2. Contexto anterior ao nazismo
1918 (meados) – ocorrem revoltas em
Berlim e noutras cidades pedindo
saída da Alemanha da 1ª Guerra.
1918 (final) – O kaiser Guilherme II
abdica do trono. Ele era antissemita e
colocou a culpa nos judeus.
1919 – A Alemanha deixa de ser um
império e torna-se uma república: a
República de Weimar.
Guilherme II
3. A República de Weimar
Por que “Weimar”? Este é o nome de uma cidade em
que organizou-se uma assembleia constituinte para
criar uma nova constituição.
A República de Weimar era uma democracia
representativa que adotou o semi-presidencialismo.
Ou seja, o presidente era escolhido pelo voto.
O presidente nomeava um chanceler (primeiro-
ministro) responsável pelo poder executivo.
O poder legislativo = Reichtag (parlamento federal)
+ Landstag (parlamento estadual)
4. 1919: Tentativa de revolução comunista
Os líderes comunistas Rosa Luxemburgo e Karl
Liebknecth foram assassinados após falharem na
tentativa de revolução.
“Quem não se movimenta, não sente as correntes
que o prendem”. (Rosa Luxemburgo)
O episódio deixou preocupados setores da sociedade:
sobretudo a elite, a classe média e os empresários.
5. 1919: Eleições para assembleia constituinte
Esquerda: 187 cadeiras
Direita: 63 cadeiras
Centro: 166 cadeiras
* A constituinte elaborou uma nova Constituição e assinou
o Tratado de Versalhes. Este último tornava a Alemanha
a principal culpada pela Primeira Guerra.
* O resultado decorreu da união entre católicos (centro-
direita) e social-democracia (esquerda).
* A derrota na guerra representou humilhação para o povo
alemão.
6. 1920-1923: Insatisfação com o governo
Eleições para o parlamento (Reichtag) em 1920
- Os sociais-democratas (esquerda) perdem metade de seus
eleitores
- A direita se fortalece e ganha um milhão de votos
Economia em crise
- Inflação muito alta em 1923
- País estava sem condições de pagar dívidas de guerra
- Franceses e belgas decidem ocupar o Ruhr (região alemã de
indústrias e minérios) por conta da Alemanha não estar
honrando suas dívidas
- Governo alemão incentivou os trabalhadores a cruzarem os
braços
- Sem produção faltou dinheiro para salários. Então o governo
emitiu grande quantidade de papel-moeda, e inflação subiu
7. Desespero fez o povo apoiar partidos
extremistas: olha os nazistas aí!
Antes com pouca expressão, um partido de extrema-
direita cresceu bastante durante a crise
Criado em 1919 com o nome Partido dos
Trabalhadores Alemães
Adolf Hitler era o 7º associado do partido. Logo
depois se tornou líder deste
O nome foi modificado para Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou Partido
Nazista
8. 1923: Partido Nazista tenta golpe de Estado
em Munique – o putsch
Depois do “putsch”, isto é, do fracasso de golpe,
lideranças do partido são presas
Entre os presos está Adolf Hitler
Na prisão Hitler escreve seu livro Mein Kampf
(Minha Luta) onde expõe sua autobiografia e suas
ideias políticas, como o ódio aos judeus
(antissemitismo)
Após sair da prisão, em 1924, Hitler reconstruiu o
partido, aceitando o jogo democrático pela via
eleitoral
9. 1929: Recuperação da Alemanha é interrompida
pela crise econômica (quebra da bolsa de NY)
Desemprego, falências, desespero
Caminho aberto para os nazistas chegarem ao poder
estatal
6 milhões de trabalhadores perdem seus empregos
O primeiro-ministro Heinrich Bruning não contém a
crise e é derrubado
As tropas nazistas da SA levam terror às ruas:
- são contra o comunismo
- exaltam o nacionalismo
10. 1932: eleições para presidente
Paul von Hindenburg é eleito – 19 milhões de votos
Adolf Hitler fica em segundo – 11 milhões de votos
Ernst Thälmann, comunista – 5 milhões de votos
11. 1933: em janeiro, Hindenburg convida Hitler
para ser o primeiro-ministro (chanceler)
Em fevereiro o parlamento é incendiado
Hitler coloca a culpa nos comunistas
O partido comunista torna-se ilegal. Seus militantes
são presos
Em março Hitler consegue “plenos poderes” dados
pelo parlamento (instaura-se um Estado de Exceção
por quatro anos): outros partidos são eliminados,
sindicatos destruídos, livros de esquerda e liberais
são queimados
São criados campos de concentração – é para onde
os inimigos do nazismo são enviados
12. 1934: a ditadura nazista completa-se
** Em junho acontece a “Noite dos Longos Punhais”
- Matança de ativistas de esquerda (comunistas,
sociais-democratas, anarquistas, etc.)
