O documento discute a literatura e música durante a Primeira Guerra Mundial, focando no poeta Siegfried Sassoon. A guerra inspirou obras literárias que descreviam a carnificina vividas nas trincheiras em detalhes cruéis, como nos poemas de Sassoon que denunciavam a propaganda patriótica e glorificação da guerra. Muitos soldados sofreram traumas psicológicos como estresse pós-traumático.
1. Revista
Literatura e Música
Revista Literatura e Música - Ano 1 - Nº 001
BandaPythia
eamúsicaArmyof
Damned
Conheça
opoeta-soldado
SiegfriedSassoon
2.
3.
4. Sumário
05-
Literatura, música e sociedade
06-
Guerra e modernismo
09-
Siegfried sassoon: o poeta da
guerra
14-
suicídio nas trincheiras
18-
Tradução Intersemiótica
20-
banda pythia e a música army of
damned
5.
6. Literatura, música e sociedade
Geralmente, dois campos de estudo que se convergem
em um espelho refletor de um determinado momento
vivenciado na história da sociedade, é a literatura e a música.
Na 1ª, autores de diferentes movimentos exploram diversos
assuntos inerentes a sua realidade, experiências de vida, uma
crítica a sistemas políticos, econômicos, a forma de “pensar,
agir e ser de cada um de nós”, etc, valendo–se também, em
certas ocasiões, de elementos que permitam uma “fuga” dessa
realidade cruel que passa a assombrar a mente do escritor.
Segundo Schollhammer (2008, p. 81 e 82), há
possíveis relações entre mundos fictícios atribuídos a textos
literários e os modelos prevalecentes do mundo social,
supostamenteancoradosnoreal.(...)Ascategoriastradicionais
de realidade e de verdade podem ser confrontadas
Quando se fala em música, esta no decorrer de sua
trajetória foi passando por transformações na forma de
concepção, de conceitos, etc. Vários movimentos ao longoda
história da música refletiam também a própria cultura daquele
povo, conforme Perpetuo (2009, p. 117 e 118) nos lembra:
A música nos recorda o que somos, ouvi-la nos faz reconhecer
algo, uma identidade, uma paixão ou uma ausência. (...) A
música (...) só pode ser entendida enquanto parte de um
contexto cultural (...) A música, antes de tudo, é um bem
cultural e social.
A literatura e a música possuem afinidades inimagináveis.
Pode–se dizer que a literatura seria uma “fonte inspiradora de
grande parte da criação musical.” (RUCKENT, s/d, p. 09).
p. 05
7. guerra
e
modernismo
O século XX é marcado
porumperíodode“incertezas”
que giravam em torno das
questõespolíticas,econômicas
e sociais. O prenúncio de uma
guerra, que a princípio seria
“rápida e gloriosa”, aumentou
ainda mais o sentimento de
incerteza.
A“Guerraparaacabarcom
todas as guerras”, como foi
chamada a 1ª Guerra Mundial,
se converteu num horrendo
“espetáculo” de carnificina
e sacrifícios que deixariam
impressas, conseqüências
que durariam anos e anos,
gerações e gerações...
A literatura, portanto, não
poderia deixar de lado, toda essa
problemática vigente naquela
época. Os escritores do período
modernista inglês oscilavam entre o
refúgio em uma mente perturbada
pelas terríveis lembranças da guerra,
como também denunciariam “a
opressão dos governos totalitários
e tecnocráticos que dominariam a
1ª metade do século XX”. No final,
os temas centrais que permeiam a
literatura modernista são: a 1ª Guerra
Mundial, os regimes totalitários e a
2ª Guerra Mundial (SILVA, 2005, p.
