1) A história feminina evoluiu de uma cultura de submissão para uma de maior liberdade e autonomia, incluindo na escolha pelo tipo de parto.
2) A gravidez traz transformações físicas e emocionais para a mulher, e o pré-natal é importante para esclarecer dúvidas e prepará-la.
3) O parto cesáreo deveria ser realizado apenas em casos de risco, mas é frequentemente usado por outros motivos como conveniência médica ou da paciente.
O parto cesário e a atuao do enfermeiro na educao em saúde
1. O PARTO CESÁRIO E A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA
EDUCAÇÃO EM SAUDE
: BRUNA KARLLA PEREIRA PAULINO
DANIELY CONSTANTINO FAQUIM
NATALIA DOS SANTOS BARBOSA
INTRODUÇÃO
A evolução da história feminina é marcada por traços de repressão sexual.
Criada para maternidade, a mulher não podia sentir o gosto da liberdade de expressar
seus sentimentos e vontades. Neste cenário, as mulheres tiveram a vida baseada na
submissão à igreja, ao esposo e filhos.
Contudo, os séculos foram se passando, a vontade de se rebelar contra o
machismo autoritário se fez presente, a mulher tornou-se dona de si lutando pela sua
sexualidade, direitos e individualidades. O homem tornou-se um complemento
dispensável em sua felicidade e ser mãe passou a ser uma opção que mesmo desejada
poderia provocar medo, ansiedade e frustração ao ser adiada.
Desde a infância, a mulher fantasia o momento da gestação. Um misto de
sentimentos, realizações e prazeres, observa- se nas brincadeiras de boneca, em que a
vivência da maternidade inicia de forma lúdica baseada no instinto de proteção. Na
adolescência e na vida adulta, porem, o medo do parto pode levar a modificações em
sua percepção e em seus conceitos. A gestação e suas transformações mexem
consideravelmente com o emocional e o psicológico feminino, trazendo à mulher maior
sensibilidade e reflexão sobre sua relação com o mundo.
O parto enraizado em uma cultura de sofrimento e dor apavora a mulher, que
se sente fragilizada. Por outro lado, existem apelos culturais e profissionais que, por
razões diversificadas, também influenciam e determinam sua escolha de se tornar mãe
através do procedimento cirúrgico.Todavia, o parto cesário é uma prática que deveria
ser realizada em casos em que o binômio mãe/ feto se encontram em risco, e não como
forma eletiva na qual é visado o retorno financeiro para o profissional ou a escolha da
melhor data para a concretização do desejo materno e familiar.
2. 1.0 HISTÓRIA FEMININA E A ESCOLHA PELO PARTO CESÁRIO
1.1 Cultura de submissão
A história feminina estava relacionada, em séculos passados, à submissão e
à vigilância rígida não somente por parte dos pais, mas também do resto da prole
masculina em seu contexto familiar. O confinamento no lar dava condições às mães de
repassarem às filhas os dotes domésticos anteriormente herdados, de modo que, no
início da adolescência, as jovens eram excelentes donas de casa e estavam prontas para
o casamento e para maternidade, fatos sociais esses que eram esperados e sonhados
desde a infância.
Segundo Del Priore (1992) ser mãe era um ato nobre, um troféu sublime e
dava à mulher um sentido especial para vida, um sentimento de superioridade em
relação ao homem. Contudo, não havia liberdade para escolher a via de parto, pois as
práticas médicas e farmacológicas não estavam avançadas e o parto normal era sua
única opção.
De acordo com Cechin (2002, p. 446):
[...] Observando o lugar das mulheres na sociedade percebemos que no
mundo antigo sua função básica era de reproduzir, sem direito de opção.
Elas somente devem seguir a tradição, ou seja, subordinar- se ao macho. Seu
papel pertencia a esfera doméstica, privada.
As sociedades, toda via, se desenvolveram, os tempos mudaram e as
mulheres ao longo da história conquistaram sua maturidade sentimental, sexual e
profissional.
