O documento resume a vida e obra do poeta brasileiro Castro Alves. [1] Nasceu na Bahia e estudou Direito em Recife e São Paulo, [2] foi um importante escritor romântico que se dedicou particularmente à denúncia da escravidão através de sua "Poesia Social", [3] sendo seu poema mais famoso "Navio Negreiro" que descreve de forma impactante a travessia dos escravos.
2. Poesia romântica 3ª
Geração
Escritor baiano de maior destaque da
terceira geração romântica, Castro Alves,
chamado de "Poeta dos Escravos”
apresenta uma poesia dividida em duas
temáticas: a poesia social e a poesia lírico-
amorosa.
4. O condoreirismo – Poesia
Social
Foi chamada de condoreira ou de poesia
social, pois buscava demonstrar em sua obra
os problemas sociais do Brasil da época,
como escravidão, proletariado e outros.
5. O condoreirismo – Poesia
Social
poesia social: poeta da liberdade, Castro denuncia as
desigualdades sociais e a situação da escravidão no país, além
de solidarizar-se com os negros, que eram trazidos de modo
precário dentro dos navios negreiros. Castro clamava à natureza
e às entidades divinas para que vissem a injustiça cometida
pelos homens sobre os homens e intervissem para que a viagem
rumo ao Brasil fosse interrompida.
Graças a sua obra empenhada na denúncia das condições dos
negros, ficou conhecido como "o poeta dos escravos", por
solidarizar-se com a situação dos que aqui vinham e eram
submetidos a todo tipo de trabalho em condições desumanas.
6. O condoreirismo – Poesia
Social
Participantes e influenciadores do processo
político, social e cultural do Brasil da época, os
autores dessa geração tinham o tema da liberdade
como principal de suas produções. Esse fato
contribuiu para o uso da ave “Condor” como
símbolo desse período do Romantismo.
Por conseguir voar muito alto e, por isso, ter
uma visão mais ampla, os românticos
identificaram-se com a liberdade do animal.
7. O condoreirismo – Poesia
Social
Nesse período, a literatura sofre forte influência do
escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885)
recebendo o nome de "Geração Hugoniana".
→ Características do Condoreirismo:
Abolicionismo - a poesia desse período volta-se para a
defesa da República e do abolicionismo e, com isso, o
foco das produções está concentrado nos pobres,
marginalizados e negros escravizados;
8. O condoreirismo – Poesia
Social
Liberdade – munidos de um sentimento de revolta ante
as injustiças sociais, os autores acreditavam que , assim
como o condor, tinham a capacidade de olhar de um
ponto mais alto as questões sociais e, por isso, informar
a sociedade sobre a realidade em que viviam de forma a
conscientizá-la do ideal de liberdade, ou seja, eles se
sentiam capazes de influenciar a forma de pensar e
colaborar para mudanças sociais.
9. O condoreirismo – Poesia
Social
Composta para ser declamada;
Tons característicos da oratória;
Uso intenso de vocativos e de pontos de exclamação;
Apreço às imagens exageradas;
Frequente uso de hipérboles
10. Obra condoreira
Navio Negreiro
O navio negreiro é um poema de Castro Alves e um
dos mais conhecidos da literatura brasileira. O
poema descreve com imagens e expressões
terríveis a situação dos africanos arrancados de
suas terras, separados de suas famílias e tratados
como animais nos navios negreiros que os traziam
para ser propriedade de senhores e trabalhar sob as
ordens dos feitores.
11. Navio Negreiro
O Navio Negreiro é uma poesia de Castro Alves que
integra o livro chamado Os Escravos.
Escrita em 1868 na cidade de São Paulo, a poesia relata a
situação sofrida pelos africanos vítimas do trafico de
escravos nas viagens de navio da África para o Brasil. Ela
é dividida em seis partes com metrificação variada.
12. Navio Negreiro
Primeira Parte: O céu e o mar como infinitos que se aproximam
tanto pela cor azul como pelo amplo espaço são os lugares centrais da
poesia. No meio dessa infinitude é que se encontra o barco, que navega
com o vento e com o esforço dos homens queimados de sol.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
O poeta observa essa cena com amor e com simpatia pela travessia
poética do barco. Ele quer se aproximar do navio que cruza o mar, mas
o navio foge do escritor.
14. Navio Negreiro
Segunda Parte: O poeta começa a imaginar de que nação é aquele
barco que segue em alto-mar. Mas, na realidade, isso não faz muita
diferença. Todo navio no oceano é cheio de poesia e de saudades.
