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Assim narrou Santa Benedita




    Irmã Pilar Sanz
     Editoras Beneditinas
     Brasília – DF . 2009
MINHA VIDA

       Assim narrou M. Benedita...
       Eu vivi uma infância feliz, no meio da
roça, rodeada do carinho dos meus pais e irmãos,
que gostavam muito de mim. Ainda me lembro
dos campos verdes por onde brincava, dos
mananciais cristalinos onde matava a minha
sede... Junto aos colegas da minha idade divertia-
me fazendo brincadeiras.
       Eu tinha 11 anos quando a preocupação
começou a percorrer o coração e as conversas dos
mais velhos... eu intuía que estava acontecendo
alguma coisa muito grave.
       Um dia, muito cedo, minha mãe comentou:
filha temos que ir embora, as tropas de Napoleão
já estão muito perto e arrasam tudo por onde
passam, não podemos ficar aqui por mais
tempo...
       Eu vivia a dor de deixar alquilo que mais
amava...Olhei os montes pela ultima vez.
Naquele dia, mal avistava o alvorecer no
horizonte, uma brisa suave e fresca o inundava
todo. Pouco a pouco, no entanto, íamos deixando
a cidade, tudo desaparecia diante de mim. Ao
meu lado, meus pais e irmãos caminhavam
cansados, todos nós desejávamos ver um novo

2
horizonte se abrir e que o sol brilhasse
novamente.
       Aos 15 anos de idade, me brotou uma
alegria profunda, um gozo em minha alma, algo
que eu não sabia definir, decifrar, uma atração.
Deus era o meu confidente, meu amigo, aquele
que eu partilhava todo sorriso, toda lágrima,
minha felicidade, eu era feliz... Sentia-O perto de
mim, como o toque do vento em meu rosto, o
perfume das flores que envolvia todo ar... Ele me
chamava de forma tão clara, que não havia
dúvida, era ELE. Era como uma segurança sem
limites no meio do oceano.
       Nesses momentos, compreendia que Ele
era o próprio Oceano, onde minha vida tinha
sentido.
       Tal loucura de amor tinha que ser
correspondida... Por isso, um dia, enquanto todos
dormiam, no silencio da noite, me levantei com
cautela, peguei a mala que eu mesma havia
preparado e fui procurar um lugar fora da cidade,
onde eu pudesse realizar meu sonho.
       Caminhei durante algumas horas, já
começavam a se desenhar os raios do sol, quando
cheguei à caverna... Olhei com atenção, procurei
um canto e coloquei minhas coisas... Tirei uma
imagem da virgem Maria e outra de Cristo,

                                                 3
“O nosso ser é um conjunto
    de perguntas que só em Deus
    tem as respostas certas e uma
       feliz realização.” (HP)




4
improvisei um pequeno altar. Ali comecei minha
experiência de solidão e silencio... Algo maior
que qualquer amor humano me havia levado até
aquele lugar, não era capricho meu.
       O primeiro dia passou... Quando a fome
começava a apertar o estomago, comi raízes para
me alimentar, bem como ervas, ali era um lugar
de muita vegetação. Depois de comer o que a
natureza me oferecia dava graças a Deus por
tanta generosidade... Sentia-me feliz. Quando
caia a noite, a escuridão envolvia tudo... Dei-me
conta, enfim, que estava longe de minha casa, de
minha mãe e de todo carinho que me doavam.
Pensava na preocupação que poderiam estar
sentindo com minha ausência, mas dormia em
paz, pois o que eu sentia, naquele momento, era
maior que a preocupação dos meus familiares.
       Assim passaram-se cinco dias, não havia
tempo para o aborrecimento, cada manhã era uma
oportunidade para amar, para dedicar-me Aquele
pelo o qual eu amava e me sentia amada por Ele,
sentia-me seduzida.
       O pior aconteceu no sexto dia, enquanto
passeava entre as plantas, pensando na beleza da
criação, assustei-me com uns fortes gritos,



