SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 7
Memorial do Convento
Memorial do Convento constitui um memorial da época, mas pode ser considerado como
um romance do tipo social, na medida em que é feita a análise das condições sociais,
morais e económicas da corte de D. João V e do povo.
Memorial do Convento
Síntese
Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V. no século
XVIII, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século X
Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Ofício aumentam com
vítimas que tanto podem ser cristãos-novos como todos os considerados culpados de
heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de superstição.
Memorial do Convento caracteriza uma época de excessos e diferenças sociais, que se
mantêm na atualidade: opulência/miséria; poder/opressão; devassidão/penitência;
Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e
acontecimentos verídicos com seres conseguidos pela ficção.
Romance histórico, oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no
início do século XVIII; romance social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a
realidade social, em que sobressai o operariado oprimido; romance de intervenção, visa
denunciar a história repressiva portuguesa na primeira metade do século XX; romance de
espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o ambiente
histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do
ser humano.
Existem duas linhas condutoras da ação: a construção do convento de Mafra e as relações
entre Baltasar e Blimunda.
A ação principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano
do rei com o sofrimento do povo.
Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltazar Sete-Sóis e
Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.
As duas ações, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica.
Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra.
As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os
acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e
pressentida no futuro.
As personagens femininas adquirem, na obra, claro relevo: D. Maria Ana é a rainha triste e
insatisfeita, que vive um casamento de aparecia e com escrúpulos morais nas relações
sexuais e nos sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de
uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro.
Saramago rejeita a omnipotência do narrador, na medida em que considera que o é o autor
que põe em causa o presente que conhece e o passado que lhe chega através das suas
investigações. Para Saramago a omnipotência do narrador é pura ficção.
Uma voz narrativa controla a ação narrada, as motivações e os pensamentos das
personagens, mas faz também as suas reflexões e juízos valorativos.
A história torna-se matéria simbólica para refletir sobre o presente, na perspetive da
denuncia e dela extrair uma moralidade que sirva para o futuro.
Observando Memorial do Convento, julgamos que a escrita de Saramago persegue uma
preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios,
a sua grandeza e os seus limites.
Em Memorial do Convento há, diversas vezes, um discurso de sobreposições narrativas
com uma voz que tanto descreve como desconstrói as situações, que dialoga com o
narratário ou manuseia as personagens como títeres, que domina os conhecimentos da
história ou se sente limitado, que faz ponderações ou ironiza.
Classificação (tipo de romance)
Romance histórico, social e de espaço que articula o plano da história com o plano do
fantástico e da ficção.
O título sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra
e memórias do que de grandioso e trágico tem o símbolo do país.
Como ROMANCE HISTÓRICO, oferece-nos: uma minuciosa descrição da sociedade
portuguesa da época, a sumptuosidade da corte, a exploração dos operários, referências à
Guerra da Sucessão, autos de fé, construção do convento, construção da passarola pelo
Padre Bartolomeu de Gusmão.
Como ROMANCE SOCIAL, é crónica de costumes.
Como ROMANCE DE INTERVENÇÃO, pois apresenta-nos a história repressiva
portuguesa.
Categorias da Narrativa
Ação
 O rei D. João V, Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão
protagonizam as diversas ações que se entretecem em Memorial do
Convento.
 A ação principal é a construção do Convento de Mafra: entrelaçamento de dados
históricos com a promessa de D. João V e o sofrimento do povo que trabalhou no
Convento.
 Conhece-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela
Inquisição, o sonho e a construção da passarola, as críticas ao comportamento do
clero.
 Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltasar e
Blimunda: fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de
espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.
A ação no Memorial do Convento
Plano da narrativa histórica:
Construção do Convento de Mafra e do povo que o construiu – resultado de uma promessa
do rei D. João V para que a rainha D. Maria de Áustria concebesse um herdeiro.
 Simboliza o sofrimento e, até a morte, do povo que trabalhou arduamente na sua
construção;
 É denunciado o sistema social e político, com destaque para a exploração das
classes desfavorecidas;
 Oposição entre opressores e oprimidos.
Plano narrativo da construção da passarola:
Construção de uma máquina capaz de subir ao céu apenas com a vontade humana.
 Simboliza o espaço de sonho, criado para alcançar a liberdade em tempos de
Inquisição;
 Elogio do sonho de voar
Plano da narrativa da história de Baltasar e Blimunda:
Juntos, pelo amor, tornarão a terra habitável.
