Este artigo analisa as etapas da iniciação maçônica no grau de Aprendiz Maçom por meio da jornada do herói. A iniciação segue as três fases da jornada: 1) a separação, quando o candidato é convidado; 2) a iniciação, com provas e vitórias; 3) o retorno, com o aprendizado psicológico.
1. 15
A INICIAÇÃO MAÇÔNICA:
UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA DO HERÓI
Rafhael Guimarães¹
Resumo
O presente artigo visa realizar análise das diferentes etapas da iniciação maçônica no grau de Aprendiz Ma-
çom do Rito Escocês Antigo e Aceito por meio da mitologia existente nos ciclos da jornada do herói, de for-
ma a verificar a mitologia maçônica do primeiro grau com o conceito de monomito e compreender o ritual
de iniciação do Rito Escocês como processo de evolução psicológica do iniciando.
Palavras-chave: mitologia; iniciação; Maçonaria.
Recebido: 02/05/2013
Aprovado: 10/06/2013
Abstract
This article aims at analyzing the different stages of Masonic initiation in the Entered Apprentice degree of
the Ancient and Accepted Scottish Rite through cycles of mythology exists in the hero's journey, in order to
verify the mythology of the first masonic degree with the concept of monomyth and understand the initia-
tion ritual of the Scottish Rite as a process of neophyte’s psychological evolution.
Keywords: mythology; initiation; Freemasonry.
¹ Rafhael Guimarães é Mestre Maçom, membro da GLMEES, e Maçom do Real Arco, filiado ao SGCMRAB. Além de pertencer a ou-
tras Ordens Iniciáticas, ministra cursos e palestras sobre Cabala, Astrologia e Tarô.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15-22, Mai/Ago, 2013.
2. 16
Introdução
Este estudo tem por objetivo analisar as in-
fluências arquetípicas e, consequentemente, mitoló-
gicas sobre a iniciação maçônica no Rito Escocês Anti-
go e Aceito, por intermédio da teoria conhecida por
Jornada do Herói.
Muitos talvez possam julgar os rituais maçôni-
cos como obsoletos, sem sentido ou mesmo inúteis.
Serão apontadas as evidências de que os rituais ma-
çônicos e a mitologia que os estruturam têm forte
efeito sobre o inconsciente de seus praticantes
(JUNG, 2005).
Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as
religiões e mitologias da humanidade, e todas essas,
de uma forma ou de outra, podem ser encontradas
em alguma medida, representadas nas alegorias ma-
çônicas (MAXENCE, 2010).
Ao contrário da escola freudiana, que afirma
que os mitos estão profundamente enraizados den-
tro de um complexo do inconsciente, para Jung, a
origem atemporal dos mitos reside dentro de uma
estrutura formal do inconsciente coletivo. Torna-se
assim uma diferença considerável para Freud, que
nunca reconheceu a autonomia congênita da mente
e do inconsciente, enquanto que, para Jung havia
uma dimensão coletiva inata e com autonomia ener-
gética.
As ideias apresentadas por Jung foram o em-
basamento científico que o estudioso das Religiões e
Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, adotou
para sustentar as similaridades existentes entre todas
as religiões e mitologias da história. Tal conceito cha-
mado anteriormente de “Monomito”² por Jaymes
Joyce, foi esmiuçado por Campbell, que mostrou to-
do o roteiro da manifestação arquetípica do herói,
que se encontra presente na sociedade como um ar-
quétipo do Inconsciente Coletivo (JUNG, 2005; JUNG,
2011a).
Dessa forma, o presente estudo se embasará nos tra-
balhos de Campbell e Jung, analisando e comparando
a iniciação maçônica sob a luz da jornada do herói.
Compreende-se a validade e relevância de tal aborda-
gem pelo fato da literatura maçônica publicada no
Brasil privilegiar as interpretações ritualísticas que
seguem um raciocínio estrito ao entendimento cons-
ciente de seus ensinamentos morais (ISMAIL, 2012),
desconsiderando os efeitos psicológicos produzidos
pela prática ritualística (JUNG, 2005).
