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EMMANUEL
ÓPERA EM 03 ATOS
(Adaptação do Romance “Há Dois Mil Anos”
(Psicografado por Chico Xavier)
Música: Normando Carneiro da Silva
ELENCO
Públio Lentulus..................... Senador, esposo de Lívia
Lívia..................................... Esposa de Públio
Firminio................................ Senador, amigo de Públio
Calpúrnia.............................. Esposa de Firminio
Pilatos................................... Governador da Judéia
Fulvia................................... Amante de Pilatos
André de Gioras.................... Líder/Resistência Jerusalém
Sulpício................................. General de Pilatos
Ana....................................... Serva de Lívia
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Aurélia................................. Filha de Fulvia
Emiliano................................ Esposo de Aurélia
João de Cleofas...................... Pregador Cristão
Centurião.............................. Oficial Romano
Jesus...................................... O profeta
Cornélio................................. Oficial Romano
Clódio.................................... Carcereiro
Vespasiano............................ Imperador de Roma
Tito....................................... Oficial, filho de Vespasiano
Ítalo...................................... Escravo de André
GRUPOS
01. Coral
02. Grupo de Dança
SIMOPSE
A ópera “Emmanuel” é uma história de caráter espírita que
conta a trajetória de um Senador Romano (Públio Lentulus), da
época de Cristo. O enredo é rico no que tange aos orgulhos do
Império Romano, às vaidades, às injustiças, às tramas, às
infidelidades e assassinatos. Muito embora possamos constatar
esses caracteres malignos, a mensagem mais importante desse
episódio é mostrar a capacidade do perdão.
Desta feita, tratando-se de uma adaptação do livro “HÁ
DOIS MIL ANOS” psicografado pelo médium Chico Xavier,
através do espírito “Emmanuel” (Públio Lentulus, depois da sua
desencarnação), isso não quer dizer que a história narrada aqui
seja a expressão verídica de um fato ocorrido naquela época,
porém um grande exemplo de superação do bem sobre o mal.
Normando Carneiro da Silva
3
LIBRETO
ATO I
Cena Título Duração
I Dois Amigos 06:30”
II Em Jerusalém 09’:20”
III Em Casa de Pilatos 05’:30”
IV Obreiros do Mal 06’:35”
V Viagem a Cafarnaum 08’:15”
VI Jesus de Nazaré 10’:55”
VII O Rapto 02’:20”
Cena I - Dois Amigos (Publio e Flamínio)
Personagem Voz Diálogos
Publio Tenor Vede o martírio da filha minha, encontra-se
em lepra!
Flamínio Barítono Não desanimes; nossos deuses estarão
prontos, verás! Nas constantes lutas faltarão
jamais, faltarão jamais!
Publio Tenor Deuses!? Tenho sonhos implacáveis de
outras vidas em tragédias; entre sangue de
inocentes habitando em outro corpo
desenhava-me um vilão.
Flamínio Barítono Sonhos! Ora tu meu bom amigo, nobre
patrício! Como podes te abalar em fantasias
em vão?
Publio Tenor Sonhos, ou não deveis perceber; revi
trajetórias, rastros sem luz.
Flamínio Barítono Somos práticos homens da lei; sonhos a
mais levam a escravidão; o bom senso vem
dos deuses. Nossas conquistas, nossos
triunfos, nosso Império e tudo mais!
Renunciarias tudo, o teu nome, tudo em
nome da imaginação?
Publio Tenor Caro amigo, postulaste bem a razão, Mas
nem tudo te foi revelado... Reconheces?
Flamínio Barítono Sim, reconheço. Vejo a esfinge de um
romano: Publio Lentúlio, teu bisavô,
estrangulado há quase um século... Mas... És
tu. Como pode?! Eu hesito! Semelhanças
poderiam existir... Poderia pensar... Não! Isso
não pode existir...
Publio Tenor Veja pois nesses papiros, são notas antigas,
projetos do meu bisavô. São rabiscos de
4
projetos entre os quais há sentenças fatais.
Confronta essas letras.
Flamínio Barítono Pelos deuses! ... São justaposições sim.
Coincidências, mas é um fenômeno...
Guarda-o contigo, estás cansado, esquece,
há outros afazeres em conta amigo; há pois a
tua filha em leito, em dor. O amor sempre
amanhece da escuridão; da alma febril; vais
meu amigo; vede a razão.pois na esperança
terás o viver.
Cena II – Em Jerusalém (Lívia, Públio, Pilatos, Fulvia,
Sulpício e Coro)
Personagem Voz Diálogos
Lívia Soprano Minh’a alma clama, luta entre dois caminhos:
nos da guarda pela filha minha; enquanto
Roma, eterna sagrada; consagro o meu viver.
5
Estou, no entanto, aqui sem rumo, num
mundo da escuridão; vivo em assédio, em
atos vis do então Pilatos infeliz.
Publio Tenor Que opulência, grande noite patrícia; revivo a
vida de tantos sarais!
Pilatos Tenor Tantos sarais? Senador, essa casa vos
pertences em Jerusalém. Vinde aqui em
minha casa se hospedar; não há em outros
lares mais conforto do meu lar.
Fulvia Contralto Exageras Pilatos. Publio e Lívia já são meus
hóspedes. Ademais, a pequena Flávia
merece a justa atenção. Estamos tão
preocupados... Coitadinha... Coitadinha...
Publio Tenor Não há dúvidas! Nossa Flávia é toda
prioridade! E na verdade, buscamos abrigo
nos campos Reais,
Pilatos Tenor Sim! A cura do mal, o santo remédio, desde
que não se transforme numa judia! Ah, ah, ah
ah.
Sulpício Barítono E por falar em Nazaré, já ouviram falar do
profeta?... Sim Há em Nazaré o profeta
Jesus.
Pilatos Tenor Sulpício, o que é isso? Dás a impressão que
estás de nova fé. Jamais! Mas Jesus é
embriagador; nos envolve, nos confunde
entre laços de união, quanta luz de
esperança, envia-nos um salvador, amor
sublime amor, lema da vida, a paz dos
nossos corações. Em Jesus senti sua missão
em mostrar que somos todos irmãos.
CORO A 04 vozes Lema da vida eterna de esplendor; amor,
sublime amor, lema da vida a paz em nossos
corações, em Jesus senti sua missão. Em
mostrar que somos todos irmãos.
Pilatos Tenor Todos irmãos? Absurdo! Absurdo! E os
escravos, e os vassalos, e as prerrogativas
do patriciado do Império? E o que mais me
admira, é que ser um homem prático romano,
venha se misturar-se com essa gente.
Sulpício Barítono Eu sei, eu sei, mas fiquei impressionado
Pilatos Tenor Como deixastes empolgar?
Sulpício Barítono Os milagres, os milagres.
Pilatos Tenor No entanto, meu caro amigo: aqui nascem
religiões, todas criadas assim: Fanáticos! E
profetas! Ladrões! Feiticeiros! Os problemas
do Estado são mais importantes. Ora essa
Sulpício: mereces uma punição por narrativas
tão importunas... Vamos nos divertir, serei
vosso anfitrião.
6
Grupo de
dança
12 pares “Dança árabe”
Cena III – Em Casa de Pilatos (Pilatos, Lívia, Sulpício,
Fulvia e Coro)
Personagem Voz Diálogos
Pilatos Tenor Oh linda flor do amor, dai-me esperanças nos
braços meus; sois a paixão da minha vida,
não esperes mais, sou louco por ti; és o
acalanto dos meus sonhos, razão do meu
viver. Amor, meu grande amor! Eu me
desespero por ti; daria um mundo a teus pés,
oh linda flor. Por que me repeles assim?
Serás minha não te iludas, pois não deixarei
que me impeças dessa paixão. Oh querida!
Não ousai dizer-me não!
Lívia Soprano Cala-te Pilatos! Pelos deuses! Tens esposa
tão digna, tão leal! Como ousas? Como te
atreves? Por quem me tomas Poncio Pilatos?
Insano é o teu nome; jamais serei tua. Minha
grande paixão só contempla um grande
amor.
Sulpício Barítono (comentando às escondidas com Fúlvia)
7
Deixaste de ser a preferida. Pilatos te outro
amor, vês? Não hás de vingar?... Vens para
mim Fulvia querida! Por ti daria tudo.
Ordenai! Queres vingança? Tudo farei! Tudo
terás!
Fulvia Contralto Pois muito bem,como queres, serei tua. Em
verdade desejas a mim? Antes, porém, serás
meu cúmplice.
Sulpício Barítono Que pretendes?
Fulvia Contralto Criar provas que Lívia é infiel.
Sulpício Barítono Mas que trama tens em mente?
Fulvia Contralto É bem simples, mas diabólico, pois seremos
implacáveis. Então concordas?...Então, o que
me dizes?
Sulpício Barítono Sim... Concordo!.
CORO A 04 vozes Consumat est malo; Selaste vossos destinos;
nas trevas habitarás. Peroniam secula
seculorum. Fúlvia! Consumaste longo
caminho em provas jus. Todo mal sucumbirá
deste mundo pelo amor, pela dor dos mais
cruéis.
Cena IV – Obreiros do mal (Fulvia, Públio e Lívia)
Personagem Voz Diálogos
Fulvia Contralto Senador! Venho aqui em desagradável
missão; venho preveni-lo de tão doloroso
fato; como amiga estou aqui; não posso
calar-me.
Públio Tenor O que sabes de tanta gravidade?Fale!
Fulvia Contralto Tua esposa; tens cuidado... Ontem mesmo,
8
com meus próprios olhos, a vi em intimidades
com o próprio governador... Pilatos!... Queres
uma prova? A terás em breve, quando
partires para a nova morada. Não rejeites,
pois, o toque experiente da voz de uma
mulher. Lívia e Pilatos são amantes.
