3. Conjuntura
brasileira
O Brasil também teve que lidar com consequências da pan-
demia. Uma dessas consequências foi a inflação. O preço de
tudo subiu e os brasileiros sentiram no bolso. Mas não foi
exclusividade nossa. Foi um fenômeno global.
Uma série de fatores contribuiu para as fortes altas nos pre-
ços de alimentos e combustíveis. Para tentar evitar um drás-
tico desaquecimento da atividade econômica, que poderia
aprofundar ainda mais o problema, foram concedidos estí-
mulos por parte dos governos, o que sustentou o consumo.
Paralelamente, vislumbrando problemas futuros, o Banco
Central do Brasil havia iniciado um ciclo de altas de juros em
março de 2021 - indo na contramão de muitos bancos cen-
trais ao redor do mundo, até mesmo por conta de uma polí-
tica monetária expansionista durante a pandemia.
Em nossa contribuição para o Inside VC de abril de 2022,
notamos que as variáveis macroeconômicas do Brasil pode-
riam afetar novos investidores, com menos experiência em
VC, de modo que, a melhora na percepção de inflação e ju-
ros, câmbio e bolsa, poderiam atrair esses investidores e,
eventualmente, levar grandes fundos de investimentos es-
trangeiros para outros países que não o Brasil.
Muitas surpresas, idas e vindas, recessões e crises marca-
ram o ano de 2022. Para começar, a grande força motriz da
atual conjuntura foi a Guerra na Ucrânia. É ponto pacífico
entre muitos analistas que o conflito entre russos e ucrania-
nos gerou uma série de problemas para a economia global.
Um exemplo disso é que o conflito desencadeou a maior in-
flação das últimas décadas na Europa. Verdade seja dita: esse
não é o único fator. Quando falamos de Europa, por exem-
plo, é importante destacarmos que ainda há consequências
da pandemia - que desestruturou muitas cadeias de valor.
A política de Covid zero adotada pela China teve sua contribui-
ção para essa conjuntura, uma vez que alterou a dinâmica da
produção e comércio de bens e serviços no país e com outros
países. E isso também nos leva às consequências do Brexit tan-
to sobre o Reino Unido quanto sobre a própria União Europeia.
E somado a tudo isso, o hemisfério norte viveu uma das maio-
res ondas de calor da sua história. Esses elementos contribuí-
ram para a alta de preços de alimentos e combustíveis no mun-
do todo e, como podemos imaginar, no Brasil não foi diferente.
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
3
RETROSPECTIVA REPORT 2022
ANÁLISE ECÔNOMICA
4. Mudanças
estruturais
Parece-nos que, no final das contas, a conjuntura impactou
menos do que esperávamos. As mudanças estruturais foram
e, ao que tudo indica, continuarão sendo as grandes forças
motrizes do mercado de venture capital.
O pano de fundo de toda mudança é como a estrutura se
modifica. As mudanças estruturais são mais lentas, de lon-
go prazo, contudo, quando estamos próximos a pontos de
inflexão, essas mudanças podem gerar tensões relevantes.
Duas variáveis estruturais relevantes são o emprego e o pata-
mar tecnológico. Veja, no Brasil, temos um mar de oportunida-
des. Isso ficou evidente, pois no decorrer do ano, mesmo com
tudo que vem acontecendo no mundo e, a despeito da conjun-
tura brasileira, o volume de investimentos se manteve alto.
Esse movimento tem feito com que as startups brasileiras
acompanhem pari passu os novos negócios estrangeiros.
Sob esse prisma, talvez o maior desafio seja o emprego. Sa-
bemos que a mão de obra brasileira ainda carece de maior
qualificação para dar conta da transformação digital e da
ascensão das startups.
Mas até aí residem oportunidades. A onda de demissões em
big techs como Meta, Twitter, Amazon e outras gerou um
elevado contingente de trabalhadores da área tech dispo-
níveis para empresas tradicionais, em processo de transfor-
mação digital ou não.
Esse movimento é um alento para a incipiente economia di-
gital que, apesar da conturbada conjuntura e de um ponto
de inflexão estrutural importante à frente, pode trazer dina-
mismo para o mercado de venture capital.
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
4
RETROSPECTIVA REPORT 2022
5. What's next
Atualizando a nossa leitura do último Inside VC, a tendência
vista em 2022 deve se manter, pois as variáveis macroeco-
nômicas que estão em jogo (inflação, juros e mercado de
trabalho nos países desenvolvidos, além do câmbio, inflação
e juros no Brasil) não devem sofrer grandes mudanças.
Contudo, há uma recessão no radar de muitos analistas que
envolve variáveis conjunturais, como a própria inflação, ju-
ros e a atividade econômica, mas também variáveis estrutu-
rais importantes, como as mudanças na regulação das big
techs e mudanças nos modelos de negócios de startups,
cuja dependência do uso de dados é central.
A redução do número de aportes que vimos em 2022, em
comparação ao ano de 2021, é um alerta importante de que
o número de oportunidades para investidores de risco pode
ter se reduzido. Assim, podemos esperar mais ondas de
grandes aportes em poucas startups.
Esse processo parece acompanhar algum temor com a onda
de demissões em big techs. E como temos visto notadamen-
te no segmento de fintechs no Brasil - acompanhado por
HRtechs, agtechs e outras - a grande tendência para 2023
em diante é diversificação.
Todas essas variáveis conjunturais e estruturais vem contri-
buindo para o amadurecimento dessas empresas e também
dos ecossistemas de inovação que passam a operar em ou-
tro patamar. O reflexo desse amadurecimento é visto princi-
palmente nos modelos de negócios das empresas.
Aqui, o exemplo das fintechs como o principal segmento do
Brasil é bastante relevante. Com as mudanças regulatórias
em curso, acompanhadas do acirramento do ambiente com-
petitivo, começamos a ver cada vez mais empresas desen-
volvendo ecossistemas próprios.
Essa é uma tendência tanto do ponto de vista de crescimen-
to e aquisição de novos clientes, como do ponto de vista da
busca por melhores resultados. Mas a tendência não é ex-
clusiva do segmento de fintechs. Podemos ver isso em Gym-
pass, MadeiraMadeira e outros.
Em linha com a tendência de diversificação, o desenvolvi-
mento das fintechs e, principalmente, das fintechs de Ban-
king as a Service deve reforçar cada vez mais o fortalecimen-
to de braços financeiros de empresas tradicionais, como é o
caso de fintechs de crédito associadas a grandes varejistas.
Nesse sentido, parece-nos que veremos cada vez mais apor-
tes em empresas que estão constituindo um ecossistema só-
lido, complementar e relevante, com taxas de crescimento
robustas. Esse deve ser o olhar dos capitalistas de risco em
um ambiente cada vez mais competitivo e maduro.
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
5
RETROSPECTIVA REPORT 2022
20. Inverno VC
2022 foi um ano repleto de desafios para o ecossistema tech
poucos IPOs, impactos da guerra na Ucrânia, inflação e au-
mento de juros, entre outros.
