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Poesia, arte e loucura

  Profa. Dra. Renata Moreira
Semana de Letras - FACISABH
O que é loucura?
Um estado alterado
 da mente humana
     – perene ou
  transitório – que
  leva a delírios e
    pensamentos
  alheios ao que a
 sociedade entende
    por “normal”.
Na história...
• Sócrates enumera quatro tipos de
  loucura:
- A loucura profética, emblematizada pelos
  oráculos;
- A loucura ritual, a qual se chega por meio
  de danças e ritos;
- A loucura amorosa, causada por Afrodite;
- A loucura poética, conduzida pelas
  musas.
• Importa dizer que o discurso do louco
  sempre foi visto como proscrito ou
  cheio de verdade. Oscilava-se em
  atribuir-lhe total desrazão e perceber
  nele ditos proféticos. Dessa maneira, o
  louco ou é não-lúcido e, por isso, tem
  sua fala desvalorizada OU é visto como
  aquele que vê o que ninguém mais vê,
  sendo também isolado, visto que é
  diferente do restante dos homens.
• Foi Philippe Pinel, na
  passagem do século XVIII
  para o XIX, o médico
  responsável por dissociar
  a loucura do caráter. É
  considerado o pai da
  Psiquiatria.
• Até então os loucos eram
  tratados com
  agressividade. Passaram,
  então, a serem
  considerados doentes e
  começou-se a administrar
  tratamentos diversos na
  tentativa de minorar os
  males mentais.
• Já no século XX, Michel Foucault
  debruçou-se sobre o estudo da loucura.
  Preocupado com a crítica às instituições
  sociais, volta, costumeiramente, seus
  argumentos contra a Psiquiatria, a
  Medicina e as Prisões – temas facilmente
  relacionáveis ao universo da loucura.
• São dele os livros: Doença mental e
  Psicologia; História da Loucura na Idade
  Clássica; Nascimento da clínica; O poder
  psiquiátrico, entre outros.
• Segundo Foucault, os loucos
  possuem um “discurso que não
  pode circular como o dos
  outros: pode ocorrer que sua
  palavra seja considerada nula e
  não seja acolhida, não tendo
  verdade, nem importância, não
  podendo testemunhar na
  justiça, não podendo autenticar
  um ato ou um contrato, não
  podendo, nem mesmo, no
  sacrifício da missa, permitir a
  transubstanciação e fazer do
  pão um corpo; pode ocorrer
  também, em contrapartida, que
  se lhe atribua, por oposição a
  todas as outras, estranhos
  poderes, o de dizer uma
  verdade escondida, o de
  pronunciar o futuro, o de
  enxergar com toda ingenuidade
  aquilo que a sabedoria dos
  outros não pode perceber” (A
  ordem do discurso, 1970).
Loucos na literatura
          • O Parvo (Gil Vicente)
          • Ismália (A. de
            Guimarães)
          • Quincas Borba
            (Machado de Assis)
          • O louco do Cati
            (Dyonelio Machado)
          • Simão Bacamarte d’O
            Alienista (Machado
            de Assis), entre
            outros.
Doido (de Carlos Drummond de
              Andrade)
O doido passeia
pela cidade sua loucura mansa.
É reconhecido seu direito
à loucura. Sua profissão.
Entra e come onde quer. Há níqueis
reservados para ele em toda casa.
Torna-se o doido municipal,
respeitável como o juiz, o coletor,
os negociantes, o vigário.
O doido é sagrado. Mas se endoida
de jogar pedra, vai preso no cubículo
mais tétrico e lodoso da cadeia.
Alguns diagnósticos de
 personagens reais...
           • Van Gogh (transtorno
             bipolar);
           • John Nash (Uma
             mente brilhante –
             esquizofrenia
             paranoide);
           • Edgar Allan Poe
             (maníaco-depressivo)
           • Newton (tendências
             psicóticas)
• Uma importante mudança na forma de
  encarar a loucura é que, se antes ela era
  vista como questão pessoal e familiar, no
  século XX, ela passa a ser uma questão
  pública de saúde, exigindo do governo
  atitudes para diminuir o impacto dos
  considerados loucos na própria vida e na
  sociedade. A resposta governamental,
  boa parte das vezes, dá-se pela
  segregação – o louco ocupando um lugar
  na instituição manicomial.
