2. O Quarto Caminho torna possível a lembrança de si mesmo, direta ouO Quarto Caminho torna possível a lembrança de si mesmo, direta ou
indiretamente, de muitos modos, em particular nos “Centros”indiretamente, de muitos modos, em particular nos “Centros”
emocional e intelectual.emocional e intelectual.
Os principais métodos para trabalharmos no centro emocional são aOs principais métodos para trabalharmos no centro emocional são a
não expressão da negatividade e a transformação do sofrimento. Emnão expressão da negatividade e a transformação do sofrimento. Em
relação ao centro intelectual, a técnica básica é o trabalho de mudançarelação ao centro intelectual, a técnica básica é o trabalho de mudança
de atitudes.de atitudes.
3. ATITUDESATITUDES
Neste trabalho, começamos rapidamente a ver que as nossasNeste trabalho, começamos rapidamente a ver que as nossas
atitudes não são reflexos inalteráveis da realidade. São,atitudes não são reflexos inalteráveis da realidade. São,
simplesmente, opiniões que colocam um anteparo entre o nosso sersimplesmente, opiniões que colocam um anteparo entre o nosso ser
e o nosso sono. Temos atitudes indistintas sobre quase tudo. Folheiee o nosso sono. Temos atitudes indistintas sobre quase tudo. Folheie
qualquer revista e observe o fluxo de opiniões interiores que surgemqualquer revista e observe o fluxo de opiniões interiores que surgem
a cada artigo, a cada propaganda, a cada título; atitudes a respeitoa cada artigo, a cada propaganda, a cada título; atitudes a respeito
dos produtos anunciados, dos acontecimentos descritos, das pessoasdos produtos anunciados, dos acontecimentos descritos, das pessoas
em destaque, das suas roupas, de como deveriam ser, de comoem destaque, das suas roupas, de como deveriam ser, de como
governar o mundo, de como deveria ser o comportamento dosgovernar o mundo, de como deveria ser o comportamento dos
políticos, etc...políticos, etc...
4. Essas opiniões protegem o nosso sono e, com freqüência, disfarçamEssas opiniões protegem o nosso sono e, com freqüência, disfarçam
atitudes profundamente enraizadas. Por exemplo, uma atitudeatitudes profundamente enraizadas. Por exemplo, uma atitude
subjacente e comum e que estamos “certos”. Portanto, na nossasubjacente e comum e que estamos “certos”. Portanto, na nossa
mente defenderemos o nosso ponto de vista contra agressoresmente defenderemos o nosso ponto de vista contra agressores
imaginários; numa conversa, esperaremos pela oportunidade deimaginários; numa conversa, esperaremos pela oportunidade de
colocar nossas certezas e debateremos com os amigos quecolocar nossas certezas e debateremos com os amigos que
questionarem nossas predisposições. Desta forma, não estamosquestionarem nossas predisposições. Desta forma, não estamos
presentes às outras possibilidades do momento – a música, apresentes às outras possibilidades do momento – a música, a
comida, o vinho, o riso e até mesmo a reiterada evidencia de que ocomida, o vinho, o riso e até mesmo a reiterada evidencia de que o
nosso ponto de vista é limitado e subjetivo e que estamos, de fato,nosso ponto de vista é limitado e subjetivo e que estamos, de fato,
adormecidos. Mais importante ainda: não veremos que o nossoadormecidos. Mais importante ainda: não veremos que o nosso
pontos de vista é totalmente sem importância, em qualquerpontos de vista é totalmente sem importância, em qualquer
avaliação mais verdadeira; em outras palavras, é simplesmente umavaliação mais verdadeira; em outras palavras, é simplesmente um
outro “eu” entre tantos. Assim, essas atitudes habituaisoutro “eu” entre tantos. Assim, essas atitudes habituais
aprofundarão o nosso sono.aprofundarão o nosso sono.
5. As nossa atitudes tem menos importância do que aprender a usa-As nossa atitudes tem menos importância do que aprender a usa-
las para nos tornarmos mais conscientes, e não mais subjetivos elas para nos tornarmos mais conscientes, e não mais subjetivos e
cheios de opiniões. Nossa capacidade de modificar eventoscheios de opiniões. Nossa capacidade de modificar eventos
externos é muito limitada, porém temos um controle muito maiorexternos é muito limitada, porém temos um controle muito maior
sobre os nossos pensamentos; por conseguinte, achamos que ossobre os nossos pensamentos; por conseguinte, achamos que os
eventos externos são mais facilmente “modificados” pela nossaeventos externos são mais facilmente “modificados” pela nossa
atitude do que por qualquer outra coisa. Como Shakespeareatitude do que por qualquer outra coisa. Como Shakespeare
escreveu há séculos: “as coisas não são nem boas nem más, é oescreveu há séculos: “as coisas não são nem boas nem más, é o
pensamento que as torna boas ou más”.pensamento que as torna boas ou más”.