Na hora de avaliar cenários de crise, é importante uma
base comparativa-histórica. Durante o estouro das ponto-
com nos anos 2000 e a crise financeira de 2008, levou de
dois a três anos para os investidores chegarem ao fundo do
poço e começarem a investir para crescer. Se essa tendên-
cia continuar e, se o cenário atual for de uma legítima bolha
econômica (o que é discutível), é coerente estimar que o in-
vestimento em VC será retomado até 2025, em uma análise
de abordagem mais pessimista.
Assim como em outras crises, o fenômeno comportamental
de seus participantes é essencial para seu desenrolar. Quando
os primeiros unicórnios começaram a surgir, investidos por
grandes fundos com muito capital, não tardou até que muitos
outros fundos surgissem no mercado oferecendo seu próprio
dinheiro em busca do próximo unicórnio. O que antes era um
risco controlado baseado em modelos e análises profundas,
se tornou um jogo onde quanto maior o número de investi-
mentos, maior a chance de achar a startup premiada.
˿
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
20
RETROSPECTIVA REPORT 2022
21. Esse primeiro fenômeno foi apelidado de FOMO (fear of mis-
sing out), em analogia a uma patologia psicológica que se
produz pelo medo por ficar fora do mundo tecnológico ou
a não se desenvolver ao mesmo ritmo que a tecnologia. A
analogia se apresenta pelo fato dos investidores investirem
de forma menos criteriosa em uma busca incessante pela
próxima tecnologia revolucionária.
Enquanto o FOMO intoxicava os investidores, outro tipo de
fenômeno comportamental se instalava entre os empreen-
dedores: a mentalidade de cashburn. A mentalidade de
cashburn se apresenta em negócios que ainda não conse-
guiram reverter o fluxo de caixa negativo (o que é normal
em startups em estágio inicial), muito menos possuem um
meio ou tempo claro para reverter essa situação. São em-
presas que estão de pé unicamente porque o dinheiro dos
investidores continua entrando.
As peças para um ciclo de retroalimentação estavam pos-
tas. Investidores, ao investirem sem critérios em um grande
número de empresas sem um negócio sustentável e estru-
turado, mas com disposição de sobra para queimar capi-
tal, fizeram com que os valuations de muitas empresas dis-
parassem. Por consequência, os cheques também ficaram
maiores por uma relação de oferta e demanda.
Durante períodos econômicos desafiadores, os investido-
res buscam oportunidades que não dependam de grandes
quantias de capital para financiar estratégias caras de aqui-
sição de clientes que levam tempo e podem desaparecer em
ambientes adversos. Até porque aqueles responsáveis por
investirem nos fundos estão sendo desestimulados a assu-
mirem tantos riscos, visto que investimentos atrelados à
Selic têm dado retornos seguros e consistentes. Agora, do
lado do empreendedor, se ele quiser captar alguma rodada,
terá que mostrar valor em sua startup com crescimento de
receita, aumento da quantidade de clientes, busca do brea-
keven ou mostrar lucro.
A história tende a se repetir não só para o mal. A historia-
dora econômica Carlota Perez, especializada na formação
dos ciclos tecnológicos desde a década de 1770, traz oti-
mismo para o resultado desta desaceleração atual, tendo
previsto esta desaceleração há alguns anos como um pon-
to de virada crítico no meio do caminho dentro da quin-
ta revolução industrial. No mesmo artigo, Perez enxerga
como um “ponto de virada” os presentes eventos. Um está-
gio necessário para uma era de ouro mais sustentável que
será “liderada pela produção e pela desenvolvimento apri-
morada dos mercados em um jogo de soma positiva para
os negócios e a sociedade”.
Os períodos corretivos tendem a gerar empresas fortes com
modelos de negócios resilientes. Talentos fora da curva, com
perfil voltado para a resolução de problemas e capazes de
criar startups inovadoras impulsionando novas tecnologias
durante cada ciclo. Assim como a Grande Recessão de 2008
nos EUA nos trouxe Uber e Airbnb, podemos ter certeza de
que, neste momento, existem equipes trabalhando duro
para resolver problemas em diferentes cantos do mundo.
Como os investidores veteranos apontam, as melhores sa-
fras do venture capital são geradas em tempos como estes.
Ou seja, assim como na natureza, o verão não é e não deve ser
eterno. No presente ˜inverno do VC˜ é a melhor época para
apostar em dobro em empresas saudáveis, que com certeza irão
florescer quando a primavera voltar, como sempre acontece.
⁕
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
21
RETROSPECTIVA REPORT 2022
22. 2022 ficou conhecido como o ano do "Inverno
do VC", muito por conta da retração do
mercado em comparação a 2021. Quais foram
os eventos mais relevantes do mercado esse
ano e como a Antler os enxerga?
Venture capital é uma indústria cíclica
e esta não é a primeira vez em que pre-
senciamos uma desaceleração dos in-
vestimentos. É natural esse movimento
de desvalorização de empresas de tec-
nologia e a retomada de investimentos
na economia real, tendo em vista o atual
mundo de inflação e taxas de juros.
Os investimentos em VC e inovação não
pararam. Os deals continuaram aconte-
cendo, mas com correções de valuation e
um foco maior em questões financeiras.
Isso, inclusive, pode ser visto muito mais
no late stage, que acabou tendo de rea-
justar suas rotas com layoffs e um me-
lhor aproveitamento das últimas rodadas
que captaram, do que no early stage,
como é o caso da Antler, por exemplo.
Os fundos de venture capital passaram a
ser mais cobrados pelos seus investidores
e, portanto, tiveram de aumentar a rigidez
na hora de investir. Ou seja, os investidores
voltaram a considerar os elementos mais
básicos, como, por exemplo, as métricas
financeiras como um parâmetro para aná-
lise dos negócios. Burn rate e runway vol-
taram a ser discutidos como importantes
marcos de modelos de negócios.
De maneira geral, acho benéfico e saudá-
vel para o ecossistema, no longo prazo,
esses ajustes de valuations e expectativas.
Tendo em vista os movimentos de
crescimento e encolhimento do mercado nos
últimos anos, que expectativas podemos
nutrir para 2023?
Ao contrário do que se diz por aí, não
estamos vivendo em uma “bolha” do
venture capital. Agora, estamos vivendo
um momento de reajuste do mercado,
com revisão dos modelos de negócios
das empresas e uma análise maior de
componentes financeiros. É uma procu-
ra por uma maior sanidade nos aportes.
Esse momento não é nada comparado
ao que vimos na bolha das “ponto.com”
no início dos anos 2000.
Digo isso, pois certamente 2022 foi um
ano turbulento para as startups e os
empreendedores. Mas, são esses mo-
mentos que comprovam quem realmen-
te está no controle de suas finanças e
possui um modelo de negócio rentável.
É o que aquele ditado diz: “mar calmo
nunca fez um bom marinheiro”.
Pensando nesse cenário, 2023 parece
que será um momento importante para
os fundos de venture capital. Acredito
que o mercado já sabe o que esperar
dos fundos, no que tange a sua filosofia
de aportes. Não acredito que haverá tão
cedo uma repentina mudança de rumo.
A indústria continuará olhando para mé-
tricas financeiras e de estabildade dos
negócios. No que diz respeito ao pata-
mar de investimentos, é muito difícil
prever se ele será igual ao que era antes
da pandemia ou se será semelhante ao
que vimos recentemente, em 2021.
