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Dicionário de Corporativês
para iniciantes
Approach – poderia ser uma simples abordagem, mas, no
português, talvez essa aproximação não tivesse tanto
impacto. É melhor sondar o ambiente antes de empregá-la.
Alavancar – sempre que escuto esse verbo, lembro-me de
reuniões sem fim, em que passei, ano após ano, ouvindo:
“temos de alavancar esse projeto”, “vamos alavancar essa
rede...”, e a discussão ia rolando, rolando... Mas o “como”
ninguém falava. Minha vontade era pegar uma catapulta e
lançar esse indivíduo a uma longa distância. Isso, sim, iria
alavancar o projeto.
Business Intelligence (BI) – já ganhou até apelido: biai!
É biai pra cá, biai pra lá... A queridinha tecnológica, de quem
acha que com essa fantástica ferramenta vai conseguir
resolver tudo na gestão: do cafezinho ao financeiro... mas,
se esquecem de que a inteligência humana é anterior à do
sistema.
Basilar – desencavar palavras pouco utilizadas e inseri-las
em um novo contexto também é um must no corporativês.
Fui a três reuniões num só dia e a ouvi mais de vinte vezes.
O corporativês é uma praga. Espalha-se rapidamente.
Budget – o que eles têm contra “orçamento”? Será que há
uma conversão automática da moeda em dólar? Uma forma
de valorização linguística do dindim?
Compliance – sempre utilizada quando algo é tão
complicado, mas tão complicado, que pra não precisar
explicar, o expositor tira da manga. “Nossa política de
compliance...” E tenho dito!
Cenário lato sensu – ouvi essa expressão recentemente,
quando a expositora queria acentuar um quadro de crise
econômica, e fiquei quebrando a cuca... Acho que é um
sentido tão amplo que não consegui captar sua amplitude!
Coaching – se o sapo cururu na beira do rio coaxava, o
coach coaches... Quando as estratégias de RH passaram a
ganhar lugar na gestão moderna, o “ser humaninho” passou
a ser percebido como uma peça a ser lapidada por essa
figura que seria um misto de treinador de futebol americano
com guru transcendental.
Descontinuar – um eufemismo (o mundo corporativo adora
eufemismos). Em vez de dizer “Deu tudo errado! O projeto
foi uma bomba!”, é mais elegante dizer “O projeto será
descontinuado”.
Design thinking – mais um modismo. Alguém já viu alguém
desenhar pensamento? Então, desenha pra mim?
Deadline – qual o problema de se falar “prazo”? Será que
com deadline ganharemos mais alguns dias para executar a
tarefa? Ou será que vale a associação entre morte e prazo?
Disruptivo – essa palavra é a última moda no ambiente
corporativo. Veio na onda da inovação. Acho que só de
torcer a língua para falá-la, já revoluciona alguma coisa no
mundo!
Empowerment – não sei o que é pior: o empowerment ou o
aportuguesado emponderamento. Parece uma espécie de
He-Man corporativo que levantaria sua espada e gritaria: eu
tenho a forçaaaa!
Expertise – os espertinhos do mundo corporativo a-do-ram
dizer que têm expertise nisso, expertise naquilo. Mas,
cuidado. Tem muito espertalhão que esconde sua falta de
conhecimento por trás da tal da expertise.
Favorabilidade – faça-me o favor: nunca use esse sufixo
“bilidade” com a pretensão de estar sendo intenso ou hábil
em algo. É um daqueles indicadores que não indicam nada...
Feedback – já ouvi alguns trocadilhos infames, que não
cabem no mundo corporativo elegante. Tudo bem que
retroalimentação é feia pra chuchu, mas um retorno,
quando bem dado, é sempre o melhor
feedback.
Gathering – se fala “gédering”. É mais um termo que vem na
onda do RH estratégico: “fulano tem um gathering...”. Oi?
Traduzindo: é o cara com carisma, poder de liderança, de
reunir gente em torno de uma ideia. Se ele tem tudo isso,
nem precisa de gathering, não é mesmo?