Esse esforço significa, em primeiro lugar, modificar nossasEsse esforço significa, em primeiro lugar, modificar nossas
atitudes a respeito das próprias atitudes. Podemos até mesmoatitudes a respeito das próprias atitudes. Podemos até mesmo
considerar a seleção das nossas atitudes como um exercício, umconsiderar a seleção das nossas atitudes como um exercício, um
exercício que podemos utilizar para adquirir mais consciência.exercício que podemos utilizar para adquirir mais consciência.
Desenvolver atitudes pode ser visto como um desafio, umDesenvolver atitudes pode ser visto como um desafio, um
método pelo qual manipulamos a máquina para simular o modométodo pelo qual manipulamos a máquina para simular o modo
que seríamos se fôssemos mais conscientes e menos “grudados”que seríamos se fôssemos mais conscientes e menos “grudados”
num certo modo de ver as coisas.num certo modo de ver as coisas.
6. Tratando esse aspecto do nosso trabalho como um experimento,Tratando esse aspecto do nosso trabalho como um experimento,
já estamos dando um passo atrás, trabalhando para estar menosjá estamos dando um passo atrás, trabalhando para estar menos
identificados com a nossa mecanicidade, menos preocupadosidentificados com a nossa mecanicidade, menos preocupados
com a “correção” dos nossos pensamentos, cuidando mais docom a “correção” dos nossos pensamentos, cuidando mais do
próprio processo de pensar.próprio processo de pensar.
Por exemplo, uma atitude comum na “Fraternidade dePor exemplo, uma atitude comum na “Fraternidade de
Amigos” é ver nossa vida como uma peça de teatro, uma peça naAmigos” é ver nossa vida como uma peça de teatro, uma peça na
qual não temos o papel principal, mas apoiamos muitos outrosqual não temos o papel principal, mas apoiamos muitos outros
atores, em várias cenas cujo “final” é conhecida apenas peloatores, em várias cenas cujo “final” é conhecida apenas pelo
“autor”. Então, nossos esforços devem ser direcionados para“autor”. Então, nossos esforços devem ser direcionados para
representar bem o nosso papel, sem questionar o autor da peçarepresentar bem o nosso papel, sem questionar o autor da peça
sobre o texto, nem corrigir a interpretação dos outros (papel quesobre o texto, nem corrigir a interpretação dos outros (papel que
cabe ao diretor), ou tentar antecipar o que acontecerá em seguida.cabe ao diretor), ou tentar antecipar o que acontecerá em seguida.
Nem é preciso dizer que, inerente a essa atitude, está aNem é preciso dizer que, inerente a essa atitude, está a
compreensão de que a peça foi escrita bem antes da suacompreensão de que a peça foi escrita bem antes da sua
apresentação, e com mais talento do que possuímos.apresentação, e com mais talento do que possuímos.
7. Isso pode ou não ser verdade, mas nos ajuda a diminuir a nossaIsso pode ou não ser verdade, mas nos ajuda a diminuir a nossa
subjetividade e nos dá uma abertura para níveis mais elevados desubjetividade e nos dá uma abertura para níveis mais elevados de
atenção, ajudando-nos a centrar-nos mais em nosso estado interioratenção, ajudando-nos a centrar-nos mais em nosso estado interior
e menos em “consertar” eventos e pessoas, o que em geral está forae menos em “consertar” eventos e pessoas, o que em geral está fora
do nosso alcance. Por outro lado, isso poderia tornar-se um mododo nosso alcance. Por outro lado, isso poderia tornar-se um modo
de não fazermos esforços. Afinal de contas, se a peça já estáde não fazermos esforços. Afinal de contas, se a peça já está
escrita, então “eu” não tenho nada que fazer. È nesse aspecto queescrita, então “eu” não tenho nada que fazer. È nesse aspecto que
poderíamos adotar outra atitude, como por exemplo a de que “ospoderíamos adotar outra atitude, como por exemplo a de que “os
resultados são proporcionais aos esforços”. Essa compreensãoresultados são proporcionais aos esforços”. Essa compreensão
ilustra novamente que as atitudes não são objetivas, mas podemosilustra novamente que as atitudes não são objetivas, mas podemos
escolhe-las da melhor maneira possível para fortalecer o nossoescolhe-las da melhor maneira possível para fortalecer o nosso
trabalho no presente.trabalho no presente.
São um tipo de caixa de ferramentas para o nosso trabalho.São um tipo de caixa de ferramentas para o nosso trabalho.