CAROLINA STROBEL
PARTNER
ANTLER
Com sua comunidade global,
presente em 25 cidades ao
redor do mundo, a Antler
apoia empreendedores desde
o início com matching
entre cofundadores,
validação profunda
do modelo de negócios,
capital inicial, suporte
à expansão e financiamento
subsequente.
O que esperar
do mercado
de VC em 2023
˿
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
22
RETROSPECTIVA REPORT 2022
23. O que é possível dizer é que, de um lado,
as empresas já estarão com valuations
mais ajustados, permitindo melhores
análises dos fundos de investimento. Do
outro lado, a perspectiva de algumas po-
líticas mais populares deve viabilizar um
mercado, pelo menos no curto prazo (1 a
2 anos), de alguma abundância que deve
financiar um maior número de usuários.
2023 será o momento de aproveitar
para construir e investir em novas em-
presas. É assim que iremos fomentar a
inovação no Brasil e criar novos empre-
gos. Costumo dizer para os investidores
que “dinheiro parado no banco não faz
a economia girar”. É preciso injetar o di-
nheiro na nova geração de startups, que
estão resolvendo as principais ineficiên-
cias do nosso país.
As consequências da alta da inflação e dos
juros e da pandemia no mercado de venture
capital geraram ondas de demissão nunca
antes vistas. Agora, com a diminuição das
demissões e a recuperação dos mercados,
que movimentos podem ser acarretados como
consequência dos layoffs?
Os layoffs nunca são uma coisa legal de
se ver, principalmente quando começam
a ocorrer em todo mercado de tech, des-
de as gigantes do Vale do Silício até as
principais startups brasileiras.
No entanto, com esse número de pro-
fissionais extremamente qualificados
no mercado, é um excelente momento
para realizar contratações - isso para
quem tiver oportunidade. Quem antes
estava com dificuldades, por exemplo,
para conseguir encontrar um colabora-
dor tech, pode aproveitar esse momento
para contratar alguém, desde que ali-
nhado com a evolução da empresa.
Além disso, para todas as empresas, esse
momento será crucial para os founders
criarem planos de ações voltados para o
seu quadro de colaboradores, desenhando
um novo roadmap de contratações e cresci-
mento das principais áreas da companhia.
Depois, acho saudável que as empresas
repensem seus modelos de negócios
para que identifiquem suas ineficiên-
cias e gargalos, na tentativa de norma-
lizar a operação e levá-la para um cami-
nho de rentabilidade.
Empresas e fundadores que passam por
este tipo de stress desenvolvem eficiên-
cias importantes. Vamos lembrar que o
VC lembra muito a viticultura. A videira
precisa de estresse, na medida certa,
para que as suas raizes sejam cada vez
mais profundas e seus frutos produzam
vinhos mais complexos e raros.
CAROLINA STROBEL
PARTNER
ANTLER
Com sua comunidade global,
presente em 25 cidades ao
redor do mundo, a Antler
apoia empreendedores desde
o início com matching
entre cofundadores,
validação profunda
do modelo de negócios,
capital inicial, suporte
à expansão e financiamento
subsequente.
O que esperar
do mercado
de VC em 2023
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022
24. Historicamente, os setores de fintech
e retail sempre tiveram mais presença
no mercado, tanto em número de startups
quanto em investimentos. Contudo, durante a
pandemia o setor de health também cresceu
muito. Existe algum outro setor específico
que vem se desenvolvendo no decorrer de
2022 e tende a crescer ainda mais em 2023?
O Brasil é para mim, o melhor país para
uma fintech. Sem dúvida a liberdade cria-
tiva que o Banco Central concedeu com os
sandboxes viabilizou modelos de negócios
importantes a título mundial. O Pix, por
exemplo, é uma ferramenta que viabiliza
muitas novidades no setor. Com o Open
Finance, a mesma coisa. Ainda há muito o
que explorar dentro desse mercado e mui-
tas soluções para serem testadas.
Retailtech, por sua vez, é a vocação natu-
ral do nosso país. Somos excelentes ven-
dedores e adoramos o contato direto com
o vendedor. Dado o tamanho do mercado
brasileiro, que é enorme, e a necessidade
cada vez mais crescente de digitalização
dessa indústria, com certeza veremos
muitas empresas criando soluções para
esse segmento nos próximos anos.
No entanto, ainda temos muitas inefi-
ciências para tratar, ainda mais em seto-
res tão importantes para construirmos
um país melhor. É o caso, por exemplo,
do setor de saúde, educação e susten-
tabilidade. No Brasil, o que não falta é
oportunidade para resolver problemas
e atacar mercados ineficientes. Em com-
paração com outros lugares do mundo,
vemos tendências claras que devem se
desenvolver aqui, muito por conta da
alta adoção de tecnologia por nós e se-
tores que necessitam desse aporte de
inovação. É o caso do ramo de seguros
(insurtechs), ou de energia limpa (clean-
techs), por exemplo.
CAROLINA STROBEL
PARTNER
ANTLER
Com sua comunidade global,
presente em 25 cidades ao
redor do mundo, a Antler
apoia empreendedores desde
o início com matching
entre cofundadores,
validação profunda
do modelo de negócios,
capital inicial, suporte
à expansão e financiamento
subsequente.
O que esperar
do mercado
de VC em 2023
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022
25. Demissões
e desafios do v
Para o ecossistema de inovação, empreendedorismo e tec-
nologia, o ano de 2022 sempre será lembrado como o ano
dos layoffs: durante a redação dessa análise, a Meta anun-
ciou o desligamento de aproximadamente 11000 funcio-
nários em todo o mundo, na mesma semana que outras
gigantes do setor de tecnologia, como Twitter e Amazon,
demitiram aos milhares.
O fato de isso estar acontecendo com as principais empre-
sas de tecnologia dessa geração é bastante sintomático,
posto que essa mesma realidade se revela - ainda que em
menor escala - para muito além do Vale do Silício. As de-
missões também ocorreram entre startups da Europa, nos
principais ecossistemas de inovação asiáticos e, seguindo a
tendência, na América Latina, particularmente no Brasil.
Há vários esforços em curso de sistematização e quantifi-
cação do número de demissões em nosso ecossistema, e
embora as metodologias e critérios para definir quando os
desligamentos são “normais” e quando fazem parte desse
movimento que buscamos descrever, é seguro admitir que
milhares de profissionais foram demitidos das startups bra-
sileiras ao longo do ano. Ainda que árduo, esse contexto traz
lições valiosas que devem nortear decisões estratégicas (de
contratações, investimentos, etc.) para os próximos anos.
Sendo um desfecho ainda bastante recente, é natural que
estejamos todos em busca de respostas. Investidores, fou-
nders e, sobretudo, profissionais do ecossistema tech estão
tentando compreender ainda quando a indústria de tecno-
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022
26. logia, antes conhecida pelo growth constante e pelas boas
remunerações, tornou-se tão instável.
O primeiro ponto que chama à atenção é que essas demis-
sões não ocorreram no auge da pandemia, mas depois. Era
de se pensar que a decorrente crise econômica interrom-
pesse o ciclo de crescimento das empresas de tecnologia,
mas, ao contrário, houve uma explosão de investimentos,
contratações e growth para muitas startups, puxada pela
aceleração da transformação digital.