Lívia Soprano Que tens meu querido? Vejo sombras em
teus olhos. Estás cansado, precisamos partir.
Apressai a nossa viagem.
Públio Tenor A viagem? Com que propósito?!
Lívia Soprano Querido... Não são nossos planos?...
Públio Tenor Sim... És tudo para mim, nossos filhos são as
flores da minha alma. Perdoa-me, perdoa-
me, tenho vivido em louco temor! Ajuda-me,
oh querida, pois os sonhos se foram da
minha vida.
Lívia Soprano Amor da minha vida, porque choras?... Nada
mais podes temer.
Públio Tenor Ando cercado de demônios, visões sombrias,
todos a postos a nos separar.
Lívia Soprano
(“Alma
Gêmea”)
“Alma gêmea da minh’alma; flor de luz da
minha vida; sublime estrela caída das
belezas da amplidão. Quando eu errava no
mundo, triste só no meu caminho, tu
chegaste devagarzinho e encheste meu
coração. Vinhas da benção dos deuses, na
divina claridade. Tecer-me a felicidade em
sorrisos de esplendor! És meu tesouro
infinito. Juro-te eterna aliança porque sou sua
esperança como és todo meu amor”.
9
Cena V – Viagem a Cafarnaum (Públio, Pilatos, Ana,
Sulpício e Lívia)
(Ainda em Jerusalém)
Personagem Voz Diálogos
Publio Tenor Governador! Minhas saudações. Devo partir;
minha filha necessita de outros ares.
Pilatos Tenor É pena, caro amigo. Vais a Cafarnaum?
Publio Tenor Sim.
Pilatos Tenor Maior prazer seria se aqui ficastes... Pois
muito bem! Designarei Sulpício para
acompanhá-lo e servi-lo. Procurarei visitá-lo.
Publio Tenor Agradeço os teus cuidados os teus cuidados;
partiremos; já ficaremos bem.
Em Cafarnaum
Personagem Voz Diálogos
Ana Soprano Meu Deus, nosso Pai de bondade, Eis-me
agora. Daí a força aqueles que suportam
provações de uma vida, de outras vidas
marcadas pelo desamor; Daí a luz da
verdade. Oh Deus Pai, daí a estrela guia. Aos
que então caminham nesse mundo sem fim.
Senhor, que a vossa bondade ilumine e eleve
a toda parte a esperança e a fé.
Públio Tenor Amigo Sulpício, fale-me Daquele que
chamam de Jesus... Vamos, fale!... Gostaria
de saber.
Sulpício Barítono Tenho visto e ouvido sínteses que contempla
os fatos: mestre, visionário, profeta, o
10
Consolador, são qualidades que o povo
maravilhado, veste Jesus.
Públio Tenor Mas afinal, que ensina às multidões? O que o
leva a salvar a humanidade?
Sulpício Barítono O amor, eis o seu nome. Jesus, Jesus, o
amor, o amor.
Públio Tenor Bobagem! Bem se vê que se trata de um
homem do povo. Fanatismo judaico cheio de
propostas injustificáveis. Não me declino...
Por outro lado, confesso: estou curioso.
Esses fenômenos vêm aguçar a minha
curiosidade...
Sulpício Barítono Queres conhecê-lo... Mais de perto?...
Públio Tenor Nunca! De modo algum irei! Sou um homem
de Estado. Como ficaria a minha autoridade?
(No quarto ao lado - Ana e Lívia)
Ana Soprano Ah, senhora, guardo em meu coração os
milagres do Mestre. Se levássemos a pobre
Flávia em suas mãos...
Lívia Soprano Impossível! Impossível! Pois iríamos
contrariar o Senador.
Ana Soprano Que felicidade terá em teu viver? Eis tua
filha... Eis a dor... Senhora: busque a fé, em
nome de Jesus.
Lívia Soprano Tens razão, há luz em teus olhos. Não
hesitarei. Públio será nosso portador.
Cena VI e VII - Jesus de Nazaré e o Rapto (Jesus,
Publio, Lívia, Ana, Sulpício e André de Gioras e coro)
11
Personagem Voz Diálogos
Jesus Barítono Senador, porque me procuras? Porque e
procuras?... Não venho buscar o homem de
Estado, superficial e orgulhoso que só os
séculos de sofrimento podem encaminhar ao
regaço do meu Pai. Venho atender à súplica
de um coração oprimido. E ainda assim, meu
amigo, não é uma causa de amor. Não é teu
sentimento que salvará tua filha, porque
fazes do egoísmo a razão. É sim, a fé que é
divina, salvará a tua filha. Não! Não estás
sonhando. Encontrarás o caminho do bem.
Aproveita-o! Aproveita-o!... Pois verás o reino
dos céus. Aproveita-o consciente, ou daqui
há milênios, depois.
Coro A 04 vozes Voltarás! Senador! Dois mil anos terás de
ver.
Jesus Barítono Volta ao lar, consciente do teu destino
Públio Tenor Então, deverei renunciar abandonar as mais
caras tradições, para me tornar um simples
homem do povo? Nunca, Jamais! Sou o
Senador Públio Lentulus, tenho da Pátria
meu coração!...
Públio Tenor (Em casa) E a nossa filhinha?
Lívia Soprano Melhora milagrosamente. Existirá, querido,
felicidade maior? Ah Jesus, meu Senhor...
Públio Tenor Lívia, porque tanto exagero? Sabemos que
nada mais lhe faltou. A melhora é natural... E
quanto a ti (referindo-se a Ana), fanática
cristã, influenciaste a minha esposa... Ana!
Estás dispensada!
Lívia Soprano Por que?!!! Quando agora deveríamos
agradecer?! Quanto a Ana, sempre fiel
companheira, nas lutas, nas dores! Oh não!
(Se dirigindo a Ana). Não mereces tamanho
rancor (Dirige-se a Públio): Reconsideres!
Públio Tenor Nunca!
Lívia Soprano Oh meu esposo...
Públio Tenor És infantil! Não podemos nos igualar a
servos! Ademais, esse Jesus não passa de
um feiticeiro, tal como aqueles existentes em
Roma.
Lívia Soprano Não meu querido, Jesus esteve aqui.
Públio Tenor Puras alucinações!!!
Lívia Soprano (Ária) Querido Mestre, meu coração vibra
feliz em louvor. Agradecemos Mestre Jesus,
nossa esperança é o teu grande amor. Luz
que ilumina, vinha do ser, aqui nos
prostramos, frágeis almas febris.
12
Lívia Soprano Ana!... Porque não respondes? Porque não
respondes? (Ana retorna)
Públio Tenor Está bem (voltando-se para Ana), tu já podes
ficar... Sob os teus cuidados (voltando-se
para Lívia). Mas não admito crer nesse
nome: Jesus.
(Vão dormir e André de Gioras, um antigo
inimigo de Públio, durante a noite, rapta o
pequeno Marcus)
André de
Gioras
Barítono Se os malditos romanos nos escravizam sem
piedade, podemos também escravizar os
seus descendentes. Eis a minha vingança
Públio Lentulus.
(Quando amanhece)
Lívia Soprano Oh Senhor, meu filhinho foi raptado.
Públio Tenor Mal posso crer, que desventura, meu
primogênito, quem seria capaz de fazer
tamanha crueldade? Porque razão roubaram
Marcus de mim?
ATO II
Cena Título Duração
VIII Calúnia Vitoriosa 09’
XIX A Morte de Flaminio 08’:55”
X A Morte de Fulvia 06’
XI Últimas Confissões 10’:45
Cena VIII – Calúnia Vitoriosa (Ana, Lívia, Sulpício,
Pilatos, Fulvia, Públio)
Personagem Voz Diálogos
Ana Soprano (na rua) Oh, senhora minha! Veja O profeta
de Nazaré... Foi preso e está a caminho do
calvário. Como?!... Mas é verdade!... Imploro-
te, tomai alguma atitude, alguma atitude, não
podemos perder mais tempo!
Lívia Soprano Está bem. (Lívia sai à procura de Pilatos e
encontra Sulpício)
Sulpício Barítono Lívia?! Que desejas aqui?... Sozinha?...
Lívia Soprano Sulpício ajude-me, preciso falar com Pilatos.
Sulpício Barítono Ora, ora, queres mesmo? Levarei a senhora
13
aos aposentos íntimos do governador. Lá
terás privacidade, lá encontrarás, quem sabe,
o teu caminho. (Nesse mesmo tempo Fulvia
encontra-se escondida, observando a cena e
sai em busca de Públio)
Fúlvia Contralto Eis agora, querida amiga minha vingança;
não escaparás. Se não sou mais a preferida,
te envolvi em trama fatal.
Pilatos Tenor Lívia! Que surpresa agradável! Quem diria,
quem diria!...
Lívia Soprano Senhor governador! Suplico a vossa ajuda...
O profeta de Nazaré...
Pilatos Tenor Senhora: consumaste est, nada mais poderei
fazer!... O Nazareno está morto... Mas, nós
estamos aqui...
Lívia Soprano Para trás!!! Não respeitas sequer a mulher de
um senador romano?! (Lívia sai apressada
do quarto de Pilatos, enquanto Fulvia e
Publio observam escondidos).
Fulvia Contralto Como vês com os teus próprios olhos, tua
mulher, no quarto com Pilatos. Ainda tens
dúvida? Ainda tens dúvidas? Que dizeis?
Que dizeis?
Publio Tenor Venceste... Venceste (Ária “Cálice de
Martírios).
Cálice de martírios, penúria de um grande
amor; és a morte de todos os caminhos; és o
espinho de toda minh’alma. Venceste Fulvia,
venceste! Entrego-me tolhido. Não há mais a
eterna aliança, nem juramentos de amor.
(Vai para casa em busca de Lívia).
Públio Tenor Lívia!... Todos os laços de afetividade que
nos uniam estão mortos para sempre.
