução
da mortalidade infantil e na infância o aumento
da escolaridade das mães, o aumento da cober-
tura vacinal, a melhoria no acesso ao saneamento
básico e o engajamento da sociedade civil para a
valorização do aleitamento materno. Mais recen-
temente, a rede pública de saúde materna, neo-
natal e infantil, conhecida como Rede Cegonha,
tem criado medidas que garantem o atendimento
nos serviços de saúde estabelecendo prioridade
às gestantes e às crianças até os 2 anos de idade.
Hoje, as maiores vítimas da mortalidade in-
fantil são as crianças indígenas. Elas têm duas
vezes mais risco de morrer antes de comple-
tar 1 ano do que as outras crianças brasileiras.
Mortalidade Infantil
O Brasil é uma das nações que têm se
destacado por reduzir a mortalidade infantil.
No entanto, bebês de até 1 ano, especialmente de populações indígenas,
ainda morrem por causas que poderiam ser evitadas.
12  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 13
Mortalidade Infantil
A desnutrição infantil está associada às princi-
pais causas dessas mortes: diarreia, infecções
respiratórias e malária. Entre as crianças in-
dígenas que residem na Região Norte, o per-
centual de desnutrição crônica chega a 40%2
,
enquanto a prevalência no País é, em média,
de 7%3
.
Outro desafio para o Brasil é reduzir a mortali-
dade materna. De 1990 a 2012, a taxa de mor-
talidade materna caiu 56%, chegando a 61,5
mortes por 100 mil nascidos vivos em 2012 (Sis-
tema de Informações sobre Mortalidade — SIM,
2011). No entanto, o País ainda está longe de al-
cançar a meta do ODM 5, que estabeleceu o nú-
mero de mortes ligadas à gravidez para 35 por
100 mil nascidos vivos.
Embora o acesso ao pré-natal tenha aumenta-
do nas últimas décadas, o desafio é melhorar a
qualidade dos serviços oferecidos. Indicadores
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
Priorizar ações e estratégias que visem
à redução da mortalidade neonatal
nas famílias mais vulneráveis, incluindo
a busca ativa de gestantes para garantir
um pré-natal de qualidade.
2
4
5 6
3
1
Criar legislação e políticas diferen-
ciadas e culturalmente adaptadas
para alcançar as populações indíge-
nas e outras mais vulneráveis, como
ribeirinhas e quilombolas.
Ampliar e adaptar a Rede Cegonha
para garantir o atendimento a gestantes
e crianças em situação de maior
vulnerabilidade.
Incentivar a amamentação e ampliar
o aleitamento materno exclusivo até
o sexto mês de vida.
Fortalecer as políticas públicas dentro
dos municípios, incluindo populações
que residem em áreas distantes.
Valorizar e estimular o parto e o
nascimento humanizados.
como a baixa cobertura de vacina antitetânica e
o grande número de casos de sífilis congênita
evidenciam a baixa qualidade das consultas.
Além disso, a prática frequente de partos por ce-
sariana pode colocar em risco a saúde e a vida de
mulheres e de bebês. Um dos perigos das cesaria-
nas é a prematuridade dos bebês, que eleva o ris-
co de óbito nas primeiras 24 horas. Na década de
1970, a cesariana era realizada em apenas 15% dos
partos4
. Esse percentual saltou para 56% em 2012,
um aumento de 373%. É a maior prevalência do
mundo. De acordo com a OMS, a proporção reco-
mendada para partos por cesariana é 15%5
.
1. Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações sobre
Nascidos Vivos (Sinasc), 2012.
2. Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas/Funasa/MS, 2008/09.
3. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher — PNDS, 2006.
4. Nascer no Brasil — Inquérito nacional sobre parto e nascimento.
5. Saúde Brasil 2013. Ministério da Saúde.
CONQUISTAS
Mortalidade infantil
Comparação internacional da taxa de mortalidade
infantil entre países (óbitos de menores
de 1 ano por 1.000 nascidos vivos)
Fonte: Estimativas do Grupo Interagencial da ONU para Mortalidade Infantil e na Infância (IGME), 2014 em UNICEF — Global Databases.
0
60
40
30
20
10
50
70
949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 11 12 201305
Brasil América Latina e Caribe Países em desenvolvimento Mundo
Mortalidade infantil
80
70
60
50
40
20
0
10
30
949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 201105
Evolução da taxa de mortalidade infantil — Brasil e por região
(óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos)
Fonte: Ministério da Saúde: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre
Nascidos Vivos (Sinasc). Estimativas a partir de métodos demográficos indiretos.
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Vidas salvas
O Brasil é uma referência no mundo na redução de mor-
talidade infantil. De 1990 a 2012, a taxa de óbito entre
crianças menores de 1 ano foi reduzida em 68,4%, atingindo
a marca de 14,9 mortes para cada 1.000 nascidos vivos.
Comparação internacional da taxa de mortalidade infantil entre países
(óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos)
Evolução da taxa de mortalidade infantil — Brasil e por região
(óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos)
GRÁFICO 3
GRÁFICO 4
14  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Mortalidade Infantil
Fonte: Estimativas do Grupo Interagencial da ONU para Mortalidade Infantil e na Infância (IGME), 2014, em UNICEF — Global Databases.
Fonte: Ministério da Saúde: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
Estimativas a partir de métodos demográficos indiretos.
CONQUISTAS
DESAFIOS
0%
2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 201020051995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2011
Mortalidade infantil
60%
40%
30%
20%
10%
50%
70%
Evolução do percentual de partos segundo
o número de consultas de pré-natal
Fonte: Ministério da Saúde: SVS/ Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc)
Nenhuma consulta 1 a 6 consultas 7 consultas ou mais
Mortalidade infantil
120%
110%
100%
90%
80%
60%
40%
50%
70%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011 20122005
Evolução da taxa de cobertura da vacina
para poliomielite Brasil e por região
Fonte: Ministério da Saúde: SVS — Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI)
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Garantia do direito
à saúde antes de nascer
Hoje, mais de 60% dos partos
ocorridos no Brasil são de
mães que fizeram, no mínimo,
sete consultas de pré-natal.
Há 20 anos, menos da metade
das gestantes brasileiras
realizava o número de consultas
recomendado.
Imunização
eficiente e universal
A taxa de cobertura vacinal
se expandiu, especialmente nas
regiões onde a vacinação
era menos presente no início da
década de 1990. O Brasil é
um dos países que oferecem,
gratuitamente, o maior número
de vacinas à população,
disponibilizando mais de 300
milhões de doses anuais de
vacinas, soros e outros.
Mortes de crianças indígenas
Crianças indígenas têm duas vezes
mais risco de morrer antes de
completar 1 ano do que as outras
crianças brasileiras.
Evolução do percentual de partos
segundo o número de consultas de pré-natal
Evolução da taxa de cobertura da vacina para poliomielite — Brasil e por região
GRÁFICO 5
GRÁFICO 6
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 15
Mortalidade Infantil
Fonte: Datasus, 2011.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS — Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
Fonte: Ministério da Saúde: SVS — Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI).
2x
Nos últimos 25 anos, o Brasil avançou em todos
os indicadores relacionados à educação. Os resul-
tados foram positivos tanto nas questões ligadas
ao acesso, quanto nas de permanência e aprendi-
zagem. Desde 2009, ampliou-se, também, a idade
escolar obrigatória, tornando esse direito acessí-
vel a mais meninos e meninas brasileiros.
De 1990 a 2013, o percentual de crianças com ida-
de escolar obrigatória fora da escola caiu 64%, pas-
sando de 19,6% para 7% (Pnad). Outro indicador a
ser celebrado é a queda na taxa média de analfa-
betismo entre brasileiros de 10 a 18 anos de idade.
Essa taxa caiu 88,8%, passando de 12,5%, em 1990,
para 1,4%, em 2013. A queda foi ainda mais signifi-
cativa entre os adolescentes negros, com redução
de 17,8% para 1,5%, e pardos, caindo de 19,4% para
1,7% no mesmo período. A queda foi de aproxima-
damente 91% em ambos os casos (Pnad).
Direito social previsto na Constituição de 1988,
o acesso à escola começou a ser universalizado
com êxito na década de 1990. Um dos fatores
que contribuiu para os avanços nessa área foi a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), de 1996, que estabeleceu o ensino obri-
gatório dos 7 aos 14 anos. Em 2006, a LDB foi
alterada para estabelecer o ensino fundamental
a partir dos 6 anos. Em 2009, outro marco decisi-
vo foi a aprovação da Emenda Constitucional 59.
Com ela, a escolaridade obrigatória foi ampliada
e passou a valer para meninos e meninas com
idades entre 4 e 17 anos.
O Brasil obteve mais um importante avanço em
2014 com a aprovação do Plano Nacional de Edu-
cação (PNE). O texto conta com 20 metas claras
e objetivas para o avanço da educação no País.
O desafio, agora, é garantir o cumprimento des-
sas metas para que todas as crianças e todos os
adolescentes, sem exceção, sejam incluídos.
Essas mudanças positivas no marco normativo
da educação demonstram o compromisso do
País com a educação para todos. No entanto,
mesmo com tantos avanços, mais de 3 milhões
de meninos e meninas ainda estão fora da es-
cola (Pnad, 2013). E essa exclusão escolar tem
rosto e endereço: quem está fora da escola são
pobres, negros, indígenas e quilombolas. Mui-
tos deixam a escola para trabalhar e contribuir
com a renda familiar; outros têm algum tipo de
deficiência. Grande parte dos excluídos vive nas
periferias dos grandes centros urbanos, no Se-
miárido, na Amazônia e na zona rural.
Um dos principais desafios é a inclusão de crian-
ças de 4 e 5 anos de idade e de adolescentes com
idades entre 15 e 17 anos. Em 2013, quase 700 mil
crianças de 4 e 5 anos ainda estavam fora da es-
cola porque as atuais pré-escolas são insuficien-
tes para atender à demanda (Pnad, 2013).
No caso dos adolescentes de 15 a 17 anos, o Bra-
sil tem avançado em relação ao número de matrí-
culas no ensino médio: de 5,4 milhões, em 1995,
chegamosa7,8milhõesdeestudantesmatriculados
Educação
O Brasil avançou em todos os indicadores
da educação, o que deve ser celebrado.
O desafio agora é promover a inclusão escolar dos que
ainda estão fora da escola e a qualidade do ensino.
16  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 17
Educação
em 2014 em escolas públicas, segundo o Censo Es-
colar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Embora tenham idade para frequentar o ensino
médio, muitos adolescentes ainda não termina-
ram o ensino fundamental. Esse é um fato preo-
cupante, já que o fracasso escolar é um dos prin-
cipais fatores de risco à permanência dos alunos
na escola. Mas não é o único: adolescentes aban-
donam a escola por causa da discriminação, da
necessidade de trabalhar, da gravidez na adoles-
cência e pelo fato de a escola não ser atrativa.
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
Promover políticas diferenciadas com
foco nos grupos mais excluídos.
Garantir a ampliação do investimento
público em educação para atingir,
no mínimo, 7% do Produto Interno Bruto
do País no quinto ano de vigência do
PNE e, no mínimo, o equivalente a
10% do PIB ao final do decênio, como
prevê a Lei do PNE.
2
4
5
6
7
3
1
Garantir a implementação do Sistema
Nacional de Educação (SNE) no prazo
de dois anos, como prevê a Lei do PNE.
Com o SNE, as responsabilidades
entre os governos federal, estadual e
municipal ficarão mais bem definidas
e o comprometimento mútuo com os
desafios, como o da educação infantil,
poderá ser mais bem assegurado
em cada nível da federação.
Promover com Estados e municípios
um amplo processo de inclusão escolar
para garantir que 100% das crianças e
dos adolescentes de 4 a 17 anos estejam
matriculados na escola e aprendendo
na idade correta.
Definir, em parceria com Estados e
municípios, programas e metas
de expansão das respectivas redes
públicas de educação infantil, segundo
o padrão nacional de qualidade,
considerando, respeitando e promovendo
as peculiaridades locais e a diversidade
para universalizar, até 2016, a educação
infantil na pré-escola (crianças de
4 e 5 anos) e ampliar a oferta em creches
para atender, no mínimo, 50% das
crianças com até 3 anos até o final da
vigência do PNE.
No caso dos Estados, desenvolver
ações e estratégias para viabilizar o
cumprimento da meta de universalizar
o ensino médio para adolescentes de
15 a 17 anos até 2016. Garantir, ainda,
85% de taxa líquida de atendimento
nessa etapa da educação até 2020,
o que indica o percentual da população
nessa faixa etária que se encontra
matriculada no nível de ensino adequado
à sua idade.
Além das questões relativas ao acesso e à per-
manência, é preciso discutir a qualidade do en-
sino. Um dos indicadores é a taxa de distorção
idade-série. O aluno é considerado em situação
de distorção ou defasagem idade-série quan-
do a diferença entre a sua idade e a idade pre-
vista para a série é de dois anos ou mais. Ain-
da que esse indicador tenha melhorado desde
1995, os números ainda requerem atenção. Em
2014, quase 8 milhões de crianças e adolescen-
tes dos ensinos fundamental e médio ainda es-
tavam com dois ou mais anos de atraso escolar
(Censo Escolar, 2014).
Fortalecer ações, programas e
estratégias, em cooperação com os
municípios, para alcançar a meta
de 100% das crianças alfabetizadas
até os 8 anos de idade, respeitando
o multilinguismo das comunidades
indígenas.
CONQUISTAS
DESAFIOS
0%
6%
12%
18%
24%
Evolução do percentual da população
em idade escolar obrigatória fora da escola
Fonte: Pnad.
Obs.: A idade escolar obrigatória na Pnad 1990 era de 7 a 14 anos. Na Pnad 2013, de 4 a 17 anos.
Adolescentes e crianças
1990 2013
Educação
0%
5%
30%
20%
15%
10%
25%
35%
1990 2013
Evolução do percentual da população em idade escolar
obrigatória fora da escola por região
Fonte: Pnad.
Obs.: A idade escolar obrigatória na Pnad 1990 era de 7 a 14 anos. Na Pnad 2013, de 4 a 17 anos.
Brasil
Norte Sudeste
Nordeste Sul
Centro-Oeste NegrosBrancos Pardos
Educação
0%
7,5%
15%
22,5%
30%
1990 2013
Fonte: Pnad.
Evolução da taxa de analfabetismo na população
entre 10 e 18 anos de idade por cor e raça
Educação
0%
10%
20%
40%
60%
30%
50%
1995 2014
Evolução do percentual da população
com 2 anos ou mais de atraso escolar
Ensino médio Ensino fundamental
Mais crianças e
adolescentes na escola
De 1990 a 2013, o percentual de
crianças com idade escolar
obrigatória fora da escola caiu 64%,
passando de 19,6% para 7%.
Menor desigualdade
Regiões mais vulneráveis apresentaram melhoras
significativas nesses 25 anos.
Mais crianças e adolescentes alfabetizados
Desde 1990, a taxa de analfabetismo caiu.
A queda foi mais significativa entre negros e pardos.
Distorção idade-série
Em 2014, quase 8 milhões de
crianças e adolescentes dos ensinos
fundamental e médio ainda estavam com
dois ou mais anos de atraso escolar.
Mais de 3 milhões
de meninos e meninas de 4 a 17
anos ainda estão fora da escola.
Evolução do percentual da população 
em idade escolar obrigatória fora da escola
Evolução do percentual da população em idade
escolar obrigatória fora da escola por região
Evolução da taxa de analfabetismo na população
entre 10 e 18 anos de idade por cor e raça
GRÁFICO 7
GRÁFICO 8 GRÁFICO 9
GRÁFICO 10
Evolução do percentual da população com 2 anos ou mais de atraso escolar
Educação
Fonte:CensoEscolar(Inep).
Fonte:Pnad.*Fonte:Pnad.
Fonte:Pnad.*
Fonte: Pnad, 2013.
*AidadeescolarobrigatórianaPnad1990erade7a14anos.NaPnad2013,de4a17anos.
HIV/aids
6%
5%
4%
2%
0%
1%
3%
2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011 201320122005
Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e IBGE
Nota: Casos notificados no SINSN até 30/06/13. Dados preliminares.
Evolução da taxa de incidência de sífilis congênita
em menores de 1 ano (por 1000 nascidos vivos) — %
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste
18  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
O QUE AINDA
PRECISA SER FEITO?
Promover políticas articuladas de busca
ativa de crianças e adolescentes com
deficiência que congreguem as áreas
de educação, saúde e assistência social
de cada Estado e município.
2
31
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
abriu um importante caminho para a inclusão de
crianças e adolescentes com deficiência no Bra-
sil. Na área de educação, garantiu a esses meni-
nos e meninas, por meio de seu artigo 53, o di-
reito ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino.
As matrículas em escolas regulares foram impul-
sionadas a partir do ano de 2008, pela ratificação
da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (2006). Em seu artigo sétimo, o texto
atribui ao Estado a responsabilidade de criar me-
didas para assegurar às crianças com deficiência
o pleno exercício de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais, em igualdade de opor-
tunidades com as demais crianças. Essa pers-
pectiva é base para o texto do Decreto nº 7.611,
de 2011, que determina a garantia de um sistema
educacional inclusivo em todos os níveis, sem
discriminação e com base na igualdade de opor-
tunidades.