Esse salto de crescimento, no entanto, foi seguido por uma
grave recessão econômica - uma combinação que traz con-
sigo muitos dos elementos que explicam o atual cenário de
desligamentos nas empresas de tecnologia.
Primeiramente, há a questão do investimento de risco (e do
quanto as grandes startups se tornaram dependentes dele).
Ao longo dos últimos 10 anos, a tônica geral das empresas
de tecnologia foi a de gastar o dinheiro adquirido junto aos
fundos de venture capital para criar produtos - quando não,
mercados - completamente novos, alguns dos quais sim-
plesmente terminam por não dar certo.
Essa combinação foi próspera enquanto os juros foram bai-
xos e o capital superabundante, mas 2022 viu os juros au-
mentarem de forma acentuada em resposta à inflação, o
que termina por encarecer e escassear o capital disponível
para o investimento de risco.
Disso resultou que empresas acostumadas a operar na
abundância de capital subitamente se viram num contex-
to de escassez. De uma só vez, diversos empreendedores
foram obrigados a avaliar suas prioridades (e, decorren-
temente, a composição dos times), de modo a adequar as
empresas ao novo contexto. Esse movimento foi entendido
por muitos especialistas como uma espécie de “correção”: os
valuations, a operação, o número de colaboradores, entre
outras variáveis, estariam todas artificialmente inchadas em
decorrência do excesso de capital e da demanda expandida
por serviços digitais durante a pandemia.
A menor disponibilidade de capital aumenta a relevância de
registrar boas margens, o que muitas vezes é difícil para em-
presas orientadas ao growth. De modo a aumentar as mar-
gens, aumenta-se preços e diminuem-se custos, e uma das
primeiras medidas costuma ser o enxugamento dos times e
o congelamento de novas contratações. É esse o cenário em
que começaremos 2023, mas a pergunta que fica é: e o que
farão os trabalhadores desligados?
Nos Estados Unidos, o trabalho em tecnologia dá sinais de
organização de classe, com diversas tentativas de sindicali-
zação, construção de grupos de apoio e troca de recursos,
canais de conteúdo e afins. É difícil precisar se o mesmo mo-
vimento se dará no mercado brasileiro, mas com o conge-
lamento das contratações é provável que muitos dos traba-
lhadores que hoje atuam no mercado tech busquem novos
mercados abertos à inovação e tecnologia, a exemplo do
ESG - um campo que vem crescendo não apenas em reco-
nhecimento, mas também em investimentos públicos e pri-
vados.
Outra consequência deve ser uma redistribuição do talento
e da experiência pelo ecossistema, na medida em que pro-
fissionais mais maduros comecem a oferecer seus serviços
para startups ainda jovens, que estão em fase de construir
seus produtos e serviços. Em contextos capital barato, as
empresas de tecnologia já consolidadas elevam os pisos sa-
lariais a um patamar que as entrantes nos mercados não
tem condição de competir, agindo como inibidores da inova-
ção quando olhamos de uma perspectiva sistêmica.
Esperamos que a partir desse baque (ou correção, na pers-
pectiva de alguns) que o ecossistema tecnológico se faça
mais resiliente e, particularmente, cuidadoso com o seu ca-
pital humano - em última instância, os responsáveis pelo su-
cesso das startups que tanto admiramos.
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022
27. Unicórnios,
IPOgrifos e outros
animais fantásticos
De acordo com, Sebastian Mallaby, autor de The Power Law,
um livro sobre a ascensão da indústria do venture capital,
quando o mercado de ações ainda estava lutando após o co-
lapso financeiro de 2008, uma das consequências geradas
no embrionário ecossistema de inovação foi o movimento de
fundadores de startups com verdadeiro potencial optando
cada vez mais por capital privado em vez de abrir capital e
listar-se na bolsa de valores. Assim, ao aceitar grandes che-
ques de empresas de capital de risco, as startups encontra-
vam condições favoráveis
sem a volatilidade dos mercados
acionários da época. Isso teria sido o passo inicial das em-
presas que viriam a ser chamadas de unicórnios no futuro.
Alguns anos se passaram e essas startups premiadas passa-
ram a ser almejadas por investidores de risco e pelo ecossis-
tema em geral. O impressionante valuation de US$ 1 bilhão
tornou-se um marco aspiracional de sucesso no Vale do Silí-
cio. Ele refletia a exuberância e o otimismo de um bastião de
aparência mítico da economia.
O título de unicórnio forneceu um status para muitas em-
presas se diferenciarem na hora de atrair talentos e a aten-
ção da mídia, além de oferecer aos fundadores uma pista
para buscar novas ideias e ganhar prestígio com parceiros
em potencial. Muitas startups já estabelecidas, como Airb-
nb e Uber, que abalaram setores de longa data, dependiam
de investidores com muito dinheiro para cobrir aquisições e
projetos custosos.
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022
28. Ao decorrer de 2021 tantos unicórnios surgiram ao redor do
mundo que o status por trás do nome decaiu muito. Alguns
analistas e redatores até criaram uma nova criatura míti-
ca no mercado: o dragão, startups que conseguem levantar
cheques de US $1 bilhão num único round.
Bem, 2022 veio não só com o extermínio dos dragões, como
também com a queda drástica na taxa de natalidade dos
unicórnios. No Brasil tivemos 12 novos unicórnios em 2021,
apenas 2 em 2021. Além do fato de que os rounds que ele-
varam Dock e Neon ao patamar de US $1 bilhão de valuation
ocorreram no primeiro trimestre do ano. Essa informação é
relevante pois pode apontar para um cenário onde, na ver-
dade, esses investimentos já estavam sendo fechados em
2021, quando a conjectura geral ainda era favorável.
Globalmente a situação se replica, passamos de 542 novos uni-
córnios em 2021, para 242 em 2022, uma queda de 55,4%. Não
só o número de novas empresas nessa categoria caiu, como
as que já atingiram esse patamar estão se desvalorizando. Se-
gundo um levantamento divulgado pelo Pitchbook, as startups
nos 10% mais bem avaliados em suas rodadas unicórnio viram
seu valor cair para uma média de US$ 680 milhões. É uma que-
da de aproximadamente 54%, em relação ao valuation médio
destas empresas mais bem avaliadas, que era de US$ 1,48 bi-
lhão. No caso de empresas que receberam aportes dentro do
venture capital, mas que já abriram seu capital, a queda foi
ainda mais acentuada – cerca de 69%. Estes números não são
nada bons para os unicórnios, que agora estão à mercê de so-
frerem possíveis quedas em seus futuros cheques e avaliações.
Podemos ver essa queda na nova rede social queridinha,
o BeReal. Ele tinha todos os elementos de uma startup as-
pirante a unicórnio, como Snapchat, Clubhouse e Pinterest
antes dele também foram. Era popular entre os estudantes
universitários e até derrotou o rival TikTok na App Store da
Apple. Mas quando um relatório confirmou como os inves-
tidores avaliaram a empresa, ela valia cerca de US$ 600 mi-
lhões - muito aquém do status de "unicórnio" de mais de
US$ 1 bilhão que muitos de seus antecessores ganharam
em tempos mais espumantes.