- Apoio dos empresários e das altas patentes militares
ao nazismo
** Em outubro Hindenburg falece
- Hitler assume também o posto de presidente, agora
ele é chefe de Estado e de Governo
- Ditadura indiscutível
13. Medidas políticas do III Reich
Combate à crise econômica
Controle de câmbio – e da inflação
Acordos comerciais
Obras públicas
Incentivo à indústria bélica (produção de armas)
Desemprego cai de 6 milhões para 400 mil
Os salários são achatados (diminuídos e fixados)
Intervenção do Estado na economia e na vida das
pessoas – o totalitarismo
14. Pato Donald: um americano na Alemanha nazista? A ascensão do nazismo e a recuperação
de sua economia preocuparam os EUA , que procuravam através da propaganda desqualificar seus
rivais no poder mundial. Este filme abaixo de Walt Disney, produzido antes do início da 2ª Guerra,
demonstra como eram feitas a crítica ao nazismo e a apologia ao estilo de vida americano.
Assistir no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=CEVupZPE29g
15. Algumas organizações Alguns parceiros
Partido Nazista
SA (Sturmabteilung):
uma organização
paramilitar, um grupo de
assalto
SS (Schutzstaffel), grupo
de elite paramilitar
Gestapo: polícia secreta
do Estado
Hermann Göring
Heinrich Himmler
Joseph Goebbels
Josef Mengele
Rudolf Hess
Adolf Eichmann
Hitler chegou ao poder e governou
sozinho? Não!
16. Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães (o Partido Nazista)
Defendia soluções extremas diante aos problemas ocorridos
na Alemanha, como:
>>> Extinção dos tratados da Primeira Guerra
>>> Exclusão social e econômica dos judeus
>>> Melhorias no campo econômico
>>> Igualdade de direitos políticos
O partido incorporou milícias armadas (como a SA) para disseminar seus ideais
através da força e combater marxistas, estrangeiros e judeus.
Tinha como símbolo a suástica ou cruz gamada – pois representava para os
nazistas a “identidade ariana”, uma “raça” nórdica antiga da qual supostamente os
alemães descendiam.
Possuía uma ideologia baseada no racismo. O povo alemão era o escolhido para
construir uma nação forte e próspera. Por isso deveriam apagar a diversidade
étnica das “raças” consideradas fracas (judeus, ciganos, negros, etc.).
Adoção da Teoria geopolítica do Espaço Vital: “Toda a sociedade, em um
determinado grau de desenvolvimento, deve conquistar territórios onde as pessoas
são menos desenvolvidas”.
17. A SA foi criada em 1921 e
funcionava inicialmente como
um grupo que fazia segurança do
Partido Nazista. Membros
apelidados de camisas-pardas.
Após o Putsch de Munique ela
foi proibida. Porém em 1925
voltou a atuar combatendo
organizações de esquerda e
matando muitas pessoas.
Em 1933 ela já tinha 400 mil
membros. E promoveu desfiles
em toda Alemanha
homenageando Hitler.
Com o passar do tempo
surgiram desentendimentos
entre o líder desta organização,
Ernst Röhm, e Hitler.
SA – Grupos de Assalto
18. SS – Tropas de Proteção
Inicialmente era uma unidade paramilitar
pequena. Depois integrou cerca de 1 milhão de
pessoas. Seus membros eram apelidados de
camisas-negras.
> A SS substituiu a SA depois que o líder desta
última (Röhm) tentou dar um golpe em Hitler
>O lema da SS era “minha honra chama-se
lealdade”.
> Os integrantes eram racialmente selecionados
e disciplinados rigorosamente.
> Seu líder era Himmler.
> Em 1939, a SS ficou responsável pela
administração dos campos de concentração e
extermínio.
> A SS promoveu uma caça aos judeus, inclusive
invadindo por terra outros países para executá-
los em suas casas.
Uniforme principal da SS e seu símbolo
19. Gestapo – Polícia Secreta do Estado
Criada em 1933 e derivada de uma polícia da Prússia. Funcionava como o FBI
norte-americano. Um ano depois, Göring decide submetê-la à SS.