261).
p. 06
8. Falando especificamente da 1ª Guerra Mundial, esta
iniciou–se em 1914 e “enterrou a noção de que uma guerra
se inicia e termina no campo de batalha, sem deixar seqüelas
para as partes envolvidas”, ou seja, a luta também residia
nos corações de homens que já não tinham mais esperança
alguma, nos corações de mulheres e crianças, que tiveram
seus sonhos arruinados com a guerra. (SILVA, 2005, p. 262)
O assassinato do herdeiro do império austríaco–húngaro
Francisco Ferdinando, por um militante da Sérvia, foi o estopim
da guerra:
De um lado estavam as forças militares da Tríplice Aliança
e seus aliados, formados pela Alemanha, império austro-
húngaro, Itália, Turquia e Bulgária; do outro, a Tríplice Entente
e seus aliados, constituída pela França, Inglaterra, Rússia,
Bélgica, Sérvia, Japão, EUA e Grécia (SILVA, 2005, p. 263).
À princípio, o “espírito romântico” dos jovens soldados,
criou uma imagem de uma guerra que não condizia com a
realidade. Embalados por sedutoras campanhas “patrióticas”,
que omitiam o perigo de uma realidade cruel e indescritível,
jovens inexperientes e inocentes se “aventuravam” numa
viagem muitas vezes sem volta.
Até mesmo pelo seu caráter inédito, milhares de jovens se
apresentaram como voluntários. Todos queriam participar
do que era considerado um momento glorioso, um evento
necessário para o engrandecimento das nações (...) Pela 1ª
vez, a tecnologia e os avanços da Revolução Industrial seriam
usados para matar (...). (SILVA, 2005, p. 263)
Segundo Banerjee (s/d, p. 10), “o entusiasmo para
participar da guerra era tanto”, que eles (os jovens garotos)
mentiam a respeito de sua real idade. Naquele tempo criou–
se também uma diretoria específica para tais alistamentos/
recrutamentos. p. 07
9. Não demorou muito para que o véu da inocência fosse
encharcado por lágrimas de sangue: diante de todo aquele
horror, o sentimento crescente na mente dos soldados
despreparados foi o desespero. “O furor patriótico de jovens
vestidos com belos uniformes de pantalonas vermelhas, deu
lugar ao desespero de soldados com uniformes e espíritos
em frangalhos (...).” (SILVA, 2005, p. 264)
AentradadosEUAnaguerrafoifundamentalparaavitória
da Tríplice Entente. O governo alemão, em 11 de novembro
de 1918, viu como única solução, assinar um acordo de paz,
apesar da desvantagem. “Ali mesmo já seriam plantados as
sementes do 2º grande evento que eclodiria apenas duas
décadas depois: a 2ª Guerra Mundial.” (SILVA, 2005, p. 264)
10.
11. Siegfried Sassoon: O poeta da
guerra
Siegfried Loraine Sassoon foi um poeta modernista
britânico, conhecido por seus poemas sobre a 1ª Guerra
Mundial. Nasceu em 08 de setembro de 1886 em Matfield,
Kent. Era filho de Alfred Ezra Sassoon, um rico comerciante
judeu, que foi deserdado por casar com Theresa, mãe de
Siegfried. Ele tinha dois irmãos: Michael e Hamo. Por um
bom tempo viveu na mansão neo¬–gótica, chamada
“Weirleigh”. Aos 4 anos de idade, seus pais se divorciaram.
Sassoon estudou no New Beacon Preparatory School
(Kent), Marlborough College (Wiltshire), estudou Direito e
História no Clare College (Cambridge). Depois de formado,
alistou–se no Exército Britânico, motivado por um espírito
patriótico, exatamente no período em que o Reino Unido
envolvera–se na 1ª Guerra Mundial (aproximadamente no
dia 04 de julho de 1914).
A morte de seu irmão, na Campanha Galliooli em 1915
é um choque para Sassoon. No mesmo ano também, ele
é contratado pelo 3º Batalhão Especial. É promovido a 2º
Tenente e enviado ao 1º Batalhão na França, onde se tornou
amigo íntimo de Robert Graves.
Foi nesse mesmo ano que o horror da guerra se tornou
eminente na vida do futuro escritor. Isso fez com que os seus
escritos literários mudassem drasticamente de foco: o que
anteseraaindaumarelutantepoesiacomtraçosromânticos,
logo aborda a verdade horrenda das trincheiras, mais uma
ramificação da guerra já existente, que era distorcida pela
propaganda patriótica.
