1. Saúde na mídia Brasília, 31 de janeiro de 2012
O Estado de S. Paulo/BR
Ministério da Saúde | Institucional
Gates e farmacêuticas fazem esforço para erradicar
dez doenças tropicais
VIDA
Saúde. Laboratórios doarão 14 bilhões de doses de re- US$ 785 milhões, dos quais metade virá do bolso do
médios até 2020 e, com recursos doados, de- bilionário americano Bill Gates, por meio de sua fun-
senvolverão novas drogas; estima-se que as dação.
enfermidades negligenciadas pela indústria, como
Chagas e hanseníase, afetem 1 bilhão de pessoas das O projeto visa a superar décadas de abandono de po-
regiões mais pobres pulações inteirasafetadaspor essas doenças, todasvi-
vendo nas regiões mais pobres do mundo. Para as
Jamil Chade / GENEBRA multinacionais, sempre foi mais rentável de-
senvolver remédios para queda de cabelo ou
Com a expansão dos mercados nos países em de- colesterol que para essas doenças - que, diante da mi-
senvolvimento na mira e financiados pela Fundação séria das populações, não representam um mercado
Bill & Melinda Gates, as13maio- atraente.
resempresasfarmacêuticas do mundo se uniram para
doar, produzir e vender bilhões de doses de remédios Em uma tentativa de reverter essa imagem e tendo
e estabelecer, em parceria com a Organização Mun- em mente os mercados dos países emergentes em ex-
dial da Saúde (OMS ),o prazo de até 2020 para er- pansão, empresas como a Glaxo Smith Kline, No-
radicar ou pelo menos controlar dez doenças vartis ou Pfizer desenvolverão novas tecnologias,
tropicais, entre elas a hanseníase e a doença de Cha- mas já sabendo que terão um comprador e, prin-
gas. cipalmente, lucros.
O evento que marcou o lançamento da iniciativa, em Projeto. É o caso da doença de Chagas - que leva o no-
Londres, contou com a presença do secretário de me do médico brasileiro Carlos Chagas, que des-
Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, cobriu a doença há 103 anos -, uma das doenças
Jarbas Barbosa, dando apoio à iniciativa. tropicais que exigirão investimento em pesquisa. A
Bayer se encarregará do projeto que, só na América
"A meta de erradicar e controlar essas doenças até do Sul, poderá beneficiar 10 milhões de pessoas. Ho-
2020 é realizável", disse. je, 10 mil pessoas por ano morrem na região por cau-
sa da moléstia.
O objetivo é distribuir 14 bilhões de doses de re-
médios nos países pobres, onde essas doenças tro- Gates deixou claro ontem que, sem a nova doação, a
picais afetam cerca de 1 bilhão de pessoas. Parte meta da erradicação seria "totalmente descartada".
dessa quantidade de remédios será doada pelas far-
macêuticas. Outra parte terá de ser desenvolvida - e aí "Estamos vencendo doenças que estão com a hu-
entramos de mais parceiros, como a Fundação Gates, manidade desde a Antiguidade", disse Margaret
o Banco Mundial e os governos da Grã-Bretanha, Es- Chan, diretora da OMS.
tados Unidos e dos Emirados Árabes Unidos.
"Estou certa de que quase todas essas doenças po-
Eles se comprometeram a liberar um financiamento derão ser eliminadas ou controladas até o final da dé-
para o apoio à pesquisa, fortalecimento das redes de cada", afirmou.
distribuição e tratamento dessas doenças no valor de
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2. Saúde na mídia Brasília, 31 de janeiro de 2012
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Continuação: Gates e farmacêuticas fazem esforço para erradicar dez doenças tropicais
Negligência. Segundo os especialistas, metade das macêuticas.
cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo afetadas a cada
ano por uma das dez doenças é composta de crianças.
"Há a possibilidade de que, em poucos anos, já não PARA LEMBRAR
usaremos o termo 'doenças negligenciadas' para falar
delas", disse Gates.Para Caroline Anstey , do Banco Brasil lança ofensiva
Mundial, cunhar essas doenças de negligenciadas é
um equívoco. No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou a in-
tensificação do tratamento de três doenças ne-
"São doenças tropicais. gligenciadas ainda presentes: tracoma (infecção
bacteriana que afeta os olhos), helmintíases (trans-
Quem são negligenciadas são as pessoas", afirmou. mitidas, em geral por alimentos contaminados, por
parasitas como lombriga, amarelão e tênia) e es-
Jarbas Barbosa adota uma postura similar à do Banco quistossomose.
Mundial.
A partir deste ano, populações de áreas onde as in-
"Na América Latina, essas doenças estão localizadas fecções parasitárias têm alta prevalência - em es-
em áreas rurais e entre a população indígena", pecial as que sofrem com falta de saneamento básico,
diz."Portanto, para solucionar esses problemas, a pri- como periferias de grandes cidades e zonas rurais -
meira medida é tornar essas pessoas visíveis", acres- passarão a ser tratadas em massa.
centou, lembrando da ação que o governo fez em
terras ianomâmis. "Garantir o acesso é o mais im- Ou seja, a medicação será oferecida a todos os que es-
portante", afirmou, insistindo que a iniciativa de dar tão em risco, independentemente de um exame con-
visibilidade aos grupos afetados deve ser uma prio- firmar ou não a contaminação.
ridade política de governos.
O tracoma, por sua vez, terá seu combate acelerado.
Na avaliação da OMS, essas doenças geram perdas
bilionárias a cada ano em termos de produtividade. Embora os números nacionais não sejam ex-
pressivos, nos locais onde tais doenças são en-
"Estamos comprometidos a revolucionar a forma de contradas a prevalência é alta.
lidar com essas doenças", afirmou Andrew Witty,
CEO da Glaxo, que falou em nome das empresas far-
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