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FRONTEIRA. A degradação do
 Outro nos confins do humano
   Martins, José de Souza
        (Uma releitura)



        Professor
    silvânio barcelos
O autor
   José de Souza Martins é bacharel e licenciado em Ciências Sociais
    (1964) pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
    Universidade de São Paulo, onde fez o mestrado (1966) e o
    doutorado (1970) em Sociologia, onde se tornou livre-docente
    em 1992 e onde leciona desde 1965. Foi visiting-scholar do
    Center of Latin American Studies da Universidade de Cambridge,
     Inglaterra, em 1976 e Visiting Professor da Universidade
    da Flórida (EUA), em 1983. Em 1992, foi eleito fellow de Trinity
    Hall (quinto colégio mais antigo, fundado em 1350 pelo Bispo
    William Baterman de Norwich) e Professor Titular da
    Cátedra Simón Bolívar da Universidade de Cambridge para o
    ano acadêmico de 1993/94. Em 1996, o Secretário Geral das
    Nações Unidas nomeou-o membro, pelas Américas, da Comissão
     de Curadores do Fundo Voluntário da ONU sobre Formas
    Contemporâneas de Escravidão para um mandato de três anos.
José de Souza Martins
Nascido em São Caetano do Sul
  em 24 de outubro de 1938
A fronteira
            na visão de José de Souza Martins
             Cenário de intolerância, ambição e morte
   Esperança: tempo de redenção, justiça, alegria e fartura
   Espaço e o homem:ponto limite de territórios (dinamismo)
   Linha que separa Cultura da Natureza, Homem do Animal, do
    Humano e do não humano.
   Figura central da fronteira: A vítima (e não o pioneiro)
   Múltiplas fronteiras: fronteira da civilização, espacial, cultural,
    étnica, histórica e fronteira do humano.
   Fronteira do humano: degradação do outro para viabilizar a
    existência de quem o domina, subjuga e explora.
   Lugar de renascimento e maquiagem dos arcaísmos
    desumanizadores. (A fronteira está longe de ser o “lugar do novo”)
Técnicas utilizadas por Martins nos processos da pesquisa


   Técnicas artesanais de investigação e pesquisa solitária (conflitos).
   Técnicas de inserção pedagógica temporária nos grupos e
    comunidades estudadas. (professor itinerante).
   Pedagogia investigativa: diferente da pesquisa participante
    (comunidade pesquisa sobre si mesma), a pedagogia investigativa
    mostra à comunidade o lado oculto dos processos sociais.
   Mudança de paradigma: O mito do pioneiro X formas arcaicas de
    dominação, reprodução ampliada do capital, escravidão.
   Percepção de diferentes tempos históricos: Racionalismo e
    modernidade da acumulação capitalista X concepções de mundo e
    de vida do camponês = família e comunidade rural voltada para a
    subsistência e relações de reciprocidade. (Lógica perversa)
   Movimentar-se no interior do conflito e da conflitividade: Guerra
    confronta visões de mundo e definições do outro.
Recursos que possibilitaram a pesquisa


 FAPESP, CNPq, Caronas com funcionários da SUCAM (malária).
 20 anos de envolvimento pedagógico com a C P T (cursos sobre
  situação dos trabalhadores rurais). Aprendizado de mão-dupla.
 “O principal apoio veio, porém, dos próprios trabalhadores. Com
  sua habitual generosidade, eles me acolheram e me ajudaram.
  Em nenhum lugar deixei de encontrar quem me permitisse armar
  minha rede num canto da casa, num alpendre, numa latada, num
  paiol de arroz ou num tijupar de roça. E que repartisse comigo a
  farofa de carne-de-sol com farinha puba, o prato de arroz com
  feijão, um pouco de alvo beiju, uma lasca de rapadura
  recém-feita, um punhado de castanha-do-pará, uma porção de
  laranjas ou um naco de carne de caça: generosa partilha da
  fartura simples que quase sempre há entre os pobres do campo”.
  (pp. 22).
Capítulo 1
                     A CAPTURA DO OUTRO
     O rapto de mulheres e crianças nas fronteiras étnicas do Brasil

• Realidades sociológicas nas frentes de expansão de Goiás,
  Tocantins, Mato Grosso, Pará, Maranhão, Rondônia, Acre e
  do Amazonas:
• Concepção dual dos seres humanos: Cristão X Caboclo, Homens
  X Pagãos, Humanos X Não-humanos. (Discurso que se repete
  desde o Brasil - Colônia e revela os limites étnicos dos
  pertencentes e dos não-pertencentes do gênero humano).
• Diferentes tempos históricos: Recente mudança do machado de
  pedra para o de aço dos Kamayurá, canibalismo ritual dos
  Rikbátksa ao mesmo tempo que entram na era do avião, máquina
  fotográfica e da filmadora.
O rapto na situação de fronteira

• Indígenas raptados por “civilizados” : Normalmente constituem-se
  exceções num quadro geral de ataques de extermínio. Genocida limpeza de
  áreas cobiçadas para abertura de novas fazendas. Nesse caso nunca houve
  incorporação à estrutura das relações sociais dos raptados, sendo eles
  mantidos à margem como prostitutas (no caso das mulheres) e submetido à
  condições de servidão (no caso dos homens).
• “Civilizados” raptados por indígenas: Nesse caso os raptados são
  incorporados à estrutura social dos raptores, embora sempre na condição de
  “estrangeiro”. Na sua grande maioria os raptos destinam-se à suprir uma
  carência de parceiros para a reprodução da tribo.
• Caso Helena Valero: Raptada pelos Yanoama, recebeu nome de
  Napanhuma (um não-nome: “a estrangeira”). Incorporada como mãe de
  filhos de homens yanoama. 20 anos após consegue fugir e também foi tratada
  entre os brancos como não-branca.
A captura do outro
         O estranhamento e a recusa da alteridade