A criação de programas como o Benefício de
Prestação Continuada (BPC) na Escola foram de-
cisivos nesse processo. O BPC na Escola cruza
informações sobre crianças e adolescentes que
recebem o Benefício de Prestação Continuada
(BPC) — pago a pessoas de baixa renda com al-
guma deficiência — com informações das esco-
las para identificar crianças que não estão es-
tudando e quais as barreiras que impedem ou
dificultam o acesso e a permanência na escola.
Os marcos legais aliados às políticas públicas
têm contribuído para a inclusão de crianças e
adolescentes com deficiência. O número de me-
ninos e meninas com deficiência que frequen-
tam escolas regulares saltou de 30 mil em 2000
para 700 mil em 2014 (Censo Escolar).
No entanto, mesmo com esses avanços, obstá-
culos ainda impedem o livre acesso desses me-
ninos e meninas à escola e à educação inclusiva.
O preconceito e o atendimento inadequado ou
inexistente para essa população são algumas das
barreiras que dificultam que eles tenham assegu-
rado o seu direito de permanecer estudando, de
progredir nos estudos e de concluir a educação
básica na idade certa. Segundo um levantamen-
to do Ministério do Desenvolvimento Social, 30%
das crianças e dos adolescentes que recebem o
BPC não estão estudando.
Quem chega à escola enfrenta diferentes obstácu-
los. Apenas 22% das instituições de ensino têm de-
pendências adaptadas a crianças com deficiência
e só 12% têm sala de atendimento especializado
(Censo Escolar, 2013).
O acesso à educação fica ainda mais prejudica-
do de acordo com o tipo e o grau de deficiência.
Em geral, as escolas recusam crianças com de-
ficiência severa. Além disso, é muito difícil que
a educação de crianças com deficiência avance
além do ensino fundamental. Há poucas escolas
de ensino médio que oferecem atendimento para
adolescentes com deficiência, o que limita muito
a sua inserção nessa etapa educacional.
Investir em infraestrutura e formação
de professores para criar condições
e efetivar a meta 4 do Plano Nacional
de Educação (PNE), que trata da
universalização do acesso de crianças
e adolescentes entre 4 e 17 anos
com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação.
Fortalecer a formação de professores
e estimular redes de apoio entre os
diferentes atores de educação, saúde e
assistência social, bem como as crianças,
os adolescentes e suas famílias.
Educação e as crianças com deficiência
A condição física ou cognitiva ainda é um fator determinante para a exclusão escolar.
As crianças com deficiência que chegam às escolas ainda enfrentam barreiras.
A ausência de registro civil de nascimento é a
primeira violação de direitos sofrida por uma
criança depois de seu nascimento. Sem o regis-
tro, ela não tem acesso adequado a políticas pú-
blicas de saúde, educação e assistência social.
Corre, ainda, o risco de sofrer violência, ser ví-
tima do tráfico de pessoas ou de adoção ilegal.
Dessa forma, o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA) tem sido decisivo para proteger
meninas e meninos brasileiros ao reforçar a im-
portância do registro civil e da certidão de nasci-
mento para todos os cidadãos brasileiros.
Por essa razão, a redução do sub-registro civil no
País é outra conquista a ser celebrada por oca-
sião dos 25 anos do ECA. De 1990 a 2013, o per-
centual de crianças registradas no mesmo ano
de nascimento subiu de 66% para 95% (Pnad).
Esse aumento foi ainda mais significativo nas re-
giões Norte e Nordeste. Há 25 anos, apenas um
terço das crianças possuía o registro civil no Nor-
te do País. No Nordeste, esse percentual era de
44,5%. Em 2013, os percentuais de crianças re-
gistradas nessas regiões já chegavam a 82% e
94%, respectivamente. Nas regiões Sul e Sudes-
te, 98% das crianças já recebem o primeiro docu-
mento ao nascer.
Os avanços são resultado da mobilização da so-
ciedade civil, de campanhas de conscientização e
de políticas públicas que garantiram, por exem-
plo, a realização de mutirões e a instalação de
postos dos cartórios nas maternidades. Na última
década, foram realizadas ações para aumentar a
conscientização das famílias, engajar o setor da
justiça, agentes públicos e serviços notariais para
alcançar as crianças que vivem em áreas remo-
tas. Outra conquista importante foi a aprovação
da Lei Federal n° 9.534 que, a partir de 1997, tor-
nou gratuitos o registro civil e a emissão da pri-
meira via da certidão de nascimento.
No entanto, em 2010, o Censo Demográfico in-
dicava que cerca de 600 mil meninas e meninos
brasileiros de até 10 anos de idade ainda perma-
neciam invisíveis aos olhos do Estado. Desses,
400 mil residiam nas regiões Norte e Nordeste.
A violação desse direito é ainda mais grave en-
tre crianças indígenas. Apenas 57,9% das crian-
ças indígenas são registradas no primeiro ano de
vida. Entre aquelas de até 10 anos, a proporção
de meninos e meninas com certidão de nasci-
mento é de 70%, muito abaixo da média nacional
(Censo Demográfico, 2010).
Por que crianças indígenas ainda têm esse direi-
to violado? Uma análise realizada pelo UNICEF
em 2014 aponta que os principais obstáculos
estão associados ao desconhecimento da po-
pulação indígena sobre os benefícios do regis-
tro civil de nascimento e às dificuldades e os
altos custos de deslocamento. Além disso, há
cartórios que oferecem resistência para emi-
tir esse documento para indígenas e relatos de
cobranças indevidas para o registro e emissão
da certidão.
Registro Civil
O direito ao registro civil de nascimento
é garantido a 95% das crianças brasileiras.
O grande desafio é chegar aos 5% ainda excluídos, especialmente
crianças indígenas e as que vivem em áreas isoladas.
20  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Registro Civil
Evolução do percentual de nascidos vivos registrados
no mesmo ano de nascimento por região — %
949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 11 12 201305
Fonte: IBGE — Estatísticas do Registro Civil.
Obs.: A base de dados foi constuída a partir de duas consultas independentes de 1990–2002 e de 2003–2013.
Assim, pode haver alguma diferença metodológica.
0
100
25
50
75
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
das crianças brasileiras possuem registro
civil de nascimento. Em 10 anos, o Brasil
diminuiu as diferenças regionais.
Evolução do percentual de nascidos vivos registrados
no mesmo ano de nascimento por região
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 21
Registro Civil
CONQUISTAS
DESAFIOS
Registro Civil
Fonte: Censo demográfico/IBGE, 2010.
Percentual de pessoas sem registro civil
de nascimento no Brasil
Crianças sem registro (ano 2010)
Menos de 5%
De 5% a menos de 10%
De 10% a menos de 15%
15% ou mais
Registro Civil
Fonte: Censo demográfico/IBGE, 2010.
Percentual de pessoas sem registro civil
de nascimento no Brasil
Crianças sem registro (ano 2010)
Menos de 5%
De 5% a menos de 10%
De 10% a menos de 15%
15% ou mais
Cerca de 600 mil crianças
com até 10 anos de idade ainda estão
sem registro civil de nascimento
no Brasil (Censo Demográfico, 2010).
Percentual de crianças sem
registro civil de nascimento
no Brasil
Fonte: IBGE — Estatísticas do Registro Civil. Nota: A base de dados foi construída a partir de duas consultas independentes de 1990–2002
e de 2003–2013. Assim, pode haver alguma diferença metodológica.
Fonte: Censo Demográfico, 2010.
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
Assegurar a existência de uma política
nacional de documentação civil, com
atenção especial às crianças indígenas
e aos adolescentes não registrados.
1
3
2
Nos grandes centros urbanos,
garantir o registro civil para que
cada criança e cada adolescente
tenham assegurado o seu direito
à documentação.
Dar continuidade aos esforços locais
e nacionais na ampliação do serviço
de oferta de documentação civil
para populações indígenas, povos e
comunidades tradicionais e pessoas
que vivem em regiões isoladas.
Isso deve ser realizado por meio de
parcerias com outros serviços públi-
cos de saúde, educação e assistência
social, além de articulação com
órgãos como a Fundação Nacional do
Índio (Funai), Secretaria Especial de
Saúde Indígena/Distritos Sanitários
Especiais Indígenas (Sesai/DSEIs),
cartórios e redes da sociedade civil.
Grande parte das crianças sem registro
civil são indígenas ou vivem em regiões
isoladas, especialmente no Norte e
no Nordeste do País. Muitas delas em
comunidades tradicionais (ciganas,
quilombolas e ribeirinhas).
95%
GRÁFICO 11
GRÁFICO 12
A redução do trabalho infantil foi uma das gran-
des conquistas do Brasil nos últimos 25 anos. En-
tre 1992 e 2013, o número de crianças e adoles-
centes de 5 a 15 anos trabalhando no País caiu
de 5,4 milhões para 1,3 milhão (Pnad). Isso repre-
senta uma queda de 73,6% na taxa de trabalho
infantil para essa faixa etária (de 14,6% para 4%).
Os dados mostram, no entanto, que nem todas
as crianças têm o seu direito garantido em condi-
ções de igualdade.
Atualmente, o trabalho de crianças de 5 a 9 anos
é praticamente inexistente no Brasil. Mas ainda
está presente na faixa de 10 a 15 anos. A maioria
das vítimas são meninos negros da zona urba-
na, ainda que as taxas tenham diminuído desde
1992, em especial na Região Nordeste, com que-
da de 75% (Pnad). A maioria executa trabalhos
remunerados, e é significativa a parcela de me-
ninas envolvidas no serviço doméstico. Muitos
estão fora da escola, ou em atraso escolar.
Para entender as raízes dessa situação, vale ob-
servar como o trabalho de crianças e adolescen-
tes foi encarado ao longo dos anos no País. A
Constituição Federal de 1934 proibia qualquer
forma de trabalho a menores de 14 anos, o traba-
lho noturno a menores de 16 e o exercido em in-
dústrias insalubres a menores de 18 anos. Doze
anos depois, a Constituição de 1946 ampliou
para 18 a idade mínima para o trabalho noturno.
Nos primeiros anos do governo militar, em 1967,
as regras mudaram novamente e foi autorizado
o trabalho a maiores de 12 anos. O limite subiu
para 14 anos em 1974.
Era esse o cenário brasileiro nos anos 80: meni-
nos e meninas de 14 anos ou mais podiam traba-
lhar e não havia uma legislação específica que
lhes assegurasse direitos. Eles não eram vistos
como sujeitos de direitos humanos e estavam
expostos a situações degradantes, comumente
denunciadas na imprensa nacional e internacio-
nal. Os debates sobre o tema ganharam força
nas discussões para a Constituição de 1988. As
regras para o trabalho de menores de 18 anos
foram incluídas no Art. 7º dessa Constituição e
em um capítulo específico do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente. Quase uma década de-
pois, em 1998, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) divulgou a Convenção 182 sobre
as piores formas de trabalho infantil e o Brasil
aprovou a Emenda Constitucional nº 20, elevan-
do a idade mínima de 14 para 16 anos. Ficava
proibido o trabalho para menores de 16 anos,
salvo na condição de aprendiz.
Os marcos legais foram acompanhados de uma
grandemobilizaçãodasociedadecivilparaaredu-
ção do trabalho infantil, ocorrida especialmente
Trabalho Infantil
O Brasil se tornou referência internacional
no combate à exploração do trabalho infantil.
Mas ainda 1,3 milhão de crianças e adolescentes têm seus direitos violados.
22  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 23
Trabalho Infantil
nos primeiros anos após a aprovação do Estatuto.
Como uma das principais causas do problema
é a situação econômica das famílias, em 1996
foi criado o Programa de Erradicação do Traba-
lho Infantil (Peti). A iniciativa tinha como obje-
tivo prover complementação de renda e apoio
a pais de crianças e adolescentes que trabalha-
vam, para que eles saíssem da situação de tra-
balho infantil. O programa esteve em vigor de
forma autônoma até 2005, quando foi integrado
ao Bolsa Família. A partir de então, as famílias
que recebiam o benefício do Peti passaram a ter
de cumprir também condicionalidades de edu-
cação e saúde do novo programa.
Aliados às barreiras econômicas, há aspectos
políticos, sociais e culturais que dificultam a eli-
minação do trabalho infantil. A falta de perspec-
tivas de vida é um dos fatores que levam crian-
ça ou adolescente a trabalhar precocemente. E a
educação é fundamental nesse debate. Meninos
e meninas que estão na escola aprendendo são
menos vulneráveis à exploração de mão de obra
antes do tempo permitido.
Além de tirar as crianças da escola, o trabalho afeta
o rendimento escolar, que é inferior ao das crianças
que só estudam. Uma comparação da pontuação
obtida no Sistema de Avaliação da Educação Bási-
ca (Saeb) mostra que tanto em Português como em
1. Fonte: IBGE, Relatório sobre Trabalho Infantil Doméstico.
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
3
1
Matemática, no ensino fundamental e no ensino
médio, o desempenho dos alunos que trabalham é
menor que o daqueles que não o fazem.
Por isso, também são maiores entre as crianças
trabalhadoras as taxas de repetência e de aban-
dono. Em 2013, 3 milhões de crianças e adoles-
centes de 4 a 17 anos estavam fora da escola no
Brasil (Pnad, 2013). Outros 8 milhões de meninos
e meninas dos ensinos fundamental e médio en-
contravam-se em atraso escolar, correndo o ris-
co de evadir (Censo Escolar, 2014). Modificar esse
quadro e garantir a permanência e a aprendiza-
gem é fundamental para que essas crianças e es-
ses adolescentes não venham a reforçar as esta-
tísticas de trabalho infantil.
Outro ponto importante é desnaturalizar algumas
formas de trabalho infantil ainda culturalmente
aceitas, como o trabalho doméstico. Entre 2008 e
2011, o número de casos de crianças e adolescen-
tes ocupados no trabalho infantil doméstico dimi-
nuiu de 325 mil para 258 mil — uma redução de
apenas 0,2 ponto percentual1
. Somam-se a esses
dados os de crianças e adolescentes que traba-
lham com suas famílias no comércio informal —
situação visível aos olhos da sociedade e comu-
mente não notificada —, muitas vezes por falta de
alternativas públicas como creches e escolas em
período integral e de fiscalização.
Promover a coordenação das políticas públicas nas
áreas de assistência social, educação e saúde para
garantir que todos os direitos sejam assegurados
integralmente a crianças e adolescentes.
Focar em políticas de educação para adolescentes,
capazes de garantir acesso, permanência e aprendi-
zagem nas escolas.
Ampliar a oferta de creches para que crianças
tenham acesso a ambientes seguros e que
promovam o seu desenvolvimento pleno enquanto
os pais trabalham.
5
4
Criar políticas diferenciadas com foco para os grupos
sociais mais vulneráveis ao trabalho infantil.
Ampliar o tempo de permanência de meninas
e meninos nas escolas de modo a garantir uma
educação integral.
2
CONQUISTAS
DESAFIOS
Trabalho infantil
0%
7,5%
15%
22,5%
30%
1992 20112001 2013
Fonte: Pnad (IBGE)
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas
ocupadas entre 5 e 15 anos de idade
5 a 9 anos 10 a 15 anos
Trabalho infantil
0%
4,5%
9%
13,5%
18%
1992 20112001 2013
Fonte: Pnad.
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas
ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por região
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
NegrosBrancos Pardos
Trabalho infantil
0%
4,5%
9%
13,5%
18%
1992 20112001 2013
Fonte: Pnad.
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas
ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por cor e raça
Outros
Mais crianças e
adolescentes protegidos
A incidência do trabalho infantil entre a população
de 5 a 15 anos reduziu-se consideravelmente nos
últimos 20 anos. Entre os mais novos, de 5 a 9 anos,
o trabalho infantil está próximo de zero.
Região Nordeste
foi a que mais avançou
Redução aconteceu em todas as regiões.
Na Região Nordeste, a queda foi de 64,6%.
As mais vulneráveis
Crianças negras e pardas
estão entre as principais vítimas
de trabalho infantil no Brasil.
1,3 milhão
de crianças e adolescentes
de 5 a 15 anos ainda trabalham
no Brasil.
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas
ocupadas entre 5 e 15 anos de idade
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas
ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por região
GRÁFICO 13 GRÁFICO 14
GRÁFICO 15
Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas
ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por cor e raça
Fonte: Pnad, 2013.
Fonte: Pnad.
Fonte: Pnad.
Fonte: Pnad.
6%
5%
4%
2%
0%
1%
3%
2004 2006 2007 2008 20092005
Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e IBGE
Nota: Casos notificados no SINSN até 30/06/13. Dados preliminares.
Evolução da taxa de incidência de sífilis co
em menores de 1 ano (por 1000 nascidos
Brasil Norte Nordeste Sudes
Trabalho Infantil
24  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Quando o Estatuto da Criança e do Adolescen-
te foi aprovado, em 1990, não era tão evidente
no País a percepção de que o HIV/aids poderia
representar um risco ao direito à sobrevivência
e à saúde de crianças e adolescentes. Naquele
momento, prevalecia a ideia de que o proble-
ma se concentrava na população adulta e em
homens que faziam sexo com outros homens.
Nesse contexto, o Brasil se tornou uma referên-
cia internacional ao responder com uma estra-
tégia ampla de prevenção, testagem e acesso
universal ao tratamento.