- A Gestapo era a garantia
de completo domínio da
população alemã. Todos
eram vigiados. Qualquer
pessoa podia ser
denunciada por seu
vizinho, caso fosse judeu
ou contra o nazismo.
-Funcionava sem tribunal.
- Infiltrava agentes em
fábricas para estimular
revoltas contra o governo
e, com isso, prender e
executar opositores.
20. Os métodos de torturas da Gestapo
-A Gestapo promovia inúmeras torturas
para conseguir depoimentos.
Os métodos de interrogatório incluíam
afogamentos em banheira de água gelada;
choques elétricos ligando os fios às mãos,
pés, orelhas e genitália; esmagamento de
testículos; levantamento do prisioneiro
pelas mãos amarradas atrás das costas,
causando a luxação do ombro;
espancamentos com cassetetes ou
chicotes e queimaduras com ferro de
soldar.
21. Herman Göring
“Quando ouço a palavra
cultura, corro e pego minha
metralhadora”. (Göring)
> Marechal do Reich, maior cargo depois de Hitler
> Veterano piloto da Primeira Guerra.
> Fundador da Gestapo.
> Chefe da força-aérea alemã no governo de Hitler.
> Em 1941 Hitler o nomeou seu sucessor e também
assessor em todos os gabinetes.
> Depois da Segunda Guerra ele foi condenado
pelos crimes contra a humanidade, porém cometeu
suicídio consumindo cianeto na noite anterior à sua
execução.
22. Heinrich Himmler
“A melhor arma política é o terror.
A crueldade impõe respeito; os
homens podem nos odiar mas não
queremos seu carinho, apenas seu
medo”. (Himmler)
> Comandante militar da SS
> Na Primeira Guerra servia a um batalhão
reserva.
> Controlou a maioria dos campos de
concentração e criou os campos de extermínio.
> Foi um dos principais responsáveis diretos pelo
Holocausto.
> Tentou negociação de paz na Segunda Guerra
sem que Hitler soubesse. Devido a esta atitude, o
führer o retirou de todos os cargos e ordenou sua
prisão.
> Depois de ser detido pelos britânicos em 1945,
suicidou-se.
23. Joseph Goebbels
“Uma mentira contada mil
vezes torna-se verdade”.
“Nós não falamos para dizer
alguma coisa, mas para
provocar um efeito”.
(Goebbels)
> Ministro da propaganda do III Reich
> Tinha doutorado em literatura (1923). Escreveu
romances e peças de teatro mas foi recusado pelos
editores.
> Era líder regional do partido nazi. Se opunha ao
capitalismo e ao comunismo.
> Responsável pela censura, queimou milhares de
livros.
> No fim da Segunda Guerra, Goebbels e sua
esposa Magda mataram seus seis filhos e depois se
suicidaram.
24. Josef Mengele
Mengele era apelidado no
campo de concentração
como “O anjo da morte”.
> Médico chefe no campo de concentração
Birkenau-Auschwitz
> Realizava experiências crueis com pessoas. Por
exemplo: injetava tinta azul em olhos de crianças,
unia veias de gêmeos, amputava membros e
tentava transferir para outros corpos.
> Tentou criar um método de esterilização em
massa para que as mulheres judias não tivessem
filhos. Mas fracassou.
> No fim da guerra fugiu para Argentina, depois
para o Brasil, onde morreu no litoral paulista em
1979.
25. Adolf Hitler
> O condutor da Alemanha Nazi – Der Führer
> Vinha de uma família humilde da Áustria.
> Por conta de ser boêmio, foi reprovado duas vezes no ensino
médio.
> Na adolescência começou a alimentar ideias pangermânicas
(união de todos alemães) e antissemitas (ódio contra judeus).
> Queria tornar-se artista, mas não conseguiu passar no
“vestibular” para Academia de Belas-Artes de Viena (duas vezes).
> Órfão e sem dinheiro chegou a dormir em abrigos para mendigos em Meidling em 1909.
> Lutou na Primeira Guerra pelo exército alemão como mensageiro, uma posição perigosa pois não tinha
proteção como aqueles que ficavam nas trincheiras.
> Durante a guerra desenvolveu um patriotismo apaixonado pela Alemanha.
> Em 1918 não aceitou que o exército alemão havia sido derrotado e, assim como outros nacionalistas,
culpou os políticos civis pela rendição. Ambos acreditaram nas mentiras que os generais contaram para
se isentarem da capitulação. Alguns militares responsabilizaram o “judaísmo internacional”, Hitler
também.