                                               5
pronunciavam meu nome, então dei-me conta
que eram vozes conhecidas, eram meus pais.
       Despertei como de um sonho. Enquanto
tentava explicar o porquê de minha fuga, ouvia
meu Pai dizer: “Deixe de bobagem, você se
casará como todas as jovens. Que ridículo se
torna para toda a família! Para toda a cidade, que
só fala em você! Tens consciência do que queres
fazer?”.
       Não pude defender-me. Voltei para casa,
era muito nova, me submeti as ordens de meus
pais, não tinha opção.
       Enquanto seguia minha vida, no trabalho
das vendas de verduras e frutas, ouvia com
atenção o que as pessoas me diziam e, a cada
escuta, percebia que meu coração se inflamava ao
ouvir histórias de meninas livres, que
perambulavam pelas ruas e amavam livremente,
sem que ninguém se preocupasse com elas.
       Para meus pais eu era apenas uma menina
que cuidavas dos afazeres de casa, no entanto, em
meu coração, ardia um desejo que eu mesma não
podia compreender, deixando-me guiar por uma
mão misteriosa que levava-me ao rumo de minha
nova história.
       Passados cinco anos, parecia que a
monotonia começava a rondar meu espírito,

6
“Na medida em que a Igreja ondeie
a bandeira da “vida intima com Deus”
              como missão evangélica,
    enxergaremos uma nova primavera
      na maneira de ser Cristão.” (HP)


                                     7
quando apareceu em minha vida um jovem. Ele
era alegre, piadista... encantei-me com seu jeito
de ser, e a recíproca foi verdadeira. Meu pai
percebeu, mas aquele tempo às coisas não
andavam tão rápidas como os dias de hoje, ele se
chamava João.
       Floresciam os pés de amêndoas e eu me
sentia como eles, florescendo por dentro, algo
novo invadiam-me por dentro como se eu
descobrisse uma nova forma de amar.
       Meus pais ficaram muito contentes em
saber que meu coração ardia por um jovem, pois
desde minha adolescência, sofriam achando-me
um pouco diferente das outras meninas.
       Decidimos nos casar na Basílica de Pavia,
em 7 de fevereiro de 1916. Estava tudo enfeitado
com flores. João e eu embarcamos em um projeto
novo, que víamos como o “Projeto de Deus”.
       Tínhamos tudo para sermos felizes:
trabalho, de onde tirávamos o dinheiro para o
nosso sustento, uma pequena casa, amor mutuo,
compromisso e entrega e...o mistério que nos
envolvia, fazendo-nos engrandecer cada dia mais
a nossa entrega.
       Mas em meu coração, ressoava novamente
as conversas das senhoras ricas que passavam
pela minha tenda, e “essas meninas deixadas ao

8
seu livre prazer”, os dias passados na gruta, tudo
me fazia pensar em uma entrega de vida mais
profunda. Mas como isso poderia acontecer se
havia João em minha vida? O que ele pensaria?
       Estávamos casados há dois anos e, certa
noite, como de costume, quando fechamos a
tenda, nos sentamos cansados em frente à lareira,
foi ai que ele se deu conta que algo me
preocupava... “Deus não nos concedeu filhos”...
ele me acariciava perguntando se era esse o
pensamento que me perturbava! Fiquei
completamente comovida com sua atitude.
Naquela noite conversamos muito, nos
compreendemos. João não podia ver-me triste,
estava sempre disposto a me animar. Confessou
que já havia percebido minha tristeza e sabia
exatamente o que me incomodava, me
angustiava.
       Juntos, João e eu resolvemos engrandecer
o amor que nos inflamava por dentro. Com o
coração livre, decidimos viver uma vida „casta‟,
sacrificada, mas que nos conduzia a uma vida
mais fecunda. Naquela noite dei graças a Deus
por saber conversar sobre meus anseios e por
João compreender a minha vida. Vibrei tanto em
meu interior, que me sentia embriagada por um



                                                9
Esta é a minha vocação: dar resposta
       ao amor de Deus que me
       ama desde a eternidade!.




10
“amor divino”. O sonho que meus pais haviam
matado ressurgia novamente em meu ser.
       Minha irmã Maria ficou doente por oito
anos, a ela ofereci toda minha atenção e ajuda.
Não poupei forças nem tempo a ela, pois sabia e
sentia que Deus me pedia essa entrega. Uma luz
me conduzia por caminhos que eu não
imaginava.
       Em 1825, Maria veio a falecer. João
continuava ao meu lado. Certa manhã,
compreendi que o que eu fazia, era pouco diante
da grandiosidade da vida e seus apelos. Foi
quando decidi entregar-me a Deus... Iria a um
convento, algo que cultivava em meu ser a muito
tempo.
       João fez o mesmo, foi até o convento dos
Somascos e pediu que o aceitassem como leigo.
       Ali, no silêncio, me senti livre. Meu
coração vibrava ao ouvir o som do Evangelho.
Passou a primavera e chegou o verão, com o
outono enxergava os ramos secos através da
minha janela. Meus sonhos, minhas lembranças
tomavam uma nova cor e, mais uma vez,
ressurgia à mente as meninas de Pavia! As via
perambulando, de um lado para o outro, sem que
ninguém as enxergassem ou lhes transmitissem
um gesto, um olhar de carinho.