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022
29. A busca por
novos mercados
Estratégias Geográficas
Inicialmente, tratando-se da questão geográfica, atualmente,
o Brasil é o país mais populoso da América Latina com mais
de duzentos milhões de habitantes, situando-se muito à fren-
te do México e Colômbia que ocupam as posições seguintes
com 130 milhões e 51 milhões de indivíduos, respectivamente.
Através desse fato é possível enxergar que uma empresa ope-
rando no Brasil ou no México possui um longo caminho a ser
percorrido até as suas oportunidades se esgotarem no país.
Por outro lado, empresas fundadas em países menores,
como Chile ou Argentina que possuem populações muito
menores, podem rapidamente encontrar dificuldades, sur-
gindo a necessidade de buscar por alternativas.
A respeito deste tópico, no estudo “Tecnolatinas 2021” foram
apontadas cinco estratégias diferentes para as startups latino
americanas: Brasil, Regional, Global, México e Local. Entre es-
ses caminhos o mais adotado, 42% das startups, é com foco
no mercado brasileiro, seguido pelo global e regional com
19% e 15%, respectivamente. Desse modo, é possível afirmar
que muitas startups da américa latina necessitam atravessar
fronteiras desde seu início para obter escalabilidade.
Contudo, para a maioria das startups brasileiras esta neces-
sidade pode demorar para surgir, ocorrendo apenas para
empresas que obtiveram grande status, como o de unicór-
nio. Isso posto, em um ecossistema cada vez mais amadu-
recido a travessia de fronteiras se tornará uma prática mais
comum entre as empresas brasileiras.
Introdução
Quando uma empresa atinge determinado momento em sua
trajetória pode ser que se torne muito custoso a obtenção
de novos clientes dentro daquele mesmo segmento ou re-
gião geográfica, de modo que se dá necessária a busca por
alternativas para a manutenção de seu crescimento. Neste
material dois caminhos serão destacados, até por serem os
mais usuais: internacionalização e aquisição de startups de
modo a formar ecossistemas.
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
29
RETROSPECTIVA REPORT 2022
30. Além disso, é interessante notar que os ganhos não surgem
apenas de uma maior área de atuação, à vista que o contato
com diferentes necessidades e problemas em outros países
pode despertar novas percepções e ideias para serem em-
pregadas no seu país de origem.
No setor de real estate, por exemplo, os principais players bra-
sileiros, Loft e QuintoAndar, iniciaram movimentações desde o
ano passado em prol de atuarem no México. A Loft adquiriu a
mexicana TrueHome em outubro de 2021 e desde então está
atuando no país, sendo que em agosto deste ano passou a ado-
tar a marca “Loft México”. Enquanto isso, o QuintoAndar havia
adquirido o grupo argentino Navent na virada do ano e passou
a operar no México sob a marca “Benvi” em junho de 2022.
Já o Ebanx que possui presença firmada em quinze países
da América Latina optou por cruzar o Atlântico em direção a
África, iniciando operação na Nigéria, África do Sul e Quênia,
que estão entre as maiores economias do continente. A ado-
ção da estratégia foi baseada na expectativa de que os pa-
gamentos digitais irão crescer substancialmente na região
ao longo dos próximos anos, além de ser o primeiro passo
para o início de uma expansão global.
Ainda no setor financeiro, o Mercado Bitcoin anunciou que deve
iniciar suas operações no México. Reinaldo Rabelo, presidente-
-executivo da startup, divulgou que para concretizar este plano foi
realizado um processo de aquisição de outra empresa, de modo
a facilitar a entrada no país. Este processo foi comparado com a
compra da corretora portuguesa CriptoLoja em janeiro deste ano.
É importante ressaltar que em um processo de internacio-
nalização existem obstáculos a serem superados, como a
barreira linguística, diferenças culturais e a realidade sócio-
-econômica distintas que impossibilitam com que esta ex-
pansão seja reduzida a um processo simples. Neste sentido,
a formação de parceiras e a conexão com outras empresas
pode ser um elemento fundamental para facilitar e acelerar
esse processo.
Para entender melhor como funciona a expansão interna-
cional de uma empresa foi realizada uma entrevista com o
Layon Costa, general manager da Clara no Brasil, onde fo-
ram abordados os principais aspectos desse processo. Esta
conversa será apresentada ao fim desta seção.
Ecossistemas
Um conceito associado à forma como as empresas se rela-
cionam e que têm ganhado cada vez mais relevância é o de
ecossistema: um conjunto de empreendimentos com rela-
ções complementares que constroem estratégias conjuntas
para proporcionar um melhor produto aos consumidores. A
natureza dessa união pode se dar de diferentes maneiras,
como pela combinação de diferentes produtos e serviços
para gerar um maior valor agregado ao cliente ou pelo for-
necimento direto de produtos um ao outro.
Uma simples analogia para compreender o poder de um
ecossistema pode ser realizada através das redes sociais
onde os benefícios de estar inserido em uma aumenta sig-
nificativamente conforme o número de usuários engajados
naquele ecossistema é maior.
Isso posto, existem alguns fatores fundamentais para que
um ecossistema obtenha êxito. É imprescindível que a união
das empresas gere um maior valor quando comparado a
operação de cada uma individualmente. A harmonia entre
as empresas também deve ser clara, de modo que na prática
os consumidores as enxerguem como um único indivíduo.
A organização interna é outro aspecto que merece aten-
ção devido ao fato de que as empresas pertencentes àquele
ecossistema estarão sempre em busca de obter os maiores
ganhos possíveis, surgindo a necessidade de uma divisão
correspondente a importância de cada uma delas no funcio-
namento do grupo.
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
30
RETROSPECTIVA REPORT 2022
31. Já é fato que a formação de um ecossistema se tornou um
elemento essencial para o sucesso dos mais diversos mo-
delos de empresas espalhadas nos diferentes setores. Esse
fato demonstra que os ganhos e proveitos da união de em-
presas não são exclusivos apenas para as startups, mas tam-
bém para as corporações e empresas tradicionais, que nes-
se processo podem se beneficiar significativamente de ter
startups ao seu lado.
No Brasil foi possível enxergar algumas empresas que de-
cidiram seguir por este caminho, de modo a criar um ecos-
sistema ao redor de seu empreendimento. Além disso, essa
tendência pode ser observada pelas estatísticas apresenta-
das acima que revelaram que cada vez mais startups estão
sendo adquiridas por outras startups, revelando um amadu-
recimento do ecossistema de inovação brasileiro.
A Gympass, por exemplo, expandiu a oferta de produtos em
sua plataforma ao adquirir a plataforma de saúde mental,
Vitalk. Esta movimentação foi firmada para concretizar a ver-
tical de saúde mental, preocupação esta que cresceu signifi-
cativamente ao longo dos últimos anos, principalmente com
o longo período de pandemia e isolamento social.
Já a MadeiraMadeira realizou duas aquisições neste ano:
IguanaFix e Casatema. A primeira representa uma expansão
de seus serviços, pois agora os clientes possuem a opção de
solicitarem a montagem do móvel após a compra pelo site,
funcionando em um modelo semelhante ao Uber. Com a se-
gunda aquisição, o maior ecommerce de móveis do país vai
firmar sua presença no segmento de móveis infantis, tendo
em vista o foco da Casatema no público infanto-juvenil.