Lívia Soprano Por que? O que é isso?
Publio Tenor Cala-te!!!... Nem mais uma palavra, vi tudo
com meus próprios olhos... Me traístes, me
traístes... Desprezo-te por toda vida.
14
Cena IX– A Morte de Flamínio (Públio, Flamínio,
Calpúrnia (só contracena)
(Em sua casa, Públio recebe das mãos de um mensageiro, uma carta)
Personagem Voz Diálogos
Públio Tenor Uma carta... Da parte de Flaminio!... É grave
seu estado de saúde. Flamínio está
morrendo... (Públio volta a Roma)
Públio Tenor Flamínio...
Flamínio Barítono Públio... Aguardava a tua chegada, oh meu
grande amigo, escuta-me atentamente, pois
vejo-me às portas da morte.
Públio Tenor Os deuses hão de te salvar!
Flamínio Barítono Lembra-te daquela noite? Me confiaste um
sonho, um mistério, um fenômeno...
Públio Tenor Ora se me lembro simples impressões de
sonhos, fantasias, meras ilusões!...
Flamínio Barítono Fantasias?... Pois escutai: no meu leito de
dor, invocava a proteção dos deuses, quando
me vi em sono tão profundo, me transportei
ao longo do passado, ao mesmo sonho que
outrora me contaste. Mas entre o sangue de
atrocidades eu era cúmplice de teu bisavô...
Mas eras tu, Públio Lentulus, eras tu.
Flamínio Barítono Calpúrnia, minha esposa, estou na hora
extrema.
Coro A 04 vozes Pai nosso que estais nos céus, santificado
seja o Vosso nome, venha anos nosso Reino,
de misericórdia. Seja feita a Vossa vontade,
assim na terra como nos Céus, como nos
Céus. Pai nosso.
Cena X– A Morte de Fúlvia (Fulvia, Emiliano,
Aurélia, Coro)
(25 anos depois. Sulpício, já falecido, busca em espírito das trevas, o leito de morte de Fúlvia,
que conversa com seu filho Emiliano)
Personagem Voz Diálogos
Fulvia Contralto Emiliano!... Não percebes? Ouve bem...
Conheceste Sulpício, amigo de Pilatos? Hei-
lo que chega com seus legionários das
trevas. Fala de morte, a morte... Da morte.
Socorre-me filho meu! Sulpício me apavora!...
Emiliano Tenor Acalma-te, acredite nos deuses...
Fúlvia Contralto Nos deuses? Ah, Ah, Ah! Os deuses?...Onde
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estão os deuses desta maldita casa?
Emiliano, nós criamos os deuses; são
necessários ao Estado. Nós não somos
nada. Somos pó. E o inferno? E os
demônios? Devem sim existir... Hei-los que
chegam!... Não me levarás!... Malditos!!!...
Canalhas!...
Emiliano Tenor Aurélia virá fazer-te companhia. Não podes
entregar-te.
Fúlvia Contralto Ah, Ah, Ah. Fazer-me companhia? Como
podes crer nosso, oh filho meu? Tua esposa
deve estar ao lado de outro, um antigo
amante. Sabes de quem se trata? De Plínio
Severius, esposo de Flávia, filha de Públio
Lentulus... Fui eu que, induziu minha filha aos
desvios dos obreiros do mal; facilitei-lhe o
adultério, que se consumou sobre esse teto.
Horroriza-te e vigia a tua mulher. Amanhã,
quando estiver mais calma, lhe contarei todos
os segredos da minha filha infiel!
Aurélia Soprano (estava a escutar a mãe) Mãe! Pareces
cansada, precisas repousar. Queres uma
dose de calmante? (Aurélia se afasta e
prepara um remédio acrescido de veneno)
Aurélia Soprano (Em pensamento) Um segredo é sempre um
segredo e só a morte poderá guardá-lo para
sempre!... Para sempre!!! (oferece o cálice do
veneno para a mãe e quando percebe que
agoniza, simula uma crise de apavoramento)
Aurélia Soprano Corram!!!... Depressa!!!
Coro (A 4 vozes) Deixarás a vida retida no mal, teu penhor,
seiva das trevas, choras em vão!!!
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Cena XI– Últimas Confissões (Calpúrnia, Públio,
Flamínio, coro )
Personagem Voz Diálogos
Calpúrnia Contralto Públio! Na condição de amigo do meu
falecido Flamínio, sempre te apoiei como
Senador romano. E como chefe de família.
Para mim, tua esposa sempre foi culpada dos
males do teu casamento... Entre vocês havia
um profeta. Refiro-me a Jesus de Nazaré, um
convite ao amor, não soubemos
compreender. Agora encontro-me doente,
mas antes de partir quero que me ouças.
Públio Tenor Minha amiga: tu não vais morrer. Só os
deuses podem nos chamar.
Calpúrnia Contralto Não duvido, mas compreendas... Mas me
compreendas. Não quero levar para o túmulo
uma falta não resolvida em meu coração.
Públio Tenor Uma falta? Minha amiga! És um exemplo, oh
Calpúrnia.
Calpúrnia Contralto Agradeço-te meu grande amigo, mas tua
gentileza não livrará meu pecado. Refiro-me
a Lívia. A tua esposa é inocente, imaculada
veemente, alma tão pura, elevada. Como nós
fomos injustos, quando tua desprezastes, há
quanto tempo negaste tua mulher que viveu,
que te deu um coração de amor... Hoje, tive
uma visão. Era o Flamínio, a luz do meu
lamento, resplandecente em áureas
perfumadas. Pedi ao espírito sua palavra,
seu conselho para as minhas dúvidas. Então
o espírito em clara voz falou: “Calpúrnia! Em
má hora duvidaste de Lívia a quem deverias
cuidar, acalentar tal como uma filha, porque
Lívia é inocente” Públio! Acreditas?
Sinceramente?
Públio Tenor Acredito
Calpúrnia Contralto E o que faremos?
Públio Tenor Escuta-me: haverá uma grande festa do
Estado em homenagem aos Senadores do
Império. Estarei entre eles. Vitória afinal;
receberei condecorações e presentes,
próprios de um Senador. Tudo isso darei a
Lívia, darei a Lívia, meu grande amor.
Calpúrnia Contralto No grandioso Circo das nossas tradições,
mostrarás ao mundo teu supremo amor. Mas
tua Lívia, encanto sagrado, é mais que teu
17
supremo amor. (Calpúrnia morre e Públio sai
do quarto.Logo depois um grupo de
mensageiros espirituais se aproximam e
cantam:
Coro A 04 vozes Regozija-te no Senhor! Pois são chegadas
vésperas da tua ventura eterna imorredoura!!!
ATO III
Cena Título Duração
XII Nas catacumbas 7’30
XIII Na Prisão do Coliseu 7’,25
XIV Na Espiritualidade 7’00
XV A Queda de Jerusalém 13’25’’
XVI O Perdão 7’30
Cena XII– Nas Catacumbas (Lívia, Ana, João de
Cleofas, Centurião, Coro)
Personagem Voz Diálogos
Lívia Soprano Ana! Desde a morte de Calpúrnia, noto
diferenças em Públio. Já dirige-me a palavra
com carinho. Ainda ontem afirmou-me que
seu coração me reserva doce surpresa no
Circo Romano. Sinto, porém, que nesse
mundo não há mais tempo para novas
venturas. Mas pelo menos, sei que não
morrerei em discórdia com o meu
companheiro.
Ana Soprano Sim, minha senhora, ele reconheceu o seu
pecado.
Lívia Soprano Ana, ainda ontem, nas minhas orações, ouvi
vozes que me anunciavam o Reino dos
Céus.
Ana Soprano Minha senhora, nas catacumbas uma nova
voz de levantará. Trata-se de João de
Cleofas. Falará em nome de Jesus. Senhora:
vamos participar?
(Saem, sem serem vistas, durante a noite, até as catacumbas. No recinto, um cemitério
subterrâneo; diante de uma assembléia de cristãos, encontra-se João de Cleofas)
João de Cleofas Baixo Irmãos: esteja convosco o Cordeiro de
Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelas
revelações do Espírito Santo, os cristãos
18
dessa cidade foram escolhidos para o
grande sacrifício, pelo Cordeiro de Deus. E
eu nos venho anunciar nossa entrada no
Reino dos Céus. Agradecemos em nome
do amor, na fé em Cristo, oremos ao Pai.
Roma batizará sua fé com o sangue
cristão inocente! Lavaremos com sangue
e lágrimas o brilho do falso poder. Mas
chegará o fim dos dias de aniquidade
perdida e um grande Império ruirá em
pobreza sem fim.
Coro A 04 vozes Senhor Jesus, Eis nosso coração...
João de Cleofas Baixo Pai nosso que estás nos Céus, santificado
Vosso Nome, venha a nós Vosso Reino de
misericórdia, seja feita a Vossa Vontade,
Assim na Terra como nos Céus, como nos
Céus. Pai Nosso..
(No final da oração, repentinamente, entram no recinto, soldados romanos)
Centurião Barítono Cristãos! Em nome de Cesar, deveis me
acompanhar.
(Nesse momento os cristãos se revoltam e ameaçam contra atacar)
João de Cleofas Baixo Não meus irmãos!!! Não repitais nesse
recinto a triste cena da prisão de Jesus.
Centurião! Cumpra o seu dever!
(Os cristãos são presos e levados para os calabouços do Circo Romano)
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Cena XIII– Na prisão do Coliseu (Cornélio,
Centurião, Clódio, Ana, Lívia)
(Na prisão, os cristãos, acomodados no chão, ficam em subgrupos. Ana e Lívia
Estão juntas. (Cornélio, o oficial encarregado, fala com o Centurião)
Cornélio Barítono Pelo que vejo tudo está em ordem e o
Imperador ficará satisfeito. Essa primeira
caçada de cristãos era essencial ao
glorioso dia dos senadores... Mas escuta-
me: quem é aquela mulher que traz a toga
das matronas da alta classe social?