                                            11
A noite surgia, mais uma vez em minha
vida, como uma sinfonia de silêncio, quebrado,
somente, pelo ritmo suave do som das águas que
desciam das cascatas de uma cachoeira, levando
consigo tudo aquilo que conseguia atingir... Ali
estava Ele, o jovem que me mostrava as meninas
perdidas, sem rumo...!
      Sim, eu serei a mãe destas jovens, eu
prometo! Neste momento acordei! Estava em
minha cama, suava e ardia-me em febre, o meu
coração batia muito forte.
      Foi assim que, não me lembro bem como,
me curei. Novamente peguei minha trouxa e,
como em outros tempos, percorri cada passo do
longo caminho, cantando de alegria. Um novo
horizonte se abria para mim. Aquelas meninas
haviam roubado meu coração e tornei-me
peregrina dos caminhos apaixonados da vida.
      Tinha vontade de abraçar as montanhas,
cruzar rios, subir nas arvores, até chegar
novamente em Pavia.
      João nunca me deixou sozinha, era um
bom homem, carinhoso. Acompanhou-me à
Pavia nessa nova aventura, quis viver ao meu
lado sem que os outros o vissem, na humildade.




12
“Precisamos silenciar o nosso interior
 para escutar a voz de Deus no meio
    das preocupações de cada dia.
           Jesus está vivo!
  Caminha sempre ao nosso lado.”
                (HP)




                                         13
Ali estávamos eu e João. Convidamos as
primeiras jovens que queriam começar uma vida
nova.
       Partilhamos tudo com elas, aprenderam a
ler, escrever... Dialogávamos sobre o sentido da
vida, como deveria ser vivida e valorizada, dando
um novo sentido à ela. Conversávamos sobre as
dificuldades, os amigos... A maioria delas estava
sozinha. Necessitavam dar e receber carinho de
uma mãe que as ensinassem a enxergar a vida de
outra forma. Que cuidasse delas e lhes desse
coragem, que as ajudasse a compreender quando
algo desse errado. Elas preenchiam a minha vida,
e meu coração se emocionava. Nelas, via o rosto
de Deus sem fazer nenhum esforço, era uma
experiência gratificante.
       Uma noite, na capela, Deus fez-me sentir
uma forte sensação, meus olhos brilhavam com
uma surpreendente emoção. Fez-me provar os
sabores de uma repetida e incomparável
experiência. Eu me abria ao presente de Deus e
me deixava acariciar por sua amizade, a mais
eloqüente de todas em meio ao perfume da
primavera.
       Para mim, restava o caminho mais
desafiador, mais doloroso e, muitas vezes, Deus



14
nos faz experimentar o amor, antes de enfrentar o
calvário, para que não desfaleçamos.
       Contava com o apoio de João e algumas
companheiras que desejavam partilhar esse
trabalho. Doar minha vida e minhas energias por
aquelas jovens, e descobrir a cada amanhecer,
essa fonte que borbulha no coração, que só vive
para Deus.
       Em minha alma ardia uma chama que me
consumia, foi quando foram lançados os
primeiros golpes, começara o martírio: “... era
uma farsa! Mata suas filhas! As prende no porão
de sua casa! Neste momento, meu coração se
estremeceu. Como poderiam pensar algo assim?
As falsas afirmações, inclusive, chegaram ao
Bispo.
       A cruz chega quando menos esperamos.
Deus reservou esta provação num momento de
maturidade de espírito, antes seria impossível
suportar. Estava disposta a receber todas as
pedras, mas não consentiria que fizessem algum
mal às minhas filhas.
       Aconteceu que, em Outubro de 1837,
diante da imagem de Cristo Crucificado, percebi
que minhas mãos encontravam-se vazias.
       As mesmas mãos que haviam dado banho
naquelas jovens, que acariciavam seus rostos e

