15. The Amplified New Testament traz: “estavam atônitos e dominados de perplexa
admiração." Essas traduções são todas elas muito úteis. O significado literal do original é
“ficaram como que fora de si”. Tem-se sugerido “tirados de seus sentidos”. Compare-se também
com o alemão “ser trazido para fora de si” (Lenski, op. cit., p.305) e o holandês “derrotados para
fora do campo ”. O tempo do verbo mostra que esse estado de assombro não foi só uma
experiência momentânea, mas que durou algum tempo. Poder-se-ia muito bem perguntar:
Quais foram algumas das razões desse sentimento de admiração e assombro? Mt 13.54,55
poderia fornecer parte da resposta. Não obstante, com base no próprio sermão e em 7.28 (“não
como os seus escribas”), os seguintes temas merecem consideração: a. Ele falava a verdade (Jo
14.6; 18.37). O arrazoado corrupto e evasivo caracterizava os sermões de muitos dos escribas
(Mt 5.21 ss.). b. Ele apresentava assuntos de grande relevância, questões de vida, morte e
eternidade. Eles com freqüência desperdiçavam seu tempo com trivialidades (Mt 23.23; Lc
11.42). c. Havia sistema na pregação de Jesus. Segundo o Talmude deles comprova, eles com
freqüência divagavam sem parar. d. Ele excitava a curiosidade ao fazer uso generoso de
ilustrações (5.13-16; 6.26-30; 7.24-27; etc.) e exemplos concretos (5.21—6.24; etc.), como o
sermão o revela do princípio ao fim. Os discursos deles eram com freqüência áridos como o pó.
e. Ele falava como aquele que amava os homens, como aquele que se preocupava com o bem-
estar eterno de seus ouvintes e apontava para o Pai e seu amor (5.44-48). A falta de amor por
parte deles é evidente com base em passagens tais como 23.4,13-15; Mc 12.40; etc. f.
Finalmente, e este aspecto é o mais importante, pois ele é especificamente declarado aqui
(v.28). Ele falava “com autoridade” (Mt 5.18,26; etc.), porque sua mensagem vinha diretamente
do coração e mente do Pai (Jo 8.26), daí também vir do mais profundo de seu próprio ser e das
Escrituras (5.17; 7.12; cf. 4.4,7,10).
17. Jesus foi o maior especialista na arte de ensinar. Ele é O Mestre.
Ensinou com maestria invulgar. Sobrepujou os grandes deste mundo. Foi
Mestre em grau superlativo. Dominou com capacidade inigualável todos
os recursos pedagógicos. Variava de método de acordo com as
circunstâncias e pessoas. Para cada caso, usava um método próprio e
adequado. Assim o Comentário Esperança (Editora Evangélica
Esperança) comenta Jo 13.15: “Porque eu vos dei um exemplo, para que
vós façais como eu vos fiz. Representa uma distorção do evangelho se
virmos em Jesus apenas um exemplo, ao qual queremos imitar com
nossas próprias forças. Nessa leitura se ignoraria o que Jesus disse em Jo
3.1ss ao sério fariseu Nicodemos sobre a necessidade do novo
nascimento. Por outro lado, também não podemos nem devemos negar
que Jesus é exemplo. Em consonância, ele próprio está se colocando a
seus discípulos como exemplo precisamente em sua função apostólica.
18.
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21.