26. O governo de Adolf Hitler
Posto por Hindenburg no cargo de primeiro-ministro (1933), depois da “Noite dos
Longos Punhais” Hitler conseguiu eliminar a maioria dos adversários dentro e fora
do Partido Nazista. E depois de sucessivos golpes, tornou-se ditador do III Reich.
Seus planos econômicos aumentaram os empregos e a produção industrial.
Diante do aumento dos consumidores, precisou de mais matérias-primas. Então a
Teoria do Espaço Vital entrou em prática e Hitler começou a invadir países. E
quebrar todos os acordos de paz, o que desencadeou outra guerra mundial (1939).
Assinou tratado de não-agressão com a União Soviética de Stalin. Porém logo
mais invadiu a Rússia, quebrando o acordo.
Em parceria com Mussolini (Itália) e Hirohito (Japão) formou o Eixo da Segunda
Guerra Mundial. Os nazistas estavam saindo vitoriosos em muitas batalhas. Isso só
começou a mudar depois da invasão da URSS e da entrada dos EUA no conflito.
A partir de 1943 os Aliados reverteram o jogo. Em 1945, soviéticos e americanos
chegaram a Berlin. Hitler se escondeu em um bunker com sua esposa Eva Braun,
depois disso ambos se suicidaram.
28. O que foi o Holocausto?
>> Foi um genocídio, o assassinato em massa de um povo: os judeus.
Aproximadamente 6 milhões foram exterminados. 1/3 de judeus de todo mundo.
>> Outros grupos também foram mortos:
Prisioneiros de Guerra soviéticos: por volta de 3 milhões
Poloneses: 2 milhões
Ciganos: 1 milhão
Deficientes físicos e mentais: 250 mil
Homossexuais: 10 mil
Testemunhas de Jeová: 3 mil
29. Os Campos de
Concentração
> Com a ascensão do
Partido Nazista foram
criados Campos de
Concentração para onde
eram enviados judeus da
Alemanha e de toda a
Europa.
> Nos Campos, judeus e
outros prisioneiros eram
escravizados.
> Trabalhavam até a
morte para alimentar a
indústria alemã. Havia
pouca comida. E por isso
alguns morriam de
inanição.
> Os prisioneiros
dormiam em repartições
de madeira com até oito
pessoas, enfrentando um
frio rigoroso.
30. Judeus sofrendo em sessões de
tortura nos campos de
concentração (abaixo)
Líderes políticos sendo
enforcados por soldados
nazistas (acima)
Campos de Concentração e
Extermínio
31. Campos de
Concentração
> Crianças judias
também eram enviadas
para os Campos de
Concentração.
> Algumas delas eram
utilizadas em
experiências genéticas e
cirúrgicas dos médicos
nazistas e morriam
após as sessões.
> Elas também
participavam dos
trabalhos forçados.
34. Einsatzgruppen
Além dos Campos,
existiam unidades
móveis de
extermínio. Ao todo,
quatro grupos com 750
carrascos cada.
Os soldados da SS
caçavam judeus e
opositores em regiões
próximas à Alemanha.
Entre 1941 e 1942 pelo
menos 560 mil pessoas
foram mortas desta
forma: com tiro na nuca
e enterradas em valas
comuns.
35. Começo do funcionamento dos Campos de
Extermínio
Até os dois primeiros anos da eclosão da Segunda Guerra, os judeus
“apenas” praticavam trabalhos forçados. Ou eram colocados em
guetos, sendo vigiados durante todo o tempo. Recebiam rações
alimentares reduzidas. Em 1940 não podiam fazer compras em
determinadas horas, nem ter telefones ou rádios. Em 1941 eram
obrigados a usar um broche amarelo para serem identificados.
Em meados de 1941 começou a deportação de judeus para os
Campos de Extermínio, não só da Alemanha mas de toda a Europa.
Os nazistas começaram a colocar em prática seu plano de
extermínio total, conhecido como “Solução Final” para a “questão
judaica”.
Foram instaladas câmaras de gás em campos anexos aos de
concentração. Elas eram disfarçadas, semelhantes a chuveiros
dentro de galpões. Dizia-se aos judeus que eles iam tomar um
banho, mas na verdade iam direto para a morte. Com as pessoas
dentro, os soldados fechavam a câmara. Poucos minutos depois
todos estavam mortos devido a inalação de um gás venenoso.