Centurião Barítono Ignoro. Muito me admirei de encontrá-la
em tal ambiente, mas enfim, cumpri as
vossas ordens.
Cornélio Barítono Fizeste bem! Mas mantenho-na aqui até
amanhã. Durante o espetáculo podemos
libertá-la.
Centurião Barítono E porque não agora, neste instante?
Cornélio Barítono Insensatez: há riscos em demanda. Quero
evitar posturas imponderadas
(Nesse momento, abre-se uma grande porta rústica e surge uma figura de um
soldado pavoroso pelo sinistro semblante: Clódio)
Clódio Baixo Cristãos!!! Não há clemência de Cesar
para os que professam a Doutrina do
Nazareno. Poucas horas vos separam dos
leões da arena do grande Circo Romano.
(E fica ali, de prontidão, aguardando ordens. Cornélio e o Centurião, passando
em revista aos prisioneiros, passam pela Lívia, cumprimentando-a
respeitosamente. Ana observa e comenta)
Soprano Noto que vos tratam com simpatia. Porque
não requeres o direito da liberdade?
Lívia Soprano Não, minha amiga; não sou mais desse
mundo, só tenho a minha consciência,
morrer em paz será o meu júbilo.
Ana Soprano Mas... Teu esposo!
Lívia Soprano Há vinte e cinco anos não tenho esposo.
Públio buscou seu caminho no mundo
terrestre; busquei na minha fé o meu
caminho. Oh, Deus, oh meu Senhor, estou
contigo... Tenho um último pedido.
Ana Soprano Sou vossa escrava.
Lívia Soprano Ouve-me mais uma vez: troca hoje
20
comigo, a toga da senhora ela túnica da
serva!
Ana Soprano Senhora!!!
Lívia Soprano Não vaciles se queres me ver feliz.
(Trocas as roupas)
Cornélio Barítono Clódio: Podes providenciar a entrada dos
prisioneiros na arena. Mas afasta aquela
mulher com a toga do patriciado. Não
quero complicações com a sua família.
(Todos os cristãos são conduzidos para a arena, através de uma grande
porta.Lívia passa e quando se aproxima a vez de Ana, que é a última fila,
Clódio a intercepta e diz)
Clódio Baixo .Senhora: ficareis aqui até segunda ordem
Ana Soprano Mas por que? Pretendeis privar-me da
glória do sacrifício?
Clódio Baixo Serás a última.
(Clódio se retira e Ana, sozinha, ouve o barulho ensurdecedor da platéia
entusiasmada com o espetáculo carnificina, o espetáculo da morte. Logo
depois, Clódio e o centurião entram)
21
Clódio Baixo .Senhora! Acompanhai-nos.
Ana Soprano Por que?!!! Eu nada mais desejo, senão
morrer com meus irmãos.
Clódio Baixo Retirai-vos mulher, fugi sem demora!
(Ana insiste, mas é conduzida à força para fora do recinto)
Ana Soprano Não!!! Por favor!!! Senhora!!! Não!!! .Por
favor!!! Não!!!
Cena XIV– Na Espiritualidade (Lívia e Públio)
(Ao saber do sacrifício de Lívia, Publio encontra-se em seu quarto em grande
estado de depressão, quando tem uma visão. É o espírito de Lívia que se
aproxima e chama-o)
Lívia soprano Querido... Não estamos separados.
22
(Públio recorda-se do momento em que, há 25 anos, duvidando da esposa,
pede-lhe perdão)
Públio Tenor Sim... És tudo para mim! Nossos filhos são
as flores da minha alma. Perdoa-me, tenho
vivido em louco temor! Ajuda-me, oh
querida, pois os sonhos se foram da minha
vida.
(Lívia percebe os pensamentos de Públio e repete as mesmas coisas voltadas
para aquela cena)
Lívia Soprano .Amor da minha vida, porque choras?
Nada mais tens a temer...
“Alma gêmea, da minh’alma, flor de luz da
minha vida, sublime estrela caída, das
belezas da amplidão. Quando eu errava
no mundo, triste só no meu caminho;,
chegaste devagarinho e encheste-me meu
coração! Vinhas da benção de Jesus, de
Jesus, da divina claridade, tecer-me a
felicidade em sorriso de esplendor. És meu
tesouro infinito... Juro-te eterna aliança
porque sou tua esperança, como és todo
meu amor.
Cena XV– A queda de Jerusalém (André de Gioras,
Tito, Públio, Vespasiano)
(Públio é chamado pelo Imperador Vespasiano)
23
Vespasiano Baixo Senador!
Públio Tenor Augusto!...
Vespasiano Baixo Não, meu caro, entenda-me com a velha
intimidade de outros tempos, deixe de
protocolos... Jerusalém encontra-se
amotinada e o cerco em prol da sua
tomada vem se prolongando em demasia.
Meu filho Tito, já encontra-se na Judéia.
Muito embora, capaz, precisará de
conselho, orientação. Estivestes em
Jerusalém, lá ficastes muitos anos,
conheces bem a natureza daquele povo.
Era, pois, meu desejo, que aceitasses a
incumbência de orientar a tática militar do
meu filho. Tito necessita da sua
cooperação.
Públio Tenor Meu nobre imperador! Vossa palavra
Augusta é a palavra do Império.
Vespasiano Baixo Muito agradecido. Tudo estará pronto, de
modo que sua partida e de dois ou três
amigos, se verifique dentro de duas
semanas.
24
(Jerusalém, apesar de vencida pelos Romanos, Públio, mais um companheiro,
também senador, numa revista a determinados locais da cidade, foram
aprisionados pelo inimigo e levados à presença de um dos chefes da
resistência. Esse chefe era o então André de Gioras, o israelita que raptou
Marcus, filho de Públio)
André de Gioras Barítono Ilustríssimos senadores! Eu vos conheço
de longos anos, sobretudo honro-me com
a presença do orgulhoso senador Públio
Lentulus, antigo legado de Tibério e seus
sucessores dessa província perseguida e
flagelada pelas pragas romanas!!!. Públio
Lentulos! Sou André de Gioras... Guarda!
Vai depressa e dize a Ítalo que venha a
minha presença... A queda de Jerusalém
está iminente, mas darei a última gota do
meu sangue para exterminar as víboras do
vosso povo. Vossa raça maldita veio
cevar-se na cidade eleita, mas eu exulto
com a minha vingança. Em vos ambos,
orgulhosos dignitários do Império
criminoso.
Hei-los!... Já estão chegando. Senhores!...
Estamos chegando ao fim da nossa
defesa. Mas temos o consolo de guardar
dois grandes chefes do amaldiçoado
Império Romano. Um deles é Pompilo
Crasso, que começou sua carreira de
homem publico inaugurando um longo
25
período de terror entre os nossos
compatriotas infelizes... O outro, senhores,
é Públio Lentulus, orgulhosos legado de
Tibério e de seus sucessores na Judéia
humilhada de todos os tempos, que
escravizou nossos filhos ainda jovens.
Organizou processos criminais em todas
zonas provinciais, fomentando o pavor de
nossos irmãos,lá da sua residência da
Galiléia.
Pois bem, antes que os malditos soldados
nos aprisionem cumpra-nos vossos
destinos... Nossa vingança deve obedecer
aos critérios da antiguidade: primeiramente
morrerá Pompilio Crasso, por ser o mais
velho. Nicandro! Esse trabalho lhe
compete
(Nicandro obedece e com um só golpe, mata o Senador. André continua seu
julgamento)
André Barítono Ítalo!... Compete às tuas mãos a tarefa
desse momento.
(Os olhos do Senador buscam ansiosamente na figura de ítalo um personagem
familiar. André percebe e continua)
André Barítono Então Senador: admiras o Ítalo? Vês
agora?, É do tipo romano... Que te
pareces?... Há afinidade?... É um escravo
de grande valor...
(Dirigindo-se a Ítalo)
André Barítono Porque hesitas? Terei que usar o chicote?
Obedeças!!!...
(Nesse momento, Ítalo, também envolto a emoções inexplicáveis, hesita, mas
termina obedecendo, arrancando com um só golpe de espada os olhos do
Senador)
André Barítono Poderia matar-te Senador infame, mas
quero que vivas nas trevas da vida. Vou
revelar-te quem é Ítalo, o teu algoz do
último instante... Ítalo...
26
(Nesse momento o ambiente é invadido pelos soldados romanos, que
impedem, através de um golpe certeiro na cabeça do André a continuidade da
sua revelação. Ítalo é morto e os demais são presos. André apenas desmaiado
é arrastado,também como prisioneiro). (Tito trata o cadáver de Ítalo com
desprezo, quando Públio agora sob socorros médicos, intervém)
Públio Tenor Um momento!... Recomendo que tratem
com respeito o cadáver do jovem
Tito Tenor Senador! Não esqueçais, pois esse
homem vos deixou nesse estado. Está
cego para toda vida.
Públio Tenor Enganai-vos meu amigo, esse homem que
mais não vejo, foi contemporâneo nosso,
em cativeiro, por um senhor de Jerusalém.
Cena XVI– O Perdão (Públio, André de Gioras)
(A Queda de Jerusalém culminou com um grande cortejo de prisioneiros pelas
ruas, a caminho da execução. Públio queria encontrar André de Gioras, pois
necessitava da confirmação das suas suspeitas acerca da identidade
verdadeira de Ítalo. Já preso, acompanhado por Tito, André é localizado e
Públio é deixado à presença de André)
Públio Tenor Senhor André, provoquei esse encontro
para esclarecer as dúvidas de minh’alma:
solicito a identidade daquele que me
crestou a vista para sempre. Não posso
aqui mais ordenar. Eu suplico, senhor, em
favor de um pai, revelai a mim teu coração.