22. Ele os “ordenou” para duas finalidades. 1) Primeiramente, devem
estar junto dele. Devem perseverar com ele em suas tentações até chegarem ao
Getsêmani; afinal, devem tornar-se testemunhas dele até os confins do mundo
(At 1.8). Precisavam conhecer suas “horas silenciosas”, conviver com ele no dia-
a-dia, observar seu trabalho, obter uma visão dos mistérios de sua sabedoria de
educador, e até mesmo familiarizar-se com os objetivos de sua ação. 2) O
segundo aspecto é que eles partilharão de sua autoridade. Dessa maneira ele
providencia, de certo modo, pernas e pés, línguas e lábios que levem adiante sua
obra. Mateus relata a convocação e o credenciamento dos apóstolos em uma
ocasião (Mt 10.1ss), e Lucas o faz em dois trechos, mais precisamente como
segue: de acordo com Lucas, o primeiro passo de Jesus foi nomeá-los,
provavelmente para que passassem a ser seus alunos de modo especial. Isso
aconteceu aqui em Lc 6.12-16. A capacitação é relatada em Lc 9.1-6, onde Jesus
lhes confere a autoridade para servir como apóstolos. O relato mais preciso
indica que esse deve ter sido o processo. Mateus reúne em uma só ocasião as
duas ações de Jesus. Isso tem a ver com sua característica de enfatizar tão-
somente o aspecto doutrinário e fundamental. Dessa forma o Redentor obteve,
portanto, um grupo de auxiliares para sua obra. Ele, o maravilhoso canal da
poderosa benignidade de Deus, fora multiplicado por doze.
24. Anthony Lee Ash em O Evangelho Segundo Lucas (Editora Vida
Cristã), escreve: “Quem se qualifica como discípulo?” (vs. 26,27,33).
Essas palavras foram ditas em vista da paixão de JESUS que estava
próxima e deveriam separar o verdadeiro discípulo dos seguidores
indiferentes. O primeiro teste do discipulado se referia aos parentes mais
próximos (cf. 18:29). Jesus apoiava o amor familiar, mas mesmo este
precisa ser subordinado ao amor a Deus. Aborrecer é um termo duro,
mas o paralelo em Mateus 10:37 indica que significa “amar menos”
(também Gn 29:30; Dt 21:15). Além da família, a pessoa precisa amar a
sua própria vida menos do que ama Jesus. Vida abrange todos os
interesses mundanos, até mesmo o nosso próprio ser (cf. Jo 12:25). (27)
A cruz, sugerindo um criminoso desprezado seguindo para a sua morte
terrível, amplia a idéia de aborrecer a própria vida (veja 9:23). É preciso
estar disposto, se necessário, a sofrer um destino assim horrível por
causa de Jesus. Essas palavras teriam ainda maior significado para os
cristãos depois da crucificação e ressurreição de Jesus (cf. G1 2:20; 6:14).
25.
26.
27.
28. O Comentário Bíblico de William Barclay esclarece: “Jesus estabelece
as condições do serviço daqueles que o seguem. (1) Negar-se a si mesmo. O
que significa isto? Um grande erudito dá o significado seguinte: Pedro uma vez
negou a seu Senhor. Disse: "Não conheço esse homem." Negar-nos a nós
mesmos quer dizer: "Não me conheço a mim mesmo." É ignorar a existência de
si mesmo. É tratar o eu como se não existisse. Quase sempre tratamos a nós
mesmos como se nosso eu fora com muito o mais importante do mundo. Se
queremos seguir ao Jesus devemos destruir o eu e nos esquecer de que existe.
(2) Tomar sua cruz. O que significa isto? Jesus sabia muito bem o que
significava a crucificação. Quando era menino de uns onze anos, Judas o
Galileo tinha encabeçado uma rebelião contra Roma. Tinha atacado ao
exército real em Séforis (capital da Galiléia), que estava a uns seis quilômetros
de Nazaré. A vingança dos romanos foi rápida e repentina. Queimaram a
cidade integralmente; seus habitantes foram vendidos como escravos; e dois
mil rebeldes foram crucificados com o passar do caminho para que fossem uma
terrível advertência para outros que queriam fazer o mesmo. Tomar nossa cruz
significa estar preparados para enfrentar coisas como esta por nossa fidelidade
a Deus; significa estar dispostos a suportar o pior que um homem nos possa
fazer pela graça de ser fiéis para com Deus.