Hospitais psiquiátricos
(manicômios, hospícios...)
           • Para onde se enviavam
             os loucos, esses
             hospitais ofereciam os
             tratamentos à época
             considerados adequados:
             lobotomia, eletrochoque,
             insulinoterapia, camisas-
             de-força, quartos-fortes...
A antipsiquiatria e a humanização
            terapêutica
• O movimento antimanicomial e a
  antipsiquiatria agiram no sentido de rever
  os tratamentos destinados aos doentes.
• Em 1944, Nise da Silveira, psiquiatra em
  luta contra os tratamentos oferecidos
  pelos hospícios e que fora aluna de Jung,
  começa um trabalho de terapia
  ocupacional e de humanização do contato
  com os pacientes.
Museu das Imagens do
    Inconsciente
          • Do trabalho originado
            nos ateliês de pintura
            e modelagem
            alocados no “Centro
            Psiquiátrico Nacional
            Pedro II” nasce, em
            1952, o Museu das
            Imagens do
            Inconsciente.
Estudos de caso
        • Bispo do Rosário

        • Stela do Patrocínio

        • Maura Lopes
          Cançado
Arthur Bispo do Rosário
• Vítima de um delírio em que falava com
  Deus e este o escolhia para reconstruir
  o mundo e apresentar no dia do Juízo
  Final, Bispo do Rosário usa elementos
  diversos do cotidiano de interno da
  Colônia Juliano Moreira e constrói sua
  obra, transitiva e empenhada em
  atender um objetivo sagrado.
Stela do Patrocínio
• Sob o diagnóstico de personalidade
  psicopática mais esquizofrenia, evoluindo
  sob reações psicóticas, Stela do
  Patrocínio passou toda a vida adulta
  (desde os 21 anos) internada em centros
  psiquiátricos (do Centro Pedro II para a
  Colônia Juliano Moreira). Foi descoberta
  pela artista plástica Neli Gutmacher que
  montava um ateliê na Colônia. Morreu aos
  51 anos, por complicações decorrentes de
  uma amputação.
Reino dos bichos e dos animais é
            meu nome
É dito: pelo chão você não pode ficar
Porque lugar da cabeça é na cabeça
Lugar de corpo é no corpo
Pelas paredes você também não pode
Pelas camas também você não vai poder ficar
Pelo espaço vazio você também não vai poder
  ficar
Porque lugar da cabeça é na cabeça
Lugar de corpo é no corpo
Não sou eu que gosto de
   nascer
Eles é que me botam para
   nascer todo dia
E sempre que eu morro me
   ressuscitam
Me encarnam me
   desencarnam me
   reencarnam
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   estiver
Pra estar olhando pro gás pras
   paredes pro teto
Ou pra cabeça deles e pro
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Maura Lopes Cançado –
Diagnóstico: esquizofrenia e
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• “Estou de novo aqui, e isto é ---- Por que não
  dizer? Dói. Será por isto que venho? – Estou no
  hospício, deus. E hospício é esse branco sem
  fim, onde nos arrancam o coração a cada
  instante, trazem-no de volta, e o recebemos:
  trêmulo, exangue – e sempre outro. Hospício
  são as flores frias que se colam em nossas
  cabeças perdidas em escadarias de mármore
  antigo, subitamente futuro – como o que não se
  pode ainda compreender. São mãos longas
  levando-nos para não sei onde – paradas
  bruscas, corpos sacudidos se elevando
  incomensuráveis: Hospício é não se sabe o quê,
  porque Hospício é deus”.
• A primeira internação foi aos 18 anos.
  Hospício é deus, entretanto, foi escrito
  aos 29. As histórias sobre si são
  numerosas: provocou a queda de um
  avião, matou – não se sabe se uma
  colega de sanatório ou uma enfermeira,
  além de um namorado e, em meio a uma
  crise de esquizofrenia, entregou à
  ditadura seu filho sob acusação de
  subversão, filho este que jamais se
  envolvera com política. Foi preso e
  torturado.