Como era de se esperar, onde existe racionalidade logo se inicia o desejo de
mudança de atitudes e pensamentos. Neste novo contexto surgiu, então, na Inglaterra,
na segunda metade do século XVIII a Revolução Industrial, movimento fundamentado
na passagem da era feudal para a capitalista, que imprimiu uma nova relação entre
3. capital e trabalho, bem como a busca pela evolução da tecnologia visando assim a
melhora da economia. A partir do século XIX, ocorreu a disseminação desse
movimento para os demais países e continentes, sendo esta filosofia mundialmente
pregada, promovendo a substituição da força braçal pelas máquinas e a inovação
intelectual, o que possibilitou o surgimento de uma nova etapa da história de
crescimento, desenvolvimento e ascensão social feminina. Essa promissora
transformação no modelo econômico possibilitou o ingresso da mulher no mercado de
trabalho. Com o passar do tempo, suas habilidades e versatilidades foram descobertas, o
que fez com que a mulher demonstrasse e garantisse um lugar no competitivo cenário
profissional, contribuindo para que perpetuamente o sonho pela igualdade dos sexos
fosse ganhando terreno.
Para muitos o simples fato da entrada da mulher no mercado de trabalho
levaria ao contentamento, mas ela almejava ter direitos, lutando para que seus
pensamentos e decisões fossem válidos. No Brasil, no governo de Getúlio Dornelles
Vargas, os anseios femininos começaram a se concretizar através do Decreto nº 21.076,
de 24 de fevereiro de 1932, pois essa lei consolidado o direito ao voto feminino
iniciando assim uma nova fase na vida da mulher em uma sociedade que crescia rumo à
modernidade de pensamento e atitude (LEONARDO, MARMO, 2003).
Nesta etapa da história feminina, a ascensão social e a liberdade parcial de
seus atos foi conquistada, faltando ainda a liberdade sexual, que não tardaria a ser
alcançada.
Na década de 1960, ocorreu uma revolução no universo feminino com uso
do anticoncepcional que deu à mulher a liberdade de prevenção da gestação,
incentivando assim a sua evolução social e sexual. Mas nem tudo foi positivo. As
conquistas geraram contradições. Na avaliação de Montgomery (1997, p.56), por
exemplo, “O feminismo da década de 60 caiu no extremo oposto. A mulher bloqueou
seu corpo e seu determinismo biológico para seguir o modelo masculino. Queimou
sutiãs, rasgou calcinhas. Negou sua essência e seu instinto.”
Pode-se dizer que através da luta, sofrimento, conquista e ousadia a mulher
se encontrou, moldou sua identidade. Hoje observamos um número cada dia maior de
mulheres em atividades que até pouco tempo eram predominantemente masculinas.
Suas expectativas mudaram e seu papel atual é de fundamental importância para a
sociedade moderna que necessita do espírito inovador dos atributos profissionais
femininos.
4. O casamento, neste novo contexto, passou a ser apenas um detalhe que
muitas vezes não faz parte de sua lista de prioridades, a mãe passou a ser um membro
ativo nas decisões do lar. Ser dona de casa é apenas uma das atividades exercidas por
ela, a mãe, mulher, provedora do lar, independente, inteligente, divertida e competente
tornou-se uma das imagens bem vistas da sociedade atual que muitas vezes avalia de
forma favorável a troca de papéis.
Pelo exposto, fica claro que a sociedade evoluiu e que esta evolução trouxe
conseqüências e mudanças inevitáveis tanto para o comportamento sexual do homem
quanto para o da mulher. Por isso, o atendimento ginecológico atual vê a mulher com
um olhar voltado não somente para o tratamento de doenças, mas também para a
prevenção de problemas relacionados com a vida moderna como, por exemplo, o estress
cotidiano e a sua sexualidade como ponto fundamental para valorização de seu bem
estar físico, psíquico e emocional (MONTGOMERY, 2006).
Mesmo com tantas conquistas, o espírito feminista continua. Ele está sendo
atualmente remodelado deixando sua forma intrépida mas não sua essência, pois a
mulher não se acomodou com feitos anteriores mas voltou- se para novas práticas,
atitudes e identidade, ou seja, ela continua lutando pela sua liberdade de pensamentos,
atitudes e escolhas ( COSTA, 2005).
