Ensino de português para surdos: O que a linguística aplicada tem a nos ensinar?
1. ENSINO DE PORTUGUÊS
PARA SURDOS: O QUE A
LINGÜÍSTICA APLICADA
TEM A NOS ENSINAR?
Neiva de Aquino Albres
Doutoranda em Educação Especial – UFSCar
Mestre em Educação – UFMS
Fonoaudióloga, Psicopedagoga e
Intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa-
certificada pelo MEC.
3. Situação atual..
O português é uma língua alfabética e os surdos não
aprendem a escrever como os ouvintes .
Na educação de surdos já foram aplicados vários
métodos e ainda hoje persistem os problemas de
alfabetização.
As crianças surdas têm direito a uma educação
bilíngüe, isto é, aprender a língua portuguesa com
metodologia de segunda língua.
4. Descontinuidade entre os sistemas de
representação primária e secundária
L1 L2
Língua de Sinais Língua Portuguesa
fala Escrita
Espaço visual alfabética
5. Por que é tão complicado alfabetizar
crianças surdas?
Língua escrita esta relacionada com a língua oral
auditiva e não com a língua visual espacial.
Enquanto a criança ouvinte pode fazer uso intuitivo
das propriedades fonológicas naturais de sua fala
interna em auxílio à leitura e escrita, a criança
surda não.
Qualquer estudo sobre aquisição da leitura e
escrita em uma L2 pressupõe que os alunos estejam
alfabetizados na forma escrita de L1.
6.
7. Português é uma segunda língua para
surdos.
Estrangeiros que estão adquirindo uma segunda
língua, cuja estruturação gramatical difere
consideravelmente de sua língua materna,
apresentam dificuldades semelhantes às dos surdos
em relação ao uso de preposições, tempos verbais,
sufixação, prefixação, concordância nominal e
verbal, ou seja, nos componentes estruturais da
segunda língua, que são diferentes de sua língua-
base.
8. EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS
O QUE A LINGÜÍSTICA APLICADA TEM
A NOS ENSINAR?
9. OBJETIVO
Apresentar os pressupostos
da Lingüística aplicada
para o ensino de línguas.
Refletir sobre a importância
da Lingüística aplicada na
formação de professores
de português para surdos.
10. Lingüística Aplicada (LA),
Uma ciência social da linguagem
que tem como foco os problemas e
questões de uso da língua pelos
participantes do discurso no
contexto social, isto é, usuários da
linguagem dentro ou fora do meio
de ensino/aprendizagem (MOITA
LOPES, 2003).
11. TRÊS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DE
ENSINO DE LÍNGUA
Abordagem – nível em que as suposições e as crenças
sobre a língua e seu ensino são especificadas;
Método – nível em que as escolhas são feitas –
organização das técnicas. Exemplo: habilidades a serem
desenvolvidas, conteúdos que serão apresentados;
Técnica – nível em que os procedimentos em sala de aula
são descritos.
Modelo vertical de Almeida Filho (2007)
12. ABORDAGEM COMUNICATIVA E SEUS
PRINCÍPIOS
alunos se envolvem em interações e comunicações
significativas;
tarefas- alunos negociarem o significado, expandir
seus recursos lingüísticos, observar como é utilizada
a linguagem e participar de trocas significativas
entre os interlocutores;
alunos progridem em ritmos diferentes e
apresentam necessidades e motivações distintas
para aprender uma língua.
13. Primeiros passos
Levantar a aplicação de cursos de Português para
estrangeiros, as trajetórias. Constatamos que
atualmente tem adotado o Ensino Comunicativo de
Língua Estrangeira - ECLE.
Levantamento dos livros de português para
estrangeiros.
14. PARA A
ELABORAÇÃO DE
MATERIAL DIDÁTICO
PARA ENSINO DE
SEGUNDA LÍNGUA
Neiva de Aquino Albres
15. Alguns pressupostos do material
Todo material didático, implicitamente,
apresenta a noção de abordagem
(conjunto de pressupostos teóricos
sobre a língua, linguagem, ensinar e
aprender uma língua estrangeira) e o
desenho do planejamento do
professor.
