O documento discute a história da agricultura, desde sua origem até os modelos atuais. Apresenta as principais revoluções agrícolas ao longo do tempo e seus impactos, como a intensificação da mecanização e uso de insumos químicos. Também aborda modelos alternativos como a agroecologia, que busca a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.
2. AGRICULTURA
A expressão origina-se do
Latim
Ager = campo, do campo.
Culture = cultivo, modo de
cultivar o campo.
AGRICULTURA: FITOTECNIA E
ZOOTECNIA.
3. ORIGEM DA
AGRICULTURA
Acredita-se que tenha surgido quando o
homem passou de nômade a sedentário.
Os registros históricos apontam que a
agricultura surgiu mais ou menos na
mesma época em diversas partes do
mundo, tais como na Ásia, na América, na
África e na Europa.
Evidencia-se, assim, um estágio da história
da humanidade.
Os registros também apontam que não
existia contato entre estas populações.
4. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
NO PASSADO, a agricultura foi considerada
como uma arte e um ofício.
HOJE é uma ciência, pois se torna cada vez
menos empírica e, ao mesmo tempo, mais
eficiente e previsível.
É renovada não no campo através de
experimentos casuais, mas em laboratórios,
campos experimentais, centros de pesquisa,
universidades e escolas.
5. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
O desenvolvimento da agricultura associou-se
à domesticação de espécies.
O avanço da agricultura foi acompanhado pelo
avanço da degradação, via-de-regra.
Exemplos:
Mesopotâmia – salinização das terras
irrigadas;Grécia clássica – destruição das florestas e
degradação dos campos de cultivo;
Romanos – as ricas terras de Cartago -
deserto;No Vale do Paraíba do Sul – da produção de
café, hoje restaram morros degradados …
6. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Em diversas ocasiões (Ex. final da Idade
Média) houveram crises sociais ocasionadas
pela baixa produção da agricultura: secas,
ataque de pragas, doenças, desgaste do solo,
e outras.
Por outro lado, tais adversidades fizeram com
que o homem do campo acumulasse um vasto
conhecimento, ao longo da história, sobre
técnicas de preparo do solo, de fertilização, de
seleção de espécies e variedades, dentre
outras.
Tais avanços são registrados na história como
as Revoluções Agrícolas.
7. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Primeira Revolução AgrícolaPrimeira Revolução Agrícola: ocorreu entre os
séculos XVI a XIX.
Características:
Aproximou a produção vegetal da pecuária;
Reduziu o problema da escassez de alimentos
(maior escala de produção de alimentos);
Foi o primeiro estágio da agricultura moderna,
sendo que hoje este modelo é chamado de
“tradicional”.
8. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
O principal alicerce foi a implantação do
sistema de rotação de culturas, o que permitiu:
Maior lotação de gado – com leguminosas;
Aumento da fertilidade do solo;
Aumento da diversidade de culturas na mesma
propriedade;
Intensificar o uso do solo;
Abandonar o sistema de pousio.
9. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
O interesse em associar a criação de animais
à atividade agrícola relacionava-se à:
Obtenção de produtos de origem animal para o auto-
consumo;
Força de tração animal;
Produção de esterco – para a adubação do solo.
Dificuldades:
Insuficiência de adubos orgânicos;
Tempo e mão-de-obra necessária;
Ocupação de parte das terras com os animais.
10. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Segunda RevoluSegunda Revoluçção Agrão Agríícolacola: ocorreu em
meados do século XIX. Características:
Em 1840, Liebig publicou suas pesquisas em
que constatou que a nutrição mineral das
plantas se dá pelas substâncias químicas.
Liebig desprezava a matéria orgânica e a
baixa solubilidade do húmus era tido como
evidência de sua inutilidade para a nutrição
vegetal.Formulou a tese de que a produção agrícola
seria proporcional à quantidade de
substâncias químicas adicionadas ao solo – lei
do mínimo.Tais idéias/teorias impulsionaram a adubação
química e mineral (sintética).
11. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Apesar dos alertas e das descobertas dos
defensores da matéria orgânica (Pasteur e a
fermentação; a nitrificação; e outros), as
descobertas de Liebig conquistaram o setor
produtivo (industrial e agrícola), abrindo um
amplo e promissor mercado de fertilizantes
artificiais/sintéticos (Liebig, um industrial).
Conseqüências:
Os agricultores foram abandonando as
criações e a rotação de cultura com
leguminosas
A substituição dos sistemas complexos, por
sistemas simplificados e monoculturais.
12. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Para os agricultores, as conseqüências foram:
Adubos químicos/sintéticos são de mais fácil
aplicação;
Segundo Goodman, Sorj e Wilkinson,
componentes da produção agrícola foram
“apropriados” pela indústria e passaram a ser
atividades industriais - “apropriacionismo”.