Hoje, o cenário no País é de uma epidemia es-
tável e concentrada em alguns grupos de maior
vulnerabilidade como homens que fazem sexo
com homens (HSH), profissionais do sexo, pes-
soas que usam drogas, transexuais e travestis.
O Ministério da Saúde estima que, em 2014,
734 mil pessoas viviam com HIV/aids no Brasil,
o que corresponde a uma prevalência de 0,4%
da população1
.
Uma das grandes conquistas dos últimos 10 anos
é o sucesso no controle da transmissão verti-
cal do HIV, quando o vírus é transmitido da mãe
para o bebê durante a gestação, o parto ou a
amamentação. Dados do mais recente boletim
epidemiológico do Ministério da Saúde, divulga-
do em 2014, indicam que caiu pela metade o nú-
mero de casos de aids por transmissão vertical
em crianças com menos de 5 anos entre 1995 e
2013, quando foram registrados 374 casos.
Hoje, os efeitos mais graves da epidemia de aids
no Brasil recaem sobre os adolescentes. No mun-
do, um terço das novas infecções ocorre em jo-
vens na faixa etária dos 15 aos 24 anos2
, sendo
que os meninos são os mais afetados. No Brasil,
entre 2004 e 2013, o número de novos casos em
meninos com idades entre 15 e 19 anos aumen-
tou em 53%3
.
Em 2013, a incidência de aids em adolescen-
tes do sexo masculino com idades entre 13 e 19
anos era 30% maior do que em meninas da mes-
ma faixa etária, segundo o Ministério da Saúde.
Além disso, meninos que fazem sexo com ou-
tros meninos têm 10 vezes mais chance de
contrair o HIV do que jovens heterossexuais da
mesma idade.
Outro grande desafio no que se refere à saúde
na primeira infância é a alta taxa de transmis-
são vertical de sífilis. De 1998 a 2013, a taxa de
incidência de sífilis congênita em menores de
1 ano de idade subiu de 1,1 para 4,7 casos por
1.000 nascidos vivos. Em gestantes não trata-
das, a transmissão pode acontecer entre 70% e
100% dos casos. A doença pode provocar abor-
to, morte fetal, morte neonatal, parto prematuro
e má formação fetal. A alta taxa é um indicador
importante do atendimento pré-natal e aponta
para o desafio de melhorar a qualidade desse
serviço, além de garantir o acesso ao pré-natal
para todas as mães. Entre 1998 e 2011, foram re-
gistrados 1.506 óbitos por sífilis congênita4
.
HIV/aids e Sífilis
Brasil avançou no controle da transmissão
do HIV de mães para bebês.
No entanto, cresce o número de adolescentes infectados pelo vírus da aids.
26  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
1. Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2014.
2. UNAIDS Relatório GAP, 2014.
3. Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico, 2014.
4. Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico Sífilis, 2015.
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
CONQUISTAS
DESAFIOS
Melhorar o acesso à prevenção,
à testagem e aos serviços de atendi-
mento e tratamento direcionados
para o público adolescente.
Melhorar a qualidade do atendimento
pré-natal, especialmente no que
diz respeito à redução da transmissão
vertical de HIV e sífilis.
HIV/aids
0
200
400
600
800
1.000
1.200
Evolução do número de casos de aids na categoria
de exposição transmissão vertical em crianças de até 5 anos.
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Número de casos
Fonte: Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2006 e 2014.
HIV/aids
4
3,5
3
2
0
1,5
1
0,5
2,5
2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011200520022001200019991998 2003
Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Nota: (1) Casos notificados no Sinan até 30/06/12. (2) Dados preliminares para os últimos cinco anos.
Evolução da taxa de incidência de sífilis congênita
em menores de 1 ano (por 1.000 nascidos vivos)
por região e ano de diagnóstico
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Bebês protegidos
Tendência de queda da transmissão
vertical do HIV se mantém desde 2004.
Sucesso do País é reconhecido
internacionalmente.
Pré-natal de qualidade
O atendimento pré-natal de
baixa qualidade é um dos fatores
de transmissão da sífilis da mãe
para o bebê.
Novos casos de aids
em meninos com idades
entre 15 e 19 anos.
Evolução do número de casos de aids na categoria de
exposição transmissão vertical em crianças de até 5 anos
GRÁFICO 16
GRÁFICO 17
Evolução da taxa de incidência de sífilis congênita
em menores de 1 ano (por 1.000 nascidos vivos)
por região e ano de diagnóstico
2 4
3
1 Garantir a realização dos testes para
diagnóstico de HIV/aids e sífilis no
pré-natal e no momento do parto,
além de tratamento para a gestante
e o parceiro.
A Rede Cegonha, implantada em 2011,
tem melhorado a assistência a gestantes
e recém-nascidos. No entanto, é neces-
sário garantir em todos os municípios
brasileiros um pré-natal de qualidade,
uma assistência ao parto humanizado
e uma atenção ao pós-parto para as
mães e seus bebês. Essa atenção deve
ser disponibilizada em locais próximos
às residências, inclusive nas áreas mais
isoladas do País.
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 27
HIV/aids e Sífilis
Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Nota: (1) Casos notificados no Sinan até 30/06/12. (2) Dados preliminares para os últimos cinco anos.
Fonte: Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2006 e 2014.
Dados: Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2014.
53%
HIV/aids
6%
5%
4%
2%
0%
1%
3%
2004 2006 2007 2008 20092005
Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e IBGE
Nota: Casos notificados no SINSN até 30/06/13. Dados preliminares.
Evolução da taxa de incidência de sífilis co
em menores de 1 ano (por 1000 nascidos v
Brasil Norte Nordeste Sudest
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é
um divisor de águas na garantia da proteção dos
direitos de crianças e adolescentes. De um lado,
criou um sistema de proteção para aqueles que
sofrem ameaça ou violação de direitos. Meninos
e meninas, vítimas de violência, negligência e
exploração passaram a ter direito a programas
diferenciados de proteção.
De outro lado, foi estabelecido um modelo de
responsabilidade penal de adolescentes entre
12 e 18 anos de idade baseado no chamado di-
reito penal juvenil. O adolescente deixou de es-
tar submetido às decisões arbitrárias de juízes
de menores e passou a ser tratado como pessoa
em condição especial de desenvolvimento. O Es-
tatuto inaugura então um sistema de garantias e
responsabilidades, um contraponto ao arbítrio
do sistema tutelar existente anteriormente.
Os avanços trazidos pelo Estatuto nessa área po-
dem ser analisados sob duas dimensões. A pri-
meira é a questão da legalidade. Antes do ECA,
prevalecia a chamada doutrina da situação irre-
gular, que autorizava a internação dos adoles-
centes, mesmo sem ter havido qualquer delito.
A partir de 1990, o adolescente só pode ser sub-
metido a uma medida socioeducativa se houver
comprovação da autoria e da materialidade do
ato infracional. A segunda é a questão da pro-
porcionalidade, isto é, a medida socioeducativa
deve ser proporcional ao ato infracional cometi-
do, e ainda assim a internação só deve ser apli-
cada para os atos mais graves, como medida de
último recurso.
Outro avanço foi a criação do Sistema Nacional
de Atendimento Socioeducativo (Sinase). Instituí-
do em 2006 por uma resolução do Conselho Nacio-
nal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Co-
nanda) e aprovado como lei em 2012, define desde
temas como o financiamento dos programas até a
necessidade dos chamados “Planos de Atendi-
mento Socioeducativo”. O Sinase estabelece que
é de responsabilidade dos municípios a oferta de
programas destinados à execução das medidas so-
cioeducativas em meio aberto (liberdade assistida
e prestação de serviços à comunidade) e que cabe
aos Estados a aplicação das medidas privativas de
liberdade (internação e semiliberdade). Prevê tam-
bém obrigação de intervenções específicas nas fa-
mílias dos adolescentes, entre outras medidas.
Medidas Socioeducativas
Com o ECA, o adolescente deixou de estar submetido
às decisões arbitrárias de juízes de menores e passou a ser tratado
como pessoa em condição especial de desenvolvimento.
Passados 25 anos, o Brasil vive a ameaça de retrocesso com as
discussões sobre redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
28  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 29
Medidas Socioeducativas
O Brasil vive hoje a ameaça de retroceder o ca-
minho que trilhou nos últimos 25 anos caso seja
aprovada a redução da maioridade penal de 18
para 16 anos. O rebaixamento não só não resol-
verá a questão da violência como poderá agra-
vá-la. O sistema penitenciário adulto brasilei-
ro é mundialmente conhecido por seus graves
problemas: superlotação, torturas sistemáticas
e incapacidade de reintegrar seus presos. Nes-
se sistema, os adolescentes estarão expostos às
facções do crime organizado e às precárias con-
dições do sistema prisional brasileiro.
Além disso, o modelo de responsabilização de
adolescentes, previsto na Lei do Sistema Nacio-
nal de Atendimento Socioeducativo (Sinase) não
está sendo implementado de forma efetiva. Re-
latórios elaborados pelo Conselho Nacional de
Justiça a partir de visitas realizadas aos centros
de internação de adolescentes em conflito com a
lei revelam que ainda persistem irregularidades
no sistema, como unidades superlotadas e sem
as condições de higiene e salubridade; falta de
projetos pedagógicos; e uso da internação como
medida padrão para casos que são passíveis de
solução em meio aberto.
1. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Levantamento
Sinase, 2012.
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
Fortalecer o Sinase, implementando, entre
outras medidas, a melhoria da estrutura das
unidades de internação e criando projetos
pedagógicos e profissionais capazes de reintegrar
os adolescentes em conflito com a lei.
Ampliar a oferta de medidas socioeducativas
em meio aberto e fortalecer as defensorias
públicas.
Investir na universalização de políticas
de inclusão social, garantindo para crianças
e adolescentes o direito à educação, à saúde
e à proteção contra a violência e a negligência.
Investir em uma política de prevenção
de delitos capaz de interromper a trajetória que
leva ao ato infracional.
3
4
2
1
Um outro dado alarmante, que demonstra a fragi-
lidade da implementação do sistema, diz respei-
to ao elevado número de mortes de adolescentes
nas dependências do Sinase. Em 2012, 30 adoles-
centes morreram em unidades de internação, sen-
do 11 (37%) por conflitos interpessoais, 9 (30%)
por conflito generalizado e 5 (17%) por suicídio1
.
No atual debate, qualquer caminho a ser propos-
to para a responsabilização com mais rigor de
adolescentes que cometem graves delitos deve
reafirmar a necessidade de uma resposta distin-
ta do sistema criminal e das penas aplicáveis ao
adulto. É preciso fortalecer o sistema atual ten-
do como referência experiências bem-sucedidas
de outros países — e não faltam bons exemplos.
Este é um momento oportuno para o debate so-
bre melhores formas de prevenir delitos e res-
ponder de forma efetiva aos crimes violentos co-
metidos por adolescentes. Aperfeiçoar o sistema
socioeducativo, garantindo que ele ajude a inter-
romper a trajetória do adolescente na prática do
delito, é uma das tarefas mais importantes que o
País tem diante de si.
CONQUISTAS
Perfil dos adolescentes que cumpriam medidas
socioeducativas com restrição da liberdade em 2011
Fonte: Conselho Nacional de Justiça – CNJ, DMF/CNJ – Panorama Nacional: A execução de medidas
socioeducativas de internação – Programa Justiça ao Jovem. Conselho Nacional de Justiça, 2012.
não frequentavam
a escola antes
da internação.
57%
não completaram
o ensino
fundamental.
86%
eram
usuários
de droga.
75%
tinham
entre
16 e 18 anos.
72%
MSE
Roubo
Tráfico
de
drogas
H
om
icídio
A
m
eaça
de
m
orte
Furto
Latrocínio
Tentativa
de
roubo
Estupro
Tentativa
de
hom
icídio
Porte
de
arm
a
de
fogo
0
2.000
4.000
6.000
10.000
8.000
12.000
MSE
Atos infracionais com maior incidência
40,0%
24,0%
6,0%
9,0%
3,0% 3,0% 2,0% 2,0% 2,0% 1,0%
Fonte: Levantamento Anual - Sinase 2013 - Preliminar
*O número de atos infracionais é superior ao número de adolescentes, pois alguns adolescentes estão
em atendimento socioeducativo considerando-se mais de um ato infracional.
Números de atos infracionais* = 25.192
O Estatuto inaugura um sistema de garantias
e responsabilidades para adolescentes de
12 a 18 anos. É um contraponto ao arbítrio do sistema
tutelar existente anteriormente.
Implementar o modelo de responsabilização
previsto na Lei do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Sinase) de forma integral.
Dos 21 milhões de
adolescentes brasileiros,
0,01% estão cumprindo
medidas socioeducativas
por atos contra a vida.
Perfil dos adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas com restrição da liberdade em 2011*
Atos infracionais com maior incidência
Números de atos infracionais = 25.192
GRÁFICO 18
GRÁFICO 19
30  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Medidas Socioeducativas
Fonte: Conselho Nacional de Justiça — CNJ, DMF/CNJ — Panorama Nacional: A execução de medidas socioeducativas de internação — Programa Justiça ao Jovem. Conselho Nacional de Justiça, 2012.
*Pesquisa realizada com uma amostra de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas.
Fonte: Levantamento Anual — Sinase 2013 — Preliminar.
Fonte: Estimativa do UNICEF com base
em dados do Levantamento Sinase 2012 e
Pnad 2012.
DESAFIOS
0,01%
RELATÓRIO UNICEF ECA 25 ANOS 14
Mortalidade Infantil
O Brasil, que se tornou referência mundial na redução da mor-
talidade infantil, não tem conseguido impedir o alarmante
crescimento de assassinatos de seus adolescentes. O Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que eles devem
ter garantido seu direito à vida, refletindo o que determina a
Constituição Federal.
No entanto, após a aprovação dessa lei, o número de homi-
cídios de brasileiros de até 19 anos de idade dobrou. De 1990
a 2013, passou de 5 mil para 10,5 mil casos ao ano (Datasus,
2013). Isso significa que, a cada dia, 28 crianças e adolescentes
são assassinados1
.
No Brasil, entre 2008 e 2011, o número de pessoas assassina-
das foi maior do que nos 12 maiores conflitos armados ocor-
ridos no mundo de 2004 a 2007, entre eles, as guerras no Ira-
que e no Congo2
. Dos adolescentes que morrem por causas
externas no País, 36,5% são assassinados. Na população to-
tal, esse percentual é de 4,8%3
. Esse cenário perturbador co-
loca o Brasil em segundo lugar no ranking dos países com
maior número de assassinatos de meninos e meninas de até
19 anos, atrás apenas da Nigéria4
.
Os assassinatos sistemáticos de crianças e adolescentes não
são um fenômeno novo no País. Em 1993, a Chacina da Can-
delária chamou a atenção para as execuções de adolescentes,
que seguem ocorrendo no Brasil. Naquele crime, três policiais
fora de serviço atiraram contra um grupo de cerca de 50 mora-
dores de rua que dormiam na região central do Rio de Janeiro.
Entre os oito mortos, seis crianças e adolescentes.
Homicídios
Desde a aprovação do ECA,
o número de homicídios de
crianças e adolescentes dobrou.
Esses assassinatos formam a face mais trágica
das violações de direitos que afetam meninos e
meninas brasileiros.
32  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
O crescimento do número de homicídios de
adolescentes é a mais trágica das violações de
direitos que afetam crianças e adolescentes.
As vítimas têm cor, classe social e endereço.
São em sua maioria meninos negros, pobres,
que vivem nas periferias e áreas metropolita-
nas das grandes cidades. A taxa de homicídio
entre adolescentes negros é quase quatro ve-
zes maior do que aquela entre os brancos (36,9
a cada 100 mil habitantes, contra 9,6 entre os
brancos) (Datasus, 2013). O fato de ser homem
multiplica o risco de ser vítima de homicídio em
quase 12 vezes5
.
O fenômeno dos homicídios de adolescentes tem
múltiplas causas. Entre elas, estão aspectos liga-
dos à raça, ao gênero e à classe social dos ado-
lescentes. Os assassinatos de meninos negros,
pobres e de periferias que ocorrem diariamente
no País não geram a mesma comoção provoca-
da pelas mortes de meninos brancos. As mortes
dos adolescentes negros são muitas vezes justifi-
cadas, de forma equivocada, pelos conflitos entre
facções rivais e pelo tráfico de drogas.
Outro aspecto é o ciclo de impunidade provoca-
do pela lentidão na conclusão dos processos ju-
diciais e pela necessidade de fortalecimento dos
mecanismos de investigação policial. De acordo
com a Associação Brasileira de Criminalística,
entre 92% e 95% dos homicídios em geral come-
tidos no Brasil não são solucionados.
Cerca de 42 mil adolescentes brasileiros poderão
ser assassinados entre 2013 e 2019 se as condi-
ções atuais do País prevalecerem. Essa é a esti-
mativa feita a partir do Índice de Homicídios na
Adolescência (IHA), desenvolvido pela Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República,
pelo UNICEF, pelo Observatório de Favelas e pelo
Laboratório de Análise da Violência da Universi-
dade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-Uerj). Nes-
te ano em que o ECA completa 25 anos, o País tem
a oportunidade de agir para garantir o direito à
vida desses milhares de adolescentes brasileiros.