16. MOTIVOS USAR MATERIAL DIDÁTICO
1) há materiais que podem ser usados para
necessidade de vários grupos;
2) os materiais permitem ao aprendiz rever o que foi
visto e antever o vai ser dado;
3) o material permite flexibilidade, o professor pode
fazer adaptações ou improvisar, pois serve de apoio
ao professor.
17. CONDIÇÕES PARA PRODUZIR
MATERIAL DIDÁTICO
1) criatividade, talento, esforço;
2) demanda muito tempo;
3) horas de pesquisa;
4) bom acervo bibliográfico;
5) levar em consideração a idade e a língua
materna do aluno;
18. AO DESENVOLVER RECURSOS PEDAGÓGICOS
LEVAR EM CONSIDERAÇÃO ALGUNS ASPECTOS
Tema
Função
Gramática
Habilidades lingüísticas
Vocabulário
19. TEMA
Desenvolver temas relevantes e
significativos para os aprendizes,
privilegiando seu desenvolvimento
intelectual. Segundo Almeida Filho
(1996), é importante atender às
fantasias do aprendiz.
20. FUNÇÃO
Levar em consideração a função
comunicativa da língua e não ficar
totalmente preso à gradação
gramatical;
21. GRAMÁTICA
Apresentar os itens lexicais, e sempre
introduzi-los em novas lições, para que
ocorra a reciclagem;
Apresentar os itens dentro de um
contexto de uso e como parte integral
de um modelo de comportamento social;
Proporcionar atividade funcionais e
estruturais
22. HABILIDADES LINGÜÍSTICAS
Compreensão da linguagem oral
Expressão da língua oral
Leitura e escrita.
Enfatize atividades que integrem as
duas habilidades simultaneamente e
não as trabalhe isoladamente.
OBS.: Elas não se desenvolvem de
maneira homogênea
23. O MODELO DE OPERAÇÃO GLOBAL DE
ENSINO DE LÍNGUAS
ABORDAGEM
Produção de Procedimentos
Planejamento de
materiais metodológicos
cursos Avaliação
Método
Objetivos baseados Apresentação/
em necessidades, (Almeida
interesses, fantasias, Prática/ uso/ Filho, 1990,
projeções apud Bizon
Técnicas e recursos (1992)
25. Nossos passos
Reorganização da disciplina de português na escola
de surdos. Não mais seguir livros para ouvintes (L1);
Adotar livros de português como L2;
Repensar a avaliação e o formato da prova de
português;
Construção de um instrumental para avaliação
diagnóstica - Ensino fundamental 1 e Ensino
fundamental 2;
Produzir uma coleção de livros de português para
surdos.
26. LEITURA - Compreensão precede
produção! Leitura precede a escrita.
apresentam textos adequados à faixa etária da
criança, por isso os contos e histórias infantis são
muito apropriados nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Além desses tipos de textos, é possível trabalhar com
histórias em quadrinhos, textos jornalísticos, trechos
de livros didáticos e assim por diante. O mais
importante é o texto fazer sentido para a criança no
contexto da sala de aula e para a sua vida.
27. ESCRITA
Na medida que o aluno compreende o
texto, ele começa a produzir textos. Ele
começa a escrever textos. A escritura é
um processo que se constrói por meio
do registro das atividades realizadas
na própria sala de aula e de
experiências vivenciadas pela própria
criança. (QUADROS E SCHMIEDT,
2006)
32. Tipos de tarefas cujo enfoque esteja voltado
para a utilização de recursos lingüísticos
33. O processo mais consciente da aquisição da leitura
e escrita, isto é, a etapa meta-lingüística deste
processo, é muito importante para o aluno surdo.