• Definição do raptado como ser “liminar”: Martins
  identifica essa condição de fronteira onde o raptado é
  reconhecido como o outro, o estrangeiro.
• Tanto de um lado como de outro da fronteira o “outro”
  expressa uma alteridade problemática: Seria uma
  espécie de sala de espera do processo de humanização
  na perspectiva do raptor.
Capítulo 2
A r epr odução do capital na fr ente pioneira

e o r enascimento da escr avidão
   Escravidão por dívida ou peonagem: O arcaico
    (extrativismo na Amazônia) e o moderno perpetuando
    a prática da super exploração da mão-de-obra.
   Empresas modernas que utilizam da escravidão:
    contradição e irracionalidade ? Ou simples lógica da
    mais valia? (ler nomes das empresas pp. 82)
   Martins demonstra que o quadro teórico marxista-
    estruturalista só permite uma única temporalidade, a
    do tempo linear.
   A escravidão temporária não constitui um modo de
    produção, mas um dos seus momentos.
O CATIVEIRO NO CAPITALISMO DE
FRONTEIRA
  Programa militar ocupação da Amazônia: “integrar para não
   entregar”. GEOPOLÍTICA.
  Espaços vazios: Ideologia. Índios e população camponesa (XVIII)
  Contradição histórica: ocupar espaços com a agropecuária
   (dispensa mão de obra e esvazia territórios)
  Doação de 75% de capital para as oligarquias tradicionais (bases
   de sustentação do próprio regime militar), para empreendimentos
   na região Amazônica. Política anti-reforma agrária.
  Diferente da expansão para o Oeste dos EUA, no Brasil definiu-se
   num quadro fechado de ditadura, repressão e falta de liberdade.
  Nesse contexto o proprietário de terra (importante aliado do
   regime) torna-se o “grande senhor” de consciências e de
   pessoas”.
  Os grandes empresários urbanos alimentaram o sistema do
   trabalho escravo na figura do capataz (acostumado ao poder
   pessoal). Hoje o executivo que anda em Jatos particulares
   substitui a figura do Coronel montado no seu cavalo. (grifo meu)
Acumulação primitiva no interior da
reprodução ampliada de capital
  Desenvolvimento desigual do capital: As forças produtivas
   se desenvolvem mais depressa do que as relações sociais.
  Assimetria entre realidade econômica e social: No capital a
   produção é social, mas a apropriação dos resultados da
   produção é privada. DESCOMPASSO HISTÓRICO ENTRE
   PROGRESSO MATERIAL E PROGRESSO SOCIAL.
  Trabalho escravo utilizado na “formação da fazenda”: 72,7%
   dos peões são empregados no desmatamento de florestas,
   para formação de pastagens. MOMENTO DO PROCESSO DO
   CAPITAL.
  Casos de denúncia de escravidão acompanham o avanço da
   frente pioneira: Após a ditadura os casos de denúncia de
   escravidão no Amazonas salta de 9,8 para 17,7 casos anuais,
   ou seja de 47,8% em 1970/73 para 63,2% em 1990/93.
   EVIDÊNCIA DE FORMAS DE UTILIZAÇÃO DE TRABALHO
   FORA DO PROCESSO USUAL DE PRODUÇÃO CAPITALISTA.
   ISTO É: ACUMULAÇÃO PRIMITIVA.
EXÉRCITO   INDUSTRIAL DE RESERVA
FORÇA DE   TRABALHO À DISPOSIÇÃO DO CAPITAL



  Super exploração da força de trabalho: trabalho acima
   da jornada normal.
  Privação dos meios de produção como terra e
   ferramentas.
  Super exploração introduz dificuldades: doenças,
   endividamento e morte.
  Acumulação primitiva: processo histórico mais ou
   menos lento.
  INCORPORAÇÃO DO TRABALHADOR E/OU SUA
   FAMÍLIA AO EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA
Pr odução de capital no interior do
pr ocesso de r eprodução ampliada de
capital
  Conversão de meios não capitalistas em instrumentos de
   produção capitalista: o que define o processo não é o
   resultado mas o modo como foi obtido. = O que a peonagem
   tem promovido na frente pioneira é a “produção de fazendas”
   e não de “mercadorias”.
  EXEMPLOS: 1) utilização de grande quantidade de trabalhadores
   para o desmate de florestas virgens para formação de pastagens.
   Depois de pronto apenas alguns peões mantinham a rotina das
   fazendas agropecuárias.
  EXEMPLOS: 2) Na época da escravidão negra utilizava-se da
   mão de obra livre para formação da fazenda, desmatando
   terrenos e plantando as mudas de café recebendo em troca o
   direito de cultivarem nas novas terras gêneros alimentícios.
   Depois de formada a fazenda era utilizada a mão de obra
   escrava.
A escravidão atual é, no limite, uma variação extrema
              do trabalho assalariado

   Disseminação da peonagem fora da frente pioneira. Fenômeno
    residual e retardatário da passagem da frente pioneira, em
    áreas já incorporadas à economia nacional.
   Reflorestamento
   Olarias
   Corte da cana-de-açúcar
   Colheita de café
   Colheita de semente de capim para formação de pastos.
   ATIVIDADES SAZONAIS QUE EMPREGAM A MÃO DE OBRA
    DOS CHAMADOS BÓIAS – FRIAS.
   EXTRAÇÃO DE MAIS-VALIA ALÉM DO LIMITE DETERMINADO
    PELA REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO.
   EXÉRCITO DE RESERVA TORNA O TRABALHADOR
    “SUBSTITUÍVEL E DESCARTÁVEL”.
Transição do trabalho do bóia-fria para o
              sistema de peonagem

   Necessidade de redução adicional do capital variável
    (dispêndios de despesas com salários).
   Acentuação da superexploração do trabalho.
   Dificuldades em contratar empregados (baixo salários)
   Escassez de mão de obra
   Falta de investimentos na modernização dos meios de
    produção
   PEONAGEM
   ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA
Mecanismos sociais de gestação da escravidão


   Trabalhos de curta duração: derrubada de matas
   Vendas de peões endividados no término da empreitada
   Mecanismo da dívida: mesmo quando o peão tem liberdade
    de sair garante o seu retorno. QUESTÃO MORAL
   Casos de extremo controle: Fazenda Codeara (peão só saía
    com salvo-conduto).
   MUNDO DA PEQUENA ACUMULAÇÃO: Traficantes que
    recrutam trabalhadores, donos de prostíbulos (as
    prostitutas também são escravizadas), vendedores de
    roupas e bugigangas, donos de pensões, polícia à serviço
    dos interesses dos traficantes (peão preso tem que pagar
    pelo cárcere), pistoleiros e capatazes utilizados no sistema
    de repressão.
Condições de extremas dificuldades geram
            mão de obra excedente
   Membros de famílias de pequenos agricultores pobres são
    estimulados a aceitar ocupações temporárias fora do lugar
    onde vivem nos períodos entre o fim da colheita e o início
    do plantio. FORMA DE NÃO SOBRECARREGAR A ECONOMIA
    FAMILIAR NO MOMENTO DE DESOCUPAÇÃO OU
    SUBOCUPAÇÃO.
   Iniciativa própria dos jovens em busca de algum dinheiro
    próprio que a economia familiar não proporciona. (compra
    de pequenos luxos: rádio-portátil, roupa vistosa).
   Momento de ruptura dos vínculos entre pai e filhos: início
    de uma nova unidade familiar ou busca de novas
    alternativas de vida, poderosa interferência da necessidade
    de dinheiro para as novas gerações (mídia).
Origem camponesa alimenta o sistema da
                  peonagem