Enquanto isso, a 99 percebeu a importância de um braço
financeiro dentro de seu modelo de negócio e está cada
vez mais o desenvolvendo. Nesse sentido, foi firmada uma
parceria com a fintech de consórcios Mycon para oferecer
aos motoristas um crédito simples e barato. Além disso, fo-
ram firmadas parcerias por meio da coalizão batizada como
Aliança pela Mobilidade Sustentável para que a frota de car-
ros elétricos no aplicativo aumente. O 99Pay também está
constantemente passando por aprimoramentos, como a
ampliação da oferta de criptomoedas na carteira digital, dis-
ponibilização de cursos de educação financeira em parceria
com a Barkus, edtech social, e a criação do 99Empresta, li-
nha de crédito pessoal na plataforma.
Inclusive esta tendência de criação de um braço financeiro
dentro de companhias que não estão presentes desde sua
origem no setor é uma prática que se tornou muito comum,
tendo em vista a grande insatisfação da população com os
serviços financeiros prestados atualmente e a facilidade cada
vez maior de ingressar neste setor que já teve sua entrada en-
xergada como altamente complicada, custosa e burocrática.
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
31
RETROSPECTIVA REPORT 2022
32. Por que a Clara escolheu vir para o
Brasil? E como funciona o processo de
escolha de um destino para expansão
internacional?
A vinda para o Brasil foi uma decisão
que nasceu junto com a empresa. Na
verdade, o planejamento começou an-
tes mesmo da nossa operação no Mé-
xico ter início. Isso porque o brasileiro
já está acostumado com novas tecnolo-
gias, principalmente as das fintechs. O
mercado é ideal para propor inovações e
aprender com os usuários.
No processo de escolha de um país de
destino para expansão existem diversos
fatores a se considerar. Em outras star-
tups, eu e minha equipe avaliamos bas-
tante as características de todo o ecos-
sistema. Por exemplo: se você pretende
internacionalizar uma insurtech, precisa
dar prioridade a mercados com players
com perfil similar ao do país sede da
startup. Também precisa analisar políti-
cas de contratação, leis regulatórias etc.
Quais são as dificuldades de ingressar
no mercado brasileiro? O idioma é de
fato um empecilho?
Obviamente, é mais fácil quando lida-
mos com pessoas que falam a mesma
língua. Na América Latina, o único “grin-
go” é o brasileiro. No entanto, eu não
considero o idioma um fator tão impe-
ditivo, principalmente se você está pen-
sando em adaptar o seu produto e co-
municação. Hoje, temos muitas formas
de superar essa barreira de modo eco-
nômico e rápido.
Em termos de alinhamento de culturas
de trabalho, eu acredito que exista di-
ficuldade em expandir para qualquer
país. As diferenças vão desde como co-
meçar uma reunião, entender as forma-
lidades e hierarquias, até descobrir os
termos usados pelo pessoal de recursos
humanos em cada região.
O desafio de expandir para o Brasil é
que você precisa se diferenciar. Existem
tantos talentos no país e empresas con-
centradas em resolver problemas, que
os times de fora devem estar bem pre-
parados e com foco na região para não
ficar atrás dos players locais. A Clara se
preparou bastante nesse sentido: eu
passei um ano inteiro sozinho no Brasil
organizando a operação da startup para
começarmos com força.
Qual o nível de independência das
operações de uma empresa em diferentes
países? Existem produtos que são lançados
apenas em uma região, para atender um
público com necessidades específicas?
Isso varia de empresa para empresa.
Existem algumas que apenas transferem
uma vertical comercial para um deter-
minado país, outras que dão autonomia
para a empresa se adaptar às práticas do
país estrangeiro, aumentando as respon-
sabilidades do atendimento, finanças,
RH etc. para os times de cada região.
LAYON COSTA
GENERAL MANAGER - BRASIL
CLARA
Fundada em 2020 no
México, a Clara é uma
startup de finanças que
oferece uma plataforma
de controle de gastos
e cartões de crédito
corporativos. No final
de 2021, a fintech obteve
o título de unicórnio
com apenas um ano de
existência.
Visão
internacional
como estratégia
de crescimento
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
32
RETROSPECTIVA REPORT 2022
33. No caso de produtos exclusivos por mer-
cado, é bem comum uma solução ser
lançada especificamente para uma re-
gião. Claro que a expansão geralmente
começa pelo core business da empresa, e
isso não deve mudar. Mas, depois de um
tempo, cada país apresentará demandas
próprias, e é fundamental saber atender
essas necessidades rapidamente.
De que maneira as empresas que se
internacionalizam se beneficiam das
operações em mercados estrangeiros?
É possível enxergar essa questão por
duas perspectivas. A primeira é a de
uma fintech estrangeira que vem para
o Brasil. De fato, a chegada da Clara no
país beneficiou a nossa startup em to-
das as outras regiões em que temos
operações, pois aprendemos com o
mercado local e esse conhecimento se
estendeu por toda a empresa.
A segunda perspectiva é a das fintechs
brasileiras explorando outros países.
Dito de maneira simples, passar por
uma experiência de crescimento em um
país competitivo e tecnologicamente
avançado como o nosso oferece uma
vantagem competitiva em relação a pla-
yers que ainda estão fechados em seu
país de origem.
Quais são os próximos passos da Clara?
O objetivo da Clara é agilizar e facilitar pa-
gamentos para todo tipo de empresa. Por-
tanto, os nossos próximos passos seguirão
nessa direção. Hoje, fornecemos cartões
de crédito corporativos no Brasil, México e
Colômbia, mas no México já lançamos um
produto de pagamentos utilizando um veí-
culo local semelhante ao nosso Pix.
No entanto, estamos trilhando mais de
um caminho para o crescimento. Enten-
demos que cada país tem as suas pró-
prias necessidades, e os nossos próxi-
mos passos serão dados de acordo com
as demandas dos nossos clientes. Onde
houver uma dor para gerenciar, execu-
tar e acompanhar gastos corporativos,
a Clara irá atuar para auxiliar as compa-
nhias da região.
Fundada em 2020 no
México, a Clara é uma
startup de finanças que
oferece uma plataforma
de controle de gastos
e cartões de crédito
corporativos. No final
de 2021, a fintech obteve
o título de unicórnio
com apenas um ano de
existência.
Visão
internacional
como estratégia
de crescimento
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LAYON COSTA
GENERAL MANAGER - BRASIL
CLARA
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
33
RETROSPECTIVA REPORT 2022
35. Cibersegurança
na Medicina
Em 2017, numa manhã como qualquer outra, diversas pes-
soas abriram seus computadores e se viram impedidas por
uma tela de bloqueio seguida por uma caixa de texto. A
mensagem em questão informava ao usuário que ele havia
sido hackeado e todos os seus dados haviam sido encripta-
dos. A única forma de voltar a ter acesso a esses dados era
por meio do pagamento de uma determinada quantia em
criptomoedas que era aumentada a cada duas horas caso o
usuário não pagasse dentro do prazo.