 Simboliza o verdadeiro amor, diferente do a mor do rei e da rainha.
As personagens em Memorial do Convento
As personagens dividem-se em referenciais (históricas) e ficcionais. As referenciais
pertencem à História, representam a classe dominante e o alto clero, mas são objeto de
sátira. As ficcionais são as personagens criadas pelo autor que interatuam com as reais
tornando-se verosímeis. São símbolo do contrapoder, do amor, do sonho e da utopia. A
intencionalidade do autor de Memorial do Convento é tornar memorável o sofrimento e a
dor, a tortura e a tirania exercida sobre milhares de homens que ajudaram a construir o
convento. A personagem central do romance é o povo trabalhador, maltratado e a viver em
extrema pobreza. A individualização dos nomes, pretende demonstrar que os trabalhadores
eram seres humanos com rosto e vida própria que renunciaram à sua identidade para tornar
possível a vontade do rei megalómano.
Tempo do Discurso
O tempo do discurso é organizado pelo narrador e detetado no próprio texto, pela forma
como relata os acontecimentos. É apresentado através da ordenação linear da diegese ou
por alterações da cronologia, por intermédio de analepse (recuos) e prolepses (avanços).
Espaço em Memorial do Convento
Espaço Físico: Lisboa e Mafra são as cidades que servem de cenário à ação principal,
embora as personagens passem por outros locais e encontremos relatos no texto dessa
passagem. Lisboa e Mafra são os macro espaços. Mafra é o espaço que faz a ligação com
os factos históricos. Os micro espaços relacionados com Mafra são o Alto da Vela (local
escolhido para a construção do Convento de Mafra), Pero Pinheiro (palco do episódio do
transporte de uma grande pedra para o Convento), Serra do Barregudo, Serra de
Montejunto e Torres Vedras. Lisboa serve de palco e cenário das injustiças sociais.
Relacionados com Lisboa existem micro espaços que se destacam, tais como o Terreiro do
Paço, o Rossio e São Sebastião da Pesqueira (Local onde se construiu a passarola).
Espaço Social: É construído pelo relato de momentos e o percurso de personagens
representativas de um grupo social. Por exemplo: - os autos da fé (Rossio) e as touradas
mostram os gostos desumanos e cruéis do povo; - a morte dos condenados é festejada; -a
procissão da Quaresma (Lisboa) mostra os excessos praticados no Entrudo, a penitência
física; - o trabalho no convento simboliza o espaço de servidão humana.
Espaço Psicológico: O espaço psicológico é traduzido pela interioridade das personagens.
Revelado através de sonhos e pensamentos. Por exemplo: - os sonhos de Baltasar quando
lavrava o Alto da Vela; - pensamentos do padro Bartolomeu sobre o voo da passarola.
Dimensão crítica
O título Memorial do Convento tem duplo valor simbólico: a evocação do passado e o
universo mágico criado pela ficção. Entrecruzam-se a grandiosidade do poder absoluto, o
sonho e a utopia. A dimensão simbólica da obra está na reinvenção da História para fazer o
leitor refletir sobre o momento presente e extrair moralidade para o futuro.
Sátira e crítica social
No Memorial do Convento opõe-se alegoricamente a desumana construção do colossal
convento, imposta por cumprimento da vontade divina, à construção da passarola,
verdadeira metáfora do homem que, pelo sonho e pela vontade, se eleva acima da sua
condição. Os objetivos ideológicos da obra são a denúncia e a crítica às mortes durante a
construção do convento de Mafra e o excesso de riqueza e luxo da corte e da Igreja. A
crítica e sátira social é feita à religião, ao clero, às ordens religiosas, ao povo, à prepotência
do rei e às diferenças sociais. Trata-se de uma caricatura da sociedade portuguesa do
tempo de D. João V.
Dimensão simbólica
Título “Memorial”: Significa a grandiosidade e a tragédia; sugere memórias de um passado
(construção do Convento de Mafra);
Convento de Mafra: Uma promessa feita por D. João V. Este projeto megalómano reflete
um período de prosperidade económica para Portugal, e simboliza a ambição desmedida
deste monarca. Paralelamente, o Convento de Mafra enaltece a miséria e o grande
sacrifício dos homens que trabalharam na sua construção para satisfazer um capricho do
rei.
Passarola: O padre Bartolomeu de Gusmão inventou o aeróstato e chamou-lhe passarola
(pássaro e balão). D. João V forneceu-lhe os meios económicos para a construção da
máquina. A construção de uma máquina voadora, ainda que através de conhecimentos
científicos, opunha-se à intolerância religiosa da época. Padre Bartolomeu, por medo da
Inquisição, acabou por fugir e enlouquecer. A construção da passarola e a realização do
sonho de voar, simbolizam a elevação do Homem a uma dimensão divina.
Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas: Representam a totalidade e perfeição (sol e lua);
representam o amor e a complementaridade (masculino/feminino).
Números: Três – Representa a trindade terrestre (Bartolomeu, Baltasar e Blimunda) - o trio
representa a amizade e a unidade, o saber, o trabalho e a magia. Sete – Totalidade e
perfeição. Nove – Representa a gestação e a renovação (nove anos andou Blimunda à
procura de Baltasar).
Música: Apresenta um Poder Mágico (eleva o homem e revela poderes curativos).
Vontades: Representam o espírito; as vontades unidas na mesma causa podem vencer a
ignorância, o fanatismo e a intolerância, elevando o homem a uma nova dimensão.
Cobertor: Marca o casamento real por conveniência.
O estilo de José Saramago
O estilo saramaguiano é de subversão de convenções, nomeadamente, na pontuação. O
estilo oralizante aproxima narrador e leitor. Pode-se ler Memorial do Convento à luz da