 Apesar das denuncias de escravidão a peonagem persiste como
    sistema de recrutamento da mão de obra que as fazendas
    necessitam:
   Os peões acreditam estar migrando temporariamente para um
    ganho adicional de dinheiro.
   Nem todos os peões se tornam escravos. (norma da exceção).
   O sistema funciona: nem sempre caem num regime em que se
    reconheçam como servis.
   As relações de trabalho não são piores do que as que conhece
    habitualmente.
   O peão só se conscientiza como escravo quando perde a liberdade
    de ir e vir ou quando pistoleiros ostentam armas e/ou torturam os
    que tentam escapar sem pagar a dívida.
Uma questão cultural (mentalidade)

 Persistência de antigas relações de trabalho servis ainda
  não superadas, em função também da manutenção das
  condições de reprodução.
 Cultura da servidão e da dependência pessoal que ainda
  se difundem entre as populações pobres do campo e da
  cidade. (resquícios da Idade Média = grifo meu)
 Condições da própria sobrevivência do trabalhador o
  impede de exigir uma melhor remuneração.
 Caráter lúdico do trabalho fora do lugar (longe da
  vigilância dos pais e esposas). Vulnerabilidade e
  tolerância com as más condições de trabalho, pouco
  ganho e violações de direitos trabalhistas.
Capítulo 3
                Regimar e seus amigos
         A criança na luta pela terra e pela vida




• Trabalho publicado, originalmente, como
  capítulo do livro de José de Souza Martins
  (org.), O Massacre dos Inocentes (A criança
  sem infância no Brasil), Editora Hucitec, São
  Paulo, 1991, p. 51-80.
A criança como testemunha
• Segundo Martins a informação mais importante que se
  pode obter numa entrevista é justamente aquela que
  não é dita. O Silêncio.
• As ciências sociais cultivam a concepção do homem que
  está permanentemente disposto a enganar os outros, no
  jogo da sociedade. No limite a vida social é concebida
  como uma fraude.
• Trabalho do sociólogo: fazer a vítima contar o que não
  gostaria de revelar, coisas que só tem sentido dentro de
  uma matriz interpretativa acessível somente ao
  pesquisador.
• O interesse se desloca para o informante “central” da
  pesquisa, e descarta os que não falam.
• MAS, Martins identifica importante “filão sociológico” nos
  que não falam ou que falam por meio dos silêncios.
A criança como testemunha (continuação)
• A pesquisa que originou esse trabalho é um desafio desse tipo:
  Compreender o silêncio.
• Maioria das entrevistas era realizada com grandes grupos.
• No meio da platéia um grupo importante que nunca falava mas
  ouvia muito sempre chamou a atenção do Autor: AS
  CRIANÇAS. Martins resolve entrevistá-las.
• “NESTE TEXTO FALO DA FALA DAS CRIANÇAS, QUE POR
  MEIO DELA ME FALAM (E NOS FALAM) DO QUE É SER
  CRIANÇA (E ADULTO) NAS REMOTAS REGIÕES DAS FRENTES
  DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO, EM DISTANTES PONTOS DA
  AMAZÔNIA.”
• O material utilizado aqui foi recolhido na colônia de Canarana e
  em dois povoados da Pré-amazônia Maranhense: São Pedro da
  Água Branca (município de Imperatriz) e Floresta (município de
  Santa Luzia).
A criança como testemunha (continuação)


• Em São Pedro:
• combate entre posseiros e um grileiro com seus capanga
• Vitória dos posseiros
• Posseiros prendem grupo de soldados PM do Pará que agiam
  segundo interesses do grileiro.
• Os grileiros revidaram: amarraram um posseiro num formigueiro
  (formigas-de-fogo).
• Grileiros tentam incendiar a aldeia. O vento sopra o fogo na direção
  contrária salvando centenas de famílias.
• Em Floresta:
• Um posseiro (chefe de família) é assassinado pouco depois da
  partida de Martins daquela região.
• TODA ESSA VIOLÊNCIA FOI PRESENCIADA POR ESSAS
  CRIANÇAS.
“O protagonista coletivo”

   Martins identifica “um protagonista coletivo” , nas falas das crianças,
    que se expressa na fala e nos atos de cada um, de cada família. (Ex. da filha
    recém-nascida entregue a um casal de posseiros.) = Concepção aldeã de
    vida.
   Em cada localidade a fala de cada criança é fragmento de um enredo mais
    amplo, que protagoniza com os outros.
   O espaço de que falam abrangem por vezes centenas de quilômetros. É
    nesse espaço que circulam idéias sobre “terras livres”, “trabalho”, “lugares
    bons para um pobre viver”.
   Adultos e crianças raciocinam a partir de uma concepção de totalidade de
    tempo e de espaço: O tempo se abre na certeza do destino da criança de
    Canarana e na incerteza do destino das crianças dos povoados do
    Maranhão. O espaço é utilizado pelo agricultor gaúcho para assegurar o
    futuro dos filhos contrasta com o espaço do posseiro maranhense em sua
    constante “caça do destino”.
Localização município de Canarana - MT
Vista aérea da cidade de Canarana
                       foto tirada em setembro/2009
http://3.bp.blogspot.com/_rMgrJyH_bZ4/Sb_n7ptXT2I/AAAAAAAAADQ/ywH5AVNKAOo/s1600-
                           h/Cidade+Canarana+a%C3%A9rea_+(1).jpg
Recomeçando a família pelo trabalho
   Crianças de Canarana: Infância concebida como
    preparação para o futuro. O presente em função do futuro.
   Discurso das crianças (perspectiva malthusiana): Alencar
    Jr. (14 anos): “nós viemos para Canarana atrás de futuro,
    porque lá no Rio Grande do Sul tínhamos pouca terra:
    dava só para viver, mas para ajudar um filho não dava...”.
    Marcos M. (14 anos): “[...] não haveria lugar para todo
    mundo em um pedaço de terra com a quantia de 25
    hectares. Como meus pais queriam dar um futuro melhor
    aos filhos, viemos para cá”. (pp. 124).
   Não havia futuro no lugar antigo: muita gente, terra
    insuficiente, secas, geadas. O FUTURO se revelou como
    preservação de um modo de vida: FAMÍLIA QUE
    TRABALHA NA AGRICULTURA, PARA SÍ MESMA,
    QUE NÃO TRABALHA PARA OS OUTROS.
Recomeçando a família pelo trabalho (continuação)
   TRABALHO E FAMÍLIA:
   Para muitos a emigração destinou-se à manter a família unida
    e próxima.
   Maioria das famílias de Canarana são descendentes de
    Alemães e Italianos: histórico marcado por migrações
    periódicas desde finais século XIX.
   O TRABALHO: As próprias crianças admitem que mudaram
    para trabalhar e muitas estudam à noite, para ajudar na lavoura
    durante o dia. TRABALHO É MISSÃO, E MISSÃO
    FAMILIAR.
   Para as crianças melhoria de vida é aumento de condições de
    trabalho. Trabalho que paga dívidas: financiamentos,
    máquinas e terras.
   Em Mato Grosso o trabalho é insuficiente para ocupar toda
    terra existente. O arado e o boi é substituído pela alta
    tecnologia. EQUILIBRIO.
Recomeçando a família pelo trabalho (continuação)