Depois do trabalho de psicanalistas que tanto
utilizaram da mitologia para embasar seus argumen-
tos, como Sigmund Freud, Carl G. Jung, Wilhelm Ste-
kel, Otto Rank, e muitos outros, os quais desenvolve-
ram teorias substancialmente fundamentadas de in-
terpretações de mitos, faz-se necessário explorar tais
conhecimentos, empregando-os numa melhor com-
preensão dos rituais e, finalmente, da Maçonaria em
si.
Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as
religiões e mitologias da humanidade, e muitas des-
sas estão de alguma forma presentes nas alegorias
maçônicas (MAXENCE, 2010), seja de forma direta ou
indireta. Conquanto, neste estudo em particular, se-
rão discutidas as semelhanças que há nos rituais ma-
çônicos, em especial no de Iniciação do Rito Escocês
Antigo e Aceito, as demais mitologias do mundo. Nas
palavras ad-referendum do erudito norte americano,
Joseph Campbell (2007):
A esperança que acalento é a de que um escla-
recimento realizado em termos de compara-
ção possa contribuir para a causa, talvez não
tão perdida, das forças que atuam no mundo
de hoje, em favor da unificação, não em nome
de algum império político ou eclesiástico, mas
com o objetivo de promover a mútua compre-
ensão entre os seres humanos. Como nos di-
zem os Vedas: "A verdade é uma só, mas os
sábios falam dela sob muitos no-
mes” (CAMPBELL, Herói de mil faces).
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² O termo “Monomito” é de autoria de James Joyce, da obra “Finnegans Wake”.
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3. 17
A Jornada Arquetípica do Herói na Mitologia Maçô-
nica
Jornada do herói X Iniciação Maçônica
O intitulado “Herói” na análise psicológica da sua ma-
nifestação, pode ser compreendido como um arqué-
tipo dentro da psique coletiva (JUNG, 1978). Para re-
forçar tal teoria, Campbell indica sua representação
nas mais conhecidas culturas e religiões ao redor da
terra (CAMPBELL, 2007). Também poderemos encon-
trá-lo em ordens iniciáticas como a Maçonaria.
Conforme o autor, o herói é encontrado es-
sencialmente nas histórias de Atum, do Antigo Egito;
de Marduk, dos Mistérios Sumerianos; de Apolo, Fe-
bo, Héracles, Dionísio e Orfeu, da Mitologia Greco-
Romana; de Krishna, da Religião Hinduísta; de Baldur,
dos Mistérios Nórdicos; de Amaterasu, na religião
Xintoísta; de Oxalá, Oxalufã, e Oxaguiã, das Religiões
Afro-brasileiras; de Rei Arthur, Galahad e Persival, na
história mitológica do Santo Graal; na verídica histó-
ria de Jacques DeMolay, nos Cavaleiros Templários;
em Christian Rosenkreuz, nas Núpcias Alquímicas da
Tradição Rosa Cruz; em vários heróis cinematográfi-
cos, como Luke Skywalker, Indiana Jones, James
Bond, Superman, Harry Potter, Frodo Bolseiro e Ara-
gorn; além de Jesus o Cristo, da Religião Cristã (DEL
DEBBIO, 2008). Em todas estas histórias, encontram-
se similaridades que podem ser compreendidas pelo
conceito de Inconsciente Coletivo. Por fim, na Mitolo-
gia Maçônica tem-se a lenda de Hiram Abiff, mito es-
se exclusivo da Maçonaria (STAVISH, 2011).