época e da estética barroca. A imitação do estilo barroco está presente na construção
sintática, nas figuras conceptuais e nos exagerados ornamentos retóricos, que em muito
contribuem para prender a atenção do leitor. Ao recriar, pelas técnicas da paródia e do
pastiche, o cenário histórico, as temáticas e a linguagem da época, Saramago cria o género
romance na literatura barroca. Este romance é um elogio ao barroco. Começa nesta obra o
trajeto novelístico de José Saramago, que adota uma técnica de texto corrido. Esta técnica
integra o discurso das personagens no discurso do narrador, por vezes sem quebra de
pontuação ou adotando uma pontuação subjetiva. O narrador, por sua vez, vai acentuando
o carácter oral da sua voz e emite juízos de valor sobre o texto que escreve. A ausência de
pontuação contribui para a pluralidade de vozes que ocorre em diálogo no texto, criando
uma espécie de linguagem coral.
A linguagem em Memorial do Convento
Ironia – Na descrição inicial do rei e da rainha, que tem como objetivo ridicularizá-los;
Recurso à intertextualidade – através da referência a outros escritores como Camões ou
Fernando Pessoa;
Referências religiosas e bíblicas – dogmas de fé, rituais religiosos, o sagrado e o profano
misturam-se;
Discurso expressivo – hipérboles, comparações, metáforas, personificações, paralelismo
anafórico, enumerações;
Discurso argumentativo – jogo de palavras e de conceitos, aproximação à prosa barroca –
cultismo e concetismo;
Predomínio dos tempos verbais – presente e futuro; Uso subversivo da maiúscula – no
interior da frase, inserindo o discurso direto;
Persuasão do leitor – descrições plásticas, subjetivas, sugestões visuais, apelo a todos os
sentidos (imagens visuais, auditivas, olfativas, gustativas e táteis);
Riqueza da linguagem – pela capacidade de reinvenção da escrita, pelo tom de crónica
histórica, pela ironia que desperta e provoca o leitor, pelas reflexões, pelos momentos de
intimidade poética;
Pontuação – no discurso direto (diálogo) há ausência do travessão e dos dois pontos.
Substituição do ponto de interrogação e outros sinais pela virgula. O início de cada fala
assinalado apenas pela maiúscula.
Marcas de oralidade – Expressões triviais, frases idiomáticas, provérbios, ditados populares,
aforismos, humor, ironia. Mistura de discursos – direto, indireto, indireto livre e monólogo, a
lembrar a tradição oral (contador e ouvintes interagem);
Registos de língua – abunda o nível de língua familiar.
Conclusão
Este romance narra a proeza dos operários que construíram o Convento de Mafra e relata,
paralelamente, a aventura de construção da passarola voadora pelo padre Bartolomeu
Gusmão, ajudado por Baltasar e Blimunda.
Na abordagem do assunto Histórico, a reconstituição do passado faz-se de forma exata e
documentada e combina-se também, no real quotidiano, o sobrenatural e o fantástico,
problematizando o sentido e o devir da ação humana. A narrativa está focalizada na história
de amor de Baltasar Sete-Sóis, soldado maneta a trabalhar no estaleiro do convento, e de
Blimunda Sete-Luas, uma visionária que capta as vontades humanas. Memorial do
Convento começa com personagens nobres, mas é o povo que o narrador mais valoriza. As
personagens são as figuras do puzzle, possibilitando a mistura dos limites da realidade e da
ficção. Há personagens da História, personagens reinterpretadas na ficção e personagens
individuais e coletivas.
Breve análise de Memorial do Convento
A mistura de personagens reais e fictícios é utilizada por Saramago para abordar temáticas
como o amor, as relações humanas, a religião e a exploração do povo miserável em prol
das vontades dos homens poderosos.
Além disso, o autor faz também uma reflexão acerca da perseguição da igreja em Portugal
no século XIX àqueles que não seguiam os dogmas do catolicismo, sendo estes (judeus,
cristãos-novos, muçulmanos) acusados de bruxaria.
O dilema entre a liberdade do amor é outro assunto ao qual Saramago se dedica –
enquanto a rainha era submissa ao rei, sem liberdade para amar, Blimunda, uma mulher
despojada e sem pudores, era livre para viver o seu romance com Baltasar.
Assim, podemos dizer que Memorial do Convento se trata de um romance que critica a
história, a sociedade e a hipocrisia religiosa, temática recorrente na obra de Saramago e
que por tantas vezes causou indisposição entre o célebre escritor e a Igreja Católica de
Portugal. Com uma estrutura cambiante, Memorial do Convento promove, por meio da
apresentação dos factos, uma revisão crítica da narrativa histórica, destituindo-a da sua
condição de oficial e, logo, passível a interpretações.
Síntese (Procissão da Quaresma, autos de fé e Procissão do Corpo de Deus)
As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por
rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a
exaltação absurda que envolve os habitantes.
A desmistificação dos dogmas e acrítica irónica do narrador ao clero subjazem ao ideário
marxista que condena visão redutora do mundo que a igreja apresenta, que condiciona
os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes
estereotipadas.
A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante, se
diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive.
O trabalho do Povo no Convento
Mafra simboliza o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus
súbditos para alimentar a sua vaidade.
Vivendo em condições deploráveis, os trabalhadores foram obrigados a abandonar as suas
casas e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua
glória.