Adubos químicos/sintéticos reduzem o tempo e
a necessidade de mão-de-obra para a
aplicação;Muitas indústrias de fertilizantes fizeram
propaganda contra os adubos orgânicos,
considerando-os como práticas antiquadas.
13. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Desdobramentos:
Os adubos químicos aumentaram a fertilidade
do solo (num primeiro momento);
Simplificação do trabalho (a monocultura
simplifica o processo produtivo, enquanto os
sistemas rotacionais exigem mão-de-obra
qualificada).
Os adubos químicos elevaram a produtividade;
Diminuiu o trabalho necessário;
Toda a terra pode ser ocupada com a cultura
de interesse comercial, originando a
monocultura;
14. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Desdobramentos:
Além dos adubos químicos, a indústria se
“apropriou” do desenvolvimento de máquinas
e equipamentos;
A questão referente às pragas e doenças logo
apareceu. Os tóxicos foram cirados para fins
bélicos e depois adaptados à agricultura.
Depois, ocorreu o “apropriacionismo” genético
e biológico, a partir das teses de Mendel
acerca da hereditariedade – melhoramento
genético.
Armas químicas foram transformadas em
inseticidas (EHLERS, 1999).
15. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
RevoluRevoluççãoão VVerdeerde – Terceira Revolução
Agrícola: ocorreu a partir dos anos 1960 e
1970.
Monocultura;
Fundamentos:
Melhoria da produtividade agrícola;
Substituição de padrões locais por um conjunto
homogêneo de práticas tecnológicas (semente, fertilizantes,
agrotóxicos, moto-mecanização e irrigação), chamado de
“pacote tecnológico”;
Maior independência em relação ao meio;
Controlar e modificar processos biológicos;
Adaptar culturas de clima temperado aos diferentes
ambientes – apropriacionismo internacional.
16. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Do ponto de vista da produção agrícola total, a
Revolução Verde foi um sucesso. Aumentou a
produção (mais que dobrou) e a
disponibilidade de alimentos por habitante
(40%).Da euforia à preocupação, em razão:
Dos impactos sociais;
Dos impactos ambientais (destruição do solo;
destruição florestal; perda da biodiversidade;
contaminação do solo, da água, dos animais
silvestres, do homem e dos alimentos);
Da viabilidade energética;
Aumento dos custos de produção.
17. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
A RevoluRevoluççãoão BiotecnolBiotecnolóógicagica – Quarta
Revolução Agrícola (transgênicos e
clonagem). Está em curso e se constituindo.
Os seus contornos ainda estão sendo
definidos.
ContinuidadeContinuidade: por que dá prosseguimento ao processo
de concentração varietal – as variedades mais
lucrativas, de interesse do mercado, …
RupturaRuptura: por que nunca uma tecnologia manipulou tão
diretamente os genes; também, por conta da extrema
concentração, pois o processo está nas mãos de um
ator, as multinacionais do setor de sementes, as quais
estão redefinindo, em escala global, as estratégias
Segundo DE LA PERRIERE (2001), significa
continuidade e ruptura com a Revolução
Verde.
18. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Mas a história também registrou outros
exemplos, em formas mais sustentáveis.
Civilizações Orientais – cultivam arroz irrigado há pelo
menos 40 séculos nos mesmos terrenos, os quais
mantêm, com recursos locais, os seus padrões de
fertilidade;
Na Europa Feudal da Idade Média (França), um
sistema de rotação trienal de culturas permitia a
manutenção dos níveis de fertilidade do solo;
No Novo Mundo (Trópicos Úmidos), os europeus
encontraram sistemas sustentáveis, baseados na
combinação de agricultura e coleta.
19. HISTÓRICO DA AGRICULTURA
Mas a história também registrou outros
exemplos, em formas mais sustentáveis.
Plantação de arroz - China
20. AGRICULTURA CONVENCIONAL
Entende-se por agricultura convencional
aquela resultante da Segunda e Terceira
Revolução Agrícola. Para alguns autores,
inclui também a Quarta Revolução Agrícola.
Características centrais:
Mecanização intensa e redução do emprego
de mão-de-obra;
Uso intensivo de produtos químicos
(fertilizantes e biocidas);
Regime da monocultura (especialização).
21. AGRICULTURA CONVENCIONAL
Objetivos explícitos:
Obter rendimentos máximos das culturas;
Aumentar a disponibilidade de alimentos para
evitar o espectro da fome.
Aumentar o fluxo e a velocidade do fluxo de
capital.