30. O Senhor aqui os adverte contra um outro ramo da avareza, ao
qual eles estão mais sujeitos à tentação, o de terem apenas um pouco neste
mundo (que, na melhor hipótese, era o caso dos discípulos, muito mais agora
que haviam deixado tudo para seguir a Cristo), sentindo uma ansiosa solicitude
pelas coisas que são necessárias para a manutenção da vida: “Não estejais
apreensivos pela vossa vida, seja pela preservação dela, se estiver em perigo,
ou pela provisão que deve ser feita para ela, seja de comida ou de roupas, o
que comereis ou o que vestireis” . Esta é a advertência que o Senhor havia
enfatizado, Mateus 6.25 e versículos seguintes. E os argumentos usados aqui
são em boa parte os mesmos, tendo como propósito o nosso encorajamento
para lançarmos todo o nosso cuidado sobre Deus, que é o modo correto de nos
tranquilizarmos. Uma busca excessiva e ansiosa das coisas deste mundo,
mesmo das coisas necessárias, não é algo que convenha aos discípulos de Cristo
(w. 29,30): “A despeito daquilo que outros façam, não pergunteis o que haveis
de comer ou o que haveis de beber. Não andeis inquietos com preocupações
confusas, nem vos canseis com trabalhos constantes. Não vos apresseis em
perguntar o que haveis de comer ou beber como os inimigos de Davi que
vagueavam buscando o que comer (SI 59.15) ou como a águia que, de longe,
descobre a sua presa, Jó 39.29. Que os discípulos de Cristo, portanto, não
apenas trabalhem pelo alimento, mas peçam-no a Deus todos os dias.
31.
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34. Jesus anunciou o Reino pregando a Palavra de Deus e curando
os enfermos. Se Ele tivesse se limitado a pregar, as pessoas poderiam
imaginar o seu Reino com um caráter apenas espiritual. Por outro lado,
se tivesse curado sem pregar, talvez elas não percebessem a
importância espiritual da missão de Jesus. A maioria dos ouvintes
esperava um Messias que traria riqueza e poder à nação judaica; o
povo preferia os benefícios materiais ao discernimento espiritual. A
verdade sobre Jesus é que Ele é o Deus encarnado, tem duas naturezas:
uma divina e outra humana; possui espírito, alma e corpo; a salvação
que Ele oferece é tanto para a alma quanto para o corpo. Qualquer
ensino que enfatize a salvação da alma à custa do corpo ou o contrário
distorce as Boas Novas de Jesus Cristo. Russell Norman Champlin
escreve em sua Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia (Vol. 5)
(Editora Hagnos): “A grande abundância de referências ao ensino e à
pregação demonstra o papel primordial dessas funções, no Novo
Testamento.
35. A missão dos discípulos era pregar o Evangelho do Reino a todos.
36. Russell Norman Champlin em O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo (Editora Candeias), escreve: «ELE MESMO tomou as
nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças». Profecia messiânica,
que se acha em Is. 53:4. A citação foi tirada do hebraico, porque a LXX
interpreta essa profecia como referência ao pecado. No grego a expressão é
enfática. O Messias, Cristo Jesus, veio com a finalidade de aliviar (ευκολία - Lê-
se - ef̱kolíá) o sofrimento humano. Esse versículo tem recebido diversas
interpretações: 1. Refere-se ao ministério espiritual do Messias, ao levar o
pecado do mundo. O texto de Isaías aborda exatamente isso, e a LXX reflete isso
na tradução. 2. Segundo o uso de Mateus, indica apenas as doenças físicas. A
profecia, pois, expõe outro aspecto do ministério de Cristo; sem mencionar aqui
a expiação pelo pecado. 3. Refere-se a ambas as coisas — o pecado e as
enfermidades e doenças —, provavelmente considerando as doenças como
resultantes do pecado, ou então com ligação direta ao pecado; o Messias veio
para tratar da enfermidade espiritual e física da natureza humana.