Más contenido relacionado

Similar a Memorial Convento romance histórico

Fi.js mc
Fi.js mcFi.js mc
Fi.js mcfabio-g
 
enc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptx
enc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptxenc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptx
enc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptxFlorbelaGraa2
 
O tempo e o vento o continent - erico verissimo
O tempo e o vento   o continent - erico verissimoO tempo e o vento   o continent - erico verissimo
O tempo e o vento o continent - erico verissimoPatrick François Jarwoski
 
O tempo e o vento o continent - erico verissimo
O tempo e o vento   o continent - erico verissimoO tempo e o vento   o continent - erico verissimo
O tempo e o vento o continent - erico verissimoPatrick François Jarwoski
 
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolver
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolverOs Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolver
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolvercomplementoindirecto
 
2. título à efabulação
2. título à efabulação2. título à efabulação
2. título à efabulaçãoHelena Coutinho
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do conventoMarcos Alex
 
Romantismo, Frei Luís de Sousa
Romantismo, Frei Luís de SousaRomantismo, Frei Luís de Sousa
Romantismo, Frei Luís de SousaLurdes Augusto
 
Português - Felizmente ha luar
Português - Felizmente ha luarPortuguês - Felizmente ha luar
Português - Felizmente ha luarguestd8e2b4
 
IntroduçãO2
IntroduçãO2IntroduçãO2
IntroduçãO2rogerio
 
Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao Barroco
Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao  Barroco Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao  Barroco
Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao Barroco Nivaldo Marques
 
Introdução à leitura de Memorial do Convento
Introdução à leitura de Memorial do ConventoIntrodução à leitura de Memorial do Convento
Introdução à leitura de Memorial do Conventoancrispereira
 