                                              15
enxugava as lágrimas que teimavam em cair por
causa do sofrimento e da dor, mãos que as
ensinaram a escrever... Chorei muito a princípio,
as noites escuras tomavam conta de mim e o
abandono invadiu meu ser. Mas, neste momento,
compreendi que se o grão de trigo não cair e
morrer, não voltara a dar frutos, compreendi que
o amor eterno está exposto na cruz e que os
caminhos de Deus são surpreendentes. É preciso
deixar o remo nas mãos de Deus, para possamos
cruzar o “grande oceano”: Por Deus, estava
começando a compreender a vida. A dança da
vida seguia no ritmo de Deus. Eu tinha que
percorrer o caminho de Deus, não o meu.
       Confesso que foi um desprendimento
terrível, como um forte vendaval. A presença de
João e das três companheiras que seguiam
comigo, me ajudaram a suportar aquele momento
de entrega total e sem limites que Deus me pedia.
Pois,     somente     os    verdadeiros   amigos
permanecem conosco nas horas de sofrimento e
provações e não apenas nas horas de felicidade.
       Mais uma vez, seguia o caminho indicado
por Deus. Não importava a direção; senti-me
livre como um pássaro para cruzar o horizonte,
experimentando a generosidade do Pai. Aqueles
que seguem com ele, o caminho da salvação,

16
“Eu sei que posso ser fiel a Deus
  apoiado na sua própria fidelidade,
porque Ele se entregou por mim.” (HP)




                                        17
partilham o sofrimento, tirando-lhes o peso e
fazendo-lhes caminhar mais rápido.
       Acompanhada de João e minhas
companheiras, chegamos a Ronco, povoado de
João. Ele também merecia voltar a pisar o chão
de sua terra e sentir-se acolhido por ela, pois, ali
vivera com muitos sacrifícios. Por este motivo,
permaneceríamos ali por alguns dias...
       Esses caminhos tortuosos nos deixariam
com calos nos pés, mas nos conduziriam ao
Espírito Divino. Logo após nossa chegada, as
pessoas nos convidariam a cuidar das meninas do
povoado, o que era, desde o início, nossa
intenção. João iniciou o trabalho, se
comprometendo a ficar mais tempo no local.
       A vida era tranquila e podíamos descansar
bastante. As jovens que me acompanharam
queriam me ver comprometida com o ideal da
consagração. Por isso, após muita oração,
partilhamos os mesmo sonhos, decidimos nos
consagrar a Deus e nos dedicar às jovens e
crianças que necessitavam de ajuda em todos os
sentidos.
       Vi na decisão de nossa pequena
comunidade, ser manifestada a vontade de Deus.
O som do sino anunciava-nos o melhor momento
do dia: levantar, rezar, comer... O ambiente

18
silencioso de Ronco se convertia em uma grande
sinfonia, embora tivesse o grito das crianças, das
classes, das irmãs e da oração, ali o silencio de
fato reinava. À noite, enquanto todos dormiam,
eu discretamente me levantava e ia até a capela.
Depositava toda a minha confiança em Deus e
Ele me presenteava, deixando-me levantar vôo.
Quando menos esperava, já era dia.
       Compreendíamos que a vida era cheia de
encantos e beleza. Para tanto, devíamos dar
graças a Deus por tudo, assim, nos reuníamos em
uma só oração, uma só fé. Sentíamos felizes,
pois, nossos sonhos e esperanças chegavam em
nossas mãos.
       Muitas vezes, tinha que me ausentar e
atender outros lugares que me requisitavam,
também me chamavam em Pavia. Ali, em outra
casinha, hospedamos várias meninas, que abriam
sorriso nos lábios.
       Sofri muito, quando tive que deixar tudo
para traz. Obrigada a desfazer-me daqueles
momentos tão fundamentais em minha vida, senti
como se me arrancassem a pele... Mas agora,
Deus havia me presenteado momentos de prazer,
de amor.
       Minhas forças declinavam, assim ia-me
abandonando nas mãos de Deus como um

                                               19
instrumento fiel. Desci a casa do oleiro e deixei-
me ser modelada por ele.
       Escrevi normas para minhas filhas. Via a
trajetória de suas vidas como uma luz, que
desaparecia na imensidão do caminho e
começava uma aventura nova, um novo
horizonte.
       Aproximava-se o dia 21 de março... Havia
proposto que este dia fosse destinado ao encontro
com o Amor. Reuni as meninas e as jovens
companheiras em um lugar, em silêncio. João
também se fez presente. Naquele dia, ele se
despediu de mim, me provocando um nó na
garganta, um pequeno momento de intimidade!
Quantas renúncias por um amor sublime... E
minhas filhas, essas filhas as que tanto queria.
Choravam, rezavam... o meu olhar ficou fixo
num raio de luz, meus ouvidos já não percebiam
seus gemidos. A fé me surpreendeu nos braços
do Pai e vi saciados todos os meus desejos no
Amor! Tudo era claridade. Era a eternidade.
       Aqui não tem passado nem futuro. Tudo é
presente. Vivo numa quietude dinâmica. Tenho
minha morada na Paz infinita.