Além de trabalhar com atitudes, existem outros meios de usarAlém de trabalhar com atitudes, existem outros meios de usar
nosso pensamento para auxiliar na criação da consciência. Pode-senosso pensamento para auxiliar na criação da consciência. Pode-se
induzir a lembrança de si, reconstruindo nossos pensamentos einduzir a lembrança de si, reconstruindo nossos pensamentos e
comportamento á imitação da consciência.comportamento á imitação da consciência.
8. Para isso é necessário observar como nos comportamos emPara isso é necessário observar como nos comportamos em
momentos de consciência mais ampla e, então, reproduzirmomentos de consciência mais ampla e, então, reproduzir
intencionalmente este comportamento quando estivermos maisintencionalmente este comportamento quando estivermos mais
adormecidos. Por exemplo, podemos descobrir que quandoadormecidos. Por exemplo, podemos descobrir que quando
estamos mais despertos, ouvimos mais e falamos menos. Portanto,estamos mais despertos, ouvimos mais e falamos menos. Portanto,
quando quisermos estar mais conscientes, mais presentes, podemosquando quisermos estar mais conscientes, mais presentes, podemos
tentar ouvir mais como um meio para nos conectarmos com atentar ouvir mais como um meio para nos conectarmos com a
lembrança de nós mesmos. E isto combina muito bem com o nossolembrança de nós mesmos. E isto combina muito bem com o nosso
trabalho sobre a negatividade: podemos dar-nos conta de quandotrabalho sobre a negatividade: podemos dar-nos conta de quando
estamos deprimidos tomamos sopa diretamente da panela, nãoestamos deprimidos tomamos sopa diretamente da panela, não
atendemos ao telefone e deixamos de lavar a cabeça. Começar aatendemos ao telefone e deixamos de lavar a cabeça. Começar a
“afastar-se “ da negatividade pode significar lavar a cabeça, atender“afastar-se “ da negatividade pode significar lavar a cabeça, atender
ao telefone com a voz mais gentil possível e tomar a sopa depois deao telefone com a voz mais gentil possível e tomar a sopa depois de
coloca-la em um prato.coloca-la em um prato.
Por outro lado, podemos observar o comportamento de alguémPor outro lado, podemos observar o comportamento de alguém
mais consciente e, intencionalmente, imitar aspectos dele. Isso,mais consciente e, intencionalmente, imitar aspectos dele. Isso,
naturalmente requer um professor consciente.naturalmente requer um professor consciente.
9. Tal esforço tem o benefício adicional de estarmos mais sob aTal esforço tem o benefício adicional de estarmos mais sob a
influência do professor, que sob as influências aleatórias que nosinfluência do professor, que sob as influências aleatórias que nos
alcançam diariamente e de forma espontânea, vindas de nosso localalcançam diariamente e de forma espontânea, vindas de nosso local
de trabalho, dos nossos amigos, da televisão, dos jornais ou ainda,de trabalho, dos nossos amigos, da televisão, dos jornais ou ainda,
insidiosamente, das fortuitas associações da nossa fértil imaginação.insidiosamente, das fortuitas associações da nossa fértil imaginação.
Como disse Robert Burton, fundador da “Fraternidade de Amigos”:Como disse Robert Burton, fundador da “Fraternidade de Amigos”:
“Embora na nossa escola não meditemos, tratamos de controlar de“Embora na nossa escola não meditemos, tratamos de controlar de
fato a nossa mente, não em circunstâncias especiais, mas em todasfato a nossa mente, não em circunstâncias especiais, mas em todas
as circunstâncias e em cada momento desperto. A maioria dasas circunstâncias e em cada momento desperto. A maioria das
pessoas está satisfeita com o fascínio, e uma dimensão desse fascíniopessoas está satisfeita com o fascínio, e uma dimensão desse fascínio
é pensar que o controle da mente requer circunstâncias especiais,é pensar que o controle da mente requer circunstâncias especiais,
uma vez por semana, ou durante seis horas diárias. Não é suficiente.uma vez por semana, ou durante seis horas diárias. Não é suficiente.
Quando meditamos, tentamos controlar a nossa mente. Por que nãoQuando meditamos, tentamos controlar a nossa mente. Por que não
deveríamos tentar faze-lo o tempo todo?”deveríamos tentar faze-lo o tempo todo?”