12. Emsuapoesia,eranítidoadescriçãodecadáveresdecadentes,
homens mutilados, sujeira, covardia, o “cansaço de uma guerra
interminável”, o suicídio, etc. Este último (o suicídio) era um tema
recorrente e enfatizado em suas obras sobre a guerra. O autor
também tecia sátiras políticas, religiosas e ao governo, o qual
acusa diretamente por gerar uma “guerra ufanista”. Siegfried
também teve trabalhos em prosa e autobiografia ficcional em
três volumes, intitulada “Sherston Trilogy.
Durante o período em que esteve envolvido na guerra, foi
apelidado de “Mad Jack” por suas façanhas quase suicidas, que
inspiravam bravura aos soldados que seguiam Siegfried. Por seus
exemplos de bravura, foi condecorado em 27 de julho de 1916
com a “Cruz Militar”.
p. 11
13. A morte de seu amigo David Cuthbert Thomas faz com
que o autor se afaste temporariamente do serviço militar e que
alimente ainda mais, a postura anti¬–guerra.
Quando termina o prazo de sua licença de convalescença,
o escritor se recusa voltar ao campo de batalha, e é enviado
ao Craiglockhart War Hospital, por decisão da Corte Marcial, a
fim de ser tratado de uma neurastenia . Durante o tempo que
permaneceu lá, conheceu o poeta Wilfred Owen, outro nome
importante na literatura inglesa.
Ao retornar ao serviço militar, Owen é morto em 1918. No
mesmo ano, em 13 de julho de 1918, Sassoon é ferido em “fogo
amigo”. Em 12 de março de 1919, mesmo depois de ter sido
promovido a capitão, ele renuncia por motivos de saúde. Nesse
período, aproveita para divulgar as obras de seu amigo morto,
Wilfred Owen e trabalha no jornal socialista Daily Herald, como
editor literário.
Novamente a morte assombra a vida de Sassoon. O
falecimento de três amigos (Edmund Gosse, Thomas Hardy e
Frankie Schuster) deixa o espírito do escritor abalado.
Noâmbitopessoal,Siegfriedmanteverelaçõeshomossexuais
com o pintor, paisagista e desenhista William Park “Gabriel” Atkin,
os atores Ivor Novello e Glen Byam Shaw, o escritor Beverley
Nichols, o príncipe germânico Philip de Hesse e o aristocrata
decadente Stephen Tennant.
Mas em dezembro de 1933, o escritor casou–se com Hester
Gatty e dessa união nasceu seu único filho, George. Entretanto
o casamento acabou depois da 2ª Guerra Mundial. Em 1951, ele
foi nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico. Em
1957, converteu–se ao catolicismo romano e se interessou pelos
assuntosvoltadosaosobrenatural.Morreunodia01desetembro
de 1967, em Heytesbury, Wiltshire.
p. 12
14. A história e a literatura
daquele período demonstram
que os soldados não estavam
preparados para o conflito
armado. Milhares de pessoas
morreram e aquelas que
sobreviveram, carregaram
traumas para o resto de suas
vidas (estresse pós–traumático,
feridas, mutilações, loucura,
cegueira, etc).
No dia 11 de novembro
de 1985, Sassoon se tornou
um, dentre os 16 grandes
poetas da guerra. Seu nome
está em uma pedra na Abadia
de Westminster (Abbey’s Poets
Corner). Entretanto, destacamos
outros dois principais autores
literários da guerra: Wilfred
Owen e Rupert Brooke. Todos
eles participaram do “evento” e
se sentiram desiludidos.
de batalha, porque mais
humilhante, era ser tachado de
covarde, caso a decisão fosse
retornar ao lar.
Esses traumas eram causados
pela incapacidade, falta de
experiência, brutalidade e a falta
de humanidade da guerra (...) O
número de soldados atingidos
pelo shell-shock foram 80 mil
casos (...) Os médicos britânicos
não sabiam o que fazer para tratar
desta moléstia (...).” (BANERJEE,
s/d, p. 18, 19 e 20)
Os médicos desesperados
com o crescimento deste
distúrbio, a princípio, tentaram
uma terapia com eletro–choque
que não surtiu efeito. Depois
de um tempo, o doutor William
Halse Rivers desenvolveu uma
terapia de acordo com as suas
descobertas: o problema do
shell–shock era porque os
soldados baniam de sua mente,
qualquer memória angustiante
da guerra. “O doutor encoraja
os soldados a tentar lembrar
em vez de esquecer o que havia
acontecido”. (BANERJEE, s/d, p.