Sob o nome de WannaCry, esse ransomware danificou mais
de 300 mil máquinas em 150 países, incluindo 80 hospitais do
National Health System (NHS), serviço de saúde pública da In-
glaterra. O efeito no sistema de saúde britânico foi tão intenso
que os hospitais foram forçados a desviar pacientes depois que
o vírus impediu os médicos de acessarem os seus registros.
O WannaCry não havia sido projetado especificamente para
atacar o sistema de saúde, então por que ele foi um dos
mais prejudicados? A vulnerabilidade desses sistemas não
é uma novidade, pois eles se baseiam em softwares e hard-
wares já muito datados. São antigos e não recebem atualiza-
ções, o que facilita a exploração de fragilidades do sistema
operacional, por exemplo.
Uma pesquisa da Armis indica que aproximadamente 70%
das organizações de saúde em todo o mundo estão usando
sistemas operacionais Windows desatualizados (Windows 7
e anteriores). No setor de tecnologia, cerca de 75% das orga-
nizações estão executando Windows 10 e 11.
Para além do WannaCry, as organizações de assistência médi-
ca são particularmente visadas por ataques cibernéticos por-
que possuem muitas informações de alto valor monetário e
de inteligência para cibercriminosos e até mesmo agentes de
outros países. Os dados podem incluir informações de saúde
dos pacientes, informações financeiras, como números de car-
tão de crédito e contas bancárias, informações de identifica-
ção pessoal, como números de CPF e RG e até mesmo proprie-
dade intelectual relacionada à pesquisa e inovação médica.
Cinco anos se passaram desde o primeiro ataque do Wanna-
Cry. Na época, antes da pandemia, muitos poucos processos
médicos eram digitalizados. Oferecer um serviço de consul-
ta virtual ou emitir uma receita médica digitalmente poderia
ser visto com maus olhos pelos pares do setor. Hoje já temos
dispositivos de saúde que permitem um monitoramento de
saúde do paciente a distância, de forma totalmente digital.
O crescente volume de dados também afeta a área da saú-
de, com mais informações sendo coletadas e analisadas. As
organizações médicas estarão posicionadas para criar um
novo valor a partir dessas informações anteriormente indis-
poníveis, usando-as para impulsionar a eficiência operacio-
nal e aumentar o envolvimento do consumidor.
À medida que essa transformação avança, as organizações
precisarão prestar mais atenção à privacidade das informa-
ções e tomar medidas para modernizar os padrões de pro-
teção de dados. Eles também enfrentarão pressão adicional
para estabelecer melhores recursos de conscientização, de-
tecção e resposta para ameaças de segurança cibernética
na área da saúde devido a normas relacionadas à coleta e
proteção de dados.
Apesar da ameaça, a saúde gasta muito menos do que a
maioria das indústrias verticais em segurança cibernética.
A pesquisa de segurança cibernética HIMSS revela que, em
média, as organizações de saúde gastam metade do que as
empresas de outras verticais do mercado gastam em segu-
rança cibernética.
Uma nova pesquisa da Frost & Sullivan revela que essa situa-
ção está prestes a mudar. As indicações são de que a TI de
saúde está se preparando para aumentar seus gastos, com
o resultado de que a Frost & Sullivan projeta uma taxa de
crescimento anual composta (CAGR) de 10,3% para a receita
de segurança cibernética de saúde até 2023. Aumentos nos
gastos ocorrerão em todos os segmentos do mercado de ci-
bersegurança e incluirão um aumento em gastos com pro-
fissionais e modernização dos equipamentos.Principalmente
pelo fato de que o setor lida com um dos maiores volumes
de dados sensíveis de todo o mercado.
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
35
RETROSPECTIVA REPORT 2022
36. Processos
de inovação
em toda cadeia
de suprimentos
De acordo com o relatório Supply Chain Tech Report do Pit-
chbook, o investimento de risco em startups envolvidas com
a cadeia de suprimentos totalizou quase US$ 12,5 bilhões no
primeiro trimestre de 2022. Já no último trimestre de 2022,
os VCs investiram US$ 8,6 bilhões no setor, uma queda de
quase 40% em comparação ao semestre anterior e também
ao segundo trimestre de 2021.
Apesar da queda no último semestre, o setor apresenta uma
demanda reprimida por inovação. O início da pandemia colo-
cou à prova a capacidade do setor logístico de se flexibilizar
e resistir aos altos e baixos de toda a cadeia:segundo Morris
Cohen, professor de operações, informações e decisões da
Wharton, a pandemia de COVID-19 consistiu em “uma gran-
de interrupção, semelhante a um terremoto ou tsunami”.
Nas últimas três décadas, empresas e firmas de logística se
concentraram na redução de custos e estoques. Essa abor-
dagem otimizou a eficiência durante condições estáveis, mas
a COVID destacou os custos implícitos da rigidez da cadeia
de suprimentos quando ocorrem interrupções. Como resul-
tado, a maioria das empresas gastou o ano fiscal de 2020
combatendo incêndios em resposta ao aumento de pedidos
online ou sofrendo forte impacto financeiro para implantar
novos serviços e modelos de negócios para ajudar a reter e
adquirir novos clientes.
A consultoria McKinsey descobriu que as interrupções na cadeia
de suprimentos que duram mais de um mês ocorrem aproxi-
madamente de quatro em quatro anos, custando às empresas
cerca de 40% dos lucros anuais a cada década, em média.
Agora, as empresas tendem a se concentrar na resiliência e
flexibilidade da cadeia de suprimentos para otimizar todo
o ciclo de vida do produto, incluindo previsões de possíveis
interrupções. Empresas como a Stord agora oferecem so-
luções de armazém flexíveis para rotear dinamicamente os
fluxos de produtos.
Varejistas como a American Eagle também estão comprando
empresas da cadeia de suprimentos. A varejista de roupas
comprou a Quiet Logistics, empresa norte-americana res-
ponsável por fornecer atendimento a pedidos e gestão de
devoluções, por US$ 350 milhões.
Aquisições como essa também impulsionam mudanças no
setor. Marcas que se sentiam confortáveis
em terceirizar os
processos envoltos a cadeia de suprimentos agora estão
construindo essas operações internamente para mitigar in-
terrupções durante o processo logístico.
É importante observar que os problemas da cadeia de su-
primentos ocorridos nos anos de pandemia não foram cau-
sados
apenas por mudanças no comportamento do consu-
midor. Na verdade, 40% dos executivos acreditam que sua
exposição aos riscos da cadeia de suprimentos aumentou
nos últimos três anos. O que é mais surpreendente é que,
embora 92% dos executivos concordem que a visibilidade
da cadeia de suprimentos é importante para o sucesso, ape-
nas 27% descobriram uma maneira de alcançá-la. Essa gran-
de diferença entre intenção e aplicação deixa uma enorme
oportunidade para ruptura de categoria, inovação e, claro,
investimento.
Dado esse cenário, o relatório do Pitchbook mencionado
anteriormente estima que o mercado global de tecnologia
da cadeia de suprimentos deve chegar a US$ 6 trilhões até
2025 nas verticais de frete, armazenamento e atendimento,
gerenciamento da cadeia de suprimentos corporativa (SCM)
e entrega de última milha.