    O primado do trabalho é o primado da família
   O trabalho reproduz a família na medida em que garante o
    futuro dos descendentes com a reserva de terras para o
    trabalho. (movimento cíclico).
   A riqueza pela riqueza é fator de vergonha, como se fosse
    ilícita. Pressupões enriquecimento de uma só pessoa e não do
    grupo o que quebraria o ciclo: a herança deve ser repartida.
    Uma desacumulação cíclica dos bens do camponês.
   A infância é o período da vida em que a criança se prepara
    para herdar. Daí a importância do estudo como forma de
    preparo para o salto social.
   O tempo é circular: O herdeiro se move num tempo finito onde
    o ponto de chegada ainda é o ponto de partida (o recomeço da
    agricultura familiar do pai provedor). Porém o ponto de
    chegada já não é o mesmo: EVOLUÇÃO
Recomeçando a família pelo trabalho
                        (continuação)
    Desequilíbrio: empobrecimento das terras do cerrado:
   Retorno cíclico à uma nova base para a agricultura
    familiar.
   O agricultor de Canarana se concebe como trabalhador
    que é patrão de sí mesmo. Pensa no salário (fruto do
    excedente produzido por seu trabalho) que o capital (a
    terra) lhe proporciona.
   O salário aqui está presente num tempo e dimensão
    cósmica singular. Não constitui-se em parcelas mensais
    nas relações de produção mas, na subsistência de toda
    a família e sua permanência na agricultura.
   Ilusão cruel: apesar do sistema criar a possibilidade da
    criança ser “criança” a ocupa com os encargos do
    trabalhador e as preocupações do adulto. Uma negação
    da infância, portanto.
O ADULTO NO CORPO DA CRIANÇA

•   As crianças nos povoados de São Pedro da Água Branca e de Floresta no
    Maranhão vivem uma realidade muito diversa:
•   Povoados de posseiros e pequeno agricultores sem o título da terra
•   Sujeitos ao despejo: ação direta de fazendeiros, pistoleiros via de regra
    com anuência da polícia.
•   Um discurso diferente das crianças de Canarana: mediação do lúdico,
    brincadeiras e amizades. (sonhos)
•   Dura realidade: Antonio P. (11 anos): “nunca fui feliz em minha vida”.
    Ariston C. (11 anos): “Eu sou um menino pequeno. Eu passo mal porque
    aqui não tem as coisas que a gente gosta”. Maria de Fátima R. (13 anos):
    “é uma vida pensativa. Passa uns tempos bons e outros ruins. Mas, dá da
    gente viver assim mesmo. Porque ser pobre em todo lugar é ruim”.
•   O espaço da brincadeira é circunstancial e se apresenta como um intervalo
    durante o dia. Primeiro trabalham, depois vão à escola e só após brincam,
    no fim do dia, na boca da noite. A infância é um resíduo do tempo que está
    acabando.
O adulto no corpo da criança (continuação)


• Vida marcada por constantes migrações: A migração, a constante
  busca é um dado da vida. Aqui a infância não é definida pela
  condição de herdeiro. Não há o que herdar. Nascimento B.: “Nós
  vamos embora, aqui, nós não pode trabalhar. O pobre não pode
  viver onde não pode trabalhar”.
• Cacarecos e bagulhos: A pobreza facilita a migração. Não há o que
  carregar. A não ser os apetrechos de sobrevivência, opostos aos
  bens de raiz que dão sentido ao trabalho do homem do campo.
• POBREZA TRANSFORMADA EM CARÊNCIA MORAL: Núcleo
  problemático do processo = falta de união e o fim das lealdades
  básicas.
• O dinheiro (instrumento da trapaça) deixa de ser expressão do
  trabalho, para constituir na sua negação:
• Abertura e venda de posses de terra (muitas vezes ameaçadas)
O adulto no corpo da criança (continuação)

• A POLARIZAÇÃO QUE INDICA O LUGAR DO POBRE NO
  MUNDO:
• Inexistência de terra para o pobre botar roça.
• Em São Pedro os “donos da terra não deixam trabalhar”. É só
  alguém começar uma roça e eles chegam e mandam parar.
• “Os polícias não querem deixar os lavradores botarem roça” João.
• Em Floresta “os mineiros querem tomar as terras dos lavradores”
  Maria N. (13 anos).
• O não ter terra para trabalhar não deriva do sentido de propriedade,
  deriva do advento do “dono” (que também não é proprietário) que
  se interpôs entre o “lavrador” e a “livre liberação da terra”. USO DA
  FORÇA NA IMPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DO PODER PESSOAL
• É na violência do “dono” que as crianças se reconhecem como
  pobres. Uma degradação do homem pela mediação do dono.
O adulto no corpo da criança (continuação)


• Cercamento das terras para criação de gado:
• Terra para cercar é uma negação da terra para trabalhar (na visão
  das crianças): “Gado sem arroz ninguem come”.
• O arroz é a comida do trabalho. A carne é a comida do ócio, da
  festa.
• Arroz sem carne tem sentido, Carne sem arroz não o tem.
• A comida não é supérflua na vida do posseiro: Ela é também o
  limite. O “ter” se reduz ao “ter o que se pode comer”. REALIDADE.
• Assim o arroz simboliza a própria vida, recurso do limite da
  sobrevivência.
• O capital deteriorou as relações no campo: O “ganhar” substitui em
  importância a “união de antes”.
O adulto no corpo da criança (continuação)

• A humilhação e violência como fatores de expulsão dos
  posseiros:
• Bater e colocar no formigueiro
• Uso da palmatória (instrumento de castigo de escravos e crianças)
• Forte simbolismo de classe. Da classe que manda, que tem o
  poder.
• “levar bolos na mão é castigo que se inflige a quem está na
  condição de menor e subalterno, a quem não tem direito de ter a
  própria vontade, a quem está obrigado a obedecer.
• A pequena Regimar F. ao falar de sua vida de adulta e criança
  demarcou o espaço agora duplicado, o dos pobres e o dos donos,
  numa carta geográfica imaginária, em que toda a força do mundo
  que se acaba, e que foi subjugado, ganha contorno de esperança
  na aventura de uma nova migração. Só que Já não se trata de
  buscar terra livre, mas de escapar da cerca e da humilhação.
CONCLUSÕES
   CRIANÇAS DE CANARANA:
   Trabalham para o grande capital
   Possui título das terras que ocupam
   Vivem a ilusão da autonomia na coesão da família: Não percebem que o
    capital transformou a família em capataz de adultos e crianças.
   CRIANÇAS DE SÃO PEDRO E FLORESTA:
   Posseiros não tem a propriedade da terra
   Agricultura de subsistência. Sua relação com o capital, apesar de tênue, é
    insidiosa e corrosiva: dívidas e carências que, no limite, forçam os pobres a
    comer tudo que tem. EXPULSÃO, GRILAGEM E VIOLÊNCIA.
   O posseiro é um obstáculo ao uso capitalista da terra. É a reprodução do
    capital que está em jogo e não a reprodução do trabalhador e da família.
   EM AMBOS OS CASOS:
   As crianças já nascem para o trabalho. No caso dos colonos a infância já
    foi incorporada pelo trabalho, no caso dos posseiros, foi marginalizada pelo
    trabalho.
   Ambas as crianças pensam a vida em termos de futuro, concebido através
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A fronteira do humano e a degradação do outro