1.2 - Gestação e Pré-Natal
A gestação é caracterizada por uma série de transformações fisiológicas e
emocionais, um ciclo normal e vital da sobrevivência humana que para muitas mulheres
é um episódio sonhado e almejado desde a infância onde seus valores, crenças e desejos
começam a ser modelados e construídos.
De acordo com REZENDE (1998, p. 112)
É a gravidez episódio fisiológico na vida normal da mulher. Para ela seu
organismo foi-se lentamente preparando e adaptando ao longo de
modificações gerais e locais que levam a moçoila da puberdade à maturidade
sexual.
Neste ciclo da vida feminina ocorre uma maior sensibilidade a atitudes e
fatos cotidianos, principalmente ao crescimento do novo ser que agora necessita de seus
5. cuidados e afetos. Para autores como GILBERTO E HARMON (2002) a maior prova
de amor já existente na humanidade é a gestação, ato de esperança, devoção e
renovação, carregar durante nove meses, em uma média de quarenta semanas um ser
humano dependente de todas suas atitudes de carinho e afeto. Tudo se mostra novo, o
aprendizado com sua nova forma física, transformações fisiológicas, delimitações no
seu auto conhecimento, a dúvida de como será o bebê e seus cuidados, sua relação com
a família, sociedade e consigo mesma, a cobrança de que o amor incondicional deve ser
presente no transcorrer de sua espera traz muitas vezes o medo de não conseguir se
adaptar a nova condição de provedora de cuidados e ensinamentos.
A tecnologia vem como aliada da mulher, pois a detecção das condições
maternas e fetais traz tranquilidade e permite o planejamento da gestação, parto e o
puerpério1
. Para o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2001), a gestante deve ter no mínimo
seis consultas pré-natais e no momento do parto deve ter feito todas as vacinas e exames
laboratoriais rotineiros que são disponibilizados gratuitamente. No entanto, sabe-se que
a realidade no Brasil não é essa, vê-se gestantes sem nenhum acompanhamento e
preparo para o trabalho de parto e parto, talvez isto ocorra pelo descaso com a
assistência a saúde no país (MORAIS; FILHO MAUAD, 2000).
O pré-natal é sem dúvida uma das ações mais importantes preconizadas pelo
Ministério da Saúde, pois através dele dúvidas são solucionadas e aprendizados
repassados à mulher gestante garantindo assim uma maior preparação psicológica para
todas as fases rotineiras da vivência do parto e dos cuidados com o recém nascido.
São nestas ações e no contato com profissionais de saúde que tabus são
desfeitos, escolhas são tomadas, pensamentos e atitudes são mudadas. DAVIM et.al
(2003) argumenta sobre a importância do papel profissional da saúde na estabilização
de vínculo com a gestante e aconselhamento durante a gestação e parto.
1.3- Parto cesário
O parto é a etapa final do período gestacional, momento de extrema
importância, pois ocorre a separação da total dependência do feto, instante onde a
mulher finalmente sente-se mãe e os medos e dúvidas que a acompanharam desde o
1
Período que se segue ao parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher retornem à
normalidade.
6. início da gestação são encerrados.
A fim de se educar a população sobre a importância da via de parto muitas
são as ações proferidas pelos profissionais da saúde, palestras que trazem de forma clara
e sucinta a seriedade das escolhas por ela tomadas (ZAMPIERE, 2001).
A história do parto cesário é uma das histórias mais antigas da medicina
tendo registros na mitologia grega, nórdica e diversas outras. Para Rezende (1998,
p.1173) “Cesariana ou tomotocia é o ato cirúrgico consistente em incisar o abdome e a
parede do útero para liberar o concepto aí desenvolvido.”
Contudo, mesmo sendo tão antiga pode se afirmar que não conhecemos a
verdadeira essência desta prática. Em Goiás as estatísticas de parto cesário são elevadas
(SINASC, 2003).
