2. Introdução
No final do século XX houve grande
crescimento dos sistemas ERPs (SAP/R3,
Oracle, BAAN etc.) impulsionados tanto pelo
“bug” do milênio , quanto pela adoção de
uma visão do negócio através de processos.
Passado o período dos ERPs, estamos
vivendo uma nova onda com a implantação
dos Sistemas de Supply Chain Management –
SCM.
O Artigo apresenta os resultados da pesquisa
realizadas pelo Centro de Estudos em
Logística / COPPEAD (Instituto de pós-
graduação e pesquisa em Administração da
UFRJ) sobre o estado atual(2002) de
implementações de software (SCM) no Brasil.
3.
4. Conceituação
Antes de se discutir os software de SCM, vamos a uma breve abordagem sobre os
sistemas ERPs.
Enterprise Resource Planning – ERP é um sistema de gestão empresarial que gerencia
as informações relativas aos processos operacionais, administrativos e gerenciais das
empresas.
Serve para integrar todos os departamentos e funções de uma empresa em um só
programa de software integrado que trabalha com um único banco de dados.
É uma evolução dos sistemas MRP e MRPII, que são importantes para o
planejamento de materiais e produção, o ERP incorporou aspectos de outras áreas
(Finanças. Marketing, Recursos humanos) etc.
5. Características dos ERPs
Enterprise Resource Planning – ERP
Os ERPs são sistemas transacionais
que tendem a focar o nível operacional
não possui muita capacidade analítica
para tomada de decisões de
planejamento estratégico.
São ótimos para informar o que está
acontecendo, mas não o que deve estar
acontecendo.
Os ERPs podem informar qual o nível
de estoque atual de um dado produto,
mas são deficientes em determinar o
quanto de estoque é necessário para
atingir um determinado nível de serviço.
6. Conceituação
Software de Supply Chain Management
– SCM é um termo comercial que se
refere a toda uma gama de ferramentas
de software ou módulos utilizados na
execução de operações de cadeia de
suprimentos, gestão de relacionamento
com fornecedores e controle associados
a processos de negócios.
Após o advento do ERP, a evolução
surgiu o conceito SCM, sigla para
Gerenciamento da cadeia logística. Esta
solução veio a complementar o ERP,
gerenciando toda a cadeia logística do
cliente até o fornecedor, em resumo,
planejando e controlando as entidades
internas e externas da companhia.
7. Principais característicasdos SSCMs
Apesar de muitas vezes serem vistos
como concorrentes, o valor total de um
sistema ERP não pode ser alcançado
sem a capacidade de resolução de
problemas dos sistemas analíticos. Da
mesma forma, os sistemas analíticos
necessitam de dados acurados das várias
funções da organização, sendo através
do sistema ERP, uma das melhores
maneiras de obter estes dados.
Possibilidade de planejamento integral
de toda a cadeia de suprimentos do
fornecedor até o cliente de uma ou
várias empresas;
Real otimização através da definição
de alternativas, objetivos e restrições
para os problemas de planejamento com
base em métodos otimizadores ou de
heurísticas exatas;
Uso de um sistema de planejamento
hierárquico (ponderação entre
praticidade e a consideração entre a
interdependência existente entre as
tarefas de planejamento).
8. EstruturadeClassificaçãodesistemade
Planejamento
A gestão logística de uma empresa
envolve grande variedade de decisões
associadas a diversas atividades –
transporte, produção, estoque, etc. Com
intuito de abrangência total, os
softwares de SCM possuem alguns
módulos, geralmente relacionados ao
tipo de decisão a ser tomada e às
atividades logísticas.
De acordo com o horizonte de
planejamento e importância da decisão,
as tarefas podem ser classificadas em
três diferente níveis de planejamento:
Estratégico,Tático e Operacional.
9. FuncionalidadesDisponíveis
De forma generalista os sistemas SCM
possuem uma estrutura que abrange
todas as atividades de planejamento,
englobando desde módulos
Operacionais,Táticos até o Estratégico.
Os sistemas SCM possuem alguns
módulos que são focados em apenas um
nível decisório (TMS) , enquanto outros
mais de um nível decisório (Demand
Planning) ou mais de um processo
(Master Plannig). Outro ponto relevante
é que os módulos passam de
abrangência restrita e alto grau de
detalhes para mais abrangente e
estratégicos como o módulo Network
Planning.