O
QUE
AINDA
PRECISA
SER
FEITO?
Implementar uma ação nacional
articulando governos federal,
estaduais e municipais para diminuir
o número de homicídios praticados
contra adolescentes e jovens,
que afetam particularmente
os negros.
Fortalecer a atuação coordenada
das instituições integrantes do sistema
de justiça e segurança.
Garantir a investigação imparcial de
todos os homicídios para encontrar
os responsáveis e aplicar as medidas
previstas em lei, aprovando, por exemplo,
o projeto de lei 4471/2012. Esse PL
altera o Código de Processo Penal e
exige a investigação de todas as mortes
e lesões corporais decorrentes do uso
da força por agentes do Estado.
Desenvolver protocolos e a formação
dos policiais para atuarem de acordo
com princípios de direitos humanos,
respeito à diversidade e como agentes
de proteção da vida.
3
4
1
Adotar políticas e programas de
prevenção das mortes violentas na
adolescência e de produção de
informações mais precisas sobre
quantos e quem são os adolescentes
assassinados.
No nível estadual, elaborar e
implementar planos estaduais de
redução de mortes violentas na
adolescência, atuando em parceria
com iniciativas municipais adotadas
nessa direção.
Adotar programas estaduais especí-
ficos ou aderir às políticas públicas
federais de prevenção à violência,
que devem incluir iniciativas como
campanhas sobre essa questão.
Homicídios
1. Estimativa feita pelo UNICEF no Brasil baseada em dados do Datasus, 2013,
e Pnad, 2013.
2. Global Burden of Armed Violence, 2008.
3 e 5. Homicídios na Adolescência no Brasil, 2015.
4. Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014.
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 33
2
7
6
5
Homicídios
0
8.000
6.000
4.000
2.000
12.000
10.000
949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 11 12 201305
Fonte: MS/SVS/CGIAE — Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)
Nota: A base de dados foi construída a partir de duas consultas independentes de 1990–1995 e de 1996–2013.
Assim, pode haver alguma diferença metodológica.
Evolução do número de homicídios de crianças e
adolescentes (0 a 19 anos) e adolescentes (15 a 19 anos)
0 a 19 anos 15 a 19 anos
Homicídios
Países com maiores números de homicídios
entre pessoas de até 19 anos
Fonte: Relatório Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014
Nigéria
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000 11.000 12.000 13.000
Venezuela
Colômbia
Paquistão
Etiópia
México
RD Congo
Índia
Brasil
EUA
Mortes aumentam a cada ano
Vítimas são meninos negros, pobres, que vivem nas
periferias das grandes cidades
O fato de ser homem multiplica o risco de ser vítima
de homicídio em quase 12 vezes.
Comparação internacional
Em termos absolutos, o Brasil é o segundo país com
maior número de homicídios de adolescentes.
Evolução do número de homicídios
de crianças e adolescentes (0 a 19 anos)
e adolescentes (15 a 19 anos)
Países com maior número de homicídios entre pessoas de até 19 anos (2012)
GRÁFICO 20
GRÁFICO 21
Fonte: Relatório Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014 .
Fonte: MS/SVS/CGIAE — Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Nota: A base de dados foi construída a partir de duas consultas independentes de 1990–1995 e de 1996–2013.
Assim, pode haver alguma diferença metodológica.
34  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
A taxa de homicídio entre adolescentes negros
é quase quatro vezes maior do que aquela entre os
brancos (36,9 a cada 100 mil habitantes, contra
9,6 entre os brancos).		 Fonte: Datasus, 2013.
Homicídios
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um dos maiores ganhos da legis-
lação e da nossa sociedade. Nós, brasileiros, temos uma história atravessa-
da pela arbitrariedade no que diz respeito às relações sociais, o que sempre
impediu os direitos humanos de serem a base da nossa sociedade.
Sinto intensa satisfação em ter, no meu País, um Estatuto que me abraça
em todas as minhas especificidades. Sinto orgulho porque sou protegida
por uma lei que é uma das mais avançadas do mundo no que diz respeito
aos direitos da população infanto-juvenil. Sinto orgulho porque o Estatuto
coíbe, em tese, o Estado de agir de forma errônea com minha vida e meu
futuro. Sinto orgulho porque sinto que a visão humanista e intergeracional
presente na lei me protege como uma pessoa em processo de formação e
de construção da minha identidade. Mas esse orgulho, infelizmente, não
está em meu cotidiano, assim como não está no cotidiano das crianças e
dos adolescentes negros e negras que aqui habitam. Continuamos a ser
exterminados e massacrados nas mãos do braço armado do Estado.
Continuamos, 127 anos após o fim da escravidão, não tendo acesso a uma
educação qualificada, a direitos básicos para uma vida plena (saneamento,
moradia, alimentação), a áreas de lazer, à ocupação dos locais de poder e
dos locais de visibilidade, a uma saúde que dê conta de nossas demandas,
além de seguir sendo marginalizados e vilipendiados, impedidos de exer-
cer nossa cidadania de forma efetiva. E ainda assim, com esses inúmeros
déficits e essas falhas de todas as instâncias institucionais que deveriam
nos acolher, ainda ousam afirmar por aí que nossos desvios de conduta
ou nossa ida para caminhos negativos e perigosos são inteiramente culpa
de nossas ações. Segundo pesquisas recentes, o número de adolescentes
brancos vítimas de homicídio vem se reduzindo, enquanto o de adolescen-
tes negros aumentou 55,3% entre 2001 e 2011 (Mapa da Violência, 2014).
Como o Estatuto da Criança e do
Adolescente mudou a minha vida?
Por Aíla Oliveira Santana, 17 anos*
RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 35
Não quero dizer, com isso, que o número de brancos mortos deva aumen-
tar. Muito pelo contrário, luto pela construção de um país onde ceifar vidas
não seja realidade. Mas quero apontar que o extermínio da juventude ne-
gra é um fato histórico, crescente, presente e legitimado pelo próprio Esta-
do, que diz prezar por todos sem nenhuma distinção, mas que dá possibi-
lidade para a polícia seguir com sua “faxina étnica” dentro das periferias.
Este relato pessoal que aqui transcrevi serve para afirmar que o Estatuto
da Criança e do Adolescente tem grandes desafios pela frente. Em seus 25
anos de existência, a sociedade não deu conta de destrinchar e assim en-
contrar e desfazer barreiras sociais, culturais e institucionais.
Muitos municípios e Estados ainda não contam com conselhos e fundos
para a infância dentro de suas próprias leis; não há uma reorganização e
implantação geral das instituições que executam as medidas socioeduca-
tivas e articulação das redes locais de proteção integral; há profissionais
que trabalham diretamente com o público infanto-juvenil e ainda atuam
com base em punições, ações corretivas e repressoras. Não menos im-
portante, a população brasileira não reconhece a importância e relevân-
cia da proposta e do trabalho do Estatuto devido às diversas investidas
do sensacionalismo midiático em desfragmentar esse ganho e incorporar
que crianças e adolescentes são os próprios inimigos do avanço, e que
devemos atacá-los e puni-los com as mesmas leis que punimos “gente
grande”, sendo que as taxas de criminalidade só fazem aumentar com o
aumento do encarceramento.
O Estatuto da Criança e do Adolescente tem uma grande luta pela frente: a
luta pela implementação dos direitos humanos no Brasil. Minha perspecti-
va é de que todos, um dia, avancemos na bandeira por um mundo melhor,
começando por cuidar e dar oportunidade às crianças e aos adolescentes.
Somos o presente e o futuro, e um futuro sem assistência e acompanha-
mento justo e humanitário não transformará realidades, nem mesmo oti-
mizará nossa democracia.
Que sigamos valorizando o Estatuto e cobrando sua efetividade basea-
da no respeito à diversidade de raça, gênero e classe social. Só assim
vamos promover a equidade e a igualdade de direitos. Este é o Brasil
que quero construir.
*Estudante do ensino médio e integrante do coletivo Enegrecer, rede de jovens
que atua pela proteção dos direitos de afrodescendentes no Brasil.
COMO O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE MUDOU A MINHA VIDA?
36  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
Ilustração de Larissa Vassalo Fernandes, 14 anos,
segundo lugar no concurso de ilustrações para este relatório promovido pelo UNICEF.
ECA 25 anos: avanços e desafios para a INFÂNCIA e ADOLESCÊNCIA no Brasil - UNICEF

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ECA 25 anos: avanços e desafios para a INFÂNCIA e ADOLESCÊNCIA no Brasil - UNICEF

  • 1. Avanços e desafios para a infância e a adolescência no Brasil ECA25anosESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
  • 2. Realização Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)   Apoio ANDI — Comunicação e Direitos Gary Stahl — Representante do UNICEF no Brasil Esperanza Vives — Representante adjunta do UNICEF no Brasil Edith Asibey — Chefe de Comunicação e Parcerias do UNICEF no Brasil Núcleo editorial Edith Asibey, Mario Volpi, Ana Cristina Matos, Estela Caparelli (Coordenação Editorial); Cristina Albuquerque e Caio Oliveira (Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil e HIV); Marcelo Mazzoli, Júlia Ribeiro, Carolina Velho e Pedro Ivo Alcantara (Educação); Casimira Benge, Fabiana Gorenstein, Antonio Carlos Cabral (Proteção); Mario Volpi, Noemi Pérez, Gabriela Goulart Mora (Cidadania dos Adolescentes); Rogério Carlos Borges de Oliveira, Boris Diechtiareff, Jucilene Rocha, Emly Costa (Dados Estatísticos); Antonio Augusto Silva e Miriam Pragita (Apoio Editorial, ANDI)   Produção editorial Produção de conteúdos: Elisa Meirelles, Flávia Ribas e Gabriel Coaracy Consultor de dados estatísticos: Sandro Monsueto Projeto gráfico, diagramação e capa: Pablo Julio Gráficos e ilustrações: Skopein Capa: Ilustração de Samara Senna (15 anos), vencedora do concurso de ilustrações para este relatório promovido pelo UNICEF   Agradecimentos: Aíla Oliveira Santana, Ana Flavia Flores, Benedito dos Santos, Camila Teixeira, Immaculada Prieto, Isa Oliveira, João Batista Costa Saraiva, Karyna Sposato, Leilá Leonardos, Liliane Garcez, Maria de Salete Silva, Mariana Almeida, Nelson Leoni, Raquel Willadino Braga, Renata Bennet e Rodrigo Hübner Mendes. www.unicef.org.br www.facebook.com/unicefbra­sil www.twitter.com/unicefbrasil Instagram: @UnicefBrasil O artigo apresentado nesta publicação representa a visão pessoal da autora e não reflete necessariamente a posição do Fundo das Nações Unidas para a Infância. Julho de 2015
  • 3. ECA25anosESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Avanços e desafios para a infância e a adolescência no Brasil
  • 4.
  • 5. Prefácio Um Brasil para todas as crianças e todos os adolescentes. Sem exceção. Gary Stahl Introdução Evolução do Perfil de Crianças e Adolescentes Mortalidade Infantil Educação Registro Civil Trabalho Infantil HIV/aids e Sífilis Medidas Socioeducativas Homicídios Artigo Como o Estatuto da Criança e do Adolescente mudou a minha vida? Aíla Oliveira Santana 5 8 10 12 16 20 22 26 28 32 35 Índice
  • 6.
  • 7. Um Brasil para todas as crianças e todos os adolescentes. Sem exceção. Nos últimos 25 anos, o Brasil se tornou um país de renda média alta. Cerca de 60% dos brasileiros aumentaram sua renda, segundo o Banco Mundial. Ao todo, 36 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema. O País se fortaleceu economicamente: saltou da 13ª para a 7ª posição no ranking das maiores economias do mundo. Também ganhou uma face mais urbana: a concentração da população nas cidades cresceu de 75%, em 1991, para 84,8%, em 2013. Nesse período, o País deixou para trás uma lei discriminatória, repressi- va e segregacionista para a infância, o Código de Menores, e adotou o Estatuto da Criança e do Adolescente. O então novo marco legal traduziu os princípios da Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, e serviu de referência para a América Latina por sua coerência com os direitos hu- manos, com o respeito ao desenvolvimento de crianças e adolescentes e pelo compromisso em tratar a infância com prioridade absoluta. O legado desses 25 anos está marcado por importantes conquistas para crianças e adolescentes. O Brasil é uma das nações que têm se destaca- do por reduzir a mortalidade infantil. Com isso, superou a meta de redu- ção da mortalidade infantil prevista nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) antes mesmo do prazo estabelecido. Nesse período, todos os indicadores relacionados à educação avançaram e o País está próximo de assegurar 100% das crianças no ensino fundamental. Hoje, é um exem- plo para outros países na estruturação e implementação de uma vigorosa rede de proteção social, com políticas de referência como o Sistema Único de Assistência Social (Suas) e o Bolsa Família. Por tudo isso, é justo comemorar os 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, a celebração apenas será completa se esse progres- so alcançar todas as crianças e todos os adolescentes, sem exceção. A presente análise mostra que, mesmo com uma trajetória de excepcionais avanços, muitos meninos e meninas estão sendo deixados para trás. Crianças indígenas, por exemplo, têm duas vezes mais risco de morrer antes de completar 1 ano do que as outras crianças brasileiras. Mais de 3 milhões de crianças e adolescentes estão fora da escola (Pnad, 2013). Como mostra este relatório, a exclusão escolar afeta particularmente po- bres, negros, indígenas e quilombolas. Muitos abandonam as salas de aula para trabalhar e contribuir com a renda familiar ou porque têm algum tipo de deficiência. Outros vivem nas periferias dos grandes centros urba- nos, no Semiárido, na Amazônia e na zona rural. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 5
  • 8. Nesse cenário, a mais trágica face dessas violações de direitos são os homi- cídios sistemáticos de adolescentes. Apenas em 2013, mais de 10 mil ado- lescentes foram assassinados. Além disso, na maior parte dos casos, não se conhecem os autores desses crimes, porque falta investigação, o que gera um ciclo de impunidade que alimenta uma onda crescente de violência. Os excelentes resultados obtidos nesses 25 anos ficam ofuscados pelo número de mortes de adolescentes e jovens, um dos maiores do mundo, ultrapassando inclusive as estatísticas de países em situação de guerra e conflitos armados. Pode-se observar um movimento de setores da sociedade querendo res- ponsabilizar os adolescentes pela violência. Na verdade, as sentenças de morte recaem todos os dias sobre adolescentes, particularmente os negros, em todo o País. O presente relatório sobre os 25 anos de aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente pretende ser uma contribuição para identificar os resul- tados obtidos nesse período. Representa, portanto, um reconhecimento de que o País fez a coisa certa ao aprovar e implantar uma lei tão abran- gente. No entanto, os dados e análises também apontam para a necessi- dade de criação de políticas diferenciadas, capazes de promover a inclu- são de meninos e meninas que ainda têm seus direitos violados. No caso de homicídios de adolescentes, serve como uma chamada à urgência de ações efetivas de enfrentamento da impunidade e do racismo. Dessa forma, o UNICEF reitera, mais uma vez, seu compromisso de atuar lado a lado do Brasil para a garantia dos direitos de todas as crianças e todos os adolescentes brasileiros. Sem exceção. Gary Stahl Representante do UNICEF no Brasil 6  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS UM BRASIL PARA TODAS AS CRIANÇAS E TODOS OS ADOLESCENTES. SEM EXCEÇÃO.
  • 9.