As naus - Lobo Antunes
As naus  - Lobo AntunesAs naus  - Lobo Antunes
As naus - Lobo AntunesMariana Klafke
 

Similar a Memorial Convento romance histórico (20)

Fi.js mc
Fi.js mcFi.js mc
Fi.js mc
 
enc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptx
enc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptxenc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptx
enc12_memorial_convento_sintese_unidade_p327(1).pptx
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
3. intencionalidade
3. intencionalidade3. intencionalidade
3. intencionalidade
 
Memorial Do Convento
Memorial Do ConventoMemorial Do Convento
Memorial Do Convento
 
O tempo e o vento o continent - erico verissimo
O tempo e o vento   o continent - erico verissimoO tempo e o vento   o continent - erico verissimo
O tempo e o vento o continent - erico verissimo
 
O tempo e o vento o continent - erico verissimo
O tempo e o vento   o continent - erico verissimoO tempo e o vento   o continent - erico verissimo
O tempo e o vento o continent - erico verissimo
 
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolver
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolverOs Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolver
Os Lusíadas e Mensagem - Questões para desenvolver
 
2. título à efabulação
2. título à efabulação2. título à efabulação
2. título à efabulação
 
Memorial do convento
Memorial do conventoMemorial do convento
Memorial do convento
 
Apontamentos sobre livros da fuvest
Apontamentos sobre livros da fuvestApontamentos sobre livros da fuvest
Apontamentos sobre livros da fuvest
 
Romantismo, Frei Luís de Sousa
Romantismo, Frei Luís de SousaRomantismo, Frei Luís de Sousa
Romantismo, Frei Luís de Sousa
 
Português - Felizmente ha luar
Português - Felizmente ha luarPortuguês - Felizmente ha luar
Português - Felizmente ha luar
 
IntroduçãO2
IntroduçãO2IntroduçãO2
IntroduçãO2
 
Machado de assis análise da obra
Machado de assis análise da obraMachado de assis análise da obra
Machado de assis análise da obra
 
Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao Barroco
Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao  Barroco Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao  Barroco
Aula de Literatura: Do Trovadorismo ao Barroco
 
Introdução à leitura de Memorial do Convento
Introdução à leitura de Memorial do ConventoIntrodução à leitura de Memorial do Convento
Introdução à leitura de Memorial do Convento
 
As naus - Lobo Antunes
As naus  - Lobo AntunesAs naus  - Lobo Antunes
As naus - Lobo Antunes
 
Humanismo
HumanismoHumanismo
Humanismo
 

Último

421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇJaineCarolaineLima
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTailsonSantos1
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxLusGlissonGud
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 

Último (20)

