Conceitos básicos de filosofia da mente. Problema mente-corpo, dualismo, materialismo, identidade pessoal, modelo computacional da mente, inteligência artificial, noções de psicologia.
2. O que é a mente?
Como seres humanos podemos pensar, perceber, sentir e
querer.
Tudo isso são atividades mentais, relativas à mente.
Mas o que exatamente é a mente?
3. O que é a mente?
Costumamos separar mente e corpo.
Temos um corpo, mas não queremos ser reduzidos às nossas
características físicas. Parece haver mais do que
simplesmente nosso corpo.
O que seria esse algo mais?
4. O que é a mente?
O termo mente (mind) é recente.
Antigamente, palavra alma costumava ser bem mais utilizada.
Alma
Em grego: psiqué
Em latim: anima
Vamos pensar então no que seria uma alma.
5. O que é a mente?
Aristóteles
Para Aristóteles, alma é o que dá a forma de um ser vivo.
Segundo ele, plantas, animais e humanos possuem alma. No
entanto, as almas são de tipos diferentes para cada um.
Plantas: alma com aspecto nutritivo.
Animais: alma com aspecto nutritivo e perceptivo.
Humanos: alma com aspecto nutritivo, perceptivo e racional.
6. O que é a mente?
Descartes
Séculos depois, na Era Moderna (século 17), as relações
entre alma e corpo voltaram a ser discutidas.
Para Descartes, a alma é um elemento racional, um coisa que
pensa (res cogito) e não precisa ocupar espaço como um
corpo.
Assim, alma e corpo são entidades separadas. Porém, a alma
controla o corpo.
Descartes defende um dualismo de substância.
7. O que é a mente?
Descartes
“De sorte que este eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou,
é inteiramente distinta do corpo e, mesmo, que é mais fácil de
conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não
deixaria de ser tudo o que é.” (Descartes, Discurso do
Método, grifos meus).
8. O que é a mente?
Spinoza
Para Spinoza, filósofo holandês do século 17, alma e corpo
não são entidades diferentes, mas aspectos diferentes de
uma mesma substância.
Segundo Spinoza, a realidade consiste de apenas uma única
coisa que se apresenta com diferentes propriedades.
Spinoza defende um monismo (ou, no caso, um dualismo de
propriedades).
9. O que é a mente?
Leibniz
Gottfried Leibniz, outro famoso filósofo do século 17,
considera que alma e corpo são entidades separadas e
independentes.
A alma e o corpo só aparentam agirem um de acordo com o
outro por conta de uma harmonia pré-estabelecida no início
da criação do mundo por Deus.
Leibniz defende um paralelismo psicofísico.
10. Mente e cérebro
Hoje, quando pensamos nessas questões, falamos mais em
mente do que em alma.
E associamos a mente ao cérebro.
Pela nossa cultura mais científica, talvez mente seja
simplesmente um nome para atividade cerebral.
Mas será que é só isso?
11. Mente e cérebro
Há duas divisões básicas para a questão da mente
Dualismo: existe mente e cérebro.
Materialismo: só existe cérebro.
Também poderíamos pensar em idealismo (só existe a
mente), mas nesta apresentação vamos ficar só com essas
duas.
12. Dualismo
O dualismo parece mais próximo do senso comum.
Um argumento a favor de uma posição dualista seria a
necessidade de uma mente para definir nossa identidade
pessoal.
13. Dualismo
O que faz você ser a mesma pessoa desde que era criança?
Talvez seja uma mente que determine quem você é. Se você
estivesse em outro corpo, mas com a mesma mente, você
ainda seria você. Ou não?
14. Dualismo
Ou pior ainda: imagine que, graças à uma tecnologia
avançada, seu cérebro seja dividido e cada metade seja unida
com a metade de um corpo artificial. Agora temos duas
pessoas. Qual delas é você? Ou você seria as duas pessoas?
Ou você não seria nenhuma delas?
15. Materialismo
O problema do dualismo é fazer referência a uma entidade
não observável e também não explica como mente e corpo
estão ligados (problema do Descartes).
No materialismo, tudo se resume ao cérebro. Um processo
mental é simplesmente um processo cerebral. Essa é a tese
da identidade mente-cérebro. Mas será que é só isso
mesmo?
16. Materialismo
Como a minha mente se reduz ao cérebro? O que eu penso
parece muito diferente do que acontece nas minhas conexões
neurais!
Talvez a equivalência esteja na informação. Talvez meu
cérebro seja apenas um computador que interpreta os sinais
do sistema nervoso como bits.
19. Materialismo
Mas ainda assim computadores e cérebro parecem muito
diferentes...
Vamos supor que um cérebro pode ser modelado em termos
de computadores. Também podemos fazer o contrário:
construir um computador que se comporte exatamente como
um cérebro?
20. Inteligência Artificial
Simular uma inteligência lógica e quantitativa em
computadores não é muito difícil.
Mas será que conseguimos simular outros aspectos da
inteligência humana?