  • 1. FRONTEIRA. A degradação do Outro nos confins do humano Martins, José de Souza (Uma releitura) Professor silvânio barcelos
  • 2. O autor  José de Souza Martins é bacharel e licenciado em Ciências Sociais (1964) pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, onde fez o mestrado (1966) e o doutorado (1970) em Sociologia, onde se tornou livre-docente em 1992 e onde leciona desde 1965. Foi visiting-scholar do Center of Latin American Studies da Universidade de Cambridge, Inglaterra, em 1976 e Visiting Professor da Universidade da Flórida (EUA), em 1983. Em 1992, foi eleito fellow de Trinity Hall (quinto colégio mais antigo, fundado em 1350 pelo Bispo William Baterman de Norwich) e Professor Titular da Cátedra Simón Bolívar da Universidade de Cambridge para o ano acadêmico de 1993/94. Em 1996, o Secretário Geral das Nações Unidas nomeou-o membro, pelas Américas, da Comissão de Curadores do Fundo Voluntário da ONU sobre Formas Contemporâneas de Escravidão para um mandato de três anos.
  • 3. José de Souza Martins Nascido em São Caetano do Sul em 24 de outubro de 1938
  • 4. A fronteira na visão de José de Souza Martins Cenário de intolerância, ambição e morte  Esperança: tempo de redenção, justiça, alegria e fartura  Espaço e o homem:ponto limite de territórios (dinamismo)  Linha que separa Cultura da Natureza, Homem do Animal, do Humano e do não humano.  Figura central da fronteira: A vítima (e não o pioneiro)  Múltiplas fronteiras: fronteira da civilização, espacial, cultural, étnica, histórica e fronteira do humano.  Fronteira do humano: degradação do outro para viabilizar a existência de quem o domina, subjuga e explora.  Lugar de renascimento e maquiagem dos arcaísmos desumanizadores. (A fronteira está longe de ser o “lugar do novo”)
  • 5. Técnicas utilizadas por Martins nos processos da pesquisa  Técnicas artesanais de investigação e pesquisa solitária (conflitos).  Técnicas de inserção pedagógica temporária nos grupos e comunidades estudadas. (professor itinerante).  Pedagogia investigativa: diferente da pesquisa participante (comunidade pesquisa sobre si mesma), a pedagogia investigativa mostra à comunidade o lado oculto dos processos sociais.  Mudança de paradigma: O mito do pioneiro X formas arcaicas de dominação, reprodução ampliada do capital, escravidão.  Percepção de diferentes tempos históricos: Racionalismo e modernidade da acumulação capitalista X concepções de mundo e de vida do camponês = família e comunidade rural voltada para a subsistência e relações de reciprocidade. (Lógica perversa)  Movimentar-se no interior do conflito e da conflitividade: Guerra confronta visões de mundo e definições do outro.
  • 6. Recursos que possibilitaram a pesquisa  FAPESP, CNPq, Caronas com funcionários da SUCAM (malária).  20 anos de envolvimento pedagógico com a C P T (cursos sobre situação dos trabalhadores rurais). Aprendizado de mão-dupla.  “O principal apoio veio, porém, dos próprios trabalhadores. Com sua habitual generosidade, eles me acolheram e me ajudaram. Em nenhum lugar deixei de encontrar quem me permitisse armar minha rede num canto da casa, num alpendre, numa latada, num paiol de arroz ou num tijupar de roça. E que repartisse comigo a farofa de carne-de-sol com farinha puba, o prato de arroz com feijão, um pouco de alvo beiju, uma lasca de rapadura recém-feita, um punhado de castanha-do-pará, uma porção de laranjas ou um naco de carne de caça: generosa partilha da fartura simples que quase sempre há entre os pobres do campo”. (pp. 22).
  • 7. Capítulo 1 A CAPTURA DO OUTRO O rapto de mulheres e crianças nas fronteiras étnicas do Brasil • Realidades sociológicas nas frentes de expansão de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Pará, Maranhão, Rondônia, Acre e do Amazonas: • Concepção dual dos seres humanos: Cristão X Caboclo, Homens X Pagãos, Humanos X Não-humanos. (Discurso que se repete desde o Brasil - Colônia e revela os limites étnicos dos pertencentes e dos não-pertencentes do gênero humano). • Diferentes tempos históricos: Recente mudança do machado de pedra para o de aço dos Kamayurá, canibalismo ritual dos Rikbátksa ao mesmo tempo que entram na era do avião, máquina fotográfica e da filmadora.
  • 8. O rapto na situação de fronteira • Indígenas raptados por “civilizados” : Normalmente constituem-se exceções num quadro geral de ataques de extermínio. Genocida limpeza de áreas cobiçadas para abertura de novas fazendas. Nesse caso nunca houve incorporação à estrutura das relações sociais dos raptados, sendo eles mantidos à margem como prostitutas (no caso das mulheres) e submetido à condições de servidão (no caso dos homens). • “Civilizados” raptados por indígenas: Nesse caso os raptados são incorporados à estrutura social dos raptores, embora sempre na condição de “estrangeiro”. Na sua grande maioria os raptos destinam-se à suprir uma carência de parceiros para a reprodução da tribo. • Caso Helena Valero: Raptada pelos Yanoama, recebeu nome de Napanhuma (um não-nome: “a estrangeira”). Incorporada como mãe de filhos de homens yanoama. 20 anos após consegue fugir e também foi tratada entre os brancos como não-branca.
  • 9. A captura do outro O estranhamento e a recusa da alteridade • Definição do raptado como ser “liminar”: Martins identifica essa condição de fronteira onde o raptado é reconhecido como o outro, o estrangeiro. • Tanto de um lado como de outro da fronteira o “outro” expressa uma alteridade problemática: Seria uma espécie de sala de espera do processo de humanização na perspectiva do raptor.
  • 10. Capítulo 2 A r epr odução do capital na fr ente pioneira e o r enascimento da escr avidão  Escravidão por dívida ou peonagem: O arcaico (extrativismo na Amazônia) e o moderno perpetuando a prática da super exploração da mão-de-obra.  Empresas modernas que utilizam da escravidão: contradição e irracionalidade ? Ou simples lógica da mais valia? (ler nomes das empresas pp. 82)  Martins demonstra que o quadro teórico marxista- estruturalista só permite uma única temporalidade, a do tempo linear.  A escravidão temporária não constitui um modo de produção, mas um dos seus momentos.