20
“Amemos com todas as nossas forças,
                além de nossas forças,
até nos perder no mesmo ato de amar!
      Assim se abrirão no nosso peito
             as asas da ressurreição!”
                                 (HP)




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Santa Benedita Cambiagio

  • 1. Assim narrou Santa Benedita Irmã Pilar Sanz Editoras Beneditinas Brasília – DF . 2009
  • 2. MINHA VIDA Assim narrou M. Benedita... Eu vivi uma infância feliz, no meio da roça, rodeada do carinho dos meus pais e irmãos, que gostavam muito de mim. Ainda me lembro dos campos verdes por onde brincava, dos mananciais cristalinos onde matava a minha sede... Junto aos colegas da minha idade divertia- me fazendo brincadeiras. Eu tinha 11 anos quando a preocupação começou a percorrer o coração e as conversas dos mais velhos... eu intuía que estava acontecendo alguma coisa muito grave. Um dia, muito cedo, minha mãe comentou: filha temos que ir embora, as tropas de Napoleão já estão muito perto e arrasam tudo por onde passam, não podemos ficar aqui por mais tempo... Eu vivia a dor de deixar alquilo que mais amava...Olhei os montes pela ultima vez. Naquele dia, mal avistava o alvorecer no horizonte, uma brisa suave e fresca o inundava todo. Pouco a pouco, no entanto, íamos deixando a cidade, tudo desaparecia diante de mim. Ao meu lado, meus pais e irmãos caminhavam cansados, todos nós desejávamos ver um novo 2
  • 3. horizonte se abrir e que o sol brilhasse novamente. Aos 15 anos de idade, me brotou uma alegria profunda, um gozo em minha alma, algo que eu não sabia definir, decifrar, uma atração. Deus era o meu confidente, meu amigo, aquele que eu partilhava todo sorriso, toda lágrima, minha felicidade, eu era feliz... Sentia-O perto de mim, como o toque do vento em meu rosto, o perfume das flores que envolvia todo ar... Ele me chamava de forma tão clara, que não havia dúvida, era ELE. Era como uma segurança sem limites no meio do oceano. Nesses momentos, compreendia que Ele era o próprio Oceano, onde minha vida tinha sentido. Tal loucura de amor tinha que ser correspondida... Por isso, um dia, enquanto todos dormiam, no silencio da noite, me levantei com cautela, peguei a mala que eu mesma havia preparado e fui procurar um lugar fora da cidade, onde eu pudesse realizar meu sonho. Caminhei durante algumas horas, já começavam a se desenhar os raios do sol, quando cheguei à caverna... Olhei com atenção, procurei um canto e coloquei minhas coisas... Tirei uma imagem da virgem Maria e outra de Cristo, 3
  • 4. “O nosso ser é um conjunto de perguntas que só em Deus tem as respostas certas e uma feliz realização.” (HP) 4
  • 5. improvisei um pequeno altar. Ali comecei minha experiência de solidão e silencio... Algo maior que qualquer amor humano me havia levado até aquele lugar, não era capricho meu. O primeiro dia passou... Quando a fome começava a apertar o estomago, comi raízes para me alimentar, bem como ervas, ali era um lugar de muita vegetação. Depois de comer o que a natureza me oferecia dava graças a Deus por tanta generosidade... Sentia-me feliz. Quando caia a noite, a escuridão envolvia tudo... Dei-me conta, enfim, que estava longe de minha casa, de minha mãe e de todo carinho que me doavam. Pensava na preocupação que poderiam estar sentindo com minha ausência, mas dormia em paz, pois o que eu sentia, naquele momento, era maior que a preocupação dos meus familiares. Assim passaram-se cinco dias, não havia tempo para o aborrecimento, cada manhã era uma oportunidade para amar, para dedicar-me Aquele pelo o qual eu amava e me sentia amada por Ele, sentia-me seduzida. O pior aconteceu no sexto dia, enquanto passeava entre as plantas, pensando na beleza da criação, assustei-me com uns fortes gritos, 5