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
36
RETROSPECTIVA REPORT 2022
37. Ao analisarmos os investimentos em
AgFoodtech (startups de agronegócio e
alimentos), em escala global, o valor ul-
trapassou a marca de US$ 50 bilhões em
2021, de acordo com o Agfunder. Em res-
posta à pandemia, o investimento nessa
classe de ativo se popularizou e o número
de deals cresceu mais de 85% em compa-
ração ao ano anterior. Considerando o vo-
lume de investimento, as categorias que
mais chamaram atenção foram Foodtech
e Food Delivery, que se encontram em
estágios de maturidade mais avançados,
consequentemente com rodadas maiores
quando comparadas às Agtechs que ain-
da se concentram em seed e série A.
Atualmente, as verticais mais populares no
mercado de tecnologia para o agronegócio
no Brasil são as Agfintechs e os Marketpla-
ces, que foram os 2 segmentos que levan-
taram capital de forma significativa no ano
passado. Nesse sentido, acreditamos que
existe grande possibilidade de que essas
duas categorias possam dar em breve ori-
gem ao primeiro unicórnio agrícola da re-
gião. Isso também acontece em função de
uma alta demanda por uma agricultura e
cadeia de abastecimento alimentar susten-
tável e resiliente às mudanças climáticas.
Outro fator para ser analisado na dinâ-
mica de startups de potencial disruptivo
e Venture Capital na região é o investi-
mento em inovação. Enquanto Israel in-
veste 4,9% de seu PIB anual em pesquisa
e desenvolvimento de novos produtos, a
Coreia do Sul investe 4,5% e os EUA 2,8%,
o investimento médio dos países latino-a-
mericanos em pesquisa e desenvolvimen-
to é de apenas 0,6%, segundo o Banco
Mundial. Esse cenário expõe que ainda es-
tamos muito atrasados do ponto de vista
de incentivos para novas tecnologias que
são fundamentais para o agronegócio.
Agora explorando as principais tendências
para os próximos anos no segmento de
agro e food, é importante ressaltar que
desde de 2020, a pandemia acelerou a
conectividade no segmento do agronegó-
cio. Os agricultores agora têm muito mais
acesso a bens e serviços de forma digital,
apesar das restrições de mobilidade que
ainda são um desafio para o segmento.
Além disso, é possível notar que a Amé-
rica Latina inovaou nos marcos regula-
tórios, tornando mais fácil e barato para
os empreendedores lançarem serviços
financeiros digitais. Apesar do agro ainda
ser uma das últimas grandes cadeias de
suprimentos que ainda não foram disrup-
tadas pela tecnologia por causa de 3 ele-
mentos principais que o varejo tradicional
já oferece: assistência técnica, crédito e
logística. Um fator que nos anima é que
percebemos que esses desafios estão
sendo rapidamente resolvidos pela atual
safra de agtechs.
Quanto a 2023, nossas principais apostas
de teses são: insumos biológicos e que
agfintechs e marketplaces permaneçam
fortes e alcancem novos níveis de matu-
ridade em termos de adoção de clientes,
valuation e capital levantado. A nova ten-
dência que temos como grande aposta
na região, que está 100% relacionada ao
agronegócio, são as climate techs. A tec-
nologia voltada para questões climáticas
é definitivamente uma prioridade e te-
mos certeza de que isso vai ser refletido
em um aumento de investimento alocado
nesta tese na América Latina assim como
já está acontecendo nos EUA e na Europa.
MARCELLA FALCÃO
ASSOCIATE
SP VENTURES
A SP Ventures é o maior
fundo de VC no setor de
Agtechs & Foodtechs da
América Latina e conta com
mais de 40 investimentos.
Investindo em soluções
que vão do campo à mesa,
a casa busca criar uma
cadeia do agronegócio mais
sustentável e resiliente
às mudanças climáticas.
Agtechs no
radar de 2023
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INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
37
RETROSPECTIVA REPORT 2022
39. Como apresentado ao decorrer deste ma-
terial, talvez o fenômeno que mais diferen-
cie 2022 dos anos anteriores seja o número
de conjunturas e dinâmicas acontecendo si-
multaneamente. Conflitos geopolíticos, mu-
danças no governo, eventos macroeconômi-
cos, consequências da pandemia, etc... Isso,
apenas citando acontecimentos externos
ao ecossistema. Quando olhamos o próprio
ecossistema de inovação, vemos movimen-
tos que há bons anos já não aconteciam;
mudanças estratégicas por parte dos fun-
dos, demandas crescendo por setores que
historicamente não recebiam muita atenção,
entre outras coisas que afetam até grandes
corporações e fundos bilionários, até star-
tups recém-nascidas.
Não podemos resumir 2022 sem mencionar
como a grande parte dos eventos ocorridos
ao decorrer do ano se tornaram desafios que
colocaram empresas à prova, testando diver-
sos preceitos que, anteriormente, eram sinô-
nimos usados para definir e exemplificar o
conceito de startup. Adaptáveis? Como ope-
rar um modelo de negócio B2C que antes de-
pendia da presença física dos consumidores?
Escaláveis? Como gerar growth sem o capital
inchado dos investidores? Tais desafios deixa-
ram um rastro de empresas destroçadas pelo
caminho. Contudo, aquelas que conseguiram
chegar de forma saudável até aqui, em mui-
to, já provaram o valor de seus negócios.
Também, não podemos deixar de lembrar
que, boa parte das razões que levaram o
ano de 2022 a ganhar a alcunha de "Inver-
no VC" e "Bolha tech" se devem a sua com-
paração direta com o ano passado. O ano
de 2021 foi "fora da curva" e, no mínimo,
desproporcional aos demais anos. Dito isso,
não devemos usar um ano ou semestre fora
do comum como um comparativo de cresci-
mento real para anos posteriores. A expan-
são do mercado em 2022 ainda é maior que
todos os anos anteriores a 2021.
Agora, dois mil e vinte e dois não só pode
nos dar uma noção de onde estamos em
comparação aos anos anteriores, mas tam-
bém nos orienta ao buscarmos um vislum-
bre de possíveis cenários e tendências para o
futuro. Alguns cenários se mantiveram e ou-
tros ficaram de lado para dar espaço a novas
perspectivas. O uso de dados, por exemplo,
apesar de ser uma figurinha repetida entre
tópicos de tendência, agora retorna para
além de interpretação de perfis de clientes e
elaboração de novos produtos. Agora mais e
mais dados são necessários para convencer
investidores a abrir mão de seu novo e crite-
rioso capital. Dados contábeis e estimativas
não são mais suficientes, por isso extrair no-
vos indicadores deve se tornar uma moeda
de troca importante no próximo ano.
Após um ano de muitos desafios e provas, é
válido esperar e criar expectativas para um
próximo semestre mais saudável e cons-
ciente. Apesar de ainda termos turbulência
no mercado, o retorno do capital a investi-
mentos maiores e mais recorrentes, junto a
melhora do cenário macroeconômico, pode
despontar em um crescimento gradual, po-
rém constante e bem alicerçado.
GUSTAVO GIERUN
CEO
DISTRITO
2022 foi o ano
que colocou
o modelo de
negócios das
nossas startups
à prova
INTRODUÇÃO DESTAQUES DO ECOSSISTEMA CONCLUSÃO
ESTATÍSTICAS TENDÊNCIAS
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RETROSPECTIVA REPORT 2022