Embora a Mitologia Maçônica utilize do con-
texto contido no Antigo Testamento, pouco se tem
no mito de conteúdo especificamente bíblico, haja
visto que o enredo principal é composto por mitos
elaborados. Malgrado, muitos são os maçons que in-
sistem em fundamentar a maçonaria na bíblia, ou,
pior ainda, fundamentar a história pela Maçonaria
(ISMAIL, 2012). O maior exemplo de elaboração míti-
ca na Maçonaria é a de Hiram Abiff, o protagonista da
lenda do grau de Mestre Maçom. Não há, logicamen-
te, registros históricos de tais eventos, e interpretá-
los no sentido literal é um erro crasso, pois mitos de-
vem ser interpretados, como já dito, de forma simbó-
lica e não literal (CAMPBELL, 2002; CAMPBELL, 2008).
Conforme descreve Arthur E. Waite, em “A
New Encyclopedia of Freemasonry”:
A lenda do mestre construtor é a grande ale-
goria maçônica. Sucede que essa história figu-
rativa baseia-se num personagem mencionado
nas sagradas escrituras, mas o pano de fundo
histórico é acidental e não essencial, assim o
importante é a alegoria e não um ponto histó-
rico qualquer que esteja por trás dela” (1921,
p.366-267)
O Monomito
Assim como a psique humana é dividida em
três partes pela Psicologia Analítica, a Jornada do He-
rói também o é, podendo ser classificada como: a)
separação ou partida; b) iniciação ou provas e vitó-
rias; e c) o retorno (CAMPBELL, 2007). Esse ternário
constitui a base essencial do mito, bem como dos Ri-
tuais de Passagem (VAN GUENNEP, 2011). No que
concerne a Iniciação Maçônica, essa pode perfeita-
mente ser enquadrada neste postulado, como o estu-
do demonstrará abaixo.
A teoria da Jornada do Herói teve por base a
ideia do Monomito difundida por James Joyce, vindo
a ser aperfeiçoada por Campbell pela associação com
o conceito freudiano de forças do Inconsciente, al-
cançando seu embasamento científico com a psicolo-
gia analítica ou arquetípica de Jung, que propõe o
conceito psicológico de Arquétipos e Inconsciente
Coletivo. A estruturação dos Ritos de Passagem pelo
antropólogo Arnold Van Guennep possibilitou a análi-
se das diferentes fases da aventura do herói, bem
como as diversas manifestações do mesmo, nas soci-
edades tribais (VAN GUENNEP, 2011).
Para tanto, será apresentada a constituição
básica da Jornada do Herói, seus significados psicoló-
gicos e antropológicos, que estão presentes em for-
mas disfarçadas nos contos e mitos, além é claro, de
exemplificar o contexto maçônico da mitologia, ideia
central deste artigo.
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4. 18
Partida ou Separação: O chamado da aventura
Eu o proponho, na devida forma, como um
candidato apropriado para os mistérios da
Maçonaria. Eu o recomendo, como digno de
compartilhar privilégios da Fraternidade, e,
em consequência de uma declaração de suas
intenções, feita de forma voluntária e devida-
mente atestada, eu acredito que ele seguirá
estritamente em conformidade com as regras
da Ordem (Illustrations of Masonry, PRESTON,
1867, p.26)
A primeira tarefa do herói, no caso maçônico,
o candidato à iniciação, consiste em retirar-se da ce-
na mundana, do mundo comum, e iniciar uma jorna-
da pelas regiões causais da psique (templo maçôni-
co), onde residem efetivamente as dificuldades, para
torná-las claras, conscientes e erradicá-las em favor
de si mesmo (CAMPBELL, 2008). Normalmente um
problema se apresenta diante do herói a fim de con-
vocá-lo a cumprir sua missão, mas também poderá
ocorrer um fator incisivo para o crescimento do he-
rói, como curiosidade, sonhos ou desejos. Deste mo-
do, conforme o procedimento maçônico padrão
(PRESTON, 1867), o candidato é geralmente convida-
do a iniciar na Sublime Ordem. O convite parte do
chamado no meio maçônico de padrinho, o qual figu-
ra a função de arauto. E na aceitação do convite resi-
de o “chamado da aventura” (CAMPBELL, 2007), que,
em outras palavras, é um sinal enviado pelo inconsci-
ente.