No entanto esta não deveria ser a realidade, pois o parto cesário tem como
objetivo de salvar vidas, mas o que presencia-se é o uso indiscriminado desta via de
parto, ora visando o retorno financeiro para o médico, ou como forma de refúgio do
sofrimento do parto normal que para muitas mulheres ainda é vista como punição, algo
desnecessário que traz degeneração corporal. No mundo a introdução dessa via de parto
teve maior representatividade após 1945 incentivada pela terapêutica da penicilina que
contribuiu para um menor índice de morte no puerpério, o medo da morte, a dor que
muitas vezes acompanhava o pós-parto e a pratica médica distante da realidade feminina
trazia uma menor quantidade de adeptos ao parto cesário (REZENDE, 1998) .
Para muitas mulheres o parto natural a leva para uma cultura voltada para
malefício onde sua auto imagem, seu poder de sedução e seu desempenho sexual podem
ser afetados, por isso, a escolha pelo parto cesário acaba aparecendo como melhor
opção.
De acordo com BRESSAN FILHO (2000, p.1026) a indicação do parto
cesário pode ser feita a partir de algumas vertentes, “ [...] podem ser de natureza
materna, fetal-anexial e mista. Com freqüência as alterações atendem a binômio
materno-fetal.”
A indicação desnecessária talvez venha de outras razões que não são
biológicas, mas econômicas ou culturais em ver esta prática como algo simples e sem
danos.
1.3.1 -Indicações para o parto cesário
7. O parto cesário é realizado com a finalidade de salvar vidas, assim como
todo procedimento cirúrgico envolve riscos e benefícios, no entanto o uso
indiscriminado é algo presente em nossa sociedade. De acordo com o Sinasc- Sistema
de Informações de Nascidos Vivos (2003) aproximadamente 45,62% dos partos em
Goiás são cesárias indicativa esta considerada alta .
Para NEME (2000) este tipo de parto deve ser realizado quando ocorre
situações onde a parturiente e o concepto estão em risco e necessitam de intervenções
para sua sobrevivência diminuindo assim os riscos.
Alguns indicativos deveriam ser revistos para a utilização desta prática
médica. BRESSAN FILHO (2000, p. 1026) esclarece sobre as indicações operatórias:
A indicação cirúrgica em obstetrícia pode ser: a) absoluta, quando só é
possível determinar intervenção; b) relativa, quando mais de um tipo de
cirurgia pode ser indicado, em função da experiência pessoal de cada
tocólogo; c) materna quando visa atender aos interesses maternos; d) quando
atende a segurança e o porvir do concepto; e) mista quando são atendidos
interesses mútuos do feto e da paciente.
Essas indicações devem ser feitas após a avaliação materno/ fetal a fim de
que erros não sejam cometidos, pois a omissão da cesária provoca danos muitas vezes
irreversíveis, como morte e sérias complicações físicas e emocionais para mãe e recém
nascido.
As complicações que envolvem esta prática são diversas, entre elas
complicações cardiovasculares, pulmonares, trato urinário, gastrintestinais, anestésicas,
metabólicas. Problemas estes relacionados com o aumento das mortes no período
puerperal ( NEME, 2000).
As possibilidades da ocorrência de complicações relacionadas as áreas
cirúrgicas são grandes, o que contribui para uma maior possibilidade de infecções.
Para NEME (2000, p. 1170):
[...] importa referir a possibilidade de ocorrerem quadros infecciosos intra-
abdominais, resultantes da presença de corpos estranhos, como agulhas ou
compressas, e extra abdominais, conseqüentes à supuração da parede e/ou à
herniação.
8. Todas estas complicações mostram como o parto cesário é uma prática que
necessita de cuidados específicos pois suas complicações nos levam a perceber que o
risco cirúrgico existe e sua utilização desnecessária é preocupante para mãe e feto.
1.3.2 Perfil sócio-cultural da mulher que opta pelo parto cesário
O aumento exacerbado da prática do parto cesário é um indicativo
importante para a saúde pública em nosso país, pois é um procedimento que causa o
aumento dos riscos de mortalidade.