  • 11. O CATIVEIRO NO CAPITALISMO DE FRONTEIRA  Programa militar ocupação da Amazônia: “integrar para não entregar”. GEOPOLÍTICA.  Espaços vazios: Ideologia. Índios e população camponesa (XVIII)  Contradição histórica: ocupar espaços com a agropecuária (dispensa mão de obra e esvazia territórios)  Doação de 75% de capital para as oligarquias tradicionais (bases de sustentação do próprio regime militar), para empreendimentos na região Amazônica. Política anti-reforma agrária.  Diferente da expansão para o Oeste dos EUA, no Brasil definiu-se num quadro fechado de ditadura, repressão e falta de liberdade.  Nesse contexto o proprietário de terra (importante aliado do regime) torna-se o “grande senhor” de consciências e de pessoas”.  Os grandes empresários urbanos alimentaram o sistema do trabalho escravo na figura do capataz (acostumado ao poder pessoal). Hoje o executivo que anda em Jatos particulares substitui a figura do Coronel montado no seu cavalo. (grifo meu)
  • 12. Acumulação primitiva no interior da reprodução ampliada de capital  Desenvolvimento desigual do capital: As forças produtivas se desenvolvem mais depressa do que as relações sociais.  Assimetria entre realidade econômica e social: No capital a produção é social, mas a apropriação dos resultados da produção é privada. DESCOMPASSO HISTÓRICO ENTRE PROGRESSO MATERIAL E PROGRESSO SOCIAL.  Trabalho escravo utilizado na “formação da fazenda”: 72,7% dos peões são empregados no desmatamento de florestas, para formação de pastagens. MOMENTO DO PROCESSO DO CAPITAL.  Casos de denúncia de escravidão acompanham o avanço da frente pioneira: Após a ditadura os casos de denúncia de escravidão no Amazonas salta de 9,8 para 17,7 casos anuais, ou seja de 47,8% em 1970/73 para 63,2% em 1990/93. EVIDÊNCIA DE FORMAS DE UTILIZAÇÃO DE TRABALHO FORA DO PROCESSO USUAL DE PRODUÇÃO CAPITALISTA. ISTO É: ACUMULAÇÃO PRIMITIVA.
  • 13. EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA FORÇA DE TRABALHO À DISPOSIÇÃO DO CAPITAL  Super exploração da força de trabalho: trabalho acima da jornada normal.  Privação dos meios de produção como terra e ferramentas.  Super exploração introduz dificuldades: doenças, endividamento e morte.  Acumulação primitiva: processo histórico mais ou menos lento.  INCORPORAÇÃO DO TRABALHADOR E/OU SUA FAMÍLIA AO EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA
  • 14. Pr odução de capital no interior do pr ocesso de r eprodução ampliada de capital  Conversão de meios não capitalistas em instrumentos de produção capitalista: o que define o processo não é o resultado mas o modo como foi obtido. = O que a peonagem tem promovido na frente pioneira é a “produção de fazendas” e não de “mercadorias”.  EXEMPLOS: 1) utilização de grande quantidade de trabalhadores para o desmate de florestas virgens para formação de pastagens. Depois de pronto apenas alguns peões mantinham a rotina das fazendas agropecuárias.  EXEMPLOS: 2) Na época da escravidão negra utilizava-se da mão de obra livre para formação da fazenda, desmatando terrenos e plantando as mudas de café recebendo em troca o direito de cultivarem nas novas terras gêneros alimentícios. Depois de formada a fazenda era utilizada a mão de obra escrava.
  • 15. A escravidão atual é, no limite, uma variação extrema do trabalho assalariado  Disseminação da peonagem fora da frente pioneira. Fenômeno residual e retardatário da passagem da frente pioneira, em áreas já incorporadas à economia nacional.  Reflorestamento  Olarias  Corte da cana-de-açúcar  Colheita de café  Colheita de semente de capim para formação de pastos.  ATIVIDADES SAZONAIS QUE EMPREGAM A MÃO DE OBRA DOS CHAMADOS BÓIAS – FRIAS.  EXTRAÇÃO DE MAIS-VALIA ALÉM DO LIMITE DETERMINADO PELA REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO.  EXÉRCITO DE RESERVA TORNA O TRABALHADOR “SUBSTITUÍVEL E DESCARTÁVEL”.
  • 16. Transição do trabalho do bóia-fria para o sistema de peonagem  Necessidade de redução adicional do capital variável (dispêndios de despesas com salários).  Acentuação da superexploração do trabalho.  Dificuldades em contratar empregados (baixo salários)  Escassez de mão de obra  Falta de investimentos na modernização dos meios de produção  PEONAGEM  ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA
  • 17. Mecanismos sociais de gestação da escravidão  Trabalhos de curta duração: derrubada de matas  Vendas de peões endividados no término da empreitada  Mecanismo da dívida: mesmo quando o peão tem liberdade de sair garante o seu retorno. QUESTÃO MORAL  Casos de extremo controle: Fazenda Codeara (peão só saía com salvo-conduto).  MUNDO DA PEQUENA ACUMULAÇÃO: Traficantes que recrutam trabalhadores, donos de prostíbulos (as prostitutas também são escravizadas), vendedores de roupas e bugigangas, donos de pensões, polícia à serviço dos interesses dos traficantes (peão preso tem que pagar pelo cárcere), pistoleiros e capatazes utilizados no sistema de repressão.
  • 18. Condições de extremas dificuldades geram mão de obra excedente  Membros de famílias de pequenos agricultores pobres são estimulados a aceitar ocupações temporárias fora do lugar onde vivem nos períodos entre o fim da colheita e o início do plantio. FORMA DE NÃO SOBRECARREGAR A ECONOMIA FAMILIAR NO MOMENTO DE DESOCUPAÇÃO OU SUBOCUPAÇÃO.  Iniciativa própria dos jovens em busca de algum dinheiro próprio que a economia familiar não proporciona. (compra de pequenos luxos: rádio-portátil, roupa vistosa).  Momento de ruptura dos vínculos entre pai e filhos: início de uma nova unidade familiar ou busca de novas alternativas de vida, poderosa interferência da necessidade de dinheiro para as novas gerações (mídia).
  • 19. Origem camponesa alimenta o sistema da peonagem  Apesar das denuncias de escravidão a peonagem persiste como sistema de recrutamento da mão de obra que as fazendas necessitam:  Os peões acreditam estar migrando temporariamente para um ganho adicional de dinheiro.  Nem todos os peões se tornam escravos. (norma da exceção).  O sistema funciona: nem sempre caem num regime em que se reconheçam como servis.  As relações de trabalho não são piores do que as que conhece habitualmente.  O peão só se conscientiza como escravo quando perde a liberdade de ir e vir ou quando pistoleiros ostentam armas e/ou torturam os que tentam escapar sem pagar a dívida.