Gap – além da marca de moleton que as adolescentes
adoram é também um termo que funciona super bem
quando algo não funciona, se alguma coisa está atrasada.
Houve um “gap”... pode relaxar. Ninguém vai ousar
perguntar o que aconteceu...
Headhunter – Madame Yeyevna Blavatska me confessou
que, ao escutar essa expressão pela primeira vez, recolheu
seu pescocinho na reunião de diretoria. Achou que
caçadores de cabeças adentrariam a sala. Uma versão
corporativa de ghostbusters.
Happy hour – no mundo corporativo, cuidado com convites
para viver “horas felizes” após o expediente. Após o
expediente, no relógio corporativo, o que existe é hora extra,
mas o bom e velho chopinho com os amigos da “firma” tem
o seu valor. É hora de rir e falar bobagem. As melhores
ideias podem surgir na mesa de um bar.
Input – mais um termo que veio do tecnologês para o
corporativês. O que tem de gente inputando, mas não
imputando a responsabilidade pelo projeto. A melhor que
ouvi foi: “Vamos dar um input, depois um output.” Pois é.
Tudo o que entra, sai... Tem gente que dá o input, tem gente
que aguarda. Bom, dar o input é direito de cada um...
Insight – aqui, o corporativês metafísico se manifesta. Ter
um insight é como se baixasse um santo do Peter Drucker
no cidadão, que o torna capaz de antecipar situações de
modo intuitivo. É mais corporativo que “Feelings”, que como
diria certo consultor, está mais para música do Morris Albert
do que tomada de decisão na gestão.
Job – nada a ver com o Jobs, aquele lá, o Steve, que falou
que simplicidade é um alto nível de sofisticação. Aqui, é o
contrário, se usa “job” para sofisticar algo simples. Por
exemplo, o chefe pede “Beltrano, tenho um job para você:
preciso que realize um tratamento de caráter imagético, a
fim de viabilizar a reprodução documental do projeto”, em
lugar de: “Beltrano, tira uma xerox do projeto pra mim!”
Know-how – um dos mais antigos termos do corporativês
arcaico. Utilizado quando o cidadão quer dizer que sabe
como fazer, que tem o tal do conhecimento. Mas se a
competência falar mais alto, ela vai conseguir dar conta do
recado em qualquer idioma: sânscrito, libras...
Kick-off – este termo representa bem o que a grande
maioria dos embromators do corporativês fazem: dar chutes.
Dão aquele chutão para começar o projeto e seja o que
Deus quiser. Mas, cuidado, tem alguns kicks-off em que as
tarefas chegam quicando na sua área e você
é que pode acabar virando a bola da vez.
Learning organization – o conceito do Peter Senge é
algumas vezes utilizado no corporativês para “sofisticar”
propostas de educação corporativa em algumas
organizações. Mas, muitas vezes, são propostas enfiadas
goelas abaixo, em que o empregado finge que aprende e a
empresa finge que educa. O que importa é dizer que faz.
Mas, se faz diferença? Que diferença faz?
Líder – Ah, o líder... Aquele que lidera o grupo. O senhor é o
meu pastor e nada me faltará... A grande maioria ainda é
nada mais que um chefe. Manda quem pode, obedece
quem tem juízo. Mas isso não é moderno. Moderno é ser
gestor, líder, facilitador... Ah, o discurso e a prática... Quando
se encontrarão?
Mentoring – primo pobre do coach. O mentoring é o
mentor. O célebre “ouça a voz da experiência”. Um Karatê
Kid, um Kung Fu corporativo, gafanhoto.
Mind setting (mudar o) – não sei vocês, mas eu e madame
Blavatska quando ouvimos que precisávamos mudar nosso
mind setting, achamos que seríamos hipnotizadas,
sofreríamos uma lobotomia... Por que não o bom e velho
“mente aberta para mudanças”?
Metodologia – esse termo veio direto do mundo acadêmico
para o corporativês, quando o intuito é dar profundidade a
algo raso. Uma vez, explanava sobre os resultados de um
evento, quando fui inquerida sobre a metodologia aplicada
no estande. Oi? Deu vontade de responder: fundamentado
em estudo de caso da Octanorm Foundation, by Banners
and Sons.