André Barítono Públio Lentulus não desesperes, revelarei
todo o meu segredo. Na vossa dor, avaliei
o meu crime e ainda não sei se mereço o
vosso perdão. Há muitos anos pedi para
meu filho Saul, preso por vossas mãos,
mas não me destes ouvidos. Não
conseguindo, jurei a qualquer custo
27
roubar-lhe o filho do coração. Pois bem
Senador, aquele a quem chamei de Ítalo e
que foi vosso carrasco, era vosso filho, era
vosso filho Senador!!!... Perdoa-me!!!...
Perdoa-me!!!... Perdoa-me pelo amor de
Deus.
(Nesse momento, Lívia volta a aparecer encoberta por uma luz divina. Públio a
contempla, pensa, medita e voltado para André, em triste semblante, responde)
Públio Tenor Estás perdoado.
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  • 1. 1 EMMANUEL ÓPERA EM 03 ATOS (Adaptação do Romance “Há Dois Mil Anos” (Psicografado por Chico Xavier) Música: Normando Carneiro da Silva ELENCO Públio Lentulus..................... Senador, esposo de Lívia Lívia..................................... Esposa de Públio Firminio................................ Senador, amigo de Públio Calpúrnia.............................. Esposa de Firminio Pilatos................................... Governador da Judéia Fulvia................................... Amante de Pilatos André de Gioras.................... Líder/Resistência Jerusalém Sulpício................................. General de Pilatos Ana....................................... Serva de Lívia
  • 2. 2 Aurélia................................. Filha de Fulvia Emiliano................................ Esposo de Aurélia João de Cleofas...................... Pregador Cristão Centurião.............................. Oficial Romano Jesus...................................... O profeta Cornélio................................. Oficial Romano Clódio.................................... Carcereiro Vespasiano............................ Imperador de Roma Tito....................................... Oficial, filho de Vespasiano Ítalo...................................... Escravo de André GRUPOS 01. Coral 02. Grupo de Dança SIMOPSE A ópera “Emmanuel” é uma história de caráter espírita que conta a trajetória de um Senador Romano (Públio Lentulus), da época de Cristo. O enredo é rico no que tange aos orgulhos do Império Romano, às vaidades, às injustiças, às tramas, às infidelidades e assassinatos. Muito embora possamos constatar esses caracteres malignos, a mensagem mais importante desse episódio é mostrar a capacidade do perdão. Desta feita, tratando-se de uma adaptação do livro “HÁ DOIS MIL ANOS” psicografado pelo médium Chico Xavier, através do espírito “Emmanuel” (Públio Lentulus, depois da sua desencarnação), isso não quer dizer que a história narrada aqui seja a expressão verídica de um fato ocorrido naquela época, porém um grande exemplo de superação do bem sobre o mal. Normando Carneiro da Silva
  • 3. 3 LIBRETO ATO I Cena Título Duração I Dois Amigos 06:30” II Em Jerusalém 09’:20” III Em Casa de Pilatos 05’:30” IV Obreiros do Mal 06’:35” V Viagem a Cafarnaum 08’:15” VI Jesus de Nazaré 10’:55” VII O Rapto 02’:20” Cena I - Dois Amigos (Publio e Flamínio) Personagem Voz Diálogos Publio Tenor Vede o martírio da filha minha, encontra-se em lepra! Flamínio Barítono Não desanimes; nossos deuses estarão prontos, verás! Nas constantes lutas faltarão jamais, faltarão jamais! Publio Tenor Deuses!? Tenho sonhos implacáveis de outras vidas em tragédias; entre sangue de inocentes habitando em outro corpo desenhava-me um vilão. Flamínio Barítono Sonhos! Ora tu meu bom amigo, nobre patrício! Como podes te abalar em fantasias em vão? Publio Tenor Sonhos, ou não deveis perceber; revi trajetórias, rastros sem luz. Flamínio Barítono Somos práticos homens da lei; sonhos a mais levam a escravidão; o bom senso vem dos deuses. Nossas conquistas, nossos triunfos, nosso Império e tudo mais! Renunciarias tudo, o teu nome, tudo em nome da imaginação? Publio Tenor Caro amigo, postulaste bem a razão, Mas nem tudo te foi revelado... Reconheces? Flamínio Barítono Sim, reconheço. Vejo a esfinge de um romano: Publio Lentúlio, teu bisavô, estrangulado há quase um século... Mas... És tu. Como pode?! Eu hesito! Semelhanças poderiam existir... Poderia pensar... Não! Isso não pode existir... Publio Tenor Veja pois nesses papiros, são notas antigas, projetos do meu bisavô. São rabiscos de
  • 4. 4 projetos entre os quais há sentenças fatais. Confronta essas letras. Flamínio Barítono Pelos deuses! ... São justaposições sim. Coincidências, mas é um fenômeno... Guarda-o contigo, estás cansado, esquece, há outros afazeres em conta amigo; há pois a tua filha em leito, em dor. O amor sempre amanhece da escuridão; da alma febril; vais meu amigo; vede a razão.pois na esperança terás o viver. Cena II – Em Jerusalém (Lívia, Públio, Pilatos, Fulvia, Sulpício e Coro) Personagem Voz Diálogos Lívia Soprano Minh’a alma clama, luta entre dois caminhos: nos da guarda pela filha minha; enquanto Roma, eterna sagrada; consagro o meu viver.
  • 5. 5 Estou, no entanto, aqui sem rumo, num mundo da escuridão; vivo em assédio, em atos vis do então Pilatos infeliz. Publio Tenor Que opulência, grande noite patrícia; revivo a vida de tantos sarais! Pilatos Tenor Tantos sarais? Senador, essa casa vos pertences em Jerusalém. Vinde aqui em minha casa se hospedar; não há em outros lares mais conforto do meu lar. Fulvia Contralto Exageras Pilatos. Publio e Lívia já são meus hóspedes. Ademais, a pequena Flávia merece a justa atenção. Estamos tão preocupados... Coitadinha... Coitadinha... Publio Tenor Não há dúvidas! Nossa Flávia é toda prioridade! E na verdade, buscamos abrigo nos campos Reais, Pilatos Tenor Sim! A cura do mal, o santo remédio, desde que não se transforme numa judia! Ah, ah, ah ah. Sulpício Barítono E por falar em Nazaré, já ouviram falar do profeta?... Sim Há em Nazaré o profeta Jesus. Pilatos Tenor Sulpício, o que é isso? Dás a impressão que estás de nova fé. Jamais! Mas Jesus é embriagador; nos envolve, nos confunde entre laços de união, quanta luz de esperança, envia-nos um salvador, amor sublime amor, lema da vida, a paz dos nossos corações. Em Jesus senti sua missão em mostrar que somos todos irmãos. CORO A 04 vozes Lema da vida eterna de esplendor; amor, sublime amor, lema da vida a paz em nossos corações, em Jesus senti sua missão. Em mostrar que somos todos irmãos. Pilatos Tenor Todos irmãos? Absurdo! Absurdo! E os escravos, e os vassalos, e as prerrogativas do patriciado do Império? E o que mais me admira, é que ser um homem prático romano, venha se misturar-se com essa gente. Sulpício Barítono Eu sei, eu sei, mas fiquei impressionado Pilatos Tenor Como deixastes empolgar? Sulpício Barítono Os milagres, os milagres. Pilatos Tenor No entanto, meu caro amigo: aqui nascem religiões, todas criadas assim: Fanáticos! E profetas! Ladrões! Feiticeiros! Os problemas do Estado são mais importantes. Ora essa Sulpício: mereces uma punição por narrativas tão importunas... Vamos nos divertir, serei vosso anfitrião.
  • 6. 6 Grupo de dança 12 pares “Dança árabe” Cena III – Em Casa de Pilatos (Pilatos, Lívia, Sulpício, Fulvia e Coro) Personagem Voz Diálogos Pilatos Tenor Oh linda flor do amor, dai-me esperanças nos braços meus; sois a paixão da minha vida, não esperes mais, sou louco por ti; és o acalanto dos meus sonhos, razão do meu viver. Amor, meu grande amor! Eu me desespero por ti; daria um mundo a teus pés, oh linda flor. Por que me repeles assim? Serás minha não te iludas, pois não deixarei que me impeças dessa paixão. Oh querida! Não ousai dizer-me não! Lívia Soprano Cala-te Pilatos! Pelos deuses! Tens esposa tão digna, tão leal! Como ousas? Como te atreves? Por quem me tomas Poncio Pilatos? Insano é o teu nome; jamais serei tua. Minha grande paixão só contempla um grande amor. Sulpício Barítono (comentando às escondidas com Fúlvia)
  • 7. 7 Deixaste de ser a preferida. Pilatos te outro amor, vês? Não hás de vingar?... Vens para mim Fulvia querida! Por ti daria tudo. Ordenai! Queres vingança? Tudo farei! Tudo terás! Fulvia Contralto Pois muito bem,como queres, serei tua. Em verdade desejas a mim? Antes, porém, serás meu cúmplice. Sulpício Barítono Que pretendes? Fulvia Contralto Criar provas que Lívia é infiel. Sulpício Barítono Mas que trama tens em mente? Fulvia Contralto É bem simples, mas diabólico, pois seremos implacáveis. Então concordas?...Então, o que me dizes? Sulpício Barítono Sim... Concordo!. CORO A 04 vozes Consumat est malo; Selaste vossos destinos; nas trevas habitarás. Peroniam secula seculorum. Fúlvia! Consumaste longo caminho em provas jus. Todo mal sucumbirá deste mundo pelo amor, pela dor dos mais cruéis. Cena IV – Obreiros do mal (Fulvia, Públio e Lívia) Personagem Voz Diálogos Fulvia Contralto Senador! Venho aqui em desagradável missão; venho preveni-lo de tão doloroso fato; como amiga estou aqui; não posso calar-me. Públio Tenor O que sabes de tanta gravidade?Fale! Fulvia Contralto Tua esposa; tens cuidado... Ontem mesmo,
  • 8. 8 com meus próprios olhos, a vi em intimidades com o próprio governador... Pilatos!... Queres uma prova? A terás em breve, quando partires para a nova morada. Não rejeites, pois, o toque experiente da voz de uma mulher. Lívia e Pilatos são amantes. Lívia Soprano Que tens meu querido? Vejo sombras em teus olhos. Estás cansado, precisamos partir. Apressai a nossa viagem. Públio Tenor A viagem? Com que propósito?! Lívia Soprano Querido... Não são nossos planos?... Públio Tenor Sim... És tudo para mim, nossos filhos são as flores da minha alma. Perdoa-me, perdoa- me, tenho vivido em louco temor! Ajuda-me, oh querida, pois os sonhos se foram da minha vida. Lívia Soprano Amor da minha vida, porque choras?... Nada mais podes temer. Públio Tenor Ando cercado de demônios, visões sombrias, todos a postos a nos separar. Lívia Soprano (“Alma Gêmea”) “Alma gêmea da minh’alma; flor de luz da minha vida; sublime estrela caída das belezas da amplidão. Quando eu errava no mundo, triste só no meu caminho, tu chegaste devagarzinho e encheste meu coração. Vinhas da benção dos deuses, na divina claridade. Tecer-me a felicidade em sorrisos de esplendor! És meu tesouro infinito. Juro-te eterna aliança porque sou sua esperança como és todo meu amor”.
  • 9. 9 Cena V – Viagem a Cafarnaum (Públio, Pilatos, Ana, Sulpício e Lívia) (Ainda em Jerusalém) Personagem Voz Diálogos Publio Tenor Governador! Minhas saudações. Devo partir; minha filha necessita de outros ares. Pilatos Tenor É pena, caro amigo. Vais a Cafarnaum? Publio Tenor Sim. Pilatos Tenor Maior prazer seria se aqui ficastes... Pois muito bem! Designarei Sulpício para acompanhá-lo e servi-lo. Procurarei visitá-lo. Publio Tenor Agradeço os teus cuidados os teus cuidados; partiremos; já ficaremos bem. Em Cafarnaum Personagem Voz Diálogos Ana Soprano Meu Deus, nosso Pai de bondade, Eis-me agora. Daí a força aqueles que suportam provações de uma vida, de outras vidas marcadas pelo desamor; Daí a luz da verdade. Oh Deus Pai, daí a estrela guia. Aos que então caminham nesse mundo sem fim. Senhor, que a vossa bondade ilumine e eleve a toda parte a esperança e a fé. Públio Tenor Amigo Sulpício, fale-me Daquele que chamam de Jesus... Vamos, fale!... Gostaria de saber. Sulpício Barítono Tenho visto e ouvido sínteses que contempla os fatos: mestre, visionário, profeta, o
  • 10. 10 Consolador, são qualidades que o povo maravilhado, veste Jesus. Públio Tenor Mas afinal, que ensina às multidões? O que o leva a salvar a humanidade? Sulpício Barítono O amor, eis o seu nome. Jesus, Jesus, o amor, o amor. Públio Tenor Bobagem! Bem se vê que se trata de um homem do povo. Fanatismo judaico cheio de propostas injustificáveis. Não me declino... Por outro lado, confesso: estou curioso. Esses fenômenos vêm aguçar a minha curiosidade... Sulpício Barítono Queres conhecê-lo... Mais de perto?... Públio Tenor Nunca! De modo algum irei! Sou um homem de Estado. Como ficaria a minha autoridade? (No quarto ao lado - Ana e Lívia) Ana Soprano Ah, senhora, guardo em meu coração os milagres do Mestre. Se levássemos a pobre Flávia em suas mãos... Lívia Soprano Impossível! Impossível! Pois iríamos contrariar o Senador. Ana Soprano Que felicidade terá em teu viver? Eis tua filha... Eis a dor... Senhora: busque a fé, em nome de Jesus. Lívia Soprano Tens razão, há luz em teus olhos. Não hesitarei. Públio será nosso portador. Cena VI e VII - Jesus de Nazaré e o Rapto (Jesus, Publio, Lívia, Ana, Sulpício e André de Gioras e coro)
  • 11. 11 Personagem Voz Diálogos Jesus Barítono Senador, porque me procuras? Porque e procuras?... Não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço do meu Pai. Venho atender à súplica de um coração oprimido. E ainda assim, meu amigo, não é uma causa de amor. Não é teu sentimento que salvará tua filha, porque fazes do egoísmo a razão. É sim, a fé que é divina, salvará a tua filha. Não! Não estás sonhando. Encontrarás o caminho do bem. Aproveita-o! Aproveita-o!... Pois verás o reino dos céus. Aproveita-o consciente, ou daqui há milênios, depois. Coro A 04 vozes Voltarás! Senador! Dois mil anos terás de ver. Jesus Barítono Volta ao lar, consciente do teu destino Públio Tenor Então, deverei renunciar abandonar as mais caras tradições, para me tornar um simples homem do povo? Nunca, Jamais! Sou o Senador Públio Lentulus, tenho da Pátria meu coração!... Públio Tenor (Em casa) E a nossa filhinha? Lívia Soprano Melhora milagrosamente. Existirá, querido, felicidade maior? Ah Jesus, meu Senhor... Públio Tenor Lívia, porque tanto exagero? Sabemos que nada mais lhe faltou. A melhora é natural... E quanto a ti (referindo-se a Ana), fanática cristã, influenciaste a minha esposa... Ana! Estás dispensada! Lívia Soprano Por que?!!! Quando agora deveríamos agradecer?! Quanto a Ana, sempre fiel companheira, nas lutas, nas dores! Oh não! (Se dirigindo a Ana). Não mereces tamanho rancor (Dirige-se a Públio): Reconsideres! Públio Tenor Nunca! Lívia Soprano Oh meu esposo... Públio Tenor És infantil! Não podemos nos igualar a servos! Ademais, esse Jesus não passa de um feiticeiro, tal como aqueles existentes em Roma. Lívia Soprano Não meu querido, Jesus esteve aqui. Públio Tenor Puras alucinações!!! Lívia Soprano (Ária) Querido Mestre, meu coração vibra feliz em louvor. Agradecemos Mestre Jesus, nossa esperança é o teu grande amor. Luz que ilumina, vinha do ser, aqui nos prostramos, frágeis almas febris.
  • 12. 12 Lívia Soprano Ana!... Porque não respondes? Porque não respondes? (Ana retorna) Públio Tenor Está bem (voltando-se para Ana), tu já podes ficar... Sob os teus cuidados (voltando-se para Lívia). Mas não admito crer nesse nome: Jesus. (Vão dormir e André de Gioras, um antigo inimigo de Públio, durante a noite, rapta o pequeno Marcus) André de Gioras Barítono Se os malditos romanos nos escravizam sem piedade, podemos também escravizar os seus descendentes. Eis a minha vingança Públio Lentulus. (Quando amanhece) Lívia Soprano Oh Senhor, meu filhinho foi raptado. Públio Tenor Mal posso crer, que desventura, meu primogênito, quem seria capaz de fazer tamanha crueldade? Porque razão roubaram Marcus de mim? ATO II Cena Título Duração VIII Calúnia Vitoriosa 09’ XIX A Morte de Flaminio 08’:55” X A Morte de Fulvia 06’ XI Últimas Confissões 10’:45 Cena VIII – Calúnia Vitoriosa (Ana, Lívia, Sulpício, Pilatos, Fulvia, Públio) Personagem Voz Diálogos Ana Soprano (na rua) Oh, senhora minha! Veja O profeta de Nazaré... Foi preso e está a caminho do calvário. Como?!... Mas é verdade!... Imploro- te, tomai alguma atitude, alguma atitude, não podemos perder mais tempo! Lívia Soprano Está bem. (Lívia sai à procura de Pilatos e encontra Sulpício) Sulpício Barítono Lívia?! Que desejas aqui?... Sozinha?... Lívia Soprano Sulpício ajude-me, preciso falar com Pilatos. Sulpício Barítono Ora, ora, queres mesmo? Levarei a senhora
  • 13. 13 aos aposentos íntimos do governador. Lá terás privacidade, lá encontrarás, quem sabe, o teu caminho. (Nesse mesmo tempo Fulvia encontra-se escondida, observando a cena e sai em busca de Públio) Fúlvia Contralto Eis agora, querida amiga minha vingança; não escaparás. Se não sou mais a preferida, te envolvi em trama fatal. Pilatos Tenor Lívia! Que surpresa agradável! Quem diria, quem diria!... Lívia Soprano Senhor governador! Suplico a vossa ajuda... O profeta de Nazaré... Pilatos Tenor Senhora: consumaste est, nada mais poderei fazer!... O Nazareno está morto... Mas, nós estamos aqui... Lívia Soprano Para trás!!! Não respeitas sequer a mulher de um senador romano?! (Lívia sai apressada do quarto de Pilatos, enquanto Fulvia e Publio observam escondidos). Fulvia Contralto Como vês com os teus próprios olhos, tua mulher, no quarto com Pilatos. Ainda tens dúvida? Ainda tens dúvidas? Que dizeis? Que dizeis? Publio Tenor Venceste... Venceste (Ária “Cálice de Martírios). Cálice de martírios, penúria de um grande amor; és a morte de todos os caminhos; és o espinho de toda minh’alma. Venceste Fulvia, venceste! Entrego-me tolhido. Não há mais a eterna aliança, nem juramentos de amor. (Vai para casa em busca de Lívia). Públio Tenor Lívia!... Todos os laços de afetividade que nos uniam estão mortos para sempre. Lívia Soprano Por que? O que é isso? Publio Tenor Cala-te!!!... Nem mais uma palavra, vi tudo com meus próprios olhos... Me traístes, me traístes... Desprezo-te por toda vida.
  • 14. 14 Cena IX– A Morte de Flamínio (Públio, Flamínio, Calpúrnia (só contracena) (Em sua casa, Públio recebe das mãos de um mensageiro, uma carta) Personagem Voz Diálogos Públio Tenor Uma carta... Da parte de Flaminio!... É grave seu estado de saúde. Flamínio está morrendo... (Públio volta a Roma) Públio Tenor Flamínio... Flamínio Barítono Públio... Aguardava a tua chegada, oh meu grande amigo, escuta-me atentamente, pois vejo-me às portas da morte. Públio Tenor Os deuses hão de te salvar! Flamínio Barítono Lembra-te daquela noite? Me confiaste um sonho, um mistério, um fenômeno... Públio Tenor Ora se me lembro simples impressões de sonhos, fantasias, meras ilusões!... Flamínio Barítono Fantasias?... Pois escutai: no meu leito de dor, invocava a proteção dos deuses, quando me vi em sono tão profundo, me transportei ao longo do passado, ao mesmo sonho que outrora me contaste. Mas entre o sangue de atrocidades eu era cúmplice de teu bisavô... Mas eras tu, Públio Lentulus, eras tu. Flamínio Barítono Calpúrnia, minha esposa, estou na hora extrema. Coro A 04 vozes Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome, venha anos nosso Reino, de misericórdia. Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como nos Céus, como nos Céus. Pai nosso. Cena X– A Morte de Fúlvia (Fulvia, Emiliano, Aurélia, Coro) (25 anos depois. Sulpício, já falecido, busca em espírito das trevas, o leito de morte de Fúlvia, que conversa com seu filho Emiliano) Personagem Voz Diálogos Fulvia Contralto Emiliano!... Não percebes? Ouve bem... Conheceste Sulpício, amigo de Pilatos? Hei- lo que chega com seus legionários das trevas. Fala de morte, a morte... Da morte. Socorre-me filho meu! Sulpício me apavora!... Emiliano Tenor Acalma-te, acredite nos deuses... Fúlvia Contralto Nos deuses? Ah, Ah, Ah! Os deuses?...Onde
  • 15. 15 estão os deuses desta maldita casa? Emiliano, nós criamos os deuses; são necessários ao Estado. Nós não somos nada. Somos pó. E o inferno? E os demônios? Devem sim existir... Hei-los que chegam!... Não me levarás!... Malditos!!!... Canalhas!... Emiliano Tenor Aurélia virá fazer-te companhia. Não podes entregar-te. Fúlvia Contralto Ah, Ah, Ah. Fazer-me companhia? Como podes crer nosso, oh filho meu? Tua esposa deve estar ao lado de outro, um antigo amante. Sabes de quem se trata? De Plínio Severius, esposo de Flávia, filha de Públio Lentulus... Fui eu que, induziu minha filha aos desvios dos obreiros do mal; facilitei-lhe o adultério, que se consumou sobre esse teto. Horroriza-te e vigia a tua mulher. Amanhã, quando estiver mais calma, lhe contarei todos os segredos da minha filha infiel! Aurélia Soprano (estava a escutar a mãe) Mãe! Pareces cansada, precisas repousar. Queres uma dose de calmante? (Aurélia se afasta e prepara um remédio acrescido de veneno) Aurélia Soprano (Em pensamento) Um segredo é sempre um segredo e só a morte poderá guardá-lo para sempre!... Para sempre!!! (oferece o cálice do veneno para a mãe e quando percebe que agoniza, simula uma crise de apavoramento) Aurélia Soprano Corram!!!... Depressa!!! Coro (A 4 vozes) Deixarás a vida retida no mal, teu penhor, seiva das trevas, choras em vão!!!
  • 16. 16 Cena XI– Últimas Confissões (Calpúrnia, Públio, Flamínio, coro ) Personagem Voz Diálogos Calpúrnia Contralto Públio! Na condição de amigo do meu falecido Flamínio, sempre te apoiei como Senador romano. E como chefe de família. Para mim, tua esposa sempre foi culpada dos males do teu casamento... Entre vocês havia um profeta. Refiro-me a Jesus de Nazaré, um convite ao amor, não soubemos compreender. Agora encontro-me doente, mas antes de partir quero que me ouças. Públio Tenor Minha amiga: tu não vais morrer. Só os deuses podem nos chamar. Calpúrnia Contralto Não duvido, mas compreendas... Mas me compreendas. Não quero levar para o túmulo uma falta não resolvida em meu coração. Públio Tenor Uma falta? Minha amiga! És um exemplo, oh Calpúrnia. Calpúrnia Contralto Agradeço-te meu grande amigo, mas tua gentileza não livrará meu pecado. Refiro-me a Lívia. A tua esposa é inocente, imaculada veemente, alma tão pura, elevada. Como nós fomos injustos, quando tua desprezastes, há quanto tempo negaste tua mulher que viveu, que te deu um coração de amor... Hoje, tive uma visão. Era o Flamínio, a luz do meu lamento, resplandecente em áureas perfumadas. Pedi ao espírito sua palavra, seu conselho para as minhas dúvidas. Então o espírito em clara voz falou: “Calpúrnia! Em má hora duvidaste de Lívia a quem deverias cuidar, acalentar tal como uma filha, porque Lívia é inocente” Públio! Acreditas? Sinceramente? Públio Tenor Acredito Calpúrnia Contralto E o que faremos? Públio Tenor Escuta-me: haverá uma grande festa do Estado em homenagem aos Senadores do Império. Estarei entre eles. Vitória afinal; receberei condecorações e presentes, próprios de um Senador. Tudo isso darei a Lívia, darei a Lívia, meu grande amor. Calpúrnia Contralto No grandioso Circo das nossas tradições, mostrarás ao mundo teu supremo amor. Mas tua Lívia, encanto sagrado, é mais que teu
  • 17. 17 supremo amor. (Calpúrnia morre e Públio sai do quarto.Logo depois um grupo de mensageiros espirituais se aproximam e cantam: Coro A 04 vozes Regozija-te no Senhor! Pois são chegadas vésperas da tua ventura eterna imorredoura!!! ATO III Cena Título Duração XII Nas catacumbas 7’30 XIII Na Prisão do Coliseu 7’,25 XIV Na Espiritualidade 7’00 XV A Queda de Jerusalém 13’25’’ XVI O Perdão 7’30 Cena XII– Nas Catacumbas (Lívia, Ana, João de Cleofas, Centurião, Coro) Personagem Voz Diálogos Lívia Soprano Ana! Desde a morte de Calpúrnia, noto diferenças em Públio. Já dirige-me a palavra com carinho. Ainda ontem afirmou-me que seu coração me reserva doce surpresa no Circo Romano. Sinto, porém, que nesse mundo não há mais tempo para novas venturas. Mas pelo menos, sei que não morrerei em discórdia com o meu companheiro. Ana Soprano Sim, minha senhora, ele reconheceu o seu pecado. Lívia Soprano Ana, ainda ontem, nas minhas orações, ouvi vozes que me anunciavam o Reino dos Céus. Ana Soprano Minha senhora, nas catacumbas uma nova voz de levantará. Trata-se de João de Cleofas. Falará em nome de Jesus. Senhora: vamos participar? (Saem, sem serem vistas, durante a noite, até as catacumbas. No recinto, um cemitério subterrâneo; diante de uma assembléia de cristãos, encontra-se João de Cleofas) João de Cleofas Baixo Irmãos: esteja convosco o Cordeiro de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelas revelações do Espírito Santo, os cristãos
  • 18. 18 dessa cidade foram escolhidos para o grande sacrifício, pelo Cordeiro de Deus. E eu nos venho anunciar nossa entrada no Reino dos Céus. Agradecemos em nome do amor, na fé em Cristo, oremos ao Pai. Roma batizará sua fé com o sangue cristão inocente! Lavaremos com sangue e lágrimas o brilho do falso poder. Mas chegará o fim dos dias de aniquidade perdida e um grande Império ruirá em pobreza sem fim. Coro A 04 vozes Senhor Jesus, Eis nosso coração... João de Cleofas Baixo Pai nosso que estás nos Céus, santificado Vosso Nome, venha a nós Vosso Reino de misericórdia, seja feita a Vossa Vontade, Assim na Terra como nos Céus, como nos Céus. Pai Nosso.. (No final da oração, repentinamente, entram no recinto, soldados romanos) Centurião Barítono Cristãos! Em nome de Cesar, deveis me acompanhar. (Nesse momento os cristãos se revoltam e ameaçam contra atacar) João de Cleofas Baixo Não meus irmãos!!! Não repitais nesse recinto a triste cena da prisão de Jesus. Centurião! Cumpra o seu dever! (Os cristãos são presos e levados para os calabouços do Circo Romano)
  • 19. 19 Cena XIII– Na prisão do Coliseu (Cornélio, Centurião, Clódio, Ana, Lívia) (Na prisão, os cristãos, acomodados no chão, ficam em subgrupos. Ana e Lívia Estão juntas. (Cornélio, o oficial encarregado, fala com o Centurião) Cornélio Barítono Pelo que vejo tudo está em ordem e o Imperador ficará satisfeito. Essa primeira caçada de cristãos era essencial ao glorioso dia dos senadores... Mas escuta- me: quem é aquela mulher que traz a toga das matronas da alta classe social? Centurião Barítono Ignoro. Muito me admirei de encontrá-la em tal ambiente, mas enfim, cumpri as vossas ordens. Cornélio Barítono Fizeste bem! Mas mantenho-na aqui até amanhã. Durante o espetáculo podemos libertá-la. Centurião Barítono E porque não agora, neste instante? Cornélio Barítono Insensatez: há riscos em demanda. Quero evitar posturas imponderadas (Nesse momento, abre-se uma grande porta rústica e surge uma figura de um soldado pavoroso pelo sinistro semblante: Clódio) Clódio Baixo Cristãos!!! Não há clemência de Cesar para os que professam a Doutrina do Nazareno. Poucas horas vos separam dos leões da arena do grande Circo Romano. (E fica ali, de prontidão, aguardando ordens. Cornélio e o Centurião, passando em revista aos prisioneiros, passam pela Lívia, cumprimentando-a respeitosamente. Ana observa e comenta) Soprano Noto que vos tratam com simpatia. Porque não requeres o direito da liberdade? Lívia Soprano Não, minha amiga; não sou mais desse mundo, só tenho a minha consciência, morrer em paz será o meu júbilo. Ana Soprano Mas... Teu esposo! Lívia Soprano Há vinte e cinco anos não tenho esposo. Públio buscou seu caminho no mundo terrestre; busquei na minha fé o meu caminho. Oh, Deus, oh meu Senhor, estou contigo... Tenho um último pedido. Ana Soprano Sou vossa escrava. Lívia Soprano Ouve-me mais uma vez: troca hoje
  • 20. 20 comigo, a toga da senhora ela túnica da serva! Ana Soprano Senhora!!! Lívia Soprano Não vaciles se queres me ver feliz. (Trocas as roupas) Cornélio Barítono Clódio: Podes providenciar a entrada dos prisioneiros na arena. Mas afasta aquela mulher com a toga do patriciado. Não quero complicações com a sua família. (Todos os cristãos são conduzidos para a arena, através de uma grande porta.Lívia passa e quando se aproxima a vez de Ana, que é a última fila, Clódio a intercepta e diz) Clódio Baixo .Senhora: ficareis aqui até segunda ordem Ana Soprano Mas por que? Pretendeis privar-me da glória do sacrifício? Clódio Baixo Serás a última. (Clódio se retira e Ana, sozinha, ouve o barulho ensurdecedor da platéia entusiasmada com o espetáculo carnificina, o espetáculo da morte. Logo depois, Clódio e o centurião entram)
  • 21. 21 Clódio Baixo .Senhora! Acompanhai-nos. Ana Soprano Por que?!!! Eu nada mais desejo, senão morrer com meus irmãos. Clódio Baixo Retirai-vos mulher, fugi sem demora! (Ana insiste, mas é conduzida à força para fora do recinto) Ana Soprano Não!!! Por favor!!! Senhora!!! Não!!! .Por favor!!! Não!!! Cena XIV– Na Espiritualidade (Lívia e Públio) (Ao saber do sacrifício de Lívia, Publio encontra-se em seu quarto em grande estado de depressão, quando tem uma visão. É o espírito de Lívia que se aproxima e chama-o) Lívia soprano Querido... Não estamos separados.
  • 22. 22 (Públio recorda-se do momento em que, há 25 anos, duvidando da esposa, pede-lhe perdão) Públio Tenor Sim... És tudo para mim! Nossos filhos são as flores da minha alma. Perdoa-me, tenho vivido em louco temor! Ajuda-me, oh querida, pois os sonhos se foram da minha vida. (Lívia percebe os pensamentos de Públio e repete as mesmas coisas voltadas para aquela cena) Lívia Soprano .Amor da minha vida, porque choras? Nada mais tens a temer... “Alma gêmea, da minh’alma, flor de luz da minha vida, sublime estrela caída, das belezas da amplidão. Quando eu errava no mundo, triste só no meu caminho;, chegaste devagarinho e encheste-me meu coração! Vinhas da benção de Jesus, de Jesus, da divina claridade, tecer-me a felicidade em sorriso de esplendor. És meu tesouro infinito... Juro-te eterna aliança porque sou tua esperança, como és todo meu amor. Cena XV– A queda de Jerusalém (André de Gioras, Tito, Públio, Vespasiano) (Públio é chamado pelo Imperador Vespasiano)
  • 23. 23 Vespasiano Baixo Senador! Públio Tenor Augusto!... Vespasiano Baixo Não, meu caro, entenda-me com a velha intimidade de outros tempos, deixe de protocolos... Jerusalém encontra-se amotinada e o cerco em prol da sua tomada vem se prolongando em demasia. Meu filho Tito, já encontra-se na Judéia. Muito embora, capaz, precisará de conselho, orientação. Estivestes em Jerusalém, lá ficastes muitos anos, conheces bem a natureza daquele povo. Era, pois, meu desejo, que aceitasses a incumbência de orientar a tática militar do meu filho. Tito necessita da sua cooperação. Públio Tenor Meu nobre imperador! Vossa palavra Augusta é a palavra do Império. Vespasiano Baixo Muito agradecido. Tudo estará pronto, de modo que sua partida e de dois ou três amigos, se verifique dentro de duas semanas.
  • 24. 24 (Jerusalém, apesar de vencida pelos Romanos, Públio, mais um companheiro, também senador, numa revista a determinados locais da cidade, foram aprisionados pelo inimigo e levados à presença de um dos chefes da resistência. Esse chefe era o então André de Gioras, o israelita que raptou Marcus, filho de Públio) André de Gioras Barítono Ilustríssimos senadores! Eu vos conheço de longos anos, sobretudo honro-me com a presença do orgulhoso senador Públio Lentulus, antigo legado de Tibério e seus sucessores dessa província perseguida e flagelada pelas pragas romanas!!!. Públio Lentulos! Sou André de Gioras... Guarda! Vai depressa e dize a Ítalo que venha a minha presença... A queda de Jerusalém está iminente, mas darei a última gota do meu sangue para exterminar as víboras do vosso povo. Vossa raça maldita veio cevar-se na cidade eleita, mas eu exulto com a minha vingança. Em vos ambos, orgulhosos dignitários do Império criminoso. Hei-los!... Já estão chegando. Senhores!... Estamos chegando ao fim da nossa defesa. Mas temos o consolo de guardar dois grandes chefes do amaldiçoado Império Romano. Um deles é Pompilo Crasso, que começou sua carreira de homem publico inaugurando um longo
  • 25. 25 período de terror entre os nossos compatriotas infelizes... O outro, senhores, é Públio Lentulus, orgulhosos legado de Tibério e de seus sucessores na Judéia humilhada de todos os tempos, que escravizou nossos filhos ainda jovens. Organizou processos criminais em todas zonas provinciais, fomentando o pavor de nossos irmãos,lá da sua residência da Galiléia. Pois bem, antes que os malditos soldados nos aprisionem cumpra-nos vossos destinos... Nossa vingança deve obedecer aos critérios da antiguidade: primeiramente morrerá Pompilio Crasso, por ser o mais velho. Nicandro! Esse trabalho lhe compete (Nicandro obedece e com um só golpe, mata o Senador. André continua seu julgamento) André Barítono Ítalo!... Compete às tuas mãos a tarefa desse momento. (Os olhos do Senador buscam ansiosamente na figura de ítalo um personagem familiar. André percebe e continua) André Barítono Então Senador: admiras o Ítalo? Vês agora?, É do tipo romano... Que te pareces?... Há afinidade?... É um escravo de grande valor... (Dirigindo-se a Ítalo) André Barítono Porque hesitas? Terei que usar o chicote? Obedeças!!!... (Nesse momento, Ítalo, também envolto a emoções inexplicáveis, hesita, mas termina obedecendo, arrancando com um só golpe de espada os olhos do Senador) André Barítono Poderia matar-te Senador infame, mas quero que vivas nas trevas da vida. Vou revelar-te quem é Ítalo, o teu algoz do último instante... Ítalo...
  • 26. 26 (Nesse momento o ambiente é invadido pelos soldados romanos, que impedem, através de um golpe certeiro na cabeça do André a continuidade da sua revelação. Ítalo é morto e os demais são presos. André apenas desmaiado é arrastado,também como prisioneiro). (Tito trata o cadáver de Ítalo com desprezo, quando Públio agora sob socorros médicos, intervém) Públio Tenor Um momento!... Recomendo que tratem com respeito o cadáver do jovem Tito Tenor Senador! Não esqueçais, pois esse homem vos deixou nesse estado. Está cego para toda vida. Públio Tenor Enganai-vos meu amigo, esse homem que mais não vejo, foi contemporâneo nosso, em cativeiro, por um senhor de Jerusalém. Cena XVI– O Perdão (Públio, André de Gioras) (A Queda de Jerusalém culminou com um grande cortejo de prisioneiros pelas ruas, a caminho da execução. Públio queria encontrar André de Gioras, pois necessitava da confirmação das suas suspeitas acerca da identidade verdadeira de Ítalo. Já preso, acompanhado por Tito, André é localizado e Públio é deixado à presença de André) Públio Tenor Senhor André, provoquei esse encontro para esclarecer as dúvidas de minh’alma: solicito a identidade daquele que me crestou a vista para sempre. Não posso aqui mais ordenar. Eu suplico, senhor, em favor de um pai, revelai a mim teu coração. André Barítono Públio Lentulus não desesperes, revelarei todo o meu segredo. Na vossa dor, avaliei o meu crime e ainda não sei se mereço o vosso perdão. Há muitos anos pedi para meu filho Saul, preso por vossas mãos, mas não me destes ouvidos. Não conseguindo, jurei a qualquer custo
  • 27. 27 roubar-lhe o filho do coração. Pois bem Senador, aquele a quem chamei de Ítalo e que foi vosso carrasco, era vosso filho, era vosso filho Senador!!!... Perdoa-me!!!... Perdoa-me!!!... Perdoa-me pelo amor de Deus. (Nesse momento, Lívia volta a aparecer encoberta por uma luz divina. Públio a contempla, pensa, medita e voltado para André, em triste semblante, responde) Públio Tenor Estás perdoado. F I M