21)
Muitos soldados também
relataram em prosa ou poesia
sobre suas experiências na
guerra, inclusive aqueles que
foram “vítimas” de um colapso
mental chamado “shell–shock ”
e mesmo após tratados, eram
obrigados a retornar ao campo
p. 13
15. suicídio nas trincheiras
O poema de Siegfried a ser analisado neste trabalho, é
o “Suicide in the trenches” (Suicídio nas Trincheiras), escrito
durante a prestação de serviço militar na 1ª Guerra Mundial.
Foi publicado em 1918, em sua coleção “Counter–Attack and
Other Poems”.
Suicídio nas Trincheiras
Eu conheci um soldado, um simples garoto
Que sorriu para uma vida de alegria vazia
Dormiu profundamente através da solitária escuridão
E assobiou cedo com a cotovia.
Em trincheiras, no inverno, intimado e triste
p. 14
16. Com um som alto e piolhos, e ausência de rum
Ele colocou uma bala em seu cérebro
Ninguém falou dele novamente.
Você,vê multidões de faces convencidas e olhos em brasa
Que alegria quando os garotos soldados marcham
Espreito em casa e rezo para que você nunca saiba
O inferno onde vão jovens e risos!
Podemos dizer o “narrador–observador”, que também
participou desta luta, conheceu um rapaz que cometera
suicídio em virtude dos seus traumas pessoais em relação a
guerra.Eestejovem,quepossivelmentepresenciouosuicídio
deumamigo,ouretornouaolaroudesistiudelutar.Eelereza
pedindo que ninguém passe pelas terríveis experiências que
fora acometido, cuja lembrança será sempre um fantasma
disposto a atormentá–lo, e que ninguém conheça o inferno,
que é uma metáfora da guerra, onde jovens outrora felizes,
presenciam diariamente a face da morte. Após a leitura do
poema é nítido encontrarmos as seguintes características:
*sentimento de melancolia, frustração e medo
*negativismo/pessimismo e ilusão/sonho x realidade
*honra/glória x desgraça/desespero
*atmosfera sombria: Banerjee (s/d, p. 23), acrescenta que:
17. *morte: Sem sombra de dúvida, a morte é o segundo tema
central do texto acima. O suicídio, muitas vezes, é visto como
uma “válvula de escape” do mundo ao seu redor. Segundo
Banerjee (s/d, p. 14):
Metáforas de inverno, neve e gelo são freqüentemente usados
para representar a morte e sugerir a miséria do inverno nas
trincheiras. Essas metáforas reforçam o impacto da morte
Muitos soldados incapazes de lidar com o horror de seus diários
ao vivo (que muitas vezes incluía ver seus amigos mortos) tiraram
suas próprias vidas (geralmente atirando em suas bocas).
O sociólogo Émile Durkheim estudou a respeito do
suicídio,eéapartirdesuaóticaquemebaseioparaexplicara
questão referente ao suicídio, visto como “algo” pertencente
ao “fato social”, que a grosso modo, pode ser definido como
“a maneira de ser,de pensar e de agir” do indivíduo. Segundo
Durkheim,
O suicídio é um ato da pessoa e que só a ela atinge, tudo indica
que deva depender exclusivamente de fatores individuais e que
sua explicação, por conseguinte, caiba tão somente a psicologia
(QUNTANEIRO, 2003, p. 77).
De fato, o suicídio atinge uma pessoa, que neste caso, é
aquele que praticou o ato contra si mesmo. Entretanto, julgo
ser mais ampla a discussão: atinge e abala também todas as
pessoas que pertenciam ao vínculo social do indivíduo, ou
seja, o grupo social, que segundo o sociólogo, esse mesmo
grupo social também “tem uma disposição coletiva
p. 16
18. para o suicídio, e desta derivam as inclinações individuais”
(QUINTANEIRO, 2003, p.78).
