Curso Educação Museal e Acessibilidade do Museu Histórico Nacional -IBRAM
Ministrante: Gabriela Aidar - Coordenadora dos Programas Educativos Inclusivos - Núcleo de Ação Educativa / Pinacoteca de São Paulo
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
Planejando uma proposta educativa acessível
1. Curso Educação Museal e Acessibilidade
Museu Histórico Nacional - IBRAM
Planejando uma proposta educativa acessível
Gabriela Aidar
Coordenadora dos Programas Educativos Inclusivos
Núcleo de Ação Educativa
Pinacoteca de São Paulo
2. Como caracterizar a acessibilidade em museus?
No senso comum da educação formal no país, o termo acessibilidade se
refere especificamente a ações dirigidas a pessoas com deficiência.
Entretanto, os grupos com dificuldades de acesso aos museus no país
são mais ampliados, abrangendo as pessoas com deficiência, mas não
se restringindo apenas a elas.
3. Segundo pesquisa sobre hábitos culturais realizada em 2017 em 12 capitais
brasileiras, no que se refere aos museus, o perfil de visitantes pode ser
caracterizado por:
• pessoas jovens (mais da metade com até 34 anos);
• com alta escolaridade (57% com ensino superior);
• alta renda (62% na “classe A” - com renda superior R$18.740,00 ou mais
ao mês).
Leiva, João e Meirelles, Ricardo (org.) http://www.culturanascapitais.com.br/
A escolaridade e a renda são os fatores determinantes no acesso aos museus
no Brasil, particularmente aos museus de arte. E, portanto, os grupos que
ficam de fora desse acesso são aqueles socialmente vulneráveis, em piores
condições socioeconômicas e que são os grupos majoritários no país.
Dados de perfil de públicos de museus no Brasil
4. Dados da população com deficiência no Brasil
Segundo resultados do Censo 2010, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de uma população total
de cerca de 190 milhões, cerca de 24% afirmou ter pelo menos
uma das deficiências investigadas pelo censo: deficiência visual;
auditiva; motora; mental ou intelectual.
Destas, aproximadamente 68% têm 65 anos ou mais e 61% não
possui instrução escolar ou têm ensino fundamental
incompleto.
Oliveira, Luiza Maria Borges. Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência. Brasília: Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República (SDH/PR) /Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com
Deficiência (SNPD), 2012.
5. Sistema de Indicadores de Percepção Social - Cultura. IPEA - 2010.
• 68% dos entrevistados nunca visitou museus / centros culturais;
• 56% dos entrevistados aponta como obstáculo a barreira social
imposta pelo perfil de público que frequenta espaços culturais.
Pesquisa de Tendências: narrativas para o futuro dos museus. Oi
Futuro/Consumoteca – 2019.
• 58% dos entrevistados dizem que os museus são elitizados e
pouco visitados.
Dados de percepção cultural no Brasil
6. “As barreiras de acesso aos museus não são práticas; elas são
mentais e psicológicas, resultado da falta de experiência prévia,
conhecimento e práticas. [...] Nosso objetivo é criar as condições
para que as pessoas experimentem: inspirando curiosidade,
apresentando relevância, tornando os museus de alguma
maneira tangíveis, promovendo conforto e bem-estar
(principalmente psicológico), construindo pontes. Em muitos
casos, teremos que abrir portas; não apenas para que os
públicos entrem, mas também para sairmos, abandonarmos
nossa zona de conforto e encontrá-los.”
VLACHOU, Maria. Musing on culture: management, communications and our relationships with people. Lisbon: Bypass,
2013, p. 84-85.