Módulos de um SCM
10. Estrategic netowork planning
Planejamento Estratégico de Rede
O planejamento estratégico de rede
possui horizonte de dois anos ou
mais, e suas decisões envolvem a
definição de zonas de clientes, a
abertura ou fechamento de fábricas
e centros de distribuição, bem como
de suas capacidades necessárias.
A utilização desses sistemas passa
pela modelagem da rede em si. Essa
modelagem abrange custos fixos e
variáveis da operação, instalações
existentes (Fábricas, CDs) e
segmentação geográfica da
demanda, entre outros aspectos.
11. Demand planning
As aplicações de planejamento da
demanda ajudam na elaboração de
previsões de vendas, através da
utilização de ferramentas analíticas
apropriadas.
Esses sistemas utilizam como input
dados históricos de vendas e qualquer
informação existente que pode ser
relacionada com a demanda futura,
como contratos já firmados ou
projeção da taxa de inflação.
As previsões são realizadas e
monitoradas através de três
dimensões básicas, com diferentes
graus de agregação:
De produto: produto, grupo, família,
linha;
Geográficas: cliente, região de
vendas, venda nacional, área de
atuação de centros de distribuição;
De tempo: dia, mês, ano ou
qualquer horizonte específico em
função de sazonlidades.
12. Master planning
A principal finalidade desse módulo é
sincronizar o fluxo de materiais ao
longo de toda a cadeia. Isso suporta
decisões de médio prazo como
capacidade de produção,
disponibilidade de transporte,
planejamento de suprimentos e
políticas de estoque.
A sincronização do fluxo de materiais
vem da definição das capacidades das
entidades (fábrica, CDs, frota de
veículos) que compõem a cadeia de
suprimentos. Dessa forma, é possível
obter redução nos níveis de estoque,
eliminando estoques de segurança
redundantes oriundos de
planejamento não integrado.
Distribution planning
Esse módulo trata das decisões táticas de
planejamento da operação de distribuição.
Define as regras e premissas para geração de
roteiros de transportes, observando-se as
regras de carregamento e oportunidades de
consolidação de carga entre outros.
Inventory management
Os módulos de gestão de estoque são
responsáveis pela definição e planejamento
das políticas de estoque a serem utilizadas.
Esses sistemas auxiliam no calculo dos
paramentros e na decisão da política a ser
adotada. Utiliza como paramentro: custo de
estoque e dos transporte, dos níveis de
serviços, tempo de fornecimento, de
fabricação e projeções de demanda.
13. Scheduling da
produção
A função desse módulo é gerar a
programação detalhada de produção
em intervalos de tempo relativamente
pequenos. Essa programação indica os
tempos de inicio e término de cada
ordem, bem como os recursos para seu
processamento, sendo este ponto
onde os software de SCM mais
agregam.
Estes sistemas buscam a melhoria da
produção através de algoritmos
otimizadores, com objetivos de
minimização ou maximização de
algum aspecto da produção. (set-ups,
custo variável, etc.)
TransportationManagement System-TMS
Esse módulo trata do gerenciamento dos
transportes, e está divido em:
Monitoramento e controle dos custos e
serviços, tais como: fretes, entregas, avarias,
etc.
Execução consistente em determinar as rotas
e modais a serem utilizados, sequencia e
tempo de paradas dos veículos.
Auditoria de fretes, mantendo uma base de
dados das tarifas de fretes praticados.
WarehouseManagement System-WMS
Esses sistema são responsáveis pela operação
do dia-a-dia de armazém e sua utilização e
decisões são todas Operacionais. Possui
funcionalidades como definição de rotas de
coletas, de endereçamento de produtos,
buscando minimizar as distâncias médias
percorridas.
14. Procurement
(compras)
A função desse módulo é focar o
relacionamento entre a empresa e seus
fornecedores. Seus objetivos básicos
são os de permitir um processo de
compras, eficiente e racionalizado, e
gerenciar especificações, preços,
ordens de compras e os próprios
fornecedores.
O processo de fulfilmente, ou
atendimento da demanda, determina a
data prometida de entrega para pedidos,
influenciando o leadtime e os
indicadores de pontualidade de entrega
dos mesmos, além de reduzir a perda de
vendas.
Order fulfilment
(Atendimento)
15.