  • 20. Uma questão cultural (mentalidade)  Persistência de antigas relações de trabalho servis ainda não superadas, em função também da manutenção das condições de reprodução.  Cultura da servidão e da dependência pessoal que ainda se difundem entre as populações pobres do campo e da cidade. (resquícios da Idade Média = grifo meu)  Condições da própria sobrevivência do trabalhador o impede de exigir uma melhor remuneração.  Caráter lúdico do trabalho fora do lugar (longe da vigilância dos pais e esposas). Vulnerabilidade e tolerância com as más condições de trabalho, pouco ganho e violações de direitos trabalhistas.
  • 21. Capítulo 3 Regimar e seus amigos A criança na luta pela terra e pela vida • Trabalho publicado, originalmente, como capítulo do livro de José de Souza Martins (org.), O Massacre dos Inocentes (A criança sem infância no Brasil), Editora Hucitec, São Paulo, 1991, p. 51-80.
  • 22. A criança como testemunha • Segundo Martins a informação mais importante que se pode obter numa entrevista é justamente aquela que não é dita. O Silêncio. • As ciências sociais cultivam a concepção do homem que está permanentemente disposto a enganar os outros, no jogo da sociedade. No limite a vida social é concebida como uma fraude. • Trabalho do sociólogo: fazer a vítima contar o que não gostaria de revelar, coisas que só tem sentido dentro de uma matriz interpretativa acessível somente ao pesquisador. • O interesse se desloca para o informante “central” da pesquisa, e descarta os que não falam. • MAS, Martins identifica importante “filão sociológico” nos que não falam ou que falam por meio dos silêncios.
  • 23. A criança como testemunha (continuação) • A pesquisa que originou esse trabalho é um desafio desse tipo: Compreender o silêncio. • Maioria das entrevistas era realizada com grandes grupos. • No meio da platéia um grupo importante que nunca falava mas ouvia muito sempre chamou a atenção do Autor: AS CRIANÇAS. Martins resolve entrevistá-las. • “NESTE TEXTO FALO DA FALA DAS CRIANÇAS, QUE POR MEIO DELA ME FALAM (E NOS FALAM) DO QUE É SER CRIANÇA (E ADULTO) NAS REMOTAS REGIÕES DAS FRENTES DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO, EM DISTANTES PONTOS DA AMAZÔNIA.” • O material utilizado aqui foi recolhido na colônia de Canarana e em dois povoados da Pré-amazônia Maranhense: São Pedro da Água Branca (município de Imperatriz) e Floresta (município de Santa Luzia).
  • 24. A criança como testemunha (continuação) • Em São Pedro: • combate entre posseiros e um grileiro com seus capanga • Vitória dos posseiros • Posseiros prendem grupo de soldados PM do Pará que agiam segundo interesses do grileiro. • Os grileiros revidaram: amarraram um posseiro num formigueiro (formigas-de-fogo). • Grileiros tentam incendiar a aldeia. O vento sopra o fogo na direção contrária salvando centenas de famílias. • Em Floresta: • Um posseiro (chefe de família) é assassinado pouco depois da partida de Martins daquela região. • TODA ESSA VIOLÊNCIA FOI PRESENCIADA POR ESSAS CRIANÇAS.
  • 25. “O protagonista coletivo”  Martins identifica “um protagonista coletivo” , nas falas das crianças, que se expressa na fala e nos atos de cada um, de cada família. (Ex. da filha recém-nascida entregue a um casal de posseiros.) = Concepção aldeã de vida.  Em cada localidade a fala de cada criança é fragmento de um enredo mais amplo, que protagoniza com os outros.  O espaço de que falam abrangem por vezes centenas de quilômetros. É nesse espaço que circulam idéias sobre “terras livres”, “trabalho”, “lugares bons para um pobre viver”.  Adultos e crianças raciocinam a partir de uma concepção de totalidade de tempo e de espaço: O tempo se abre na certeza do destino da criança de Canarana e na incerteza do destino das crianças dos povoados do Maranhão. O espaço é utilizado pelo agricultor gaúcho para assegurar o futuro dos filhos contrasta com o espaço do posseiro maranhense em sua constante “caça do destino”.
  • 27. Vista aérea da cidade de Canarana foto tirada em setembro/2009 http://3.bp.blogspot.com/_rMgrJyH_bZ4/Sb_n7ptXT2I/AAAAAAAAADQ/ywH5AVNKAOo/s1600- h/Cidade+Canarana+a%C3%A9rea_+(1).jpg
  • 28. Recomeçando a família pelo trabalho  Crianças de Canarana: Infância concebida como preparação para o futuro. O presente em função do futuro.  Discurso das crianças (perspectiva malthusiana): Alencar Jr. (14 anos): “nós viemos para Canarana atrás de futuro, porque lá no Rio Grande do Sul tínhamos pouca terra: dava só para viver, mas para ajudar um filho não dava...”. Marcos M. (14 anos): “[...] não haveria lugar para todo mundo em um pedaço de terra com a quantia de 25 hectares. Como meus pais queriam dar um futuro melhor aos filhos, viemos para cá”. (pp. 124).  Não havia futuro no lugar antigo: muita gente, terra insuficiente, secas, geadas. O FUTURO se revelou como preservação de um modo de vida: FAMÍLIA QUE TRABALHA NA AGRICULTURA, PARA SÍ MESMA, QUE NÃO TRABALHA PARA OS OUTROS.
  • 29. Recomeçando a família pelo trabalho (continuação)  TRABALHO E FAMÍLIA:  Para muitos a emigração destinou-se à manter a família unida e próxima.  Maioria das famílias de Canarana são descendentes de Alemães e Italianos: histórico marcado por migrações periódicas desde finais século XIX.  O TRABALHO: As próprias crianças admitem que mudaram para trabalhar e muitas estudam à noite, para ajudar na lavoura durante o dia. TRABALHO É MISSÃO, E MISSÃO FAMILIAR.  Para as crianças melhoria de vida é aumento de condições de trabalho. Trabalho que paga dívidas: financiamentos, máquinas e terras.  Em Mato Grosso o trabalho é insuficiente para ocupar toda terra existente. O arado e o boi é substituído pela alta tecnologia. EQUILIBRIO.
  • 30. Recomeçando a família pelo trabalho (continuação) O primado do trabalho é o primado da família  O trabalho reproduz a família na medida em que garante o futuro dos descendentes com a reserva de terras para o trabalho. (movimento cíclico).  A riqueza pela riqueza é fator de vergonha, como se fosse ilícita. Pressupões enriquecimento de uma só pessoa e não do grupo o que quebraria o ciclo: a herança deve ser repartida. Uma desacumulação cíclica dos bens do camponês.  A infância é o período da vida em que a criança se prepara para herdar. Daí a importância do estudo como forma de preparo para o salto social.  O tempo é circular: O herdeiro se move num tempo finito onde o ponto de chegada ainda é o ponto de partida (o recomeço da agricultura familiar do pai provedor). Porém o ponto de chegada já não é o mesmo: EVOLUÇÃO