Durkheim aponta que existem três tipos de suicídio:
A depressão, a melancolia, a sensação de desamparo moral
provocados pela desintegração social, tornaram–se, então
causas do suicídio egoísta (...) O suicídio altruísta compreende
os praticados por enfermos ou pessoas que chegaram no
início da velhice (...) Nas sociedades modernas, a ocorrência do
suicídio altruísta se dá entre (...) os militares, já que a sociedade
militar expressa em certos aspectos, uma sobrevivência da
moral primitiva e da estrutura das sociedades interiores,
além de promover uma fraca individualização, estimulando
a impessoalidade e a abnegação. O terceiro tipo– o suicídio
anômico–éaquelequesedeveaumasituaçãodedesregramento
social devido as normas que estão ausentes ou perderam o
respeito (QUINTANEIRO, 2003, p. 79).
No caso do poema, a atitude de tirar sua própria vida, deve–
se aos conflitos internos e pessoais, oriundos de traumas
externos (horrores da guerra), levando o jovem a tomar uma
decisão, na qual, buscava–se somente a paz de espírito ou
uma evasão daquela realidade, visto que, muitas vezes, os
soldados eram obrigados a voltar a guerra, mesmo depois
de terem sidos submetidos a tratamentos médicos, além do
que, conforme fora relatado anteriormente, uma quantidade
considerável de soldados sofreram da moléstia denominada
de “shell–shock”.
p. 17
19. Tradução intersemiótica
/imagem do site: http://chocoladesign.com
Uma outra abordagem
deste trabalho, é a tradução
intersemiótica que, de uma
maneira mais simplificada,
pode ser entendida como
uma transformação em outro
signo ou código, a partir de
um mesmo signo primário ou
original. Esta nova tradução/
interpretação/intertextualidade
pode remeter ao signo anterior
ou apenas fazer uma menção,
sem perder as significações
originais.
Resumindo: o signo
original ou norteador de todas
as discussões, é o poema de
Siegfried Sassoon, “Suicide in
the trenches”, apresentado
numa linguagem escrita. A
banda Pythia se apropria deste
poema e o inseriu na música
"Army of Damned", de forma
recitada,convertendoumsigno
escrito em um signo sonoro
(música).
A letra da música trabalha
com as mesmas questões
apresentadas no poema,
havendo, portanto, uma
intertextualidade que pode
ser através de “citações ou
recriações” que evidenciam
a relação entre os temas
discutidos. Segundo Oliveira
(2012, p. 54, 55, 63 e 68):
Cada obra de arte é, simultaneamente
uma realidade única e tradução de
outras (...) A tradução intersemiótica (...)
engloba códigos diferentes circulando,
por exemplo, entre a literatura e outros
sistemas (...) como a música.
Júlio Praza (2003, p. 13)
um profundo pesquisador dos
assuntos inerentes a tradução
intersemiótica acrescenta que,
p. 18
20. Passado-presente-futuro,ouoriginal-tradução-recepção,estãonecessariamente
atravessados pelos meios de produção social e artística, pois é na tradução dos
momentos da história, para o presente que aparece como forma dominante
‘não a verdade do passado, mas a construção inteligível de nosso tempo’.
Desse modo, podemos dizer que a música da banda “traduz
ou faz menção” a um momento histórico, o qual é reforçado com
a presença do poema de Siegfried Sassoon, enfatizando aspectos a
serem analisados posteriormente.
21. banda pythia e a música army of damned
Pythiaéumabandademetalsinfônico,metalgótico emedieval
power metal , que foi fundada em 2007 no Reino Unido. Seu nome
tem origem do grego e faz menção a “sacerdotisa do Oráculo de
Apolo, em Delfos”.
A líder e fundadora da banda é a cantora e escritora Emily Alice
Ovenden(integrantetambémdasbandasCelticLegendeMediaeval
Baebes).