No contexto da escolha pela via de parto muitos são os parâmetros possíveis
de serem analisados, um deles é o grau sócio-cultural em que uma população está
inserida. No parto cesário é evidente que a maioria da população que se submete a ele é
constituída de pessoas com nível econômico mais elevado e grau de escolaridade maior
De acordo com FREITASA et al. (2004), “ No Brasil, as altas taxas de
cesarianas são mais altas entre as mulheres com melhores condições socioculturais, de
etnia branca e aquelas tendo parto em hospitais privados, ou seja, entre mulheres
potencialmente de menor risco obstétrico.”
É instigante analisar o comportamento atual feminino frente à evolução
intelectual, pois acredita-se que quanto mais conhecimento melhor seriam as escolhas
tomadas. Entretanto observamos que essas mulheres hoje optam pela cesária mesmo
tendo todas as indicações positivas para o parto natural, possibilitando constatar que o
parto vaginal está vinculado à idéia de sofrimento vivenciado pela parturiente. No parto
natural a recuperação é imediata, no cesário é mais demorada e dolorosa para mulher.
Quebrar tabus não é algo fácil, pois a vivência negativa do parto normal é
algo gritante em uma sociedade que vive em épocas onde à tecnologia vem ao encontro
da necessidade cotidiana, que transmite à mulher a segurança que muitas vezes os
profissionais de saúde não conseguem transmitir.
9. CAPÍTULO 2- PERCURSO METODOLÓGICO
2.1Tipologia
O tema pesquisado conduziu a opção pela abordagem Bibliográfica uma vez
que se pretendia investigar sobre a escolha pelo parto cesário aprofundando em
conhecimentos preexistentes defendido por outros autores, discorrendo sobre as razões
que contribuem para a determinação da via de parto a ser realizada no Brasil.
O estudo foi realizado através da analise de artigos e bancos de dados do
Ministério da Saúde , Sinasc e autores de natureza obstétrica como Nemme.
2.6 Análise de dados
A partir da coleta de dados todos os materiais obtidos foram
minuciosamente analisados. Uma vez delimitadas as categorias a discussão e análise dos
dados foram realizadas com base na literatura acerca da temática investigada, formando
assim a estrutura adequada da investigação, observando se a escolha pelo parto cesário é
uma opção ou imposição.
As categorias escolhidas foram: Influência nas escolhas femininas; Níveis
de conhecimento ineficaz e Expectativas femininas ao escolher o parto cesário.
CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
10. As transformações trazidas pela gestação, parto e puerpério não podem ser
consideradas apenas como mudanças fisiológicas, mas devem ser estudas como um
conjunto de alterações vivenciadas pela mulher em seu âmbito cultural, emocional e
sentimental. Através deste acontecimento instigante e místico pode se investigar como a
cultura influencia nos pensamentos e atitudes da sociedade onde a mulher está inserida,
sendo positivo o entendimento de como ela lida com medos, ansiedade e tabus,
sentimentos estes que norteiam seus valores diante das novas experiências de
descobertas, realizações e transformações.
Segundo Câmara, Medeiros e Barbosa (2002) “[...] a cultura influencia
grandemente nos fatores emocionais contribuindo para o medo e a angústia relacionados
a gestação e a parturição.”
Podemos observar que nossos sentimentos positivos e negativos são
projetados em sua maioria pelas experiências adquiridas do senso comum e o parto não
poderia ser exceção. A maior parte das mulheres teme e projeta esse momento de forma
negativa e degradante, teme aquilo que nunca vivencia ou herdando da sociedade a
desconfiança e anseio frente ao desconhecido.
A cesariana não pode ser vista apenas como fonte de renda médica, pois não
constitui a razão isolada do aumento exacerbado da prática cirúrgico obstétrica, sendo
importante e necessária a investigação de outras razões que contribuam para a
banalização desse procedimento. São apropriados os estudos sobre as questões sociais e
culturais que muitas vezes são vistas de forma relevante quando se investiga os pontos
que influenciam a escolha pela via de parto (GENTILE; NORONHA FILHO; CUNHA,
1993).