  • 31. Recomeçando a família pelo trabalho (continuação)  Desequilíbrio: empobrecimento das terras do cerrado:  Retorno cíclico à uma nova base para a agricultura familiar.  O agricultor de Canarana se concebe como trabalhador que é patrão de sí mesmo. Pensa no salário (fruto do excedente produzido por seu trabalho) que o capital (a terra) lhe proporciona.  O salário aqui está presente num tempo e dimensão cósmica singular. Não constitui-se em parcelas mensais nas relações de produção mas, na subsistência de toda a família e sua permanência na agricultura.  Ilusão cruel: apesar do sistema criar a possibilidade da criança ser “criança” a ocupa com os encargos do trabalhador e as preocupações do adulto. Uma negação da infância, portanto.
  • 32. O ADULTO NO CORPO DA CRIANÇA • As crianças nos povoados de São Pedro da Água Branca e de Floresta no Maranhão vivem uma realidade muito diversa: • Povoados de posseiros e pequeno agricultores sem o título da terra • Sujeitos ao despejo: ação direta de fazendeiros, pistoleiros via de regra com anuência da polícia. • Um discurso diferente das crianças de Canarana: mediação do lúdico, brincadeiras e amizades. (sonhos) • Dura realidade: Antonio P. (11 anos): “nunca fui feliz em minha vida”. Ariston C. (11 anos): “Eu sou um menino pequeno. Eu passo mal porque aqui não tem as coisas que a gente gosta”. Maria de Fátima R. (13 anos): “é uma vida pensativa. Passa uns tempos bons e outros ruins. Mas, dá da gente viver assim mesmo. Porque ser pobre em todo lugar é ruim”. • O espaço da brincadeira é circunstancial e se apresenta como um intervalo durante o dia. Primeiro trabalham, depois vão à escola e só após brincam, no fim do dia, na boca da noite. A infância é um resíduo do tempo que está acabando.
  • 33. O adulto no corpo da criança (continuação) • Vida marcada por constantes migrações: A migração, a constante busca é um dado da vida. Aqui a infância não é definida pela condição de herdeiro. Não há o que herdar. Nascimento B.: “Nós vamos embora, aqui, nós não pode trabalhar. O pobre não pode viver onde não pode trabalhar”. • Cacarecos e bagulhos: A pobreza facilita a migração. Não há o que carregar. A não ser os apetrechos de sobrevivência, opostos aos bens de raiz que dão sentido ao trabalho do homem do campo. • POBREZA TRANSFORMADA EM CARÊNCIA MORAL: Núcleo problemático do processo = falta de união e o fim das lealdades básicas. • O dinheiro (instrumento da trapaça) deixa de ser expressão do trabalho, para constituir na sua negação: • Abertura e venda de posses de terra (muitas vezes ameaçadas)
  • 34. O adulto no corpo da criança (continuação) • A POLARIZAÇÃO QUE INDICA O LUGAR DO POBRE NO MUNDO: • Inexistência de terra para o pobre botar roça. • Em São Pedro os “donos da terra não deixam trabalhar”. É só alguém começar uma roça e eles chegam e mandam parar. • “Os polícias não querem deixar os lavradores botarem roça” João. • Em Floresta “os mineiros querem tomar as terras dos lavradores” Maria N. (13 anos). • O não ter terra para trabalhar não deriva do sentido de propriedade, deriva do advento do “dono” (que também não é proprietário) que se interpôs entre o “lavrador” e a “livre liberação da terra”. USO DA FORÇA NA IMPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DO PODER PESSOAL • É na violência do “dono” que as crianças se reconhecem como pobres. Uma degradação do homem pela mediação do dono.
  • 35. O adulto no corpo da criança (continuação) • Cercamento das terras para criação de gado: • Terra para cercar é uma negação da terra para trabalhar (na visão das crianças): “Gado sem arroz ninguem come”. • O arroz é a comida do trabalho. A carne é a comida do ócio, da festa. • Arroz sem carne tem sentido, Carne sem arroz não o tem. • A comida não é supérflua na vida do posseiro: Ela é também o limite. O “ter” se reduz ao “ter o que se pode comer”. REALIDADE. • Assim o arroz simboliza a própria vida, recurso do limite da sobrevivência. • O capital deteriorou as relações no campo: O “ganhar” substitui em importância a “união de antes”.
  • 36. O adulto no corpo da criança (continuação) • A humilhação e violência como fatores de expulsão dos posseiros: • Bater e colocar no formigueiro • Uso da palmatória (instrumento de castigo de escravos e crianças) • Forte simbolismo de classe. Da classe que manda, que tem o poder. • “levar bolos na mão é castigo que se inflige a quem está na condição de menor e subalterno, a quem não tem direito de ter a própria vontade, a quem está obrigado a obedecer. • A pequena Regimar F. ao falar de sua vida de adulta e criança demarcou o espaço agora duplicado, o dos pobres e o dos donos, numa carta geográfica imaginária, em que toda a força do mundo que se acaba, e que foi subjugado, ganha contorno de esperança na aventura de uma nova migração. Só que Já não se trata de buscar terra livre, mas de escapar da cerca e da humilhação.
  • 37. CONCLUSÕES  CRIANÇAS DE CANARANA:  Trabalham para o grande capital  Possui título das terras que ocupam  Vivem a ilusão da autonomia na coesão da família: Não percebem que o capital transformou a família em capataz de adultos e crianças.  CRIANÇAS DE SÃO PEDRO E FLORESTA:  Posseiros não tem a propriedade da terra  Agricultura de subsistência. Sua relação com o capital, apesar de tênue, é insidiosa e corrosiva: dívidas e carências que, no limite, forçam os pobres a comer tudo que tem. EXPULSÃO, GRILAGEM E VIOLÊNCIA.  O posseiro é um obstáculo ao uso capitalista da terra. É a reprodução do capital que está em jogo e não a reprodução do trabalhador e da família.  EM AMBOS OS CASOS:  As crianças já nascem para o trabalho. No caso dos colonos a infância já foi incorporada pelo trabalho, no caso dos posseiros, foi marginalizada pelo trabalho.  Ambas as crianças pensam a vida em termos de futuro, concebido através do passado como fonte de esperança, a matriz da utopia.