10. Podemos ver esses esforços como contraditórios, por exemplo, comoPodemos ver esses esforços como contraditórios, por exemplo, como
podemos ter a atitude de que estamos em uma “peça”, se tudopodemos ter a atitude de que estamos em uma “peça”, se tudo
depende de fazer esforços? Neste ponto, devemos novamentedepende de fazer esforços? Neste ponto, devemos novamente
observar as nossas atitudes: se nos surpreendermos com idéiasobservar as nossas atitudes: se nos surpreendermos com idéias
subjetivos do que é a “verdade”, de que podemos e de que talvezsubjetivos do que é a “verdade”, de que podemos e de que talvez
saibamos o que é a “verdade” no nosso nível, o experimento torna-saibamos o que é a “verdade” no nosso nível, o experimento torna-
se impossível, deixando-nos lutando desamparados com a bagagemse impossível, deixando-nos lutando desamparados com a bagagem
psicológica acumulada durante anos. Em outras palavras, sem apsicológica acumulada durante anos. Em outras palavras, sem a
disposição de mudar algo em nós mesmos, algo tão pequeno comodisposição de mudar algo em nós mesmos, algo tão pequeno como
as nossas atitudes, permaneceremos exatamente como somos.as nossas atitudes, permaneceremos exatamente como somos.
Contudo, é um grande alívio, à medida que prosseguimos, perceberContudo, é um grande alívio, à medida que prosseguimos, perceber
que esse “eu” não tem nada a perder!que esse “eu” não tem nada a perder!
Trabalhar com esses princípios também revela a resistência da nossaTrabalhar com esses princípios também revela a resistência da nossa
psicologia à transformação.psicologia à transformação.
11. Em vez de aceitar a oportunidade para mudar, muitos dos nossosEm vez de aceitar a oportunidade para mudar, muitos dos nossos
“eus” estão procurando formas de anular essas idéias, gerando idéias“eus” estão procurando formas de anular essas idéias, gerando idéias
opostas ou mesmo buscando partes do próprio texto que seopostas ou mesmo buscando partes do próprio texto que se
contradigam. Com a observação, começamos a ver que a metadecontradigam. Com a observação, começamos a ver que a metade
negativa do centro intelectual é um meio lento e inadequado denegativa do centro intelectual é um meio lento e inadequado de
abordar o “pensamento” real, e menos ainda despertar.abordar o “pensamento” real, e menos ainda despertar.
Por exemplo, da próxima vez que você falar com um amigo ou comPor exemplo, da próxima vez que você falar com um amigo ou com
um membro da família, em lugar de ater-se ao que possa estar erradoum membro da família, em lugar de ater-se ao que possa estar errado
com o ponto de vista da outra pessoa, ou de preparar a sua respostacom o ponto de vista da outra pessoa, ou de preparar a sua resposta
em vez de escutar, você pode tentar entender porque alguém pensaem vez de escutar, você pode tentar entender porque alguém pensa
ou sente desse modo, ampliando assim o seu ponto de vista eou sente desse modo, ampliando assim o seu ponto de vista e
tornando-se menos subjetivo (sem necessariamente adotar a opiniãotornando-se menos subjetivo (sem necessariamente adotar a opinião
particular da outra pessoa, ao menos que seja útil faze-lo).particular da outra pessoa, ao menos que seja útil faze-lo).
12. À medida que principiamos a ver o que é possível quandoÀ medida que principiamos a ver o que é possível quando
eliminamos esse pensamento negativo e crítico, podemos começar aeliminamos esse pensamento negativo e crítico, podemos começar a
explorar a metade positiva do centro intelectual, assim comoexplorar a metade positiva do centro intelectual, assim como
descobrimos que ao minimizar as emoções negativas, poderemosdescobrimos que ao minimizar as emoções negativas, poderemos
explorar o território emocional inexplorado. Trabalhar com a metadeexplorar o território emocional inexplorado. Trabalhar com a metade
positiva do centro intelectual ajuda a tornar o nosso pensamento maispositiva do centro intelectual ajuda a tornar o nosso pensamento mais
refinado, mais matizado, mais delicado. Isso inclui a capacidade derefinado, mais matizado, mais delicado. Isso inclui a capacidade de
comparar diferentes perspectivas, em vez de usar as idéias paracomparar diferentes perspectivas, em vez de usar as idéias para
anular o ponto de vista das outras pessoas, numa tentativa ilusória deanular o ponto de vista das outras pessoas, numa tentativa ilusória de
encontrar a resposta “certa”. Requer também a capacidade deencontrar a resposta “certa”. Requer também a capacidade de
começar a avaliar que técnica será, não aquela objetivamente corretacomeçar a avaliar que técnica será, não aquela objetivamente correta
em qualquer circunstâncias, mas a mais apropriada para esseem qualquer circunstâncias, mas a mais apropriada para esse
momento em particular. E isso também requer presença e lembrançamomento em particular. E isso também requer presença e lembrança
de si mesmo.de si mesmo.
13. BE HOLDBE HOLD
Encontro de 06/04/2005 – Centro de Porto AlegreEncontro de 06/04/2005 – Centro de Porto Alegre
Texto base extraído do livro, Encontro Com O Milagroso,Texto base extraído do livro, Encontro Com O Milagroso,
de Girard Haven – Editora Pensamentode Girard Haven – Editora Pensamento
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