Este contexto demonstra a importância do enfermeiro estar inserido em
ações que tenham como foco principal a assistência humanizada e o atendimento
holístico, tanto para gestante, família e prole. Acreditar em iniciativas educativas de
qualidade e alta efetividade pode ser algo futurista, uma visão longínqua de nossa
realidade mas não impossível, pois observando a própria história feminina podemos
constatar que através da quebra de tabus e preconceitos a vivência da sociedade com a
cultura de estereótipos arcaicos poderá ser retirado dos credos sociais vivenciados.
Analisaremos as três categorias obtidas.
11. 3.1 Influência nas escolhas femininas
Os motivos que influenciam a gestante a se submeter a uma cesariana são
variados, mas podemos destacar alguns pontos primordiais que foram descobertos por
essa pesquisa e caracterizados como núcleos de sentido.
- Influência cultural e médica;
- Realização de outros procedimentos cirúrgicos além do parto.
Os elementos que interferem a opção da mulher pela via de parto cirurgico
podem ser classificados como: medo da dor e de lesões que possam provocar a perda do
prazer sexual, levando assim a optar pela analgesia; e mudança do local de retirada do
feto (GENTILE; NORONHA FILHO; CUNHA, 1993).
3.1.1 Influência cultural e médica
A cultura influencia principalmente em questões relacionadas ao emocional
da gestante como o medo da dor, a incerteza de seus limites físicos e a ansiedade de
como será a vivência da maternidade nos primeiros instantes de descobertas. Não
bastassem todos esses motivos que influenciam a mulher a optar pelo parto cesário, o
médico interessado em comodidade e retorno financeiro acaba cedendo ao apelo
feminino sem ao menos questionar as razões e explicar os pontos positivos e negativos
que envolvem a cesária eletiva.
Para Câmara, Medeiros e Barbosa( 2002 ), “ Os temores infundidos na
imaginação feminina, sendo até mesmo consagrados pela Bíblia através do “Parirás na
dor” (Gêneses, 3:16), contribuem para que, do ponto de vista emocional e físico, o parto
tenha conotação e significado de experiência traumática para a mulher.”
A dor é algo que abala fortemente o psicológico feminino e prevalece quase
unânime entre as gestantes e, como forma de compensação, a mulher procura
argumentos para justificar a não adesão ao parto normal, acreditando fielmente que a
12. cesária é uma via de parto saudável, segura e a melhor opção para criança e para ela
(Moraes et al., 2001) .
É interessante entender como a mulher absorve, acredita e fixa às idéias
culturais. Sem nem mesmo ter passado pelo parto normal, elas pregam o sofrimento e
insistem que a dor é algo evidente quando se fala neste procedimento.
As possíveis razões que norteiam a preferência médica por essa via de parto
é a conveniência de programar o parto, incerteza quanto à verdadeira condição do feto
intra e extra útero e principalmente a falta de treinamentos para capacitar os
profissionais adequadamente (GENTILE; NORONHA FILHO; CUNHA, 1993).
3.1.2 Realização de outro procedimento cirúrgico além do parto
O parto Cesário é naturalmente realizado em nosso cotidiano profissional
pelo fato de a gestante ter desejo de efetivar a salpingectomia, procedimento cirúrgico,
que, de acordo com o Ministério da Saúde (2006), só pode ser realizado com o prazo
mínimo de 60 dias após a realização da cesária e a mulher deve ter no pelo menos dois
filhos vivos. Os critérios levam em consideração o momento de grandes emoções pelos
qual a mulher passou, dando assim um tempo para que ela se recupere e tome a decisão
de forma consciente.
É relevante ressaltar que além da cirurgia de Salpingectomia aproveitada
durante a realização do parto Cesário, há também uma serie de clinicas que oferecem o
pacote pós-parto, oferencendo cirurgias plástica como lipospiração, mamoplastia,
abdominoplastia, dentre outra. Isso pode parecer algo lógico, afinal podemos aproveitar
a internação a anestesia e fazer a cirurgia, mas é extremamente perigoso. Uma cirurgia
ginecológica é tida como cirurgia contaminada, devido a presença de flora vaginal
natural na mulher. Se esta flora pela manipulação durante a cirurgia infectar o local da
cirurgia estética pode causar situações graves de infecção com risco de morte, ou
surgimento de seqüelas irreversíveis muito mais inestéticas que qualquer “deformidade”
causada pela gravidez.