Sobre Nise da Silveira e a terapia
      ocupacional, declara:
• “(...) Lá tem música, muito material para
  trabalho, pintura, museu, mas as funcionárias
  não possuem nenhum preparo para lidar com as
  pacientes. Tratam todos como se tivessem os
  mesmos problemas, não indagam o grau de
  instrução de nenhum, tentam obrigar-nos a
  fazer trabalhos chatíssimos (...) Doutora Nise da
  Silveira é fundadora e diretora da Ocupação. O
  que se sabe dela é francamente positivo, dizem
  ser uma mulher excepcional. Não creio que ela
  tenha conhecimento de como se portam suas
  auxiliares”.
A propósito de uma comparação:
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Arte, loucura e literatura na história da psiquiatria

  • 1. Poesia, arte e loucura Profa. Dra. Renata Moreira Semana de Letras - FACISABH
  • 2. O que é loucura? Um estado alterado da mente humana – perene ou transitório – que leva a delírios e pensamentos alheios ao que a sociedade entende por “normal”.
  • 3. Na história... • Sócrates enumera quatro tipos de loucura: - A loucura profética, emblematizada pelos oráculos; - A loucura ritual, a qual se chega por meio de danças e ritos; - A loucura amorosa, causada por Afrodite; - A loucura poética, conduzida pelas musas.
  • 4. • Importa dizer que o discurso do louco sempre foi visto como proscrito ou cheio de verdade. Oscilava-se em atribuir-lhe total desrazão e perceber nele ditos proféticos. Dessa maneira, o louco ou é não-lúcido e, por isso, tem sua fala desvalorizada OU é visto como aquele que vê o que ninguém mais vê, sendo também isolado, visto que é diferente do restante dos homens.
  • 5. • Foi Philippe Pinel, na passagem do século XVIII para o XIX, o médico responsável por dissociar a loucura do caráter. É considerado o pai da Psiquiatria. • Até então os loucos eram tratados com agressividade. Passaram, então, a serem considerados doentes e começou-se a administrar tratamentos diversos na tentativa de minorar os males mentais.
  • 6. • Já no século XX, Michel Foucault debruçou-se sobre o estudo da loucura. Preocupado com a crítica às instituições sociais, volta, costumeiramente, seus argumentos contra a Psiquiatria, a Medicina e as Prisões – temas facilmente relacionáveis ao universo da loucura. • São dele os livros: Doença mental e Psicologia; História da Loucura na Idade Clássica; Nascimento da clínica; O poder psiquiátrico, entre outros.
  • 7. • Segundo Foucault, os loucos possuem um “discurso que não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade, nem importância, não podendo testemunhar na justiça, não podendo autenticar um ato ou um contrato, não podendo, nem mesmo, no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um corpo; pode ocorrer também, em contrapartida, que se lhe atribua, por oposição a todas as outras, estranhos poderes, o de dizer uma verdade escondida, o de pronunciar o futuro, o de enxergar com toda ingenuidade aquilo que a sabedoria dos outros não pode perceber” (A ordem do discurso, 1970).
  • 8. Loucos na literatura • O Parvo (Gil Vicente) • Ismália (A. de Guimarães) • Quincas Borba (Machado de Assis) • O louco do Cati (Dyonelio Machado) • Simão Bacamarte d’O Alienista (Machado de Assis), entre outros.
  • 9. Doido (de Carlos Drummond de Andrade) O doido passeia pela cidade sua loucura mansa. É reconhecido seu direito à loucura. Sua profissão. Entra e come onde quer. Há níqueis reservados para ele em toda casa. Torna-se o doido municipal, respeitável como o juiz, o coletor, os negociantes, o vigário. O doido é sagrado. Mas se endoida de jogar pedra, vai preso no cubículo mais tétrico e lodoso da cadeia.
  • 10. Alguns diagnósticos de personagens reais... • Van Gogh (transtorno bipolar); • John Nash (Uma mente brilhante – esquizofrenia paranoide); • Edgar Allan Poe (maníaco-depressivo) • Newton (tendências psicóticas)
  • 11. • Uma importante mudança na forma de encarar a loucura é que, se antes ela era vista como questão pessoal e familiar, no século XX, ela passa a ser uma questão pública de saúde, exigindo do governo atitudes para diminuir o impacto dos considerados loucos na própria vida e na sociedade. A resposta governamental, boa parte das vezes, dá-se pela segregação – o louco ocupando um lugar na instituição manicomial.
  • 12. Hospitais psiquiátricos (manicômios, hospícios...) • Para onde se enviavam os loucos, esses hospitais ofereciam os tratamentos à época considerados adequados: lobotomia, eletrochoque, insulinoterapia, camisas- de-força, quartos-fortes...