A recusa do chamado
Sempre se tem, tanto na vida real como nos contos
mitológicos, o triste caso do chamado que não obtém
resposta, havendo, pois, o desvio da atenção para
outros interesses. A recusa à convocação acaba por
aprisionar o herói mitológico, seja pelo tédio, pelo
trabalho duro ou pela ignorância. A recusa é uma ne-
gação à atitude de renunciar àquilo que a pessoa
considera interesse próprio, e tal recusa caracteriza-
se, essencialmente, pela identificação da persona³
com seu ego´ o que acarretaria no conceito psicológi-
co de Inflação (HALL; NORDBY, 2010).
Como exemplo, pode-se citar o caso da espo-
sa de Ló, que se tornou uma estátua de sal por ter
olhado para trás, desobedecendo assim a instrução
recebida. A forte emoção que dominou Ló tornar-se-
ia uma “recusa do chamado”, pois poderia efetiva-
mente ter rompido com a jornada. ⁵
A recusa do chamado na maioria das vezes é
representada pelo medo em suas várias manifesta-
ções. É dessa forma que, muitas vezes, ocorre a
“recusa do chamado” na jornada maçônica. Se por
algumas vezes o medo do desconhecido ou oculto
impede candidatos de iniciar, outras vezes a própria
cultura de certas sociedades trata de cumprir esta
função.
O auxílio sobrenatural
Para aqueles que não recusam o chamado, o
primeiro encontro da jornada do herói se dá com
uma figura protetora, que fornece ao candidato aju-
da para lhe proteger na jornada que estará prestes a
deparar-se.
As mitologias mais elevadas desenvolvem o
papel na figura de uma espécie de guia ou de mestre.
No mito grego esse guia é Hermes-Mercúrio, e no
mito egípcio sua contraparte é Thoth. Nas tradições
judaicas, Noé contou com uma pomba. Na mitologia
cristã encontramos como guia o Espírito Santo
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³ Em grego significa “máscara”.
´ Na visão de Jung, Ego é o nome dado à organização da mente consciente, constituindo-se de percepções conscientes, de recor-
dações, pensamentos e sentimentos. A menos que o Ego reconheça tais percepções elas não chegariam a nossa consciência. Tais
reconhecimentos do Ego são estabelecidos pela função dominante de cada pessoa (sensibilidade, objetividade, etc.). Uma forte
experiência pode forçar entrada pelo ego ocasionando graves consequências (traumas). O Ego passa a falsa ideia de que ele é,
essencialmente, nossa inteira consciência, ou melhor, nossa Psique como um todo. (HALL; NORDBY, 2010)
⁵ Gênesis 19:26: “E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal.”
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5. 19
(CAMPBELL, 2007).
Na iniciação pelo Rito Escocês Antigo e Aceito
da Maçonaria, fica evidente a figura de auxílio na jor-
nada na função do oficial chamado de Experto, que
conduz o iniciando por caminhos escabrosos, porém,
oferecendo-lhe a devida proteção: “Eu serei o vosso
guia, tendes confiança em mim, e nada receeis”. A
função do Experto durante a iniciação é conduzir o
candidato, que estando privado de certas faculdades,
necessita inexoravelmente do amparo do guia.
A passagem pelo primeiro limiar
Tendo resistido ao medo, muitas das vezes
personificado como medo de morte, simbolizado no
Rito Escocês pela passagem pela câmara de reflexões,
o herói segue em sua aventura até chegar ao conhe-
cido na Jornada do Herói por “guardião do limi-
ar" (CAMPBELL, 2008). Entende-se psicologicamente
pelo limiar como a passagem do consciente para o
inconsciente, onde se adentra a um mundo de fanta-
sias e imagens, semelhantes aos sonhos. Ou seja, um
mundo mítico.