Acessibilidade em museus – barreiras simbólicas
7. Aspectos da acessibilidade em museus
• aspectos físicos (relativos à possibilidade de mobilidade e
circulação);
• aspectos financeiros (por meio da liberação dos valores de
ingresso e subsídio de transporte);
• aspectos intelectuais (relativos à compreensão dos objetos e
discursos expositivos, da organização conceitual e da linguagem
utilizada, das normas institucionais e da orientação espacial);
• aspectos sensoriais (relativos à possibilidade de ter acesso aos
objetos culturais por meio de outros sentidos além da visão e da
audição, para as pessoas com deficiências visuais e auditivas);
8. • aspectos atitudinais ou emocionais (relativos ao sentimento
de acolhida pela instituição, confiança e prazer pela
participação e identificação com os sistemas de produção
cultural);
• aspectos culturais (no que se refere ao reconhecimento da
diversidade cultural presente na instituição).
AIDAR, Gabriela. “Acessibilidade em museus: ideias e práticas em construção”. In: Revista Docência e
Cibercultura – Educação Museal. V. 3, n. 2 (2019), pp. 155-175.
Aspectos da acessibilidade em museus
9. Podemos ainda mencionar a tendência em tratar o tema do ponto de vista das
desigualdades sociais, em particular daquelas de caráter
socioeconômico. Esse olhar para a acessibilidade dialoga diretamente com
a realidade brasileira e as pesquisas de público da cultura e dos museus no
país, que indicam como principal corte que limita o acesso às instituições
os níveis de renda e escolaridade dos indivíduos.
Essa é também uma percepção transversal da acessibilidade, uma vez que
outros aspectos que dificultam o acesso, tais como a faixa etária ou o fato de
serem pessoas com deficiência, podem ser influenciados pela renda e
capital cultural familiar. Em outras palavras, um idoso ou pessoa com
deficiência de uma família de alta renda e escolaridade tem maior chance de
acesso às instituições culturais e às oportunidades socioeducativas de modo
geral.
Acessibilidade em museus – desigualdades sociais
10. Acessibilidade em museus – participação e co-criação
“Há muitos de nós que defendem o ‘acesso’, mas o acesso ao que definimos
como cultura válida. Ainda assim, e se tentássemos conhecer melhor as
comunidades nas quais estamos inseridos? E se abríssemos nossos espaços
(que também são delas), envolvendo-as, criando conforto (físico,
psicológico e intelectual) e sentimento de pertencimento? E se
programássemos junto com elas? E se os artistas fossem elas?”
VLACHOU, Maria. Musing on culture: management, communications and our relationships with people. Lisbon: Bypass,
2013, p. 92.
“Trabalhar com as pessoas não significa ‘dar às pessoas o que querem’ [...] É
estarmos sensíveis ao que interessa, preocupa, inquieta, alegra a
comunidade que nos envolve, e procurar construir uma programação que nos
permite refletir, em conjunto, sobre tudo isso.”
VLACHOU, Maria. Acessibilidade e cultura. Conversas de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa/Agenda Cultural
de Lisboa, 2017, p. 53.
11. Pinacoteca de São Paulo
A Pinacoteca é o mais antigo museu de arte de São
Paulo, fundada em 1905. É uma instituição pública,
pertencente ao Governo do Estado de São Paulo, de
gestão privada, por meio de contratos de gestão com a
APAC - Associação Pinacoteca Arte e Cultura, uma
organização social de cultura.
Possui atualmente em sua coleção cerca de 10.000
obras de arte principalmente brasileira, dos séculos
XVII até os dias de hoje.
Localizada na região central da cidade, local que conta
com boa infraestrutura e diversos equipamentos
públicos e privados. Está dentro de um parque público,
vizinho a populações de baixa renda e de importantes
áreas comerciais. Faz parte de um polo cultural que
compreende 5 museus e uma sala de concertos.