As músicas abordam temas oriundos do gosto de Emily: o
universo gótico, obras literárias, fantasia, e é claro, Heavy Metal. Os
outros membros que compõem a banda são: Marc Dyos (baterista),
Ross White e Oz Wright (guitarristas) e Mark Harrington (baixo).
Discografia
Demos Cd’s
2009– Sarah (Bury Her) 2009– Beneath the veiled embrace
2010– Army of Damned
2011– Betray my Heart
2012– The Circle (Just a lie) 2012– The Serpent’s Curse
p. 20
22. A música a ser analisada é a faixa 09, “Army of Damned” do
cd “Beneath the Veiled Embrace” lançado em 2009 e conta com a
participação do ator britânico Brian Blessed, que recita o poema de
Sassoon, “Suicide in the trenches”. Abaixo, segue a letra da música:
Exército dos Malditos
As mãos são da Morte, mas a Alma é Divina!
Nós somos o Exército dos Malditos
Homens de uma esquecida terra distante
Milhares de anos passaram por nós
E ainda você ouvirá os nossos choros
Nós deixamos nossos lares por esta guerra
Nós não lembramos para que foi (o motivo)
Ainda nós avançamos tanto de dia e de noite
Até chegar o tempo de lutar
E então eles fogem de nós
Nossos parentes e nossos amados
Eles não permanecerão por nós
E tudo que nós temos sido
O sangue fluirá por nós
Para sempre e um dia
Nossos juramentos serão quebrados pelos pecados deles
Nós desistimos de tudo o que poderíamos dar
Para que nossos filhos pudessem viver
Nós marcharemos ao som do tambor
Da batalha que não virá
p. 21
23. Nós ouvimos nossos amantes chorarem
Apesar deles estarem mortos e terem partido
Nós ouvimos nossos camaradas tocarem
Esse som eterno
Nós não podemos sentir o sol
Apesar da manhã acabar de chegar
Nós somos apenas a sombra do passado
Nós encontraremos perdão, nós encontraremos?
Tem misericórdia para nossos pais, perdoem todos esses homens
Quem não pode sentir o sol, apesar da manhã apenas não ter
chegado?
Nós somos apenas a sombra do passado
Nós somos o Exército dos Malditos
Homens de uma esquecida terra distante
O que eu daria para ver a face dela
E amá–la mais uma vez...
Brian Blessed recita o poema: “Eu conheci um soldado, um simples
garoto (...).”
Lendo a tradução é possível perceber que o tema é a guerra.
O signo original, que é o poema, é composto por palavras (escrito)
e serve de inspiração e referência na composição da música e se
converge, nesse segundo signo (sonoro), a partir do momento em
queérecitado.Issoétraduçãointersemiótica,conformeasdiscussões
apresentadas anteriormente.
A música também em sua temática, apresenta o medo,
pessimismo, desilusão, a morte (Nós não podemos sentir o sol,
p. 22
24. Apesar da manhã acabar de chegar, Nós somos apenas a sombra
do passado...), da escuridão como cenário que reveste o mundo
exterior e interior, a ausência dos entes queridos (família e amantes),
arrependimento, etc.
A música consegue penetrar em nossas almas, através da
magnitude poderosa de sua sonoridade e na sua composição
como todo, na qual o som dos instrumentos pode carregar em si,
“sentimentos humanizados”, que podem transparecer, por exemplo,
tristeza. Logo no início da música “Army Of Damned”, o compasso
da bateria lembra o toque de marchas de guerra. Segundo Perpetuo
(2009, p.209),
Não sei se as outras artes têm essa mesma capacidade ou dom. A literatura o
faz de outra forma, com o suporte das palavras. Nós músicos, temos o som (...)
A mensagem que esse som carrega (...) pode ser lida e entendida de diversas
maneiras, e está sujeita aos ouvidos de cada ouvinte (...) embora evoque (...) uma
história diferente, de acordo com o seu background, memória e vivência
p. 23
25. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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ied.edu.hk/literature/Electure(Mat)/Week10(WarPoetry)/War%20
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Paulo, 2009.
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GardêniaMonteirodeOliveira.Umtoquedeclássicos:Marx,Durkheim
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Ciência Moderna. 2ª edição. Rio de Janeiro, 2005.