No âmbito mitológico, esse primeiro limiar é
representado pela presença de um guardião e o mes-
mo está associado, variavelmente, a um posto que
pode ser uma porta, ponte ou lago, simbolizando o
limiar. Isto posto, na Iniciação pelo Rito Escocês a
passagem pelo primeiro limiar ocorre no momento
em que o candidato é levado à porta do templo e re-
cebido pelo Guarda do Templo, também chamado
em algumas versões de rituais de Cobridor Externo.
Após sua passagem, ou seja, após ser franqueado seu
ingresso, o candidato passa a vivenciar uma nova e
única experiência, simbolicamente sobrenatural.
Provações e testes: O ventre da baleia
A ideia de que a passagem pelo limiar é uma
passagem para uma esfera de renascimento é simbo-
lizada na imagem mundial do útero ou ventre da ba-
leia. O herói é comumente jogado no desconhecido,
dando a impressão de que morreu, ou, em alguns
casos, é submetido a testes e provações, de forma
que aprenda as regras deste novo mundo
(CAMPBELL, 2007).
Como exemplo pode-se citar alguns contos,
como do Chapeuzinho Vermelho, no qual ela é engo-
lida pelo lobo. Da mesma forma, todo o panteão gre-
go, exceto Zeus, foi engolido pelo pai Cronos. Já na
Bíblia e no Alcorão encontramos Jonas, que é engoli-
do por um peixe e passa três dias e três noites em
suas entranhas, e acaba saindo de lá vivo.⁶ Arnold
Van Guennep (2011), salienta que a morte momentâ-
nea ou aparente é tema principal das iniciações tri-
bais.
Na jornada maçônica o iniciando é colocado à
prova por testes simbólicos, para que coloque a mos-
tra sua coragem de forma a persistir na senda da vir-
tude. Curioso que o ritual maçônico trata tais testes
de forma a simbolicamente tentar afastar o candida-
to de seu caminho, como, por exemplo, fazendo-o
seguir por “caminhos escabrosos”.
Provas e Vitórias: A Descida
Tendo sido vitorioso nos primeiros testes e
provas, ao cruzar por completo o limiar, o herói cami-
nha por uma paisagem onírica povoada por formas
curiosamente fluidas e ambíguas, na qual deve sobre-
viver a uma sucessão de novas provas. O herói conti-
nua a ser auxiliado, de forma indireta, por Guias e
Mestres. Porém, aos poucos ele percebe que existe
um poder benigno, presente em toda parte, que o
sustenta em sua passagem sobre-humana
(CAMPBELL, 2008).
Um mito interessante sobre esse caminho de
provas, e um dos mais antigos da história, é o registro
sumeriano da descida ao mundo inferior pelos por-
tais da metamorfose, pela deusa Inana. Tal mito era
ritualisticamente praticado na antiguidade pelas
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⁶ Jonas 1:17: “O Senhor fez que ali se encontrasse um grande peixe para engolir Jonas, e este esteve três dias e três noites no ven-
tre do peixe.”
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6. 20
Prostitutas Sagradas⁷ (VAN GUENNEP, 2011), que foi
profanado e hoje é categorizado como striptease e
conhecido como a “Dança dos Sete Véus”. Muitas mi-
tologias retratam neste momento uma descida ao
submundo, quando na verdade, tal descida retrata a
descida aos domínios da psique (CAMPBELL, 2002).
Essas novas provas, cada vez maiores em ní-
veis, representam no processo iniciático maçônico a
passagem pelos quatro elementos, onde o iniciando
vivencia e supera, simbolicamente, os elementos. No
passado, relatos indicam que os iniciandos de fato se
colocavam à prova, seja de um incêndio, a nado, ou
tempestade (LEVI, 2012).