16. Análise do processo de implantação de SSCM por
empresas brasileiras
Apresentaremos alguns resultados da
pesquisa realizada pelo CEL acerca do
atual estágio das implantações de
softwares de Supply Chain Management
(SCM) no Brasil.
A pesquisa foi realizada através de
entrevistas presenciais com os
responsáveis pela implantação dos
módulos de supply chain em suas
empresas. Um total de 62 empresas
foram contactadas, sendo que destas
apenas 13 possuíam pelo menos algum
dos sistemas considerados na pesquisa.
As entrevistas e posterior análise foram
realizadas com base nestas 13 empresas.
Escolha da Ferramenta
Nesta etapa da pesquisa buscou-se
identificar e analisar o processo pelo
qual, uma vez definida a necessidade de
uma ferramenta de SCM, se escolhe o
fornecedor.
Desta forma, foram abordados três
aspectos:
O grau de formalização do processo de
escolha;
Os critérios utilizados para a definição;
Os fornecedores avaliados.
17. Processo de seleção
Neste aspecto, procurou-se avaliar o
grau de formalização do processo e
como esta pode ter afetado o resultado
da implantação. Foi considerado como
formalizado um processo no qual as
necessidades das empresas estavam
claramente definidas, em que foi
realizada a avaliação de mais de um
fornecedor, e finalmente, no qual a
escolha foi baseada em critérios
tangíveis.
Uma terceira possibilidade e a licença
mundial, que é caracterizada quando
empresas multinacionais definem uma
estratégia mundial de implantação de
determinado sistema. As subsidiárias
brasileiras não realizam seleção, ficando
restrita a implantar o software definido
pela matriz.
18. Critérios utilizados na definição do
fornecedor
•Os dois primeiros estão associados,
principalmente o segundo, a problemas já
encontrados pelas empresas quando da
implantação de seus sistemas integradores.
Portanto, a importância dada à integração pode
ser vista como um alinhamento com as
implantações já realizadas no passado.
•O terceiro critério diz respeito à aderência às
necessidades, ou seja, a compatibilidade com os
sistemas já existentes. Mas a busca por uma
melhor integração não deve sacrificar a
adequação da ferramenta. Um bom exemplo são
empresas que possuem o sistema integrador R/3
da SAP escolhem um software de SCM que não o
APO, também da SAP.
•Alem dos três primeiros critérios, uma outra
observação diz respeito a baixa importância
dada ao custo da ferramenta. Isto se deve ao
fato de que as empresas que implementaram
licenças mundiais, não necessitam pagar pelas
licenças, incorrendo apenas no custo de
implantação.
19. Fornecedores avaliados
Os processo formais de seleção, e
algumas vezes também os informais, se
caracterizam pela avaliação de mais de
um possível fornecedor. O gráfico mostra
o cruzamento do número de vezes que
cada fornecedor foi avaliado com o
número de implantação efetivas de cada
um.
A i2 implantou apenas uma, já a
Manugistics desponta com o maior
número de implantações, sendo a
escolhida em seis dos sete processos
seletivos que participou.
O APO da SAP se caracteriza por ser um
sistema que só é implantado por
empresas que já possuam o R/3. Tanto a
CAPS-BAAN quanto a Synquest também
estão muito associados.
20. Processodeimplantação
Com relação à implantação buscou-se
levantar quais os principais módulos que
estão sendo utilizados, bem como
analisar as características de cada
processo de implantação com o objetivo
de se identificar quais os fatores críticos
de sucesso.
Foram avaliados os seguintes aspectos:
Módulos implantados;
Composição do time de implantação;
Tempo de implantação;
Problemas encontrados ao longo deste
processo.
21. A-Módulos implantados
O módulo de planejamento da produção
é aquele com maior número de
ocorrências, sendo observado duas
vezes mais do que no segundo – gestão
de estoques. Com base nisto pode-se
supor que o planejamento da produção é
um problema bastante frequente e
principal fonte de implantações dos
softwares de SCM.
Ao longo das entrevistas foi identificado
que os módulos relacionados às
atividades de transporte, ou o de
estrutura de rede são normalmente
implantados em empresas que possuem
problemas específicos nestas áreas. Esta
observação explica seus baixos níveis de
implantação.