  • 10. Crianças e adolescentes que crescem hoje no Brasil fazem parte da primeira geração nascida após a chamada revolução de prioridades. A Assembleia Geral da ONU adotou em 1989 a Convenção sobre os Direitos da Criança, que foi ratificada no ano seguinte pelo País. No Brasil, a Constituição (1988) antecipou esse movimento internacional e garantiu, em seu artigo 227, a in- fância e a adolescência como prioridade absoluta. Em 1990, o País inovou mais uma vez com a tradução desses princípios em uma legislação mais completa e detalhada, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os 25 anos que antecederam a aprovação do ECA marcaram um cenário muito diferente. O período da ditadura militar brasileira implementou no País medidas, políticas e sistemas baseados na ideologia da segurança nacional. “Menores abandonados” entraram na lista dos entraves à or- dem pública e ao desenvolvimento. A eles se designou uma política de bem-estar estruturada a partir dos tradicionais eixos da prevenção, da proteção e da vigilância. Por meio de uma lei específica destinada a crianças e adolescentes po- bres, órfãos, abandonados, desvalidos, infratores, segregava-se esse gru- po populacional sob uma doutrina que os caracterizava como pessoas em situação irregular. A essa população era destinado o Código de Menores. A influência dessa doutrina da situação irregular ainda pode ser percebi- da em conceitos, atitudes e abordagens que veem crianças e adolescen- tes pobres como incapazes e vítimas indefesas das vulnerabilidades so- ciais e potenciais riscos para a harmonia social por sua possibilidade de se tornarem infratores. Os excluídos eram então os “menores”. Há 25 anos, o ECA transformou radicalmente essa realidade e garantiu, le- galmente, os direitos a todas as crianças e todos os adolescentes. Sem ex- ceção. Porém, fazer um balanço da evolução dos indicadores sociais duran- te o período de vigência do Estatuto esbarra em algumas limitações ligadas à falta de informação. Há falta de dados mais objetivos sobre situações de exploração sexual, abuso, maus-tratos e outras formas de violência. Mesmo diante dessas limitações, a análise da evolução dos indicadores sociais da infância na vigência da nova lei apresenta resultados impor- tantes. Seja influenciando de forma direta ou indireta a vida de meninos e meninas, o Estatuto da Criança e do Adolescente é, definitivamente, um marco importante para a história do País. A observação dessa trajetória nos permite declarar que, a partir do ECA, o Brasil se tornou um lugar me- lhor para as crianças e os adolescentes viverem. Introdução 8  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 11. Leis devem se adaptar às dinâmicas sociais. Por isso, o ECA vem sendo atu- alizado nos últimos anos para responder a desafios emergentes. O Estatuto foi sendo aperfeiçoado para melhor garantir direitos relacionados à adoção, à convivência familiar e comunitária, à proteção contra a violência sexual e à justiça juvenil, apenas para citar alguns exemplos. Essa transformação foi positiva para meninas e meninos e, consequente- mente, para o País como um todo. É o que mostra, por exemplo, a evolu- ção do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). Entre 1991 e 2010, os indicadores relacionados a crianças e adolescentes, compa- rados aos indicadores da população adulta ou geral, tiveram um grande crescimento e influenciaram dimensões como a educação e a longevida- de. Mais uma prova de que investir na infância e na adolescência tem um impacto no fortalecimento de todo o País. Entretanto, nem todas as crianças e adolescentes foram protegidos. Graves desigualdades ainda ceifam a vida de meninas e meninos brasileiros e ne- gam a eles seu direito de se desenvolver, independentemente de sua raça ou etnia, condição física, social, gênero ou local onde vivem. Com esta aná- lise, no contexto das celebrações dos 25 anos do Estatuto, o UNICEF preten- de contribuir com o debate sobre os avanços na área da infância e adoles- cência e os desafios que ainda existem para o País. Acreditamos que este é um momento de reflexão e, sobretudo, de cele- bração. Há evidências suficientes para comemorar o fato de que o Brasil tomou a decisão certa ao aprovar uma lei que protege, promove e defen- de um conjunto amplo de direitos humanos e de cidadania para assegurar o desenvolvimento de crianças e adolescentes e, consequentemente, de todo o País. Mas esta também é uma oportunidade para refletir sobre as desigualda- des que ainda impedem que cada criança e cada adolescente usufruam igualmente de todos os direitos. É, sobretudo, uma oportunidade de agir e transformar essa realidade para garantir direitos para todas as crianças e todos os adolescentes. Dessa forma, o Brasil poderá continuar sendo uma referência não só no campo legal, mas, principalmente, na vida real de meninos e meninas. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 9
  • 12. Eles são cerca de 59,7 milhões, o equivalente à população da Itália. Nos últimos 25 anos, a pro- porção de crianças e adolescentes em relação à população brasileira vem diminuindo em razão da tendência de envelhecimento do País, na linha de países com o perfil econômico do Brasil. De 1991 a 2010, a parcela de brasileiros de até 19 anos caiu de 45% para 33% (Censo Demográfico, 2010). Essa transformação demográfica encontra ex- plicações na redução de duas taxas importan- tes: a fecundidade e a mortalidade. Mas esse movimento não é uniforme. Em 2010, a Região Norte era a mais jovem do Brasil, seguida da Nordeste. Sudeste e Sul possuíam o maior con- tingente de pessoas mais velhas, ao passo que a Região Centro-Oeste tinha estrutura interme- diária, com distribuição etária próxima da mé- dia do País. Essa diferença se explica, em parte, pelas taxas de fecundidade das regiões Norte e Nordeste, que ainda eram consideradas altas até a década de 1980, e produzem efeitos até os dias atuais (Censo Demográfico, 2010). Nessas mais de duas décadas, cresceu o núme- ro de pessoas autoidentificadas como negros e pardos na população jovem. Hoje, mais da me- tade da população de até 18 anos é formada por afro-brasileiros. Da população indígena, de 784 mil pessoas, 31% — ou 246 mil — são meninos e meninas (Censo Demográfico, 2010). A maior distribuição de renda também benefi- ciou essa população: o percentual de meninos e meninas que viviam em domicílios pobres caiu de 70% em 1991 para 52% em 2010. Desde a pro- mulgação do ECA, as crianças e os adolescentes brasileiros são mais urbanos. A população nes- sa faixa etária vivendo em áreas urbanas cres- ceu de 72% para quase 82% entre 1991 e 2010 (Censo Demográfico, 2010). Essas diferenças demográficas vêm acompa- nhadas de melhoras nos indicadores relaciona- dos a crianças e adolescentes, como a queda na mortalidade infantil, aumento do acesso à esco- la e redução da pobreza. Por sua vez, esses indi- cadores tiveram também impacto na melhora do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasi- leiro, o que demonstra a importância do inves- timento na infância para a melhoria das condi- ções de vida do País como um todo. No entanto, os avanços não atingiram todas as crianças e todos os adolescentes da mesma for- ma. O Brasil é ainda um dos países mais desi- guais do mundo1 . Por exemplo, enquanto 37% das crianças e dos adolescentes brancos viviam na pobreza em 2010, esse percentual se amplia- va para 61% entre os negros e pardos. Essas de- sigualdades geram barreiras para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Para supe- rá-las, é necessário, sobretudo, adotar políticas públicas capazes de combater as desigualdades geográficas, sociais e étnicas do País e de cele- brar a riqueza de sua diversidade. 1. World Bank, 2015 — http://data.worldbank.org Evolução do Perfil de Crianças e Adolescentes O que mudou no perfil de meninos e meninas brasileiros. 10  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 13. Crescendo em um país mais velho Em 2010, o Brasil passou por um momento único de bônus demográfico. Com a queda na taxa de natalidade e o aumento na expectativa de vida, a população em idade ativa atingiu seu ponto máximo. Passado esse ápice, a pirâmide etária começa a ser inverter. A população de jovens até 19 anos vem diminuindo no País e o percentual de idosos está aumentando. Há no Brasil cerca de 59,7 milhões de meninos e meninas de até 18 anos. Perfil etário da população (1991) Perfil etário da população (2010) GRÁFICO 1 GRÁFICO 2 RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 11 Evolução do Perfil de Crianças e Adolescentes Fonte: Censo Demográfico (IBGE). Fonte: Censo Demográfico (IBGE). Fonte: Censo Demográfico, 2010. 59.666.499 Perfil dos adolescentes Perfil etário da População (2010) Fonte: Censo Demográfico (IBGE). 0,0% 0,0% 0,1% 0,3% 0,7% 1,2% 1,8% 2,4% 3,2% 4,2% 5,2% 6,1% 6,8% 7,2% 8,3% 9,1% 7,5% 8,2% 9,3% 9,2% 9,2% 0,0% 0,1% 0,2% 0,5% 1,0% 1,5% 2,1% 2,7% 3,6% 4,5% 5,5% 6,3% 6,9% 7,3% 8,2% 8,9% 8,8% 7,0% 7,5% 8,7% 8,7% MulheresHomens 100 ou mais 90 a 94 anos 80 a 84 anos 70 a 74 anos 60 a 64 anos 50 a 54 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 95 a 99 anos 85 a 89 anos 75 a 79 anos 65 a 69 anos 55 a 59 anos 45 a 49 anos 35 a 39 anos 25 a 29 anos 15 a 19 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos Perfil dos adolescentes Perfil etário da População (1991) 100 ou mais 90 a 94 anos 80 a 84 anos 70 a 74 anos 60 a 64 anos 50 a 54 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 95 a 99 anos 85 a 89 anos 75 a 79 anos 65 a 69 anos 55 a 59 anos 45 a 49 anos 35 a 39 anos 25 a 29 anos 15 a 19 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos Fonte: Censo Demográfico (IBGE). MulheresHomens 0% 0% 0% 0,2% 0,4% 0,8% 1,2% 1,8% 2,4% 2,8% 3,5% 4,1% 5,3% 6,3% 7,5% 8,5% 9,3% 11,6% 12,2% 11,9% 10,3% 0% 0% 0,1% 0,3% 0,5% 1% 1,4% 2% 2,6% 3% 3,5% 4,3% 5,4% 6,5% 7,6% 8,7% 9,2% 10,9% 11,5% 11,4% 10,1% Perfil dos adolescentes Perfil etário da População (2010) 0,0% 0,0% 0,1% 0,3% 0,7% 1,2% 1,8% 2,4% 0,0% 0,1% 0,2% 0,5% 1,0% 1,5% 2,1% 2,7% MulheresHomens 100 ou mais 90 a 94 anos 80 a 84 anos 70 a 74 anos 95 a 99 anos 85 a 89 anos 75 a 79 anos 65 a 69 anos Perfil dos adolescentes Perfil etário da População (2010) 0,0% 0,0% 0,1% 0,3% 0,7% 1,2% 1,8% 2,4% 0,0% 0,1% 0,2% 0,5% 1,0% 1,5% 2,1% 2,7% MulheresHomens 100 ou mais 90 a 94 anos 80 a 84 anos 70 a 74 anos 95 a 99 anos 85 a 89 anos 75 a 79 anos 65 a 69 anos Perfil dos adolescentes Perfil etário da População (2010) Fonte: Censo Demográfico (IBGE). 0,0% 0,0% 0,1% 0,3% 0,7% 1,2% 1,8% 2,4% 3,2% 4,2% 5,2% 6,1% 6,8% 7,2% 8,3% 9,1% 7,5% 8,2% 9,3% 9,2% 9,2% 0,0% 0,1% 0,2% 0,5% 1,0% 1,5% 2,1% 2,7% 3,6% 4,5% 5,5% 6,3% 6,9% 7,3% 8,2% 8,9% 8,8% 7,0% 7,5% 8,7% 8,7% MulheresHomens 100 ou mais 90 a 94 anos 80 a 84 anos 70 a 74 anos 60 a 64 anos 50 a 54 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 95 a 99 anos 85 a 89 anos 75 a 79 anos 65 a 69 anos 55 a 59 anos 45 a 49 anos 35 a 39 anos 25 a 29 anos 15 a 19 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos Perfil dos adolescentes Perfil etário da População (2010) Fonte: Censo Demográfico (IBGE). 0,0% 0,0% 0,1% 0,3% 0,7% 1,2% 1,8% 2,4% 3,2% 4,2% 5,2% 6,1% 6,8% 7,2% 8,3% 9,1% 7,5% 8,2% 9,3% 9,2% 9,2% 0,0% 0,1% 0,2% 0,5% 1,0% 1,5% 2,1% 2,7% 3,6% 4,5% 5,5% 6,3% 6,9% 7,3% 8,2% 8,9% 8,8% 7,0% 7,5% 8,7% 8,7% MulheresHomens 100 ou mais 90 a 94 anos 80 a 84 anos 70 a 74 anos 60 a 64 anos 50 a 54 anos 40 a 44 anos 30 a 34 anos 20 a 24 anos 10 a 14 anos 95 a 99 anos 85 a 89 anos 75 a 79 anos 65 a 69 anos 55 a 59 anos 45 a 49 anos 35 a 39 anos 25 a 29 anos 15 a 19 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos
  • 14. O Brasil é uma das nações que têm se destacado por reduzir significativamente a mortalidade in- fantil (de até 1 ano) e na infância (de até 5 anos). Esse é, sem dúvida, um dos principais avanços na área da infância a ser celebrado nesses 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Entre 1990 e 2012, a taxa de mortalidade infantil caiu 68,4%, chegando a 14,9 mortes para cada 1.000 nascidos vivos, de acordo com o Ministé- rio da Saúde1 . Essa taxa está bastante próxima do nível considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 mortes por 1.000 nascidos vivos. Com isso, o País superou a meta de redução da mortalidade infantil prevista nos Objetivos de De- senvolvimento do Milênio (ODM) antes mesmo do prazo estabelecido. Outro fator a ser come- morado é a redução das disparidades regionais nessa área. A Região Nordeste, onde a situação de mortalidade na infância era crítica há 25 anos, teve a mais acentuada queda no período. Até o final da década de 1990, o Brasil enfrentava o desafio de reduzir as mortes de crianças com menos de 5 anos. Naquele momento, vidas eram perdidas por doenças que hoje são facilmente evitáveis, como as infecciosas e as parasitárias. Essa situação foi enfrentada de diversas formas. Há 25 anos, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) garantiu o acesso universal à saúde. Com ele, foram criadas e fortalecidas várias políticas e programas. O modelo de atenção básica centra- do na Estratégia de Saúde da Família foi um dos fatores que mais contribuíram para melhorar as condições de vida e saúde das crianças. Com o programa, foi oferecido um melhor atendimen- to pré-natal às gestantes e mais cuidado com as crianças nos seus primeiros anos. Além disso, tiveram impacto positivo na redução da mortalidade infantil e na infância o aumento da escolaridade das mães, o aumento da cober- tura vacinal, a melhoria no acesso ao saneamento básico e o engajamento da sociedade civil para a valorização do aleitamento materno. Mais recen- temente, a rede pública de saúde materna, neo- natal e infantil, conhecida como Rede Cegonha, tem criado medidas que garantem o atendimento nos serviços de saúde estabelecendo prioridade às gestantes e às crianças até os 2 anos de idade. Hoje, as maiores vítimas da mortalidade in- fantil são as crianças indígenas. Elas têm duas vezes mais risco de morrer antes de comple- tar 1 ano do que as outras crianças brasileiras. Mortalidade Infantil O Brasil é uma das nações que têm se destacado por reduzir a mortalidade infantil. No entanto, bebês de até 1 ano, especialmente de populações indígenas, ainda morrem por causas que poderiam ser evitadas. 12  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 15. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 13 Mortalidade Infantil A desnutrição infantil está associada às princi- pais causas dessas mortes: diarreia, infecções respiratórias e malária. Entre as crianças in- dígenas que residem na Região Norte, o per- centual de desnutrição crônica chega a 40%2 , enquanto a prevalência no País é, em média, de 7%3 . Outro desafio para o Brasil é reduzir a mortali- dade materna. De 1990 a 2012, a taxa de mor- talidade materna caiu 56%, chegando a 61,5 mortes por 100 mil nascidos vivos em 2012 (Sis- tema de Informações sobre Mortalidade — SIM, 2011). No entanto, o País ainda está longe de al- cançar a meta do ODM 5, que estabeleceu o nú- mero de mortes ligadas à gravidez para 35 por 100 mil nascidos vivos. Embora o acesso ao pré-natal tenha aumenta- do nas últimas décadas, o desafio é melhorar a qualidade dos serviços oferecidos. Indicadores O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? Priorizar ações e estratégias que visem à redução da mortalidade neonatal nas famílias mais vulneráveis, incluindo a busca ativa de gestantes para garantir um pré-natal de qualidade. 2 4 5 6 3 1 Criar legislação e políticas diferen- ciadas e culturalmente adaptadas para alcançar as populações indíge- nas e outras mais vulneráveis, como ribeirinhas e quilombolas. Ampliar e adaptar a Rede Cegonha para garantir o atendimento a gestantes e crianças em situação de maior vulnerabilidade. Incentivar a amamentação e ampliar o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida. Fortalecer as políticas públicas dentro dos municípios, incluindo populações que residem em áreas distantes. Valorizar e estimular o parto e o nascimento humanizados. como a baixa cobertura de vacina antitetânica e o grande número de casos de sífilis congênita evidenciam a baixa qualidade das consultas. Além disso, a prática frequente de partos por ce- sariana pode colocar em risco a saúde e a vida de mulheres e de bebês. Um dos perigos das cesaria- nas é a prematuridade dos bebês, que eleva o ris- co de óbito nas primeiras 24 horas. Na década de 1970, a cesariana era realizada em apenas 15% dos partos4 . Esse percentual saltou para 56% em 2012, um aumento de 373%. É a maior prevalência do mundo. De acordo com a OMS, a proporção reco- mendada para partos por cesariana é 15%5 . 1. Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), 2012. 2. Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas/Funasa/MS, 2008/09. 3. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher — PNDS, 2006. 4. Nascer no Brasil — Inquérito nacional sobre parto e nascimento. 5. Saúde Brasil 2013. Ministério da Saúde.
  • 16. CONQUISTAS Mortalidade infantil Comparação internacional da taxa de mortalidade infantil entre países (óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos) Fonte: Estimativas do Grupo Interagencial da ONU para Mortalidade Infantil e na Infância (IGME), 2014 em UNICEF — Global Databases. 0 60 40 30 20 10 50 70 949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 11 12 201305 Brasil América Latina e Caribe Países em desenvolvimento Mundo Mortalidade infantil 80 70 60 50 40 20 0 10 30 949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 201105 Evolução da taxa de mortalidade infantil — Brasil e por região (óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos) Fonte: Ministério da Saúde: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Estimativas a partir de métodos demográficos indiretos. Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Vidas salvas O Brasil é uma referência no mundo na redução de mor- talidade infantil. De 1990 a 2012, a taxa de óbito entre crianças menores de 1 ano foi reduzida em 68,4%, atingindo a marca de 14,9 mortes para cada 1.000 nascidos vivos. Comparação internacional da taxa de mortalidade infantil entre países (óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos) Evolução da taxa de mortalidade infantil — Brasil e por região (óbitos de menores de 1 ano por 1.000 nascidos vivos) GRÁFICO 3 GRÁFICO 4 14  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS Mortalidade Infantil Fonte: Estimativas do Grupo Interagencial da ONU para Mortalidade Infantil e na Infância (IGME), 2014, em UNICEF — Global Databases. Fonte: Ministério da Saúde: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Estimativas a partir de métodos demográficos indiretos.
