Os primeiros filósofos gregos iniciaram uma abordagem racional e baseada na observação do mundo natural, abandonando explicações míticas. Platão e Aristóteles desenvolveram teorias sobre a existência de mundos separados e princípios inerentes à matéria e forma. Aristóteles concebeu um modelo geocêntrico de universo perfeito e organizado com a Terra no centro.
2. A partir do século VII a.C., os primeiros filósofos
gregos - conhecidos como pré-socráticos -
iniciaram um processo de ruptura com as
explicações míticas e antropomórficas do
universo. Dedicaram-se a investigar diretamente
o mundo físico, a natureza (que se diz physís,
em grego), e a construir uma cosmologia, ou
seja, uma explicação sobre a origem, formação e
principais características do cosmos. Nada - ou
bem pouco - de deuses ou histórias familiares. A
nova tendência era buscar argumentos baseados
na observação do mundo natural e no uso da
razão para formar um sistema coerente de
3. No século IV a.C., período clássico da filosofia grega,
Platão procurou explicar a realidade concebendo a
existência de dois mundos separados: o mundo sensível
(correspondente à matéria), que é temporário e ilusório, e
o mundo inteligível (correspondente às ideias), que é
eterno e verdadeiro. Uma terceira realidade, no entanto,
teria operado na formação do universo: o demiurgo, uma
espécie de "grande construtor", que buscou
as ideias eternas, situadas no mundo inteligível, para
darforma à matéria, que estava ainda indeterminada.
Aristóteles, por sua vez, afirmou que em todas as coisas
haveria dois princípios inseparáveis: a matéria (princípio
indeterminado, mas determinável pela forma) e
aforma (princípio determinado e determinante em relação
à matéria). Com relação à origem do universo, o filósofo
entendia que o mundo é eterno, mas que um primeiro
motor o colocou em movimento, por sua força de
atração.
4. Aristóteles também concebeu um modelo de universo
extremamente organizado e racional (cosmos, como
vimos antes) no qual a Terra tinha um lugar
privilegiado, o centro (geocentrismo),
embora fosse também o de menor perfeição (concepção
platônica, o mundo corruptível da matéria).
De acordo com esse modelo, o universo seria finito
espacialmente e composto de diversas esferas
concêntricas. A menor seria a da Terra; a maior, a
das estrelasfixas. A esfera correspondente à Lua
dividiria o espaço em duas regiões, com qualidades
totalmente distintas: a região terrestre (mundo
sublunar), mutável e imperfeita, e a região celeste
(mundo supralunar), imutável e perfeita, onde
habitariam os deuses.
5. Sistema geocêntrico desenhado por Claudio Ptolomeu
(c. séculos I - II d.C.), astrônomo e matemático grego, seguindo o
modelo de universo descrito por Aristóteles. A Terra estaria imóvel
ao centro, enquanto os outros astros girariam ao seu redor. O
geocentrismo predominou na astronomia da Grécia antiga e da
Europa medieval, embora já existissem vozes discordantes que
defendessem a tese heliocêntrica desde a Antiguidade.
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9. A partir do século XV iniciou-se uma série de transformações
nas sociedades europeias (políticas, econômicas, sociais),
comumente relacionadas com a construção de uma nova
mentalidade, isto é, uma nova maneira de entender as
coisas. No plano cultural, o movimento que acompanhou,
expressou e sustentou essas mudanças ficou conhecido
como Renascimento (séculos XV e XVI). Foi também nesse
contexto que se assentaram os fundamentos da chamada
ciência moderna.
Filósofos e cientistas de então construíram novas teorias que
não apenas modificaram sistemas antigos de explicação da
natureza e do real, como também destruíram um mundo,
substituindo-o por outro. Essas teorias forçaram,
progressivamente, uma reforma na estrutura do pensamento,
uma mudança na maneira de entender as coisas, da qual
somos herdeiros. Foi, enfim, uma verdadeira "revolução
espiritual" (cf. KOYRÉ, Estudos de história do pensamento
científico, p. 154-155).
10. Matematização da natureza.
Paralelamente, os pensadores modernos
desenvolveram uma visão da natureza baseada na
geometrização do espaço e na matematização dos
fenômenos naturais. Essa expressão deve-se ao
fato de que os cientistas foram abandonando a
abordagem tradicional, fundada no estudo das
qualidades dos corpos e de suas causas (orientação
aristotélica), e passaram a observar mais
atentamente as regularidades entre as propriedades
dos corpos ou fenômenos, adotando o viés
quantitativo. O espaço passou a ser
homogêneo. Por exemplo, o movimento começou a
ser pensado em termos das relações espaço-tempo
(velocidade) e impulso-duração (aceleração),
expressas em linguagem geométrica ou
matemática.
11. Mecanicismo.
Com Isaac Newton (1642-1727) floresceu
plenamente a revolução do pensamento no
campo da investigação da natureza, aliando-se
de maneira definitiva a matematização da
natureza à experimentação. O mundo passou a
ser visto como uma grande máquina cujas
partes poderiam ser conhecidas por meio da
observação, da elaboração de hipóteses e da
realização de experiências para confirmá-las.
12. Monismo - doutrina que considera que tudo o que existe pode ser
reduzido (convertido, simplificado) a um princípio único ou realidade
fundamental (a palavra monismo deriva do grego monos, que
significa "único, isolado"). Por exemplo: a matéria (monismo
materialista), mente ou o espírito (monismo idealista ou espiritualista)
ou qualquer outra entidade. As explicações monistas tendem a
compor grandes sistemas, em que todas as esferas da existência
estariam interligadas pelo princípio fundamental;
Dualismo - doutrina que defende a existência de dois princípios
primeiros (ou substâncias fundamentais) no universo, irredutíveis
entre si (isto é, um não pode ser convertido ou fundamentado no
outro). Existem vários tipos de dualismo, conforme veremos adiante,
mas geralmente o termo refere-se à contraposição mente-corpo,
espírito-matéria;
Pluralismo - doutrina que concebe o universo composto de uma
multiplicidade de entidades ou substâncias individuais e
independentes, opondo-se principalmente à ideia de realidade
fundamental única do monismo. As explicações pluralistas tendem a
compor cenários mais abertos, incompletos ou indeterminados da
realidade.