421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 

Memorial Convento romance histórico

  • 1. Memorial do Convento Memorial do Convento constitui um memorial da época, mas pode ser considerado como um romance do tipo social, na medida em que é feita a análise das condições sociais, morais e económicas da corte de D. João V e do povo. Memorial do Convento Síntese Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V. no século XVIII, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século X Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Ofício aumentam com vítimas que tanto podem ser cristãos-novos como todos os considerados culpados de heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de superstição. Memorial do Convento caracteriza uma época de excessos e diferenças sociais, que se mantêm na atualidade: opulência/miséria; poder/opressão; devassidão/penitência; Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e acontecimentos verídicos com seres conseguidos pela ficção. Romance histórico, oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no início do século XVIII; romance social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a realidade social, em que sobressai o operariado oprimido; romance de intervenção, visa denunciar a história repressiva portuguesa na primeira metade do século XX; romance de espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano. Existem duas linhas condutoras da ação: a construção do convento de Mafra e as relações entre Baltasar e Blimunda. A ação principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano do rei com o sofrimento do povo. Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia. As duas ações, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica. Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra. As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e pressentida no futuro. As personagens femininas adquirem, na obra, claro relevo: D. Maria Ana é a rainha triste e insatisfeita, que vive um casamento de aparecia e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro. Saramago rejeita a omnipotência do narrador, na medida em que considera que o é o autor que põe em causa o presente que conhece e o passado que lhe chega através das suas investigações. Para Saramago a omnipotência do narrador é pura ficção.
  • 2. Uma voz narrativa controla a ação narrada, as motivações e os pensamentos das personagens, mas faz também as suas reflexões e juízos valorativos. A história torna-se matéria simbólica para refletir sobre o presente, na perspetive da denuncia e dela extrair uma moralidade que sirva para o futuro. Observando Memorial do Convento, julgamos que a escrita de Saramago persegue uma preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios, a sua grandeza e os seus limites. Em Memorial do Convento há, diversas vezes, um discurso de sobreposições narrativas com uma voz que tanto descreve como desconstrói as situações, que dialoga com o narratário ou manuseia as personagens como títeres, que domina os conhecimentos da história ou se sente limitado, que faz ponderações ou ironiza. Classificação (tipo de romance) Romance histórico, social e de espaço que articula o plano da história com o plano do fantástico e da ficção. O título sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra e memórias do que de grandioso e trágico tem o símbolo do país. Como ROMANCE HISTÓRICO, oferece-nos: uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa da época, a sumptuosidade da corte, a exploração dos operários, referências à Guerra da Sucessão, autos de fé, construção do convento, construção da passarola pelo Padre Bartolomeu de Gusmão. Como ROMANCE SOCIAL, é crónica de costumes. Como ROMANCE DE INTERVENÇÃO, pois apresenta-nos a história repressiva portuguesa. Categorias da Narrativa Ação  O rei D. João V, Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão protagonizam as diversas ações que se entretecem em Memorial do Convento.  A ação principal é a construção do Convento de Mafra: entrelaçamento de dados históricos com a promessa de D. João V e o sofrimento do povo que trabalhou no Convento.  Conhece-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola, as críticas ao comportamento do clero.  Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltasar e Blimunda: fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia. A ação no Memorial do Convento Plano da narrativa histórica:
  • 3. Construção do Convento de Mafra e do povo que o construiu – resultado de uma promessa do rei D. João V para que a rainha D. Maria de Áustria concebesse um herdeiro.  Simboliza o sofrimento e, até a morte, do povo que trabalhou arduamente na sua construção;  É denunciado o sistema social e político, com destaque para a exploração das classes desfavorecidas;  Oposição entre opressores e oprimidos. Plano narrativo da construção da passarola: Construção de uma máquina capaz de subir ao céu apenas com a vontade humana.  Simboliza o espaço de sonho, criado para alcançar a liberdade em tempos de Inquisição;  Elogio do sonho de voar Plano da narrativa da história de Baltasar e Blimunda: Juntos, pelo amor, tornarão a terra habitável.  