21. Inteligência Artificial
No Teste de Turing, a inteligência artificial é avaliada quando
uma pessoa não consegue descobrir que está trocando
palavras com uma máquina.
Se a tecnologia avançar o suficiente, será que poderemos
interagir com robôs do mesmo jeito que interagimos com
pessoas?
22. Inteligência Artificial
Ou será que há um limite para a capacidade dos robôs em
simular o comportamento humano? Esse tema já foi
trabalhado em várias obras de ficção.
23. Inteligência Artificial
Mesmo que uma máquina simule bem o comportamento
humano, talvez ainda falte alguma coisa.
O problema do quarto chinês, elaborado por John Searle,
trata disso.
24. Consciência
Se apenas o comportamento não pode nos garantir a
existência de uma mente, então como podemos garantir que
outras pessoas possuem mentes? A consciência parece
muito subjetiva.
25. Consciência
De fato, uma corrente da psicologia chamada
comportamentalismo (ou behaviorismo) considera que a
mente humana só pode ser estudada em termos de
comportamento. O que ocorre na consciência de uma pessoa
é totalmente misterioso.
26. Consciência
Mas, afinal, existe ou não algo além do cérebro ou do
comportamento?
Como dissemos, a consciência parece algo muito subjetivo.
Talvez o papel da consciência tenha a ver com nossas
próprias percepções.
27. Consciência
Podemos perceber muitas coisas. Algumas propriedades são
qualitativas (qualia) como cores, sons, cheiros, sabores, etc.
Essas percepções podem se reduzir às atividades cerebrais
ou existe algo mais? Frank Jackson, filósofo australiano,
discutiu isso com o exemplo do quarto de Mary.
28. Consciência
Se as sensações e percepções são tão subjetivas, será que
percebemos a mesma coisa? A cor que eu vejo é a mesma
cor que você vê?
29. Consciência
Se as percepções são aquilo que nosso cérebro traduz sobre
o mundo exterior, como podemos garantir que nosso cérebro
mostra o mundo como realmente é? Será que nossas
experiências sensoriais não podem ser falsas?
31. Consciência
Para o filósofo Nick Bostrom, a probabilidade de vivermos em
um mundo simulado é relativamente alta.
32. Inconsciente
Além daquilo que estamos conscientes, nossa mente também
trabalha com muitos aspectos inconscientes.
Um dos pioneiros sobre o tema do inconsciente foi o pai da
psicanálise Sigmund Freud.
34. Inconsciente
Para Carl Jung, um ex-seguidor de Freud, o inconsciente vai
além do indivíduo. Certos símbolos são universais (os
arquétipos). Daí surge o conceito de inconsciente coletivo.
35. Inconsciente
Mas não preciso estar dormindo ou desmaiado para estar
inconsciente.
Posso estar hipnotizado e fazer coisas por sugestão do
hipnotizador sem perceber.
Também posso sofrer de mudança de personalidade.
36. Outros Problemas
Há muitas outras questões envolvendo a mente.
Uma delas seria: a mente afeta a realidade física?
Para algumas interpretações da física quântica a resposta é
sim.
37. Outros Problemas
Uma questão é: quando a consciência começa a existir?
Ela nasce junto com a vida ou apenas em conjunto com o
sistema nervoso?
Se a consciência não se reduzir ao sistema nervoso, como
isso afeta a questão do aborto?
38. Outros Problemas
Outra questão: há níveis de consciência entre os animais?
Por que toleramos o abate de alguns animais e não de
outros?
39. Conclusões
Temos muitas perguntas e praticamente nenhuma resposta
conclusiva (como tudo em filosofia!). Porém, podemos dar
alguns argumentos possíveis para tentar respondê-las.
Continue pensando...
41. Referências
David Papineau & Howard Selina, “Introducing Consciousness: A Graphic Guide”, Londres: Icon Books,
2010
Eric Matthews, “Mente: Conceitos-chave em filosofia”, Michelle Tse (Trad.), Porto Alegre: Artmed, 2007.
Frank Jackson, “What Mary Didn't Know?”, The Journal of Philosophy, v. 83, n. 5, 1986, pp. 291-295.
John Searle, “Minds, brains and programs”, Behavioral and Brain Sciences, v. 3, n. 3, 1980, pp. 417-457.
Linda D. Davidoff, “Introdução à Psicologia”, Lenke Peres (Trad.), São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
Nick Bostrom, “Are we living in a computer simulation?”, Philosophical Quaterly, v. 53, n. 211, 2003, pp.
243-255.
Nigel Benson, “Introducing Psychology: A Graphic Guide”, Londres: Icon Books, 2007.
Stephen Law, “Guia Ilustrado Zahar: Filosofia”, Maria Luiza Borges (Trad.), Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2009, pp. 123-137.
Theodore Sider, “Identidade Pessoal”. In: Earl Conee e Theorode Sider, Enigmas da Existência: Uma visita
guiada à metafísica, Vítor Guerreiro (Trad.), Lisboa: Bizâncio, 2010.