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
16. Navio Negreiro
Terceira Parte: Através dos olhos do Albatroz, o poeta consegue se
aproximar do navio e observar o que acontece lá. Para a sua surpresa o
canto não é de saudades ou de poesia, mas sim um canto fúnebre e o
que se vê no navio é vil.
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
17. Navio Negreiro
Quarta Parte: O poeta descreve a horrível cena que se passa no
convés do navio: uma multidão de negros, mulheres, velhos e
crianças, todos presos uns aos outros, “dançam” enquanto são
chicoteados pelos marinheiros. A descrição é longa, feita em seis
estrofes.
As principais imagens são as dos ferros que rangem formando uma
espécie de música e da orquestra de marinheiros que chicoteiam os
escravos. A relação entre a música e a dança com a tortura e o
sofrimento dão uma grande carga poética à descrição da cena. No
final quem ri da dança insólita é o próprio Satanás, como se aquele
fosse um show de horrores feito para o diabo.
18. Navio Negreiro
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
19. Navio Negreiro
Quinta Parte: O poeta mostra a sua indignação perante o navio
negreiro e roga à Deus e à fúria do mar para que acabe tal infâmia. A
primeira estrofe é repetida no final, como se o pedido fosse reforçado
pelo poeta.
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
20. Navio Negreiro
No meio da quinta parte, as imagens da liberdade no continente
africano são intercaladas com a prisão no navio negreiro. A noite
escura e aberta da savana se transforma num porão escuro, cheio de
doenças e de morte. As condições desumanas do transporte de
escravos são descritas de forma poética, realçando a desumanização
deles.
21. Navio Negreiro
Sexta Parte: O poeta questiona qual a bandeira que hasteada nesse
navio é a responsável por tal barbaridade. É uma retomada da segunda
parte do poema. Se antes a bandeira não importava, pois o que se
ouvia era a poesia e o canto, agora ela é essencial diante do sofrimento
que o navio carrega.
O que se vê hasteada é a bandeira do Brasil, pátria do poeta.
O sentimento de desapontamento é grande, ele realça as qualidades
do seu país, a luta pela liberdade e toda a esperança que reside na
nação e que agora é manchada pelo tráfico de escravos.
22. Navio Negreiro
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
23. Navio Negreiro
O poema “épico” é eloquente e verborrágico. Embora o último
navio negreiro que tenha chegado ao país date de 1855, a escravidão
ainda era parte do sistema econômico brasileiro.
eloquente - que é convincente, persuasivo e expressivo; que se
expressa de maneira loquaz.
verborrágico - que se expressa utilizando muitas palavras nem
sempre providas de uma ideia lógica
24. Navio Negreiro
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
25. Navio Negreiro
(...)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
(...)
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
26. Navio Negreiro
(...)
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é
esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! …
.
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
.
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea
plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos
ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
27. Vozes da África
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
28. POESIA LÍRICA-
AMOROSA
Poesia lírico-amorosa: Está associada ao período em que o poeta
esteve envolvido com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Assim, a
virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e osso e
sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e
terno em face a sua amada corporificada e cheia de desejo.
Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua
primeira publicação, Espumas Flutuantes (1870), conjunto de 53
poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à morte,
sobre o amor no plano espiritual e físico, que apela para o
sentimental e para o sensual e sensorial. Além disso, o romance com
a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever sobre
esperança e desespero
29. POESIA LÍRICA-
AMOROSA
Neste poema, o poeta, apaixonado, não se contenta com apenas uma amante, e
mostra envolvimento com diferentes mulheres (Maria, Marion, Consuelo...),
todas belas e sensuais, se oferecendo para que o poeta, meigo e “inocente”, não
vá embora.
(...)
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova
aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa-noite!, formosa Consuelo!...
Boa-Noite
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito
— Mar de amor onde vagam meus
desejos.
30. POESIA LÍRICA-
AMOROSA
Outro poema famoso deste conjunto é O Livro e a América, em que o poeta
incentiva a leitura e a produção literária no país:
(...)
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto --
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe -- que faz a palma,
É chuva -- que faz o mar.
(...)
31. POESIA LÍRICA-
AMOROSA
O "adeus" de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a
correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me:
"adeus!"
Uma noite entreabriu-se um reposteiro.
. .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . .”
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"