Simboliza o verdadeiro amor, diferente do a mor do rei e da rainha. As personagens em Memorial do Convento As personagens dividem-se em referenciais (históricas) e ficcionais. As referenciais pertencem à História, representam a classe dominante e o alto clero, mas são objeto de sátira. As ficcionais são as personagens criadas pelo autor que interatuam com as reais tornando-se verosímeis. São símbolo do contrapoder, do amor, do sonho e da utopia. A intencionalidade do autor de Memorial do Convento é tornar memorável o sofrimento e a dor, a tortura e a tirania exercida sobre milhares de homens que ajudaram a construir o convento. A personagem central do romance é o povo trabalhador, maltratado e a viver em extrema pobreza. A individualização dos nomes, pretende demonstrar que os trabalhadores eram seres humanos com rosto e vida própria que renunciaram à sua identidade para tornar possível a vontade do rei megalómano. Tempo do Discurso O tempo do discurso é organizado pelo narrador e detetado no próprio texto, pela forma como relata os acontecimentos. É apresentado através da ordenação linear da diegese ou por alterações da cronologia, por intermédio de analepse (recuos) e prolepses (avanços). Espaço em Memorial do Convento Espaço Físico: Lisboa e Mafra são as cidades que servem de cenário à ação principal, embora as personagens passem por outros locais e encontremos relatos no texto dessa passagem. Lisboa e Mafra são os macro espaços. Mafra é o espaço que faz a ligação com os factos históricos. Os micro espaços relacionados com Mafra são o Alto da Vela (local escolhido para a construção do Convento de Mafra), Pero Pinheiro (palco do episódio do transporte de uma grande pedra para o Convento), Serra do Barregudo, Serra de Montejunto e Torres Vedras. Lisboa serve de palco e cenário das injustiças sociais. Relacionados com Lisboa existem micro espaços que se destacam, tais como o Terreiro do Paço, o Rossio e São Sebastião da Pesqueira (Local onde se construiu a passarola).
  • 4. Espaço Social: É construído pelo relato de momentos e o percurso de personagens representativas de um grupo social. Por exemplo: - os autos da fé (Rossio) e as touradas mostram os gostos desumanos e cruéis do povo; - a morte dos condenados é festejada; -a procissão da Quaresma (Lisboa) mostra os excessos praticados no Entrudo, a penitência física; - o trabalho no convento simboliza o espaço de servidão humana. Espaço Psicológico: O espaço psicológico é traduzido pela interioridade das personagens. Revelado através de sonhos e pensamentos. Por exemplo: - os sonhos de Baltasar quando lavrava o Alto da Vela; - pensamentos do padro Bartolomeu sobre o voo da passarola. Dimensão crítica O título Memorial do Convento tem duplo valor simbólico: a evocação do passado e o universo mágico criado pela ficção. Entrecruzam-se a grandiosidade do poder absoluto, o sonho e a utopia. A dimensão simbólica da obra está na reinvenção da História para fazer o leitor refletir sobre o momento presente e extrair moralidade para o futuro. Sátira e crítica social No Memorial do Convento opõe-se alegoricamente a desumana construção do colossal convento, imposta por cumprimento da vontade divina, à construção da passarola, verdadeira metáfora do homem que, pelo sonho e pela vontade, se eleva acima da sua condição. Os objetivos ideológicos da obra são a denúncia e a crítica às mortes durante a construção do convento de Mafra e o excesso de riqueza e luxo da corte e da Igreja. A crítica e sátira social é feita à religião, ao clero, às ordens religiosas, ao povo, à prepotência do rei e às diferenças sociais. Trata-se de uma caricatura da sociedade portuguesa do tempo de D. João V. Dimensão simbólica Título “Memorial”: Significa a grandiosidade e a tragédia; sugere memórias de um passado (construção do Convento de Mafra); Convento de Mafra: Uma promessa feita por D. João V. Este projeto megalómano reflete um período de prosperidade económica para Portugal, e simboliza a ambição desmedida deste monarca. Paralelamente, o Convento de Mafra enaltece a miséria e o grande sacrifício dos homens que trabalharam na sua construção para satisfazer um capricho do rei. Passarola: O padre Bartolomeu de Gusmão inventou o aeróstato e chamou-lhe passarola (pássaro e balão). D. João V forneceu-lhe os meios económicos para a construção da máquina. A construção de uma máquina voadora, ainda que através de conhecimentos científicos, opunha-se à intolerância religiosa da época. Padre Bartolomeu, por medo da Inquisição, acabou por fugir e enlouquecer. A construção da passarola e a realização do sonho de voar, simbolizam a elevação do Homem a uma dimensão divina. Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas: Representam a totalidade e perfeição (sol e lua); representam o amor e a complementaridade (masculino/feminino). Números: Três – Representa a trindade terrestre (Bartolomeu, Baltasar e Blimunda) - o trio representa a amizade e a unidade, o saber, o trabalho e a magia. Sete – Totalidade e perfeição. Nove – Representa a gestação e a renovação (nove anos andou Blimunda à procura de Baltasar).
