Mia Couto é um escritor e biólogo moçambicano. Ele nasceu na Beira, Moçambique e publicou seu primeiro livro de poesia aos 14 anos. Estudou medicina mas se tornou jornalista. Seu primeiro romance, Terra Sonâmbula, ganhou prêmios e é considerado um dos melhores livros africanos do século 20.
2. Vida
• Mia Couto nasceu e foi escolarizado na Beira, cidade capital da província de Sofala, em Moçambique - África.
Adotou o seu pseudónimo porque tinha uma paixão por gatos e porque o seu irmão não sabia pronunciar o nome
dele. Com catorze anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal "Notícias da Beira" e três anos depois,
em 1971, mudou-se para a cidade capital de Moçambique, Lourenço Marques (agora Maputo). Iniciou os estudos
universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão
de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações em
Setembro de 1975, por colonos que se opunham à independência. Foi nomeado diretor da Agência de Informação
de Moçambique (AIM) e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo
da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no
jornal Notícias até 1985. Em 1983, publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que, segundo algumas
interpretações, inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois, demitiu-se da posição de
diretor para continuar os estudos universitários na área de biologia.
• Além de considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais
traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência
moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana.
Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação
dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX por
um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué. A 25 de Novembro de 1998 foi feito Comendador da Ordem
Militar de Sant'Iago da Espada. Em 2007, foi entrevistado pela revista Isto É. Foi fundador de uma empresa de
estudos ambientais da qual é colaborador.
• Em 2013 foi homenageado com o Prémio Camões, que lhe foi entregue a 10 de Junho no Palácio de Queluz pelas
mãos do presidente de Portugal Cavaco Silva e da presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
3.
4. Terra Sonâmbula
• Um ônibus incendiado em uma estrada poeirenta serve de abrigo ao velho Tuahir
e ao menino Muidinga, em fuga da guerra civil devastadora que grassa por toda
parte em Moçambique. Como se sabe, depois de dez anos de guerra anticolonial
(1965-75), o país do sudeste africano viu-se às voltas com um longo e sangrento
conflito interno que se estendeu de 1976 a 1992.
O veículo está cheio de corpos carbonizados. Mas há também um outro corpo à
beira da estrada, junto a uma mala que abriga os "cadernos de Kindzu", o longo
diário do morto em questão. A partir daí, duas histórias são narradas
paralelamente: a viagem de Tuahir e Muidinga, e, em flashback, o percurso de
Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos
feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da
guerra.
Terra Sonâmbula - considerado por júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe um
dos doze melhores livros africanos do século XX e agora reeditado no Brasil pela
Companhia das Letras - é um romance em abismo, escrito numa prosa poética que
remete a Guimarães Rosa. Couto se vale também de recursos do realismo mágico
e da arte narrativa tradicional africana para compor esta bela fábula, que nos
ensina que sonhar, mesmo nas condições mais adversas, é um elemento
indispensável para se continuar vivendo.
5. Um rio chamado tempo, uma casa
chamada terra
• O retorno de Marianinho a Luar-do-Chão não é exatamente uma volta às suas origens. Ao chegar à
ilha natal, incumbido de comandar as cerimônias fúnebres do avô Mariano - de quem recebeu o
mesmo nome e de quem era o neto favorito -, ele se descobre um estranho tanto entre os de sua
família quanto entre os de sua raça, pois na cidade adquiriu hábitos de um branco. Aos poucos,
Marianinho percebe que voltou à ilha para um renascimento.
Uma série de intrigas e de segredos familiares envolvem o pai do protagonista, Fulano Malta, sua
avó Dulcineusa, os tios Abstinêncio, Ultímio e Admirança, e também as nebulosas circunstâncias
em torno da morte de sua mãe, Mariavilhosa. O rapaz descobre também que o falecimento do avô
permanece estranhamente incompleto.
Trata-se de um momento de passagem, crucial para o protagonista e para o seu lugar de origem.
Luar-do-Chão encontra-se num estado de abandono, decadência e miséria. Trata-se também de um
impasse cultural, religioso e político, que guarda correspondência com a situação social da África de
hoje.
Nessa enigmática Luar-do-Chão, onde um rio armazena a memória dos espíritos e a terra sofre com
feitiços arcaicos e modernos, a tarefa de Marianinho é encontrar uma forma de levar adiante uma
história que, além de pessoal e familiar, na África pós-colonial é também política e de destino
humano.