Provação difícil ou traumática: O encontro com a
Deusa
A aventura última, quando todas as barreiras
foram vencidas, aparecerá como a experiência mais
profunda e traumática do enredo mitológico. Nor-
malmente é representado por uma morte efetiva e
momentânea, ou mesmo por um renascimento mira-
culoso (CAMPBELL, 2007). Em diversos ritos maçôni-
cos e em diferentes graus encontramos encenações
de todo o tipo para representar esta etapa, seja por
mais provas iniciáticas ou por demonstrações fúne-
bres, funestas e sombrias, de forma que, pela última
vez, é dada a chance ao iniciando de desistir da senda
da virtude, rendendo-se ao medo. .
Sendo persistente, o iniciando compreende
depois o sentido simbólico ou mesmo psicológico de
suas provações e testes, e, no ápice da aventura, é
apresentado diante da Deusa. Tal passagem costuma
ser representada por um “Casamento Místico”, co-
nhecido nos mitos por hierosgamos⁸.
Em termos psicológicos tal casamento repre-
senta a união-conhecimento com a Anima ou Ani-
mus, contidos em contos da heroína. Esta união re-
presenta o chamado “Casamento Alquímico” dos Al-
quimistas, e retrata uma união indissolúvel entre o
ouro e a prata, e, em outras palavras, o encontro do
Cavaleiro com a Princesa, ou a descoberta do elixir da
longa vida dos alquimistas (JUNG, 2012).
A mulher representa, na linguagem pictórica
da mitologia, a totalidade do que pode ser conheci-
do, e o herói é aquele que a compreende. Segundo
Jung, havendo o equilíbrio total na psique, atinge-se
o si mesmo, ou seja, a totalidade do ser, torna-se
consciente de todo o inconsciente (HALL; NORDBY,
2010). Na mitologia maçônica o iniciando, torna-se
iniciado, havendo completado o processo que Jung
chamou de processo de individuação (JUNG, 2012).
Sobre o encontro com a Deusa - fim do primeiro ci-
clo da Jornada Maçônica
O casamento, união – o supracitado conheci-
mento da Anima –, representa o domínio total da vi-
da pelo herói. Na Mitologia Maçônica a mulher é o
símbolo da Vida e o herói o seu conhecedor e mestre,
ou, em outras palavras, a mulher é o templo e o herói
seu sacerdote. Daí que muitas representações de
templo em culturas antigas são em forma de uma
mulher grávida dando a luz (MURPHY, 2007), bem
como de sempre se ter sacerdotes, e nunca sacerdo-
tisas.
Assumindo o Templo Maçônico as caracterís-
ticas e conceitos de Anima, conforme esclarecido, o
iniciando, após ter superado todos os testes e prova-
ções do processo iniciático da Maçonaria, recebe co-
mo prêmio da jornada o encontro com a Anima, que
nada mais é do que, a “Luz da Maçonaria”, passando
este a enxergar e conhecer o Templo Maçônico e co-
mungar de sua Egrégora. Ele ganha também a sua
completa liberdade, ficando livre da corda e apren-
dendo a sair e entrar na Loja na devida forma maçô-
nica.
O encontro ou união com a Anima também
pode ser chamado de “Encontro com a Verdade”,
pois a totalidade do ser e o completo conhecimento
GUIMARÃES, Rafhael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA...
⁷ O termo Prostituta possuía outro significado diferente do que hoje é associado. Significava “aquelas que se prostram”, em refe-
rência a Deusa a qual elas eram oferecidas e tornavam-se sacerdotisas.
⁸ Significa “Casamento Sagrado" e se refere à cópula de um deus ou homem com uma deusa ou mulher.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15-22, Mai/Ago, 2013.
7. 21
do inconsciente, além de libertar, proporciona ao he-
rói um conhecimento novo e inexplicável.