12. Programas de Atendimento ao Público Escolar e em Geral: voltados a
públicos autônomamente visitantes
• Programas de Atendimento ao Público Escolar e em Geral
• Programas de Formação para Professores
• Pinafamília
• Dispositivos para a Autonomia de Visita
Programas Educativos Inclusivos: voltados a públicos não tradicionalmente
visitantes
• Programa Educativo para Públicos Especiais (pessoas com deficiência e em sofrimento
psíquico)
• Programa de Inclusão Sociocultural (pessoas em situação de vulnerabilidade social – muitas
do entorno do museu)
• Programa Meu Museu (pessoas com 60 anos ou mais)
• Programa Consciência Funcional (funcionários da Pinacoteca, em particular do receptivo e
equipes terceirizadas)
Programas do Núcleo Ação Educativa da Pinacoteca
13. Programas Educativos Inclusivos
Alguns pressupostos metodológicos
• desenvolver ações a partir dos perfis, repertórios, experiências,
interesses e demandas dos grupos;
• estabelecer parcerias com organizações, projetos e coletivos com os
quais os grupos estejam vinculados;
• desenvolver ações educativas continuadas;
• atuar na formação de profissionais que trabalham com os grupos.
14. Programa Educativo para Públicos Especiais
• Visitas educativas a grupos de pessoas com
deficiência ou em sofrimento psíquico;
• Recursos multissensoriais;
•Contação de Histórias em Libras;
• Curso para profissionais que atuam com os
públicos-alvo;
• Ação extramuros;
• Publicações em dupla leitura (letras ampliadas
e Braille);
• Galeria Tátil de Esculturas e videoguia para
surdos;
15. Programa de Inclusão Sociocultural
• Visitas educativas para grupos de
pessoas em situação de vulnerabilidade
social;
• Curso de formação para educadores
sociais;
• Ação Educativa Extramuros com adultos
em situação de rua do entorno;
• Publicações para educadores sociais, de
caráter avaliativo das ações e com as
produções plásticas dos educandos;
16. Programa Meu Museu
• Visitas educativas para grupos de
pessoas com 60 anos ou mais;
• Curso para profissionais que atuam
com idosos;
• Publicações educativas para os
educandos;
17. Programa Consciência Funcional
• Programa de integração e formação continuada
dos funcionários;
• Visitas em exposições temporárias do museu;
• Formação básica em Libras;
• Oficinas de experimentação plástica;
• Atividades para os filhos dos funcionários;
18. Projetos educativos: organizar o pensamento e a ação
Toda prática educativa que desenvolvemos está baseada em nossos conhecimentos
prévios, em nossa experiência cotidiana, no envolvimento com o grupo e comunidade no
qual nos inserimos, na proposta educativa da instituição em que atuamos etc. Esse conjunto
de saberes e experiências é o que fundamenta nossa ação profissional, porém é válido
também sistematizarmos essas ações por meio de projetos. Os projetos são formas de
organizar nossa prática educativa, aquilo que sabemos, aquilo que queremos
alcançar, para quem destinamos nossa ação e como pretendemos que ela aconteça.
Porém, devemos estar cientes de que um projeto não é algo definitivo, mas está sempre em
constante construção, sujeito a mudanças e transformações uma vez que está diretamente
ligado aos acontecimentos e interesses de cada instituição, educador e grupo em particular.
Salientamos que, ao organizar o pensamento e a ação educacional em forma de projetos, é
possível construir um “banco de ideias” que estimulará novas práticas, não apenas suas,
mas também de seus colegas educadores.
Aidar, G. e Chiovatto, M. Arte+. SP: Pinacoteca de São Paulo, 2009. P. 7.
19. Por que fazemos projetos/propostas educativas?
1) Para organizar e concretizar nossas ideias.
2) Para fazer com que nossas ideias e intenções sejam
compreensíveis para outras pessoas.
20. Em grupos, elaborem uma proposta educativa acessível para o público-
alvo selecionado a partir das seguintes etapas:
1. Características do grupo (público-alvo com dificuldade de acesso ao
museu);
2. Objetivos da proposta;
3. Seleção de objetos e temas;
4. Indicação de atividades (práticas, interpretativas, poéticas, etc.);
5. Justificativa das escolhas temáticas e das atividades;
6. Indicação de continuidade (no próprio museu ou na organização de
origem do grupo);
7. Sugestão de avaliação da proposta.
Planejamento de proposta educativa acessível no
Museu Histórico Nacional