Motivation power – essa expressão foi ouvida durante uma
apresentação de projeto. Eu e meus colegas nos
entreolhamos. Essa é nova: a força da motivação! Parece um
suplemento energético, um anabolizante corporativo, que
dará a sua apresentação aquele plus!
Networking – outro termo de origem tecnologia que invade
o corporativês: vem de trabalhar em rede. Atualmente,
abrange a sua rede de relacionamentos. Mas atenção, ao
lançar a sua tarrafa, com o que vai vir. Lembre-se que a
sardinha de hoje pode ser o tubarão de amanhã.
Oxigenar (deixar no oxigênio) – outra do corporativês
elegante. Quando o projeto está na UTI, mas você ainda tem
esperança de ressuscitá-lo em determinado momento, diga
que vai mantê-lo no oxigênio.
Output – Ver definição de input. Quando um entra, o outro
sai...
Performar – Há uma amiga, a miss PPT, que adora o verbo,
por mais que madame Blavatska insista em lhe dizer que
não existe na língua portuguesa. Vem de performance, que
significa desempenho. Mas, cá pra nós, miss PPT, é muito
performático esse performar...
Player – na tradução literal, pode ser ator, jogador... No jogo
corporativo, o que não falta são atores. Os que blefam a
toda hora para ganhar o jogo. Fique atento àqueles que
escondem uma carta na manga.
Quebra de paradigma – Essa expressão é ótima, muito
usada quando alguém quer estabelecer novos padrões e
apresentar uma ideia velha como se fosse nova. “Vamos
quebrar paradigmas! Agora, a gestão é compartilhada”.
Top 10 no corporativês.
Resiliência – seria a capacidade de superar obstáculos sem
surtar e ainda contribuir para a mudança. Ou melhor: aceita
que dói menos!
Stakeholder – não, não é um bife do Outback. São os
players, o público estratégico. Reveja Networking.
Sinergia – Muito em voga. Seria algo como trabalhar em
conjunto. Madame Blavatska diz que não aguenta mais
ouvi-la. Em geral, quem usa não tem nada a ver com isso.
Turnover – os gestores adoram dizer “estamos com alto
turnover”. Significa esconder a taxa de rotatividade. Hoje em
dia, ninguém é demitido. É desligado. Como se as pessoas
fossem botões “on” e “off”.
To do – essa expressão, ouvi outro dia e quer dizer
simplesmente a lista de afazeres do indivíduo. Mas, aí,
quando lança um “to do”, tudo fica mais trabalhoso e
valorizado.
U.A.I – se você está gastando o seu inglês, lance um “why”
de vez em quando, para fazer a linha questionador
(Ultimamente Ando Inteligente). Se o seu chefe for mineiro,
então, vai ganhar mais uma estrelinha, uai!
Workflow – outra que veio do tecnologês direto para o
corporativês. Um fluxo de trabalho. O sonho de consumo de
todo gestor: processos automatizados. Mas, assim como
ocorre com o BI, o que adianta ferramenta se nunca se
mapeou processo na organização?
Variáveis – esse termo é ótimo para usar quando você não
tem a mínima ideia como vai rolar o seu projeto “São muitas
as variáveis”. Ou melhor, use de forma exata, matemática,
que causa melhor impressão: “São ‘n’ variáveis”
X da questão - assim como explicado no termo anterior –
variáveis –, a matemática, as ciências exatas, também são
apropriadas pelo corporativês, que adora demonstrar
projetos por meio de gráficos, planilhas – tudo muito exato
(só que não). Este é o “X” da questão: lidamos com gente.
Y (Generation) – O corporativês adora uma análise
sociológica também para fundamentar seus projetos.
A geração Y, ou geração internet, é objeto de estudos
intensos, que definem, pós definem, acham que entendem,
mas que no fundo é mais uma letra: A E I O U ypsilone.