  • 5. Música: Apresenta um Poder Mágico (eleva o homem e revela poderes curativos). Vontades: Representam o espírito; as vontades unidas na mesma causa podem vencer a ignorância, o fanatismo e a intolerância, elevando o homem a uma nova dimensão. Cobertor: Marca o casamento real por conveniência. O estilo de José Saramago O estilo saramaguiano é de subversão de convenções, nomeadamente, na pontuação. O estilo oralizante aproxima narrador e leitor. Pode-se ler Memorial do Convento à luz da época e da estética barroca. A imitação do estilo barroco está presente na construção sintática, nas figuras conceptuais e nos exagerados ornamentos retóricos, que em muito contribuem para prender a atenção do leitor. Ao recriar, pelas técnicas da paródia e do pastiche, o cenário histórico, as temáticas e a linguagem da época, Saramago cria o género romance na literatura barroca. Este romance é um elogio ao barroco. Começa nesta obra o trajeto novelístico de José Saramago, que adota uma técnica de texto corrido. Esta técnica integra o discurso das personagens no discurso do narrador, por vezes sem quebra de pontuação ou adotando uma pontuação subjetiva. O narrador, por sua vez, vai acentuando o carácter oral da sua voz e emite juízos de valor sobre o texto que escreve. A ausência de pontuação contribui para a pluralidade de vozes que ocorre em diálogo no texto, criando uma espécie de linguagem coral. A linguagem em Memorial do Convento Ironia – Na descrição inicial do rei e da rainha, que tem como objetivo ridicularizá-los; Recurso à intertextualidade – através da referência a outros escritores como Camões ou Fernando Pessoa; Referências religiosas e bíblicas – dogmas de fé, rituais religiosos, o sagrado e o profano misturam-se; Discurso expressivo – hipérboles, comparações, metáforas, personificações, paralelismo anafórico, enumerações; Discurso argumentativo – jogo de palavras e de conceitos, aproximação à prosa barroca – cultismo e concetismo; Predomínio dos tempos verbais – presente e futuro; Uso subversivo da maiúscula – no interior da frase, inserindo o discurso direto; Persuasão do leitor – descrições plásticas, subjetivas, sugestões visuais, apelo a todos os sentidos (imagens visuais, auditivas, olfativas, gustativas e táteis); Riqueza da linguagem – pela capacidade de reinvenção da escrita, pelo tom de crónica histórica, pela ironia que desperta e provoca o leitor, pelas reflexões, pelos momentos de intimidade poética; Pontuação – no discurso direto (diálogo) há ausência do travessão e dos dois pontos. Substituição do ponto de interrogação e outros sinais pela virgula. O início de cada fala assinalado apenas pela maiúscula. Marcas de oralidade – Expressões triviais, frases idiomáticas, provérbios, ditados populares, aforismos, humor, ironia. Mistura de discursos – direto, indireto, indireto livre e monólogo, a lembrar a tradição oral (contador e ouvintes interagem); Registos de língua – abunda o nível de língua familiar. Conclusão Este romance narra a proeza dos operários que construíram o Convento de Mafra e relata, paralelamente, a aventura de construção da passarola voadora pelo padre Bartolomeu Gusmão, ajudado por Baltasar e Blimunda.
  • 6. Na abordagem do assunto Histórico, a reconstituição do passado faz-se de forma exata e documentada e combina-se também, no real quotidiano, o sobrenatural e o fantástico, problematizando o sentido e o devir da ação humana. A narrativa está focalizada na história de amor de Baltasar Sete-Sóis, soldado maneta a trabalhar no estaleiro do convento, e de Blimunda Sete-Luas, uma visionária que capta as vontades humanas. Memorial do Convento começa com personagens nobres, mas é o povo que o narrador mais valoriza. As personagens são as figuras do puzzle, possibilitando a mistura dos limites da realidade e da ficção. Há personagens da História, personagens reinterpretadas na ficção e personagens individuais e coletivas. Breve análise de Memorial do Convento A mistura de personagens reais e fictícios é utilizada por Saramago para abordar temáticas como o amor, as relações humanas, a religião e a exploração do povo miserável em prol das vontades dos homens poderosos. Além disso, o autor faz também uma reflexão acerca da perseguição da igreja em Portugal no século XIX àqueles que não seguiam os dogmas do catolicismo, sendo estes (judeus, cristãos-novos, muçulmanos) acusados de bruxaria. O dilema entre a liberdade do amor é outro assunto ao qual Saramago se dedica – enquanto a rainha era submissa ao rei, sem liberdade para amar, Blimunda, uma mulher despojada e sem pudores, era livre para viver o seu romance com Baltasar. Assim, podemos dizer que Memorial do Convento se trata de um romance que critica a história, a sociedade e a hipocrisia religiosa, temática recorrente na obra de Saramago e que por tantas vezes causou indisposição entre o célebre escritor e a Igreja Católica de Portugal. Com uma estrutura cambiante, Memorial do Convento promove, por meio da apresentação dos factos, uma revisão crítica da narrativa histórica, destituindo-a da sua condição de oficial e, logo, passível a interpretações.
  • 7. Síntese (Procissão da Quaresma, autos de fé e Procissão do Corpo de Deus) As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes. A desmistificação dos dogmas e acrítica irónica do narrador ao clero subjazem ao ideário marxista que condena visão redutora do mundo que a igreja apresenta, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas. A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante, se diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive. O trabalho do Povo no Convento Mafra simboliza o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade. Vivendo em condições deploráveis, os trabalhadores foram obrigados a abandonar as suas casas e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória.