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Mercado de Carbono




                      A bola da vez para os paí
                  T
                            udo começou no protocolo de Kyo-      não tem a obrigação de reduzir as emissões,
                            to e percorreu caminhos amplos        mas tem, com certeza, absoluto papel a de-
                            como o CCX - Chicago Climate          sempenhar nesse mercado, através do Meca-
                            Exchange. O resultado concreto do     nismo de Desenvolvimento Limpo (MDL),
                  Protocolo de Kyoto foi a ampla negociação       que se tornou ferramenta de flexibilização
                  internacional, que nasceu na conferência        do Protocolo. Desenvolvido para reduzir os
                  Rio 92 e foi assinado em 1997.                  custos dos países do Anexo I no atendimen-
                     Neste documento, os países listados no       to de suas metas, o MDL tornou-se assim o
                  Anexo I (os chamados desenvolvidos) terão       único meio que permite a interação entre
                  de reduzir suas emissões de Gases de Efei-      os países do Anexo I e os não listados. O
                  to Estufa (GEE) em 5,2% em relação aos          objetivo é, portanto, possibilitar que países
                  níveis declarados em 1990, para a primeira      do Anexo I cumpram seus compromissos e
                  etapa do compromisso (2008 e 2012).             propiciar que os países menos industrializa-
                     Para que o assunto tomasse a proporção       dos (não-Anexo I) reduzam suas emissões e
                  devida, era necessário atender duas premis-     promovam o desenvolvimento sustentável.
                  sas: que 55 países (desenvolvidos) o ratifi-    Suas atividades deverão respeitar às diretri-
                  cassem e que as emissões desses países equi-    zes do Conselho Executivo, designado pelos
                  valessem à pelo menos 55% das emissões de       países que integram o Protocolo.
                  GEE em 1990.                                       Assim, as nações listadas no Anexo I es-
                     Nota importante: com a recusa dos Es-        tão de olho em países capazes de produzir
                  tados Unidos em ratificar o Protocolo, em       projetos que resultem em redução de emis-
                  2001, criou-se também outra condição neces-
                  sária, a ratificação da Rússia, o que ocorreu
                  no final de 2004. Portanto, o Protocolo pas-
                  sou a vigorar somente em fevereiro de 2005.
                     Outra iniciativa criada com a recusa ame-
                  ricana em ratificar o Protocolo foi o CCX
                  - Chicago Climate Exchange, mercado vo-
                  luntário e auto-regulado, onde as empresas
                  se comprometeram a reduzir suas emissões
                  de GEE em 1% cumulativamente entre 2003
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                  emitidos entre 1998-2001. Isto é, ao final
                  de 2006, as empresas deveriam ter reduzido
                  suas emissões em 4%.
                     O Brasil não faz parte do Anexo I. As-       André Luís Saraiva, é diretor da Área de
                  sim, no primeiro período de compromisso,        Responsabilidade Socioambiental da Abinee



     Revista Abinee
40   dezembro/2008
André Luís Saraiva




íses em desenvolvimento
  sões quantificadas e certificadas para comer-   Outra variável primordial a ser obser-
  cializá-las junto aos países                                 vada no RCE é que, além
  desenvolvidos, computan-                                     de caracterizar a qualida-
  do esse volume como quan-
                                        “Este assunto          de da mercadoria a ser
  tidades reduzidas. Para essa    merece consideração ofertada e as reduções de
  operação ter validade, os                                    emissões de GEE em to-
  projetos precisam obter o              especial por          neladas equivalentes de
  RCE - Reduções Certifica-                                    COE, o projeto demons-
  das de Emissão -, podendo           sua amplitude e          tre credibilidade e consis-
  envolver entidades priva-                                    tência do ponto de vista
  das ou públicas. Os RCE
                                     benefícios diretos        econômico, social e am-
  deverão traduzir os seguin-          que pode trazer         biental.
  tes ganhos reais: mitigação                                     O MDL deve ser visto
  da mudança do clima e                 aos países em          com muita seriedade, pois
  redução de gases de efeito                                   propicia projetos com tec-
  estufa, e promover redução         desenvolvimento”          nologia limpa, recursos
  de emissões adicionais, ou                                   de longo prazo e, ainda,
  seja, uma redução que não seria obtida no     pode mudar o cenário dos investimentos
  caso da inexistência do projeto.              no Brasil.



                      Central de ServiçoS
            Condições especiais, para aquisição de produtos
          e serviços, à disposição das empresas associadas da
                           Abinee / Sinaees-SP

                                             INFORMAÇÕES

                   www.abinee.org.br - www.sinaees-sp.org.br
                      11 2175.0022 - wel@abinee.org.br


                                                                                         Revista Abinee
                                                                                         dezembro/2008    41

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Mercado de Carbono: A bola da vez para os países em desenvolvimento

  • 1. Mercado de Carbono A bola da vez para os paí T udo começou no protocolo de Kyo- não tem a obrigação de reduzir as emissões, to e percorreu caminhos amplos mas tem, com certeza, absoluto papel a de- como o CCX - Chicago Climate sempenhar nesse mercado, através do Meca- Exchange. O resultado concreto do nismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), Protocolo de Kyoto foi a ampla negociação que se tornou ferramenta de flexibilização internacional, que nasceu na conferência do Protocolo. Desenvolvido para reduzir os Rio 92 e foi assinado em 1997. custos dos países do Anexo I no atendimen- Neste documento, os países listados no to de suas metas, o MDL tornou-se assim o Anexo I (os chamados desenvolvidos) terão único meio que permite a interação entre de reduzir suas emissões de Gases de Efei- os países do Anexo I e os não listados. O to Estufa (GEE) em 5,2% em relação aos objetivo é, portanto, possibilitar que países níveis declarados em 1990, para a primeira do Anexo I cumpram seus compromissos e etapa do compromisso (2008 e 2012). propiciar que os países menos industrializa- Para que o assunto tomasse a proporção dos (não-Anexo I) reduzam suas emissões e devida, era necessário atender duas premis- promovam o desenvolvimento sustentável. sas: que 55 países (desenvolvidos) o ratifi- Suas atividades deverão respeitar às diretri- cassem e que as emissões desses países equi- zes do Conselho Executivo, designado pelos valessem à pelo menos 55% das emissões de países que integram o Protocolo. GEE em 1990. Assim, as nações listadas no Anexo I es- Nota importante: com a recusa dos Es- tão de olho em países capazes de produzir tados Unidos em ratificar o Protocolo, em projetos que resultem em redução de emis- 2001, criou-se também outra condição neces- sária, a ratificação da Rússia, o que ocorreu no final de 2004. Portanto, o Protocolo pas- sou a vigorar somente em fevereiro de 2005. Outra iniciativa criada com a recusa ame- ricana em ratificar o Protocolo foi o CCX - Chicago Climate Exchange, mercado vo- luntário e auto-regulado, onde as empresas se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE em 1% cumulativamente entre 2003 e 2006 (fase piloto), com relação aos níveis emitidos entre 1998-2001. Isto é, ao final de 2006, as empresas deveriam ter reduzido suas emissões em 4%. O Brasil não faz parte do Anexo I. As- André Luís Saraiva, é diretor da Área de sim, no primeiro período de compromisso, Responsabilidade Socioambiental da Abinee Revista Abinee 40 dezembro/2008
  • 2. André Luís Saraiva íses em desenvolvimento sões quantificadas e certificadas para comer- Outra variável primordial a ser obser- cializá-las junto aos países vada no RCE é que, além desenvolvidos, computan- de caracterizar a qualida- do esse volume como quan- “Este assunto de da mercadoria a ser tidades reduzidas. Para essa merece consideração ofertada e as reduções de operação ter validade, os emissões de GEE em to- projetos precisam obter o especial por neladas equivalentes de RCE - Reduções Certifica- COE, o projeto demons- das de Emissão -, podendo sua amplitude e tre credibilidade e consis- envolver entidades priva- tência do ponto de vista das ou públicas. Os RCE benefícios diretos econômico, social e am- deverão traduzir os seguin- que pode trazer biental. tes ganhos reais: mitigação O MDL deve ser visto da mudança do clima e aos países em com muita seriedade, pois redução de gases de efeito propicia projetos com tec- estufa, e promover redução desenvolvimento” nologia limpa, recursos de emissões adicionais, ou de longo prazo e, ainda, seja, uma redução que não seria obtida no pode mudar o cenário dos investimentos caso da inexistência do projeto. no Brasil. Central de ServiçoS Condições especiais, para aquisição de produtos e serviços, à disposição das empresas associadas da Abinee / Sinaees-SP INFORMAÇÕES www.abinee.org.br - www.sinaees-sp.org.br 11 2175.0022 - wel@abinee.org.br Revista Abinee dezembro/2008 41