Z (Generation) – veio depois da Y. Acabou o alfabeto, acho
que será preciso reinventar novas expressões. Mas, isso
nunca é problema, acabei de ser informada que já temos a
geração Alfa!. Pois é. Vamos partir para o alfabeto grego!
Nem o céu é o limite em se tratando do mundo
corporativo...

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  • 2. Approach – poderia ser uma simples abordagem, mas, no português, talvez essa aproximação não tivesse tanto impacto. É melhor sondar o ambiente antes de empregá-la. Alavancar – sempre que escuto esse verbo, lembro-me de reuniões sem fim, em que passei, ano após ano, ouvindo: “temos de alavancar esse projeto”, “vamos alavancar essa rede...”, e a discussão ia rolando, rolando... Mas o “como” ninguém falava. Minha vontade era pegar uma catapulta e lançar esse indivíduo a uma longa distância. Isso, sim, iria alavancar o projeto.
  • 3. Business Intelligence (BI) – já ganhou até apelido: biai! É biai pra cá, biai pra lá... A queridinha tecnológica, de quem acha que com essa fantástica ferramenta vai conseguir resolver tudo na gestão: do cafezinho ao financeiro... mas, se esquecem de que a inteligência humana é anterior à do sistema. Basilar – desencavar palavras pouco utilizadas e inseri-las em um novo contexto também é um must no corporativês. Fui a três reuniões num só dia e a ouvi mais de vinte vezes. O corporativês é uma praga. Espalha-se rapidamente. Budget – o que eles têm contra “orçamento”? Será que há uma conversão automática da moeda em dólar? Uma forma de valorização linguística do dindim?
  • 4. Compliance – sempre utilizada quando algo é tão complicado, mas tão complicado, que pra não precisar explicar, o expositor tira da manga. “Nossa política de compliance...” E tenho dito! Cenário lato sensu – ouvi essa expressão recentemente, quando a expositora queria acentuar um quadro de crise econômica, e fiquei quebrando a cuca... Acho que é um sentido tão amplo que não consegui captar sua amplitude! Coaching – se o sapo cururu na beira do rio coaxava, o coach coaches... Quando as estratégias de RH passaram a ganhar lugar na gestão moderna, o “ser humaninho” passou a ser percebido como uma peça a ser lapidada por essa figura que seria um misto de treinador de futebol americano com guru transcendental.
  • 5. Descontinuar – um eufemismo (o mundo corporativo adora eufemismos). Em vez de dizer “Deu tudo errado! O projeto foi uma bomba!”, é mais elegante dizer “O projeto será descontinuado”. Design thinking – mais um modismo. Alguém já viu alguém desenhar pensamento? Então, desenha pra mim? Deadline – qual o problema de se falar “prazo”? Será que com deadline ganharemos mais alguns dias para executar a tarefa? Ou será que vale a associação entre morte e prazo? Disruptivo – essa palavra é a última moda no ambiente corporativo. Veio na onda da inovação. Acho que só de torcer a língua para falá-la, já revoluciona alguma coisa no mundo!
  • 6. Empowerment – não sei o que é pior: o empowerment ou o aportuguesado emponderamento. Parece uma espécie de He-Man corporativo que levantaria sua espada e gritaria: eu tenho a forçaaaa! Expertise – os espertinhos do mundo corporativo a-do-ram dizer que têm expertise nisso, expertise naquilo. Mas, cuidado. Tem muito espertalhão que esconde sua falta de conhecimento por trás da tal da expertise. Favorabilidade – faça-me o favor: nunca use esse sufixo “bilidade” com a pretensão de estar sendo intenso ou hábil em algo. É um daqueles indicadores que não indicam nada... Feedback – já ouvi alguns trocadilhos infames, que não cabem no mundo corporativo elegante. Tudo bem que retroalimentação é feia pra chuchu, mas um retorno, quando bem dado, é sempre o melhor feedback.
  • 7. Gathering – se fala “gédering”. É mais um termo que vem na onda do RH estratégico: “fulano tem um gathering...”. Oi? Traduzindo: é o cara com carisma, poder de liderança, de reunir gente em torno de uma ideia. Se ele tem tudo isso, nem precisa de gathering, não é mesmo? Gap – além da marca de moleton que as adolescentes adoram é também um termo que funciona super bem quando algo não funciona, se alguma coisa está atrasada. Houve um “gap”... pode relaxar. Ninguém vai ousar perguntar o que aconteceu...