  • 17. CONQUISTAS DESAFIOS 0% 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 201020051995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2011 Mortalidade infantil 60% 40% 30% 20% 10% 50% 70% Evolução do percentual de partos segundo o número de consultas de pré-natal Fonte: Ministério da Saúde: SVS/ Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) Nenhuma consulta 1 a 6 consultas 7 consultas ou mais Mortalidade infantil 120% 110% 100% 90% 80% 60% 40% 50% 70% 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011 20122005 Evolução da taxa de cobertura da vacina para poliomielite Brasil e por região Fonte: Ministério da Saúde: SVS — Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Garantia do direito à saúde antes de nascer Hoje, mais de 60% dos partos ocorridos no Brasil são de mães que fizeram, no mínimo, sete consultas de pré-natal. Há 20 anos, menos da metade das gestantes brasileiras realizava o número de consultas recomendado. Imunização eficiente e universal A taxa de cobertura vacinal se expandiu, especialmente nas regiões onde a vacinação era menos presente no início da década de 1990. O Brasil é um dos países que oferecem, gratuitamente, o maior número de vacinas à população, disponibilizando mais de 300 milhões de doses anuais de vacinas, soros e outros. Mortes de crianças indígenas Crianças indígenas têm duas vezes mais risco de morrer antes de completar 1 ano do que as outras crianças brasileiras. Evolução do percentual de partos segundo o número de consultas de pré-natal Evolução da taxa de cobertura da vacina para poliomielite — Brasil e por região GRÁFICO 5 GRÁFICO 6 RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 15 Mortalidade Infantil Fonte: Datasus, 2011. Fonte: Ministério da Saúde/SVS — Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Fonte: Ministério da Saúde: SVS — Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). 2x
  • 18. Nos últimos 25 anos, o Brasil avançou em todos os indicadores relacionados à educação. Os resul- tados foram positivos tanto nas questões ligadas ao acesso, quanto nas de permanência e aprendi- zagem. Desde 2009, ampliou-se, também, a idade escolar obrigatória, tornando esse direito acessí- vel a mais meninos e meninas brasileiros. De 1990 a 2013, o percentual de crianças com ida- de escolar obrigatória fora da escola caiu 64%, pas- sando de 19,6% para 7% (Pnad). Outro indicador a ser celebrado é a queda na taxa média de analfa- betismo entre brasileiros de 10 a 18 anos de idade. Essa taxa caiu 88,8%, passando de 12,5%, em 1990, para 1,4%, em 2013. A queda foi ainda mais signifi- cativa entre os adolescentes negros, com redução de 17,8% para 1,5%, e pardos, caindo de 19,4% para 1,7% no mesmo período. A queda foi de aproxima- damente 91% em ambos os casos (Pnad). Direito social previsto na Constituição de 1988, o acesso à escola começou a ser universalizado com êxito na década de 1990. Um dos fatores que contribuiu para os avanços nessa área foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, que estabeleceu o ensino obri- gatório dos 7 aos 14 anos. Em 2006, a LDB foi alterada para estabelecer o ensino fundamental a partir dos 6 anos. Em 2009, outro marco decisi- vo foi a aprovação da Emenda Constitucional 59. Com ela, a escolaridade obrigatória foi ampliada e passou a valer para meninos e meninas com idades entre 4 e 17 anos. O Brasil obteve mais um importante avanço em 2014 com a aprovação do Plano Nacional de Edu- cação (PNE). O texto conta com 20 metas claras e objetivas para o avanço da educação no País. O desafio, agora, é garantir o cumprimento des- sas metas para que todas as crianças e todos os adolescentes, sem exceção, sejam incluídos. Essas mudanças positivas no marco normativo da educação demonstram o compromisso do País com a educação para todos. No entanto, mesmo com tantos avanços, mais de 3 milhões de meninos e meninas ainda estão fora da es- cola (Pnad, 2013). E essa exclusão escolar tem rosto e endereço: quem está fora da escola são pobres, negros, indígenas e quilombolas. Mui- tos deixam a escola para trabalhar e contribuir com a renda familiar; outros têm algum tipo de deficiência. Grande parte dos excluídos vive nas periferias dos grandes centros urbanos, no Se- miárido, na Amazônia e na zona rural. Um dos principais desafios é a inclusão de crian- ças de 4 e 5 anos de idade e de adolescentes com idades entre 15 e 17 anos. Em 2013, quase 700 mil crianças de 4 e 5 anos ainda estavam fora da es- cola porque as atuais pré-escolas são insuficien- tes para atender à demanda (Pnad, 2013). No caso dos adolescentes de 15 a 17 anos, o Bra- sil tem avançado em relação ao número de matrí- culas no ensino médio: de 5,4 milhões, em 1995, chegamosa7,8milhõesdeestudantesmatriculados Educação O Brasil avançou em todos os indicadores da educação, o que deve ser celebrado. O desafio agora é promover a inclusão escolar dos que ainda estão fora da escola e a qualidade do ensino. 16  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 19. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 17 Educação em 2014 em escolas públicas, segundo o Censo Es- colar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Embora tenham idade para frequentar o ensino médio, muitos adolescentes ainda não termina- ram o ensino fundamental. Esse é um fato preo- cupante, já que o fracasso escolar é um dos prin- cipais fatores de risco à permanência dos alunos na escola. Mas não é o único: adolescentes aban- donam a escola por causa da discriminação, da necessidade de trabalhar, da gravidez na adoles- cência e pelo fato de a escola não ser atrativa. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? Promover políticas diferenciadas com foco nos grupos mais excluídos. Garantir a ampliação do investimento público em educação para atingir, no mínimo, 7% do Produto Interno Bruto do País no quinto ano de vigência do PNE e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio, como prevê a Lei do PNE. 2 4 5 6 7 3 1 Garantir a implementação do Sistema Nacional de Educação (SNE) no prazo de dois anos, como prevê a Lei do PNE. Com o SNE, as responsabilidades entre os governos federal, estadual e municipal ficarão mais bem definidas e o comprometimento mútuo com os desafios, como o da educação infantil, poderá ser mais bem assegurado em cada nível da federação. Promover com Estados e municípios um amplo processo de inclusão escolar para garantir que 100% das crianças e dos adolescentes de 4 a 17 anos estejam matriculados na escola e aprendendo na idade correta. Definir, em parceria com Estados e municípios, programas e metas de expansão das respectivas redes públicas de educação infantil, segundo o padrão nacional de qualidade, considerando, respeitando e promovendo as peculiaridades locais e a diversidade para universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola (crianças de 4 e 5 anos) e ampliar a oferta em creches para atender, no mínimo, 50% das crianças com até 3 anos até o final da vigência do PNE. No caso dos Estados, desenvolver ações e estratégias para viabilizar o cumprimento da meta de universalizar o ensino médio para adolescentes de 15 a 17 anos até 2016. Garantir, ainda, 85% de taxa líquida de atendimento nessa etapa da educação até 2020, o que indica o percentual da população nessa faixa etária que se encontra matriculada no nível de ensino adequado à sua idade. Além das questões relativas ao acesso e à per- manência, é preciso discutir a qualidade do en- sino. Um dos indicadores é a taxa de distorção idade-série. O aluno é considerado em situação de distorção ou defasagem idade-série quan- do a diferença entre a sua idade e a idade pre- vista para a série é de dois anos ou mais. Ain- da que esse indicador tenha melhorado desde 1995, os números ainda requerem atenção. Em 2014, quase 8 milhões de crianças e adolescen- tes dos ensinos fundamental e médio ainda es- tavam com dois ou mais anos de atraso escolar (Censo Escolar, 2014). Fortalecer ações, programas e estratégias, em cooperação com os municípios, para alcançar a meta de 100% das crianças alfabetizadas até os 8 anos de idade, respeitando o multilinguismo das comunidades indígenas.
  • 20. CONQUISTAS DESAFIOS 0% 6% 12% 18% 24% Evolução do percentual da população em idade escolar obrigatória fora da escola Fonte: Pnad. Obs.: A idade escolar obrigatória na Pnad 1990 era de 7 a 14 anos. Na Pnad 2013, de 4 a 17 anos. Adolescentes e crianças 1990 2013 Educação 0% 5% 30% 20% 15% 10% 25% 35% 1990 2013 Evolução do percentual da população em idade escolar obrigatória fora da escola por região Fonte: Pnad. Obs.: A idade escolar obrigatória na Pnad 1990 era de 7 a 14 anos. Na Pnad 2013, de 4 a 17 anos. Brasil Norte Sudeste Nordeste Sul Centro-Oeste NegrosBrancos Pardos Educação 0% 7,5% 15% 22,5% 30% 1990 2013 Fonte: Pnad. Evolução da taxa de analfabetismo na população entre 10 e 18 anos de idade por cor e raça Educação 0% 10% 20% 40% 60% 30% 50% 1995 2014 Evolução do percentual da população com 2 anos ou mais de atraso escolar Ensino médio Ensino fundamental Mais crianças e adolescentes na escola De 1990 a 2013, o percentual de crianças com idade escolar obrigatória fora da escola caiu 64%, passando de 19,6% para 7%. Menor desigualdade Regiões mais vulneráveis apresentaram melhoras significativas nesses 25 anos. Mais crianças e adolescentes alfabetizados Desde 1990, a taxa de analfabetismo caiu. A queda foi mais significativa entre negros e pardos. Distorção idade-série Em 2014, quase 8 milhões de crianças e adolescentes dos ensinos fundamental e médio ainda estavam com dois ou mais anos de atraso escolar. Mais de 3 milhões de meninos e meninas de 4 a 17 anos ainda estão fora da escola. Evolução do percentual da população em idade escolar obrigatória fora da escola Evolução do percentual da população em idade escolar obrigatória fora da escola por região Evolução da taxa de analfabetismo na população entre 10 e 18 anos de idade por cor e raça GRÁFICO 7 GRÁFICO 8 GRÁFICO 9 GRÁFICO 10 Evolução do percentual da população com 2 anos ou mais de atraso escolar Educação Fonte:CensoEscolar(Inep). Fonte:Pnad.*Fonte:Pnad. Fonte:Pnad.* Fonte: Pnad, 2013. *AidadeescolarobrigatórianaPnad1990erade7a14anos.NaPnad2013,de4a17anos. HIV/aids 6% 5% 4% 2% 0% 1% 3% 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011 201320122005 Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e IBGE Nota: Casos notificados no SINSN até 30/06/13. Dados preliminares. Evolução da taxa de incidência de sífilis congênita em menores de 1 ano (por 1000 nascidos vivos) — % Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste 18  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 21. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? Promover políticas articuladas de busca ativa de crianças e adolescentes com deficiência que congreguem as áreas de educação, saúde e assistência social de cada Estado e município. 2 31 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) abriu um importante caminho para a inclusão de crianças e adolescentes com deficiência no Bra- sil. Na área de educação, garantiu a esses meni- nos e meninas, por meio de seu artigo 53, o di- reito ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino. As matrículas em escolas regulares foram impul- sionadas a partir do ano de 2008, pela ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). Em seu artigo sétimo, o texto atribui ao Estado a responsabilidade de criar me- didas para assegurar às crianças com deficiência o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, em igualdade de opor- tunidades com as demais crianças. Essa pers- pectiva é base para o texto do Decreto nº 7.611, de 2011, que determina a garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de opor- tunidades. A criação de programas como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) na Escola foram de- cisivos nesse processo. O BPC na Escola cruza informações sobre crianças e adolescentes que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) — pago a pessoas de baixa renda com al- guma deficiência — com informações das esco- las para identificar crianças que não estão es- tudando e quais as barreiras que impedem ou dificultam o acesso e a permanência na escola. Os marcos legais aliados às políticas públicas têm contribuído para a inclusão de crianças e adolescentes com deficiência. O número de me- ninos e meninas com deficiência que frequen- tam escolas regulares saltou de 30 mil em 2000 para 700 mil em 2014 (Censo Escolar). No entanto, mesmo com esses avanços, obstá- culos ainda impedem o livre acesso desses me- ninos e meninas à escola e à educação inclusiva. O preconceito e o atendimento inadequado ou inexistente para essa população são algumas das barreiras que dificultam que eles tenham assegu- rado o seu direito de permanecer estudando, de progredir nos estudos e de concluir a educação básica na idade certa. Segundo um levantamen- to do Ministério do Desenvolvimento Social, 30% das crianças e dos adolescentes que recebem o BPC não estão estudando. Quem chega à escola enfrenta diferentes obstácu- los. Apenas 22% das instituições de ensino têm de- pendências adaptadas a crianças com deficiência e só 12% têm sala de atendimento especializado (Censo Escolar, 2013). O acesso à educação fica ainda mais prejudica- do de acordo com o tipo e o grau de deficiência. Em geral, as escolas recusam crianças com de- ficiência severa. Além disso, é muito difícil que a educação de crianças com deficiência avance além do ensino fundamental. Há poucas escolas de ensino médio que oferecem atendimento para adolescentes com deficiência, o que limita muito a sua inserção nessa etapa educacional. Investir em infraestrutura e formação de professores para criar condições e efetivar a meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE), que trata da universalização do acesso de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Fortalecer a formação de professores e estimular redes de apoio entre os diferentes atores de educação, saúde e assistência social, bem como as crianças, os adolescentes e suas famílias. Educação e as crianças com deficiência A condição física ou cognitiva ainda é um fator determinante para a exclusão escolar. As crianças com deficiência que chegam às escolas ainda enfrentam barreiras.