Falar sobre a língua por meio da própria língua
passa a ter uma representação social e cultural
para a criança que são elementos importantes do
processo educacional. (QUADROS E SCHMIEDT,
2006, p.31)
35. TABELA DE TERMINAÇÃO VERBAL
Propósito
de
conhecer
os usos do
tempo
verbal do
pretérito
imperfeito
do modo
indicativo
36. REESCRITA:
Nessa atividade
Os alunos
eles podem
reescrevem
consultar o
seus textos com
caderno de verbos
um nível de
e se propôs que
maior
pensassem em uma
competência e
situação daqui a
o professor
muito anos para
estimulá-os a
frente, quando já
tomar
estariam velhinhos
da sua vida. consciência do
e relembrando do
que já
passado, deviam
aprenderam.
escrever os fatos
marcantes de cada
período
38. Criar estratégias
Atividades de realização de tarefas;
Atividades de levantamentos de informações;
Atividades de expressão de opinião;
Atividades de transferências de informação;
Atividade de dedução lógica;
Dramatizações;
Atividades de compreensão;
Atividades de produção escrita.
39. A Tecnologia é nossa aliada no uso
significativo do português por surdos
42. Correção da escrita
A “correção” chega um pouco tarde quando os alunos
escrevem uma única versão e recebem uma nota
atribuída pelo professor ao final. Mesmo que o
professor espere que na próxima redação esses erros
não apareçam mais, não é isso que acontece.
(Chandragasegaran, 2003)
43. Para Chandragasegaran (2003) os alunos se
beneficiarão mais se forem ajudados na escolha do
tempo verbal correto ou na seleção do detalhe
adequado no momento que necessitam de tal
ajuda, ou seja, durante o processo de escrita.
A ajuda deve ser dada “em tempo oportuno” na
forma de instrução explícita e procedimentos de
autoverificação relacionados a uma ou mais dessas
áreas: escolha de conteúdo (idéias), organização e
linguagem (inclusive gramática).
44. Correção em dupla
Uma forma interessante de correção é propor que os alunos troquem os textos
produzidos com um colega e que o colega corrija o texto indicando o que pensa estar
errado, os alunos podem discutir sobre o que aprenderam (vocabulário e regras
gramaticais) e dessa forma um ajuda o outro a aprimorar um pouco mais o texto.
Nessa fase o professor também fica a disposição para sanar as dúvidas dos alunos.
46. Avaliação
A escola deve definir quais são as estruturas, o
vocabulário ensinado e que devem aparecer na
produção dos alunos. Uma reflexão e definição dos
critérios de avaliação se fazem fundamental em
uma educação consciente, sem deixar de considerar
que o português é uma segunda língua.
49. REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, José Carlos P. “desestrangeirização e outros critérios no planejamento de cursos e
produção de materiais de língua estrangeira”. In JUDICE, Norimar (org.) O ensino de português
para estrangeiros. Niterói, EDUFF, 1996.
BIOZIN, Ana Cecília Cossi. Aprender conteúdos para aprender lingua esrangeira; uma experiência
de ensino alternativo e PE. In: FILHO, José Carlos Paes de.; LOMBELLO, Leonor (ORGS.) Identidade e
caminhos no ensino de português para estrangeiros. Campinas, SP: Pontes, 1992.
CHANDRASEGARAN, Antonia. A intervenção como recurso no processo de escrita. Coleção Portfolio Sbs13:
reflexões sobre o ensino de idiomas. São Paulo: Editora SBS, 2006.
MORITA, Marisa Kimie. (Re)pensando sobre o material didático de PLE. In: SILVEIRA, Regina Célia P.
da. (org.) Português língua estrangeira: perspectivas. São Paulo, Cortez, 1998.
Quadros,Ronice Müller de.; Magali L. P. SchmiedtIdéias para ensinar português para alunos surdos.
Brasília : MEC, SEESP, 2006.
RENANDYA, Wills A. e RICHARDS, Jack C. O Ensino Comunicativo de Línguas Estrangeiras – Coleção Portfolio
Sbs13: reflexões sobre o ensino de idiomas. São Paulo: Editora SBS, 2006.
THOMA, Adriana da Silva; KLEIN, Madalena. CURRÍCULO E AVALIAÇÃO: a diferença surda na escola.
Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2009.