  • 6. pronunciavam meu nome, então dei-me conta que eram vozes conhecidas, eram meus pais. Despertei como de um sonho. Enquanto tentava explicar o porquê de minha fuga, ouvia meu Pai dizer: “Deixe de bobagem, você se casará como todas as jovens. Que ridículo se torna para toda a família! Para toda a cidade, que só fala em você! Tens consciência do que queres fazer?”. Não pude defender-me. Voltei para casa, era muito nova, me submeti as ordens de meus pais, não tinha opção. Enquanto seguia minha vida, no trabalho das vendas de verduras e frutas, ouvia com atenção o que as pessoas me diziam e, a cada escuta, percebia que meu coração se inflamava ao ouvir histórias de meninas livres, que perambulavam pelas ruas e amavam livremente, sem que ninguém se preocupasse com elas. Para meus pais eu era apenas uma menina que cuidavas dos afazeres de casa, no entanto, em meu coração, ardia um desejo que eu mesma não podia compreender, deixando-me guiar por uma mão misteriosa que levava-me ao rumo de minha nova história. Passados cinco anos, parecia que a monotonia começava a rondar meu espírito, 6
  • 7. “Na medida em que a Igreja ondeie a bandeira da “vida intima com Deus” como missão evangélica, enxergaremos uma nova primavera na maneira de ser Cristão.” (HP) 7
  • 8. quando apareceu em minha vida um jovem. Ele era alegre, piadista... encantei-me com seu jeito de ser, e a recíproca foi verdadeira. Meu pai percebeu, mas aquele tempo às coisas não andavam tão rápidas como os dias de hoje, ele se chamava João. Floresciam os pés de amêndoas e eu me sentia como eles, florescendo por dentro, algo novo invadiam-me por dentro como se eu descobrisse uma nova forma de amar. Meus pais ficaram muito contentes em saber que meu coração ardia por um jovem, pois desde minha adolescência, sofriam achando-me um pouco diferente das outras meninas. Decidimos nos casar na Basílica de Pavia, em 7 de fevereiro de 1916. Estava tudo enfeitado com flores. João e eu embarcamos em um projeto novo, que víamos como o “Projeto de Deus”. Tínhamos tudo para sermos felizes: trabalho, de onde tirávamos o dinheiro para o nosso sustento, uma pequena casa, amor mutuo, compromisso e entrega e...o mistério que nos envolvia, fazendo-nos engrandecer cada dia mais a nossa entrega. Mas em meu coração, ressoava novamente as conversas das senhoras ricas que passavam pela minha tenda, e “essas meninas deixadas ao 8
  • 9. seu livre prazer”, os dias passados na gruta, tudo me fazia pensar em uma entrega de vida mais profunda. Mas como isso poderia acontecer se havia João em minha vida? O que ele pensaria? Estávamos casados há dois anos e, certa noite, como de costume, quando fechamos a tenda, nos sentamos cansados em frente à lareira, foi ai que ele se deu conta que algo me preocupava... “Deus não nos concedeu filhos”... ele me acariciava perguntando se era esse o pensamento que me perturbava! Fiquei completamente comovida com sua atitude. Naquela noite conversamos muito, nos compreendemos. João não podia ver-me triste, estava sempre disposto a me animar. Confessou que já havia percebido minha tristeza e sabia exatamente o que me incomodava, me angustiava. Juntos, João e eu resolvemos engrandecer o amor que nos inflamava por dentro. Com o coração livre, decidimos viver uma vida „casta‟, sacrificada, mas que nos conduzia a uma vida mais fecunda. Naquela noite dei graças a Deus por saber conversar sobre meus anseios e por João compreender a minha vida. Vibrei tanto em meu interior, que me sentia embriagada por um 9
  • 10. Esta é a minha vocação: dar resposta ao amor de Deus que me ama desde a eternidade!. 10
  • 11. “amor divino”. O sonho que meus pais haviam matado ressurgia novamente em meu ser. Minha irmã Maria ficou doente por oito anos, a ela ofereci toda minha atenção e ajuda. Não poupei forças nem tempo a ela, pois sabia e sentia que Deus me pedia essa entrega. Uma luz me conduzia por caminhos que eu não imaginava. Em 1825, Maria veio a falecer. João continuava ao meu lado. Certa manhã, compreendi que o que eu fazia, era pouco diante da grandiosidade da vida e seus apelos. Foi quando decidi entregar-me a Deus... Iria a um convento, algo que cultivava em meu ser a muito tempo. João fez o mesmo, foi até o convento dos Somascos e pediu que o aceitassem como leigo. Ali, no silêncio, me senti livre. Meu coração vibrava ao ouvir o som do Evangelho. Passou a primavera e chegou o verão, com o outono enxergava os ramos secos através da minha janela. Meus sonhos, minhas lembranças tomavam uma nova cor e, mais uma vez, ressurgia à mente as meninas de Pavia! As via perambulando, de um lado para o outro, sem que ninguém as enxergassem ou lhes transmitissem um gesto, um olhar de carinho. 11