  • 22. A ausência de registro civil de nascimento é a primeira violação de direitos sofrida por uma criança depois de seu nascimento. Sem o regis- tro, ela não tem acesso adequado a políticas pú- blicas de saúde, educação e assistência social. Corre, ainda, o risco de sofrer violência, ser ví- tima do tráfico de pessoas ou de adoção ilegal. Dessa forma, o Estatuto da Criança e do Ado- lescente (ECA) tem sido decisivo para proteger meninas e meninos brasileiros ao reforçar a im- portância do registro civil e da certidão de nasci- mento para todos os cidadãos brasileiros. Por essa razão, a redução do sub-registro civil no País é outra conquista a ser celebrada por oca- sião dos 25 anos do ECA. De 1990 a 2013, o per- centual de crianças registradas no mesmo ano de nascimento subiu de 66% para 95% (Pnad). Esse aumento foi ainda mais significativo nas re- giões Norte e Nordeste. Há 25 anos, apenas um terço das crianças possuía o registro civil no Nor- te do País. No Nordeste, esse percentual era de 44,5%. Em 2013, os percentuais de crianças re- gistradas nessas regiões já chegavam a 82% e 94%, respectivamente. Nas regiões Sul e Sudes- te, 98% das crianças já recebem o primeiro docu- mento ao nascer. Os avanços são resultado da mobilização da so- ciedade civil, de campanhas de conscientização e de políticas públicas que garantiram, por exem- plo, a realização de mutirões e a instalação de postos dos cartórios nas maternidades. Na última década, foram realizadas ações para aumentar a conscientização das famílias, engajar o setor da justiça, agentes públicos e serviços notariais para alcançar as crianças que vivem em áreas remo- tas. Outra conquista importante foi a aprovação da Lei Federal n° 9.534 que, a partir de 1997, tor- nou gratuitos o registro civil e a emissão da pri- meira via da certidão de nascimento. No entanto, em 2010, o Censo Demográfico in- dicava que cerca de 600 mil meninas e meninos brasileiros de até 10 anos de idade ainda perma- neciam invisíveis aos olhos do Estado. Desses, 400 mil residiam nas regiões Norte e Nordeste. A violação desse direito é ainda mais grave en- tre crianças indígenas. Apenas 57,9% das crian- ças indígenas são registradas no primeiro ano de vida. Entre aquelas de até 10 anos, a proporção de meninos e meninas com certidão de nasci- mento é de 70%, muito abaixo da média nacional (Censo Demográfico, 2010). Por que crianças indígenas ainda têm esse direi- to violado? Uma análise realizada pelo UNICEF em 2014 aponta que os principais obstáculos estão associados ao desconhecimento da po- pulação indígena sobre os benefícios do regis- tro civil de nascimento e às dificuldades e os altos custos de deslocamento. Além disso, há cartórios que oferecem resistência para emi- tir esse documento para indígenas e relatos de cobranças indevidas para o registro e emissão da certidão. Registro Civil O direito ao registro civil de nascimento é garantido a 95% das crianças brasileiras. O grande desafio é chegar aos 5% ainda excluídos, especialmente crianças indígenas e as que vivem em áreas isoladas. 20  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 23. Registro Civil Evolução do percentual de nascidos vivos registrados no mesmo ano de nascimento por região — % 949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 11 12 201305 Fonte: IBGE — Estatísticas do Registro Civil. Obs.: A base de dados foi constuída a partir de duas consultas independentes de 1990–2002 e de 2003–2013. Assim, pode haver alguma diferença metodológica. 0 100 25 50 75 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste das crianças brasileiras possuem registro civil de nascimento. Em 10 anos, o Brasil diminuiu as diferenças regionais. Evolução do percentual de nascidos vivos registrados no mesmo ano de nascimento por região RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 21 Registro Civil CONQUISTAS DESAFIOS Registro Civil Fonte: Censo demográfico/IBGE, 2010. Percentual de pessoas sem registro civil de nascimento no Brasil Crianças sem registro (ano 2010) Menos de 5% De 5% a menos de 10% De 10% a menos de 15% 15% ou mais Registro Civil Fonte: Censo demográfico/IBGE, 2010. Percentual de pessoas sem registro civil de nascimento no Brasil Crianças sem registro (ano 2010) Menos de 5% De 5% a menos de 10% De 10% a menos de 15% 15% ou mais Cerca de 600 mil crianças com até 10 anos de idade ainda estão sem registro civil de nascimento no Brasil (Censo Demográfico, 2010). Percentual de crianças sem registro civil de nascimento no Brasil Fonte: IBGE — Estatísticas do Registro Civil. Nota: A base de dados foi construída a partir de duas consultas independentes de 1990–2002 e de 2003–2013. Assim, pode haver alguma diferença metodológica. Fonte: Censo Demográfico, 2010. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? Assegurar a existência de uma política nacional de documentação civil, com atenção especial às crianças indígenas e aos adolescentes não registrados. 1 3 2 Nos grandes centros urbanos, garantir o registro civil para que cada criança e cada adolescente tenham assegurado o seu direito à documentação. Dar continuidade aos esforços locais e nacionais na ampliação do serviço de oferta de documentação civil para populações indígenas, povos e comunidades tradicionais e pessoas que vivem em regiões isoladas. Isso deve ser realizado por meio de parcerias com outros serviços públi- cos de saúde, educação e assistência social, além de articulação com órgãos como a Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria Especial de Saúde Indígena/Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Sesai/DSEIs), cartórios e redes da sociedade civil. Grande parte das crianças sem registro civil são indígenas ou vivem em regiões isoladas, especialmente no Norte e no Nordeste do País. Muitas delas em comunidades tradicionais (ciganas, quilombolas e ribeirinhas). 95% GRÁFICO 11 GRÁFICO 12
  • 24. A redução do trabalho infantil foi uma das gran- des conquistas do Brasil nos últimos 25 anos. En- tre 1992 e 2013, o número de crianças e adoles- centes de 5 a 15 anos trabalhando no País caiu de 5,4 milhões para 1,3 milhão (Pnad). Isso repre- senta uma queda de 73,6% na taxa de trabalho infantil para essa faixa etária (de 14,6% para 4%). Os dados mostram, no entanto, que nem todas as crianças têm o seu direito garantido em condi- ções de igualdade. Atualmente, o trabalho de crianças de 5 a 9 anos é praticamente inexistente no Brasil. Mas ainda está presente na faixa de 10 a 15 anos. A maioria das vítimas são meninos negros da zona urba- na, ainda que as taxas tenham diminuído desde 1992, em especial na Região Nordeste, com que- da de 75% (Pnad). A maioria executa trabalhos remunerados, e é significativa a parcela de me- ninas envolvidas no serviço doméstico. Muitos estão fora da escola, ou em atraso escolar. Para entender as raízes dessa situação, vale ob- servar como o trabalho de crianças e adolescen- tes foi encarado ao longo dos anos no País. A Constituição Federal de 1934 proibia qualquer forma de trabalho a menores de 14 anos, o traba- lho noturno a menores de 16 e o exercido em in- dústrias insalubres a menores de 18 anos. Doze anos depois, a Constituição de 1946 ampliou para 18 a idade mínima para o trabalho noturno. Nos primeiros anos do governo militar, em 1967, as regras mudaram novamente e foi autorizado o trabalho a maiores de 12 anos. O limite subiu para 14 anos em 1974. Era esse o cenário brasileiro nos anos 80: meni- nos e meninas de 14 anos ou mais podiam traba- lhar e não havia uma legislação específica que lhes assegurasse direitos. Eles não eram vistos como sujeitos de direitos humanos e estavam expostos a situações degradantes, comumente denunciadas na imprensa nacional e internacio- nal. Os debates sobre o tema ganharam força nas discussões para a Constituição de 1988. As regras para o trabalho de menores de 18 anos foram incluídas no Art. 7º dessa Constituição e em um capítulo específico do Estatuto da Crian- ça e do Adolescente. Quase uma década de- pois, em 1998, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou a Convenção 182 sobre as piores formas de trabalho infantil e o Brasil aprovou a Emenda Constitucional nº 20, elevan- do a idade mínima de 14 para 16 anos. Ficava proibido o trabalho para menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz. Os marcos legais foram acompanhados de uma grandemobilizaçãodasociedadecivilparaaredu- ção do trabalho infantil, ocorrida especialmente Trabalho Infantil O Brasil se tornou referência internacional no combate à exploração do trabalho infantil. Mas ainda 1,3 milhão de crianças e adolescentes têm seus direitos violados. 22  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 25. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 23 Trabalho Infantil nos primeiros anos após a aprovação do Estatuto. Como uma das principais causas do problema é a situação econômica das famílias, em 1996 foi criado o Programa de Erradicação do Traba- lho Infantil (Peti). A iniciativa tinha como obje- tivo prover complementação de renda e apoio a pais de crianças e adolescentes que trabalha- vam, para que eles saíssem da situação de tra- balho infantil. O programa esteve em vigor de forma autônoma até 2005, quando foi integrado ao Bolsa Família. A partir de então, as famílias que recebiam o benefício do Peti passaram a ter de cumprir também condicionalidades de edu- cação e saúde do novo programa. Aliados às barreiras econômicas, há aspectos políticos, sociais e culturais que dificultam a eli- minação do trabalho infantil. A falta de perspec- tivas de vida é um dos fatores que levam crian- ça ou adolescente a trabalhar precocemente. E a educação é fundamental nesse debate. Meninos e meninas que estão na escola aprendendo são menos vulneráveis à exploração de mão de obra antes do tempo permitido. Além de tirar as crianças da escola, o trabalho afeta o rendimento escolar, que é inferior ao das crianças que só estudam. Uma comparação da pontuação obtida no Sistema de Avaliação da Educação Bási- ca (Saeb) mostra que tanto em Português como em 1. Fonte: IBGE, Relatório sobre Trabalho Infantil Doméstico. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? 3 1 Matemática, no ensino fundamental e no ensino médio, o desempenho dos alunos que trabalham é menor que o daqueles que não o fazem. Por isso, também são maiores entre as crianças trabalhadoras as taxas de repetência e de aban- dono. Em 2013, 3 milhões de crianças e adoles- centes de 4 a 17 anos estavam fora da escola no Brasil (Pnad, 2013). Outros 8 milhões de meninos e meninas dos ensinos fundamental e médio en- contravam-se em atraso escolar, correndo o ris- co de evadir (Censo Escolar, 2014). Modificar esse quadro e garantir a permanência e a aprendiza- gem é fundamental para que essas crianças e es- ses adolescentes não venham a reforçar as esta- tísticas de trabalho infantil. Outro ponto importante é desnaturalizar algumas formas de trabalho infantil ainda culturalmente aceitas, como o trabalho doméstico. Entre 2008 e 2011, o número de casos de crianças e adolescen- tes ocupados no trabalho infantil doméstico dimi- nuiu de 325 mil para 258 mil — uma redução de apenas 0,2 ponto percentual1 . Somam-se a esses dados os de crianças e adolescentes que traba- lham com suas famílias no comércio informal — situação visível aos olhos da sociedade e comu- mente não notificada —, muitas vezes por falta de alternativas públicas como creches e escolas em período integral e de fiscalização. Promover a coordenação das políticas públicas nas áreas de assistência social, educação e saúde para garantir que todos os direitos sejam assegurados integralmente a crianças e adolescentes. Focar em políticas de educação para adolescentes, capazes de garantir acesso, permanência e aprendi- zagem nas escolas. Ampliar a oferta de creches para que crianças tenham acesso a ambientes seguros e que promovam o seu desenvolvimento pleno enquanto os pais trabalham. 5 4 Criar políticas diferenciadas com foco para os grupos sociais mais vulneráveis ao trabalho infantil. Ampliar o tempo de permanência de meninas e meninos nas escolas de modo a garantir uma educação integral. 2
  • 26. CONQUISTAS DESAFIOS Trabalho infantil 0% 7,5% 15% 22,5% 30% 1992 20112001 2013 Fonte: Pnad (IBGE) Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade 5 a 9 anos 10 a 15 anos Trabalho infantil 0% 4,5% 9% 13,5% 18% 1992 20112001 2013 Fonte: Pnad. Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste NegrosBrancos Pardos Trabalho infantil 0% 4,5% 9% 13,5% 18% 1992 20112001 2013 Fonte: Pnad. Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por cor e raça Outros Mais crianças e adolescentes protegidos A incidência do trabalho infantil entre a população de 5 a 15 anos reduziu-se consideravelmente nos últimos 20 anos. Entre os mais novos, de 5 a 9 anos, o trabalho infantil está próximo de zero. Região Nordeste foi a que mais avançou Redução aconteceu em todas as regiões. Na Região Nordeste, a queda foi de 64,6%. As mais vulneráveis Crianças negras e pardas estão entre as principais vítimas de trabalho infantil no Brasil. 1,3 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos ainda trabalham no Brasil. Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por região GRÁFICO 13 GRÁFICO 14 GRÁFICO 15 Trabalho infantil: evolução do percentual de pessoas ocupadas entre 5 e 15 anos de idade por cor e raça Fonte: Pnad, 2013. Fonte: Pnad. Fonte: Pnad. Fonte: Pnad. 6% 5% 4% 2% 0% 1% 3% 2004 2006 2007 2008 20092005 Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e IBGE Nota: Casos notificados no SINSN até 30/06/13. Dados preliminares. Evolução da taxa de incidência de sífilis co em menores de 1 ano (por 1000 nascidos Brasil Norte Nordeste Sudes Trabalho Infantil 24  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 27.
  • 28. Quando o Estatuto da Criança e do Adolescen- te foi aprovado, em 1990, não era tão evidente no País a percepção de que o HIV/aids poderia representar um risco ao direito à sobrevivência e à saúde de crianças e adolescentes. Naquele momento, prevalecia a ideia de que o proble- ma se concentrava na população adulta e em homens que faziam sexo com outros homens. Nesse contexto, o Brasil se tornou uma referên- cia internacional ao responder com uma estra- tégia ampla de prevenção, testagem e acesso universal ao tratamento. Hoje, o cenário no País é de uma epidemia es- tável e concentrada em alguns grupos de maior vulnerabilidade como homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo, pes- soas que usam drogas, transexuais e travestis. O Ministério da Saúde estima que, em 2014, 734 mil pessoas viviam com HIV/aids no Brasil, o que corresponde a uma prevalência de 0,4% da população1 . Uma das grandes conquistas dos últimos 10 anos é o sucesso no controle da transmissão verti- cal do HIV, quando o vírus é transmitido da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação. Dados do mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulga- do em 2014, indicam que caiu pela metade o nú- mero de casos de aids por transmissão vertical em crianças com menos de 5 anos entre 1995 e 2013, quando foram registrados 374 casos. Hoje, os efeitos mais graves da epidemia de aids no Brasil recaem sobre os adolescentes. No mun- do, um terço das novas infecções ocorre em jo- vens na faixa etária dos 15 aos 24 anos2 , sendo que os meninos são os mais afetados. No Brasil, entre 2004 e 2013, o número de novos casos em meninos com idades entre 15 e 19 anos aumen- tou em 53%3 . Em 2013, a incidência de aids em adolescen- tes do sexo masculino com idades entre 13 e 19 anos era 30% maior do que em meninas da mes- ma faixa etária, segundo o Ministério da Saúde. Além disso, meninos que fazem sexo com ou- tros meninos têm 10 vezes mais chance de contrair o HIV do que jovens heterossexuais da mesma idade. Outro grande desafio no que se refere à saúde na primeira infância é a alta taxa de transmis- são vertical de sífilis. De 1998 a 2013, a taxa de incidência de sífilis congênita em menores de 1 ano de idade subiu de 1,1 para 4,7 casos por 1.000 nascidos vivos. Em gestantes não trata- das, a transmissão pode acontecer entre 70% e 100% dos casos. A doença pode provocar abor- to, morte fetal, morte neonatal, parto prematuro e má formação fetal. A alta taxa é um indicador importante do atendimento pré-natal e aponta para o desafio de melhorar a qualidade desse serviço, além de garantir o acesso ao pré-natal para todas as mães. Entre 1998 e 2011, foram re- gistrados 1.506 óbitos por sífilis congênita4 . HIV/aids e Sífilis Brasil avançou no controle da transmissão do HIV de mães para bebês. No entanto, cresce o número de adolescentes infectados pelo vírus da aids. 26  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 1. Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2014. 2. UNAIDS Relatório GAP, 2014. 3. Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico, 2014. 4. Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico Sífilis, 2015.
  • 29. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? CONQUISTAS DESAFIOS Melhorar o acesso à prevenção, à testagem e aos serviços de atendi- mento e tratamento direcionados para o público adolescente. Melhorar a qualidade do atendimento pré-natal, especialmente no que diz respeito à redução da transmissão vertical de HIV e sífilis. HIV/aids 0 200 400 600 800 1.000 1.200 Evolução do número de casos de aids na categoria de exposição transmissão vertical em crianças de até 5 anos. 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Número de casos Fonte: Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2006 e 2014. HIV/aids 4 3,5 3 2 0 1,5 1 0,5 2,5 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011200520022001200019991998 2003 Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Nota: (1) Casos notificados no Sinan até 30/06/12. (2) Dados preliminares para os últimos cinco anos. Evolução da taxa de incidência de sífilis congênita em menores de 1 ano (por 1.000 nascidos vivos) por região e ano de diagnóstico Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Bebês protegidos Tendência de queda da transmissão vertical do HIV se mantém desde 2004. Sucesso do País é reconhecido internacionalmente. Pré-natal de qualidade O atendimento pré-natal de baixa qualidade é um dos fatores de transmissão da sífilis da mãe para o bebê. Novos casos de aids em meninos com idades entre 15 e 19 anos. Evolução do número de casos de aids na categoria de exposição transmissão vertical em crianças de até 5 anos GRÁFICO 16 GRÁFICO 17 Evolução da taxa de incidência de sífilis congênita em menores de 1 ano (por 1.000 nascidos vivos) por região e ano de diagnóstico 2 4 3 1 Garantir a realização dos testes para diagnóstico de HIV/aids e sífilis no pré-natal e no momento do parto, além de tratamento para a gestante e o parceiro. A Rede Cegonha, implantada em 2011, tem melhorado a assistência a gestantes e recém-nascidos. No entanto, é neces- sário garantir em todos os municípios brasileiros um pré-natal de qualidade, uma assistência ao parto humanizado e uma atenção ao pós-parto para as mães e seus bebês. Essa atenção deve ser disponibilizada em locais próximos às residências, inclusive nas áreas mais isoladas do País. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 27 HIV/aids e Sífilis Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Nota: (1) Casos notificados no Sinan até 30/06/12. (2) Dados preliminares para os últimos cinco anos. Fonte: Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2006 e 2014. Dados: Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico HIV/aids, 2014. 53% HIV/aids 6% 5% 4% 2% 0% 1% 3% 2004 2006 2007 2008 20092005 Fonte: MS/SVS/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais e IBGE Nota: Casos notificados no SINSN até 30/06/13. Dados preliminares. Evolução da taxa de incidência de sífilis co em menores de 1 ano (por 1000 nascidos v Brasil Norte Nordeste Sudest
  • 30. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um divisor de águas na garantia da proteção dos direitos de crianças e adolescentes. De um lado, criou um sistema de proteção para aqueles que sofrem ameaça ou violação de direitos. Meninos e meninas, vítimas de violência, negligência e exploração passaram a ter direito a programas diferenciados de proteção. De outro lado, foi estabelecido um modelo de responsabilidade penal de adolescentes entre 12 e 18 anos de idade baseado no chamado di- reito penal juvenil. O adolescente deixou de es- tar submetido às decisões arbitrárias de juízes de menores e passou a ser tratado como pessoa em condição especial de desenvolvimento. O Es- tatuto inaugura então um sistema de garantias e responsabilidades, um contraponto ao arbítrio do sistema tutelar existente anteriormente. Os avanços trazidos pelo Estatuto nessa área po- dem ser analisados sob duas dimensões. A pri- meira é a questão da legalidade. Antes do ECA, prevalecia a chamada doutrina da situação irre- gular, que autorizava a internação dos adoles- centes, mesmo sem ter havido qualquer delito. A partir de 1990, o adolescente só pode ser sub- metido a uma medida socioeducativa se houver comprovação da autoria e da materialidade do ato infracional. A segunda é a questão da pro- porcionalidade, isto é, a medida socioeducativa deve ser proporcional ao ato infracional cometi- do, e ainda assim a internação só deve ser apli- cada para os atos mais graves, como medida de último recurso. Outro avanço foi a criação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). Instituí- do em 2006 por uma resolução do Conselho Nacio- nal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Co- nanda) e aprovado como lei em 2012, define desde temas como o financiamento dos programas até a necessidade dos chamados “Planos de Atendi- mento Socioeducativo”. O Sinase estabelece que é de responsabilidade dos municípios a oferta de programas destinados à execução das medidas so- cioeducativas em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade) e que cabe aos Estados a aplicação das medidas privativas de liberdade (internação e semiliberdade). Prevê tam- bém obrigação de intervenções específicas nas fa- mílias dos adolescentes, entre outras medidas. Medidas Socioeducativas Com o ECA, o adolescente deixou de estar submetido às decisões arbitrárias de juízes de menores e passou a ser tratado como pessoa em condição especial de desenvolvimento. Passados 25 anos, o Brasil vive a ameaça de retrocesso com as discussões sobre redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. 28  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 31. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 29 Medidas Socioeducativas O Brasil vive hoje a ameaça de retroceder o ca- minho que trilhou nos últimos 25 anos caso seja aprovada a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. O rebaixamento não só não resol- verá a questão da violência como poderá agra- vá-la. O sistema penitenciário adulto brasilei- ro é mundialmente conhecido por seus graves problemas: superlotação, torturas sistemáticas e incapacidade de reintegrar seus presos. Nes- se sistema, os adolescentes estarão expostos às facções do crime organizado e às precárias con- dições do sistema prisional brasileiro. Além disso, o modelo de responsabilização de adolescentes, previsto na Lei do Sistema Nacio- nal de Atendimento Socioeducativo (Sinase) não está sendo implementado de forma efetiva. Re- latórios elaborados pelo Conselho Nacional de Justiça a partir de visitas realizadas aos centros de internação de adolescentes em conflito com a lei revelam que ainda persistem irregularidades no sistema, como unidades superlotadas e sem as condições de higiene e salubridade; falta de projetos pedagógicos; e uso da internação como medida padrão para casos que são passíveis de solução em meio aberto. 1. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Levantamento Sinase, 2012. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? Fortalecer o Sinase, implementando, entre outras medidas, a melhoria da estrutura das unidades de internação e criando projetos pedagógicos e profissionais capazes de reintegrar os adolescentes em conflito com a lei. Ampliar a oferta de medidas socioeducativas em meio aberto e fortalecer as defensorias públicas. Investir na universalização de políticas de inclusão social, garantindo para crianças e adolescentes o direito à educação, à saúde e à proteção contra a violência e a negligência. Investir em uma política de prevenção de delitos capaz de interromper a trajetória que leva ao ato infracional. 3 4 2 1 Um outro dado alarmante, que demonstra a fragi- lidade da implementação do sistema, diz respei- to ao elevado número de mortes de adolescentes nas dependências do Sinase. Em 2012, 30 adoles- centes morreram em unidades de internação, sen- do 11 (37%) por conflitos interpessoais, 9 (30%) por conflito generalizado e 5 (17%) por suicídio1 . No atual debate, qualquer caminho a ser propos- to para a responsabilização com mais rigor de adolescentes que cometem graves delitos deve reafirmar a necessidade de uma resposta distin- ta do sistema criminal e das penas aplicáveis ao adulto. É preciso fortalecer o sistema atual ten- do como referência experiências bem-sucedidas de outros países — e não faltam bons exemplos. Este é um momento oportuno para o debate so- bre melhores formas de prevenir delitos e res- ponder de forma efetiva aos crimes violentos co- metidos por adolescentes. Aperfeiçoar o sistema socioeducativo, garantindo que ele ajude a inter- romper a trajetória do adolescente na prática do delito, é uma das tarefas mais importantes que o País tem diante de si.