  • 8. Headhunter – Madame Yeyevna Blavatska me confessou que, ao escutar essa expressão pela primeira vez, recolheu seu pescocinho na reunião de diretoria. Achou que caçadores de cabeças adentrariam a sala. Uma versão corporativa de ghostbusters. Happy hour – no mundo corporativo, cuidado com convites para viver “horas felizes” após o expediente. Após o expediente, no relógio corporativo, o que existe é hora extra, mas o bom e velho chopinho com os amigos da “firma” tem o seu valor. É hora de rir e falar bobagem. As melhores ideias podem surgir na mesa de um bar.
  • 9. Input – mais um termo que veio do tecnologês para o corporativês. O que tem de gente inputando, mas não imputando a responsabilidade pelo projeto. A melhor que ouvi foi: “Vamos dar um input, depois um output.” Pois é. Tudo o que entra, sai... Tem gente que dá o input, tem gente que aguarda. Bom, dar o input é direito de cada um... Insight – aqui, o corporativês metafísico se manifesta. Ter um insight é como se baixasse um santo do Peter Drucker no cidadão, que o torna capaz de antecipar situações de modo intuitivo. É mais corporativo que “Feelings”, que como diria certo consultor, está mais para música do Morris Albert do que tomada de decisão na gestão.
  • 10. Job – nada a ver com o Jobs, aquele lá, o Steve, que falou que simplicidade é um alto nível de sofisticação. Aqui, é o contrário, se usa “job” para sofisticar algo simples. Por exemplo, o chefe pede “Beltrano, tenho um job para você: preciso que realize um tratamento de caráter imagético, a fim de viabilizar a reprodução documental do projeto”, em lugar de: “Beltrano, tira uma xerox do projeto pra mim!” Know-how – um dos mais antigos termos do corporativês arcaico. Utilizado quando o cidadão quer dizer que sabe como fazer, que tem o tal do conhecimento. Mas se a competência falar mais alto, ela vai conseguir dar conta do recado em qualquer idioma: sânscrito, libras... Kick-off – este termo representa bem o que a grande maioria dos embromators do corporativês fazem: dar chutes. Dão aquele chutão para começar o projeto e seja o que Deus quiser. Mas, cuidado, tem alguns kicks-off em que as tarefas chegam quicando na sua área e você é que pode acabar virando a bola da vez.
  • 11. Learning organization – o conceito do Peter Senge é algumas vezes utilizado no corporativês para “sofisticar” propostas de educação corporativa em algumas organizações. Mas, muitas vezes, são propostas enfiadas goelas abaixo, em que o empregado finge que aprende e a empresa finge que educa. O que importa é dizer que faz. Mas, se faz diferença? Que diferença faz? Líder – Ah, o líder... Aquele que lidera o grupo. O senhor é o meu pastor e nada me faltará... A grande maioria ainda é nada mais que um chefe. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Mas isso não é moderno. Moderno é ser gestor, líder, facilitador... Ah, o discurso e a prática... Quando se encontrarão?
  • 12. Mentoring – primo pobre do coach. O mentoring é o mentor. O célebre “ouça a voz da experiência”. Um Karatê Kid, um Kung Fu corporativo, gafanhoto. Mind setting (mudar o) – não sei vocês, mas eu e madame Blavatska quando ouvimos que precisávamos mudar nosso mind setting, achamos que seríamos hipnotizadas, sofreríamos uma lobotomia... Por que não o bom e velho “mente aberta para mudanças”? Metodologia – esse termo veio direto do mundo acadêmico para o corporativês, quando o intuito é dar profundidade a algo raso. Uma vez, explanava sobre os resultados de um evento, quando fui inquerida sobre a metodologia aplicada no estande. Oi? Deu vontade de responder: fundamentado em estudo de caso da Octanorm Foundation, by Banners and Sons.