  • 12. A noite surgia, mais uma vez em minha vida, como uma sinfonia de silêncio, quebrado, somente, pelo ritmo suave do som das águas que desciam das cascatas de uma cachoeira, levando consigo tudo aquilo que conseguia atingir... Ali estava Ele, o jovem que me mostrava as meninas perdidas, sem rumo...! Sim, eu serei a mãe destas jovens, eu prometo! Neste momento acordei! Estava em minha cama, suava e ardia-me em febre, o meu coração batia muito forte. Foi assim que, não me lembro bem como, me curei. Novamente peguei minha trouxa e, como em outros tempos, percorri cada passo do longo caminho, cantando de alegria. Um novo horizonte se abria para mim. Aquelas meninas haviam roubado meu coração e tornei-me peregrina dos caminhos apaixonados da vida. Tinha vontade de abraçar as montanhas, cruzar rios, subir nas arvores, até chegar novamente em Pavia. João nunca me deixou sozinha, era um bom homem, carinhoso. Acompanhou-me à Pavia nessa nova aventura, quis viver ao meu lado sem que os outros o vissem, na humildade. 12
  • 13. “Precisamos silenciar o nosso interior para escutar a voz de Deus no meio das preocupações de cada dia. Jesus está vivo! Caminha sempre ao nosso lado.” (HP) 13
  • 14. Ali estávamos eu e João. Convidamos as primeiras jovens que queriam começar uma vida nova. Partilhamos tudo com elas, aprenderam a ler, escrever... Dialogávamos sobre o sentido da vida, como deveria ser vivida e valorizada, dando um novo sentido à ela. Conversávamos sobre as dificuldades, os amigos... A maioria delas estava sozinha. Necessitavam dar e receber carinho de uma mãe que as ensinassem a enxergar a vida de outra forma. Que cuidasse delas e lhes desse coragem, que as ajudasse a compreender quando algo desse errado. Elas preenchiam a minha vida, e meu coração se emocionava. Nelas, via o rosto de Deus sem fazer nenhum esforço, era uma experiência gratificante. Uma noite, na capela, Deus fez-me sentir uma forte sensação, meus olhos brilhavam com uma surpreendente emoção. Fez-me provar os sabores de uma repetida e incomparável experiência. Eu me abria ao presente de Deus e me deixava acariciar por sua amizade, a mais eloqüente de todas em meio ao perfume da primavera. Para mim, restava o caminho mais desafiador, mais doloroso e, muitas vezes, Deus 14
  • 15. nos faz experimentar o amor, antes de enfrentar o calvário, para que não desfaleçamos. Contava com o apoio de João e algumas companheiras que desejavam partilhar esse trabalho. Doar minha vida e minhas energias por aquelas jovens, e descobrir a cada amanhecer, essa fonte que borbulha no coração, que só vive para Deus. Em minha alma ardia uma chama que me consumia, foi quando foram lançados os primeiros golpes, começara o martírio: “... era uma farsa! Mata suas filhas! As prende no porão de sua casa! Neste momento, meu coração se estremeceu. Como poderiam pensar algo assim? As falsas afirmações, inclusive, chegaram ao Bispo. A cruz chega quando menos esperamos. Deus reservou esta provação num momento de maturidade de espírito, antes seria impossível suportar. Estava disposta a receber todas as pedras, mas não consentiria que fizessem algum mal às minhas filhas. Aconteceu que, em Outubro de 1837, diante da imagem de Cristo Crucificado, percebi que minhas mãos encontravam-se vazias. As mesmas mãos que haviam dado banho naquelas jovens, que acariciavam seus rostos e 15