Objetivos implícitos:
Maximizar lucros;
22. AGRICULTURA CONVENCIONAL
Efeitos:
Degradação ambiental (compactação do solo;
eliminação, inibição e redução da flora
microbiana do solo; perda acentuada do
potencial produtivo do solo);
Exclusão social (desemprego rural; êxodo
rural);
Concentração de terra, renda e poder;
Poluição alimentar (absorção desequilibrada
de nutrientes, produzindo alimentos
desnaturados, prejudicando a cadeia
alimentar; também, facilitando o ataque de
pragas e doenças);
23. AGRICULTURA CONVENCIONAL
Efeitos:
Encarecimento violento dos custos de
produção (maquinaria e insumos;
monetarização da atividade e endividamento);
Erosão cultural (introdução de pacotes
tecnológicos fechados; monetarização da
vida);Aumento da fome (problema não está na
produção, mas na distribuição dos alimentos);
Redução da biodiversidade (Segundo a FAO, a
humanidade usou cerca de 7000 espécies de
plantas para se alimentar e 75000 poderiam
ser utilizadas; hoje cerca 30 espécies cobre
90% da dieta mundial).
25. “a agricultura moderna é insustentável
– ela não pode continuar a produzir
comida suficiente para a população
global, a longo prazo, porque deteriora
as condições que a tornam possível”
(GLIESSMANN, 2001, p. 33).
26. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
Surgiu a partir da segunda metade do século
XX (há antecedentes desde o início do
século).
Surgiu como resposta aos problemas
ambientais, sociais, econômicos, de saúde e
nutricionais gerados pela agricultura
convencional.
Contribuíram três grandes aspectos: os
movimentos ambientalistas passam a ser
propositivos; o livro Primavera Silenciosa
(Rachel Carson); e a atitude de respeito à
natureza.
27. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
Há diversas correntes: agricultura natural,
agricultura biológica, agricultura ecológica,
agricultura biodinâmica, agricultura orgânica e
agroecologia.
No Brasil, começou a tomar corpo ao longo da
década de oitenta do século XX.
Pela diversidade de correntes e de
experiências, foi cunhada a expressão
“agriculturas de base ecológica”
(COSTABEBER & CAPORAL), pois, apesar das
diferenças pontuais, há profundas
semelhanças – a sustentabilidade dos
28. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
AGRICULTURA ORGÂNICA:
Agricultura orgânica versus agroecologia.
Manutenção da dependência, dos custos
elevados, da concentração e da exclusão.
Afirmação no mercado;
Pacotes tecnológicos verdes (tecnologia
limpa);
A agricultura orgânica não representa uma
reorganização do sistema de produção; poderá
reforçar os problemas sociais e econômicos,
resolvendo apenas parcialmente os
29. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Agricultura orgânica versus agroecologia.
Conceitos/idéias centrais:
• Importância fundamental dos
microorganismos e da matéria orgânica;
• Solo é um corpo vivo;
• Harmonia e equilíbrio entre água, solo e
planta;
• Holismo – visão sistêmica, visão global,
inter-relação;
30. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Agricultura orgânica versus agroecologia.
Conceitos/idéias centrais:
• Harmonização com a natureza – utilização
racional da terra e seus produtos na
perspectiva da sustentabilidade de longo
prazo.
• Teleológica – não existem causas e efeitos,
mas finalidades e propósitos – descobrir
processos e ritmos da natureza;
31. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Agricultura orgânica versus agroecologia.
Bases tecnológicas:
• Conservação do meio ambiente;
• Diversificação da produção – biodiversidade;
• Melhoria da capacidade produtiva do solo;
• Nutrição equilibrada das plantas (velocidade
natural);
• Fitossanidade preventiva (aumentar
resistência das plantas e equilíbrio do
ecossistema) e não curativo;
32. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Agricultura orgânica versus agroecologia.
Bases tecnológicas:
• Otimização do balanço energético (sintropia
x entropia);
• Qualidade biológica e sanitária dos
alimentos;
• Qualidade nutricional dos alimentos;
• Continuidade do fluxo produtivo em longo
prazo;
• Sementes nativas (crioulas);
• Conhecimento e recursos locais (endógeno).
33. AGRICULTURAS DE BASE
ECOLÓGICA
AGROECOLOGIA
Agricultura orgânica versus agroecologia.
Bases sócio-econômicas:
• Diminuição da dependência do agricultor acerca dos
insumos externos;
• Inclusão social;
• Pequena escala (agricultura familiar);
• Implica em uma consciência que se aplica ao
cultural, ao econômico, ao político, ao social e à
concepção da vida.
• Capital social, capital cultural
35. “a agroecologia pode prover as diretrizes
ecológicas para que o desenvolvimento
tecnológico seja apontado na direção certa,
mas, no processo, as questões teconlógicas
devem assumir o seu devido lugar, servindo
como uma estratégia do desenvolvimento rural
que incorpore os problemas sociais e
econômicos”
(ALTIERI, 1989, P. 37)
Neste sentido, apenas as agriculturas de base ecológica
podem efetivamente praticar e tornar realidade o que se
convencionou entender por sustentabilidade da
produção agrícola.
Ela deve envolver e atender os aspectos ambientais,
sociais, culturais e econômicos.