38. O horror e o absurdo
Alguns nazistas tinham
certeza de que não
seriam punidos, pois caso
alguém contasse o que
houve nos campos, as
demais pessoas não
acreditariam.
Durante a guerra, líderes
do mundo todo
desacreditaram dos
relatos, os achando
muito exagerados.
O Holocausto foi um
genocídio sem
precedentes na história.
39. O “muçulmano” ou a impossibilidade do
testemunho
“Muçulmano” era o termo usado pelos
prisioneiros do Campo de Auschwitz para
descreverem as pessoas que haviam perdido a
capacidade de raciocinar e de falar nestes
lugares. Os “muçulmanos” viviam como
zumbis devido ao excessivo estado de
degradação física e mental a que eram
submetidos. Passavam horas agachados sem
esboçar nenhuma reação – de uma maneira
parecida a que os islâmicos rezam, daí o nome.
Os “muçulmanos” perderam as faculdades
básicas que nos tornam seres humanos, não
tinham afetos nem fala, perderam sua
humanidade. E este havia sido mesmo o
princípio nazista para justificar o Holocausto,
ao dizerem que os judeus não eram humanos,
mas ratos.
40. Dois sobreviventes do Campo de Concentração em Auschwitz assim
descrevem um episódio envolvendo um muçulmano:
“O homem da SS caminhava devagar e observava o muçulmano que vinha
diretamente ao seu encontro. Todos nós olhávamos com o canto do olho para a
esquerda, para ver o que iria acontecer. Esse ser imbecilizado e sem vontade,
arrastando seus tamancos de madeira pelo chão, acabou caindo precisamente nos
braços daquele das SS, que lhe deu um grito e lhe desferiu um terceiro golpe por ter-
se esquecido de tirar o gorro, começou a borrar-se porque estava com disenteria.
Quando a SS viu o líquido escuro e
malcheiroso escorrer sobre os tamancos,
enfureceu-se terrivelmente. Lançou-se
sobre ele desferindo-lhe pontapés no
abdômen e, depois que o infeliz já estava
caído sobre seus próprios excrementos
continuou a batê-lo na cabeça e no tórax.
O muçulmano não se defendia. Ao
primeiro golpe se dobrou ao meio, e
depois de mais alguns golpes já estava
quase morto”.
Z. Ryn e S. Klodzinski em “O que resta de Auschwitz”, p. 50.
41. Sonderkommando
Os nazistas se utilizavam do trabalho
dos judeus em diferentes situações,
existiam cozinheiros, jardineiros,
intérpretes e até médicos. Um destes
trabalhos era levar para as câmaras de
gás os próprios judeus, seus
semelhantes. Este esquadrão da morte
era chamado de Sonderkommando.
“Eles deviam levar os prisioneiros nus à morte nas câmaras de gás e manter a ordem entre
os mesmos; depois arrastar para fora os cadáveres, manchados de rosa e de verde em razão
do ácido cianídrico, lavando-os com jatos de água; verificar se nos orifícios dos corpos não
estavam escondidos objetos preciosos; arrancar os dentes de ouro dos maxilares; cortar o
cabelo das mulheres e lavá-los com cloreto de amônia; transportar depois os cadáveres até
os fornos crematórios e cuidar de sua combustão; e, finalmente, tirar as cinzas residuais dos
fornos”, escreve Agamben. Ter organizado o Sonderkommando foi o delito mais demoníaco
do nazismo, pois embaralhou o papel das vítimas e dos algozes, mostrando o sub-humano
em cada um de nós, que tenta sobreviver mesmo se para isso precise entregar sua dignidade.
42. Como o Holocausto foi
possível?
> O antissemitismo (ódio contra judeus) já existia há muito tempo. Porém, a partir
do século 19 ele e se aprofundou na Europa.
> Nazistas disseminaram uma teoria da conspiração judaica pelo menos 20 anos
antes do Holocausto acontecer. Com base nesta teoria, os judeus seriam os
responsáveis pela 1ª Guerra, pela derrota alemã e pela Revolução Russa. Em 30 de
janeiro de 1939, pouco antes da 2ª Guerra começar, Hitler falou ao parlamento:
“Hoje serei mais uma vez um profeta. Se os financistas internacionais judeus, dentro e fora da Europa, tiverem êxito de novo,
lançando aí nações em outra guerra mundial, então o resultado não será a bolchevização do mundo e com isso a vitória do
judaísmo, mas sim a aniquilação da raça judaica da Europa”.