  • 13. A antipsiquiatria e a humanização terapêutica • O movimento antimanicomial e a antipsiquiatria agiram no sentido de rever os tratamentos destinados aos doentes. • Em 1944, Nise da Silveira, psiquiatra em luta contra os tratamentos oferecidos pelos hospícios e que fora aluna de Jung, começa um trabalho de terapia ocupacional e de humanização do contato com os pacientes.
  • 14. Museu das Imagens do Inconsciente • Do trabalho originado nos ateliês de pintura e modelagem alocados no “Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II” nasce, em 1952, o Museu das Imagens do Inconsciente.
  • 15. Estudos de caso • Bispo do Rosário • Stela do Patrocínio • Maura Lopes Cançado
  • 16. Arthur Bispo do Rosário
  • 17. • Vítima de um delírio em que falava com Deus e este o escolhia para reconstruir o mundo e apresentar no dia do Juízo Final, Bispo do Rosário usa elementos diversos do cotidiano de interno da Colônia Juliano Moreira e constrói sua obra, transitiva e empenhada em atender um objetivo sagrado.
  • 18.
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 23. • Sob o diagnóstico de personalidade psicopática mais esquizofrenia, evoluindo sob reações psicóticas, Stela do Patrocínio passou toda a vida adulta (desde os 21 anos) internada em centros psiquiátricos (do Centro Pedro II para a Colônia Juliano Moreira). Foi descoberta pela artista plástica Neli Gutmacher que montava um ateliê na Colônia. Morreu aos 51 anos, por complicações decorrentes de uma amputação.
  • 24. Reino dos bichos e dos animais é meu nome É dito: pelo chão você não pode ficar Porque lugar da cabeça é na cabeça Lugar de corpo é no corpo Pelas paredes você também não pode Pelas camas também você não vai poder ficar Pelo espaço vazio você também não vai poder ficar Porque lugar da cabeça é na cabeça Lugar de corpo é no corpo
  • 25. Não sou eu que gosto de nascer Eles é que me botam para nascer todo dia E sempre que eu morro me ressuscitam Me encarnam me desencarnam me reencarnam Me formam em menos de um segundo Se eu sumir desaparecer eles me procuram onde eu estiver Pra estar olhando pro gás pras paredes pro teto Ou pra cabeça deles e pro corpo deles
  • 26. Maura Lopes Cançado – Diagnóstico: esquizofrenia e psicopatia
  • 27. • “Estou de novo aqui, e isto é ---- Por que não dizer? Dói. Será por isto que venho? – Estou no hospício, deus. E hospício é esse branco sem fim, onde nos arrancam o coração a cada instante, trazem-no de volta, e o recebemos: trêmulo, exangue – e sempre outro. Hospício são as flores frias que se colam em nossas cabeças perdidas em escadarias de mármore antigo, subitamente futuro – como o que não se pode ainda compreender. São mãos longas levando-nos para não sei onde – paradas bruscas, corpos sacudidos se elevando incomensuráveis: Hospício é não se sabe o quê, porque Hospício é deus”.
  • 28. • A primeira internação foi aos 18 anos. Hospício é deus, entretanto, foi escrito aos 29. As histórias sobre si são numerosas: provocou a queda de um avião, matou – não se sabe se uma colega de sanatório ou uma enfermeira, além de um namorado e, em meio a uma crise de esquizofrenia, entregou à ditadura seu filho sob acusação de subversão, filho este que jamais se envolvera com política. Foi preso e torturado.
  • 29. Sobre Nise da Silveira e a terapia ocupacional, declara: • “(...) Lá tem música, muito material para trabalho, pintura, museu, mas as funcionárias não possuem nenhum preparo para lidar com as pacientes. Tratam todos como se tivessem os mesmos problemas, não indagam o grau de instrução de nenhum, tentam obrigar-nos a fazer trabalhos chatíssimos (...) Doutora Nise da Silveira é fundadora e diretora da Ocupação. O que se sabe dela é francamente positivo, dizem ser uma mulher excepcional. Não creio que ela tenha conhecimento de como se portam suas auxiliares”.
  • 30. A propósito de uma comparação: Bispo x Duchamp
  • 31. E a ARTE? Como se define, se é que se define?