  • 32. CONQUISTAS Perfil dos adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas com restrição da liberdade em 2011 Fonte: Conselho Nacional de Justiça – CNJ, DMF/CNJ – Panorama Nacional: A execução de medidas socioeducativas de internação – Programa Justiça ao Jovem. Conselho Nacional de Justiça, 2012. não frequentavam a escola antes da internação. 57% não completaram o ensino fundamental. 86% eram usuários de droga. 75% tinham entre 16 e 18 anos. 72% MSE Roubo Tráfico de drogas H om icídio A m eaça de m orte Furto Latrocínio Tentativa de roubo Estupro Tentativa de hom icídio Porte de arm a de fogo 0 2.000 4.000 6.000 10.000 8.000 12.000 MSE Atos infracionais com maior incidência 40,0% 24,0% 6,0% 9,0% 3,0% 3,0% 2,0% 2,0% 2,0% 1,0% Fonte: Levantamento Anual - Sinase 2013 - Preliminar *O número de atos infracionais é superior ao número de adolescentes, pois alguns adolescentes estão em atendimento socioeducativo considerando-se mais de um ato infracional. Números de atos infracionais* = 25.192 O Estatuto inaugura um sistema de garantias e responsabilidades para adolescentes de 12 a 18 anos. É um contraponto ao arbítrio do sistema tutelar existente anteriormente. Implementar o modelo de responsabilização previsto na Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) de forma integral. Dos 21 milhões de adolescentes brasileiros, 0,01% estão cumprindo medidas socioeducativas por atos contra a vida. Perfil dos adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas com restrição da liberdade em 2011* Atos infracionais com maior incidência Números de atos infracionais = 25.192 GRÁFICO 18 GRÁFICO 19 30  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS Medidas Socioeducativas Fonte: Conselho Nacional de Justiça — CNJ, DMF/CNJ — Panorama Nacional: A execução de medidas socioeducativas de internação — Programa Justiça ao Jovem. Conselho Nacional de Justiça, 2012. *Pesquisa realizada com uma amostra de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas. Fonte: Levantamento Anual — Sinase 2013 — Preliminar. Fonte: Estimativa do UNICEF com base em dados do Levantamento Sinase 2012 e Pnad 2012. DESAFIOS 0,01%
  • 33. RELATÓRIO UNICEF ECA 25 ANOS 14 Mortalidade Infantil
  • 34. O Brasil, que se tornou referência mundial na redução da mor- talidade infantil, não tem conseguido impedir o alarmante crescimento de assassinatos de seus adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que eles devem ter garantido seu direito à vida, refletindo o que determina a Constituição Federal. No entanto, após a aprovação dessa lei, o número de homi- cídios de brasileiros de até 19 anos de idade dobrou. De 1990 a 2013, passou de 5 mil para 10,5 mil casos ao ano (Datasus, 2013). Isso significa que, a cada dia, 28 crianças e adolescentes são assassinados1 . No Brasil, entre 2008 e 2011, o número de pessoas assassina- das foi maior do que nos 12 maiores conflitos armados ocor- ridos no mundo de 2004 a 2007, entre eles, as guerras no Ira- que e no Congo2 . Dos adolescentes que morrem por causas externas no País, 36,5% são assassinados. Na população to- tal, esse percentual é de 4,8%3 . Esse cenário perturbador co- loca o Brasil em segundo lugar no ranking dos países com maior número de assassinatos de meninos e meninas de até 19 anos, atrás apenas da Nigéria4 . Os assassinatos sistemáticos de crianças e adolescentes não são um fenômeno novo no País. Em 1993, a Chacina da Can- delária chamou a atenção para as execuções de adolescentes, que seguem ocorrendo no Brasil. Naquele crime, três policiais fora de serviço atiraram contra um grupo de cerca de 50 mora- dores de rua que dormiam na região central do Rio de Janeiro. Entre os oito mortos, seis crianças e adolescentes. Homicídios Desde a aprovação do ECA, o número de homicídios de crianças e adolescentes dobrou. Esses assassinatos formam a face mais trágica das violações de direitos que afetam meninos e meninas brasileiros. 32  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 35. O crescimento do número de homicídios de adolescentes é a mais trágica das violações de direitos que afetam crianças e adolescentes. As vítimas têm cor, classe social e endereço. São em sua maioria meninos negros, pobres, que vivem nas periferias e áreas metropolita- nas das grandes cidades. A taxa de homicídio entre adolescentes negros é quase quatro ve- zes maior do que aquela entre os brancos (36,9 a cada 100 mil habitantes, contra 9,6 entre os brancos) (Datasus, 2013). O fato de ser homem multiplica o risco de ser vítima de homicídio em quase 12 vezes5 . O fenômeno dos homicídios de adolescentes tem múltiplas causas. Entre elas, estão aspectos liga- dos à raça, ao gênero e à classe social dos ado- lescentes. Os assassinatos de meninos negros, pobres e de periferias que ocorrem diariamente no País não geram a mesma comoção provoca- da pelas mortes de meninos brancos. As mortes dos adolescentes negros são muitas vezes justifi- cadas, de forma equivocada, pelos conflitos entre facções rivais e pelo tráfico de drogas. Outro aspecto é o ciclo de impunidade provoca- do pela lentidão na conclusão dos processos ju- diciais e pela necessidade de fortalecimento dos mecanismos de investigação policial. De acordo com a Associação Brasileira de Criminalística, entre 92% e 95% dos homicídios em geral come- tidos no Brasil não são solucionados. Cerca de 42 mil adolescentes brasileiros poderão ser assassinados entre 2013 e 2019 se as condi- ções atuais do País prevalecerem. Essa é a esti- mativa feita a partir do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), desenvolvido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo UNICEF, pelo Observatório de Favelas e pelo Laboratório de Análise da Violência da Universi- dade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-Uerj). Nes- te ano em que o ECA completa 25 anos, o País tem a oportunidade de agir para garantir o direito à vida desses milhares de adolescentes brasileiros. O QUE AINDA PRECISA SER FEITO? Implementar uma ação nacional articulando governos federal, estaduais e municipais para diminuir o número de homicídios praticados contra adolescentes e jovens, que afetam particularmente os negros. Fortalecer a atuação coordenada das instituições integrantes do sistema de justiça e segurança. Garantir a investigação imparcial de todos os homicídios para encontrar os responsáveis e aplicar as medidas previstas em lei, aprovando, por exemplo, o projeto de lei 4471/2012. Esse PL altera o Código de Processo Penal e exige a investigação de todas as mortes e lesões corporais decorrentes do uso da força por agentes do Estado. Desenvolver protocolos e a formação dos policiais para atuarem de acordo com princípios de direitos humanos, respeito à diversidade e como agentes de proteção da vida. 3 4 1 Adotar políticas e programas de prevenção das mortes violentas na adolescência e de produção de informações mais precisas sobre quantos e quem são os adolescentes assassinados. No nível estadual, elaborar e implementar planos estaduais de redução de mortes violentas na adolescência, atuando em parceria com iniciativas municipais adotadas nessa direção. Adotar programas estaduais especí- ficos ou aderir às políticas públicas federais de prevenção à violência, que devem incluir iniciativas como campanhas sobre essa questão. Homicídios 1. Estimativa feita pelo UNICEF no Brasil baseada em dados do Datasus, 2013, e Pnad, 2013. 2. Global Burden of Armed Violence, 2008. 3 e 5. Homicídios na Adolescência no Brasil, 2015. 4. Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014. RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 33 2 7 6 5
  • 36. Homicídios 0 8.000 6.000 4.000 2.000 12.000 10.000 949392911990 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 06 07 08 09 10 11 12 201305 Fonte: MS/SVS/CGIAE — Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) Nota: A base de dados foi construída a partir de duas consultas independentes de 1990–1995 e de 1996–2013. Assim, pode haver alguma diferença metodológica. Evolução do número de homicídios de crianças e adolescentes (0 a 19 anos) e adolescentes (15 a 19 anos) 0 a 19 anos 15 a 19 anos Homicídios Países com maiores números de homicídios entre pessoas de até 19 anos Fonte: Relatório Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014 Nigéria 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000 11.000 12.000 13.000 Venezuela Colômbia Paquistão Etiópia México RD Congo Índia Brasil EUA Mortes aumentam a cada ano Vítimas são meninos negros, pobres, que vivem nas periferias das grandes cidades O fato de ser homem multiplica o risco de ser vítima de homicídio em quase 12 vezes. Comparação internacional Em termos absolutos, o Brasil é o segundo país com maior número de homicídios de adolescentes. Evolução do número de homicídios de crianças e adolescentes (0 a 19 anos) e adolescentes (15 a 19 anos) Países com maior número de homicídios entre pessoas de até 19 anos (2012) GRÁFICO 20 GRÁFICO 21 Fonte: Relatório Hidden in Plain Sight, UNICEF, 2014 . Fonte: MS/SVS/CGIAE — Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Nota: A base de dados foi construída a partir de duas consultas independentes de 1990–1995 e de 1996–2013. Assim, pode haver alguma diferença metodológica. 34  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS A taxa de homicídio entre adolescentes negros é quase quatro vezes maior do que aquela entre os brancos (36,9 a cada 100 mil habitantes, contra 9,6 entre os brancos). Fonte: Datasus, 2013. Homicídios
  • 37. O Estatuto da Criança e do Adolescente é um dos maiores ganhos da legis- lação e da nossa sociedade. Nós, brasileiros, temos uma história atravessa- da pela arbitrariedade no que diz respeito às relações sociais, o que sempre impediu os direitos humanos de serem a base da nossa sociedade. Sinto intensa satisfação em ter, no meu País, um Estatuto que me abraça em todas as minhas especificidades. Sinto orgulho porque sou protegida por uma lei que é uma das mais avançadas do mundo no que diz respeito aos direitos da população infanto-juvenil. Sinto orgulho porque o Estatuto coíbe, em tese, o Estado de agir de forma errônea com minha vida e meu futuro. Sinto orgulho porque sinto que a visão humanista e intergeracional presente na lei me protege como uma pessoa em processo de formação e de construção da minha identidade. Mas esse orgulho, infelizmente, não está em meu cotidiano, assim como não está no cotidiano das crianças e dos adolescentes negros e negras que aqui habitam. Continuamos a ser exterminados e massacrados nas mãos do braço armado do Estado. Continuamos, 127 anos após o fim da escravidão, não tendo acesso a uma educação qualificada, a direitos básicos para uma vida plena (saneamento, moradia, alimentação), a áreas de lazer, à ocupação dos locais de poder e dos locais de visibilidade, a uma saúde que dê conta de nossas demandas, além de seguir sendo marginalizados e vilipendiados, impedidos de exer- cer nossa cidadania de forma efetiva. E ainda assim, com esses inúmeros déficits e essas falhas de todas as instâncias institucionais que deveriam nos acolher, ainda ousam afirmar por aí que nossos desvios de conduta ou nossa ida para caminhos negativos e perigosos são inteiramente culpa de nossas ações. Segundo pesquisas recentes, o número de adolescentes brancos vítimas de homicídio vem se reduzindo, enquanto o de adolescen- tes negros aumentou 55,3% entre 2001 e 2011 (Mapa da Violência, 2014). Como o Estatuto da Criança e do Adolescente mudou a minha vida? Por Aíla Oliveira Santana, 17 anos* RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS 35
  • 38. Não quero dizer, com isso, que o número de brancos mortos deva aumen- tar. Muito pelo contrário, luto pela construção de um país onde ceifar vidas não seja realidade. Mas quero apontar que o extermínio da juventude ne- gra é um fato histórico, crescente, presente e legitimado pelo próprio Esta- do, que diz prezar por todos sem nenhuma distinção, mas que dá possibi- lidade para a polícia seguir com sua “faxina étnica” dentro das periferias. Este relato pessoal que aqui transcrevi serve para afirmar que o Estatuto da Criança e do Adolescente tem grandes desafios pela frente. Em seus 25 anos de existência, a sociedade não deu conta de destrinchar e assim en- contrar e desfazer barreiras sociais, culturais e institucionais. Muitos municípios e Estados ainda não contam com conselhos e fundos para a infância dentro de suas próprias leis; não há uma reorganização e implantação geral das instituições que executam as medidas socioeduca- tivas e articulação das redes locais de proteção integral; há profissionais que trabalham diretamente com o público infanto-juvenil e ainda atuam com base em punições, ações corretivas e repressoras. Não menos im- portante, a população brasileira não reconhece a importância e relevân- cia da proposta e do trabalho do Estatuto devido às diversas investidas do sensacionalismo midiático em desfragmentar esse ganho e incorporar que crianças e adolescentes são os próprios inimigos do avanço, e que devemos atacá-los e puni-los com as mesmas leis que punimos “gente grande”, sendo que as taxas de criminalidade só fazem aumentar com o aumento do encarceramento. O Estatuto da Criança e do Adolescente tem uma grande luta pela frente: a luta pela implementação dos direitos humanos no Brasil. Minha perspecti- va é de que todos, um dia, avancemos na bandeira por um mundo melhor, começando por cuidar e dar oportunidade às crianças e aos adolescentes. Somos o presente e o futuro, e um futuro sem assistência e acompanha- mento justo e humanitário não transformará realidades, nem mesmo oti- mizará nossa democracia. Que sigamos valorizando o Estatuto e cobrando sua efetividade basea- da no respeito à diversidade de raça, gênero e classe social. Só assim vamos promover a equidade e a igualdade de direitos. Este é o Brasil que quero construir. *Estudante do ensino médio e integrante do coletivo Enegrecer, rede de jovens que atua pela proteção dos direitos de afrodescendentes no Brasil. COMO O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE MUDOU A MINHA VIDA? 36  RELATÓRIO UNICEF #ECA25ANOS
  • 39. Ilustração de Larissa Vassalo Fernandes, 14 anos, segundo lugar no concurso de ilustrações para este relatório promovido pelo UNICEF.