O mundo atual exige corpos perfeitos e uma corrida contra o envelhecimento não
sendo perdoado aquele que fuja a um padrão de estética que foi absorvido por uma
sociedade mas isto, não pode comprometer o bem estar familiar, social e a segurança da
13. uma pessoa. Isto é colocado a vigor, principalmente pela mídia, pelo pré-natal em
entidades particulares, e esquecem do mais importante, a educação em saúde em
primeiro lugar, visando o bem estar da puérpera, do recém-nato e a manutenção da
qualidade de vida e dos aspectos psico-socias.
3.2 Níveis de conhecimento ineficaz
As altas taxas de parto cirúrgico obtidas em todo país revelam uma
participação significativa das instituições privadas, onde as ações pré-natais são
realizadas exclusivamente pelo médico, o que erradamente pode levar ao pensamento de
que é irrelevante a ação do enfermeiro na orientação à gestante. (CÂMARA;
MEDEIROS ; BARBOSA, 2002).
A falta de conhecimento é um fator agravante em nossa sociedade, no
entanto não pode ser considerado como algo que impede o crescimento e o
desenvolvimento em nosso país, pois acreditamos que quanto melhor informada a
população, mais consciente será na busca de seus direitos.
3.3 Expectativas femininas ao escolher o parto cesário
É evidente no cotidiano hospitalar que a mulher não é preparada para o
trabalho de parto, quando não é tomada pelo medo da dor não tem conhecimento das
fases que irá enfrentar até o nascimento da criança (HOTIMSKY et al., 2000).
A expectativa feminina é baseada em não passar pelo sofrimento do parto
natural mesmo sabendo que é a melhor opção tanto para ela quanto para criança. A
mulher teme transmitir para sociedade que na verdade está preocupada em sair logo
daquela situação angustiante, pois a incerteza de seus limites emocionais e fisiológicos
estão incomodando durante transcorrer da gestação.
14. Por isso, é evidente a importância do pré-natal, pois é necessário que a
mulher conheça todas as etapas que irá passar tanto na gestação, quanto no parto e
puerpério, para que ela tenha confiança durante esta fase de sua vida e esteja segura,
serena e tranqüila para vivenciar da melhor forma possível a maternidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido à grande adesão das brasileiras ao parto cirúrgico, o Brasil hoje é
um dos países onde mais se realiza este procedimento. Mesmo o Sistema Único de
Saúde (Sus) pregando a humanização da assistência na gestação, parto e puerpério,
ainda observamos a importância de maior adesão profissional na concretização das
políticas de saúde.
Este estudo objetivou investigar se a cesariana é uma opção feminina ou
uma imposição médica e cultural. Para isso, foi utilizada uma abordagem bibliográfica,
15. utilizando uma revisão de grandes autores. Toda investigação nos revelou que a escolha
por esta via de parto resulta de medo e angústia em relação ao parto natural que é visto
de forma intrínseca como algo doloroso e superado devido aos avanços da área médica
em geral, que revela a importância da educação em saúde para a sociedade.
Com os resultados obtidos, pode-se afirmar que a mulher mesmo em tempos
atuais de descobertas, onde a tecnologia vem ao encontro às necessidades atuais, ela
vive cercada por tabus sócio-culturais que ultrapassam os séculos e continuam trazendo
incertezas e sofrimentos.
Enquanto enfermeira, observamos que este estudo foi de grande valia para o
crescimento científico, pois constatamos como é válida a atuação da enfermagem na
saúde da mulher. Acreditamos na importância de ações que viabilizem o conhecimento
sobre a sociedade, em especial da gestante, sobre sua fisiologia e as questões que
contribuem para escolha do parto cesário. A educação em saúde certamente permitirá
que a mulher se sinta segura nesta fase intrigante de sua vida que implica na via de
parto, entre decisões que devem ser tomadas de forma criteriosa e consciente.