Os testes que o herói passou, preliminares de
suas experiências e façanhas últimas, simbolizaram as
crises de percepção por meio das quais sua consciên-
cia foi amplificada e capacitada a enfrentar. Com isso,
ele aprendeu que ele e sua Deusa, ou ainda, Anima,
são um só, pois se casaram-uniram. Por derradeiro,
seu destino é tornar-se o Mestre, que, variando de
uma cultura para outra, pode ser um filósofo, ancião,
líder político ou religioso, entre outros tipos. Já no
caso maçônico, um Mestre Maçom, representante de
Hiram Abiff.
Desmistificando a mitologia, percebemos que
o mistério do universo é retratado como Deus. Se pa-
ra o religioso o infinito é o Deus, para o ateu ou ag-
nóstico, o infinito é o Universo e suas infinitas mani-
festações. O ego torna-se a figura do herói, por isso
quando se encontra com Deus-Deusa, ou seja, seu
próprio inconsciente, toma-se conhecimento de todo
o universo ou infinito. O Eu Inconsciente em algumas
passagens torna-se o velho sábio, que tudo sabe, e
conhece as fraquezas e desejos reprimidos pelo o he-
rói (JUNG, 2011).
Depois deste primeiro ciclo da Aventura do
Herói – ou Jornada Maçônica – o herói ainda é levado
a cumprir outros deveres no universo. Da mesma for-
ma, o Maçom é instruído da existência de outros
graus a serem galgados, onde se encontra a continui-
dade da Jornada Maçônica. Entretanto, dificilmente
tem-se um final para a mitologia como um todo, pois,
conforme a própria dialética aristotélica, em todo fim
acha-se um novo início (CAMPBELL, 2007). Tendo o
final de cada grau maçônico como um novo começo,
pode-se compreender que, em outras palavras, tor-
nar feliz a humanidade é um processo relativamente
infinito.
Conclusões a respeito de Mitologia e as razões deste
estudo
Em síntese, a mitologia pode ser entendida,
sob a ótica da Psicologia Junguiana, como um sonho
grupal, sintomático dos impulsos arquetípicos exis-
tentes no interior das camadas profundas da psique
humana (JUNG, 1978). Já numa visão religiosa, a mi-
tologia pode ser tida como a revelação de Deus aos
seus filhos.
Tanto a mitologia, como os seus símbolos, são
metáforas reveladoras do destino do homem, e, nas
diversas culturas são retratadas de diferentes formas
(CAMPBELL, 2007). A ideia central da mitologia é de
que a mesma funciona como uma ferramenta para
promover e entender a evolução psicológica do indi-
viduo, sendo essa a função principal do mito
(CAMPBELL, 2008).
Em termos de interpretação psicológica da
mitologia, sempre vamos encontrar como chave es-
sencial a questão “Inconsciente = Reino metafísico”.
Em outras palavras, “Porque eis que o reino de Deus
está dentro de vós”⁹. Assim, a análise para toda ques-
tão mitológica, é o estudo da psique humana.
Em várias sociedades e cultos primitivos, a
prática religiosa consistia em vivenciar a Mitologia de
forma direta, pois o mito o estaria influenciando de
forma indireta no decorrer das cerimônias, por inter-
médio do inconsciente. Assim, o crescimento e finali-
dade da Mitologia acontece de forma particular em
cada um, como uma semente que aos poucos iria se
germinando (JUNG, 2005). A tradição maçônica con-
serva esses costumes como forma de instrução aos
seus membros, sendo, portanto, herdeira pedagógica
dessas antigas culturas (BLAVATSKY, 2009). E ao estu-
darmos a Maçonaria, seu ritual e simbologia, não po-
demos desconsiderar ou descartar esse viés, sob o
risco de abrirmos mão do real objetivo de nossos ri-
tuais.
Referências Bibliográficas
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GUIMARÃES, Rafhael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA...
⁹ Lucas 17:21.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15-22, Mai/Ago, 2013.
8. 22
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