  • 16. enxugava as lágrimas que teimavam em cair por causa do sofrimento e da dor, mãos que as ensinaram a escrever... Chorei muito a princípio, as noites escuras tomavam conta de mim e o abandono invadiu meu ser. Mas, neste momento, compreendi que se o grão de trigo não cair e morrer, não voltara a dar frutos, compreendi que o amor eterno está exposto na cruz e que os caminhos de Deus são surpreendentes. É preciso deixar o remo nas mãos de Deus, para possamos cruzar o “grande oceano”: Por Deus, estava começando a compreender a vida. A dança da vida seguia no ritmo de Deus. Eu tinha que percorrer o caminho de Deus, não o meu. Confesso que foi um desprendimento terrível, como um forte vendaval. A presença de João e das três companheiras que seguiam comigo, me ajudaram a suportar aquele momento de entrega total e sem limites que Deus me pedia. Pois, somente os verdadeiros amigos permanecem conosco nas horas de sofrimento e provações e não apenas nas horas de felicidade. Mais uma vez, seguia o caminho indicado por Deus. Não importava a direção; senti-me livre como um pássaro para cruzar o horizonte, experimentando a generosidade do Pai. Aqueles que seguem com ele, o caminho da salvação, 16
  • 17. “Eu sei que posso ser fiel a Deus apoiado na sua própria fidelidade, porque Ele se entregou por mim.” (HP) 17
  • 18. partilham o sofrimento, tirando-lhes o peso e fazendo-lhes caminhar mais rápido. Acompanhada de João e minhas companheiras, chegamos a Ronco, povoado de João. Ele também merecia voltar a pisar o chão de sua terra e sentir-se acolhido por ela, pois, ali vivera com muitos sacrifícios. Por este motivo, permaneceríamos ali por alguns dias... Esses caminhos tortuosos nos deixariam com calos nos pés, mas nos conduziriam ao Espírito Divino. Logo após nossa chegada, as pessoas nos convidariam a cuidar das meninas do povoado, o que era, desde o início, nossa intenção. João iniciou o trabalho, se comprometendo a ficar mais tempo no local. A vida era tranquila e podíamos descansar bastante. As jovens que me acompanharam queriam me ver comprometida com o ideal da consagração. Por isso, após muita oração, partilhamos os mesmo sonhos, decidimos nos consagrar a Deus e nos dedicar às jovens e crianças que necessitavam de ajuda em todos os sentidos. Vi na decisão de nossa pequena comunidade, ser manifestada a vontade de Deus. O som do sino anunciava-nos o melhor momento do dia: levantar, rezar, comer... O ambiente 18
  • 19. silencioso de Ronco se convertia em uma grande sinfonia, embora tivesse o grito das crianças, das classes, das irmãs e da oração, ali o silencio de fato reinava. À noite, enquanto todos dormiam, eu discretamente me levantava e ia até a capela. Depositava toda a minha confiança em Deus e Ele me presenteava, deixando-me levantar vôo. Quando menos esperava, já era dia. Compreendíamos que a vida era cheia de encantos e beleza. Para tanto, devíamos dar graças a Deus por tudo, assim, nos reuníamos em uma só oração, uma só fé. Sentíamos felizes, pois, nossos sonhos e esperanças chegavam em nossas mãos. Muitas vezes, tinha que me ausentar e atender outros lugares que me requisitavam, também me chamavam em Pavia. Ali, em outra casinha, hospedamos várias meninas, que abriam sorriso nos lábios. Sofri muito, quando tive que deixar tudo para traz. Obrigada a desfazer-me daqueles momentos tão fundamentais em minha vida, senti como se me arrancassem a pele... Mas agora, Deus havia me presenteado momentos de prazer, de amor. Minhas forças declinavam, assim ia-me abandonando nas mãos de Deus como um 19
  • 20. instrumento fiel. Desci a casa do oleiro e deixei- me ser modelada por ele. Escrevi normas para minhas filhas. Via a trajetória de suas vidas como uma luz, que desaparecia na imensidão do caminho e começava uma aventura nova, um novo horizonte. Aproximava-se o dia 21 de março... Havia proposto que este dia fosse destinado ao encontro com o Amor. Reuni as meninas e as jovens companheiras em um lugar, em silêncio. João também se fez presente. Naquele dia, ele se despediu de mim, me provocando um nó na garganta, um pequeno momento de intimidade! Quantas renúncias por um amor sublime... E minhas filhas, essas filhas as que tanto queria. Choravam, rezavam... o meu olhar ficou fixo num raio de luz, meus ouvidos já não percebiam seus gemidos. A fé me surpreendeu nos braços do Pai e vi saciados todos os meus desejos no Amor! Tudo era claridade. Era a eternidade. Aqui não tem passado nem futuro. Tudo é presente. Vivo numa quietude dinâmica. Tenho minha morada na Paz infinita. 20
  • 21. “Amemos com todas as nossas forças, além de nossas forças, até nos perder no mesmo ato de amar! Assim se abrirão no nosso peito as asas da ressurreição!” (HP) 21