22. B–Composiçãodotimedeimplantação
Foi considerado que o time de
implantação pode ser composto por três
tipos de profissionais: funcionários da
própria empresa, funcionários da
empresa fornecedora do software e
consultores da empresa integradora. Foi
considerado como empresa integradora
qualquer empresa envolvida na
implantação que não a empresa cliente
(que irá usar a ferramenta) ou o
fornecedor. Normalmente este papel é
desempenhado pelas grandes
consultorias.
23. C– Tempodeimplantação
Para analisar o tempo de implantação de um
software de SCM considerou-se não somente o
tempo gasto na implantação em si, mas também o
utilizado nas etapas de seleção da ferramenta e de
identificação de necessidade.
Necessidades: Algumas empresas consideram esta
etapa como um marco, um mês específico, outras a
consideram mais duradoura. Na realidade, quando
de etapas mais duradouras (empresas 1 e 3), estas
estão associadas a projetos mais amplos.
Seleção: Apesar de não garantir o sucesso da
implantação, os processos com tempos de seleção
um pouco mais longos resultaram em escolhas
consideradas acertadas por parte das empresas,
principalmente no que diz respeito à aderência da
ferramenta às necessidades do negócio.
Implantação: Com relação ao tempo de
implantação, as variações são devidas aos diferentes
graus de complexidade dos projetos, incluindo-se
neste aspecto empresas que implantaram o
software em mais de um site – caso da empresa 5.
24. Principais problemas encontrados
Problemas Culturais: A razão para isto é o fato de
que a implantação deste tipo de sistema
invariavelmente altera o modo pelas quais certas
decisões são tomadas. Isto faz com que possam
despertar dois tipos de barreiras culturais:
Resistência à mudança ( o novo sistema não atende
a todas as necessidades) e, Sensação de perda de
poder, ou até mesmo de risco de demissão, em
função de tarefas antes realizadas manualmente
passarem a ser feitas diretamente pelo sistema.
Remodelagem de processos: A necessidade de
remodelagem de processos muitas vezes não é
prevista nas implantações. Um aspecto que
geralmente gera mudanças é a necessidade de
informações que não eram trabalhadas até então, o
que de certa forma está relacionado ao terceiro
problema no ranking, o de obtenção de dados.
Qualificação do pessoal contratado: Apesar de não
ser um aspecto entre os mais críticos, foram
frequentes as críticas à qualificação do pessoal
contratado para a implantação, seja de consultoria
ou até mesmo dos fornecedores.
25. Grau de satisfação com a ferramenta
A satisfação das empresas está nas
funcionalidades dos softwares: capacidade
analítica, quantidade e qualidade de
informações, aderência às necessidades. Por
outro lado, os aspectos que geram
insatisfação estão associados ao processo de
implantação ou ao pós-venda (caso de
serviços agregados).
A integração dos sistemas aos ERPs
apresenta um alto grau de satisfação, o que é
bastante relevante uma vez que esta
característica foi um dos principais critérios
de escolha das ferramentas.
O aspecto de custo com licenças, não
apresentou satisfação ou insatisfação, já o
investimento total, que engloba todo o custo
da implantação, aparece como o aspecto de
maior insatisfação, indicando que
frequentemente, os valores superaram a
previsão inicial.
26. Conclusão
Os resultados monstram que o processo de implantação de um software de SCM possui alto grau
de complexidade bem como inúmeros aspectos que devem ser trabalhados em vista a se obter
uma implantação de sucesso (composição do time, processo de seleção do fornecedor,
capacitação interna, etc).
Esta alta complexidade vem resultando em projetos sistematicamente fora do prazo e com
gastos superiores aos orçamentos iniciais. Entretanto, cerca de 44% dos entrevistados afirmam
que o retorno sobre o investimento do projeto como um todo foi maior ou muito maior do que o
esperado, e 34% consideram como sendo igual ao esperado. Esta satisfação quanto ao retorno
também é observado com relação ao desempenho do software após sua implantação, para o
qual apenas 18% dos entrevistados o consideram pior ou muito pior do que o esperado, e que
55% consideram igual ao esperado.
Com base em tudo o que foi visto pode-se concluir que, apesar dos inúmeros problemas
possíveis de serem encontrados ao longo de um processo de implantação de um software de
SCM, e dos custos serem frequentemente superiores aos previstos, ainda assim as empresas
estão satisfeitas com as ferramentas e obtendo retorno.