> A Igreja Católica sabia da existência do Holocausto porém não quis interferir na
guerra, mantendo-se neutra e ajudando somente os judeus que procuravam
refúgio próximos ao Vaticano.
> Muitos líderes nacionais colaboraram com o Holocausto e enviavam trens
lotados de judeus para os campos de concentração e extermínio.
43. Como o Holocausto foi
possível?
> Os nazistas utilizavam palavras codificadas para falar
sobre seus planos e a execução destes.
> A sociedade alemã sabia dos campos de trabalho e dos
guetos, mas poucos sabiam dos extermínios.
> Boa parte dos oficiais alemães não se sentia culpada
legalmente pelo Holocausto, porque afirmava estar
apenas cumprindo ordens do Estado. Este é o caso de
Otto Adolf Eichmann, um general nazista que comandava
a SS em Auschwitz. A atitude destas pessoas levou a
filósofa judia Hannah Arendt a elaborar a tese chamada “a
banalidade do mal”. Esta apontava que o maior mal viria
não de monstros, mas de pessoas “normais”, seguras de
que estavam apenas executando o que lhe fora mandado
ou que aprendera por hábito.
Eichmann sendo julgado em 1961
44. O mal e a normalidade
Um dos sobreviventes que participou do “Esquadrão Especial da
Morte” em Auschwitz conta que, durante uma pausa do trabalho,
assistiu a uma partida de futebol entre os soldados da SS e os
membros do Sonderkommando. Para Giorgio Agambem essa
partida não foi uma pausa de humanidade em frente aos portões do
inferno, mas pelo contrário, esse momento de normalidade é o
extremo horror do campo de concentração e extermínio. Essa
“partida nunca terminou, é como se continuasse ainda,
ininterruptamente. Ela é o emblema perfeito e eterno da ‘zona
cinzenta’ que não conhece tempo e está em todos os lugares’. Dela
provém a angústia e a vergonha dos sobreviventes [...]. Mas dela
também provém a nossa vergonha, de nós que não conhecemos os
campos e que, mesmo assim, assistimos, não se sabe como, àquela
partida que se repete em cada partida dos nossos estádios, em cada
transmissão televisiva, em cada normalidade cotidiana. Se não
conseguirmos entender aquela partida, acabar com ela, nunca mais
haverá esperança” (p. 35).
45. Reportagem com sobreviventes do Holocausto
Assistir no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=mAEo6g2c9d4&spfreload=10
46. Tribunal de Nuremberg: Em novembro
de 1945 começou o julgamento dos principais
líderes vivos do nazismo. Eles foram
processados por crimes de guerra e crimes
contra a humanidade devido ao Holocausto.
Göring, nesta foto ao lado de Hitler, foi
condenado à execução, mas se suicidou na
noite anterior. Rudolf Hess, vice-líder do
Partido Nazi foi condenado à prisão
perpétua. E Martin Bormann, secretário de
Hitler, foi condenado à morte por
enforcamento.
Hoje, apesar de existirem museus da memória
do Holocausto e tantos documentos e filmes
sobre os horrores dos campos de concentração,
ainda existem grupos que seguem os ideais
racistas do nazismo, como se vê na foto ao lado.
Uma pena para a democracia.
47. Consultas e referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. São Paulo: Boitempo, 2008.
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São
Paulo: Editora Schwarcz, 2013.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
FARIA, Ricardo de M.; MIRANDA, Mônica L.; CAMPOS, Helena G. Estudos de história, 3.
Ensino Médio. São Paulo: FTD, 2009.
KERSHAW, Iam. Hitler. Buenos Aires: Ediciones Folio, 2003.
STACKELBERG, Roderick. A Alemanha de Hitler: origens, interpretações, legados. Rio de
Janeiro: Imago Ed., 2002.
ZIZEK, Slavoj. Alguém disse totalitarismo? Cinco intervenções no (mal) uso de uma noção.
São Paulo: Boitempo, 2013.
Sites:
Brasil Escola - http://www.brasilescola.com/historiag/hitler.htm
Metamorfose Digital - http://www.mdig.com.br/?itemid=5850
Tempos Safados - http://tempossafados.blogspot.com.br/2012/07/o-holocausto-no-
testemunho-na-etica-no.html
Wikipédia – dados de muitos links
* Acessos entre os dias 23 e 25 de maio de 2015.
Material preparado pelo professor Munís Pedro para o nono ano da Escola Municipal Freitas Azevedo – Uberlândia-MG.
Contato: pedro.munhoz@hotmail.com