  • 13. Motivation power – essa expressão foi ouvida durante uma apresentação de projeto. Eu e meus colegas nos entreolhamos. Essa é nova: a força da motivação! Parece um suplemento energético, um anabolizante corporativo, que dará a sua apresentação aquele plus! Networking – outro termo de origem tecnologia que invade o corporativês: vem de trabalhar em rede. Atualmente, abrange a sua rede de relacionamentos. Mas atenção, ao lançar a sua tarrafa, com o que vai vir. Lembre-se que a sardinha de hoje pode ser o tubarão de amanhã.
  • 14. Oxigenar (deixar no oxigênio) – outra do corporativês elegante. Quando o projeto está na UTI, mas você ainda tem esperança de ressuscitá-lo em determinado momento, diga que vai mantê-lo no oxigênio. Output – Ver definição de input. Quando um entra, o outro sai... Performar – Há uma amiga, a miss PPT, que adora o verbo, por mais que madame Blavatska insista em lhe dizer que não existe na língua portuguesa. Vem de performance, que significa desempenho. Mas, cá pra nós, miss PPT, é muito performático esse performar... Player – na tradução literal, pode ser ator, jogador... No jogo corporativo, o que não falta são atores. Os que blefam a toda hora para ganhar o jogo. Fique atento àqueles que escondem uma carta na manga.
  • 15. Quebra de paradigma – Essa expressão é ótima, muito usada quando alguém quer estabelecer novos padrões e apresentar uma ideia velha como se fosse nova. “Vamos quebrar paradigmas! Agora, a gestão é compartilhada”. Top 10 no corporativês. Resiliência – seria a capacidade de superar obstáculos sem surtar e ainda contribuir para a mudança. Ou melhor: aceita que dói menos! Stakeholder – não, não é um bife do Outback. São os players, o público estratégico. Reveja Networking. Sinergia – Muito em voga. Seria algo como trabalhar em conjunto. Madame Blavatska diz que não aguenta mais ouvi-la. Em geral, quem usa não tem nada a ver com isso.
  • 16. Turnover – os gestores adoram dizer “estamos com alto turnover”. Significa esconder a taxa de rotatividade. Hoje em dia, ninguém é demitido. É desligado. Como se as pessoas fossem botões “on” e “off”. To do – essa expressão, ouvi outro dia e quer dizer simplesmente a lista de afazeres do indivíduo. Mas, aí, quando lança um “to do”, tudo fica mais trabalhoso e valorizado. U.A.I – se você está gastando o seu inglês, lance um “why” de vez em quando, para fazer a linha questionador (Ultimamente Ando Inteligente). Se o seu chefe for mineiro, então, vai ganhar mais uma estrelinha, uai!
  • 17. Workflow – outra que veio do tecnologês direto para o corporativês. Um fluxo de trabalho. O sonho de consumo de todo gestor: processos automatizados. Mas, assim como ocorre com o BI, o que adianta ferramenta se nunca se mapeou processo na organização? Variáveis – esse termo é ótimo para usar quando você não tem a mínima ideia como vai rolar o seu projeto “São muitas as variáveis”. Ou melhor, use de forma exata, matemática, que causa melhor impressão: “São ‘n’ variáveis” X da questão - assim como explicado no termo anterior – variáveis –, a matemática, as ciências exatas, também são apropriadas pelo corporativês, que adora demonstrar projetos por meio de gráficos, planilhas – tudo muito exato (só que não). Este é o “X” da questão: lidamos com gente.
  • 18. Y (Generation) – O corporativês adora uma análise sociológica também para fundamentar seus projetos. A geração Y, ou geração internet, é objeto de estudos intensos, que definem, pós definem, acham que entendem, mas que no fundo é mais uma letra: A E I O U ypsilone. Z (Generation) – veio depois da Y. Acabou o alfabeto, acho que será preciso reinventar novas expressões. Mas, isso nunca é problema, acabei de ser informada que já temos a geração Alfa!. Pois é. Vamos partir para o alfabeto grego! Nem o céu é o limite em se tratando do mundo corporativo...